Relato de Caso Fasceíte nodular Nodular fasciitis Lincoln Santos Souza1 Wagner Leite de Almeida2 André Luiz Diniz Costa3 Ana Paula Santos Silva3 Lailson Luís de Souza3 RESUMO ABSTRACT Fasciite nodular é uma lesão proliferativa fibroblástica rara caracterizada clinicamente como uma massa solitária de consistência endurecida, pouco dolorosa a palpação, de crescimento rápido e sem predileção por gênero. Histologicamente pode ser de difícil diagnóstico, sendo necessária, com frequência, a realização de exame imunoistoquímico para confirmação diagnóstica e diagnóstico diferencial com as demais neoplasias de origem sarcomatosa. O tratamento de escolha é a ressecção cirúrgica da lesão, preferencialmente com margens de segurança. Nodular fasciitis is a rare fibroblastic proliferation lesion characterized clinically as a solitary mass of hardened consistency, painfulness to palpation, fast-growing and without predilection for either gender. Histologically the diagnosis can be difficult and may be required holding of imunohistochemistry to confirm the diagnosis and rule out neoplasia of sarcomatous origin. The treatment of choice is surgical resection of the lesion. Key words: Fasciitis. Neoplasms, Connective Tissue. Neck. Magnetic Resonance Imaging. Immunohistochemistry. Descritores: Fasciite. Neoplasias de Tecido Conjuntivo. Pescoço. Imagem por Ressonância Magnética. Imunoistoquímica. INTRODUÇÃO RELATO DE CASO A fasciite nodular é uma lesão proliferativa fibroblástica rara1 definida pela Organização Mundial de Saúde como lesão benigna, de crescimento lento e provavelmente reativo, a partir de uma fáscia superficial para o tecido subcutâneo ou camada muscular subjacente. Foi descrita inicialmente por Konwaler, em 1955, como lesão fibromatosa pseudosarcomatosa subcutânea2. Embora descrita como lesão subcutânea, pode ocorrer em qualquer parte do organismo, desde partes moles profundas até órgãos internos3-5. Localiza-se preferencialmente nos membros superiores, sendo o antebraço, a topografia mais comum1,4. A região da cabeça e do pescoço é acometida em cerca de 5 a 20% dos casos, seguida das extremidades inferiores e tronco1. Caracteriza-se clinicamente como uma massa solitária de consistência endurecida, pouco dolorosa a palpação, de crescimento rápido e sem predileção por gênero1. Histologicamente, pode ser de diagnóstico difícil, podendo ser necessária a realização de imunohistoquímica para confirmação diagnóstica e diagnóstico diferencial com neoplasia de origem sarcomatosa. O objetivo é apresentar caso clínico em paciente jovem do gênero masculino, com doença de comportamento atípico pela rápida evolução, onde foi necessária realização de procedimento cirúrgico. Paciente de 19 anos, do gênero masculino, pardo, apresentouse com história de tumor cervical em região submandibular direita com crescimento rápido em 30 dias. Ao exame, foi evidenciado tumor endurecido, fixo e aderido à mandíbula, medindo 8cm de diâmetro (Figura 1). Não havia sinais inflamatórios ou dor local. Foi submetido a exame radiológico panorâmico da mandíbula, que estava normal. A ressonância magnética evidenciou volumosa lesão sólida, medindo 7,5 x 7,0 x 6,5cm, com hipointensidade de sinal em T1 e hiperintensidade de sinal em T2, localizada ao nível do ângulo direito da mandíbula, apresentando íntima relação com estruturas adjacentes como o músculo masseter e o soalho da boca. A hipótese de tumor de linhagem neurogência ou sarcomatosa foi sugerida (Figura 2) e o paciente foi submetido a biópsia incisional, com diagnóstico de lesão de células mesenquimais de padrão fusocelular sem atipias citológicas, permeando fibras musculares esqueléticas. O exame imunoistoquímico mostrou positividade para os marcadores AML (actina muscular lisa) e vimentina (Figura 3), confirmando o diagnóstico de fasciite nodular. A avaliação de outros marcadores mostrou proteína S-100 positivo em raras células, CD34 negativo, EMA negativo e catenina negativo. Foi submetido à ressecção alargada de tumor de partes moles de região cervical com mandibulectomia marginal à direita, preservando o ramo marginal mandibular do 1) Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Campinas/SP; Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande – HUAC – UFCG – PB. 2) Anatomopatologista do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande – HUAC – UFCG – PB. 3) Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande – HUAC – UFCG – PB. Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande – HUAC – UFCG, Campina Grande/PB, Brasil. Correspondência: Lincoln Santos Souza, RUA RODRIGUES ALVES , 680 – Campina Grande/PB. E-mail: [email protected] Recebido em: 10/01/2009; aceito para publicação em: 08/08/2009; publicado online em: 15/11/2009. Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma. 274 Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 4, p. 274 - 275, outubro/ novembro / dezembro 2009 nervo facial, e os nervos lingual e hipoglosso. O exame histopatológico final confirmou o diagnóstico de fasciite nodular com margens cirúrgicas comprometidas pela neoplasia. No momento, o paciente está em seguimento e não apresenta sinais de recidiva local no com dois anos da cirurgia. citológicas, permeando na periferia da lesão fibras musculares esqueléticas. O exame imunoistoquímico revelou positividade para vimentina, actina muscular lisa, e foi negativo, para proteína S-100 e desmina. A cirurgia com ressecção da lesão é curativa na maioria dos pacientes, sendo a recidiva de ocorrência incomum, mesmo nos pacientes com margens cirúrgicas comprometidas pela neoplasia e ocorre em menos de 5% dos pacientes4. No presente relato, em virtude da extensão tumoral e infiltração da mandíbula, realizamos ressecção alargada com mandibulectomia marginal. O paciente encontra-se em seguimento, sem evidência de recidiva da lesão após um ano e quatro meses da cirurgia. Figura 1 – Tumor cervical direito. REFERÊNCIAS Figura 2 – Lesão sólida extensa com hiperintensidade em T2. A 1. Kim ST, Kim HJ, Park SW, Baek CH, Baek JH, Byun HS, Kim YM. Nodular fasciitis in the head and neck: CT and MR imaging findings. AJNR Am J Neuroradiol. 2005;26(10):2617-23. 2. Konwaler BE, Keasbey L, Kaplan L. Subcutaneoius pseudosarcomatous fibromatosis (fasciitis). Am J Clin Pathol. 1955;25(3):241-52. 3. Carr MM, Fraser RB, Clarke KD. Nodular fasciitis in the parotid region of a child. Head Neck. 1998;20(7):645-8. 4. Allen PW. Recurring digital fibrous tumours of childhood. Pathology. 1972;4(3):215-23. 5. Shin JH, Lee HK, Cho KJ, Han MH, Na DG, Choi CG, Suh DC. Nodular fasciitis of the head and neck: radiographic findings. Clin Imaging. 2003;27(1):31-7. B Figura 3 – Imunoistoquímica positiva para actina muscular lisa (A) e vimentina (B). DISCUSSÃO A fasciite nodular é a lesão fibrosa pseudosarcomatosa mais frequente e, embora ocorra em crianças e em pacientes com mais de 80 anos de idade, manifesta-se predominantemente em adultos jovens na terceira ou quarta década de vida, com idade variando de 38 a 44 anos. Na série de Allen, 14% dos pacientes tinham idade inferior a 10 anos ou superior a 60 anos4. No caso relatado, diagnosticamos fasciite nodular em região cervical direita em paciente do gênero masculino com 19 anos de idade, o que é incomum na segunda década de vida. Mais frequentemente, essas lesões estão localizadas nos membros superiores, embora, em até 20% dos pacientes, possa acometer a região da cabeça e pescoço1. Usualmente, esses tumores podem apresentar crescimento rápido, porém, raramente excedem 5cm de diâmetro4. No presente relato, evidenciamos tumor volumoso e infiltrativo, aderido à mandíbula, medindo 9cm de extensão. Tais achados clínicos sugeriram inicialmente a possibilidade de neoplasia maligna de origem mesenquimal ou sarcomatosa, entretanto, a biópsia incisional confirmou o diagnóstico de fasciite nodular. Histologicamente, a fasciite nodular apresenta grande variação de padrão morfológico, e frequentemente apresenta padrão misto, constituída de células fusiformes, delgadas, fibroblásticas-símile (semelhante a um fibroblasto)4. No exame histológico do nosso paciente, foi evidenciada a proliferação de células mesenquimais de padrão fusocelular sem atipias Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 38, nº 4, p. 274 - 275, outubro/ novembro / dezembro 2009 275