BRONQUIOLITE VIRAL AGUDA Critérios diagnósticos: faixa etária – lactentes sinais e sintomas de infecção respiratória aguda evolução para quadro respiratório obstrutivo de graus variáveis, com taquipnéia e sibilância. Fatores de risco que indicam internamento em hospital de grande porte: menores de três meses de idade; idade gestacional menor que 34 semanas; cardiopatia congênita. Nos demais casos, classifique a gravidade segundo a avaliação clínica e a saturometria, como a seguir se descreve: Forma leve: clínica boa aceitação alimentar + ausência de toxemia + hidratação preservada + freqüência respiratória menor que 40/min + coloração normal, respirando ar ambiente; saturometria igual ou acima de 95% em ar ambiente; quando menor que 90% em ar ambiente, verificar se a aferição está correta; se está correta, classificar como forma mais grave, mesmo que os indicadores clínicos não definam nesse sentido. Forma moderada: clínica deficiente aceitação alimentar + sinais de desidratação + freqüência respiratória entre 40 e 70/min + discreta cianose em ar ambiente; saturometria menor que 90% e maior que 85% em ar ambiente ou acima de 90% quando em oxigenioterapia; quando não ocorre essa resposta à oxigenioterapia conduzir como portador da situação mais grave. Forma grave: clínica má aceitação alimentar + aspecto de doença grave + sinais de desidratação + freqüência respiratória maior que 70/min; saturometria menor ou igual a 85% em ar ambiente e ausência de elevação da saturação do O 2 para maior que 90% com o uso do oxigênio. CONDUTA: O diagnóstico é clínico. Rx e leucograma são úteis em poucos casos, sobretudo no diagnóstico diferencial de complicações: pneumonia bacteriana ou atelectasia. Verifique ocorrência de febre – necessidade de vigilância e maior necessidade de oxigênio. A conduta proposta valoriza a gravidade do quadro. Forma leve: SERVIÇO DE SAÚDE SEM UTI Indique que permaneçam os pacientes com fatores de risco, os com sinais de agravamento ou cujos familiares estejam inseguros; Nebulize com beta2 adrenérgico a cada 6 horas, como informado no texto sobre asma; Hidrate e alimente por via oral; Monitorize evolução clínica a cada 12 horas; Dê alta quando os fatores que geraram a internação estejam sob controle; Transfira para unidade de maior porte, caso o paciente apresente fatores de risco e evolução desfavorável. DOMICÍLIO Avise ao pediatra assistente e combine conduta, falando sobre o protocolo do serviço de saúde; Nebulize com beta2 adrenérgico (1gt/3kg) ou prescreva o fármaco por via oral, quando há resposta aparente aos broncodilatadores. Se não houver resposta, não insistir; Avalie, com a clínica, se há resposta à nebulização com o adrenérgico; Encaminhe para acompanhamento com o pediatra assistente; Recomende para os que não terão seguimento com o pediatra assistente que os familiares observem criteriosamente a criança; que voltem ao mínimo sinal de agravamento; que a avaliação clínica deve ser de início a cada 8 horas; que é importante vir para fazer oximetria, sobretudo se houver indício de agravamento da dispnéia; Dê alta após 2 - 3 dias de seguimento e estabilidade clínica, com orientação para voltar se houver problemas; Indique amoxacilina se houver infecção bacteriana associada. Forma moderada: SERVIÇO DE SAÚDE SEM UTI Indique internação e comunique ao pediatra assistente; combine conduta, discutindo o protocolo do serviço de saúde; Inicie oxigenação contínua, até melhoria, que acontece em 48-72 horas; Prescreva nebulização com beta2 adrenérgico (1gt/3kg) a cada 4-6 horas; Avalie com o colega ou com o pediatra assistente a indicação da corticoterapia sistêmica; Hidrate por via endovenosa, 12 a 24 horas, ou até um pouco mais; teste alimentação e hidratação oral, logo que possível; Monitore clinicamente e com oximetria, a cada 3 horas, principalmente nas primeiras 24 horas da enfermidade; Dê alta após estabilização clínica, se o pediatra assistente não assumir a conduta; Indique transferência para unidade hospitalar com UTI, se agravar, principalmente se sugerem episódios de apnéia e/ou a saturação do O2 cair a níveis menores que 90%. SERVIÇO DE SAÚDE COM UTI Remova, com os cuidados indicados para enfermos graves, os hipoxemiados, sobretudo sujeitos a apnéia. DOMICÍLIO Explique que a enfermidade não terminou no momento da alta e que podem surgir complicações. Mande voltar se ocorrer febre, aumento da dispnéia, ou outra razão; Programe seguimento com o médico assistente ou, na sua ausência, no serviço de saúde a cada 8 a 12 horas, até involução da dispnéia; Indique nebulização com beta2 adrenérgico caso volte ao serviço de saúde ainda com dispnéia; Pesquise complicação (Rx, leucograma), com critério, quando houver persistência da febre e dispnéia; Prescreva amoxacilina se surgir infecção bacteriana. Forma grave: SERVIÇO DE SAÚDE COM UTI Inicie oxigenação por pronga nasal ou máscara (ver capítulo sobre oxigenioterapia); Solicite transferência para hospital com UTI, sempre com O 2; Prescreva hidratação venosa + nebulização com beta2 adrenérgico; Avise ao pediatra assistente. CONDUTA SEM BASE CIENTÍTICA: Teofilina; Fisioterapia respiratória na fase aguda da doença; Sedativos. CONDUTAS EM ESTUDO: Corticóide por via sistêmica – análise criteriosa da literatura sobre o tema, publicada em abril de 2000, mostra benefícios destes fármacos no escore clínico, na permanência hospitalar e duração dos sintomas. Mas não é rotina terapêutica em todos os protocolos; Corticóide por via inalatória – budesonida – há trabalhos que sugerem benefício ao encurtar internamento de menores de 2 anos com dispnéia. Talvez, em alguns casos de internamento com espasticidade e componente laríngeo, possa se usar a budesonida: apresentação de 0,25 mg / 1 ml na nebulização com beta 2,adrenérgico de 8/8 horas; Beta2adrenérgico - apesar de constar no protocolo, ainda é uma droga de uso controvertido. O beta2, em alguns casos, produz significativa melhora a curto prazo dos escores clínicos, mas não há evidências de que reduza o número ou a duração dos internamentos. Portanto, pode ser utilizado por um período de 24 a 48 horas, avaliando-se a resposta terapêutica. Se positiva, manter o fármaco até o desaparecimento do desconforto respiratório; Brometo de ipratrópio – pode ser associado ao beta2 quando se suspeita de asma precipitada por vírus ou quando há tosse intensa; Adrenalina por nebulização - a indicação é controvertida. Algumas vezes melhora os escores clínicos nas crianças internadas. Na sala de emergência, melhora rapidamente a oxigenação, diminui o tempo de permanência no setor e o número de internamentos. Deve ficar reservada para pacientes que permaneçam internados em ambiente hospitalar com UTI, pelo risco de ocorrer fenômeno de rebote. A dose usada de adrenalina comum é empírica – 1 ml diluída em 3 ml de SF e oxigênio 6 l / min. OUTRAS ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS Ribavirina - droga antiviral, apenas para pacientes de risco, cara, não disponível no Brasil e, também, de uso controvertido; Imunoglobulina - imune para vírus respiratório sincicial (VSR) – caríssima, não disponível no Brasil, apenas para prevenção da infecção pelo VSR em pacientes de risco.