Causas, consequências e soluções do absenteísmo

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA DE GOIÁS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOCIÊNCIAS FORENSES
A importância da família Sarcophagidae para a entomologia forense
Francilene Lopes da Silva 1
Izabel Cristina Rodrigues da Silva 2
1Bióloga pela Universidade de Brasília – UnB. Aluna de Pós- Graduação em Biociências Forense, pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/ IFAR
2 Orientadora: Biomédica. Doutora em Patologia Molecular/UnB.
Resumo
A entomologia forense tem sido definida como a aplicação do estudo de insetos e outros artrópodes para auxiliar
na resolução e interpretação de casos, no âmbito jurídico ou legal, que envolvam morte violenta ou acidental,
visando estimar o intervalo pós-morte (IPM), tempo transcorrido do óbito até a localização do corpo, bem como
as circunstâncias em que ocorreu tal fato. Na grande maioria dos casos, larvas de certas espécies de moscas,
principalmente das famílias Calliphoridae e Sarcophagidae, são de fundamental importância para o uso em
perícia criminal, pois são as primeiras a localizarem um corpo e as mais abundantes que se desenvolvem no
mesmo. O objetivo deste trabalho foi apresentar a importância de uma família de díptera (Sarcophagidae) para a
entomologia forense, por meio de um estudo de revisão literária, que é aplicada na investigação criminal.
Palavra Chave: Entomologia forense; Sarcophagidae; IPM.
The importance of sarcophagidae family by the forensic entomology
Abstract
The forensic entomology has been defined as the application of the study of insects and other arthropods to assist
in the resolution and interpretation of cases, in the legal or juridical area associated to the violent or accidental
death, to estimate the post-mortem interval (IPM), which is interval time of the decease until the localization of
body as well as the circumstances when the fact occurred. In most of cases, larvae of certain flies species, mainly,
Calliphoridae and Sarcophagidae families, which are essentially important for using in criminal investigation,
because they are one the first families to find a body and the most abundant to develop on the same. The main aim
of this study was to show the importance of one family of diptera (Sarcophagidae) to the forensic entomology,
through a study of literature review, which is applied to a criminal investigation.
Key-Words: Forensic Entomology; Sarcophagidae; IPM.
1
INTRODUÇÃO
A Entomologia Forense consiste no estudo de insetos e outros artrópodes associados
às diversas situações criminais, servindo como uma ferramenta auxiliar, na investigação de
crimes contra pessoas vítimas de morte violenta (OLIVEIRA; COSTA, 2003; PUJOL-LUZ et
al., 2008). Após a morte são atrativos para uma variedade de insetos além de outros
organismos invertebrados. A decomposição de vertebrados terrestres é dominada não só pela
ação de fungos e bactérias, mas por um grande número de artrópodes, principalmente pelos
insetos sarcossaprófagos (CARVALHO, 1996).
O primeiro caso documentado de Entomologia Forense foi relatado em um manual de
Medicina Legal Chinês do Século XIII e Bergeret, em 1855 que realizou a primeira estimativa
de intervalo pós-morte baseada em insetos na França. (OLIVEIRA; COSTA, 2003; PUJOLLUZ et al., 2008). Esta modalidade de estudo iniciou-se no Brasil em 1908, com os trabalhos
pioneiros de Edgard Roquette Pinto e Oscar Freire, respectivamente nos Estados do Rio de
Janeiro e da Bahia. Com base em estudos de casos em humanos e animais realizados na
primeira década do Século XX, onde foi registrada a diversidade da fauna de insetos
necrófagos em regiões de Mata Atlântica.
O estudo de insetos das Ordens Diptera e Coleoptera e outros grupos de insetos
também são relevantes para a Entomologia Forense, no Brasil, ocorrem espécies distribuídas
em 22 famílias da Diptera, sendo que geralmente, aquelas de maior interesse médico legal e
que se encontram associados à carcaça animal, estão distribuídas em sete famílias:
Calliphoridae, Muscidae, Fanniidae, Phoridae, Piophilidae, Sarcophagidae e Stratiomyidae, as
quais se enquadram como de importância forense. Estes insetos (Diptera e Coleoptera)
desenvolvem seus estágios imaturos junto à carcaça animal, utilizando-a como fonte protéica,
sítio de cópula e estímulo a oviposição, podendo, assim, servir para determinar em quais
circunstâncias a morte ocorreu e ainda estimar o intervalo post mortem (IPM), dentro do
escopo da Entomologia Forense. Contudo nesse período, as moscas das famílias
Calliphoridae, Sarcophagidae e Muscidae têm destaque na invasão post mortem (MISE et al.,
2007).
A família Sarcophagidae são moscas de tamanho médio, de coloração cinza, arista nua ou
pilosa na base, tórax com três faixas longitudinais negras; abdome geralmente ornamentado
de manchas com reflexos cinzentos ou negros em xadrez. Os Sarcophagidae colonizam
carcaças nos períodos mais frios e prefere os estágios adiantados decomposição.
(PANTALEÃO et al. 2005; GIROLDO, 2006). As larvas desta moscas nutrem-se de matéria
orgânica animal, em decomposição ou não. As fêmeas mantêm os ovos no interior do seu
corpo até as larvas eclodirem e serem então expelidas.
Barros et al. (2008), relatam que os Sarcophagidae possuem cerca de 2.600 espécies
descritas e juntamente com Calliphoridae, Muscidae, Fanniidae e Stratiomyidae, são de
grande importância para a Entomologia Forense. A fauna neotropical é bastante diversa, com
mais de 750 espécies descritas, com vários trabalhos que relatam a ocorrência de
sarcofagídeos associados a carcaças de animais vertebrados no Brasil; incluindo cadáveres
humanos. A maioria das espécies é ovovivípara, eliminando larvas de primeiro estágio, que
iniciam imediatamente sua alimentação na carcaça. Essa estratégia de desenvolvimentos e
distingue daquela dos califorideos, que são ovíparos e necessitam de um tempo adicional para
a eclosão dos ovos, além de ovipositarem em locais específicos na carcaça. Acredita-se que a
diferença nas estratégias das duas famílias pode conferir aos Sarcophagidae um pioneirismo
na colonização dos cadáveres, o que ressalta a sua importância forense. Segundo Carvalho et
al. (2008), algumas espécies ocorrem como parasitas de Orthoptera, Lepidoptera, moluscos,
anelídeos e outras como causadoras de miíases em anfíbios e outros vertebrados, incluindo o
homem.
Os insetos são extremamente importantes na investigação criminal, podendo ajudar
desde a descoberta de uma rota de tráfico de drogas até na investigação de um crime
fornecendo a estimativa do tempo transcorrido após a morte, também conhecido como
Intervalo Pós-Morte (IPM), é baseado no tempo em que o inseto leva para se desenvolver de
ovo ou larva até o estágio no qual ele foi encontrado no cadáver. Pode-se inferir onde o crime
ocorreu, através do conhecimento da fauna na região encontrada; o culpado do crime,
relacionando insetos ou fragmentos encontrados no suspeito e vítima ou no suspeito e local do
crime.
Um exemplo bem conhecido entre os entomólogos forense é o caso da condenação
injusta de um capitão de navio, na Hungria, em Nuorteva, 1977: O capitão de navio foi
condenado a prisão perpétua pelo homicídio de um funcionário dos correios, cujo corpo
esfaqueado foi descoberto numa noite (em Setembro),no navio. O capitão chegou ao trabalho
às 18 horas nesse dia, e o corpo foi encontrado umas horas depois. A autopsia foi feita no dia
seguinte às 16 horas. Massas de ovos de mosca e pequenas larvas de 1 a 2 mm estavam
presentes, o que foi registrado no relatório da autopsia. O capitão foi condenado à prisão
perpétua. Após 18 anos, o caso foi reaberto, no novo julgamento, esteve presente um
entomólogo que afirmou que na Hungria não há moscas sarcófagas (sarcophagidaea) às 18h
em Setembro. Também, afirmou que para aquela época do ano, os ovos precisariam entre 10 a
16h para eclodir. Não era possível que os ovos pudessem ter eclodido se estes foram postos
no dia da autopsia, e que com certeza foram postos no dia anterior, antes das 18h.
Com
base nesses dados, o capitão foi liderado.
O objetivo deste trabalho foi analisar e discorrer sobre a importância da família
Sarcophagidae para a entomologia forense, por meio de uma revisão bibliográfica.
2 METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho de revisão consistiu de pesquisas em artigos em bancos
de dados, tais como NCBI (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/); Science Direct
(http://www.sciencedirect.com/) e Scielo (http://www.scielo.org).
3
DISCUSSÃO
A aplicabilidade da entomologia à perícia criminal pode auxiliar na resolução de
alguns crimes, tais como morte violenta, produtos armazenados, maus tratos de crianças...
porém sua aplicabilidade depende de vários fatores: O primeiro deles é reconhecer os insetos
presentes em local de crime como vestígio e sua preservação até a chegada do entomólogo
forense, por parte dos policiais que se encontram no local do crime, como, o que fazer (ou não
fazer), o que e como coletar e preservar. É impressionante a quantidade e diversidade de
informações que um inseto pode trazer à investigação criminal (DIAS, 2010).
3.1 Fauna entomológica de importância forense
A fauna entomológica cadavérica no Brasil apresenta uma ampla diversidade de
espécies que se sucedem na carcaça, pois o processo de decomposição oferece condições
ideais ao desenvolvimento ( Hobson, 1932 e Keh, 1985 ). Os estudos em entomologia forense
no Brasil indicam as moscas como os insetos de maior interesse na área, provavelmente pela
diversidade deste grupo em regiões tropicais e sobre tudo pela grande atratividade que a
matéria orgânica em decomposição exerce sobre esses insetos adultos ou larvas, influenciando
no comportamento e dinâmica populacional das várias espécies em nichos ecologicamente
distintos. Os besouros, grupo de insetos pertencentes à ordem Coleoptera, são o segundo
grupo de insetos de maior interesse forense no Brasil, sendo encontrado nas carcaças tanto em
sua fase adulta de desenvolvimento, quanto na fase imatura (larvas) (Carvalho et al 2000,
Barbosa et al 2006):
Ordem Diptera – Conhecidos como moscas são estes, muitas vezes, os primeiros a
chegar ao corpo que inicia seu processo de decomposição. Entre as famílias mais
importantes podem ser citadas: Calliphoridae, Muscidae, Faniidae, Sarcophagidae,
Phoridae, Piophilidae e Stratiomydae.
Ordem Coleoptera – Geralmente são encontrados nos cadáveres quando estes se
encontram mais decompostos. Entre as famílias mais importantes podem ser citadas:
Scarabaeidae, Cleridae; Dermestidae, Histeridae, Silphidae e Staphylinidae.
Segundo Keh (1985), os insetos associados a cadáveres podem ser ainda classificados,
de acordo com seus aspectos ecológicos e biológicos da seguinte maneira:
Necrófagos: São aqueles insetos imaturos e/ou adultos que se alimentam de tecido dos corpos
em decomposição. Exemplo: Dípteros, Coleópteros e Lepidoptera;
Ominívoros: São os insetos que se alimentam tanto do cadáver quanto da fauna associada ao
cadáver. Exemplo: Formigas e vespas (Himenópteros) e alguns besouros;
Parasitas e Predadores: Os parasitas são aqueles insetos que utilizam a entomofauna
cadavérica para seu próprio desenvolvimento e os predadores são os indivíduos que se
alimentam das formas adultas ou imaturas dos insetos cadavéricos. Nessas duas classificações
podemos encontrar Himenópteros (parasitando ou predando), Coleópteros, Dípteros
Muscóides e Dermápteros (vulgo tesourinha);
Acidentais: São os insetos que se encontram ao acaso no cadáver, explicado muitas vezes
pela freqüência como ocorrem naturalmente em determinadas áreas ecológicas. São exemplos
aranhas, centopéias, ácaros e outros artrópodes.
3.2 A importância da família Sarcophagidae para a entomologia forense
A família Sarcophagidae são moscas de tamanho médio, de coloração cinza, arista nua ou
pilosa na base, tórax com três faixas longitudinais negras; abdome geralmente ornamentado
de manchas com reflexos cinzentos ou negros em xadrez. As espécies necrófagas são
larvíparas.
Segundo Souza e Linhares, as espécies desse grupo têm preferência por períodos mais
frios do ano, colonizando carcaças no outono e inverno (Oliveira e Costa, 2003;
PANTALEÃO et al. 2005; GIROLDO, 2006). As larvas desta moscas nutrem-se de matéria
orgânica animal, em decomposição ou não. As fêmeas mantêm os ovos no interior do seu
corpo até as larvas eclodirem e serem então expelidas. Barros et al. (2008), relatam que os
Sarcophagidae possuem cerca de 2.600 espécies descritas e juntamente com Calliphoridae,
Muscidae, Fanniidae e Stratiomyidae, são de grande importância para a Entomologia Forense.
A fauna neotropical é bastante diversa, com mais de 750 espécies descritas, com vários
trabalhos que relatam a ocorrência de sarcofagídeos associados a carcaças de animais
vertebrados no Brasil; incluindo cadáveres humanos.
A maioria das espécies é ovovivípara, eliminando larvas de primeiro estágio, que iniciam
imediatamente sua alimentação na carcaça. Essa estratégia de desenvolvimentos e distingue
daquela dos califorídeos, que são ovíparos e necessitam de um tempo adicional para a eclosão
dos ovos, além de ovipositarem em locais específicos na carcaça. Acredita-se que a diferença
nas estratégias das duas famílias pode conferir aos Sarcophagidae um pioneirismo na
colonização dos cadáveres, o que ressalta a sua importância forense. Segundo Carvalho et al.
(2008), os estágios imaturos desenvolvem-se em matéria orgânica de origem animal em
decomposição, preferencialmente carcaças de vertebrados pequenos ou médios, podendo
ocorrer também em certos grupos de invertebrados. Algumas espécies ocorrem como
parasitas de Orthoptera, Lepidoptera, moluscos, anelídeos e outras como causadoras de
miíases em anfíbios e outros vertebrados, incluindo o homem.
Estes insetos são identificados através da genitália masculina, as espécies não se
diferenciam muito na morfologia externa. Os adultos são geralmente grandes, podendo medir
de 4 a 16 mm, cor cinza e faixas pretas no dorso, possui muitas cerdas, o que os diferencia de
Muscidae, e possuem, também, olhos vermelhos. É um grupo de difícil identificação.
As principais espécies no Brasil associadas a carcaças são: Cuculumya larvicida,
Euboettcheria anguila, E. collusor, E. florencioi, E. australis, Oxysacordexia terminalis, O.
angrensis, O. culmiforceps, O. Diana, O. introna, O. thornax, Peckia (Pattonella)
intermutans, Peckia (Peckia) chrysostoma, Ravinia belforti, Sacrodexia lambens, Sarcophaga
(Liopygia) ruficornis.
3.4 Aplicações da entomologia forense
Os insetos podem ser usados como evidencias na solução de crimes e, em alguns casos,
podem estar no centro de disputas judiciais ao causar danos a produtos armazenados ou
estruturas (Keh, 1985), para tanto é necessário conhecer os hábitos dos diferentes grupos
taxonômicos de insetos quanto ao tempo que cada espécie gasta para chegar ao corpo. Além
disso, necessita-se conhecer o ciclo de vida e a taxa de desenvolvimento (Dadour et al 2001). É
essencial o conhecimento da temperatura local, visto que a taxa de desenvolvimento do inseto
depende desse fator (Anderson, 2000).
A Entomologia Forense foi classificada em três subáreas, descritas abaixo (Lord &
Stevesson 1986):
Urbana - relativa às ações cíveis envolvendo a presença de insetos em bens culturais,
imóveis ou estruturas. Um caso típico seria o do comprador de um imóvel que, pouco
tempo depois da compra, descobre que ele se encontra infestado por cupins e
responsabiliza o vendedor pelo seu prejuízo. A questão a ser respondida pela
Entomologia Forense é o tempo de infestação e se ocorreu antes ou depois da compra.
Produtos armazenados - diz respeito à contaminação, em pequena ou grande
extensão, de produtos comerciais estocados. O comprador do lote de alimento
infestado por insetos pragas pode exigir do vendedor uma compensação pelo prejuízo.
O desafio para a Entomologia Forense seria determinar quando ocorreu a infestação.
Médico-legal - trata-se a casos de morte violenta (crime contra a pessoa, acidentes de
massa, genocídios, etc.). A principal contribuição da Entomologia Forense, nesses
casos, é a estimativa do intervalo post-mortem.
Com relação à morte violenta, a entomologia pode prestar esclarecimento quanto à
identidade do morto, causa da morte, o lugar onde ocorreu e, principalmente, a
cronotanatognose, que é o intervalo de tempo entre a morte e a data em que o cadáver foi
encontrado (Oliveira-Costa, 2003).
Além da contribuição mais importante e cotidiana, que é a estimativa do intervalo postmortem, os insetos já foram utilizados:
Como indícios de casos de movimentação de cadáveres (Oliveira-Costa, 2003).
Na confirmação de hipótese de abandono de menores e maus tratos a idosos (Benecke
et al. 2001; Benecke & Lessig 2001).
Na identificação de autoria do crime por meio do DNA obtido do sangue ingerido por
insetos hematófagos ou de suas fezes (Mumcuoglu et al. 2004).
Possível simulação por parte dos insetos em atividade no cadáver, dos padrões de
disposição das roupas de vitimas que sofreram violência sexual antecedendo a sua
morte. (Komar & Beattie, 1998).
A entomotoxicologia estuda a aplicação dos insetos necrófagos na análise toxicológica
a fim de identificar drogas e toxinas presentes em um tecido que possam estar
relacionadas à mortes ligadas ao consumo acidental ou proposital de venenos sou
substancias tóxicas (Introna et al. 2001). Também investiga os efeitos causados por
estas substâncias no desenvolvimento dos artrópodes que possam interferir na
estimativa do tempo de morte (Carvalho 2004).
Na localização de região produtora de drogas com conseqüente identificação da rede de
distribuição do narcótico (Crosby et al. 1986), pois em um macerado de maconha podese encontrar partes de insetos passíveis de identificação.
3.4.1 Cálculo do intervalo pos mortem - IPM
Após a morte, os tecidos de animais, inclusive de humanos, são atrativos para uma
variedade de invertebrados, especialmente insetos sarcossaprófagos (Nuorteva, 1977). Assim
a aplicação do estudo de insetos e outros artrópodes em associação aos procedimentos
criminalísticos, na Entomologia Forense, tem contribuído para descobrir informações que
possam ser úteis a uma investigação no âmbito legal (Smith, 1986). Entre as várias aplicações
da Entomologia forense, tem-se a estimativa do intervalo pós-morte (IPM), ou seja, o
intervalo de tempo entre a data da morte e a data em que o cadáver foi encontrado que visa
estabelecer o tempo, mínimo e máximo, entre a morte e o encontro do corpo.
O limite máximo de tempo é estabelecido pela coleta dos espécimes e a análise do seu
padrão de sucessão nos corpos, desde que sejam correlacionados às condições ambientais do
local de e x p o s i ç ã o e t o d o s o s f a t o r e s q u e p o d e m a t r a s a r a c h e g a d a
d o s i n s e t o s e , p o r t a n t o , a colonização. A estimativa de limite de tempo
máximo de IPM é aplicada a cadáveres em adiantado estado de decomposição,
baseada na composição da comunidade de artrópodes relacionados ao padrão de
sucessão esperado (Costa, 2003).
O limite mínimo de tempo é estabelecido, por exemplo, pela id ade d o s
espécimes coletados nos cadáveres, portanto o espécime mais
v e l h o corresponde ao menor intervalo entre a colonização e a descoberta do corpo, sendo
aplicada a cadáveres em estado inicial de decomposição (Costa, 2003).
Este método é feito pela int erpolação dos dados da evolução do
desenvolvimento de espécies criadas em temperatura conhecida com o mais velho
estágio larvar coletado no cadáver e as condições ambientais que eles estariam
supostamente expostos. As larvas mostram o mínimo de tempo em que o corpo foi exposto,
em condições apropriadas, para atividade de insetos, já que, raramente, insetos necrófagos
ovipõem em uma pessoa viva.
A estimativa do IPM com dados entomológicos, feita pela primeira vez por Bergeret
(1855), pode ser feito de duas maneiras: por meio da sucessão entomológica ou pelo tempo de
desenvolvimento do inseto. Para ambos os métodos é necessário identificar a espécie do
inseto envolvido (Costa, 2008).
Os insetos imaturos encontrados, no local de morte violenta,
d e v e m s e r cuidadosamente coletados e criados em laboratório até a emergência dos adultos
para que a identificação das espécies possa ser feita com maior segurança. Devese considerar, também, os fatores físicos e químicos que po dem influenciar no
desenvolvimento dos insetos e, portanto, induzir ao erro na estimativa do tempo
de morte, estes devem ser mensurados e registrados.
Os métodos tradicionais para determinação do IPM baseiam-se na análise dos
fenômenos cadavéricos, como o resfriamento do corpo, evaporação tegumentar, rigidez
cadavérica, livores, mancha verde abdominal, estágios de putrefação, gases de putrefação,
cristais no sangue putrefeito e crescimento de pêlos da barba. Porém esses métodos são
indicados para morte recente, de até três dias. Passado este período esses sinais começam a
desaparecer. A partir deste momento a entomologia forense passa a ser uma ferramenta útil
para a determinação do IPM, principalmente para IPMs longos. Para os métodos tradicionais,
quanto maior for o IPM, menor a sua acurada determinação. Porém, com o auxílio da
entomologia forense, quanto maior for esse intervalo, mais segura é a estimativa. (Costa,
2008; Gomes, 2010)
Para ambos os métodos utilizados é necessária uma perfeita identificação da espécie
dos insetos associados aos corpos em decomposição, uma vez que cada espécie possui tempos
de desenvolvimento diferentes em seu ciclo de vida. O método de identificação do inseto
baseado na morfologia é mais indicado e mais utilizado atualmente para insetos adultos,
porém esse método não pode ser aplicado em todos os casos, devido às variações
intraespecíficas existentes e das discretas diferenças morfológicas entre muitas espécies,
principalmente para identificação de espécimes em seus estágios iniciais de desenvolvimento.
(Gomes, 2010; Croce e Croce Júnior, 2010)
A utilização das técnicas de biologia molecular, nas últimas décadas, tem fornecido
grandes vantagens aos entomologistas por permitir uma rápida e acurada diferenciação e
identificação, mesmo de espécies muito similares morfologicamente, nos estágios iniciais de
desenvolvimento, pupários vazios ou apenas fragmentos (Costa, 2008).
4
CONCLUSÃO
Os insetos são na maioria das vezes as primeiras testemunhas de um crime, por isso, a
Entomologia forense utiliza-se do conhecimento sobre a biologia de insetos e outros
artrópodes para auxiliar em investigações de crime. Uma família de insetos que faz parte da
fauna cadavérica e que, portanto, tem grande importância forense, é a família Sarcophagidea.
Os insetos desta família são, geralmente, abundantes em cadáveres, tendo preferência por
períodos mais frios do ano.
A Entomologia forense utiliza os insetos associados ao cadáver para determinar o local e o
tempo transcorrido desde a morte até o momento em que o cadáver foi encontrado ( IPM ). A
determinação do IPM pode ser feita por meio da sucessão da fauna cadavérica encontrada no
local ou pela determinação da idade da larva mais desenvolvida. Para ambos os casos há a
necessidade de se determinar a espécie do inseto encontrado, pois cada espécie possui um
ciclo de vida característico. Além disso, é importante observar se houve condições que
possam ter alterar o desenvolvimento dos insetos.
A entomologia forense é um assunto fascinante e de grande utilidade na área criminal que
vem ganhando cada vez mais espaço na área forense como técnica auxiliar nas investigações
criminais do Brasil. Existem alguns fatores que limitam o uso mais abrangente dessa técnica
aqui no Brasil como o baixo número de especialistas que conheçam realmente a biologia dos
insetos, pertencentes à fauna cadavérica. E técnicas mais precisas como o uso do DNA para
identificar imaturos ou insetos adultos e assim determinar de forma segura o IPM, auxiliando
assim na elucidação de crimes.
5
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