Carteira de dividendos: retorno pode superar a poupança. 27/06/2012 08:14 | Arena do Pavani Por Eduardo Tavares, em Arena do Pavani. Montar uma carteira de ações de empresas que são boas pagadoras de dividendos é uma das opções que o investidor tem à mão como alternativa ao baixo rendimento da poupança. A caderneta hoje paga 70% da taxa básica Selic, o que equivale a cerca de 6% ao ano. Porém, com a Selic em queda, a tendência é que a outrora queridinha da renda fixa pague cada vez menos daqui para frente. A estratégia com as “ações de viúva” – assim chamadas pelos analistas por, geralmente, pagarem ao investidor uma renda constante por meio dos dividendos – pode garantir um retorno bem superior ao da poupança. Um relatório do banco alemão Deutsche Bank mostra que há, atualmente, nove empresas na bolsa brasileira com um “dividend yeld” (retorno em dividendos) acima dos 6% (confira tabela abaixo). O “dividend yield” é obtido dividindo-se o valor dos dividendos a serem distribuídos pelo número de ações da empresa. O resultado é dividido pelo preço da ação. Ou seja, o “dividend yield” aumenta quando a companhia aumenta a distribuição do lucro aos acionistas, ou quando o preço da ação cai. Segundo o analista-chefe da corretora Gradual Investimentos, Paulo Esteves, o melhor caminho para quem quer adotar esse tipo de estratégia de investimento é, em primeiro lugar, ter visão de longo prazo. A bolsa brasileira, assim como acontece no mundo todo, não vive seus melhores dias, portanto, entrar pensando em ganhar dinheiro no curto prazo é quase sinônimo de frustração para os menos experimentados. A segunda dica, se o investidor estiver procurando empresas que paguem de forma recorrente ao longo do tempo, é escolher as de setores mais resistentes aos momentos de baixa da economia. “Empresas de alguns setores têm um comportamento mais inelástico, ou seja, menos dependente dos ciclos econômicos, e têm demanda mesmo em épocas em que a atividade econômica cai”, explica. Energia elétrica, concessões rodoviárias, saneamento básico e telefonia são alguns exemplos de setores com essas características. Troca Geralmente, empresas que são boas pagadoras de dividendos estão em uma fase mais madura de seu crescimento. Por isso, já não têm tanta necessidade de investimentos e podem distribuir aos acionistas uma parte maior do lucro que geram. Essa distribuição é feita por meio do pagamento de dividendos. Por essa razão, segundo Carlos Nunes, estrategista de renda variável do banco HSBC, o investidor deve ter em mente que, ao montar uma carteira de dividendos, está fazendo uma troca. “Se hoje uma empresa paga bons dividendos, seu crescimento está estabilizado, o que implica em uma valorização menor das ações, em comparação com uma empresa em franco crescimento”, explica. Para ele, pode valer a pena abrir mão dos dividendos em um primeiro momento para investir em empresas ainda na fase de crescimento. Nunes ressalta, entretanto, que a escolha da ação deve ser feita com base em um histórico consistente de crescimento sustentado ao longo dos anos. É importante lembrar, porém, que rentabilidade passada não é garantia de rendimentos futuros, embora o histórico seja um fator interessante a se levar em conta. Na opinião do analista, empresas como AmBev, Hering e Cemig têm esse perfil, ou seja, apresentam um histórico interessante de crescimento e têm potencial de se tornarem boas pagadoras de dividendos. “No curto prazo, vale a pena abrir mão do dividendo em prol do crescimento, e quando a empresa amadurecer, se seu caixa estiver bom, isso vai gerar dividendos”, explica. “Quanto maior o bolo, maior vai ser a fatia dos acionistas”, acrescenta. A Vale Outra empresa bem-vista pelo mercado no que diz respeito ao pagamento de dividendos é a Vale. “A mineradora tem um histórico de crescimento interessante, sustentável”, diz Nunes. Embora uma eventual desaceleração econômica na China possa trazer volatilidade ao preço das ações da Vale, a empresa continua crescendo, mesmo em um cenário de matéria-prima escassa. “E ainda tem um ‘dividend yield’ de 7% líquido ao ano”, afirma o analista. Ele ressalta ainda que o custo de se ter papéis da Vale em carteira é menor se comparado ao de outras empresas, em boa parte por causa da liquidez das ações. “Isso torna o papel mais atrativo para investidores de longo prazo”, diz. Fundos Outra maneira de investir em empresas que pagam bons dividendos é por meio dos fundos de índices, os chamados ETFs. É o caso do DIVO11, fundo de índice criado pela gestora BlackRock. Esse fundo replica o comportamento do Índice de Dividendos IDIV, carteira teórica da BM&FBovespa composta apenas de ações de empresas boas pagadoras de dividendos. A estratégia é boa para quem não tem o conhecimento – ou tempo disponível – suficiente para montar uma carteira de ações. Entretanto, Esteves, da Gradual Investimentos, lembra que, ao se investir no ETF, os dividendos acabam sendo incorporados à cota que o investidor tem do fundo. Eles não vão diretamente para o bolso, como ocorre com uma carteira de ações. “É mais interessante ter as ações do que uma cota do índice”, diz Esteves. Imposto em duplicidade A diferença no caso é que quando o dividendo vai direto para a conta do investidor, ele é isento de imposto, pois a empresa já pagou os tributos antes de distribuir o lucro. Já se o dividendo é incorporado na cota do fundo, quando o investidor resgatar, vai pagar o equivalente a 15% de imposto sobre o valor. O mesmo problema acontece com os fundos de dividendos abertos oferecidos pelos bancos. Para resolver isso, algumas instituições oferecem fundos que creditam o dinheiro direto na conta dos investidores, sem cobrança de imposto. Nesse caso, a cota do fundo vai subir menos, pois não refletirá o dividendo, mas o investidor deverá incluir o que já pôs no bolso na hora de avaliar a aplicação. As empresas que, segundo relatório do Deutsche Bank, têm “dividend yield” acima de 6% atualmente são: Empresa Setor Ação Dividend yield Oi Telecomunicações OIBR3 24,6% Mahle Metal Leve Metalurgia LEVE3 10,1% AES Tietê Energia GETI4 10,0% Banco do Brasil Bancos e instituições financeiras BBAS3 8,7% Cemig Energia CMIG4 8,6% Eletrobras Energia ELET6 8,2% Vivo Telecomunicações VIVT4 8,0% Redecard Bancos e instituições financeiras RDCD3 7,5% Vale Mineração VALE5 6,3% Fonte: Deutsche Bank Abaixo, seguem as carteiras de dividendos recomendadas por cinco corretoras: Corretora Coinvalores Geral Investimentos Rico Gradual Investimentos Empresa Ação Ecorodovias ECOR3 AES Tietê GETI4 Cemig CMIG3 Valid VLID3 Copasa CSMG3 AES Tietê GETI4 Ambev AMBV4 Cemig CMIG4 Helbor HBOR3 JHSF JHSF3 Metal Leve LEVE3 Redecard RDCD3 Telefônica VIVT4 Tractebel TBLE3 Grendene GRND3 Vale VALE5 CPFL CPFE3 Coelce COCE5 Tractebel TBLE3 Banco do Brasil BBAS3 Cemig CMIG3 AES Tietê GETI3 AES Eletropaulo ELPL4 Eternit ETER3 Citi Vale VALE5 Itaúsa ITSA4 Banco do Brasil BBAS3 Cemig CMIG4 Tractebel TBLE3 Energias do Brasil ENBR3 CCR CCRO3 Transmissões Paulista TRPL4