Pessach - Eliezer Max

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Abril, 2017 | Nissan, 5777
Edição n°3
Pardês Eliezer Max - O Pomar do Eliezer Max
Pessach
A origem da festa
Pessach comemora a saída dos hebreus do Egito, conforme descrito nos
primeiros capítulos do livro de Sh’mot / Êxodo. Em função de uma seca na
região, Iaacov e sua família foram para o Egito, onde um de seus filhos, Iossef,
tinha subido à posição de vice-Rei. Alguns séculos mais tarde, um novo Faraó
subiu ao trono sem conhecer a história de Iossef. Assustado com o aumento no
número de hebreus, o Faraó determinou que eles fossem escravizados e, em
seguida, resolveu matar todos os bebês hebreus do sexo masculino, garantindo
que não houvesse uma nova geração para o povo. As parteiras, que deviam
executar a ordem do Faraó, no entanto, não a cumpriram.
É neste contexto que nasceu Moshé, um hebreu que foi colocado no Rio Nilo em
uma pequena cesta e que foi encontrado pela filha do Faraó, que o adotou
como filho. Educado na Casa do Faraó, Moshé um dia assistiu um egípcio
batendo em um escravo hebreu e, na tentativa de intervir, acabou matando o
egípcio. Quando Moshé percebeu que seu crime havia sido descoberto, fugiu
para Midian. Lá se casou e trabalhou como pastor de ovelhas para seu sogro.
Um dia, quando estava cuidando das ovelhas, viu um arbusto ardente que não
se consumia. Quando se aproximou, Deus anunciou que havia prestado atenção
ao sofrimento dos hebreus e que Moshé deveria voltar ao Egito e libertar seu
povo.
Após alguma hesitação de Moshé, ele voltou ao Egito, anunciou suas intenções
ao povo hebreu (inicialmente, sem muito respaldo) e exigiu que o Faraó
libertasse o povo. Frente à recusa do Faraó, Moshé anunciou pragas que
recairiam sobre o Egito. Foi apenas com a décima destas pragas, a morte de
todos os primogênitos egípcios, que o Faraó se convenceu a libertar os hebreus.
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Quando os hebreus já estavam partindo, o Faraó mudou de opinião e ordenou
que sua guarda impedisse a saída deles. Aprisionados com o mar à sua frente e
a guarda real por trás, os hebreus assistiram maravilhados à abertura do mar,
permitindo que eles passassem. Depois que os hebreus cruzaram o mar
andando sobre terra seca, o mar se fechou, matando a guarda egípcia que os
perseguia. Para os hebreus, era o começo de uma jornada em direção à Terra
Prometida.
Na Torá, somos instruídos 4 vezes a contar a história da saída do Egito a nossos
filhos (Ex. 12:26-27, Ex. 13:6-8, Ex. 13:14, Deut 6:20-25), o que colocou a educação no centro
da comemoração deste chag / festa judaica e levou ao desenvolvimento do seder
como ferramenta pedagógica (veja abaixo, na seção Tradições & Costumes).
Davar Acher: Outras interpretações...
Os comentaristas clássicos já notaram que foi graças ao heroísmo das mulheres
que a libertação dos hebreus do Egito pode ocorrer. Foram duas parteiras,
Shifra e Puá, que ignoraram as ordens do Faraó e permitiram que os meninos
hebreus vivessem; Iocheved (a mãe de Moshé) e Miriam (a irmã dele) foram
fundamentais para que o bebê sobrevivesse; e a filha do Faraó, mesmo
reconhecendo que o bebê que ela resgatava do rio tinha origem hebreia,
resolveu mantê-lo em vida. Apesar de Moshé ser muitas vezes apontado como o
protagonista do processo de Libertação, se estas mulheres não tivessem se
arriscado para tomar as atitudes que acreditavam corretas, a história da saída
do Egito nem teria começado.
O rabino e filósofo israelense, Donniel Hartman, presidente de um renomado
Instituto de Estudos Judaicos em Jerusalém, vem defendendo que há mais de
uma história sobre o Êxodo que pode ser contada em Pessach. Uma versão da
história relata um episódio de redenção do povo judeu devido à nossa relação
com Deus, que não pôde ficar passivo quando Seus filhos estavam sendo
oprimidos. É uma perspectiva em que a experiência do Êxodo é particular e tem
pouco a ensinar sobre outros episódios de opressão nos quais o povo judeu não
esteja envolvido. Uma outra versão da história trata de um processo de
Libertação conduzido porque Deus odeia a opressão, independentemente das
partes envolvidas. O Rabino Hartman lembra que estas duas perspectivas foram
contempladas no texto da hagadá, mas que nem sempre recebem o mesmo
destaque na forma como contamos a história – e nos desafia a considerar qual
mensagem de Pessach queremos privilegiar em nossos sedarim.
Pardês Eliezer Max - O Pomar do Eliezer Max - Ed. 3 - Pessach
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Tradições & Costumes
Pessach é comemorado, principalmente, entre as famílias e o contar da história
do Êxodo do Egito tem lugar central entre as tradições:
●
Seder de Pessach: É o jantar festivo durante o qual contamos a história
da saída do Egito. A palavra “seder” significa “ordem”, uma referência às
15 etapas para o desenvolvimento deste jantar. De acordo com a Mishná
(o primeiro código legal do movimento rabínico, escrito ao redor do ano
220 E.C.), toda pessoa é obrigada a se ver neste dia como se ela própria
tivesse saído do Egito e a contar a história desta saída, “da escravidão à
liberdade, da tristeza à alegria, do luto à celebração, da escuridão à
grande luz, da escravidão à redenção.” (Mishná Pessachim 10:5).
●
Hagadá: É o livro que contém o “roteiro” para o seder. “Hagadá” significa
“contação”, mas o texto da hagadá vai além de simplesmente contar a
história da saída do Egito, contendo também fábulas rabínicas, músicas e
poemas litúrgicos. Há muitas versões da hagadá, que variam tanto pelos
comentários que apresentam ao texto tradicional quanto pela adição de
textos contemporâneos.
●
Keará: É o prato especial em que colocamos elementos simbólicos que
representam os temas do seder. O processo de re-interpretação destes
símbolos nunca para e é comum que existam várias explicações para
cada um deles: zroa (um osso tostado, representando o sacrifício pascal e
o fato de que Deus nos tirou do Egito com “mão forte e braço
estendido”), beitzá (um ovo cozido com a casca chamuscada,
representando o sacrifício pascal e a dinâmica elíptica das nossas vidas,
nas quais às vezes estamos por cima e às vezes por baixo), maror (ervas
amargas, muitas vezes substituídas por uma mistura de beterraba com
raiz forte, representando o amargor da vida em servidão), charosset
(pasta feira com uma mistura de frutas para a qual existem várias
receitas e grande debate sobre qual delas é a melhor, representa o
trabalho escravo através da semelhança com a argamassa), chazeret
(verduras amargas como escarola ou endívia, também representa o
amargor da vida em servidão), karpás (uma batata ou salsinha,
representa a primavera e a esperança de dias melhores).
Assim como outras partes do seder, os elementos da keará receberam
adições nas últimas décadas, incluindo preocupações contemporâneas
relacionadas ao tema da festa e incluem: laranja (simbolizando o
silenciamento de mulheres da vida judaica tradicional), tomate ou cana
de açúcar (simbolizando o trabalho escravo na agricultura
contemporânea), azeitona (para expressar a esperança de paz entre
israelenses e palestinos), entre outros.
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●
Matzá: Pão ázimo, que comemos na época de Pessach. Ela nos ajuda a
relembrar que, na saída do Egito, os hebreus tinham pressa e não
puderam esperar a massa do pão fermentar e crescer; a matzá também
nos lembra das pessoas menos privilegiadas, cuja alimentação diária e
cotidiana é sempre limitada (por isso, é chamada também de “pão da
pobreza” (‫לֶחֶ ם עֹנִי‬, lechem ôni). Em Pessach, é tradicional evitar o consumo
de chametz, produtos fermentados através da combinação de água com
trigo, aveia, cevada, centeio e espelta. Alguns judeus de origem ashkenazi
também evitam o consumo de grãos como arroz, feijão e milho.
Valores & Questões para discussão
Pessach é uma das festas judaicas em que a criatividade têm sido expressa de
maneira mais clara. A Mishná diz que cada família deve contar a história
adaptando-a ao entendimento das crianças, dando início a um processo de
customização do ritual que nunca teve fim.
●
O texto da hagadá coloca o perguntar no centro do processo do seder:
temos as quatro perguntas do Má Nishtaná e as perguntas das Quatro
Crianças. No entanto, muitos consideram que estas perguntas não dão
conta das dúvidas efetivas que aparecem durante a contação da história.
Como podemos garantir que o seder seja realmente um ambiente em
que todos se sintam à vontade para perguntar, tanto sobre a história da
saída do Egito quanto sobre o significado da liberdade nos dias de hoje?
Quais perguntas você gostaria de fazer?
●
No Chassidismo, a abstinência de chametz é entendida como uma
metáfora para o trabalho espiritual de desinflar nossos egos “inflados”.
Tomando esta ideia como ponto de partida, como podemos usar as
discussões do seder para melhorar nossa interação com o mundo?
●
Conforme mencionado acima, Donniel Hartman nos desafia a considerar
o equilíbrio entre o particular e o universal na história que contamos em
nossos sedarim. Em sua opinião, qual deve ser a ênfase das conversas ao
redor da mesa de Pessach: a libertação dos hebreus do Egito ou a luta
contra a opressão nos nossos dias?
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