Manejo Clínico Hospitalar da Insuficiência Respiratória em Tempos de Influenza DR. BERNARDO MONTESANTI MACHADO DE ALMEIDA I N F E C TO LO G I S TA - H O S P I TA L D E C L Í N I C A S / U F P R - S E R V I Ç O D E U R G Ê N C I A E E M E R G Ê N C I A A D U LTO - NÚCLEO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Objetivos 1. RELEVÂNCIA DOS VÍRUS RESPIRATÓRIOS NO CONTEXTO DAS PNEUMONIAS 2. QUANDO PENSAR EM INFLUENZA 1. TRATAMENTO PARA INFLUENZA 2. PARTICULARIDADES DO PACIENTE CRÍTICO COM INFLUENZA Introdução 1. Pneumonia ◦ ◦ 470 milhões de casos/ano 1 4 milhões de óbitos 1 2. CID 10 – Capítulo X – Doenças do Aparelho Respiratório ◦ ◦ 4ª principal causa de óbito no Brasil em 2013: Doenças do Aparelho Respiratório 2 Principal causa de óbito em crianças até 4 anos (excluindo causas perinatais) 2 1 – OMS, 2004 2 – Ministério da Saúde; DataSUS; Acesso em 05/2016 Etiologia das Pneumonias Mandel and Bennet; Principles and Practice of Infectious Diseases; 2011 VÍRUS E T I O L O G I A S Mandel and Bennet; Principles and Practice of Infectious Diseases; 2011 Pneumonia Viral – um novo conceito Uso de vacina para Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumoniae Novos métodos diagnósticos: PCR Mudanças no conhecimento da epidemiologia das Pneumonias Comunitárias Generalidades... 1. Pode ser causa primária de pneumonia 2. Pode ocorrer em coinfecção com bactérias 3. Pode predispor a infecções bacterianas secundárias Questões em aberto 1. O isolamento viral significa que ele é o agente etiológico? 2. Quais é sua reprentatividade na PAC? 3. Qual a implicação do isolamento viral em mudanças na conduta clínica? PNM viral em crianças ≤ 1 ano 76,1% viral 6 – 19 anos 27,9% viral 1o – Rinovírus 2o – RSV 3o – Bocavírus 4o – Parainfluenza 5o - Influenza Wang M.; Incidence of viral infection detected by PCR and real-time PCR in childhood community-acquired pneumonia: A meta-analysis; Respirology (2015) 20, 405–412 Etiologia de PAC em pacientes internados Jain S. et al; Community-Acquired Pneumonia Requiring Hospitalization among U.S. Adults; N Engl J Med 2015;373:415-27. DOI: 10.1056/NEJMoa1500245 3X 1,7 0,5 5X 2,5 17X 8,5 Etiologia de PAC em pacientes internados Jain S. et al; Community-Acquired Pneumonia Requiring Hospitalization among U.S. Adults; N Engl J Med 2015;373:415-27. DOI: 10.1056/NEJMoa1500245 Etiologia viral nas PAC em Adultos • Metanálise TOTAL • 23 estudos de todos os continentes • 6404 pacientes • Ambulatoriais e hospitalares internados ambulatoriais Wu, et al; Respiration; Incidence of Respiratory Viral Infections Detected by PCR and Real-Time PCR in Adult Patients with Community-Acquired Pneumonia: A Meta-Analysis; Respiration; march, 2015 Etiologia viral nas PAC em Adultos CONCLUSÕES 1. Importante etiologia de PAC em adultos (27%) 2. Principal patógeno – Influenza (8,9%) 3. Maior importância para casos internados 4. Mais de 50% ocorrem em coinfecção com outros patógenos Wu, et al; Respiration; Incidence of Respiratory Viral Infections Detected by PCR and Real-Time PCR in Adult Patients with Community-Acquired Pneumonia: A Meta-Analysis; Respiration; march, 2015 Fatores associados a pior prognóstico em pacientes internados • Fatores associado a internamento em UTI 1. Idade > 65 anos 2. Não uso de oseltamivir 3. Não vacinação prévia 4. Doença respiratória de base 5. Tabagismo P. Loubet et al. Factors associated with poor outcomes among adults hospitalized forinfluenza in France: A three-year prospective multicenter study; Journal of Clinical Virology 79 (2016) 68–73 Influenza Nosocomial - De 218 isolados em 2013/2014, 24% foram nosocomiais - Fatores de risco: > idade; imunossupressão; pós TX Huzly et al; Characterisation of nosocomial and community-acquired influenza ina large university hospital during two consecutive influenza seasons; Journal of Clinical Virology 73 (2015) 47–51 Juntando as peças 1. VÍRUS E PAC Os vírus são importantes agentes nas PAC em crianças e adultos e DEVEM ser pensadas no diagnóstico diferencial de TODAS as PAC 2. INFLUENZA O vírus influenza está entre os vírus mais relevantes, ganhando importância nos casos MAIS GRAVES, AUMENTO DA IDADE e SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA COMO IDENTIFICAR VÍRUS E INFLUENZA? VÍRUS X BACTÉRIA S. pneumoniae INFLUENZA INFLUENZA Pneumoimagem.com.br – acesso em 10/06/2016 S. pneumoniae Pneumoimagem.com.br – acesso em 10/06/2016 Pneumocistose PADRÃO RADIOLÓGICO DA PNEUMONIA POR H1N1 Airi Jartti et al; Chest imaging findings in hospitalized patients with H1N1 influenza; Acta Radiologica 2011; 52: 297–304 PADRÃO RADIOLÓGICO DA PNEUMONIA POR H1N1 Conclusão: Achados variáveis que não podem ser distinguidos das infecções bacterianas Airi Jartti et al; Chest imaging findings in hospitalized patients with H1N1 influenza; Acta Radiologica 2011; 52: 297–304 Como diferenciar?? - Não há protocolos nem fluxos para diagnóstico e terapêutica de Pneumonia Viral x Bacteriana Isoladamente não ajudam, mas em conjunto..... Ruuskanen et al; Viral pneumonia; Lancet 2011; 377: 1264–75 VAMOS À VIDA REAL... Pneumonia Viral no Hospital de Clínicas No de notificações X Coleta X Positividade 600 80% 70% 500 60% 400 50% 300 40% 30% 200 20% 100 10% 0 0% <1 1-5 5-10 10-18 18-50 >50 1 – Serviço de Epidemiologia Hospitalar; Hospital de Clínicas – UFPR; Dados internos Casos Coletados Positivos Vírus encontrados em adultos Enterovirus 6% Adenovírus 4% Parainfluenza 7% Coronavírus 8% Metapneumovírus 4% Rinovirus 28% VSR 17% Influenza 26% 1 – Serviço de Epidemiologia Hospitalar; Hospital de Clínicas – UFPR; Dados internos TRATAMENTO 1. OSELTAMIVIR FUNCIONA? EM QUE DOSE? 2. QUANDO TRATAR EMPIRICAMENTE? 3. QUAL O MANEJO CLÍNICO DO PACIENTE COM INFLUENZA? Metanálise – Lancet o Avaliou impacto do tratamento em PACIENTES INTERNADOS! o 29234 pacientes de 78 estudos o Mortalidade e relevância do tempo do início de tratamento 1. Oseltamivir X SEM tratamento – OR 0,81 (p=0,0024) 2. ≤ 2 dias (precoce) X > 2 dias (tardio) – OR 0,48 (p<0,0001) 3. Aumento na mortalidade para cada dia de atraso no tratamento a partir de 2 dias – HR 1,23 (p<0,0001) Muthuri et al; PRIDE Consortium Investigators. Effectiveness of neuraminidase inhibitors in reducing mortality in patients admitted to hospital with influenza A H1N1pdm09 virus infection: a meta-analysis of individual participant data. Lancet Respir Med. 2014;2(5):395-404. Metanálise – Lancet o Grupos em que houve benefício do tratamento 1. Adultos (> 16 anos) – OR 0,75 2. Gestantes – OR 0,46 3. Adultos internados em UTI – OR 0,72 o Relevância do tempo (precoce x tardio) 1. Benefício em TODOS os grupos, exceto crianças a) Adultos – OR 0,45 b) Getantes – OR 0,27 c) Adultos internados em UTI – OR 0,62 Muthuri et al; PRIDE Consortium Investigators. Effectiveness of neuraminidase inhibitors in reducing mortality in patients admitted to hospital with influenza A H1N1pdm09 virus infection: a meta-analysis of individual participant data. Lancet Respir Med. 2014;2(5):395-404. Metanálise – Lancet o Relevância do tempo (precoce x SEM tto) 1. Benefício em TODOS os grupos, exceto crianças a) Adultos – OR 0,38 b) Getantes – OR 0,16 c) Adultos internados em UTI – OR 0,31 o Relevância do tempo (tardio x SEM tto) 1. Adultos em UTI – OR 0,65 Muthuri et al; PRIDE Consortium Investigators. Effectiveness of neuraminidase inhibitors in reducing mortality in patients admitted to hospital with influenza A H1N1pdm09 virus infection: a meta-analysis of individual participant data. Lancet Respir Med. 2014;2(5):395-404. DOSE PADRÃO X DOBRADA Coorte retrospectiva 57 pacientes com influenza confirmada incluídos 27 dose padrão x 30 dose dobrada Noel et al; Comparison of High-Dose Versus Standard Dose Oseltamivir in Critically Ill Patients With Influenza; Journal of Intensive Care Medicine; Feb 2016 TRATAMENTO EXTENDIDO o Sem estudos randomizados que avaliaram a prorrogação do tempo o Racional: 1. A queda do PCR está associado a melhora dos sintomas 2. Há pacientes que após 5 dias de tto, mantém PCR positivo (imunossupromidos; comorbidades; críticos) o Hipótese prorrogar terapia pode ser benéfico para imunossuprimidos ou pacientes críticos com comorbidades McQuade et al; Influenza treatment with oseltamivir outside of labeled recommendations; Am J Health-Syst Pharm. 2015; 72:112-6 CONCLUSÕES 1. TRATAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS o Há evidência de redução de mortalidade com tratamento precoce (até 2 dias) para adultos, adultos em UTI e gestantes (estudos observacionais) o Para adultos em UTI, há benefício da terapia iniciada até 5 dias 2. DOSE DOBRADA o Não há evidências para uso rotineiro de dose dobrada 3. TEMPO EXTENDIDO o Não deve ser rotina! Não deve ser rotina! Não há estudos que demonstram benefício em desfecho clínico McQuade et al; Influenza treatment with oseltamivir outside of labeled recommendations; Am J Health-Syst Pharm. 2015; 72:112-6 Na Prática Paciente de 65 anos, diabético e hipertenso. Febre, tosse há 2 dias. “Respiração pesada” – FR=31; FC=92; SatO2=89% em AA; PA = 105 x 70. LIBERAR OU INTERNAR? COMO TRATAR? Estratificação de risco PSI Estratificação de risco – CURB-65 Esquema de prescrição para Pneumonia Comunitária 1. Antibioticoterapia ◦ Esquema com cobertura para S. pneumoniae e atípicos CEFALOSPORINA DE 3ag + MACROLÍDEO - Ceftriaxona + Azitromicina/Claritromicina QUINOLONA RESPIRATÓRIA - Levofloxacino ◦ Em tempos de influenza – associar Oseltamivir 75mg de 12/12h Paciente crítico com H1N1 1. Piora clínica em 4-5 dias hipoxemia; choque e disfunções orgânicas 2. 60% dos casos em VNI evoluem para IOT 3. SARA fatores do vírus; inflamatórios; coinfecção 4. Manejo da SARA ◦ ◦ ◦ 5. Baixo volume corrente Evitar sobrecarga volêmica Peep mais altos Manejo da SARA grave ◦ ◦ ◦ ◦ Posição prona ECMO (Oxigenação extra-corpórea) Bloqueio neuromuscular Manobras de recrutamento Napolitano et al; Critically Ill Patients With Influenza A(H1N1)pdm09 Virus Infection in 2014; JAMA April 2, 2014 Volume 311, Number 13 Venkategowda et al; Prone position and pressure control inverse ratio ventilation in H1N1 patients with severe acute respiratory distress syndrome; Indian J Crit Care Med. 2016 Jan; 20(1): 44–49 Ventilação Não Invasiva o 148 UTI´s – 2223 pacientes o VNI em 44,3% Falha em 60,7% o Fatores associados com maior mortalidade 1. 2. 3. 4. Apache IRA Imunodeficiência Falha na VNI Ferri et al; Impact of non-invasive mechanical ventilation (niv) in critical patients with influenza (H1N1) PDM09; Intensive Care Medicine Experimental20153(Suppl 1):A702 Posição Prona para SARA grave • SARA grave PaO2/FiO2 < 150) FiO2 ≥ 60% Peep ≥ 5mmHg Vt = 6ml/kg Mortalidade 28 dias - 16% X 32,8% (HR=0,39) 90 dias - 23,6% X 41% (HR=0,44) Complicações Mais parada cardíaca no grupo supino Guérin, et al; Prone Positioning in Severe Acute Respiratory Distress Syndrome; N Engl J Med 2013;368:2159-68 Posição Prona no H1N1 Opção para terapia de resgate na SARA grave Após 12 horas sem critérios de sucesso 1. PaO2/FiO2 < 150mmHg 2. FiO2 > 60% 3. Peep > 10mmHg Venkategowda et al; Prone position and pressure control inverse ratio ventilation in H1N1 patients with severe acute respiratory distress syndrome; Indian J Crit Care Med. 2016 Jan; 20(1): 44–49 Posição Prona no H1N1 Venkategowda et al; Prone position and pressure control inverse ratio ventilation in H1N1 patients with severe acute respiratory distress syndrome; Indian J Crit Care Med. 2016 Jan; 20(1): 44–49 Venkategowda et al; Prone position and pressure control inverse ratio ventilation in H1N1 patients with severe acute respiratory distress syndrome; Indian J Crit Care Med. 2016 Jan; 20(1): 44–49 Corticóide AUMENTO NA MORTALIDADE Tempo de VM e internamento; Pneumonia hospitalar Zhang et al; Do corticosteroids reduce the mortality of influenza A (H1N1) infection? A meta-analysis; Critical Care (2015) 19:46 Nedel et al; Corticosteroids for severe influenza pneumonia: A critical appraisal; World J Crit Care Med 2016 February 4; 5(1): 89-95 RESUMINDO, NA UTI... 1. Garantir terapia rápida 2. Monitorização 3. Atenção para rápida evolução Não postergar IOT 4. Manejo de SARA 5. Comum necessitar de manejo de resgate ◦ Posição prona; Bloqueio neuromuscular; Recrutamento 6. O que não fazer de rotina ◦ ◦ ◦ Corticóide Dose dobrada Dose extendida* E A BRIGA CONTINUA....... OBRIGADO!