Finitude e melancolia no pensamento de Martin Heidegger Yonetane de Freitas Tsukuda* * é graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, especialista em Filosofia contemporânea pela Universidade Estadual de Feira de Santana e professora de Psicologia da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) de Feira de Santana ________________________________________________________________________________ Outrora tomado por atemporal ou eterno, o ser foi conservado como um axioma pela tradição metafísica, mantendo-se esquecido enquanto questionamento filosófico. Observando este esquecimento na história da ontologia da tradição, Heidegger afirma a necessidade da repetição da questão do ser, desta vez perguntando pelo seu sentido em articulação com o tempo. Em Ser e Tempo (1927), o filósofo principia pela analítica das estruturas fundamentais da existência, a fim de liberar a temporalidade enquanto horizonte de interpretação transcendental do sentido de ser. Neste empreendimento, a finitude humana desvela-se como a verdade do Dasein. A revelação da finitude na manifestação da disposição da angústia diante do nada consiste, portanto, no motor que impulsiona o pensamento de Heidegger em direção à construção da sua ontologia fundamental. Trata-se, pois, de tema central no desenvolvimento da sua filosofia: uma ontologia da finitude em que a sua essência é ser uma possibilidade finita de um ente finito. Deter-se no reconhecimento da certeza de que a finitude é a possibilidade última da existência, segundo Ernildo Stein, confere a esta uma tonalidade melancólica, um lamento que positivamente impele o homem a buscar extrair o sentido que o trouxe a este mundo e ameniza o desconforto de se saber um transeunte originariamente sem propósito, rompendo radicalmente com as concepções da tradição onto-teo-lógica. Nestes desdobramentos do pensamento heideggeriano, temos a instauração de um novo paradigma para a contemporaneidade e, consequentemente, uma crise quanto aos modelos de racionalidade ocidentais herdados de Platão e Aristóteles até Hegel. Pretendemos, com esta comunicação, tematizar a necessária referência à finitude humana e, por conseguinte, analisar a disposição da melancolia como a atmosfera existencial na qual se movimenta o pensamento do filósofo em Ser e Tempo.