Tayse Silva Novais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Monografia
Opções de Tratamento para a Displasia
Fibrosa Óssea Craniofacial
Tayse Silva Novais
Salvador (Bahia), 2012
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária de
Saúde, SIBI - UFBA.
N935 Novais, Tayse Silva
Opções de tratamento para a displasia fibrosa óssea
craniofacial. / Tayse Silva Novais. – Salvador, 2012.
33 f.
Orientador: Prof. Daniel Santos Corrêa Lima
Monografia (Graduação) – Universidade Federal da
Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia, 2012.
1. Displasia. 2. Osteotomia. 3. Tecido Ósseo. 4.
Genética. I. Lima, Daniel Santos Corrêa. II. Universidade
Federal da Bahia. III. Título.
CDU 575
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA
Fundada em 18 de Fevereiro de 1808
Opções de Tratamento para a Displasia
Fibrosa Óssea Craniofacial
Tayse Silva Novais
Professor-orientador: Daniel Santos Corrêa Lima
Monografia de Conclusão do Componente
Curricular MED-B60, e como pré-requisito
obrigatório e parcial para conclusão do curso
médico da Faculdade de Medicina da Bahia
da
Universidade
Federal
da
Bahia,
apresentada ao Colegiado do Curso de
Graduação em Medicina.
Salvador (Bahia), 2012
Monografia: Opções de Tratamento para a Displasia Fibrosa
Óssea Craniofacial. Tayse Silva Novais
Professor-orientador: Daniel Santos Corrêa Lima
Co-orientador: José Válber Lima Meneses
COMISSÃO EXAMINADORA
Membros Titulares:

José Válber Lima Meneses, Professor da FMB- UFBA.

Marcelo Sacramento Cunha, Professor da FMB- UFBA.
TERMO DE
REGISTRO ACADÊMICO:
Monografia aprovada pela Comissão, e julgada
apta à apresentação pública no III Seminário
Estudantil de Pesquisa da Faculdade de
Medicina da Bahia/ UFBA, com posterior
homologação do registro final do conceito
(apto), pela coordenação do Núcleo de
Formação Científica. Chefia do Departamento
de Anestesiologia e Cirurgia da FMB-UFBA.
Salvador (Bahia), 2012
v
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Adilson Leite de Novais e
Marianinha Queiroz da Silva Novais, e às
minhas irmãs Tacyanne Silva Novais e
Tayanne Silva Novais; pelo imenso amor,
por todo apoio, carinho e compreensão que
me dão coragem para seguir adiante e
continuar nessa caminhada.
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida, por me permitir chegar até onde cheguei e
não me deixar desistir nos momentos de dificuldade.
Ao Dr. Daniel Santos Corrêa Lima,
Meu orientador, que apesar de todos os contratempos, se mostrou
sempre solícito e disposto a ajudar. Por todo o seu auxílio e incentivo
durante esse tempo e por ser um exemplo de profissional dedicado não só
com seus orientandos, mas em tudo aquilo que faz.
A Kayo Oliveira Cayres,
Que esteve comigo e compartilhou as angústias e conquistas que
fizeram parte da construção deste trabalho. Foi um ponto de apoio e um
exemplo de parceria. A você, meu agradecimento e a minha esperança de
que essa amizade e parceria durem para além da vida acadêmica.
À toda a minha família, de perto e de longe,
Por todo carinho, incentivo, energia positiva e orações que dirigem a
mim. Em especial, à minha afilhada Júlia Novais Ramos, que trouxe ainda
mais alegrias para a minha vida.
A todos os meus amigos, de dentro e de fora da faculdade,
vii
Por
todo
apoio,
companheirismo
e
todos
os
momentos
compartilhados, que farão parte das minhas lembranças por toda a vida. Em
especial, à Linamar Bastos Pereira, que mesmo distante se faz sempre
presente, e à Jeyde Loíse Silva Queiroz, um grande exemplo de fé e
perseverança, amizades da infância que pretendo levar pela vida inteira.
vii
viii
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar
uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
Carl Jung
vii
ix
RESUMO
NOVAIS, TS. Opções de Tratamento para a Displasia Fibrosa Óssea
Craniofacial. Salvador - Ba: Faculdade de Medicina, Universidade Federal
da Bahia; 2012.
A displasia fibrosa óssea é uma doença benigna caracterizada pela
substituição do tecido ósseo normal por tecido fibroso.
Tem etiologia
desconhecida, mas alguns estudos falam sobre alterações enzimáticas e
metabólicas e mutações genéticas. É classificada em monostótica – quando
atinge um único osso - e poliostótica – quando atinge múltiplos ossos. Há
ainda a Síndrome de McCune Albright, que é a forma poliostótica associada
a alterações hormonais e áreas de hiperpigmentação cutânea. É mais
comum nas duas primeiras décadas de vida e afeta mais as meninas do que
os meninos. Os ossos mais acometidos são os longos, como costelas, tíbia
e fêmur, mas também pode haver acometimento dos ossos craniofaciais
(Displasia Fibrosa Óssea Craniofacial). A doença se manifesta através de
uma tumoração que pode provocar diversos sintomas, a depender do seu
tamanho e da região em que está localizada. O diagnóstico é feito através
da associação dos sintomas com os exames de imagem, mas é necessária
a biópsia para confirmação. O tratamento é controverso, mas o principal é o
manejo cirúrgico, fazendo-se ressecção da lesão e reconstrução da área.
vii
x
ABSTRACT
NOVAIS, TS. Treatment Options for Craniofacial Fibrous Dysplasia of
Bone. Salvador - Ba: Faculdade de Medicina, Universidade Federal da
Bahia; 2012.
The fibrous dysplasia of bone is a benign disease characterized by
replacement of normal bone by fibrous tissue. It is known to have unknown
etiology, but some studies support the existence of enzymatic and metabolic
changes and genetic mutations. It is classified as monostotic - when it hits a
bone - and polyostotic - when it hits multiple bones. There is also the
McCune Albright syndrome, which is the polyostotic form associated with
hormonal changes and areas of skin hyperpigmentation. It is more common
in the first two decades of life and affects more girls than boys. The most
affected bones are the long ones, such as ribs, tibia and femur, but there
may be involvement of the craniofacial bones (Craniofacial Fibrous
Dysplasia). The disease is manifested by a tumor that can cause various
symptoms, depending on their size and region that are located. The
diagnosis is made through the association of symptoms with imaging tests,
but a biopsy is needed for confirmation. The treatment is controversial, but
the principal is the surgical management, performing resection and
reconstruction of the area.
vii
xi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Macroscopia. Displasia fibrosa óssea na região proximal do fêmur ....... 10
Figura 2: Padrão histológico da DFO, mostrando trabéculas curvilíneas com
margens irregulares dentro de um fundo fibroso ...................................................... 11
Figura 3: Padrão histológico da DFO, mostrando a presença de fibras colágenas 11
Figura 4: A. Visão frontal de paciente com deformidade de mandíbula decorrente
de DFO. B. Visão submentoniana ............................................................................. 14
Figura 5: Paciente com massa orbitária decorrente de DFO. A. Pré- operatório. B.
Pós- operatório ........................................................................................................... 15
Figura 6: Aspecto radiológico do acometimento mandibular pela DFO .................. 18
Figura 7: Aspecto tomográfico com padrão misto. Comprometimento mandibular à
direita ..........................................................................................................................18
Figura 8: Aspecto tomográfico com padrão esclerótico, evidenciando o
comprometimento dos seios da face......................................................................... 19
Figura 9: Divisão do crânio em zonas, segundo Chen, para abordagem cirúrgica. 23
vii
xii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ..........................................................................................................V
AGRADECIMENTOS ..............................................................................................VI
EPÍGRAFE ............................................................................................................. VIII
RESUMO ...................................................................................................................IX
ABSTRACT................................................................................................................X
ÍNDICE DE FIGURAS..............................................................................................XI
SUMÁRIO ................................................................................................................ XII
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
2. OBJETIVO ............................................................................................................. 4
3. MÉTODO ................................................................................................................ 6
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 8
4.1. Histórico e conceito ........................................................................................... 9
4.2. Classificação.................................................................................................... 12
4.3. Características clínicas e epidemiológicas ..................................................... 13
vii
xiii
4.4. Diagnóstico ...................................................................................................... 16
4.5. Tratamento ...................................................................................................... 20
5. CONCLUSÃO...................................................................................................... 26
6. REFERÊNCIAS................................................................................................... 28
Introdução
2
Introdução
1. INTRODUÇÃO
A displasia fibrosa óssea (DFO) se caracteriza como uma doença de
natureza benigna bem definida, que se manifesta através de um crescimento
tumoral não neoplásico de evolução lenta .1, 2 Essa tumoração ocorre porque
há uma desorganização do trabeculado ósseo associada a uma interrupção
na maturação do tecido, além de uma substituição do tecido ósseo normal
por tecido fibroso, podendo ser considerado como um hamartoma.2-4
A
etiologia ainda é desconhecida, mas há estudos que relatam sobre a
ocorrência de alterações enzimáticas, metabólicas e mutações genéticas. A
DFO pode ser classificada em monostótica – quando afeta um único osso –
ou poliostótica – quando afeta múltiplos ossos, e esta última, quando
associada a áreas de pigmentação cutânea e hiperfunção de glândulas
endócrinas, recebe o nome de Síndrome de McCune-Albright. 5-7
A DFO é conhecida como uma doença da infância e da adolescência,
mas há relatos de casos que se manifestaram na fase adulta. Geralmente
ocorre nas duas primeiras décadas de vida e há uma tendência de afetar
mais o sexo feminino do que o masculino.2,
úmero, fêmur e
tíbia), costelas
e
6, 8
Os ossos longos (como
vértebras, são
os
sítios
mais
frequentemente afetados, mas pode também haver acometimento da região
craniofacial, sobretudo da maxila e da mandíbula.
4, 9, 10
A apresentação
clínica varia de acordo com a extensão e características da lesão e com o
local acometido, podendo variar de um pequeno inchaço local indolor, a
grandes tumorações, a depender do tempo de evolução. A displasia fibrosa
Tayse Silva Novais
3
Introdução
óssea craniofacial (DFOCF), em especial, pode se apresentar com grandes
deformidades e causar complicações importantes como alterações visuais e
auditivas devido à possibilidade de a lesão acometer estruturas nobres. 4, 9-12
O diagnóstico é feito com a associação dos sinais clínicos com o
quadro radiológico e exames laboratoriais. Se ainda assim houver dúvidas, a
angiografia cerebral ou a tomografia computadorizada (TC) pode ajudar no
diagnóstico diferencial com outras patologias. A displasia fibrosa deve fazer
parte do diagnóstico diferencial das lesões tumorais craniofaciais como
doença de Paget, fibroma ossificante, osteoma, osteocondroma, granuloma
eosinofílico, meningeoma, entre outras. 2, 6, 13
O tratamento para a displasia fibrosa ainda é controverso, mas o que
predomina é o tratamento cirúrgico, através da ressecção da lesão, seja de
forma conservadora ou radical. Recentemente foi relatada a utilização de
bisfosfonatos para o tratamento clínico da DFO, com o objetivo de retardar a
progressão da lesão.2, 14, 15 Em relação à DFOCF, que pode causar grandes
deformidades estéticas e funcionais devido à proximidade da lesão com
estruturas importantes, o tratamento deve ser programado de forma precisa,
considerando todas as características da lesão e do próprio paciente,
evitando a ocorrência de complicações e recidivas da doença. 2, 10, 14, 16
Tayse Silva Novais
Objetivo
5
Objetivo
2. OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão da literatura
visando discutir as características clínicas e as alternativas disponíveis para
o tratamento da displasia fibrosa óssea craniofacial.
Tayse Silva Novais
Método
7
Método
3. MÉTODO
O trabalho foi realizado sob o formato de uma revisão bibliográfica a
respeito do tema “Opções de Tratamento para a Displasia Fibrosa Óssea
Craniofacial”. Os artigos foram encontrados nas principais fontes de
pesquisa bibliográfica médica, como o PubMed, Medline, Scielo e UptoDate,
e selecionados conforme sua pertinência ao tema. A busca foi realizada
através do uso de palavras-chave, tais como: “displasia fibrosa óssea”,
“tratamento”, “craniofacial”, “craniofacial fibrous displasia”, “management”,
sendo incluídos somente aqueles artigos que abordassem os aspectos
concernentes
ao
tratamento
da
displasia fibrosa
óssea da
região
craniofacial.
Tayse Silva Novais
Resultados e discussão
9
Resultados e discussão
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Histórico e conceito
A displasia fibrosa óssea foi relatada pela primeira vez em 1891, por
von Recklinghausen, quando ele descreveu pacientes com uma condição
patológica do osso caracterizada por deformidades e alterações fibróticas,
às quais chamou osteíte fibrosa generalisata. O termo displasia fibrosa foi
introduzido pela primeira vez em 1938, por Lichtenstein e Jaffe. 12, 17-21
É um distúrbio do desenvolvimento do osso, de natureza benigna e
progressiva, não neoplásico, que se manifesta como uma tumoração de
crescimento lento, no qual há uma substituição do tecido esponjoso da
medula óssea normal por uma proliferação fibroblástica estruturalmente
desorganizada. As lesões são formadas por metaplasia óssea e contém
trabéculas de osso primitivo, parcialmente calcificadas. Os componentes
ósseos normais estão todos presentes na lesão, mas não ocorre o processo
de maturação dos mesmos.2,
4, 5, 9-11, 19, 22
Ao exame macroscópico a lesão
se apresenta bem circunscrita e de coloração pardo-esbranquiçada, tem
grande variação de tamanho, sendo que as lesões maiores podem distorcer
o osso e provocar fraturas patológicas. (Figura 1).
Tayse Silva Novais
10
Resultados e discussão
FONTE: Kransdorf MJ, 1990.
Figura 1. Macroscopia. Displasia fibrosa óssea na região
proximal do fêmur
Histologicamente a DFO é composta por trabéculas ósseas de
formato curvilíneo, com bordas irregulares, imersas em um fundo de tecido.
Podem aparecer áreas de calcificação central e a quantidade de células e de
colágeno é variável. Aparentemente, o padrão histológico não muda com o
tempo e não difere em crianças e adultos. 4, 12, 17, 18 (Figuras 2 e 3).
Tayse Silva Novais
11
Resultados e discussão
FONTE: Rahma AMA, 2009.
Figura 2. Padrão histológico da DFO, mostrando trabéculas curvilíneas
com margens irregulares dent ro de um fundo fibroso
FONTE: Kruse A, 2009.
Figura 3. Padrão histológico da DFO, mostrando a presença de fibras
colágenas
Tayse Silva Novais
12
Resultados e discussão
A etiologia da doença ainda é controversa, mas estudos recentes
sugerem associação com mutação pós-zigótica do gene GNAS que codifica
a subunidade estimulatória da proteína G, resulta ndo em ativação
constitutiva da adenilato ciclase, isso leva a uma superprodução de matriz
óssea fibrosa desorganizada no osso, e superprodução de hormônios nas
células endócrinas. Outras teorias falam em anomalia congênita na
formação óssea mesenquimal, alterações no metabolismo do cálcio e do
fósforo e hiperplasia osteoblástica.2, 5, 7, 11, 12, 15, 17, 23
4.2. Classificação
A displasia fibrosa óssea é classificada em três tipos:
 Displasia fibrosa monostótica: quando as lesões são confinadas a um
único osso. Mas há quem considere como monostótica a lesão que
acomete apenas um foco. Como por exemplo, a região craniofacial,
apesar de poder haver envolvimento de vários ossos, há apenas um
foco afetado. É a forma mais frequente, representando cerca de 70%
dos casos.12, 17, 24
 Displasia fibrosa poliostótica: quando as lesões acometem mais de
um osso. É mais rara, representa cerca de 30% dos casos de DFO.12,
17, 19, 20
 A forma poliostótica, quando associada a áreas de hiperpigmentação
cutânea, é denominada Síndrome de Jaffe; se a isso se soma
hiperfunção de glândulas endócrinas, denomina -se Síndrome de
Tayse Silva Novais
13
Resultados e discussão
McCune- Albright, que representa cerca de 3% dos casos, é mais
comum no sexo feminino e se apresenta principalmente através de
puberdade precoce.2, 6, 16, 25
4.3. Características clínicas e epidemiológicas
A DFO, em geral, é caracterizada por sua evolução lenta e
progressiva, e o quadro clínico depende da extensão da lesão e da possível
compressão de estruturas adjacentes. Na região craniofacial, a doença se
apresenta mais comumente através de uma assimetria facial, sendo comum
também a presença de massa orbital ou facial, assim como má oclusão
dentária, exoftalmia, restrição de movimentos oculares e obstrução nasal.
(Figuras 4 e 5). Tende a crescer provocando desfiguração, dor, parestesia e
tem potencial para invadir estruturas vitais, tais como o nervo óptico, nervo
facial e o nervo olfatório, podendo provocar alterações visuais e na função
olfativa, como hiposmia ou anosmia.
6, 15, 17, 19, 26
Quando afeta o osso
temporal, o principal sintoma é a perda auditiva do tipo condutiva, que é
causada pela oclusão da trompa de Eustáquio, do conduto auditivo externo e
erosão ou fixação da cadeia ossicular. 5, 13, 26, 27 Outros sintomas que podem
ser referidos pelos pacientes são latejamento ou desconforto, calor no local
da lesão, tontura e cefaléia que é um dos sintomas mais comuns. Essas
manifestações
neurológicas se devem à compressão de estruturas
adjacentes pelo tumor e variam de acordo com a região acometida, podendo
haver também comprometimento do sistema nervoso central.
2,
5,
Tayse Silva Novais
7
14
Resultados e discussão
Barrionuevo e col. classificaram a displasia, de acordo com sua evolução,
em três etapas: a primeira, latente ou assintomática; a segunda, fase
sintomática; e a terceira, fase associada a complicações. Sendo que a
maioria dos pacientes é diagnosticada na terceira etapa, quando já há
comprometimento de outras estruturas. 2, 26
FONTE: Kim DD, 2012.
Figura 4. A. Visão front al de paciente com deformidade de mandíbula decorrente de
DFO. B. Visão submentoniana
Tayse Silva Novais
15
Resultados e discussão
FONTE: Jackson IT, 1982.
Figura 5. Paciente com massa orbitária decorrente de DFO. A. Pré- operatório. B.
Pós- operatório
O sexo feminino é mais afetado do que o masculino e existe uma
predileção pela etnia branca. A doença é mais prevalente na primeira e
segunda década de vida, por isso, é conhecida como uma doença da
infância e da adolescência.
2, 6, 7, 28
A displasia fibrosa representa cerca de
2% a 3% de todos os tumores ósseos e aproximadamente 7% dos tumores
ósseos benignos. 2, 10, 12, 29 A forma monostótica, que frequentemente cessa
durante a puberdade, é a mais prevalente, representando cerca de 70% dos
casos de DFO.
9, 16, 17
O envolvimento craniofacial ocorre em 50% dos
pacientes que tem a forma poliostótica e cerca de 27% dos pacientes com a
forma monostótica da doença, sendo que, nessa região, os ossos mais
frequentemente acometidos são maxila e mandíbula.
2, 9, 10, 17
A ocorrência
Tayse Silva Novais
16
Resultados e discussão
de malignização é rara, cerca de 0,5% para a forma monostótica e 4% para
a síndrome de McCune-Albright (forma poliostótica associada a outras
alterações). Os sinais clínicos e sintomas de malignização são dor, inchaço
rápido e elevação da fosfatase alcalina; e o intervalo médio entre o
diagnóstico de displasia fibrosa e a malignização é de 13 anos. Numa
revisão realizada em 1993, na Clínica Mayo em Rochester, Minnesota, com
1122 casos, 28 apresentaram malignização, sendo que o tipo histológico
mais
comum
foi
o
osteossarcoma,
seguido
do
fibrossarcoma,
condrossarcoma e fibrohistiocitoma maligno . 7, 10, 12, 17, 18
4.4. Diagnóstico
O diagnóstico da displasia fibrosa óssea por vezes é difícil de ser
determinado devido à grande quantidade de outras doenças que se
assemelham a essa. A definição é obtida com a associação dos critérios
clínicos, radiológicos e histológicos.
2, 6, 10
Com a radiografia convencional é
possível detectar as alterações decorrentes da doença na grande maioria
dos casos, mas é necessária a realização da tomografia computadorizada
para avaliar se houve acometimento de estruturas adjacentes, como
estreitamento do canal auditivo externo, alteração nas estruturas do ouvido
médio e extensão para o nervo facial, entre outras, além de ser essencial
também para o planejamento do tratamento. A confirmação é feita através
da biópsia do osso afetado. A cintilografia com tecnécio também pode ser
realizada para eliminar uma possível forma poliostótica.2,
25, 26, 28
Tayse Silva Novais
As
17
Resultados e discussão
características radiológicas da DFO variam de acordo com o grau de
desenvolvimento da doença e com a quantidade de matriz óssea que
compõe a lesão. (Figura 6). Numa fase inicial a lesão aparece radiolúcida e
bem definida. Em fases posteriores, transforma-se em um borrado e aparece
como uma mancha radiopaca de limites mal definidos. As imagens
radiológicas podem se apresentar com três padrões diferentes: o pagetóide
(56%), o cístico (21%) e o esclerótico (23%). A forma pagetóide aparece
alternando áreas radiodensas e transparentes; a forma esclerótica envolve
preferencialmente os ossos da face e da base do crânio e se apresenta de
forma homogeneamente densa; e a forma cística aparece como área
radiolúcida esférica ou ovóide, circulada por limites densos .5,
26, 30
A
tomografia também pode apresentar três padrões distintos: um padrão
cístico, onde se encontram áreas císticas ovais ou redondas com borda
esclerótica (14%); um padrão esclerótico, onde são encontradas opacidades
em vidro fosco e expansão óssea (29%); e um padrão misto, o mais comum
(57%), onde se encontram áreas escleróticas com áreas císticas.5, 9, 10, 26, 30
(Figuras 7 e 8).
Tayse Silva Novais
18
Resultados e discussão
FONTE: Kim DD, 2012.
Figura 6. Aspecto radiológico do acometimento mandibular pela DFO
FONTE: Botelho RA, 2006.
Figura 7. Aspecto tomográfico com padrão misto.
Comprometimento mandibular à direit a
Tayse Silva Novais
19
Resultados e discussão
FONTE: Botelho RA, 2006.
Figura 8. Aspecto tomográfico com padrão esclerótico,
evidenciando o comprometimento dos seios da face
Segundo Antunes et al.6 caso seja realizada biópsia da lesão por
várias vezes durantes os anos de evolução, o exame jamais mostrará
maturação do tecido biopsiado, fato este que confirma o diagnóstico de
displasia fibrosa óssea e a difere de outras doenças com as quais possa ser
confundida. A DFO deve entrar no diagnóstico diferencial de todas as lesões
tumorais ósseas craniofaciais benignas e malignas. Entre as lesões
benignas estão: fibroma não-ossificante, osteoma, doença de Paget,
granuloma eosinofílico, colesteatoma, osteocondroma, fibroma ossificante,
granuloma
reparativo
de
hiperparatireoidismo, entre
células
gigantes,
outras. Das
lesões
querubismo,
malignas
exostose,
cita-se
neoplasias sarcomatosas e as lesões osteoblásticas metastáticas.2, 5, 8, 13
Tayse Silva Novais
as
20
Resultados e discussão
4.5. Tratamento
O tratamento da displasia fibrosa óssea é ainda bastante controverso.
Alguns autores preconizam o tratamento clínico, e para os casos
assintomáticos, acompanhamento ambulatorial. Outros consideram como
viável apenas o tratamento cirúrgico mesmo para os casos assintomáticos,
como uma forma de profilaxia para as complicações. Dentro do tratamento
cirúrgico, são várias as opções de abordagem, o que vai depender da
localização do tumor, da extensão do distúrbio, da experiência do cirurgião
nesse tipo de cirurgia, da idade e da preferência do paciente, pois alguns
deles podem não desejar o tratamento cirúrgico. O manejo da displasia
fibrosa óssea craniofacial pode ser um desafio para o cirurgião craniofacial,
pois apesar de não ser uma doença tão comum, o envolvimento dos ossos
do crânio e da face pode causar deformidades com graves consequências, e
a proximidade com estruturas neurovasculares importantes e com a base do
crânio, torna a ressecção perigosa.2, 6, 10, 14, 25, 26, 31 O que é consenso entre
os autores, é a impossibilidade de usar a radioterapia como tratamento. A
irradiação já foi utilizada antigamente como terapia, mas foi abandonada
devido à resistência do tumor a essa técnica e ao risco de transformação
maligna da DFO em lesões sarcomatosas.1, 16, 27, 32, 33
Estudos recentes tem relatado o tratamento clínico com o uso de
bisfosfonatos, que inibem a reabsorção óssea dos osteoclastos, com isso,
há uma melhora da dor e dos sintomas inflamatórios, estabilização e
diminuição
da
destruição
óssea,
aumento
da
densidade
óssea,
Tayse Silva Novais
21
Resultados e discussão
recalcificação osteolítica em metade dos pacientes, melhora dos aspectos
clínicos e radiológicos da doença. Entretanto, a experiencia com esse tipo de
tratamento é limitada a relato de casos e séries de casos, ainda não
existindo estudos randomizados publicados sobre o tema.15,
16
Portanto, o
tratamento predominante e definitivo ainda é o cirúrgico. A cirurgia está
indicada sempre que a lesão causa grandes deformidades faciais ou
compromete estruturas importantes, como nos casos de estreitamento do
canal auditivo com infecção recorrente e colesteatoma, compressão do
nervo óptico e nervos cranianos. Nos casos em que há deformidade
progressiva, dor intensa ou sinais de comprometimento de estruturas
nervosas, deve-se dar preferência para a ressecção completa da lesão. Em
outros casos, quando a lesão atinge ossos da base do crânio ou apresenta
sangramento
transoperatório
importante, a
ressecção
completa
fica
impossibilitada e o paciente deve ser acompanhado ambulatorialmente.
Considerando também a natureza benigna da lesão, deve-se optar por uma
ressecção mais conservadora, com o objetivo primário de preservar a função
existente, prevenir as complicações e promover a melhora estética.2, 19, 26, 32
Murray et al. avaliaram o emprego de tecnologia de imagem avançada
no planejamento pré-operatório para ressecção cirúrgica da lesão. Na sua
técnica, foi utilizada a tomografia computadorizada em 3D para reconstrução
craniofacial, simulação virtual da excisão da tumoração e produção de um
modelo físico facial de gesso, a partir do qual é construído um molde com
uma malha reabsorvível constituída de ácido poliláctico-co-glicólico (PLGA).
Nesse molde será implantado o enxerto ósseo que é colocado no lugar onde
Tayse Silva Novais
22
Resultados e discussão
foi retirada a lesão. Essa técnica, evita a necessidade de exposição do lado
normal contralateral à lesão, e mesmo assim, possibilita uma reconstrução
simétrica mais próxima possível do ideal. Apesar de aumentar o tempo de
planejamento pré-operatório, a
utilização de
tecnologia de imagem
avançada, pode diminuir o tempo operatório e garantir uma maior segurança
na ressecção da lesão.14
Chen, em 1990, propôs uma classificação dos ossos dos crânio em
quatro zonas principais para nortear a abordagem cirúrgica. (Figura 9).
Essas zonas são:
 Zona 1: é a região facial acima do osso alveolar da maxila, incluindo o
osso frontal, o complexo zigomático-maxila e os ossos da parede
orbital. Quando essa região é acometida, aparecem problemas
visuais por deslocamento do globo ocular ou compressão do nervo
óptico. As técnicas modernas de cirurgia contribuem bastante para a
ressecção segura e reconstrução dessa área com bons resultados
funcionais e estéticos. Nessa região, deve ser feita a excisão em
bloco do osso afetado utilizando uma microserra ou osteótomos. Nas
áreas próximas a estruturas vitais, deve ser evitada a vibração e o
aumento
da
temperatura.
As
áreas
ressecadas
podem
ser
reconstruídas com enxertos de ossos da calota craniana, das costelas
ou do osso ilíaco.
 Zona 2: é a região com cabelos que recobre o crânio. No geral, lesões
nessa área causam pequena deformidade e são bem camufladas,
raramente acometendo estruturas vitais. O tratamento pode ser
Tayse Silva Novais
23
Resultados e discussão
acompanhamento ou cirurgia, a depender das característica do
paciente e da lesão.
 Zona 3: é a base central do crânio, juntamente com o osso petroso,
mastóide e região pterigóide. É onde se encontram nervos cranianos
e vasos vitais. Ressecções nessas áreas costumam ser perigosas,
por isso, quando a lesão é assintomática, ela é apenas observada.

Zona 4: áreas das raízes dentárias da maxila e mandíbula. A
ressecção dessas áreas, requer posterior uso de próteses dentárias,
por isso, é preferível uma raspagem conservadora ou remodelagem
com osteótomo. Em alguns casos, quando há protusão da mandíbula,
é necessário a intervenção da cirurgia ortognática para corrigir o
realinhamento do plano de oclusão dentária ou fazer correções na
mandíbula.10
Figura 9.
Divisão do
crânio em
zonas, segundo
Chen, para
abordagem
cirúrgica
Tayse Silva Novais
24
Resultados e discussão
Kim et al. relataram quatro opções de tratamento: (1) observação, (2)
tratamento medicamentoso, (3) remodelação cirúrgica e (4) ressecção
radical com reconstrução. A conduta observacional é recomendada para
pacientes que apresentam pequenas lesões assintomáticas que não causam
grandes deformidades estéticas. O tratamento medicamentoso ainda é
bastante questionado. Como já mencionado anteriormente, tem-se tentado
um controle da doença com o uso de bisfosfonatos, mas sua eficácia ainda
não foi efetivamente comprovada. O tratamento cirúgico ainda é o mais
realizado nos casos de DFOCF, podendo ser feita uma ressecção
conservadora - realizando apenas uma remodelagem da área lesionada - ou
uma ressecção radical, retirando -se toda a lesão, seguida de reconstrução
da área com exertos ósseos. Deve-se ter em mente que o tratamento
cirúrgico, seja conservador ou radical, não está livre de complicações e até
mesmo posterior recidiva da doença.27
Yavuzer et al. publicaram um relato de caso em que o tratamento
utilizado foi a autoclavagem do osso displásico. A reconstrução com
enxertos autógenos pode ser limitada, visto que quando a lesão é extensa, a
retirada do enxerto prejudicará a área doadora; a dificuldade de modelagem
desse enxerto para determinadas áreas também apresenta uma limitação
dessa técnica. Da mesma forma, a reconstrução com materiais aloplásticos
também pode ser limitada devido à mesma dificuldade de modelagem em
certas áreas. Sendo assim, a autoclavagem aparece como uma melhor
opção de tratamento para os casos que necessitam de reconstrução em
grandes áreas. O processo de autoclavagem destrói as células do osso
Tayse Silva Novais
25
Resultados e discussão
displásico, mas, até certo ponto, conserva a estrutura não celular. Com isso,
após a implantação do osso autoclavado, ocorre uma migração de
osteoblastos
dos
ossos
saudáveis
adjacentes
à
lesão,
além
de
revascularização e reabsorção de componentes mortos, promovendo assim
a formação de osso novo. No entanto, é importante acrescentar que pode
haver uma diminuição da força e da rigidez do osso após o processo de
autoclavagem, isso está relacionado com o tempo de duração e com a
temperatura do autoclave. Quanto aos níveis de infecção, não houve
direfença entre os ossos autoclavados e não-autoclavados.34
O tratamento da DFOCF deve ser feito de forma individualizada, levandose em consideração as características do paciente, como idade, e da própria
lesão, como crescimento, envolvimento de outras estruturas, se provoca
deformidade estética. Quando o osso ainda tem crescimento ativo, o ideal é
esperar que esse crescimento cesse para que a cirurgia seja realizada, pois
a ocorrência de recidiva é maior nessas situações. Na maioria dos casos, é
realizada a ressecção radical da lesão. As ressecções limitadas são
indicadas somente para aqueles pacientes nos quais a lesão envolve
alguma estrutura importante e torna inviável a ressecção completa. É
importante lembrar também que todo o processo de tratamento deve ser
bem esclarecido para o paciente e a família, explicando o porquê de se optar
pelo tratamento conservador ou radical, quando for o caso, e expondo as
possibilidades de complicações e recidiva.7, 32, 35
Tayse Silva Novais
26
Resultados e discussão
Tayse Silva Novais
Conclusão
27
Conclusão
5. CONCLUSÃO
 A displasia fibrosa óssea, apesar de sua natureza benigna e
crescimento lento, pode apresentar uma evolução agressiva de
acordo com o local anatômico em que se instala.
 Quando acomete a região craniofacial, pode causar grandes
deformidades estéticas e funcionais.
 O diagnóstico é realizado associando-se o quadro clínico, exames de
imagem e biópsia da lesão, e é importante que seja feito com
exatidão para que as complicações sejam evitadas.
 O tratamento preconizado pela maioria dos médicos é o cirúrgico.
Deve ser planejado com precisão para que se tenha a melhor
abordagem e que não ocorra recidiva da doença no futuro.
 As lesões que envolvem estruturas nobres como nervos e vasos,
algumas vezes impossibilitam a ressecção completa da lesão, nesses
casos é feita apenas uma ressecção parcial, ou o paciente é
acompanhado ambulatorialmente.
 O tratamento clínico com bisfosfonatos ainda não tem sua eficácia
comprovada por estudos com nível adequado de evidência científica.
 É importante que o tratamento para a DFOCF seja planejado
individualmente, para que se consiga o melhor resultado possível,
tanto funcional quanto estético, em todos os pacientes.
Tayse Silva Novais
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