CONHECENDO O VIVA MULHER Este manual encontra-se em fase de revisão. Autorizamos sua fotocópia apenas para utilização durante os treinamentos do Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama. Viva Mulher Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama 1 2001 – Ministério da Saúde Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrônico, e mecânico, fotográfico e gravação ou qualquer outro, sem a permissão expressa do Instituto Nacional de Câncer/MS (Lei n.º 5.988, de 14.12.73) Ministério da Saúde José Serra Secretaria de Assistência à Saúde Renilson Rehem de Souza Instituto Nacional de Câncer Jacob Kligerman Tiragem desta edição: 30.000 exemplares Criação, redação e distribuição: Instituto Nacional de Câncer (INCA) Coordenação de Prevenção e Vigilância – Conprev Rua dos Inválidos, 212 – 2º , 3º e 4º andares 20231 – 020 – Rio de Janeiro – RJ Tel.: (0XX21) 507.8485 – ramal 2047 Fax: (0XX21) 221.7006 e-mail: [email protected] Ficha Catalográfica B823c Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer - INCA. Conhecendo o Viva Mulher; Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama. Rio de Janeiro:INCA, 2001 23 p.il. Bibliografia ISBN 85-7318-065-x 1.NEOPLASIAS DO COLO DO ÚTERO. 2.NEPLASIAS MAMÁRIAS. I,Título CDD 616.994 2 SUMÁRIO Apresentação 4 Fatores determinantes para a Política de Controle do Câncer no Brasil 5 O Programa Viva Mulher 10 Diretrizes e estratégias do Viva Mulher Da premissa para a estratégia 12 O papel do Ministério da Saúde 14 O papel das Secretarias de Estado da Saúde 15 O papel das Secretarias Municipais de Saúde 16 Bibliografia 19 3 APRESENTAÇÃO O controle do câncer em nosso país representa, atualmente, um dos grandes desafios que a saúde pública enfrenta. Isto porque, além de ser a segunda causa de morte por doença, ele demanda a realização de ações de variados graus de complexidade, acopladas à necessidade de recursos humanos oriundos de diversas áreas do conhecimento. A estimativa do Ministério da Saúde, elaborada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), para o ano 2001, aponta para 117.550 óbitos e para 305.330 casos novos (incidência) de câncer. Dentre eles, o câncer de mama ocupa, na população feminina, o primeiro lugar em incidência (31.590 casos) e mortalidade (8.670 mortes) e o câncer do colo do útero, o terceiro lugar em incidência (16.270 casos) e o quarto em mortalidade (3.725 mortes). O VIVA MULHER – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama foi criado para atender a essa expectativa. Esta publicação, dirigida aos profissionais de saúde no âmbito municipal, faz parte de um conjunto de textos elaborados para atender à estratégia de capacitação e atualização de recursos humanos. Isto porque o profissional de saúde engajado nas ações de prevenção e detecção desses cânceres certamente, no seu dia-a-dia, atuará baseado na convicção de que a ação individual redundará em resultados nacionais efetivos para o controle da doença. JACOB KLIGERMAN Diretor Geral do Instituto Nacional de Câncer Ministério da Saúde 4 FATORES DETERMINANTES PARA A POLÍTICA DE CONTROLE DO CÂNCER NO BRASIL Câncer de Mama É a maior causa de óbitos por câncer na população feminina brasileira, principalmente na faixa etária de 40 a 69 anos e sua incidência varia em função de fatores como raça, classe social, estado conjugal e local de residência (OMS, 1998, Ministério da Saúde, 2000). Aproximadamente 80% dos tumores de mama são descobertos pela própria mulher, ao palpar acidentalmente suas mamas (Ministério da Saúde, 1996). Sabese que um dos fatores que dificultam o tratamento e pioram a qualidade de vida das mulheres com câncer de mama é o avançado estágio da doença no momento em que estas são submetidas ao primeiro tratamento. Em geral, mais de 50% dos casos são diagnosticados em estágios avançados (III e IV), gerando tratamentos muitas vezes mutilantes, causando sofrimento à mulher e onerando os cofres públicos. No Brasil, nas últimas duas décadas, a taxa bruta de mortalidade por câncer de mama apresentou uma elevação de 68%, passando de 5,77 em 1979, para 9,70 mortes por 100.000 mulheres em 1998. É a partir da idade de 50 anos que a mortalidade por câncer de mama vem crescendo no país, sendo que em faixas mais precoces a mortalidade permanece estável nos últimos 20 anos. São fatores considerados como de alto risco para o aparecimento da doença: a história familiar de câncer (mãe e irmã) e a história pessoal pregressa de câncer de mama. A não identificação de mulheres com estes riscos, associada ao diagnóstico tardio da doença, constitui-se em problema importante no controle do câncer de mama no Brasil, que aponta para a necessidade de programas que estimulem o diagnóstico precoce da doença. Por outro lado, a desigualdade de acesso à oferta de tecnologia na atenção ao câncer de mama e de seu diagnóstico precoce mostra a necessidade do conhecimento e redimensionamento da oferta real de mamógrafos, bem como de sua capacidade de realização de exames, o mesmo podendo ser dito em relação à rede de diagnóstico, tratamento e reabilitação. O cadastramento dos profissionais envolvidos na rede, sua capacitação bem como a normalização e uniformização de procedimentos, com seu controle de qualidade, constituem fatores prioritários para a incorporação da atenção ao câncer de mama, envolvendo seu diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação, nas consultas de rotina. Em termos de sua prevenção, apesar de não existirem evidências conclusivas de 5 que um alto teor de gordura na alimentação cause câncer de mama, uma dieta saudável que inclua quantidades adequadas de proteínas, carboidratos e gorduras; muitas frutas, verduras, legumes e grãos integrais; assim como pouco sal e açúcar, tem demonstrado reduzir o risco não só desse tipo de câncer, como também de outros tipos, além de doenças cardiovasculares e outras doenças crônico-degenerativas (World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research, 1997). De modo semelhante, a atividade física regular e a manutenção do Índice de Massa Corporal – IMC abaixo de 30, preferencialmente entre 18,5 e 25, constituem importantes fatores de proteção. No Brasil, identifica-se a necessidade de estimular estilos de vida mais saudáveis, pois estes estão sendo cada vez menos adotados pela população. Estes aspectos também precisam estar articulados e incorporados nas consultas de rotina e nas campanhas públicas para controle da doença. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o estímulo de hábitos alimentares saudáveis (baixo teor de gordura, sal e açúcar; aumento de grãos integrais, tubérculos, vegetais e frutas) como uma medida importante de prevenção primária (Ministério da Saúde, 1997). Como ação de prevenção secundária, ou seja, de detecção precoce do câncer de mama, a OMS menciona três estratégias, complementares entre si, quais sejam: auto-exame das mamas (AEM); exame clínico das mamas (ECM); e mamografia. O auto-exame das mamas (AEM) é a inspeção visual e a palpação sistemática de cada mama pela própria mulher, mensalmente, após a menstruação, geralmente do 7º ao 10º dia. Consiste na palpação detalhada da mama, permitindo o encontro de tumores maiores do que 1 cm, quando superficiais. O exame clínico das mamas (ECM) é o exame realizado pelo profissional de saúde (médico ou enfermeiro) rotineiramente durante sua consulta. Ele evidencia alterações macroscópicas identificáveis na inspeção, palpação das mamas e regiões axilares e supraclaviculares. Os dois procedimentos acima aumentam a detecção do câncer em estágios iniciais, possibilitando a descoberta de pequenos tumores (de 1 a 3 cm), de forma que o tratamento da doença possa ser feito em fase inicial (Ministério da Saúde, 1996). A utilização desses dois exames educam a mulher para o cuidado com o seu corpo e estimulam os profissionais de saúde para o diagnóstico da doença. 6 A mamografia é um exame radiológico realizado em aparelho de alta resolução, o mamógrafo, onde por meio dos raios X se podem visualizar imagens tumorais, calcificações etc. A mamografia tem suas indicações listadas a seguir. a) Para complementação do diagnóstico da doença, detectada pelo médico, por meio do exame clínico das mamas e, muitas vezes, pela mulher, por meio do auto-exame das mamas. b) Para acompanhamento rotineiro de mulheres consideradas com situação de alto risco, ou seja, que já tiveram lesões pré-neoplásicas ou neoplásicas ou com história familiar da doença em ascendentes e parentes diretos. As respectivas indicações do período para realização da mamografia são: mulheres com lesões previamente diagnosticadas como hiperplasia atípica ou neoplasia lobular in situ, ou câncer de mama prévio em qualquer faixa etária deverão fazer o exame anual; mulheres com 40 anos ou mais de idade, com história familiar de câncer de mama na mãe ou irmã, ocorridos na pré-menopausa deverão fazer o exame anual. c) Para diagnóstico precoce de tumores ainda não detectáveis pelo AEM e o ECM. Para tal, mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos de idade passariam a realizar a cada 2 anos a mamografia com vistas a descobrir o que aqueles procedimentos não conseguem. A essa mamografia realizada para procurar lesões suspeitas de malignidade em mulher assintomática, se denomina mamografia de rastreamento (screening) do câncer de mama (Bassett, Jackson, 2000). Câncer do colo do útero A evolução do câncer do colo do útero, na maioria dos casos, se dá de forma lenta passando por fases pré-clínicas detectáveis e curáveis. Dentre todos os tipos de câncer, é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, chegando a perto de 100%, quando diagnosticado precocemente. Seu pico de incidência situa-se entre os 40 e 60 anos de idade e apenas uma pequena porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos. São considerados fatores de risco de câncer do colo do útero a multiplicidade de parceiros e história de infecções sexualmente transmitidas (da mulher e de seu parceiro); a idade precoce na primeira relação sexual, a multiparidade, a infecção pelo HIV/SIDA e o tabagismo. Além desses fatores, estudos epidemiológicos sugerem outros, cujo papel 7 ainda não é conclusivo, tais como alimentação pobre em alguns micronutrientes, principalmente vitamina C, beta caroteno e folato, e o uso de anticoncepcionais (Pontén et al, 1995). Atualmente, considera-se que a persistência da infecção pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV) representa o principal fator de risco de desenvolvimento do câncer do colo do útero. Estudos que utilizam métodos de hibridização têm demonstrado que mais de 90% dos casos podem ser atribuídos a alguns tipos de HPV (Muñoz, 1997; Walboomers et al, 1999), sendo o HPV 16 o responsável pela maior proporção de casos (50%), seguido do HPV 18 ( 12%), HPV 45 (8%) e o HPV 31(5%). Sugere-se que o modelo de associação entre HPV e câncer do colo do útero assemelha-se ao existente entre o tabagismo e o câncer de pulmão (Sanjosé, 1997). Há circunstâncias que favorecem a proliferação viral ou causam uma diminuição da imunidade local, tais como uso crônico de corticosteróides, Diabetes Mellitus, SIDA e Lupus Eritematoso Sistêmico. Mulheres portadoras dessas patologias que já tiveram alterações citopatológicas ou clínicas compatíveis com HPV ou com alterações citopatológicas de baixo grau de malignidade devem ser consideradas como de risco. O câncer do colo do útero está consistentemente associado, em todas as regiões do mundo, com o baixo nível sócioeconômico, ou seja, com os grupos que têm maior vulnerabilidade social, (Sanjosé, 1997). É nesses grupos que se concentram as maiores barreiras de acesso a rede de serviços para detecção e tratamento precoce da doença, advindas de dificuldades econômicas e geográficas, insuficiência de serviços, e questões culturais, como medo e preconceito dos companheiros. A prevenção primária do câncer do colo do útero é feita, portanto, com a correção de alguns desses fatores de risco, como por exemplo, com a criação de barreiras para evitar a aquisição do principal agente etiológico, o HPV, com o estímulo ao sexo seguro. A prevenção secundária é a detecção precoce do câncer ou de suas lesões precursoras, onde a curabilidade chega a 100% dos casos. Existem diversos métodos que podem ser utilizados, sendo o exame citopatológico (Papanicolaou) o mais empregado. Todas essas características, somadas à existência desse método de rastreamento sensível, seguro e de baixo custo, torna possível a detecção de lesões precursoras e de formas iniciais, justificando os esforços para atingir prioritariamente a faixa etária de 25 a 59 anos de idade nos programas de rastreamento em massa (OMS, 1998). 8 A sensibilidade do exame citopatológico varia entre os diferentes trabalhos, mas pode ser considerada em torno de 70% e quando associado à colposcopia (visualização do colo do útero por um sistema ótico de aumento, após coloração das células por ácido acético e lugol), pode aumentar até 80%, sendo a estratégia adotada pela maioria dos programas de rastreamento, ou seja, a utilização da colposcopia em casos selecionados pelo exame citopatológico. Embora o Brasil tenha sido um dos primeiros países no mundo a introduzir o exame citopatológico (Papanicolaou) para a detecção precoce do câncer do colo do útero, esta doença continua a ser entre nós um problema de saúde pública. (Ministério da Saúde, 2000). Quanto ao estágio do tumor no momento do diagnóstico, observa-se nos hospitais considerados referência para tratamento de câncer, que mais de 70% das mulheres, entre aquelas cujos prontuários registram o estágio, apresentam-se em fase avançada da doença, o que limita, em muito, a possibilidade de cura. Outra dificuldade encontrada refere-se à cobertura da população feminina de risco. Segundo pesquisa realizada pelo IBOPE, em 1994, apenas 30% das mulheres brasileiras submeteram-se ao exame citopatológico pelo menos três vezes na vida. Esta taxa não pode ser considerada como cobertura, já que não se sabe quando foi o último exame, mas pode-se aceitá-la como um parâmetro, até que outras pesquisas regionais e nacionais sejam realizadas. Essas pesquisas serão fundamentais para a avaliação do impacto das ações empreendidas pois está estabelecido que há maior eficiência dos programas quando estes alcançam coberturas maiores que 80% (OMS, 1998), o que levaria à uma diminuição da mortalidade em torno de 50%. Desta forma, programas de diagnóstico precoce do câncer do colo do útero (screening) são considerados medidas de saúde pública para prevenção secundária e baseiam-se na teoria de que os casos de carcinoma invasivo são precedidos por uma série de lesões, as neoplasias intra-epiteliais cervicais, que podem ser detectadas e tratadas (Miller, A.B., 1995). Em nosso país, as ações de controle para a doença vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos de forma isolada, em alguns estados e municípios, fundamentalmente como fruto de iniciativas locais, muitas vezes por organizações não governamentais, não sendo assegurada uma cobertura adequada nem uma conexão com as políticas nacionais de saúde. Várias iniciativas têm sido tomadas no sentido de alertar e recrutar a população para a realização do exame preventivo (exame citopatológico), mas estas 9 iniciativas têm se baseado freqüentemente em campanhas de abrangência e periodicidade insuficientes. O PROGRAMA VIVA MULHER O VIVA MULHER – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama vem sendo estruturado para atender essa expectativa, tendo como objetivo reduzir a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desses cânceres na mulher brasileira, por meio da oferta de serviços para prevenção e detecção em estágios iniciais da doença e o tratamento e reabilitação das mulheres. Desta forma, as diretrizes e estratégias traçadas para o Programa contemplam a formação de uma rede nacional integrada, com base em um núcleo geopolítico gerencial, sediado no município, que permitirá ampliar o acesso da mulher aos serviços de saúde. Além disso, a capacitação de recursos humanos e a motivação da mulher para cuidar da sua saúde fortalecerão e aumentarão a eficiência da rede formada para o controle do câncer. No que tange ao controle do câncer do colo do útero, as ações envolvem a detecção precoce da doença por meio do exame citopatológico (Papanicolaou); a garantia do tratamento adequado da doença e de suas lesões precursoras em 100% dos casos e o monitoramento da qualidade do atendimento à mulher, nas diferentes etapas do Programa. Para isso foram desenvolvidas 3 fases: projeto piloto, fase de intensificação e fase de consolidação. O Projeto Piloto foi implantado, a partir do primeiro semestre de 1997 em seis localidades brasileiras: Curitiba (janeiro de 1997), Brasília, Recife e Rio de Janeiro (março de 1997), Belém (abril de 1997) e Estado de Sergipe (janeiro de 1998). Ele forneceu as bases técnicas para as outras fases subseqüentes, tais como a necessidade de dar ênfase à faixa etária de 35 a 49 anos e a introdução da Cirurgia de Alta Freqüência (CAF) com a metodologia “ver e tratar”. Em agosto de 1998, foi iniciada a Fase de Intensificação, para a qual foram convidadas a participar todas as mulheres brasileiras, prioritariamente as de 35 a 49 anos, sendo introduzida, em nível nacional, uma base de dados, o SISCOLO – Sistema de Informações de Controle do Câncer do Colo do Útero, capaz de fornecer subsídios para um planejamento futuro. Com a participação de 97,9% dos municípios brasileiros, a expansão nacional mostrou que, para se atingir um grande número de mulheres, garantindo a realização do exame citopatológico e do tratamento, seria necessário um grande programa de capacitação de recursos humanos, inclusive gerencial, 10 reestruturação da rede de serviços, sistema de informação adequado e garantia de financiamento dos procedimentos envolvidos, o que foi implementado durante os anos de 1999 e 2000, na Fase de Consolidação. Para o câncer de mama, no dia 27 de novembro de 2000, foi lançada a primeira fase que se constitui no Projeto de Capacitação de Recursos Humanos na Área da Saúde, com distribuição de material para treinamento contendo folhetos, livretes e vídeo para profissionais de saúde alocados nos diversos níveis de atenção à saúde e no Projeto de Organização da Rede de Serviço, prevendo a alocação de mamógrafos e pistolas para biópsia por agulha grossa (core biopsy) em pólos de diagnósticos estaduais. Além disso, o Programa Viva Mulher estimulará a realização do ECM pelo profissional de saúde (médico e enfermeiro) e a realização do AEM pela mulher. 11 DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS DO VIVA MULHER – Da premissa para a estratégia As diretrizes propostas para o Programa estabelecem estratégias descritas resumidamente na Figura 1 e prevêem a resolução das necessidades já apontadas para o país. Figura 1 – Diretrizes e Estratégias do Viva Mulher DIRETRIZES ESTRATÉGIAS articular e integrar uma rede nacional consolidar uma base geolítica gerencial do Programa motivar a mulher a cuidar da sua saúde articular uma rede de comunicação com a mulher reduzir a desigualdade de acesso da mulher à rede de saúde melhorar a qualidade do atendimento à mulher aumentar a eficiência da rede de controle do câncer redimensionar a oferta real de tecnologia para diagnóstico e tratamento informar, capacitar e atualizar ccursos humanos e disponibilizar recursos materiais criar um plano de vigilância e avaliação Estratégia 1 - Consolidar uma base geopolítica gerencial do Programa. O objetivo desta estratégia é o de articular uma rede nacional de controle do câncer do colo do útero e de mama, dentro do contexto do SUS, integrando-a aos diversos segmentos e grupos organizados da sociedade. Estratégia 2 - Articular uma rede de comunicação com a mulher. Esta estratégia visa ao estabelecimento de uma rede de comunicação com a mulher, 12 a fim de que as ações de comunicação social desenvolvidas dentro das diversas etapas do Programa possam, efetivamente motivar, ou seja, engajar a mulher para o controle do câncer do colo do útero e de mama. Estratégia 3 - Redimensionar a oferta real de tecnologia para detecção, diagnóstico e tratamento do câncer do colo do útero e de mama. Este redimensionamento está baseado no diagnóstico da capacidade instalada no país, com previsão do atendimento da demanda e da capacitação de recursos humanos existentes na rede. Tem por objetivo reduzir a desigualdade de acesso da mulher à rede de saúde para o diagnóstico e tratamento do câncer do colo do útero e de mama. Estratégia 4 - Informar, capacitar e atualizar recursos humanos e disponibilizar recursos materiais, de forma continuada nos diversos níveis. Esta estratégia tem o objetivo de uniformizar e dar conhecimento das normas e procedimentos de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e medidas de reabilitação do câncer do colo do útero e de mama; garantindo fluxos definidos e conhecidos de encaminhamento na rede de saúde, com boa resolução, dentro da lógica da atenção integrada da saúde da mulher, e objetivando a melhoria de seu atendimento. Visa a capacitação de recursos humanos nas instâncias: gerencial do Programa, diagnóstico e terapêutica, mobilização social, vigilância e avaliação, e formação acadêmica, conforme Figura 2. Figura 2 – Instâncias de capacitação do Programa Instâncias de capacitação de recursos humanos do Programa gerenciamento diagnóstico e terapêutica mobilização social vigilância e avaliação formação acadêmica Estratégia 5 - Criar um plano de vigilância e avaliação do câncer do colo do útero e de mama. O objetivo desta estratégia é aumentar a eficiência da rede de atenção ao câncer de 13 mama, reduzindo a possibilidade de má utilização e fraudes; assegurar o controle de qualidade; monitorar e avaliar as etapas de implantação do programa; acompanhar alterações no perfil da mulher e do profissional envolvido na atenção ao câncer de mama (hábitos, crenças e costumes), para melhorar as atividades de comunicação social e, finalmente, estudar possíveis incorporações tecnológicas à rede do SUS. O PAPEL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE O Ministério da Saúde, por intermédio do Instituto Nacional de Câncer, formula, coordena, monitora e avalia as ações para o controle do câncer no país, articulando as seguintes ações: a) levantamento dos recursos humanos e materiais existentes, bem como das necessidades de capacitação e reciclagem, por estado; b) estabelecimento das metas específicas por estado e município; c) realização de convênio com todas as Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal para a estruturação de uma Coordenação Estadual; d) realização de encontros periódicos com os Coordenadores Estaduais para resolução e planejamento de estratégias; e) articulação com os gestores estaduais para garantia da execução das ações do Programa, por meio dos mecanismos disponíveis de gestão do SUS; f) distribuição de equipamentos aos estados, mediante comodato, necessários à colposcopia/cirurgia de alta freqüência, mamografia e punção aspirativa por agulha grossa, visando a estruturação inicial de pólos de atendimento especializado e capacitação de recursos humanos; g) desenvolvimento de material educativo e de divulgação para o Programa; h) elaboração de programas de ensino para a capacitação de recursos humanos para a coleta e realização do exame citopatológico, exame clínico das mamas, consulta médica especializada, mamografia e cirurgia de alta freqüência, dentre outros; i) normalização dos procedimentos técnicos para coleta, exame clínico das mamas, mamografia, exame histopatológico; padronização na emissão dos laudos em mamografia e cito-histopatologia, e elaboração do controle de qualidade dos procedimentos, em conjunto com as Sociedades Científicas; j) adaptação do sistema de informação ambulatorial (SIA/SUS – DATASUS) instituindo o Boletim de Produção Ambulatorial - BPA eletrônico, a fim de permitir a monitorização das ações por parte dos municípios, estados e Ministério da Saúde; 14 k) elaboração de um sistema de informação - SISCAM, a fim de permitir a emissão de relatório estatístico para acompanhamento e avaliação do Programa, além da realização do controle de qualidade dos procedimentos; l) publicação periódica dos resultados alcançados em cada uma das unidades da federação; m) avaliação do impacto do Programa em nível nacional, estadual e municipal, por meio do monitoramento de indicadores de avaliação obtidos das fontes RHC - Registro Hospitalar de Câncer, RCBP - Registro de Câncer de Base Populacional, SIM - Sistema de Informação de Mortalidade e SIA/SUS - Sistema de Informações Ambulatoriais; n) garantia de pagamento de todos os procedimentos necessários à execução do Programa; o) desenvolvimento de pesquisa operacional em diferentes regiões para avaliação de novas tecnologias para o controle do câncer do colo do útero e de mama; p) articulação permanente com sociedades científicas e sociedade civil. O PAPEL DAS SECRETARIAS DE ESTADO DA SAÚDE Os estados, por intermédio das suas Secretarias de Saúde, participam e integram ativamente o Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama, dentro da política de descentralização do Sistema Único de Saúde – SUS com a: a) realização de um plano de trabalho para o estado para celebração do Convênio MS/SES, tendo o INCA como interveniente; b) participação efetiva nas etapas do Programa e suas respectivas estratégias, bem como incorporação do “Fluxograma para o Atendimento da Mulher,” com garantia do atendimento; c) identificação de municípios/regiões sem a infra-estrutura necessária ao Programa para adequação dentro da disponibilidade do estado; d) ajuda na capacitação de recursos humanos nas categorias de profissionais de saúde consideradas prioritárias ao Programa (médicos, enfermeiros e técnicos em radiologia); e) ajuda na reprodução e distribuição, proporcional à clientela a ser atingida, do material educativo e de divulgação do Programa para todos os municípios; 15 f) participação nos fóruns nacionais de planejamento e avaliação do Programa, fornecendo dados atualizados à Coordenação no âmbito federal sempre que necessário; g) descentralização do Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama para os municípios, organizando a rede de serviços para os níveis de atenção secundária e terciária; h) organização de uma rede de serviços, mediante novos credenciamentos ou descredenciamento dos atuais, para leitura de exames citopatológicos e histopatológicos, bem como do monitoramento de qualidade externo; i) organização de uma rede de serviços para mamografia, mediante novos credenciamentos ou descredenciamento dos atuais, para leitura das mamografias, bem como do controle de qualidade; j) integração do Programa Viva Mulher com as ações dos diversos programas implementados pelo Ministério da Saúde. O PAPEL DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE Os municípios, por intermédio das suas Secretarias de Saúde, participam, integram ativamente e captam a população feminina para o Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama promovendo: a) organização de um núcleo gerencial e a realização de um plano de trabalho para as atividades a serem desenvolvidas no município, sob a coordenação do Estado; b) participação efetiva no Programa promovendo a incorporação do "Fluxograma para o atendimento da Mulher" nos diversos níveis da rede de saúde existente no município; c) identificação das Unidades de Saúde sem a infra-estrutura necessária ao Programa, viabilizando sua adequação dentro da disponibilidade do município e do estado; d) organização da rede de coleta de material, orientação e tratamento de lesões ao seu alcance; e) provimento e distribuição às Unidades de Saúde dos kits de coleta, fixadores, formulários de requisição de exames, planilhas de coleta, material educativo e de divulgação; 16 f) recolhimento de planilhas de coleta e consolidação dos dados, com encaminhamento à Coordenação Estadual; g) ajuda na capacitação de recursos humanos nas categorias de profissionais de saúde consideradas prioritárias ao Programa (médicos, enfermeiros e técnicos em radiologia); h) participação nos fóruns nacionais de planejamento e avaliação do Programa; i) descentralização do Viva Mulher – Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero e de Mama para as suas Unidade de Saúde; j) desenvolvimento de estratégias para a captação e garantia do atendimento das mulheres, incluindo a ampliação da rede de serviços; k) organização de uma rede de serviços, mediante novos credenciamentos ou descredenciamento dos atuais, para leitura de exames citopatológicos e histopatológicos, bem como do monitoramento de qualidade externo; l) organização de uma rede de serviços para mamografia, mediante novos credenciamentos ou descredenciamento dos atuais; m) acompanhamento sistemático de todas as mulheres com resultado positivo no exame citopatológico, histopatológico e mamografia, até a conclusão do tratamento, com fornecimento periódico de dados para a Coordenação Estadual do Programa; n) integração do Viva Mulher com as ações dos diversos programas implementados pelo Ministério da Saúde. ABORDAGEM DO PROGRAMA 1. Para o controle do Câncer de Mama Com o objetivo de educar a mulher e aproveitando o comparecimento dela à Unidade de Saúde para realizar o exame preventivo do câncer do colo do útero (Papanicolaou), a partir de 25 anos de idade, o profissional de saúde, médico(a) ou enfermeiro(a), faz a anamnese, realiza o ECM e ensina o AEM. Após o ECM as mulheres com exame anormal serão encaminhadas a uma consulta médica especializada onde será avaliada a necessidade de mamografia, exame citopatológico ou histopatológico, bem como a indicação de tratamento especializado ou retorno para uma nova avaliação. 17 Para mulheres com situação de alto risco, recomenda-se a mamografia anual, conforme descrito nas páginas 8 e 9. 2. Para o controle do Câncer do Colo do Útero A forma de abordagem adotada pelo Programa é o oferecimento do exame citopatológico (Papanicolaou) às mulheres de maior risco para o câncer do colo do útero e suas lesões precursoras, além do tratamento ou acompanhamento das lesões detectadas pelo exame citopatológico. O tratamento priorizado é em nível ambulatorial, por meio da cirurgia de alta freqüência (CAF) orientada pela colposcopia. 18 BIBLIOGRAFIA BASSET,L.W.,JACKSON, V.P., 2000, Doenças da Mama – Diagnóstico e Tratamento. Revinter. MILLER, A.B. Failures of Cervical Cancer Screening. American Journal of Public Health, 85(6):7612, 1995. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996, Falando sobre Doenças da Mama . Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Programas de Controle de Câncer - Pro-Onco. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997, Falando sobre câncer e seus fatores de risco. 2 ed., Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação Nacional de Controle do Tabagismo e Prevenção Primária de Câncer (Contapp). MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1997, Viva Mulher, Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo Uterino. Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Programas de Controle de Câncer – Pro-Onco. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, Estimativas da incidência e mortalidade por câncer no Brasil. Rio de Janeiro, Secretaria Nacional de Assistência à Saúde, Instituto Nacional de Câncer/Conprev. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000, Falando sobre Câncer do Colo do Útero. Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev (no prelo). MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000,Falando sobre Câncer de Mama. Rio de Janeiro, Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância - Conprev (no prelo). MUÑOZ, N., 1997, “Human Papillomavirus and Cervical Cancer: Epidemiological Evidence”. In: Franco, E. & Monsonego, J. New Developments in Cervical Cancer Screening and Prevention, Quebec. POTÉN, J.; ADAMI, H.; BERGSTRÖM, R. et al., 1995, Strategies for Global Control of Cervical Cancer. Int. J. Cancer 60: 1-26. SANJOSÉ, S.; BOSCH,f.x.; MUÑOZ, n.; SHAH,K., 1997, “Social differences in sexual behavior and cervical cancer”. In: Social Iniqualities and Cancer. Ed: Kogevinas, M. Pearce, N. Susser, M. and Boffetta, P. IARC Scientific Publications nº 138, International Agency for Research on Cancer, Lyon. WORLD CANCER RESEARCH FUND/AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH, 1997. Food, Nutrition and the Prevention of Cancer: a global perspective. Washington, D.C. WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998, Manual on the Prevention and Control of Common Cancers , Geneva, Switzerland. 19 ELABORAÇÃO Instituto Nacional de Câncer Equipe da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) - Divisão de Ações de Detecção Precoce Tereza Maria Piccinini Feitosa (Organizadora) Alexandre José Peixoto Donato Célia Regina de Andrade Costa Cleide Regina da Silva Carvalho Marcus Valério Frohe de Oliveira Maria Fátima de Abreu REVISÃO Vera Luiza da Costa e Silva Luiz Claudio Santos Thuler 20