Nuno Fernando Carvalho Teixeira Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC Para Compensação de Harmónicos Dissertação submetida na Universidade do Minho para a obtenção do grau de Mestrado Integrado em Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores Trabalho efetuado sob a orientação do Professor Doutor João Luiz Afonso Guimarães 2012 DECLARAÇÃO Nuno Fernando Carvalho Teixeira Endereço eletrónico: [email protected] Telefone:916969843 Número do Bilhete de Identidade: 13230830 Título da Dissertação/Tese: Filtro Ativo Série Para Compensação de Harmónicos Sem Fonte de Tensão do Lado CC Orientador: Doutor João Luiz Afonso Ano de conclusão: 2012 Mestrado Integrado em Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA TESE/TRABALHO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE; Universidade do Minho, ___/___/______ Assinatura: ________________________________________________ “First intention, then enlightenment.” Yamamoto Tsunetomo Agradecimentos Queria começar por agradecer ao meu orientador o Professor João Luiz Afonso, pelas sugestões oferecidas na elaboração desta dissertação e por me disponibilizar o acesso ao laboratório de Eletrónica de Potência, permitindo assim a execução prática deste trabalho que seria irrealizável de outra forma. Desejo agradecer também aos investigadores Delfim Pedrosa, Gabriel Pinto, Vítor Monteiro, Raúl Almeida, Henrique Gonçalves e especialmente ao Bruno Exposto, pela ajuda e disponibilidade exibidas vezes sem conta e, principalmente por terem promovido a todo o momento um clima de bem-estar e apoio no seio do laboratório. Também não posso deixar de agraciar os meus colegas de mestrado Delfim Pinto, Martinho Maurício, Nuno Manuel, Rui Araújo, Rui Moreira, Rui Pereira entre outros, pelos inúmeros momentos de boa disposição e pelo espírito de cooperação e entreajuda demonstrado. Agradeço também à minha família e amigos pelo interesse e carinho demonstrado no decorrer deste trabalho. E o mais importante e sentido dos agradecimentos vai para os meus pais, Maria de Fátima Carvalho e Carlos Teixeira, pela compreensão e pela paciência que só existem no amor incondicional. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho i Resumo A disseminação em larga escala de cargas não-lineares em tempos recentes tornou trivial a sua presença e o seu uso pela generalidade dos consumidores industriais e domésticos. Isto, aliado ao facto deste tipo de cargas consumir correntes distorcidas que provocam efeitos nocivos na qualidade de energia do sistema elétrico, traduz-se em elevadas perdas, energéticas e monetárias, para todos os intervenientes no sistema de distribuição de energia elétrica. Consciente deste problema, a comunidade científica começou a desenvolver soluções para o resolver. No início as soluções propostas consistiam apenas no sobredimensionamento de instalações elétricas e equipamentos, mas com o decorrer dos anos foram-se desenvolvendo novas soluções cada vez mais complexas e capazes de lidar com todo o tipo de situações. Uma dessas soluções é o Filtro Ativo de Potência Série, que lida com os problemas de Qualidade de Energia Elétrica atribuídos à tensão do sistema elétrico. Esta dissertação descreve a implementação de um Filtro Ativo Série Para Compensação de Harmónicos sem Fonte de Alimentação do Lado CC e sem transformador de acoplamento ao sistema elétrico. O equipamento desenvolvido sintetiza uma tensão que mitiga o conteúdo harmónico da tensão da carga, enquanto mantém a tensão do lado CC regulada sem o apoio de uma fonte de tensão. Neste documento é apresentada uma revisão bibliográfica de vários equipamentos de correção de problemas de Qualidade de Energia Elétrica, e são também descritos e analisados diversos algoritmos de controlo para o Filtro Ativo Série, que determinam a tensão a ser injetada no sistema elétrico, a fim de garantir a compensação harmónica e a regulação da tensão do condensador no lado CC. A fim de validar as ilações teóricas, são apresentados em primeira instância os resultados de simulação, seguidos dos resultados experimentais do Filtro Ativo Série implementado. Para melhor avaliar o desempenho do Filtro Ativo Série são realizadas simulações computacionais adicionais de um Condicionador Ativo Série, e os resultados obtidos são comparados com os resultados do Filtro Ativo Série. De referir ainda que o sistema de controlo implementado no equipamento assenta numa estratégia de controlo da tensão por valores médios instantâneos. É também relatado o processo de implementação do Filtro Ativo Série, descrevendo os diferentes elementos que compõem o equipamento desenvolvido. Palavras-Chave: Qualidade de Energia Elétrica, Filtro Ativo de Potência Série, Compensação Harmónica, Regulação de Tensão, Simulações Computacionais, DSP. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho iii Abstract The dissemination on a large scale of non-linear loads in recent times, has made trivial their presence and use by the generality of industrial and domestic consumers. This, plus the fact, that this type of electric loads consumes distorted currents which are harmful for the Power Quality of the electric system, has lead to high energy and monetary losses for all parts involved in the power distributing system. Aware of this problem, the Power Quality community started developing solutions to resolve it. At the beginning the proposed solutions consisted just in the oversizing of installations and equipment, but over the years the solutions became increasingly complex and capable of dealing with every sort of situations. One of these solutions is the Series Active Power Filter, which deals with the Power Quality problems that are related to the system voltage. This dissertation describes the implementation of a Series Active Power Filter for Harmonic Compensation without Voltage Source in the DC Side and without a coupling transformer with the electric system. The developed equipment synthesizes a voltage which mitigates the harmonic content of the load voltage, while maintaining the voltage on the DC side regulated without the support of a voltage source. In this document is presented a review of several pieces of equipment that correct Power Quality problems, and are also described and analyzed various control algorithms for the Series Active Filter that determine the voltage to be injected in the power system, in order to ensure harmonic compensation and voltage regulation on the DC side capacitor. In order to validate the theorical illations, at first instance are presented the simulation results, followed by the experimental results of the implemented Series Active Filter. To further evaluate the performance of the Series Active Filter, there are performed additional computer simulations of a Series Active Conditioner, and the obtained results are compared with the results from the Series Active Filter. Note also that the control strategy adopted for the equipment relies on a voltage control strategy by instantaneous mean values. It also is reported, the implementation process of the Series Active Filter, describing the different elements that compose the developed equipment and their role in the overall system. Keywords: Power Quality, Series Active Power Filter, Harmonic Compensation, Voltage Regulation, Computer Simulations, DSP. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho v Índice Agradecimentos ................................................................................................................ i Resumo ............................................................................................................................ iii Abstract............................................................................................................................ v Índice .............................................................................................................................. vii Lista de Figuras .............................................................................................................. xi Lista de Tabelas .......................................................................................................... xvii Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos ................................................................... xix CAPÍTULO 1 1.1. Qualidade de Energia Elétrica ............................................................................ 1 1.1.1. 1.1.2. 1.1.3. 1.1.4. 1.1.5. 1.1.6. 1.2. Desequilíbrios do Sistema Trifásico ........................................................... 2 Distorção da Forma de Onda ...................................................................... 4 Flutuações da Tensão ................................................................................ 11 Variações da Frequência Fundamental ..................................................... 12 Variações do Valor Eficaz ........................................................................ 13 Transitórios ............................................................................................... 16 Cargas Não-Lineares ........................................................................................ 17 1.2.1. 1.2.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. Fator K ...................................................................................................... 20 Dimensionamento do Condutor Neutro .................................................... 20 Enquadramento ................................................................................................ 23 Motivações ....................................................................................................... 23 Objetivos .......................................................................................................... 24 Organização da Dissertação ............................................................................. 24 CAPÍTULO 2 2.1. 2.2. 2.3. 2.4. Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série. 27 Introdução ........................................................................................................ 27 Thyristor-Controlled Series Capacitor (TCSC)............................................... 27 Dynamic Voltage Restorer (DVR) ................................................................... 29 Uninterruptible Power Supply (UPS) .............................................................. 30 2.4.1. 2.4.2. 2.4.3. 2.5. Introdução .......................................................................................... 1 Off-Line UPS............................................................................................. 31 On-Line UPS ............................................................................................. 32 Line-Interactive UPS ................................................................................ 33 Filtros Ativos de Potência Série e Condicionadores Ativos Série ................... 35 2.5.1. Topologias dos Circuitos de Potência do Filtro Ativo de Potência Série e do Condicionador Ativo Série ................................................................................. 35 2.5.2. Compensação de Variações do Valor Eficaz da Tensão........................... 37 2.6. 2.7. 2.8. Unified Power Flow Controller (UPFC) .......................................................... 39 Unified Power Quality Conditioner (UPQC) ................................................... 40 Conclusões ....................................................................................................... 41 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho vii Índice CAPÍTULO 3 3.1. 3.2. Introdução ......................................................................................................... 45 Técnica Usada para Estimar a Referência de Tensão ....................................... 45 3.2.1. 3.2.2. 3.2.3. 3.3. Síntese da Referência de Tensão ............................................................... 45 Phase-Locked Loop (PLL) ........................................................................ 46 Tabela de Senos ......................................................................................... 49 Teoria da Potência Instantânea (Teoria p-q)..................................................... 50 3.3.1. 3.3.2. 3.4. 3.5. 3.6. Sistemas de Controlo para Filtros Ativos Série............................. 45 Significado Físico das Potências Instantâneas .......................................... 51 Teoria p-q no controlo de Filtros Ativos Série .......................................... 53 Estratégia de Controlo da Tensão por Valores Médios Instantâneos ............... 54 Estratégia de Controlo Baseada numa Malha Indireta de Corrente .................. 56 Conclusões ........................................................................................................ 59 CAPÍTULO 4 Simulações do Filtro Ativo Série .................................................... 61 4.1. Introdução ......................................................................................................... 61 4.2. Software de Simulação PSIM ........................................................................... 61 4.3. Modelo do Circuito de Potência do Filtro Ativo Série ..................................... 63 4.4. Modelos do Sistema de Controlo do Filtro Ativo Série e dos Circuitos para Geração de Referência ................................................................................................. 64 4.4.1. 4.4.2. 4.4.3. 4.4.4. 4.5. Resultados das Simulações ............................................................................... 69 4.5.1. 4.5.2. 4.5.3. 4.6. Modelo de PLL Monofásica ...................................................................... 64 Modelo de PLL Trifásica .......................................................................... 65 Modelo do Sistema de Controlo para Circuitos Monofásicos ................... 66 Modelo da Técnica de Comutação Adotada ............................................. 67 Compensação dos Harmónicos de Tensão ................................................ 69 Carregamento e Regulação do Condensador no Barramento CC ............. 72 Compensação de Cavas e Sobretensões .................................................... 74 Comparação entre o Filtro Ativo Série e o Condicionador Ativo Série ........... 77 4.6.1. Modelo do Circuito de Potência do Condicionador Ativo Série ............... 77 4.6.2. Modelo do Sistema de Controlo do Condicionador Ativo Série ............... 78 4.6.3. Comparação dos Resultados das Simulações do Filtro Ativo Série e do Condicionador Ativo Série ...................................................................................... 79 4.7. Conclusões ........................................................................................................ 82 CAPÍTULO 5 5.1. 5.2. Introdução ......................................................................................................... 85 Circuito de Potência do Filtro Ativo Série ....................................................... 85 5.2.1. 5.2.2. 5.2.3. 5.3. viii Implementação do Filtro Ativo Série ............................................. 85 Circuito de Comando do Filtro Ativo Série .............................................. 86 Conversor de Potência ............................................................................... 88 Filtro de Acoplamento RLC ...................................................................... 90 Sistema de Controlo do Filtro Ativo Série ....................................................... 92 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Índice 5.3.1. 5.3.2. 5.3.3. 5.3.4. 5.3.5. 5.4. Sensores Utilizados ................................................................................... 93 Placa de Condicionamento de Sinal.......................................................... 94 DSP (Digital Signal Processor) ................................................................ 97 Placa de Comando do Inversor ............................................................... 102 Placa de Proteção do Barramento CC ..................................................... 103 Conclusões ..................................................................................................... 104 CAPÍTULO 6 6.1. 6.2. 6.3. Introdução ...................................................................................................... 105 Resultados Obtidos......................................................................................... 105 Conclusões ..................................................................................................... 111 CAPÍTULO 7 7.1. 7.2. Resultados Experimentais ............................................................. 105 Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros ........................ 113 Conclusões ..................................................................................................... 113 Sugestões para Trabalhos Futuros .................................................................. 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 119 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho ix Lista de Figuras Figura 1.1 – Componentes Direta, Inversa e Homopolar. ................................................ 2 Figura 1.2 – Formas de ondas de um sistema trifásico de tensões desequilibrado. .......... 3 Figura 1.3 – Diagrama fasorial do sistema trifásico e componentes simétricas correspondentes. ............................................................................................................... 4 Figura 1.4 – Forma de onda de tensão com valor médio de 11%. .................................... 5 Figura 1.5 – Forma de onda de tensão com conteúdo harmónico. ................................... 5 Figura 1.6 – Formas de onda da componente fundamental e das componentes harmónicas do sinal da Figura 1.5. ................................................................................... 6 Figura 1.7 – Análise espectral do sinal da Figura 1.5. ...................................................... 7 Figura 1.8 – Representação gráfica das potências ativa, reativa e aparente. .................... 8 Figura 1.9 – Representação gráfica das Potências Ativa, Reativa, Harmónica e Aparente. ........................................................................................................................... 9 Figura 1.10 – Forma de onda de tensão modificada pelos inter-harmónicos. ................ 10 Figura 1.11 – Forma de onda de tensão com micro-cortes. ............................................ 10 Figura 1.12 – Forma de onda de tensão com ruído eletromagnético. ............................. 11 Figura 1.13 – Forma de onda de tensão com flutuação. ................................................. 12 Figura 1.14 – Forma de onda de tensão com uma cava. ................................................. 13 Figura 1.15 – Forma de onda de tensão com uma sobretensão. ..................................... 14 Figura 1.16 – Forma de onda de tensão com uma interrupção. ...................................... 15 Figura 1.17 – Forma de onda de tensão com transitório impulsivo. ............................... 16 Figura 1.18 – Forma de onda de tensão com transitório oscilante. ................................ 17 Figura 1.19 – Relação entre a tensão e a corrente numa carga não-linear. ..................... 18 Figura 1.20 – Exemplos de cargas não-lineares. Em cima: computador desktop, lâmpada fluorescente compacta, televisor LCD e conversor de potência; em baixo: impressora, variador de velocidade para motores elétricos e forno a arco. ........................................ 18 Figura 1.21 – Representação de um sistema trifásico sem corrente no neutro. .............. 21 Figura 1.22 – Representação de um sistema trifásico com corrente no neutro............... 21 Figura 1.23 – Representação de um sistema trifásico com corrente harmónica no condutor neutro. .............................................................................................................. 22 Figura 2.1 – Esquema unifilar do TCSC......................................................................... 28 Figura 2.2 – Zonas de operação do TCSC. ..................................................................... 28 Figura 2.3 – Esquema unifilar de um DVR. ................................................................... 30 Figura 2.4 – Esquema unifilar da Off-Line UPS. ............................................................ 31 Figura 2.5 – Esquema unifilar da On-Line UPS. ............................................................ 32 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho xi Lista de Figuras Figura 2.6 – Esquema unifilar da Line-Interactive UPS. ................................................ 34 Figura 2.7 – Esquema unifilar do Filtro Ativo de Potência Série. .................................. 35 Figura 2.8 – Circuito de Potência do Condicionador Ativo Série com transformador de acoplamento no lado do conversor série. ........................................................................ 36 Figura 2.9 – Circuito de potência do Filtro Ativo Série com transformador de acoplamento e sem conversor paralelo............................................................................ 37 Figura 2.10 – Esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma cava de tensão.................................................................................................................. 38 Figura 2.11 – Esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma sobretensão. ..................................................................................................................... 39 Figura 2.12 – Esquema unifilar do UPFC. ...................................................................... 39 Figura 2.13 – Esquema unifilar do UPQC. ..................................................................... 40 Figura 3.1 – Esquema de um filtro passa-alto utilizado para gerar uma referência de tensão. .............................................................................................................................. 46 Figura 3.2 – Esquema de um filtro passa-baixo utilizado para gerar uma referência de tensão. .............................................................................................................................. 46 Figura 3.3 – Esquema de uma PLL monofásica.............................................................. 47 Figura 3.4 – Diagrama de blocos da PLL monofásica. ................................................... 47 Figura 3.5 – Diagrama de blocos de um Phase-Locked Loop trifásico........................... 48 Figura 3.6 – Esquema de sincronização por Tabela de Seno. ......................................... 49 Figura 3.7 – Esquema das potências instantâneas. .......................................................... 52 Figura 3.8 – Teoria p-q aplicada a Filtros Ativos Série .................................................. 54 Figura 3.9 – Esquema de um Filtro Ativo de Potência Série monofásico....................... 55 Figura 3.10 – Malha de controlo dos valores médios instantâneos com controladores PI e PID. ............................................................................................................................... 55 Figura 3.11 – Esquema de Filtro Ativo Série sem Fonte CC aplicado a sistemas trifásicos. ......................................................................................................................... 56 Figura 3.12 – Circuito monofásico equivalente de um Filtro Ativo Série adaptado de [30]. ............................................................................................................................ 56 Figura 3.13 – Diagrama de blocos da estratégia de controlo baseada numa malha indireta de corrente. ......................................................................................................... 59 Figura 4.1 – Ambiente gráfico do software PSIM........................................................... 62 Figura 4.2 – Ambiente gráfico do software Simview. ..................................................... 62 Figura 4.3 – Interação do software PSIM com ferramentas externas [49]. ..................... 63 Figura 4.4 – Modelo de Simulação do Filtro Ativo Série Monofásico. .......................... 64 Figura 4.5 – Modelo da PLL monofásica simulada. ....................................................... 65 xii Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Lista de Figuras Figura 4.6 – Modelo da PLL trifásica simulada. ............................................................ 65 Figura 4.7 – Modelo da malha de controlo simulada. .................................................... 66 Figura 4.8 – Modelo da PLL com sistema trifásico virtual. ........................................... 66 Figura 4.9 – Bloco com o código C desenvolvido para controlo do sistema. ................ 67 Figura 4.10 – Diagrama de blocos da técnica CB-PWM. ............................................... 67 Figura 4.11 - Modelo de simulação da técnica de comutação PWM unipolar. .............. 68 Figura 4.12 – (a) Sinais de referência (vref e -vref) e portadora triangular (vtri); (b) Tensões de saída nos braços no inversor em relação ao neutro (v1n e v2n); (c) Tensão de saída aos terminais do inversor (v1n-v2n) e após o filtro de saída (vsaída). ........................ 68 Figura 4.13 – Formas de onda da tensão na fonte e na carga e da corrente na carga antes da compensação: (a) Tensão na fonte (vfonte); (b) Tensão na carga (vcarga); (c) Corrente na carga (icarga). ............................................................................................................... 69 Figura 4.14 – Forma de onda da tensão de referência (vref). ........................................... 70 Figura 4.15 – Formas de onda das tensões de compensação: (a) Tensão de regulação do barramento CC (vcomp_cc); (b) Tensão de compensação harmónica (vcomp_har); (c) Tensão de compensação total (vcomp_tt). ....................................................................................... 71 Figura 4.16 – Formas de onda das tensões de compensação e do barramento CC: (a) Tensão de compensação de referência (vcomp_tt) e tensão de compensação sintetizada pelo FAS (vca) que se encontram sobrepostas; (b) Tensão regulada no barramento CC (vcc).................................................................................................................................. 71 Figura 4.17 – Formas de onda da tensão na fonte e na carga e da corrente na carga após a compensação: (a) Tensão na fonte (vfonte); (b) Tensão na carga (vcarga); (c) Corrente na carga (icarga). .................................................................................................................... 72 Figura 4.18 – Ciclo de carregamento do barramento CC. .............................................. 73 Figura 4.19 – Variação da tensão da carga durante o carregamento dos condensadores do lado CC. ..................................................................................................................... 73 Figura 4.20 – Forma de onda da tensão na fonte durante uma cava de tensão (vfonte). ... 74 Figura 4.21 – Cálculo do valor eficaz da tensão da rede durante uma cava de tensão (vfonte_rms). ........................................................................................................................ 74 Figura 4.22 – Formas de onda da tensão da rede e da carga durante uma cava: (a) Tensão da fonte (vfonte); (b) Tensão da carga(vcarga). ................................................. 75 Figura 4.23 – Evolução da tensão do barramento CC antes (0,1 s a 0,2 s), durante (0,2 s a 0,4 s) e após uma cava de tensão (0,4 s a 0,9 s) (vcc). .................................................. 75 Figura 4.24 – Cálculo do valor eficaz da tensão da rede durante uma sobretensão (vfonte_rms). ........................................................................................................................ 76 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho xiii Lista de Figuras Figura 4.25 – Formas de onda da tensão da rede e da carga durante uma sobretensão: (a) Tensão da fonte (vfonte); (b) Tensão da carga(vcarga).. ................................................. 76 Figura 4.26 – Evolução da tensão do barramento CC antes (0,1 s a 0,2 s), durante (0,2 s a 0,4 s) e após uma sobretensão (0,4 s a 0,9 s) (vcc). ....................................................... 76 Figura 4.20 – Modelo de simulação do Condicionador Ativo Série. .............................. 78 Figura 4.21 – Sistema de controlo do Condicionador Ativo Série: (a) Sistema de controlo do condicionador paralelo; (b) Sistema de controlo do condicionador série. ... 79 Figura 4.22 – Formas de onda condicionadas pelo CAS: (a) Tensão na carga antes do acionamento do CAS; (b) Corrente na carga antes do acionamento do CAS; (c) Tensão na carga após o acionamento do CAS; (d) Corrente na carga após o acionamento do CAS. ................................................................................................................................ 80 Figura 4.23 – Formas de onda condicionadas pelo FAS: (a) Tensão na carga antes do acionamento do FAS; (b) Corrente na carga antes do acionamento do FAS; (c) Tensão na carga após o acionamento do FAS; (d) Corrente na carga após o acionamento do FAS. ................................................................................................................................. 81 Figura 4.24 – Formas de onda no Condicionador Ativo Série e no Filtro Ativo Série: (a) Tensão no barramento CC do CAS; (b) Corrente de compensação do barramento CC do CAS; (c) Tensão no barramento CC do FAS; (d) Tensão de compensação do barramento CC do FAS. .................................................................................................. 82 Figura 5.1 – Circuito de Potência: (a) Circuito de potência na parte superior da bancada; (b) Circuito de potência na parte inferior da bancada. .................................................... 86 Figura 5.2 – Esquema do circuito de comando implementado para o Fitltro Ativo de Potência Série. ................................................................................................................. 87 Figura 5.3 – Esquema do circuito de potência do Filtro Ativo Série. ............................. 88 Figura 5.4 – Fotografia do conversor de potência (Inversor). ......................................... 88 Figura 5.5 – Representações do módulo de IGBTs SMK100GB176D: (a) Esquema elétrico do módulo [59]; (b) Aspeto físico do módulo [59]. ........................................... 89 Figura 5.6 – Representações do circuito de drive SKHI22AH4: (a) Esquema elétrico do circuito de drive [60]; (b) Aspeto físico do módulo [60] ................................................ 89 Figura 5.7 – Filtro de acoplamento RLC: (a) Esquema elétrico do filtro; (b) Aspeto físico do filtro. ................................................................................................................. 90 Figura 5.8 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 1,5 mH; Cf = 30 µF). . 91 Figura 5.9 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 1,5 mH, Cf = 30 µF, Rf = 8 Ω). ......................................................................................................................... 92 Figura 5.10 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 0,8 mH, Cf = 20 µF, Rf = 12 Ω). ....................................................................................................................... 92 xiv Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Lista de Figuras Figura 5.11 – Sensor de tensão CYHVS025 da ChenYang: (a) Esquema de funcionamento do sensor; (b) Aspeto físico do sensor. .................................................. 93 Figura 5.12 – PCB de aquisição de sinais de medição de tensões. ................................. 94 Figura 5.13 – PCB para condicionamento dos sinais de medição. ................................. 95 Figura 5.14 – Esquema do circuito de condicionamento de sinal que adequa os sinais de medição aos niveis de tensão do DSP. ............................................................................ 96 Figura 5.15 – Resultados de simulação do circuito de condicionamento de sinal da Figura 5.14: Sinal de entrada (vin); Sinal de saída (vout); Sinal à entrada negativa do AmpOp(vamp-); Sinal na enrtada positiva do AmpOp (vamp+). ........................................ 96 Figura 5.16 – Esquema do circuito de deteção de sobretensões no barramento CC. ..... 97 Figura 5.17 – Resultados de simulação do circuito de deteção de sobretensões no barramento CC. ............................................................................................................... 97 Figura 5.18 – Placa do DSP (Digital Signal Processor)................................................. 98 Figura 5.19 – Emulador XDS 100 da Texas Instruments. ............................................... 98 Figura 5.20 – Placa do DAC. .......................................................................................... 99 Figura 5.21 – Algoritmo do programa criado para controlar o Filtro Ativo Série e implementado no DSP. ................................................................................................. 100 Figura 5.22 – Diagrama de blocos do algoritmo de amortecimento e a sua interação com o PID de saída. .............................................................................................................. 101 Figura 5.23 – PCB de sinais de comando do inversor. ................................................. 102 Figura 5.24 – Painel de controlo com os comandos para ativar/desativar as comutações, realizar reset dos sinais de erro e com sinalizações luminosas de ocorrência de erros. 103 Figura 5.25 – Placa de proteção do barramento CC: (a) Esquema do circuito de proteção do barramento CC; (b) Aspeto físico da placa de proteção do barramento CC. ........... 103 Figura 6.1 – Forma de onda da tensão da rede no Laboratório do GEPE (vfonte). ......... 106 Figura 6.2 – Espetro harmónico da tensão da rede no Laboratório do GEPE. ............. 106 Figura 6.3 – Esquema da montagem final com a fonte (ao lado esquerdo), o Filtro Ativo Série (ao centro), as cargas (ao lado direito) e a carga adicionada para aumentar o conteúdo harmónico da tensão (ao lado esquerdo sob a fonte). ................................... 107 Figura 6.4 – Forma de onda da tensão da rede (vfonte), com distorção harmónica adicional. ....................................................................................................................... 107 Figura 6.5 – Espetro harmónico da tensão da fonte após a inclusão da carga a montante do FAS. ......................................................................................................................... 107 Figura 6.6 – Forma de onda da tensão no barramento CC (vcc) antes de iniciar a compensação. ................................................................................................................ 108 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho xv Lista de Figuras Figura 6.7 – Forma de onda da tensão sintetizada à saída do Filtro Ativo Série (vfiltro). ....................................................................................................................................... 109 Figura 6.8 – Forma de onda da tensão da carga (vcarga). ............................................... 109 Figura 6.9 – Espetro harmónico da tensão da carga. ..................................................... 109 Figura 6.10 – Forma de onda da tensão da rede (vfonte) com ressonância...................... 110 Figura 6.11 – Forma de onda da tensão da carga (vcarga) com algoritmo de amortecimento. .............................................................................................................. 110 Figura 6.12 – Espetro da tensão da carga com algoritmo de amortecimento. ............... 111 Figura 6.13 – Formas de onda da tensão na fonte (vfonte), da tensão na carga (vcarga),e da tensão na saída do Filtro Ativo Série (vfiltro). ................................................................. 111 xvi Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Lista de Tabelas Tabela 1.1 – Valores das tensões harmónicas relativas permitidos em sistemas BT [3, 5]. ........................................................................................................................... 7 Tabela 1.2 – Limites de interrupções mediante zonas geográficas. ................................ 15 Tabela 1.3 – Analogia entre a origem da poluição harmónica e atmosférica [7]. .......... 19 Tabela 2.1 – Tarefas desempenhadas pelo condicionador paralelo e pelo condicionador série num UPQC. ............................................................................................................ 41 Tabela 2.2 – Problemas de QEE e equipamentos de compensação. ............................... 43 Tabela 4.1 – Componentes harmónicas da tensão na carga antes da compensação. ...... 70 Tabela 4.2 – Componentes harmónicas da tensão na carga após compensação. ............ 72 Tabela 4.3 – Componentes harmónicas da tensão na carga após a entrada em funcionamento do CAS. .................................................................................................. 81 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho xvii Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos ADC Analog-to-Digital Converter AT Alta Tensão BT Baixa Tensão CA Corrente Alternada CAS Condicionador Ativo Série CB Carrier Based CC Corrente Contínua CCS Code Composer Studio cos Co-seno DAC Digital-to-Analog Converter DSP Digital Signal Processor DVR Dynamic Voltage Restorer EVA/B Event Manager A/B FAP Filtro Ativo de Potência Paralelo FAS Filtro Ativo de Potência Série FP Fator de Potência FPT Fator de Potência Total GEPE Grupo de Eletrónica de Potência e Energia H Potência Harmónica IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers IGBT Insulated Gate Bipolar Transistor I/O Input/Output JTAG Joint Test Action Group LED Light-Emitting Diode MAT Muito Alta Tensão MSPS Mega-Samples Per Second MT Média Tensão P Potência Ativa PC Personal Computer PI Proporcional Integral PID Proporcional Integral Derivativo PLL Phase-Locked Loop PWM Pulse Width Modulation Q Potência Reativa QEE Qualidade de Energia Elétrica Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho xix Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos xx Rel Relativa S Potência Aparente SCR Silicon-Controlled Rectifier STATCOM Static Synchronous Compensator sen Seno THD Total Harmonic Distortion TCR Thyristor-Controlled Reactor TCSC Thyristor-Controlled Series Capacitor UM Universidade do Minho UPFC Unified Power Flow Controller UPQC Unified Power Quality Conditioner UPS Uninterruptible Power Supply USB Universal Serial Bus VSI Voltage Source Inverter Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho CAPÍTULO 1 Introdução 1.1. Qualidade de Energia Elétrica O termo Qualidade de Energia Elétrica (QEE) engloba uma variedade de fenómenos eletromagnéticos que caracterizam a tensão e a corrente num determinado momento e numa determinada localização no sistema de distribuição de energia [1]. O aumento dos equipamentos eletrónicos capazes de causar distúrbios eletromagnéticos, assim como o aumento de equipamentos sensíveis a fenómenos deste género tem ampliado o interesse na temática da QEE em anos recentes. Acompanhando o aumento de problemas operacionais identificados foram definidas também várias maneiras para descrever os fenómenos subordinados ao tema, o que conduziu à utilização de diversas terminologias diferentes para descrever os eventos de QEE. Tendo isto em atenção algumas organizações internacionais criaram normas e terminologia padrão que podem ser utilizados pela comunidade científica da QEE para descreverem estes eventos. Uma das normas mais utilizadas é a IEEE Std 1159™-2009, IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric Power Quality [1], onde é apresentada uma classificação uniformizada para catalogar convenientemente os fenómenos relacionados com a QEE. Esta norma organiza os fenómenos eletromagnéticos ocorrentes nos sistemas de energia da seguinte forma: Desequilíbrios do Sistema Trifásico; Distorção da Forma de Onda; Flutuações da Tensão; Variações da Frequência Fundamental; Variações do Valor Eficaz; Transitórios. A norma supracitada introduz definições para os eventos de Qualidade de Energia Elétrica assim como limites para os mesmos, de acordo com uma série de normas internacionais. Todavia em território nacional é vigente a norma europeia NP EN 50 160, pelo que é importante atender aos limites impostos pela mesma para os fenómenos analisados. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 1 Capítulo 1 - Introdução 1.1.1. Desequilíbrios do Sistema Trifásico Os desequilíbrios consistem num distúrbio exclusivo dos sistemas polifásicos, sendo os sistemas trifásicos o exemplo mais comum destes sistemas. Geralmente quando as cargas de um sistema trifásico são desequilibradas, estas causam um desequilíbrio nas tensões do sistema trifásico. O teorema de Fortescue é particularmente útil quando se pretende analisar um sistema polifásico desequilibrado, já que este enuncia que um sistema desequilibrado de n fasores pode ser convertido em n sistemas equilibrados de fasores que são denominadas como componentes simétricas dos fasores originais. Para um sistema trifásico são identificadas três componentes: Direta, Inversa e Homopolar (também designadas por sequências Positiva, Negativa e Zero respetivamente). Na Figura 1.1 encontram-se três diagramas fasoriais representativos das três componentes simétricas de um determinado sistema trifásico. O fasor a tracejado serve de referência. Componente Directa Componente Inversa Componente Homopolar Va+ VaVa0 Vc+ Vb0 Vc0 VbVc- Vb+ Figura 1.1 – Componentes Direta, Inversa e Homopolar. Para efetuar a conversão de um sistema trifásico de tensões (ou correntes) para as três componentes equilibradas basta aplicar a seguinte transformação: Va 1 1 2 Vb 1 Vc 1 1 V0 V 2 V (1.1) E para efetuar a inversa da transformação anterior basta aplicar o seguinte: V0 1 1 1 V 3 1 V 1 2 1 Va 2 Vb Vc (1.2) Em ambas transformações o operador angular α é traduzido pela equação (1.3): e j120º 2 (1.3) Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução Obtidas as componentes simétricas pode-se calcular o nível de desequilíbrio existente no sistema trifásico. Este é descrito pela razão entre a magnitude da componente inversa da tensão e a magnitude da componente direta [1]: %Desequilib rio V V 100 (1.4) Uma representação de um sistema trifásico desequilibrado surge na Figura 1.2 onde a tensão da Fase A tem 243,5 V de valor eficaz e está 70º adiantada em relação à origem, a tensão da Fase B tem 229,6 V de valor eficaz e encontra-se 114º atrasada em relação à origem, e por último a tensão da Fase C tem 180 V de valor eficaz e encontra-se 164º atrasada em relação à origem. Tensão A (V) Tensão B (V) Tensão C (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.2 – Formas de ondas de um sistema trifásico de tensões desequilibrado. Este sistema trifásico desequilibrado é decomposto nas suas componentes simétricas aplicando a transformação descrita na equação (1.2). Na Figura 1.3 está representado um diagrama fasorial que relaciona os fasores das três fases com as suas componentes simétricas correspondentes. Uma vez calculadas as componentes simétricas resta aplicar a equação (1.4) para determinar o nível de desequilíbrio existente no sistema trifásico. Sobre os limites legais permitidos para desequilíbrios existentes na rede elétrica, a norma portuguesa indica que em condições normais, nas redes de Muito Alta Tensão (MAT) e de Alta Tensão (AT), para cada período de uma semana, 95% dos valores eficazes médios de dez minutos da componente inversa das tensões não devem ultrapassar 2% da correspondente componente direta [2]. Aplicam-se os mesmos limites para Média Tensão (MT) e Baixa Tensão (BT) [3]. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 3 Capítulo 1 - Introdução Figura 1.3 – Diagrama fasorial do sistema trifásico e componentes simétricas correspondentes. 1.1.2. Distorção da Forma de Onda A distorção da forma de onda é definida como um desvio em regime permanente em relação à sinusoide de frequência fundamental (e.g., 50 Hz ou 60 Hz) idealizada para um dado sistema energético [1]. Existem cinco tipos principais de distorção de forma da onda: Valor Médio; Harmónicos; Inter-harmónicos; Micro-cortes; Ruído. Valor Médio A presença de uma tensão ou corrente contínua (CC) num sistema energético de corrente alternada (CA) é denominada como Valor Médio. Este fenómeno pode ocorrer a partir de distúrbios geomagnéticos (e.g., Erupções Solares), ou devido ao efeito originário numa assimetria num conversor eletrónico de potência [1]. A presença de corrente contínua em redes CA pode causar problemas, pois provoca o aumento da saturação de transformadores que por sua vez está associada ao seu aquecimento, deterioração dos isolamentos e outros efeitos adversos para este tipo de equipamento [1]. Na Figura 1.4 encontra-se representada uma onda com um valor médio de 11% (25 V). 4 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.4 – Forma de onda de tensão com valor médio de 11%. Harmónicos De acordo com o enunciado das Séries de Fourier, qualquer sinal periódico não-sinusoidal pode ser decomposto num conjunto (potencialmente infinito) de sinusoides com frequências múltiplas inteiras da frequência do sinal [4], sendo esses sinais os harmónicos do sinal decomposto. Portanto, num sistema elétrico, os harmónicos são abstrações representadas sobre a forma de tensões ou correntes sinusoidais, cujas frequências são múltiplas inteiras da frequência para a qual o sistema energético está concebido para funcionar (frequência fundamental normalmente de 50 Hz ou 60 Hz). Quando combinados com a corrente ou tensão fundamental, os harmónicos, produzem uma onda periódica distorcida (não-sinusoidal). Na Figura 1.5 encontra-se um sinal não-sinusoidal que é composto por uma tensão fundamental com valor eficaz de 230 V à qual foi acrescentada harmónicos de 3ª, 5ª e 7ª ordem que se encontram em fase e têm valores eficazes de 21 V, 42 V, 28 V respetivamente. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.5 – Forma de onda de tensão com conteúdo harmónico. Na Figura 1.6 são apresentadas todas as componentes do sinal anteriormente representado na Figura 1.5. A ordem dos harmónicos é representada pela letra h. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 5 Capítulo 1 - Introdução Tensão [h=1] (V) Tensão [h=3] (V) Tensão [h=5] (V) Tensão [h=7] (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.6 – Formas de onda da componente fundamental e das componentes harmónicas do sinal da Figura 1.5. As cargas não-lineares são os equipamentos responsáveis pela introdução de harmónicos no sistema elétrico, já que estes têm características que fazem com que consumam correntes não-sinusoidais a partir da fonte. Por isso e, devido à impedância de linha existente nos sistemas elétricos, os harmónicos de corrente de uma carga não-linear provocam quedas de tensão com conteúdo harmónico, que por sua vez alteram a forma de onda da tensão medida aos terminais da carga. Usualmente os harmónicos de corrente são modelados como fontes de corrente que consomem correntes harmónicas do sistema de alimentação. Estas correntes atravessam a impedância do sistema, originando quedas de tensão de frequência múltipla à fundamental, e como resultado surge distorção harmónica na tensão. Existem diversas maneiras de determinar o nível de distorção de uma corrente ou tensão. A grandeza mais frequentemente usada é a Taxa de Distorção Harmónica, normalmente denominada por THD (do inglês Total Harmonic Distortion). Por definição a THD da tensão é o valor eficaz da componente harmónica de uma forma de onda distorcida e pode ser calculada através da equação (1.5): THD h2 Vh2 (1.5) V1 Esta equação também é válida para calcular a THD da corrente, para tal basta substituir as componentes fundamental e harmónica da tensão pelas componentes correspondentes da corrente. Outro método útil para analisar a distorção causada por harmónicos é a análise espectral de um sinal. Através da transformada de Fourier, um sinal é convertido para o domínio das frequências sendo mais simples identificar individualmente os harmónicos de um sinal. Na Figura 1.7 é exibida a análise espectral do sinal previamente apresentado na Figura 1.5. 6 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução Figura 1.7 – Análise espectral do sinal da Figura 1.5. Sobre a distorção harmónica a norma portuguesa impõe que, para redes de BT, 95% dos valores eficazes médios de dez minutos de cada tensão harmónica não devem exceder os níveis apresentados na Tabela 1.1 [3, 5]. Tabela 1.1 – Valores das tensões harmónicas relativas permitidos em sistemas BT [3, 5]. Harmónicos ímpares Harmónicos pares Não múltiplos de três Múltiplos de três Ordem h Tensão Rel. (%) Ordem h Tensão Rel. (%) Ordem h Tensão Rel. (%) 5 6,0 3 5,0 2 2,0 7 5,0 9 1,5 4 1,0 11 3,5 15 0,5 6-24 0,5 13 3,0 21 0,5 17 2,0 19-25 1,5 > 25 0,2+0,5 x 25/h Outro aspeto relevante é a forma como os harmónicos condicionam a avaliação de outros fenómenos de QEE, especialmente o cálculo do Fator de Potência (FP). O Fator de Potência, é definido como a razão entre a potência que realiza trabalho (Potência Ativa, P) e a potência total fornecida pelo sistema elétrico (Potência Aparente, S). FP P cos 1 S (1.6) Em sistemas onde a forma de onda da tensão e da corrente é puramente sinusoidal, sem qualquer conteúdo harmónico, existe apenas um ângulo de fase (φ1) entre a tensão e a corrente, então o fator de potência é dado por cos φ1 e passa a ser designado como Fator de Potência da Fundamental, termo em português equivalente à terminologia anglo-saxónica Displacement Power Factor. Para além da Potência Ativa e Aparente existe ainda outra componente que não realiza trabalho designado por Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 7 Capítulo 1 - Introdução Potência Reativa (Q). Na Figura 1.8 encontra-se uma representação gráfica das relações entre as componentes da potência elétrica supracitadas. P V I1 cos 1 (1.7) Q V I1 sen1 S P2 Q2 (1.8) V I1 cos 1 2 V I1 sen1 2 V I1 (1.9) y Q S 1 P x Figura 1.8 – Representação gráfica das potências ativa, reativa e aparente. No caso em que a corrente tem uma forma de onda não-sinusoidal, o fator de potência não pode ser calculado pelo co-seno do ângulo φ1. É necessário ter em consideração as frequências harmónicas em conjunto com a frequência fundamental para o cálculo do fator de potência, como enunciado na equação (1.6). I h1 I h I12 I 22 I 32 I 42 ... I h2 (1.10) Nesta circunstância o fator de potência é designado por Fator de Potência Total (True Power Factor) e no seu cálculo é levado em conta a contribuição dos harmónicos de corrente. Muitos dispositivos como variadores de velocidade ou fontes de alimentação podem ter um Fator de Potência da Fundamental próximo da unidade, mas o seu Fator de Potência Total (FPT) pode ser bastante inferior. Neste caso, adicionar um banco de condensadores à instalação elétrica traria poucos benefícios já que a componente reativa à frequência da fundamental é quase zero [4]. Aliás esta ação pode aumentar a distorção da forma de onda, o que faz com que o Fator de Potência Total se degrade ainda mais. Na Figura 1.9 é apresentada a Potência Harmónica (H) que não é mais do que a contribuição dos elementos harmónicos no cálculo da Potência Aparente. Como foi referido anteriormente a Potência Ativa e a Potência Reativa são dependentes da tensão e da corrente fundamental. Já a Potência Harmónica é igualmente dependente da tensão, mas contrariamente às outras, esta é dependente apenas dos 8 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução harmónicos de corrente (de frequência superior à fundamental) existentes na instalação. Nas equações (1.11), (1.12) e (1.13) traça-se a relação entre a Potência Harmónica e a Potência Aparente. z H S x Q P y Figura 1.9 – Representação gráfica das Potências Ativa, Reativa, Harmónica e Aparente. H V I12 I 22 I 32 I 42 ... I h2 (1.11) S P2 Q2 H 2 (1.12) FPT P V I 1 cos 1 cos S V I (1.13) Resumindo, a distorção harmónica resulta em componentes de corrente adicionais que fluem pelo sistema elétrico provocando perdas energéticas. Além disto podem alterar a perceção de um observador sobre algumas grandezas, conduzindo a uma avaliação deficiente de outros problemas de QEE existentes na instalação. Inter-Harmónicos As tensões e correntes cuja frequência não sejam um múltiplo inteiro da frequência da rede são designados por inter-harmónicos. Existem casos particulares de inter-harmónicos denominados sub-harmónicos cuja frequência é inferior à frequência fundamental [6]. Este termo carece ainda de uma definição oficial, mas tem surgido em várias referências dentro da comunidade científica [6]. Os inter-harmónicos podem ser encontrados em redes de todas as classes de tensão. As principais fontes de distorção de onda por parte de inter-harmónicos são cicloconversores, conversores estáticos de frequência, fornos de indução e dispositivos de soldadura a arco, especialmente aqueles cujo controlo não está sincronizado com a Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 9 Capítulo 1 - Introdução frequência da rede [1]. Os efeitos dos inter-harmónicos ainda não são bem conhecidos e a norma portuguesa não contempla nenhum limite para este fenómeno, contudo foi demonstrado que afetam os sistemas de comunicação dos sistemas de transmissão de energia e causam a tremulação visual em equipamentos de transmissão de imagem. Na Figura 1.10 encontra-se representado um exemplo de uma tensão modificada pelos inter-harmónicos. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.04 0.08 0.12 0.16 0.2 Time (s)(s) Tempo Figura 1.10 – Forma de onda de tensão modificada pelos inter-harmónicos. Micro-Cortes Os micro-cortes são perturbações periódicas da tensão causadas pela operação normal dos semicondutores de conversores de potência que geram curto-circuitos momentâneos [1, 4, 5]. Na Figura 1.11 encontra-se uma forma de onda de tensão com micro-cortes. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.11 – Forma de onda de tensão com micro-cortes. Os micro-cortes de tensão representam um caso especial, já que consistem num fenómeno periódico embora com frequência bastante elevada, pelo que tem atributos que podem ser considerados como transitórios e de distorção harmónica. A gravidade de 10 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução um micro-corte, em qualquer ponto do sistema, é determinada pela impedância de linhas e a indutância de acoplamento entre o conversor, a magnitude da corrente e o ponto a ser monitorizado [1]. Ruído O ruído é o conjunto de sinais eletromagnéticos, cujo conteúdo espectral encontrase em larguras de banda inferiores a 200 kHz, que são adicionados aos sinais de corrente e/ou tensão das fases ou do neutro [1, 4]. Na Figura 1.12 encontra-se uma forma de onda de tensão com ruído de alta frequência. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.01 0.02 0.03 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.12 – Forma de onda de tensão com ruído eletromagnético. O ruído pode ser causado por circuitos de controlo, dispositivos eletrónicos de elevada potência, fontes comutadas, fornos de arco, etc. Com bastante frequência, os problemas relacionados com o ruído são agravados quando as instalações têm uma ligação à terra deficiente [1]. Os distúrbios devido ao ruído afetam dispositivos como os microcomputadores e controladores programáveis e podem ser mitigados através do uso de filtros, transformadores de isolamento e condicionadores de linha. 1.1.3. Flutuações da Tensão Flutuações da Tensão são variações sistemáticas da tensão ou uma série de mudanças aleatórias da tensão, cujos índices de severidade da flutuação (Pst1, Plt2) devem ser inferiores a 1 [2]. Qualquer carga que tenha variações cíclicas relevantes, especialmente na componente reativa, pode causar flutuações da tensão. Cargas que exibam variações rápidas de uma forma contínua da magnitude da corrente da carga podem causar 1 2 Pst - nível de planeamento de Flutuações da Tensão de curta duração. Plt - nível de planeamento de Flutuações da Tensão de longa duração. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 11 Capítulo 1 - Introdução variações da tensão que são designadas de uma maneira errónea como “tremulação”. O termo tremulação provém da palavra de origem inglesa flicker que por sua vez deriva do impacto que a flutuação de tensão tem sobre a intensidade luminosa [1]. A flutuação da tensão é um fenómeno eletromagnético, e a tremulação é um sintoma indesejado deste evento. Embora haja uma distinção clara entre os dois termos, estes são confundidos amiúde. Os fornos de arco são a causa mais comum de flutuações da tensão no sistema de transmissão e distribuição [1]. Uma possível situação com flutuações da tensão encontra-se na Figura 1.13. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 Time (s)(s) Tempo Figura 1.13 – Forma de onda de tensão com flutuação. 1.1.4. Variações da Frequência Fundamental Variações da Frequência Fundamental ocorrem quando a frequência fundamental da rede elétrica diverge do seu valor nominal específico (e.g., 50 Hz ou 60 Hz). A frequência fundamental da rede, em regime permanente, depende do equilíbrio entre a carga e a capacidade da geração disponível. Quando este equilíbrio dinâmico é alterado, pequenas mudanças ocorrem na frequência. A dimensão do deslocamento da frequência e a sua duração dependem das características da carga e da resposta do sistema de geração a mudanças de carga. A norma portuguesa é clara indicando que a frequência da tensão em sistema de MAT e de AT deve estar entre 49,5 Hz e 50,5 Hz durante 95 % do tempo de medição num período de uma semana [2]. Para MT e BT o limite temporal de medição estreita-se, 49,5 Hz e 50,5 Hz durante 99 % do tempo de medição num período de uma semana [3]. As variações de frequência que escapam dos limites aceites para o normal funcionamento em regime permanente do sistema de energia são normalmente causadas por falhas na estrutura de transmissão de energia, com a desconexão de um grande bloco de cargas, ou quando uma grande fonte de geração de energia é desligada do sistema energético [1]. 12 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução Todavia as variações da frequência fundamental que podem afetar a operação da maquinaria rotativa ou os processos que deduzem a sua temporização a partir da frequência fundamental, são raros nos sistemas modernos interconectados. É mais provável que ocorram variações na frequência fundamental em equipamentos que são alimentados por geradores isolados afastados da rede. 1.1.5. Variações do Valor Eficaz As Variações do Valor Eficaz ocorrem quando a amplitude da tensão da rede elétrica é alterada, e podem ser classificadas de acordo com a sua duração: curta ou longa. As variações de curta duração são quase sempre causadas por condições de falha, pelo acionamento de cargas com corrente de entrada elevada, ou por conexões soltas intermitentes nas ligações do sistema de energia. Mediante a localização da falha e das condições do sistema, esta pode causar subidas temporárias da tensão (Sobretensões), quedas de tensão (Cavas), ou a falha completa da tensão (Interrupções). As variações de longa duração englobam os desvios do valor eficaz que ocorrem em intervalos de tempo superiores a 1 minuto. Cavas de Tensão A terminologia cava (sag em inglês) é usada para descrever uma redução abrupta, para 90% a 1% do valor eficaz da tensão, seguida de uma restituição da tensão nominal num período que pode alternar entre 10 ms e 1 minuto [2]. Na Figura 1.14 está uma representação de uma cava de tensão com uma diminuição de 46 V, ou seja mais de 20 % inferior ao valor eficaz nominal. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Time (s)(s) Tempo Figura 1.14 – Forma de onda de tensão com uma cava. Este fenómeno está normalmente associado a falhas no sistema de alimentação mas também pode ser causado pelo arranque de motores de elevada potência e por Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 13 Capítulo 1 - Introdução mudanças no funcionamento de grandes cargas [1]. Sobre este ponto a norma portuguesa indica que a maioria das cavas de tensão não excedem 1 s e a sua magnitude é geralmente inferior a 60 % do valor eficaz da tensão nominal [3]. Sobretensões Uma sobretensão é um aumento do valor eficaz da forma de onda da tensão que, assim como as cavas, estão geralmente associadas a situações de falha no sistema elétrico. Também podem ocorrer sobretensões quando uma grande carga é desconectada do sistema de alimentação ou quando se liga um grande banco de condensadores ou mesmo numa definição incorreta dos taps de um transformador. Na Figura 1.15 encontra-se representada uma situação de uma sobretensão em que a tensão aumenta 50 V, ou seja mais de 20 % acima do valor nominal. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Time (s)(s) Tempo Figura 1.15 – Forma de onda de tensão com uma sobretensão. As sobretensões são caracterizadas pela sua magnitude e duração. Numa condição de falha também deve ser levada em conta a localização da falha, a impedância da instalação e a ligação à terra do sistema. A magnitude da sobretensão situa-se geralmente entre 10 % a 80 % acima da tensão eficaz nominal; em relação à duração esta pode ser de curta (entre 10 ms e 60 s) ou de longa duração (mais de 60 s) [1]. A norma NP EN 50 160, na qual se baseia a norma portuguesa, é um pouco vaga e com critérios bastante alargados, indicando apenas que as sobretensões temporárias à frequência fundamental são usualmente inferiores a 1,5 kV de valor eficaz para BT [3]. Interrupções Quando a tensão do sistema ou a corrente da carga diminuem para valores inferiores a 1 % do seu valor nominal é dito que ocorreu uma interrupção. As interrupções podem ser o resultado de falhas no sistema elétrico, defeitos do controlo e 14 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução falhas de equipamentos. Este evento é caracterizado pelo seu tempo de duração que varia de acordo com a sua origem. A Figura 1.16 mostra uma situação em que ocorreu uma interrupção. Tensão (V) 400 300 200 100 0 -100 -200 -300 -400 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Time (s)(s) Tempo Figura 1.16 – Forma de onda de tensão com uma interrupção. Por exemplo se ocorreu uma falha no sistema elétrico a duração da interrupção dependerá dos dispositivos de proteção da instalação e do acontecimento particular que provocou a falha. Uma interrupção pode também ser precedida por uma cava de tensão; neste caso a interrupção ocorre no período de tempo entre a cava de tensão e o acionamento do dispositivo de proteção [1]. Em relação aos limites impostos pela norma vigente [2], estes são estipulados mediante zonas, duração e número de ocorrências anuais para interrupções de longa duração, devendo ser cumpridas pelos operadores das redes de distribuição, e encontram-se descritas na Tabela 1.2. Tabela 1.2 – Limites de interrupções mediante zonas geográficas. Zonas Geográficas Duração (horas) Nº de interrupções anuais AT MT BT AT MT BT A3 4 4 6 8 8 12 B4 4 8 10 8 16 21 C5 4 16 20 8 25 30 3 Capitais de distrito e localidades com mais de 25 mil clientes. Localidades com um número de clientes compreendido entre 2500 e 25 mil clientes. 5 Restantes locais. 4 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 15 Capítulo 1 - Introdução O tempo de duração de uma interrupção pode variar, pelo que encontra-se dividido em diferentes classes. Se durar menos de 3 minutos é uma interrupção de curta duração; se pelo contrário uma interrupção durar mais de 3 minutos diz-se de longa duração. Esta classificação é fulcral, pois é ela que determina qual o equipamento e/ou procedimento mais indicado para corrigir este problema de QEE. No caso de interrupções de curta duração, a informação não se encontra tão bem detalhada, mas está estabelecido que para MT e BT não podem exceder em número as poucas centenas por ano, e 70 % delas devem ser inferiores a 1 s [3]. 1.1.6. Transitórios O termo transitório é usado há muitos anos na análise das variações do sistema de energia para descrever um evento de natureza momentânea e indesejado [1]. Em termos gerais, os transitórios podem ser classificados em duas categorias, impulsivos e oscilatórios. Para ambas as categorias estes fenómenos normalmente não excedem 6 kV e o tempo de subida (rise time) está compreendido entre os microssegundos e os milissegundos [3]. Transitório Impulsivo Um transitório impulsivo é representado por uma alteração repentina das condições nominais de tensão e/ou corrente, que é unidirecional na sua polaridade. Este género de fenómeno pode ser caracterizado pelo seu tempo de subida e de descida e pelo seu conteúdo espectral. Na Figura 1.17 encontra-se representada uma situação onde ocorreu um transitório impulsivo. Tensão (V) 700 525 350 175 0 -175 -350 -525 0 0.005 0.01 0.015 0.02 Time (s)(s) Tempo Figura 1.17 – Forma de onda de tensão com transitório impulsivo. As causas mais comuns dos transitórios impulsivos são as descargas elétricas atmosféricas. Os transitórios impulsivos, devido às altas frequências envolvidas, podem 16 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução facilmente alterar a sua forma através de componentes de circuitos e podem ser amortecidos através de circuitos resistivos. Também é possível este tipo de transitórios excitarem a frequência natural de circuitos ressonantes existentes na rede elétrica dando origem a transitórios oscilatórios. Transitório Oscilatório Um transitório oscilatório consiste numa tensão ou corrente cujo valor instantâneo altera de polaridade rapidamente e é caracterizado pela sua magnitude, duração e conteúdo espectral. Ao caracterizar um transitório oscilatório é importante indicar a sua magnitude com e sem a componente fundamental Um exemplo de um transitório oscilante encontra-se representado na Figura 1.18. Tensão (V) 450 300 150 0 -150 -300 -450 0.02 0.025 0.03 0.035 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 1.18 – Forma de onda de tensão com transitório oscilante. Embora este tipo de transitório de alta frequência possa ser originado na resposta de um circuito ressonante a um transitório impulsivo, os transitórios oscilatórios estão quase sempre associados a um fenómeno de comutação. Os equipamentos de eletrónica de potência podem produzir transitórios oscilatórios de tensão como resultado da comutação dos seus semicondutores e dos circuitos snubber RLC. Os transitórios oscilatórios podem também ocorrer na energização de bancos de condensadores e transformadores e na ocorrência de eventos ferrorressonantes. 1.2. Cargas Não-Lineares Uma tensão sinusoidal aplicada a uma carga não-linear não resulta num consumo de corrente sinusoidal por parte da carga. Na Figura 1.19 pode-se analisar a relação entre a corrente e tensão numa carga não-linear genérica. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 17 Capítulo 1 - Introdução i t i(t) Carga não-linear I v v(t) t V Figura 1.19 – Relação entre a tensão e a corrente numa carga não-linear. Como já referido na subsecção 1.1.2, estas correntes não sinusoidais, enquanto fluem pela impedância de linha, provocam quedas de tensão não sinusoidais que distorcem a forma de onda da tensão. Pode-se então pronunciar que a distorção harmónica no sistema elétrico é uma causa direta da existência de cargas não-lineares. Na Figura 1.20 encontram-se representadas diversas cargas lineares com funções, dimensões e potências distintas. Figura 1.20 – Exemplos de cargas não-lineares. Em cima: computador desktop, lâmpada fluorescente compacta, televisor LCD e conversor de potência; em baixo: impressora, variador de velocidade para motores elétricos e forno a arco. Os retificadores a díodo ou tíristor de potências elevadas, os cicloconversores e os fornos a arco são tipicamente caracterizados como cargas não-lineares identificadas, uma vez que os concessionários de energia elétrica, em muitos casos, identificam as cargas individuais não-lineares instaladas por consumidores de elevada potência nas 18 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução redes de distribuição de energia. Os concessionários podem depois determinar o ponto de acoplamento comum com os consumidores de elevada potência que detenham grandes cargas não-lineares, o que possibilita que os utilitários possam determinar a quantidade de corrente harmónica de cada consumidor [4]. Um retificador de baixa potência produz uma quantidade de harmónicos de corrente negligenciável. Todavia, múltiplos retificadores de baixa potência podem injetar uma grande quantidade de harmónicos na rede de distribuição de energia. Os equipamentos com retificadores de baixa potência utilizados como interface de um aparelho elétrico, como as lâmpadas fluorescentes compactas, fontes de alimentação de computadores ou fotocopiadoras e impressoras, são tipicamente designados como cargas não-lineares não identificadas. Esta questão da classificação das cargas não-lineares é um ponto particularmente relevante, já que permite escolher o método de compensação mais adequado para cada carga ou conjunto de cargas. Uma boa maneira de perceber a diferenciação entre cargas identificadas e não identificadas é através da Tabela 1.3 que estabelece uma analogia entre as fontes de poluição harmónica e poluição atmosférica [7]. Tabela 1.3 – Analogia entre a origem da poluição harmónica e atmosférica [7]. Fontes Poluição Harmónica Poluição Atmosférica Cicloconversores Centrais Químicas Fornos a Arco Centrais Elétricas a Carvão Não Computadores Veículos a combustíveis fosseis Identificadas Lâmpadas Fluorescentes Sprays Aerossol Identificadas Quando se pretende mitigar os efeitos das cargas não-lineares no sistema elétrico nem sempre são utilizados métodos ativos de compensação. Existem soluções mais conservadoras e de baixo custo que se for levado em conta o conteúdo harmónico na fase de projeto de uma instalação elétrica garantem que essa instalação esteja preparada para lidar com o conteúdo harmónico que possa existir. Duas dessas soluções, que surgem apresentadas de seguida, passam pelo correto dimensionamento do condutor neutro em sistemas trifásicos e pela aplicação do Fator K na altura de escolher o transformador que alimentará a instalação projetada. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 19 Capítulo 1 - Introdução 1.2.1. Fator K Quando uma carga não-linear é alimentada a partir de um transformador o núcleo ferromagnético deste elemento exibe geralmente um sobreaquecimento anormal que pode conduzir a falhas no isolamento ou até mesmo à destruição do equipamento. Estas perdas caloríficas resultam sobretudo das correntes parasitas (eddy currents) existentes nos enrolamentos do transformador, já que estas aumentam aproximadamente com o quadrado da frequência [8]. Na realidade, com o aumento das perdas energéticas, um transformador que foi dimensionado para uma carga expectável pode ser insuficiente; portanto na presença de harmónicos de corrente os produtores e utilizadores aplicam uma condição de desclassificação da potência do transformador conhecido como Fator K que relaciona a capacidade do transformador servir graus variáveis de carga não-linear sem exceder os limites de temperatura esperados, e o seu cálculo, baseado nas práticas europeias BS 7821 Part 4 e HD 538.3.S1, é descrito pela equação (1.14). 2 I e I1 n N K 1 n 2 n q n 1 e I I1 2 0.5 (1.14) Na equação (1.14): e são as perdas devido a correntes parasitas à frequência fundamental a dividir por uma corrente contínua igual ao valor eficaz da corrente sinusoidal; n é a ordem do harmónico; I é o valor eficaz da corrente contando com harmónicos e componente fundamental; I1 é a magnitude da corrente à frequência fundamental; In é a magnitude da corrente do harmónico de ordem n; q é uma constante exponencial que depende do tipo de enrolamento e frequência. A principal vantagem de um transformador ao qual foi aplicado o Fator K é que à altura do seu dimensionamento foi levada em consideração a existência de cargas nãolineares o que reduz as perdas energéticas globais (nos enrolamentos e no circuito magnético) inerentes ao funcionamento do transformador. Por outro lado, o transformador é sobredimensionado o que o torna menos eficiente: continua a haver um excesso de energia dissipada no transformador que deveria ser mitigada; também o núcleo de ferro é maior do que o necessário o que acrescenta potenciais problemas de instalação e manutenção [8]. 1.2.2. Dimensionamento do Condutor Neutro Idealmente os sistemas trifásicos ligados em estrela onde as correntes estejam equitativamente distribuídas pelas três fases designam-se como sistemas trifásicos 20 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução equilibrados e, nestes casos, a soma dos fasores das correntes em qualquer momento é igual a zero, implicando que a corrente no condutor neutro seja igualmente zero. Na Figura 1.21 encontra-se uma representação do sistema descrito. Figura 1.21 – Representação de um sistema trifásico sem corrente no neutro. Numa situação real, como na Figura 1.22, as cargas em cada fase raramente se encontram dispostas de maneira igual, o que se repercute na corrente do condutor neutro que dificilmente é zero. Porém, geralmente a corrente no neutro é muito baixa e é certamente muito inferior à corrente que passa nas linhas. Figura 1.22 – Representação de um sistema trifásico com corrente no neutro. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 21 Capítulo 1 - Introdução Num cenário em que existam cargas não-lineares, e mesmo que estas estejam equilibradas nas 3 fases, é provável que a corrente do condutor neutro seja diferente de zero, e que seja inclusive superior à corrente das linhas, como está representado no cenário da Figura 1.23. Ou seja, a soma das três correntes não sinusoidais provenientes das linhas, mesmo com um valor eficaz idêntico, pode ter um valor diferente de zero. No caso do sistema da Figura 1.23 existem harmónicos de ordem múltipla de três em cada uma das fases, e que devido a serem de sequência homopolar encontram-se em fase uns com os outros (ver subsecção 1.1.1) consequentemente somando-se no condutor neutro ao invés de se cancelarem através da soma de fasores como de resto acontece com os restantes harmónicos de sequência direta ou indireta. Figura 1.23 – Representação de um sistema trifásico com corrente harmónica no condutor neutro. Este problema deve ser levado em consideração para o dimensionamento do condutor neutro em instalações onde sejam encontradas correntes não sinusoidais, existindo como referência a norma IEC 60364-5-524 que providência regulamentação para situações como a descrita anteriormente. Embora seja obrigatório as instalações cumprirem com esta norma, para colocá-la devidamente em prática é necessário conhecer o número de cargas, e as características das mesmas, que farão parte da instalação após esta ser colocada em funcionamento. Ora, isto raramente é possível, pelo que para além de conceber uma instalação que cumpra com as diversas cláusulas, o projetista deve seguir as recomendações e boas práticas propostas nos anexos da norma referente [9]. 22 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução 1.3. Enquadramento A Qualidade de Energia Elétrica (QEE) é um aspeto importante, que juntamente com o preço, define o valor que os clientes atribuem à energia elétrica que consomem. Ao longo da última década a atenção da comunidade científica sobre a QEE aumentou de uma forma acentuada. Relacionado a este aumento de interesse encontram-se razões como a iminente desregulação do mercado da energia, o aumento da complexidade das redes de elétricas, a sensibilidade da maioria das cargas atuais e a preocupação em aumentar a eficiência energética. É estimado que problemas relacionados com a QEE custem à indústria e ao comércio da União Europeia mais do que € 150 mil milhões por ano [10]. Este valor tenderá a aumentar no futuro com a introdução crescente de cargas não-lineares sensíveis a problemas de QEE nas habitações, empresas de serviço e comércio, e em indústrias. Todavia o impacto adverso dos problemas de QEE nas cargas, e no sistema elétrico como um todo, pode ser minimizado, pois existem equipamentos de compensação capazes de solucionar ou mitigar estes problemas. Exemplos desses equipamentos de compensação são os Filtros Ativos de Potência. Existem duas topologias básicas de Filtros Ativos, paralela e série, onde cada uma é capaz de lidar com diferentes problemas de Qualidade de Energia Elétrica. A topologia paralela é normalmente utilizada para corrigir problemas relacionados com a corrente consumida por uma carga e com a potência reativa (distorção harmónica da corrente, desequilíbrios de corrente e correção de fator de potência), ao passo que a topologia série é mais indicada para lidar com os problemas relacionados com a tensão (distorção harmónica da tensão, flutuações da tensão, subtensões e sobretensões, desequilíbrios de tensão) [11]. Esta Dissertação de Mestrado Integrado debruça-se sobre os Filtros Ativos de Potência do Tipo Série, e consiste no estudo, implementação e teste de um Filtro Série Monofásico, para compensação de harmónicos de tensão, e sem alimentação do lado CC. Desta forma, para além de produzir as tensões de compensação, o próprio conversor série ficará encarregado de realizar a regulação da tensão do lado CC. 1.4. Motivações É pretendido com esta Dissertação de Mestrado dar continuidade a uma linha de investigação já iniciada na área dos Filtros Ativos de Potência no GEPE-UM (Grupo de Eletrónica de Potência e Energia da Universidade do Minho). Ao longo dos anos foram desenvolvidos e testados diversos equipamentos para melhorar a QEE, com o intuito de reconhecer a aplicabilidade de cada solução para uma problemática específica. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 23 Capítulo 1 - Introdução A interdisciplinaridade inerente a uma área como a Eletrónica de Potência permitiu validar valências, que na sua maioria foram obtidas no decurso da formação universitária, assim como adquirir novas capacidades e conhecimentos nas mais variadas áreas de conhecimento da Engenharia Eletrónica, tornando todo o trabalho desenvolvido uma experiência de aprendizagem especialmente proveitosa. Pode-se afirmar que grande parte das principais áreas de estudo ministradas na formação académica foram incorporadas neste projeto, já que, foi necessário adquirir saberes na área da Instrumentação e Sensores de maneira a ler os sinais analógicos de elevada potência e realizar o condicionamento apropriado dos valores obtidos a partir dos sensores, deter conhecimentos em Teoria de Controlo de forma a desenvolver e adaptar estratégias de controlo e identificar as suas limitações, e também a experiência na Programação de Microcontroladores e os estudos de Processamento Digital de Sinais saem fortalecidos no final desta prática. Atendendo a um plano mais pessoal, e tendo em vista a inserção no mercado de trabalho e o desenvolvimento profissional, a possibilidade de conceber um projeto numa área com tanto potencial de crescimento e que incorpora um número tão elevado de conhecimentos expande horizontes e aumenta o leque de opções no mundo laboral. 1.5. Objetivos O principal objetivo desta dissertação é realizar um estudo aprofundado e implementar um Filtro Ativo Série, apenas para compensação de harmónicos de tensão, e sem alimentação do lado CC. Espera-se que o próprio conversor série realize a regulação da tensão do lado CC. De acordo com os pontos anteriormente descritos, o trabalho proposto pode ser resumido nas seguintes tarefas: - Realização de simulações computacionais com recurso ao software PSIM; - Desenvolvimento do sistema de controlo do Filtro Ativo Série; - Desenvolvimento do andar de potência do Filtro Ativo Série; - Teste do Filtro Ativo Série numa instalação (teste em bancada). 1.6. Organização da Dissertação Esta Dissertação de Mestrado está dívida em sete capítulos que se encontram estruturados da seguinte formato: O primeiro capítulo serve como introdução ao documento em questão. São analisados os problemas relacionados com Qualidade de Energia Elétrica, onde as questões associadas a cargas não-lineares são alvo de especial enfoque. 24 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 1 - Introdução No segundo capítulo são apresentados os equipamentos capazes de lidar com os problemas examinados no capítulo precedente, centrando-se naqueles dispositivos que são conectados em série com o sistema elétrico, sendo discutidos os seus métodos de funcionamento, assim como as vantagens e desvantagens de cada um. Após uma análise completa das soluções para os problemas de QEE, no terceiro capítulo passa-se em revista algumas teorias de controlo para os Filtros Ativos Série, assim como algumas técnicas para geração do sinal de referência da tensão. O quarto capítulo integra as simulações realizadas no software PSIM, que serviram para validar o que foi dito nos capítulos anteriores, projetando um sistema que exiba as sinergias existentes entre o circuito de potência e o sistema de controlo. A etapa alusiva à implementação do Filtro Ativo Série é documentada no quinto capítulo. São abordados com especial atenção os principais elementos do sistema projetado. No sexto capítulo são apresentados os resultados obtidos e estabelecidas comparações com o que era esperado a partir das simulações e com o que foi obtido nas medições e testes do protótipo de bancada implementado. Por último, no sétimo capítulo são apresentadas as conclusões retiradas do trabalho realizado, as valências adquiridas na realização desta Dissertação de Mestrado e sugeridas alterações futuras ao sistema implementado com intuito de melhorar e otimizar esse mesmo sistema. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 25 CAPÍTULO 2 Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série 2.1. Introdução Apresentados os problemas de Qualidade de Energia Elétrica (QEE) no capítulo Introdução, neste capítulo pretende-se apresentar as atuais soluções para os mesmos utilizando equipamentos de Eletrónica de Potência e concentrando atenções naqueles sistemas que são colocados em série com o sistema elétrico ou que inserem uma parte significativa do circuito potência em série com a rede elétrica. Objetivamente estes dispositivos pretendem proteger as cargas de problemas de QEE que têm origem, de forma direta ou indireta, a partir da sua fonte de alimentação. De resto os condicionadores do tipo série apontam essencialmente para a correção de problemas associados à tensão, onde sistemas como os DVRs (Dynamic Voltage Restorer), as UPSs (Uninterruptible Power Supplies) e os FASs (Filtros Ativos de Potência Série) são exemplos disso mesmo. Porém, apesar da sua particular disposição, os condicionadores do tipo série, não se limitam a lidar com problemas relacionados com a tensão, já que, por exemplo, equipamentos como o UPFC (Unified Power Flow Controller), o UPQC (Unified Power Quality Conditioner) ou o TCSC (ThyristorControlled Series Capacitor) são capazes de corrigir problemas associados com a corrente que passa na carga, ou com a potência reativa do sistema elétrico. Neste capítulo será realizada uma análise a cada dispositivo apresentado, apresentando o circuito de potência de cada equipamento e atentando para as vantagens e desvantagens inerentes a cada um. 2.2. Thyristor-Controlled Series Capacitor (TCSC) O Thyristor-Controlled Series Capacitor (TCSC) faz parte da primeira geração de dispositivos condicionadores ligados em série com o sistema elétrico [12], e consiste na ligação em paralelo de um Thyristor-Controlled Reactor (TCR) com um condensador que por sua vez está conectado em série com a rede elétrica. Na Figura 2.1 é representado o esquema de ligações de um TCSC. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 27 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série Figura 2.1 – Esquema unifilar do TCSC. O TCSC permite o controlo contínuo da potência reativa do sistema de transmissão de energia a partir do controlo do ângulo de disparo dos tirístores, que permite regular a impedância equivalente do circuito LC [12]. Esta relação direta entre o ângulo de disparo, α, e a impedância equivalente determina o tipo de potência reativa, capacitiva ou indutiva, que o TCSC injeta no sistema. Tendo esta situação em consideração, podem ser definidas três zonas de operação do TCSC: indutiva, capacitiva e de ressonância [13, 14]. Na Figura 2.2 é possível identificar as três zonas de operação do TCSC para além da forma como a impedância equivalente varia em função do ângulo de disparo α. XL Zona Capacitiva Zona Ressonância 90º Zona Indutiva C lim L lim 180º XC Figura 2.2 – Zonas de operação do TCSC. Assim sendo, enquanto α varia entre 90º αLlim e, a impedância equivalente do TCSC comporta-se como uma indutância variando de acordo com a seguinte condição: 90º L lim 0 X L 28 (2.1) Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série De maneira análoga, para quando α variar entre e 180 º, a impedância equivalente do TCSC tem um comportamento similar a um condensador que varia mediante a condição (2.2): C lim 180º X c 0 (2.2) Resta referir que para L lim C lim , a impedância equivalente do TCSC encontra-se em ressonância. As principais vantagens dos TCSC são a sua simplicidade, quer nos componentes utilizados quer nas técnicas de controlo implementadas, e o seu custo reduzido em relação a outras soluções. Também o próprio esquema de ligação é vantajoso, já que os condensadores ligados em série têm algumas vantagens em relação a condensadores ligados em paralelo. Por exemplo, para conseguir os mesmos benefícios para o sistema elétrico, os condensadores ligados em paralelo necessitam de três a seis vezes mais potência do que se estivessem ligados em série [15]. Porém, o TCSC apresenta também algumas desvantagens, sendo a principal o facto de introduzir harmónicos no sistema de transmissão devido à comutação dos semicondutores [14]. 2.3. Dynamic Voltage Restorer (DVR) Um Dynamic Voltage Restorer (DVR) é um dispositivo conectado em série com o sistema elétrico que regula a tensão do lado da carga, e que é normalmente instalado no sistema de distribuição entre a fonte e a carga cuja tensão se pretende regular. A sua função principal é compensar rapidamente a tensão do lado da carga assim que se detete um distúrbio na tensão de alimentação, permitindo assim que se mantenha um fluxo constante de energia para a carga [16]. Basicamente, um DVR protege a carga de variações no valor eficaz da tensão, quer sejam sobretensões, subtensões, flutuações do valor eficaz ou desequilíbrios. Adicionalmente um DVR também pode ser utilizado para mitigar transitórios de tensão [17]. Na sua estrutura básica um DVR engloba um conversor CA-CC, um banco de condensadores no barramento CC, um conversor CC-CA, e um transformador como interface entre o DVR e o sistema elétrico, embora este último elemento possa ser preterido [17, 18]. Na Figura 2.3 está representada a forma como os diferentes elementos se agrupam para formar o DVR. O DVR funciona independentemente do tipo de falha existente no sistema, mantém-se constantemente ligado à rede elétrica e apresenta dois modos de operação: “standby” e “boost” [16, 19]. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 29 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série Figura 2.3 – Esquema unifilar de um DVR. No “modo standby” o sistema encontra-se com a tensão estabilizada, pelo que não existe tensão a ser compensada, então o enrolamento do transformador de saída do lado do DVR é curto-circuitado através de um percurso estabelecido pelo conversor CC-CA sendo neste modo que o DVR passa a maior parte do tempo. Neste modo não ocorre nenhuma comutação nos interruptores do conversor, verificando-se apenas perdas de condução que são muito inferiores comparativamente com as perdas energéticas registadas devido à comutação dos semicondutores [16]. O segundo modo de operação, o “modo boost”, entra em funcionamento quando o DVR necessita regular a tensão fornecida à carga. Os sistemas DVR utilizam bancos de condensadores como elementos armazenadores de energia [20]. Estes são os dispositivos mais comuns para armazenar energia no barramento CC sendo que recentemente passaram a ser utilizados baterias e ultracondensadores [16]. 2.4. Uninterruptible Power Supply (UPS) A UPS é um sistema de Eletrónica de Potência que deve fornecer energia elétrica a uma carga de uma forma contínua, confiável, e com qualidade 6. Este tipo de equipamento garante a alimentação de cargas sensíveis durante interrupções, assim como a sua proteção de distúrbios nas tensões de alimentação. Os regimes transitórios e os problemas relacionados com harmónicos podem também ser mitigados com a utilização de uma UPS. Numa abordagem mais geral, a UPS é um equipamento que incorpora dois tipos de conversores de potência, um conversor CA-CC e outro CC-CA. O conversor CA-CC fica responsável pelo carregamento dos elementos armazenadores de energia (geralmente um banco de baterias), enquanto o conversor CC-CA fica responsável pela alimentação contínua da carga. 6 Contudo, cabe ressaltar que algumas UPSs não garantem a alimentação com qualidade, uma vez que a tensão fornecida à carga é muito distorcida. 30 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série Os sistemas UPS podem ser agrupados em três tipos: estáticos, rotacionais e híbridos (estáticos e rotacionais) [21], sendo que os sistemas do tipo estático, como são os mais utilizados, serão os únicos a serem abordados neste secção. 2.4.1. Off-Line UPS Esta configuração, que também é conhecida como Standby UPS ou Line-Preferred UPS, não realiza um condicionamento permanente da energia entregue às cargas pois apenas entra em funcionamento quando ocorre uma anomalia . A Figura 2.4 mostra a topologia simplificada deste tipo de UPS que engloba um conversor CA-CC, um inversor CC-CA e um banco de baterias. Este tipo de topologia tem dois modos de funcionamento: “modo normal” e “modo energia armazenada” [22-24]. Figura 2.4 – Esquema unifilar da Off-Line UPS. Durante a operação normal do sistema, ou seja, quando a carga é alimentada diretamente a partir da rede, o conversor CA-CC carrega o banco de baterias e o conversor CC-CA permanece em standby. Também é possível no “modo normal” proteger a carga contra transitórios usando supressores de picos de tensão. Uma vez detetada uma anomalia (interrupções, subtensões, variações da frequência, etc.) no fornecimento de energia elétrica a partir da rede elétrica, é cortada a ligação entre a fonte e a carga, e esta passa a ser alimentada pela energia armazenada nas baterias do sistema UPS. Este modo de operação é denominado por “modo energia armazenada”. Neste modo de operação a carga é alimentada pelo banco de baterias através do inversor. A mudança do “modo normal” para o “modo energia armazenada” é efetuada através de um comutador estático, e o seu tempo de transferência é compreendido entre ¼ de ciclo e ½ ciclo da rede, o que é suficiente para manter o correto funcionamento de grande parte das aplicações, como os computadores pessoais, mas insuficiente para cargas mais sensíveis. Esta topologia tem como principais vantagens a sua simplicidade, baixo custo, e dimensões reduzidas. Por outro lado, tem como desvantagens principais a incapacidade Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 31 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série de regular a tensão de saída, o seu relativamente longo tempo de comutação entre estados de funcionamento, e o fraco desempenho com cargas não-lineares. Por estas razões os sistemas Off-Line UPS encontram-se limitados a aplicações abaixo dos 2 kVA [23]. 2.4.2. On-Line UPS Os sistemas On-Line UPS, ou sistemas Double-Conversion UPS, ou ainda sistemas Inverter-Preferred UPS, consistem num retificador, num banco de baterias, num inversor, num comutador estático e em dois interruptores semicondutores. Na Figura 2.5 encontra-se representado o esquema simplificado de um sistema On-Line UPS. Figura 2.5 – Esquema unifilar da On-Line UPS. Esta topologia apresenta três modos de operação: “modo normal”, “modo energia armazenada” e “modo bypass” [22-24]. No “modo normal” a carga é continuamente alimentada através do sistema UPS, ou seja acontece uma dupla conversão: o conversor CA-CC está responsável por carregar o barramento CC (banco de baterias) e fornecer energia ao conversor CC/CA que por sua vez a usa para alimentar a carga. Neste modo de operação, o sistema UPS pode ser utilizado para reduzir o conteúdo harmónico das correntes e das tensões e/ou corrigir o fator de potência [25, 26] De facto, o retificador desta topologia tem que ter um nível de potência mais elevado do que nas restantes topologias, o que, em conjunto com o alto nível de proteção oferecido, aumenta os custos globais do sistema. O segundo modo de operação, o modo “energia armazenada”, é ativado quando o sistema deteta distúrbios do lado da fonte, que podem ser interrupções, variações nos valores da frequência e variações nos valores da tensão. Neste caso, o sistema UPS desliga-se da rede elétrica e fornece energia à carga enquanto houver energia 32 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série armazenada nas baterias ou enquanto a forma de onda da tensão proveniente da fonte não voltar à normalidade. Uma vez restaurada a normalidade, é necessário um circuito de sincronismo (e.g., Phase-Locked Loop - PLL) para que a tensão da carga esteja em fase com a tensão de entrada, para só depois o sistema voltar ao “modo normal” de operação. Por último, o “modo bypass” é implementado no sistema para lhe conceder um determinado nível de redundância, sendo acionado quando ocorre algum problema com o funcionamento interno da UPS como sobrecargas ou baterias descarregadas. Este modo é também utilizado na depuração de falhas e na manutenção do equipamento (usualmente existe um circuito de bypass de manutenção). Convém salientar que é necessário a tensão da carga estar em fase com a tensão de entrada e ambas terem a mesma frequência para ingressar neste modo de funcionamento, e tal pode ser conseguido através de um circuito de sincronismo como já foi referido. A topologia On-Line UPS tem como principais vantagens, a forma precisa como a tensão da carga pode ser regulada, o facto de praticamente não haver tempo de transferência entre o “modo normal” e o “modo energia armazenada”, o que garante à carga uma alimentação estável, e de ser possível regular e alterar a frequência de saída (esta última não é possível no modo “bypass”) [24]. Esta configuração apresenta também uma elevada tolerância a variações da tensão de entrada e uma regulação precisa da tensão de saída, não permitindo que os problemas de qualidade de energia da rede elétrica afetem a carga (existe um isolamento efetivo dos problemas da rede elétrica em relação à carga), contando que o sistema funcione ou em “modo normal” ou em “modo energia armazenada”. Outro aspeto positivo prende-se com o desempenho, que é superior aos das restantes topologias. Em contraponto este sistema apresenta também algumas desvantagens, como o seu custo inicial elevado, justificado pelo maior valor de potência do seu conversor CA-CC e pelo nível de proteção apresentado [27]. Também apresenta um menor rendimento devido à sua natureza de dupla conversão e funcionamento contínuo. Durante o funcionamento no “modo normal” a energia atravessa dois conversores, o que conduz a perdas energéticas mais elevadas e consequentemente a um rendimento mais baixo. 2.4.3. Line-Interactive UPS Como é mostrado na Figura 2.6, um sistema UPS Line-Interactive é composto por um comutador estático, um conversor bidirecional, e um banco de baterias. Esta topologia tanto pode funcionar como uma On-Line UPS ou como uma Off-Line UPS, porém grande parte dos sistemas UPS Line-Interactive operam on-line de maneira a Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 33 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série melhorar o fator de potência da carga ou para regular a tensão da carga [21, 28]. Existem dois modos de operação de uma Line-Interactive UPS: o “modo normal” e o “modo energia armazenada” [22-24]. Figura 2.6 – Esquema unifilar da Line-Interactive UPS. No “modo normal” de funcionamento a carga é alimentada a partir da rede elétrica e o conversor bidirecional assume o papel de carregador do banco de baterias, embora também possa ser utilizado para manter a tensão de saída estabilizada ou para melhorar o fator de potência da carga [21]. Para regular a tensão da carga, a LineInteractive UPS fornece ao sistema elétrico potência reativa em caso de cava de tensão, ou consome potência reativa em caso de sobretensão [28]. Quando a ligação à rede não se encontra disponível ou encontra-se fora dos limites aceitáveis, a UPS passa a funcionar no “modo energia armazenada”, o conversor bidirecional passa a funcionar como inversor e fornece energia à carga a partir do banco de baterias. O comutador estático é aberto de forma a evitar o fornecimento de energia à rede. O sistema UPS mantém-se neste regime de operação até a ligação à rede ser restaurada dentro dos limites estabelecidos ou enquanto houver energia nas baterias. A Line-Interactive UPS apresenta como vantagens o facto de no “modo normal” a corrente retirada da rede servir essencialmente para alimentar a carga, pelo que não injeta harmónicos adicionais de corrente na rede, o que é uma vantagem importante em relação à topologia do sistema On-Line UPS. Ainda em comparação com sistemas On-Line UPS, a topologia Line-Interactive UPS denota uma maior simplicidade o que se traduz em custos mais baixos e maior fiabilidade. Todavia a falta de isolamento efetivo da carga em relação à rede e a impossibilidade de regular a frequência são desvantagens evidenciadas pelo sistema Line-Interactive UPS. Também a deficiente regulação da tensão no modo “normal”, devido ao inversor não estar ligado em série com a carga, e a ausência de proteção contra transitórios, são limitações deste sistema. 34 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série 2.5. Filtros Ativos de Potência Série e Condicionadores Ativos Série As configurações do circuito de potência dos Filtros Ativos de Potência, estão intimamente relacionadas com as aplicações para as quais são concebidos, sendo certas configurações mais indicadas para lidar com alguns problemas de qualidade de energia do que outras. Algumas topologias podem apenas ser utilizadas para certas gamas de potência e devem incluir aspetos de controlo específicos. Na sua configuração série, o filtro ativo de potência, sintetiza uma tensão em oposição de fase em relação às componentes harmónicas da tensão de alimentação, para garantir uma forma de onda da tensão sinusoidal para alimentar a carga. Os Filtros Ativos de Potência Série (FAS) são ideais para eliminar os harmónicos existentes na forma de onda da tensão. De facto, esta categoria de filtros ativos é usada para melhorar a qualidade de energia do sistema de tensões para o benefício da carga, já que fornecelhe uma tensão de alimentação com uma forma de onda sinusoidal, o que é bastante importante para dispositivos sensíveis a variações na forma de onda da tensão. Já os Condicionadores Ativos Série têm o mesmo princípio de operação do FAS, todavia uma alteração no seu circuito de potência permite que este tipo de equipamento compense uma maior gama de problemas de QEE (equilibrar as tensões num sistema trifásico, compensar sobretensões e cavas de tensão de longa duração). Na Figura 2.7 encontra-se representada de uma forma simplificada a função desempenhada pelo Filtro Ativo de Potência Série no sistema de transmissão de energia. De referir que o funcionamento do Condicionador Ativo Série é idêntico. Figura 2.7 – Esquema unifilar do Filtro Ativo de Potência Série. 2.5.1. Topologias dos Circuitos de Potência do Filtro Ativo de Potência Série e do Condicionador Ativo Série A topologia do circuito de potência de um Condicionador Ativo Série (FAS) agrupa um inversor (conversor série), um filtro passivo LC e um retificador (conversor paralelo) para regulação da tensão no barramento CC. Esta topologia, apresentada na Figura 2.8, pode ser configurada para regular a tensão fornecida à carga enquanto reduz Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 35 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série os harmónicos existentes na forma de onda da tensão. Esta terminologia, embora difira de muita da literatura existente (que mantém a designação de Filtro Ativo Série mesmo quando são utilizados dois conversores de potência), é útil para distinguir os dois modos de operação distintos e as diferenças na topologia do circuito de potência. v ca a a v cb b b v cc c c n i ca i cb i cc a b c Conversor Paralelo n + V cc a b c Conversor Série Figura 2.8 – Circuito de Potência do Condicionador Ativo Série com transformador de acoplamento no lado do conversor série. Como já foi referido o CAS, para além de mitigar o conteúdo harmónico da tensão da carga pode também compensar variações do valor eficaz da tensão (Cavas e Sobretensões), e Flutuações da Tensão enquanto mantém a tensão do elo CC regulada. Outro aspeto assinalável no CAS é o facto de a sua topologia ser em tudo similar à do UPFC (Unified Power Flow Controller) e à do UPQC (Unified Power Quality Conditioner), o que permite que o CAS seja reconvertido num dos outros dois equipamentos sem alteração do hardware implementado. Todavia, como é evidente é necessário utilizar uma metodologia de controlo diferente para o CAS funcionar como um UPFC ou um UPQC. Quando apenas é pretendido mitigar o conteúdo harmónico e compensar variações de curta duração do valor eficaz da tensão de um sistema elétrico, o circuito de potência pode ser simplificado, sendo possível retirar o conversor paralelo [29, 30] e o equipamento passa a ser designado por Filtro Ativo de Potência Série. Também é possível remover o elemento que faculta isolamento galvânico, ligando desta maneira a saída do inversor diretamente à rede elétrica. Ao prescindir do transformador de acoplamento e do conversor paralelo a dimensão total do sistema diminui, assim como as perdas energéticas. Um exemplo desta topologia pode ser visto na Figura 2.9. 36 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série v ca a a v cb b b v cc c c C R C R C R L L a L b c + VCC Figura 2.9 – Circuito de potência do Filtro Ativo Série com transformador de acoplamento e sem conversor paralelo. Podem também ser adicionados filtros passivos, ligados em paralelo com o sistema elétrico para compensação de harmónicos de corrente para algumas frequências, convertendo, desta maneira, o Filtro Ativo Série num Filtro Ativo Híbrido [31]. Outras topologias possíveis para o circuito de potência são sugeridas em [31], embora algumas delas não sejam muito usuais. 2.5.2. Compensação de Variações do Valor Eficaz da Tensão Como já foi referido anteriormente um dos pontos que distingue o Condicionador Ativo Série (CAS) do Filtro Ativo Série (FAS) é a sua capacidade em lidar com os problemas de QEE associados às Variações do Valor Eficaz e às Flutuações da Tensão. O CAS é capaz de compensar os problemas supra referidos enquanto mantém a tensão no elo CC regulada, o que permite ao CAS manter a tensão aplicada à carga em regime permanente dentro das normas vigentes e em conformidade com os valores nominais da mesma, algo que o FAS é incapaz de fazer. Todavia, se estes problemas ocorrerem em transitórios de duração instantânea ou momentânea (entre 10 ms e 3 s [1]) o FAS pode suspender a função de regulação do barramento CC e utilizar a energia nele armazenada para compensar as Variações do Valor Eficaz da Tensão [32]. Para que tal aconteça deve-se garantir que a potência ativa da carga, Pc, se mantém constante durante a ocorrência de uma cava ou de uma sobretensão, ou seja, a soma da potência ativa da fonte, Ps ,com a potência ativa do filtro, Pf ,deve ser sempre igual a Pc (Ps + Pf = Pc). Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 37 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série Ora num sistema ideal, em que não existam perdas energéticas no FAS e na impedância de linha, e caso não ocorram Variações do Valor Eficaz da Tensão, a potência ativa proveniente da fonte é aproveitada na totalidade pela carga, ou seja: Ps Pc Vs I s cos Vc I s cos (2.3) Pf 0 (2.4) No entanto quando ocorre uma cava de tensão a potência proveniente da fonte diminui, portanto para manter a potência fornecida à carga constante pode-se utilizar a energia armazenada no condensador do FAS para assim compensar a diminuição da potência da fonte originada pela cava de tensão. Na Figura 2.10 encontra-se um esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma cava de tensão. Vs Vc Ps Pc (2.5) Pc Ps Pf (2.6) Ps Pc Cargas Pf Rede Elétrica a b Figura 2.10 – Esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma cava de tensão. Caso ocorra uma sobretensão a potência da fonte aumenta pelo que, para manter a potência da carga constante, o Filtro Ativo Série deve absorver a componente excedentária de potência ativa proveniente da fonte, como está descrito nas equações (2.7) e (2.8). Na Figura 2.11 encontra-se um esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma sobretensão. 38 Vs Vc Ps Pc (2.7) Pc Ps Pf (2.8) Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série Ps Pc Cargas Pf Rede Elétrica a b Figura 2.11 – Esquema representativo do fluxo de potência ativa na ocorrência de uma sobretensão. 2.6. Unified Power Flow Controller (UPFC) Inicialmente proposto por Gyugyi et al. [33], o Unified Power Flow Controller (UPFC) integra num só sistema dois conversores de potência, um ligado em série e outro ligado em paralelo com a rede elétrica, possibilitando o controlo da potência ativa e reativa do sistema de transmissão de energia elétrica e a regulação da tensão desse mesmo sistema. Isto é, o UPFC possibilita controlar ao mesmo tempo três parâmetros essenciais do sistema elétrico: a amplitude e fase da tensão da carga, e a impedância em série da rede elétrica; o que permite gerir o fluxo de potência no sistema de transmissão de energia elétrica. Na Figura 2.12 encontra-se um esquema unifilar de um UPFC. Figura 2.12 – Esquema unifilar do UPFC. No cerne do funcionamento do UPFC estão os conversores back-to-back que partilham o mesmo elo CC, o que permite à potência ativa fluir livremente entre os terminais dos dois conversores e a cada conversor gerar ou absorver a parcela reativa da potência. Para garantir o controlo desse fluxo de potência, o UPFC sintetiza uma corrente (ic) e uma tensão (vc) de compensação pelo conversor paralelo e pelo conversor Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 39 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série série respetivamente. Ambos os conversores são capazes de introduzir potência ativa e reativa no sistema elétrico, apesar de executarem diferentes funções de regulação: o conversor paralelo tem um comportamento similar a um STATCOM (Static Synchronous Compensator) [34], gerindo a potência reativa do sistema através do controlo da corrente ; já o conversor série comporta-se como um DVR (descrito na secção 2.3) compensando abaixamentos de tensão através do controlo da tensão vc e mantendo a tensão da carga em quadratura com a corrente da mesma [35, 36]. Porém, nesta configuração back-to-back, e para manter o seu elemento armazenador de energia regulado, a potência ativa média que entra num dos conversores deve ser igual à potência ativa média que sai no outro conversor: Psérie=Pparalelo. Na prática, a potência ativa média que entra no sistema conversor back-to-back deve ser ligeiramente superior à que sai, de maneira a compensar as perdas nos elementos semicondutores. No circuito de potência do UPFC podem ser utilizados transformadores como interface com a rede elétrica. Não sendo obrigatório que ambos os conversores tenham um transformador acoplado na sua saída, é prática comum que pelo menos um dos conversores tenha isolamento galvânico utilizando um transformador para prevenir curto-circuitos na rede elétrica quando o UPFC entra em funcionamento [35, 37]. 2.7. Unified Power Quality Conditioner (UPQC) O Unified Power Quality Conditioner (UPQC) combina as potencialidades do Filtro Ativo de Potência Paralelo (FAP) e do Filtro Ativo de Potência Série (FAS) num só dispositivo, existindo apenas um barramento CC partilhado pelos dois. A Figura 2.13 é um esquema representativo do funcionamento de um UPQC. Figura 2.13 – Esquema unifilar do UPQC. 40 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série O UPQC é capaz de compensar simultaneamente problemas de Qualidade de Energia Elétrica existentes quer na tensão quer na corrente, o que demonstra a versatilidade deste equipamento. O FAP é responsável por compensar os harmónicos e os desequilíbrios existentes nas correntes da carga, e o FAS executa a mesma função mas sobre as tensões provenientes da fonte. O FAS já foi explanado na secção 2.5, sendo preferível nesta secção concentrar atenções no funcionamento do FAP. O Filtro Ativo de Potência Paralelo é um inversor controlado por corrente que injeta para o sistema elétrico, correntes que reduzem o conteúdo harmónico da corrente fornecida pela fonte a uma dada carga não-linear. Ou seja, o FAP fornece à carga o conteúdo harmónico da corrente que esta necessita para funcionar convenientemente, evitando que este seja fornecido pela fonte, o que iria prejudicar outras cargas com alimentação comum. O FAP também está encarregue das tarefas associadas com a regulação da tensão do barramento CC, permitindo uma redução da capacidade do condensador utilizado no elo CC. Outra tarefa que o FAP pode desempenhar dentro de um sistema UPQC é a compensação da potência reativa da carga. Todavia, do ponto de vista económico, é preferível que a compensação de reativos seja realizada por outros dispositivos mais simples e menos dispendiosos pois se o FAP não tiver que eliminar o conteúdo reativo é possível reduzir a potência do mesmo significativamente [38]. As ações desempenhadas por ambos os filtros ativos de potência que constituem um UPQC encontram-se resumidas na Tabela 2.1. Em termos de circuito de potência o que é válido para o UPFC (descrito na secção 2.6) é também aplicável ao UPQC. Tabela 2.1 – Tarefas desempenhadas pelo condicionador paralelo e pelo condicionador série num UPQC. Unified Power Quality Conditioner Condicionador Ativo Série Condicionador Ativo Paralelo Compensa harmónicos de tensão existentes no lado da carga. Compensa harmónicos de corrente, existentes no lado da fonte. Bloqueia os harmónicos de corrente, impedindo que fluam para a fonte. Compensa a potência reativa da carga. Melhora a estabilidade do sistema. Compensa Cavas, Sobretensões e Flutuações. Regula a tensão no barramento CC do UPQC. Compensa Desiquilibrios. Compensa corrente de neutro em sistemas a 4 fios. 2.8. Conclusões Neste capítulo foram apresentados diversos sistemas capazes de lidar com alguns dos problemas de Qualidade de Energia Elétrica (QEE), tendo estes dispositivos a Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 41 Capítulo 2 – Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série particularidade de terem pelo um condicionador ligado em série com a rede elétrica (o que não exclui a presença de um condicionador paralelo). Devido a esta singularidade estes sistemas estão geralmente mais habilitados para lidar com os problemas de QEE relacionados com a forma de onda da tensão, embora alguns deles possam corrigir problemas associados à corrente e ao fator de potência. A Tabela 2.2 exibe as potencialidades de compensação de cada dispositivo estudado neste capítulo. O TCSC (Thyristor-Controlled Series Capacitor) é o dispositivo mais simples e também o mais limitado já que apenas consegue reduzir a potência reativa existente no sistema e ajustar a impedância de Linha. Os sistemas DVR (Dynamic Voltage Restorer), UPS (Uninterruptible Power Supply), FAS (Filtro Ativo de Potência Série) e CAS (Condicionador Ativo de Potência Série) são centrados na correção dos problemas relacionados com a tensão, sendo alguns mais completos na função que desempenham comparativamente a outros. O DVR será dos quatro equipamentos supracitados o mais incompleto em termos de capacidade para resolver problemas de QEE relacionados com os harmónicos de tensão e/ou interrupções na alimentação da carga, limitando-se a compensar as variações na tensão de alimentação e desequilíbrios que possam existir num sistema trifásico. A UPS é um dispositivo mais abrangente, especialmente na sua configuração OnLine UPS, onde é mantido um fornecimento de energia constante à carga mesmo durante um período de interrupção da alimentação por parte da fonte. A On-Line UPS está constantemente ligada à carga, o que elimina o tempo de mudança entre os diferentes modos de operação e garante um isolamento superior entre a fonte e a carga, mas também implica um aumento nas perdas energéticas, uma vez que os conversores de potência estão sempre em funcionamento. As UPSs também têm sistemas de armazenamento de energia, geralmente baseados em baterias, o que conduz a dimensões e custos superiores. Entre os três equipamentos condicionadores de tensão chega-se à conclusão que o Condicionador Ativo Série é a solução mais completa, já que para além de mitigar o conteúdo harmónico da tensão é também capaz de regular a tensão fornecida à carga. Porém o Condicionador Ativo Série pode ser um equipamento sobredimensionado para algumas situações onde apenas seja imposta uma compensação de harmónicos de tensão. Nesses casos, o Filtro Ativo Série, o equipamento implementado neste trabalho, pode obter melhores desempenhos em comparação com o Condicionador Ativo Série. Para o funcionamento do Condicionador Ativo Série são indispensáveis dois conversores de potência, para além de um ou dois transformadores para isolar galvanicamente os conversores da rede elétrica, o que significa um aumento do tamanho 42 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 2 - Sistemas de Compensação com Condicionadores do Tipo Série do equipamento, assim como um aumento das perdas energéticas. Em sistemas monofásicos, o Filtro Ativo Série, particularmente numa topologia que empregue um único conversor de potência sem transformador de acoplamento é uma solução mais otimizada, quer em termos de economia de espaço e custos, quer em termos de desperdício energético. O Filtro Ativo Série pode também, em regime transitório (entre 10 ms e 3 s), compensar Variações do Valor Eficaz da Tensão. Por último foram também estudados o UPFC (Unified Power Flow Controller) e o UPQC (Unified Power Quality Conditioner), que devido a terem a mesma topologia do circuito de potência que o Condicionador Ativo Série, podem ser projetados a partir deste último. O UPFC condensa as funções de um STATCOM e de um DVR num único equipamento, ou seja, é capaz de regular a tensão da carga assim como corrigir o fator de potência. Todavia, o UPFC demonstra algumas deficiências na redução do conteúdo harmónico do sistema. Já o UPQC é um equipamento mais abrangente, capaz de lidar com todos os problemas de QEE apresentados na Tabela 2.2 exceto as interrupções no fornecimento de energia elétrica. Tabela 2.2 – Problemas de QEE e equipamentos de compensação. TCSC DVR UPS FAS CAS UPFC UPQC Potência Reativa Variações de Tensão Harmónicos de Tensão Harmónicos de Corrente Desequilibrios de Tensão Desequilibrios de Corrente Interrupções Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 43 CAPÍTULO 3 Sistemas de Controlo para Filtros Ativos Série 3.1. Introdução O sistema de controlo é um dos principais aspetos de um Filtro Ativo de Potência Série (FAS), pelo que um estudo das diferentes técnicas de controlo é apresentado neste capítulo para verificar as potencialidades e limitações de cada estratégia. Assim sendo são apresentados três estratégias de controlo para um FAS: Teoria da Potência Instantânea (Teoria p-q); Estratégia de controlo da tensão por valores médios instantâneos; Estratégia de controlo baseada em malha indireta de corrente. São também apresentadas algumas soluções para estimar uma forma de onda de referência para a tensão. Este aspeto de controlo não foi considerado pertencente à malha de controlo, já que realiza uma operação independente fornecendo à malha a referência necessária para o cálculo das componentes de compensação. 3.2. Técnica Usada para Estimar a Referência de Tensão A referência de tensão a ser processada pela malha de controlo implementada é uma das partes mais importantes de todo sistema de controlo. As técnicas de estimação de referência não são consideradas como pertencentes à malha de controlo, já que elas realizam uma tarefa independente do método de controlo implementado. 3.2.1. Síntese da Referência de Tensão Esta técnica usa um filtro analógico para determinar os harmónicos contidos na tensão da rede e tem como principal vantagem a sua simplicidade de implementação usando dispositivos analógicos para obter a referência necessária [11]. Para esta técnica podem ser utilizados quer filtros passa-alto quer filtros passa-baixo. Caso sejam empregues filtros passa-alto (Figura 3.1), as componentes de baixa frequência são removidas do sinal lido a partir do sistema elétrico e as componentes de alta frequência obtidas são compostas pelo conteúdo harmónico a ser compensado. Este processo é similar à diferenciação, o que o torna sensível ao ruído. Já Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 45 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série o método que emprega filtros passa-baixo (Figura 3.2) é tido como um método indireto e reduz a influência do ruído em comparação com os filtros passa-alto. Neste caso é filtrada a componente fundamental do sinal lido, que depois é subtraída ao sinal original de forma a obter a referência com a componente harmónica do sinal. Todavia, esta abordagem sofre de diversos inconvenientes relacionados essencialmente com erros elevados na magnitude e na fase do sinal de saída. Filtro Passa-alto Vcomp Ventrada Figura 3.1 – Esquema de um filtro passa-alto utilizado para gerar uma referência de tensão. Filtro Passa-baixo Ventrada V fundamental _ + Ʃ Vcomp Figura 3.2 – Esquema de um filtro passa-baixo utilizado para gerar uma referência de tensão. 3.2.2. Phase-Locked Loop (PLL) O Phase-Locked Loop (PLL) é um circuito de sincronização que também pode ser utilizado para obter a referência pretendida. A partir deste circuito obtém-se um sinal de saída em fase com o sinal de entrada, e cuja amplitude pode ser unitária ou igual à amplitude da tensão da rede. Uma das principais vantagens desta abordagem é a sua robustez, já que mesmo que o sinal de entrada tenha conteúdo harmónico ou variações na magnitude do sinal, o circuito PLL é capaz de sintonizar o sinal de saída com a frequência de entrada. Existem diversos modos de implementar um circuito PLL, existindo uma vasta bibliografia neste ponto em particular. De seguida apresentam-se duas dessas formas para implementação de uma PLL, uma para sistemas monofásicos e outra para sistemas trifásicos. PLL Monofásica O circuito PLL monofásico que de seguida se apresenta é baseado nos trabalhos de Masoud Karimi-Ghartemani [39, 40]. De acordo com o diagrama da Figura 3.3, uma estrutura PLL genérica apresenta três blocos: o bloco de deteção de fase (phase detection scheme), que mede a diferença entre a fase do sinal de entrada e a fase do sinal 46 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série de saída; o bloco de filtragem (loop filter), que gera o sinal de erro; e o bloco oscilador controlado por tensão (voltage-controlled oscillator, VCO), que gera o sinal de saída. Input Detetor de Fase Filtro VCO Figura 3.3 – Esquema de uma PLL monofásica. Uma análise mais elaborada da estrutura da PLL pode ser feita a partir da Figura 3.4. A entrada u é comparada com a saída y obtendo-se o sinal de erro, e. O sinal e é multiplicado pelo resultado obtido a partir da função seno e o produto dessa operação é inserido num controlador PI. À saída do controlador é adicionada uma componente com a frequência do sinal de entrada, sendo de seguida integrado o resultado da soma, obtendo-se desta forma o deslocamento de fase Φ, que servirá de argumento para as funções trigonométricas seno e co-seno. O resultado da função co-seno é multiplicado por e e é sucessivamente integrado e multiplicado por uma constante k, obtendo-se desta forma a amplitude A. Por fim, através da multiplicação entre A e o resultado da função co-seno, é obtido o sinal de saída y, sendo fechada desta forma a malha externa da PLL. cos X y A k _ ʃ X ω0 + u + Ʃ e X PI + Ʃ ʃ Φ sin Figura 3.4 – Diagrama de blocos da PLL monofásica. O bloco de deteção de fase representa a maior inovação deste esquema, já que compreende três multiplicações, um deslocamento de fase, uma integração e uma subtração, ao invés da estrutura de deteção de fase de uma PLL convencional que apresenta apenas uma multiplicação [40]. Esta estratégia de PLL para além do encravamento da fase, apresenta também bloqueio da amplitude do sinal de saída, sendo ambas estimadas diretamente. O seu desempenho é imune às pequenas variações da sua estrutura interna e ao conteúdo com ruído do sinal de entrada. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 47 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série PLL Trifásica Embora esta abordagem seja mais indicada para sistemas trifásicos, pode também ser aplicada a sistemas monofásicos, bastando para o efeito se provocar um desfasamento da tensão de entrada de modo a replicar um sistema trifásico virtual. Os sinais de sincronismo obtidos servem de referência para o sistema, bastando multiplicá-los por um valor constante correspondente ao valor de pico pretendido para a sinusoide de referência, caso o sistema elétrico em questão seja monofásico. Para situações em que o sistema seja trifásico basta submeter os sinais de sincronismo à transformada inversa de Clarke, obtendo-se à saída os sinais de referência que irão ser comparados posteriormente com os sinais da tensão de entrada. Na Figura 3.5 encontra-se representado o diagrama de blocos de um circuito PLL trifásico. -cos i X va vb vc – v abc αβ Ʃ v PI ʃ t + αβ abc ia ib ic X i sin Figura 3.5 – Diagrama de blocos de um Phase-Locked Loop trifásico. As tensões instantâneas e são projeções das tensões do sistema trifásico no sistema de coordenadas ortogonal α-β, e são obtidas através da aplicação da transformada de Clarke. v0 12 1 2 1 2 2 v 3 1 1 2 1 2 v 0 3 2 3 2 v a v b v c (3.1) O mesmo procedimento é válido também para as correntes do sistema trifásico que podem ser remetidas para o plano α-β, obtendo-se as correntes e . Com as correntes e tensões no plano α-β, procede-se ao cálculo das potências real, p’, e imaginária, q’: p' vα ' v q β 48 v β iα vα i β (3.2) Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série Em conformidade com o modelo exibido na Figura 3.5, utiliza-se no cálculo dos sinais de sincronismo apenas a potência imaginária. Todavia poderia ser utilizada a potência real para o mesmo efeito, bastando reconfigurar o método de cálculo aplicado [41]. A parcela q’ é portanto fornecida a um controlador PI de modo a se obter à saída a frequência angular, ω, que após atravessar um bloco de integração origina o sinal de sincronismo ωt. Este sinal é depois sujeito às funções trigonométricas seno e co-seno que geram os sinais de realimentação, as correntes iα e iβ. Estes dois sinais, com valor máximo unitário, podem ser usados como referência, para tal basta multiplicá-los por um valor constante de modo a que fiquem na mesma ordem de grandeza das tensões, va, vb e vc. 3.2.3. Tabela de Senos Esta estratégia, amplamente analisada e implementada em [42-44] e cujo esquema pode ser analisado na Figura 3.6, será porventura das mais simples para gerar uma referência de tensão, uma vez que consiste na comparação direta de amostras do sinal obtido. Para a sua implementação é necessário conhecer previamente algumas condições da forma de onda da tensão com que se pretende alimentar a carga, como a frequência e a amplitude, bastando depois sincronizar o sinal de referência com a tensão da fonte. Sinusóide Ideal Amostragem v fonte Detetor de Fase Tabela de Seno Sincronização vreferência Figura 3.6 – Esquema de sincronização por Tabela de Seno. Na base desta estratégia está um sinal sinusoidal com frequência fixa igual à da rede elétrica (50 Hz) e com amplitude de acordo com o valor máximo da tensão na carga. Este sinal é amostrado com a mesma frequência de amostragem que as variáveis de controlo, de maneira a serem recolhidas o mesmo número de amostras, e as amostras resultantes serem armazenadas numa tabela para posteriormente serem comparadas com as amostras da variável de controlo. Todavia, antes de se proceder à comparação é Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 49 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série necessário sincronizar os valores de referência com a tensão de entrada, o que é facilmente realizado através de circuitos detetores de passagem por zero. Apesar da sua simplicidade e bom desempenho, esta abordagem apresenta também algumas limitações, nomeadamente quando ocorrem variações na frequência fundamental. Quando a frequência do sinal de sincronismo se afasta do valor do sinal que foi utilizado como referência para a tabela de seno, surgem distorções na forma de onda que serve de referência para o sistema de controlo. Portanto esta estratégia é mais indicada para situações em que a frequência do sinal pelo qual a tabela é sincronizada é bastante estável, como no caso da rede elétrica, já que esta cumpre com a cláusula da norma NP EN 50 160 para a frequência da rede, que garante que a frequência fundamental do sistema terá variações inferiores a 1% e estará sempre próxima dos 50 Hz (ver subsecção 1.1.4). 3.3. Teoria da Potência Instantânea (Teoria p-q) A Teoria da Potência Instantânea foi proposta por Akagi et al. [45] em 1983 para o controlo de Filtros Ativos, sendo inicialmente pensada para sistemas trifásicos a três condutores e sendo brevemente mencionada a sua aplicabilidade a sistemas trifásicos com neutro [46]. Todavia, no decurso da década de 90 esta teoria tornou-se mais abrangente devido a Aredes e Watanabe [47] que expandiram a teoria inicialmente proposta, conseguindo demonstrar efetivamente que a Teoria p-q poderia também ser aplicada em sistemas trifásicos desequilibrados com quatro condutores. Sendo a Teoria p-q uma técnica de controlo baseada no domínio dos tempos é portanto indicada para o controlo em tempo real de Filtros Ativos de Potência, tanto em regime permanente como em regime transitório. Partindo dos valores instantâneos das tensões e das correntes a Teoria p-q é capaz de calcular as correntes e/ou tensões de compensação a serem sintetizadas. Outras das características relevantes da Teoria p-q é o facto, das grandezas que a compõem terem um significado físico o que facilita a sua compreensão. A Teoria p-q converte as tensões e as correntes do sistema trifásico para um novo referencial de coordenadas estacionário denominado por referencial α-β-0, através da transformação de Clarke. v0 v v 50 1 2 2 1 3 0 12 1 2 3 2 12 1 2 3 2 v an v bn vcn (3.3) Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série i0 i i 1 2 2 1 3 0 12 1 2 3 2 12 1 2 3 2 ian i bn icn (3.4) Partindo dos sistemas de equações (3.3) e (3.4), a potência real instantânea (p), a potência imaginária instantânea (q) e a potência instantânea de sequência zero (p0), podem ser calculadas através das seguintes equações tendo em conta as tensões e as correntes no sistema de coordenadas α-β-0: p v i v i (3.5) q v i v i (3.6) p 0 v 0 i0 (3.7) Analisando as equações (3.5), (3.6) e (3.7), pode-se reagrupá-las da seguinte forma: p 0 v 0 p 0 q 0 0 v v 0 v v i0 i i (3.8) Após a aplicação da transformação de Clarke podem ser retiradas diversas ilações sobre os dois sistemas de coordenadas. Por exemplo a potência trifásica pode ser determinada no plano α-β-0 através da seguinte equação: p3 p p0 v i v i v0 i0 (3.9) A potência imaginária instantânea pode também ser expressa a partir do sistema trifásico a-b-c: q ( va vb )ic ( vb vc )ia ( vc v a )ib 3 (3.10) Analisando a equação (3.10) pode-se afirmar que a potência instantânea imaginária difere da potência reativa trifásica, já que a primeira leva em consideração o conteúdo harmónico dos sinais da tensão e da corrente ao invés da segunda. 3.3.1. Significado Físico das Potências Instantâneas Como já foi referido anteriormente, as grandezas da Teoria p-q detêm um significado físico, o que facilita a sua compreensão. No caso das potências instantâneas (p, q e p0), expressas no plano ortogonal α-β-0, todas elas podem ser decompostas nas suas componentes constante, correspondente ao valor médio, e alternada. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 51 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série A Figura 3.7 pretende representar graficamente o significado físico das grandezas da teoria p-q, tendo em conta o sistema elétrico trifásico convencional. q a b p ~ p p0 ~ p0 Cargas c N Rede Elétrica Figura 3.7 – Esquema das potências instantâneas. p → Valor médio da potência real instantânea. Corresponde à energia média transferida de forma equilibrada da fonte de energia para a carga por unidade de tempo, de uma forma equilibrada, através das fases do sistema trifásico. Idealmente, num sistema trifásico a três fios, esta parcela é a única que a fonte deverá enviar para a carga. ~p → Valor alternado da potência real instantânea. Corresponde à energia trocada entre a fonte e a carga e vice-versa por unidade de tempo. Esta é uma das parcelas a ser compensada já que não existe transferência efetiva de energia da fonte e para a carga. p 0 → Potência instantânea de sequência zero. Corresponde à energia transferida da fonte para a carga por unidade de tempo, através das componentes de sequência zero das tensões e das correntes. Equivale no plano a-b-c, à energia transportada para através do neutro e de uma ou mais fases. Pode ser divida em duas parcelas, p e ~p , valor médio e valor alternado respetivamente. 0 0 p 0 → Valor médio da potência instantânea de sequência zero. Corresponde à energia média transferida da fonte para a carga por unidade de tempo através da componente de sequência zero do sistema de coordenadas α-β-0. Equivale no plano a-b-c, à energia transportada através do neutro e de uma ou mais fases. ~p → Valor alternado da potência instantânea de sequência zero. 0 Corresponde à energia trocada entre a fonte e a carga por unidade de tempo através da componente de sequência zero do sistema de coordenadas α-β-0. Equivale no plano a-b-c, à energia transportada para através do neutro e de uma ou mais fases. q → Potência imaginária instantânea. Corresponde a uma energia trocada entre as fases do sistema por unidade de tempo, não havendo contribuição para qualquer transferência energética entre fonte e 52 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série carga. Pode ser divida em duas parcelas, q e q~ , valor médio e valor alternado respetivamente. Em situações onde não exista distorção harmónica ou desequilíbrios no sistema, a parcela q~ é equivalente à potência reativa do sistema trifásico convencional. Convém ainda referir que a Teoria p-q foi estruturada para ser aplicada a sistemas elétricos trifásicos, porém isso não impede a sua aplicação a sistemas monofásicos. Para tal basta implementar um sistema trifásico virtual, o que todavia acrescenta uma dose extra de complexidade à estratégia de controlo. 3.3.2. Teoria p-q no controlo de Filtros Ativos Série Para calcular as tensões de compensação a ser introduzidas pelo filtro ativo série é utilizada a transformada de Clarke para converter o sistema trifásico a-b-c para um sistema de coordenadas α-β-0, através da equação (3.1). No final espera-se determinar as tensões de compensação no sistema α-β-0 subtraindo às tensões de referência os sinais da tensão de entrada, como está descrito na equação (3.11). vc v ref v v v v c ref (3.11) Os sinais de referência nas coordenadas α-β-0 têm a mesma fase e frequência dos sinais de entrada, mas poderão ter amplitude e formas de onda diferentes. Para calcular a frequência, a fase e sintetizar a forma de onda sinusoidal do sinal de referência, as tensões vα e vβ são inseridas num circuito PLL, como o descrito na subsecção 3.2.2, obtendo-se à saída dois sinais sinusoidais de amplitude unitária denominados por iα e iβ. Estes dois sinais estão também em fase e têm a mesma frequência dos sinais de entrada do circuito PLL. Resta calcular a amplitude do sinal de referência que se obtém a partir do valor da potência instantânea fictícia, pfict, que pode também ser decomposta em componente média e alternada: p fict p fict ~ p fict v i v i (3.12) Apenas a componente média é efetivamente usada traduzindo o cálculo dos sinais de referência para a equação (3.13). vref i 1 v 2 2 i ref i i i p fict i 0 (3.13) Obtidos os sinais de referência, procede-se com a determinação das tensões de compensação como foi descrito na equação (3.11). Essas tensões de compensação são reconvertidas para as coordenadas a-b-c através da transformada inversa de Clarke e são válidas apenas para sistemas balanceados. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 53 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série 0 vca 1 v 1 2 vc 3 2 cb v vcc 1 2 3 2 c (3.14) Na Figura 3.8 encontra-se um diagrama que demonstra o processo completo acima descrito. va abc vb 0 vc vca v v v c v – Ʃ + PLL i i v v Cálculo pfict p fict v v ref Filtro Passa-baixo i i – Ʃ v c vcb vcc 0 abc + v ref p fict Gerador Referência Figura 3.8 – Teoria p-q aplicada a Filtros Ativos Série 3.4. Estratégia de Controlo da Tensão por Valores Médios Instantâneos O controlo de filtros ativos através dos valores médios instantâneos da tensão é uma teoria proposta na Tese de Doutoramento de Ennio Ribeiro [48], e consiste na monitorização permanente dos valores das tensões de entrada (vs); do barramento CC (vd) e da saída do filtro ativo (vf), de forma a desenvolver uma teoria de controlo para um filtro ativo série monofásico. Esta teoria de controlo é particularmente interessante, já que para além de não ser necessário equipamento auxiliar para regular a tensão no barramento CC, as equações deduzidas permitem determinar alguns parâmetros e componentes a serem implementados no filtro ativo. Na Figura 3.9 encontra-se a representação do sistema elétrico a partir do qual é desenvolvida esta teoria de controlo. Em relação à estratégia de controlo, o valor medido de vs é comparado com a tensão que se espera obter no lado da carga, ou seja a tensão de referência vs*, que resulta no sinal vh, variável que condensa o conteúdo harmónico a ser compensado. A tensão de referência vs* pode ser obtida a partir de uma técnica de geração de referência descrita na secção 3.2, enquanto vs1 é obtida dividindo vs* pela sua amplitude. Para controlar a tensão no barramento CC do filtro ativo, mantendo um valor médio de tensão constante no condensador Cd, a tensão vd é comparada com um valor 54 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série de referência, vd*. O erro obtido da comparação é inserido num controlador PI cujo sinal de saída é posteriormente multiplicado pelo sinal sinusoidal de amplitude unitária vs1, de onde resulta um sinal também ele sinusoidal responsável por compensar as perdas existentes no barramento CC. s2 s1 D2 D1 Cd a vd b il s3 D3 Lf s4 Cf is D4 io vf vs Zo Figura 3.9 – Esquema de um Filtro Ativo de Potência Série monofásico Então, os sinais de compensação das componentes harmónicas e das perdas no barramento CC são somados, resultando o sinal de compensação vcomp, que serve de referência para a tensão de saída do filtro ativo. Todavia este sinal é ainda comparado com o sinal medido à saída do filtro ativo, descrevendo uma malha de realimentação para o cálculo do sinal de saída, e é inserido num controlador PID. O sinal de saída deste controlador é finalmente comparado com a portadora triangular que fecha assim a malha externa de controlo. Na Figura 3.10 encontra-se uma representação da malha de controlo proposta. Convém salientar que a malha apresentada na figura difere um pouco da originalmente apresentada em [48], sobretudo ao nível dos controladores PI e PID. vs + vs vd * vs1 – X + – Ʃ vh + vd * + Ʃ PI v comp + Ʃ v f – Ʃ PID v pwm Figura 3.10 – Malha de controlo dos valores médios instantâneos com controladores PI e PID. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 55 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série 3.5. Estratégia de Controlo Baseada numa Malha Indireta de Corrente A estratégia de controlo que de seguida se apresenta é adaptável a sistemas trifásicos e é capaz de corrigir os harmónicos de tensão enquanto regula a tensão no barramento CC. Esta decompõe o sistema trifásico em três sistemas monofásicos, calculando a tensão de compensação de maneira independente para cada uma das três fases [30]. Na Figura 3.11 encontra-se uma representação do sistema trifásico, com a carga sombreada a verde, e o Filtro Ativo Série, sombreado a amarelo. As variáveis do sistema de controlo também se encontram representadas. Filtro Ativo Série Carga s1 vlb Zl + Ls ic vlc Zl Lf D3 D2 a ib Cd vd b Lf ic c Cf s6 s5 s4 D5 D4 Cf _ Ls ib s3 s2 + ia D1 _ + Lf Zl + v sc + vla _ _ v sb Ls ia + _ v sa + _ _ D6 Cf Figura 3.11 – Esquema de Filtro Ativo Série sem Fonte CC aplicado a sistemas trifásicos. Análise do Sistema em Regime Estacionário De modo a compreender esta estratégia de controlo e, em concordância com Jacobina et al. [30], é necessário proceder a uma análise do comportamento do sistema em regime estacionário. Desprezando as tensões associadas à parte não-linear da carga e aos harmónicos de tensão, pode ser estabelecido um modelo simplificado como o exibido na Figura 3.12 através do qual facilmente se retira as equações do circuito: Vs V f Z s Is Vl (3.15) Vl Z l Is (3.16) Is Vs Zs Vf Il Vl Figura 3.12 – Circuito monofásico equivalente de um Filtro Ativo Série adaptado de [30]. 56 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série Sabendo que Vs Vs j 0 ; Is I sr jI si I s e js ; V f V fr jV fi V f e js ; Vl Vlr jVli Vl e jl ; Z s Rs jLs ; e Z l Rl jLl ; pode-se reescrever as equações (3.15) e (3.16) da seguinte forma: V fr Vs Rs Rl I s cos s Ls Ll I s sin s (3.17) V fi Ls Ll I s cos s Rs Rl I s sin s (3.18) l zl s (3.19) Conhecida a tensão de entrada, Vs, e o ângulo do fator de potência de entrada ϕs, pode-se inferir sobre a potência ativa proveniente da fonte, pf, requerida pelo o Filtro Ativo Série para o seu funcionamento. Distinguem-se duas situações: o Filtro Ativo Série pode requerer alguma potência ativa proveniente da fonte (i.e., para compensação de harmónicos e perdas energéticas na comutação) ou não necessitar de potência ativa (i.e., caso não haja elementos a serem compensados). No caso de o FAS não necessitar de potência ativa, pf = 0, então a potência fornecida pela fonte (ps) é absorvida na totalidade pela carga (pl), podendo estabelecerse a seguinte relação para corrente da fonte Is: p f 0 p s pl Vs I s cos s Rs Rl I s2 Is Vs I cos s Rs Rl s (3.20) Já se o FAS estiver em modo de compensação vai requerer uma parcela de potência ativa à fonte (pf = pf*), então estabelece-se a seguinte relação para Is: p f p*f p s pl p*f Vs I s cos s Rs Rl I s2 p*f Vs I s cos s Rs Rl I s2 p*f 0 (3.21) Calculado Is e substituindo-o nas equações (3.17) e (3.18) é possível calcular as tensões no filtro e na carga para pf = 0 ou pf = pf*. Efetivamente, para pf=0, a equação (3.16) pode ser reescrita da seguinte forma: Vl Zl V cos s Rs Rl s Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho (3.22) 57 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série E quando pf = pf* a equação (3.16) é convertida para: Vl Vs 2cos s Vs 22 cos 2 s Rs Rl p*f Rs Rl Z l (3.23) Aprofundando um pouco a análise para o caso em que pf = 0, depressa se chega a uma simples mas crucial conclusão. Assumindo que a amplitude da tensão da carga necessária é Vl*, e a partir da equação (3.23), pode-se obter o valor do ângulo ϕs: Rs Rl Vl* Vs Zl s cos 1 (3.24) Ao olhar com atenção para a equação (3.24) pode-se identificar situações limite. Caso a amplitude da tensão da carga desejada seja igual ou superior à amplitude da tensão da fonte ( Vl* Vs ), ou se a resistência de linha for muito grande ( Rs 0 ), o argumento da equação supracitada pode ser maior que 1, o que torna impossível de obter a amplitude da tensão da carga desejada. Estes limites impostos pela análise em regime estacionário são importantes para compreender alguns aspetos da metodologia de controlo que se apresenta de seguida, assim como para identificar potenciais resultados do controlo. Estratégia de Controlo Como o nome, indica esta estratégia de controlo, cujo diagrama de blocos se encontra Figura 3.13, é baseada numa malha indireta de corrente. A tensão do barramento CC, Vd, é comparada com o valor de referência Vd*, e a diferença existente é conduzida para um controlador PI, e a sua saída é a amplitude da corrente de referência, Is*. A amplitude da tensão da carga de referência Vl*, é comparada com a amplitude da tensão da carga medida Vl, e o resultado de tal operação é inserido num controlador PI, definindo desta forma a referência do ângulo de fator de potência ϕs*. O bloco limitador impõe que o valor de referência ϕs* seja inferior a zero (de acordo com a análise realizada para equação (3.24), consequentemente limitando a amplitude máxima da tensão na carga ao seu valor máximo possível. As correntes de referência Isn* são geradas em sincronismo com a tensão de cada fase Vsn (n = 1, 2, 3) e com um desfasamento determinado pelo ângulo ϕs*. Isto é conseguido através de uma abordagem similar a uma PLL representada na Figura 3.13 pelo bloco Gene-is. A saída deste bloco é depois comparada com a corrente medida em cada fase, Isn, e o resultado dessa comparação é inserido num controlador PI, obtendo-se à saída a tensão de compensação Vcomp. 58 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série Esta estratégia permite obter a amplitude máxima da tensão independentemente do seu fator de potência, todavia para o caso da carga ser predominantemente indutiva o controlo apresentado é incapaz de melhorar o fator de potência do sistema. vd + – vd * vl * + i sn v sn Ʃ is PI Ʃ PI s* * Gene-is i sn * + – Ʃ PI vcomp Lim – v l Figura 3.13 – Diagrama de blocos da estratégia de controlo baseada numa malha indireta de corrente. 3.6. Conclusões Neste capítulo foram apresentadas técnicas para a geração de referência de tensão, juntamente com teorias para o controlo de Filtros Ativos de Potência Série (FAS). Foram indiciadas três técnicas de geração de referência (síntese da referência de tensão, Phase-Locked Loop e tabela de senos), e foram referidas as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Sobre as teorias de controlo para FAS foram também abordadas três estratégias de forma a identificar a mais adequada para a implementação num FAS monofásico: uma centrada na teoria da potência instantânea (Teoria p-q), outra baseada na amostragem de valores médios instantâneos de tensão, e por último uma estratégia de controlo assente numa malha indireta de corrente. Tanto a Teoria p-q como a estratégia baseada numa malha indireta de corrente foram desenvolvidas para sistemas trifásicos, embora ambas possam ser aplicadas a sistemas monofásicos (basta converter o sistema monofásico para um sistema trifásico virtual). A teoria p-q não é clara na abordagem sobre a maneira como se regula o barramento CC do conversor de potência, indicando apenas que deve ser adicionada uma parcela de compensação para regulação do barramento CC, não indicando o modo de cálculo dessa mesma parcela. Já a estratégia baseada numa malha indireta de corrente é inequívoca na forma como expressa o cálculo das diferentes componentes de compensação. A componente harmónica a ser compensada e a componente que mantém a tensão no lado CC equilibrada fazem parte na mesma malha de controlo. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 59 Capítulo 3 – Sistemas de controlo para Filtros Ativos Série Por outro lado, o controlo da tensão por valores médios instantâneos é aplicável exclusivamente a sistemas monofásicos. A componente harmónica e a componente de regulação da tensão do barramento CC são juntas numa componente de compensação global. Atendendo ao facto de que o filtro ativo de potência série a implementar é monofásico, esta teoria de controlo adequa-se melhor que as restantes teorias (que foram concebidas para sistemas trifásicos) no âmbito do que é pretendido neste projeto, logo esta teoria foi a escolhida para ser implementada no FAS desenvolvido. 60 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho CAPÍTULO 4 Simulações do Filtro Ativo Série 4.1. Introdução Existem equipamentos cujo funcionamento é potencialmente perigoso para a vida humana. Quando a mínima falha pode resultar num desastre, é imperioso que todas as medidas de segurança sejam adotadas e o equipamento seja submetido a diversos testes. Uma alternativa ao teste do sistema físico pode ser encontrada em sistemas virtuais, onde os softwares capazes de simular circuitos elétricos têm assumido uma importância vital no projeto e dimensionamento de novos dispositivos. Outro aspeto particularmente relevante, talvez o mais importante, que torna imperioso o uso de simulações computacionais é a questão económica. Quando se pretende testar diferentes soluções para uma determinada problemática, os softwares de simulação são opções bem mais económicas quando comparado com o custo material e temporal espetável para o teste físico das mesmas soluções. Portanto, tendo isto em conta, neste capítulo serão apresentadas simulações de um Filtro Ativo de Potência Série monofásico em diversos cenários de funcionamento. Estas simulações serviram como teste, validação, e mais tarde de referência para a implementação física do Filtro Ativo de Potência Série (FAS) monofásico. Adicionalmente foi elaborada uma comparação entre as simulações de um FAS e de um Condicionador Ativo Série de Potência. 4.2. Software de Simulação PSIM O PSIM é um software de simulação especialmente concebido para sistemas de eletrónica de potência. O seu ambiente gráfico, exibido na Figura 4.1, é bastante intuitivo, e as ferramentas disponibilizadas, para além de permitirem emular sistemas de eletrónica de potência, também permitem simular e analisar sistemas de controlo analógico e digital, equipamentos magnéticos, e dispositivos de controlo de motores. Em conjunto com o PSIM é disponibilizado o programa Simview, que permite visualizar as formas de onda quer no domínio do tempo quer no domínio da frequência. Na Figura 4.2 encontra-se uma representação de formas de onda no ambiente Simview. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 61 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Figura 4.1 – Ambiente gráfico do software PSIM. Figura 4.2 – Ambiente gráfico do software Simview. Outra característica importante deste software é a possibilidade de integrar elementos externos ao programa para o ambiente de simulação, ou, de maneira similar, realizar a operação inversa e exportar elementos da simulação para contextos externos ao programa. Para além de ser possível acoplar uma simulação do PSIM a outros softwares de simulação como o JMAG ou o MATLAB, também é exequível incorporar código C/C++ externo através de DLL externas no contexto da simulação, de forma a simular os sistemas de controlo digitais existentes. Esta particularidade, juntamente com o facto de já existir alguma experiência de trabalho com este software, acabou por ser preponderante na preferência do PSIM como sendo o utilizado para a realização das simulações [49]. Na Figura 4.3 pretende-se mostrar a forma como o PSIM se relaciona com ferramentas externas ao programa. 62 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série PSIM DSP HARDWARE Hardware Targets DLL Auto Geração Código Análise Térmica SimCoder Thermal SOFTWARE EXTERNO Eletrónica de Potência MATLAB / SIMULINK SimCoupler Controlo Acionamento Motores Digital Control Motor Drive - Sistemas de Controlo - Eletrónica de Potência - Controlo Analógico/Digital - Acionamento Motores MagCoupler / MagCoupler-RT JMAG / JMAG-RT - Análise de elementos finitos - Máquinas Elétricas e outros dispositivos magnéticos Figura 4.3 – Interação do software PSIM com ferramentas externas [49]. 4.3. Modelo do Circuito de Potência do Filtro Ativo Série As simulações do Filtro Ativo de Potência Série (FAS) foram realizadas a partir do modelo exibido na Figura 4.4, a partir do qual foram realizados diversos testes de modo a descobrir as capacidades e limitações do arquétipo. O sistema compreende cinco fontes de tensão, sendo que uma representa a rede elétrica com tensão eficaz de 230 V, e frequência de 50 Hz, e as restantes representam o conteúdo harmónico da fonte de alimentação, mais propriamente os harmónicos de 3ª, 5ª, 7ª e 11ª ordem, que se encontram em fase, e com valores eficazes de 16 V, 14 V, 8 V, e 7 V respetivamente. O transformador de entrada tem uma relação de transformação 230 V // 115 V e uma potência de 11 kVA. O sistema de cargas utilizado, assim como o Filtro Ativo de Potência Série encontram-se a jusante do secundário do transformador. Também a impedância de linha encontra-se conectada em série com o secundário do transformador, sendo representada através de um circuito RL, onde R = 20 mΩ e L = 300 µH. Dentro da caixa sombreada a azul está o FAS, que possui uma resistência de pré-carga para limitar os picos de corrente em situações de carregamento onde os condensadores do barramento CC se encontrem descarregados. A essa resistência foi atribuído um valor de 5 Ω, e esta é desativada assim que o carregamento dos condensadores esteja concluído. O filtro passivo à saída do Filtro Ativo Série é um circuito RLC com L = 1,63 mH, C = 35 µF e R = 2 Ω, onde a indutância encontra-se em paralelo com os restantes elementos. O conversor de potência monofásico CC/CA usa dois braços com dois IGBTs (Insulated Gate Bipolar Transistors) cada, e no barramento CC encontra-se um condensador com uma capacidade de 4700 µF. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 63 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Carga Não-Linear Filtro Ativo Série Monofásico Carga Linear Figura 4.4 – Modelo de Simulação do Filtro Ativo Série Monofásico. As condições de carga do modelo incluem combinações de cargas lineares e nãolineares, como se pode verificar na Figura 4.4. A carga linear é um circuito RL, com R = 30 Ω e L = 5 mH, enquanto a carga não-linear consiste num circuito retificador de onda completa com uma resistência, R = 20 Ω, e um condensador, C = 330 µF, do lado CC. Todavia, estas condições variam em algumas simulações de modo a testar o modelo em condições mais extremas. O Filtro Ativo Série é ligado ao sistema pelo intermédio de um contactor e é desligado pela mediação de um segundo contactor, que realiza um bypass à saída do FAS. Os sinais de controlo dos contactores são mutuamente exclusivos, de maneira que em nenhum momento estejam os dois contactores ativos. No modelo de simulação ambos os contactores encontram-se representados de forma simplificada por dois interruptores ideais. 4.4. Modelos do Sistema de Controlo do Filtro Ativo Série e dos Circuitos para Geração de Referência Nesta secção são apresentados os modelos de simulação usados no comando do FAS e na geração de uma referência de tensão. Uma vez que as metodologias de controlo já foram explicadas anteriormente, pretende-se salientar agora apenas aspetos inerentes à mecânica da simulação. 4.4.1. Modelo de PLL Monofásica O modelo de simulação da Figura 4.5 representa o circuito de sincronismo monofásico analisado na subsecção 3.2.2 do Capítulo 3. O sinal de saída deste modelo apresenta apenas a componente fundamental do sinal de entrada com encravamento de fase e amplitude, filtrando componentes harmónicas e ruído. O bloco de ganho 64 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série proporcional que antecede o integrador serve para um ajuste do valor da amplitude do sinal de saída, enquanto a constante ω0 é a frequência central do VCO. Figura 4.5 – Modelo da PLL monofásica simulada. 4.4.2. Modelo de PLL Trifásica O modelo de simulação que se apresenta na Figura 4.6 foi testado para geração de referências de tensão em sistemas trifásicos, e de modo a comparar com o desempenho da PLL monofásica. Figura 4.6 – Modelo da PLL trifásica simulada. A perceção do modelo de simulação é bastante fácil pois é em tudo similar ao diagrama descrito na subsecção 3.2.2. Todavia este modelo apresenta cinco sinais de saída: os sinais aref, bref, e cref são utilizados quando se aplica esta estratégia de PLL a sistema trifásicos, já que estes sinais estão desfasados 120º entre si, necessitando apenas de um ajuste na sua amplitude; e os sinais Pllaf e Pllbe, que se encontram desfasados 90º, têm amplitude unitária e são particularmente úteis como sinais de controlo, podendo também ser utilizados na geração de uma referência, bastando para tal ajustar a sua amplitude convenientemente. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 65 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série 4.4.3. Modelo do Sistema de Controlo para Circuitos Monofásicos A malha de controlo foi implementada de acordo com o que foi proposto por Ribeiro et al. [29, 48, 50], e que foi descrito anteriormente na secção 3.4 do Capítulo 3. Percebe-se olhando para a Figura 4.7 que se procede a uma amostragem dos sinais vsource, vd, e vca*, sendo de seguida o sinal amostrado a partir de vs inserido no bloco de geração de referência PLL 1-Phase que implementa o modelo apresentado na subsecção 4.4.1. A saída desta PLL tem a amplitude da mesma ordem de grandeza que o sinal de entrada, e deve portanto ser redimensionada para ter uma amplitude unitária antes de ser multiplicada pelo sinal proveniente do controlador PI. De salientar também o bloco limitador utilizado à saída do controlador PI, que serve para evitar que ocorram fenómenos de windup no controlador visado [51]. A referência de tensão para o lado CC foi fixada em 200 V nas simulações conduzidas. Figura 4.7 – Modelo da malha de controlo simulada. Adicionalmente, e de modo a testar diversas alternativas, substituiu-se o bloco da PLL monofásica por uma PLL trifásica, representada pelo bloco PLL 3-phase, que implementa o modelo descrito em 4.4.2. Todavia o modelo teve de ser adaptado para um sistema trifásico virtual, como está representado na Figura 4.8, e a sua saída tem que ser multiplicada por uma constante, já que apresenta uma amplitude unitária. Figura 4.8 – Modelo da PLL com sistema trifásico virtual. 66 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Uma vez validado o funcionamento do modelo de controlo através de diagramas de blocos, procedeu-se à transposição progressiva deste sistema para código C. Desta forma precaveu-se a implementação prática do modelo projetado, desenvolvendo todas as funções que seriam mais tarde necessárias para a sua integração num DSP (Digital Signal Processor). Na Figura 4.9 encontra-se uma representação do bloco C criado, com as variáveis de entrada dispostas no lado esquerdo, e com as variáveis de saída e monitorização dispostas no lado direito. Figura 4.9 – Bloco com o código C desenvolvido para controlo do sistema. 4.4.4. Modelo da Técnica de Comutação Adotada Nesta secção é descrita a técnica de comutação adotada. Foi elaborada uma pesquisa de modo a encontrar uma técnica de comutação adequada para Filtros Ativos de Potência Série [52], e no final optou-se pela utilização da técnica CB-PWM (Carrier Based Pulse-Width Modulation), que foi aplicada a vários projetos de desenvolvimento de Filtros Ativos de Potência [43, 44, 53]. Esta técnica consiste na comparação de um sinal de referência (vref) com uma onda portadora triangular de frequência fixa, que assim gera os pulsos que serão fornecidos aos IGBTs. Na Figura 4.10 encontra-se um diagrama de blocos simplificado que descreve a CB-PWM. Referência Pulsos IGBTs Comp Portadora Triângular Figura 4.10 – Diagrama de blocos da técnica CB-PWM. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 67 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série A técnica CB-PWM apresenta dois esquemas de funcionamento: unipolar e bipolar. Após comparar os dois esquemas optou-se pelo unipolar, já que a frequência de comutação é dobrada no que diz respeito aos harmónicos do sinal de saída comparativamente com o esquema bipolar [54]. Este último aspeto é particularmente útil, pois permite o uso de componentes de filtragem menores para obter formas de onda de melhor qualidade do que no esquema bipolar [55]. Outra característica é que neste esquema os braços do inversor são controlados separadamente. Na Figura 4.11 está o modelo de simulação deste esquema de comutação. -1 Figura 4.11 - Modelo de simulação da técnica de comutação PWM unipolar. Na Figura 4.12 estão representadas as ondas vref, -vref e vtri , assim como as tensões dos terminais de saída de cada braço do inversor para o neutro (v1n e v2n), bem como a tensão de saída sem filtragem (v1n-v2n) e com filtragem (vsaída) do inversor ao sintetizar uma sinusoide. (a) vref (V) -vref (V) v1n (V) v2n (V) vtri (V) 40 0 -40 (b) 50 40 30 20 10 0 (c) v1n-v2n (V) vsaída (V) 40 0 -40 0.02 0.024 0.028 0.032 0.036 0.04 Time (s)(s) Tempo Figura 4.12 – (a) Sinais de referência (vref e -vref) e portadora triangular (vtri); (b) Tensões de saída nos braços no inversor em relação ao neutro (v1n e v2n); (c) Tensão de saída aos terminais do inversor (v1n-v2n) e após o filtro de saída (vsaída). 68 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série O erro entre a tensão de referência, vca*, e a tensão de saída do filtro, vca, alimenta um controlador PID que tal como o controlador PI usado no modelo do sistema de controlo, tem um limitador de modo a mitigar os fenómenos de windup do controlador. A saída do controlador é replicada e invertida (-vref). Os sinais vref e -vref são comparados com a portadora triangular e os pulsos obtidos são enviados para os interruptores dos braços 1 e 2 respetivamente. 4.5. Resultados das Simulações Depois de apresentados os modelos de simulação do circuito de potência, do sistema de controlo e dos circuitos de sincronismo, seguem-se os resultados obtidos a partir das simulações realizadas. As condições e variáveis de simulação foram sendo alteradas para encontrar as limitações do modelo e para avaliar a capacidade do sistema em compensar problemas de Qualidade de Energia Elétrica relacionados com os harmónicos de tensão. Ou seja, nesta fase pretende-se verificar se os resultados obtidos a partir da interação entre o circuito de potência e o sistema de controlo cumprem com os objetivos traçados para compensação de problemas de QEE. 4.5.1. Compensação dos Harmónicos de Tensão Nesta secção procede-se à análise do desempenho do Filtro Ativo de Potência Série na compensação de harmónicos de tensão, comparando a distorção harmónica da carga em períodos anteriores e posteriores à entrada em funcionamento do FAS. Portanto, na Figura 4.13 tem-se as formas de onda da tensão na fonte (vfonte) e do lado da carga (vcarga), que coincidem uma com a outra num momento prévio à compensação. Também é possível observar a forma de onda da corrente na carga (icarga). (a) vfonte (V) 200 100 0 -100 -200 (b)200 vcarga (V) 100 0 -100 -200 (c) icarga (A) 10 5 0 -5 -10 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 Time (s)(s) Tempo Figura 4.13 – Formas de onda da tensão na fonte e na carga e da corrente na carga antes da compensação: (a) Tensão na fonte (vfonte); (b) Tensão na carga (vcarga); (c) Corrente na carga (icarga). Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 69 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série A forma de onda da tensão na Figura 4.13 apresenta uma THD de 10,28%, e o contributo de cada harmónico encontra-se descriminado na Tabela 4.1. Todavia, é a tensão da rede que uma vez amostrada serve como sinal de entrada para o circuito PLL descrito na subsecção 4.4.1, e cujo sinal de saída (vref) se encontra registado na Figura 4.14. Tabela 4.1 – Componentes harmónicas da tensão na carga antes da compensação. Ordem Valor relativo [%] Valor eficaz [V] 3ª 6,76 7,78 5ª 6,27 7,21 20 7ª 3,50 4,03 0 11ª 2,88 3,31 vcomp_tt 40 -20 -40 vref (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 Time (s)(s) Tempo Figura 4.14 – Forma de onda da tensão de referência (vref). O sinal obtido da comparação entre o sinal vref e o sinal vcarga é designado por vcomp_har, que é no fundo o sinal de compensação do conteúdo harmónico do sistema. Porém o FAS não deve apenas reduzir os harmónicos de tensão, este deve também compensar as perdas energéticas verificadas na comutação dos semicondutores, pelo que deve ser acrescentada uma parcela de compensação para esse efeito. Essa componente, denominada por vcomp_cc, é obtida comparando o valor da tensão do lado CC com um valor de referência (registado nos 200 V), e multiplicando o resultado por uma sinusoide unitária. Esta parcela é somada ao sinal vcomp_har e juntas compõem o sinal de compensação vcom_tot, que engloba a totalidade das componentes de compensação e que será sintetizado na saída do inversor. Na Figura 4.15 estão representadas as componentes de compensação vcomp_cc, vcomp_har e vcomp_tot. O sinal de saída do filtro ativo, vca, segue a referência oferecida pelo sinal vcomp_tot, sintetizando as harmónicas existentes do lado da fonte em oposição de fase, e requerendo à fonte a potência ativa necessária para regular o barramento CC. Aliás, o 70 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série processo de regulação da tensão do barramento produz uma pequeníssima queda de tensão (na ordem das centenas de milivolts) aos terminais do FAS que pode ser minimizada através da correção dos ganhos dos controladores PI e PID. Na Figura 4.16 pode-se verificar como a tensão vca segue a sua referência vcomp_tot e como a tensão no barramento CC (vcc) se mantém regulada. Com a entrada em funcionamento do FAS a THD do sistema baixa de 10,28% para 1,5%, o que é corroborado pelos novos valores dos harmónicos apresentados na Tabela 4.2. vcomp_cc (V) (a) 1 0.5 0 -0.5 -1 vcomp_har (V) (b) 40 20 0 -20 -40 (c) vcomp_tt 40 20 0 -20 -40 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 Time (s)(s) Tempo Figura 4.15 – Formas de onda das tensões de compensação: (a) Tensão de regulação do barramento CC (vcomp_cc); (b) Tensão de compensação harmónica (vcomp_har); (c) Tensão de compensação total (vcomp_tt). (a) vcomp_tt (V) vca (V) 40 20 0 -20 -40 vcc (V) (b) 200.04 200 199.96 199.92 0.8 0.82 0.84 0.86 0.88 0.9 Time (s)(s) Tempo Figura 4.16 – Formas de onda das tensões de compensação e do barramento CC: (a) Tensão de compensação de referência (vcomp_tt) e tensão de compensação sintetizada pelo FAS (vca) que se encontram sobrepostas; (b) Tensão regulada no barramento CC (vcc). Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 71 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Tabela 4.2 – Componentes harmónicas da tensão na carga após compensação. Ordem Valor relativo [%] Valor eficaz [V] 3ª 0,56 0,65 5ª 0,63 0,72 7ª 0,72 0,83 11ª 0,72 0,83 Na Figura 4.17 estão comprovadas graficamente, as melhorias apresentadas pela tensão e corrente na carga após o FAS entrar em funcionamento. (a) vfonte (V) 200 100 0 -100 -200 (b)200 vcarga (V) 100 0 -100 -200 (c) icarga (A) 10 5 0 -5 -10 0.3 0.32 0.34 0.36 0.38 0.4 Time (s)(s) Tempo Figura 4.17 – Formas de onda da tensão na fonte e na carga e da corrente na carga após a compensação: (a) Tensão na fonte (vfonte); (b) Tensão na carga (vcarga); (c) Corrente na carga (icarga). 4.5.2. Carregamento e Regulação do Condensador no Barramento CC O carregamento e regulação do condensador no barramento CC é uma ação essencial no projeto e conceção do FAS, especialmente tendo em conta a topologia adotada. O procedimento habitual de carregamento do barramento CC consiste numa fase inicial em permitir que a potência flua pelos díodos em antiparalelo com os interrutores, e numa segunda fase usar o sistema de controlo para gerir a potência requerida à fonte até atingir os valores da tensão de referência, e posteriormente regular efetivamente a tensão no barramento CC. Geralmente este tipo de carregamento é controlado por corrente e conta com a adição de um condicionador paralelo para executá-lo. Todavia a técnica de controlo adotada não implementa nenhuma malha de corrente, e a topologia idiossincrática proposta para o FAS não permite a inclusão de um condicionador paralelo, pelo que teve-se que conceber um novo método para a carga 72 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série do condensador do lado CC. Em primeiro lugar excluiu-se a possibilidade de usar os díodos em antiparalelo para o carregamento, já que após algumas simulações verificouse que tal causaria um grande abaixamento da amplitude da tensão na carga (na ordem dos 80%). Levando isso em consideração, optou-se por utilizar a técnica de controlo para carregar o condensador do lado CC desde os 0 V até aos 198 V, e a partir daí manter a tensão regulada enquanto o FAS corrige os problemas de QEE existentes na instalação. O carregamento, apesar de ser bastante lento quando comparado com outros métodos, é realizado de uma forma linear e constante, sendo mitigados os efeitos nocivos verificados na tensão da carga durante o carregamento (apresenta quedas máximas de 15% na amplitude). Numa fase inicial do carregamento é também utilizada uma resistência de pré-carga para evitar variações bruscas na tensão aos terminais do vcarga (V) condensador do lado CC. A Figura 4.18 mostra a evolução da tensão durante um ciclo 200 de 100carga do condensador do lado CC, ilustrando como o carregamento ocorre até aos 0 s e daí em diante o FAS mantém a da tensão no barramento regulada em torno do 3,04 -100 valor de referência. -200 vcc (V) 250 Carregamento do Condensador do Barramento CC 200 Regulação do Barramento CC 150 100 50 0 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 Time(s) (s) Tempo Figura 4.18 – Ciclo de carregamento do barramento CC. Similarmente, na Figura 4.19, podem ser avaliados os efeitos causados pelo vcc (V) processo de carregamento na forma de onda da tensão da carga. No início da carga a 200 tensão 150 na carga tem amplitude de 162,5 V, e no final do período de carregamento esta situa-se nos 145,5 V; todavia com a entrada em funcionamento do ciclo de regulação a 100 50 amplitude da tensão na carga é restituída para o seu valor inicial. 0 vcarga (V) 200 162,5 V 145,5 V 100 0 -100 -200 2.6 2.7 2.8 2.9 3 Time (s)(s) Tempo Figura 4.19 – Variação da tensão da carga durante o carregamento dos condensadores do lado CC. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 73 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série 4.5.3. Compensação de Cavas e Sobretensões Como foi referido na subsecção 2.5.2, em condições excecionais o Filtro Ativo Série é capaz de compensar alterações no valor eficaz da tensão da rede. Com isto em mente foram recolhidos resultados de simulação que comprovassem esta capacidade do FAS em mitigar este problema de QEE. Ao modelo de simulação apresentado na Dig_Vs_rms 200 secção 4.3 foi provocado um afundamento na tensão da rede com 0,2 ms de duração e 100 uma magnitude de 25% (29 V). Durante a cava, a tensão da fonte passa 86 V de com 0 eficaz. Na Figura 4.20 pode-se ver os efeitos provocados pela cava na tensão da valor -100 rede. -200 vfonte (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Time (s) Tempo (s) Figura 4.20 – Forma de onda da tensão na fonte durante uma cava de tensão (vfonte). De forma a compensar esta cava, é preciso em primeiro lugar detetar a ocorrência vfonte (V) 200 deste fenómeno, para tal é necessário calcular o valor eficaz da tensão e monitorizar o 150 100 comportamento ao longo do tempo. A Figura 4.21 mostra a evolução do valor eficaz seu 50 da0tensão da rede durante a cava de tensão -50 -100 inerente ao método de cálculo utilizado. -150 -200 e onde se pode visualizar também o atraso vfonte_rms (V) 130 120 110 100 90 80 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Time (s) Tempo (s) Figura 4.21 – Cálculo do valor eficaz da tensão da rede durante uma cava de tensão (vfonte_rms). Uma vez detetada a cava, o Filtro Ativo Série interrompe a regulação da tensão no barramento CC e utiliza a energia armazenada previamente no condensador deste barramento para fornecer à carga a potência que esta necessita para continuar a funcionar nas condições nominais. Na Figura 4.22 encontra-se a forma de onda da tensão rede e forma de onda da carga durante o período de compensação da cava. De 74 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série notar na Figura 4.22 (b) que, durante a cava de tensão, o Filtro Ativo Série mantém a compensação harmónica da tensão da carga enquanto compensa também a variação do valor eficaz. Todavia, terminada a cava, o FAS interrompe as tarefas de compensação para retornar o vcc ao seu valor de referência. (a) (b) vfonte (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 vcarga (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Time (s) Tempo (s) Figura 4.22 – Formas de onda da tensão da rede e da carga durante uma cava: (a) Tensão da fonte (vfonte); (b) Tensão da carga(vcarga). Também é importante avaliar a conduta da tensão do barramento CC no momento vcarga (V) de 200compensação da cava e até a tensão regressar para próximo do valor de referência. 100 Como se pode ver na Figura 4.23, durante a cava a tensão do barramento CC desce dos 2000 V para os 170 V e, uma vez terminada a cava, a tensão do barramento CC regressa -100 lentamente para o seu valor de referência. -200 vcc (V) 205 200 195 190 185 180 175 170 0.2 0.4 Tempo (s) Time (s) 0.6 0.8 Figura 4.23 – Evolução da tensão do barramento CC antes (0,1 s a 0,2 s), durante (0,2 s a 0,4 s) e após uma cava de tensão (0,4 s a 0,9 s) (vcc). Para avaliar o comportamento do FAS durante uma sobretensão recorreu-se a um procedimento análogo ao descrito para o caso da cava de tensão. Nesta situação foi provocada uma sobretensão na tensão da rede com uma duração de 0,2 s e com uma magnitude de 20% (23 V). Em primeiro lugar é necessário detetar a sobretensão, algo que é conseguido calculando o valor eficaz da tensão da fonte e analisar as suas Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 75 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série vfonte (V) variações ao longo do tempo como é visível na Figura 4.24. Já na Figura 4.25 (a) 200 pode-se verificar o aumento da tensão da rede entre 0,2 s e 0,4s, enquanto na 100 0 Figura 4.25 (b) pode-se verificar a forma como a tensão da carga se mantém -100 praticamente inalterada durante esse período. -200 vfonte_rms (V) 140 135 130 125 120 115 110 105 100 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Time (s) Tempo (s) Figura 4.24 – Cálculo do valor eficaz da tensão da rede durante uma sobretensão (vfonte_rms). (a) (b) vfonte (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 vcarga (V) 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Time (s) Tempo (s) Figura 4.25 – Formas de onda da tensão da rede e da carga durante uma sobretensão: (a) Tensão da fonte vcarga (V) (vfonte); (b) Tensão da carga(vcarga).. 200 100 Durante a sobretensão, e como se pode comprovar pela Figura 4.26, verifica-se um0 aumento da tensão do barramento CC. Terminada a sobretensão, a tensão do -100 barramento CC regressa ao seu valor de referência. -200 vcc (V) 230 225 220 215 210 205 200 195 190 0.2 0.4 0.6 0.8 Tempo (s) Time (s) Figura 4.26 – Evolução da tensão do barramento CC antes (0,1 s a 0,2 s), durante (0,2 s a 0,4 s) e após uma sobretensão (0,4 s a 0,9 s) (vcc). 76 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série 4.6. Comparação entre o Filtro Ativo Série e o Condicionador Ativo Série Nesta secção é apresentado um modelo de simulação de um Condicionador Ativo Série (ver 2.5.1) e os seus resultados são contrapostos com os resultados do Filtro Ativo Série. A razão para se proceder a esta comparação prende-se com a necessidade de comparar as potencialidades do FAS em desempenhar certas tarefas que geralmente são desempenhadas por equipamentos mais completos como, o Condicionador Ativo Série. Em primeira instância será analisado o circuito de potência e o sistema de controlo adotados na simulação do Condicionador Ativo Série e só depois serão confrontados os resultados de simulação dos dois equipamentos. Como é evidente, serão apenas comparados os desempenhos dos dois equipamentos mediante as tarefas que o FAS e o Condicionador Ativo Série são capazes de desempenhar em regime permanente, ou seja, a compensação das componentes harmónicas da tensão e a regulação do barramento CC. 4.6.1. Modelo do Circuito de Potência do Condicionador Ativo Série Tomando como exemplo a Figura 2.8 da subsecção 2.5.1, foi desenvolvido o modelo de simulação exibido na Figura 4.27. Este apresenta cinco fontes de tensão com objetivo de modelar um sistema elétrico com elevado conteúdo harmónico na forma de onda da tensão. Esta situação é em tudo semelhante à descrita na secção 4.3, onde uma das fontes representa a componente fundamental da tensão com valor eficaz de 230 V e frequência de 50 Hz. As restantes fontes de tensão modelam as harmónicas de tensão de 3ª, 5ª, 7ª e 11ª ordem, que se encontram em fase, e com valores eficazes de 16 V, 14 V, 8 V, e 7 V respetivamente Também, como no modelo de simulação do FAS, existe um transformador de entrada com uma relação de transformação 230 V // 115 V e uma potência de 11 kVA, e a impedância de linha, conectado em série com o secundário do transformador, é modelada através de um circuito RL onde R = 20 mΩ e L = 300 µH. A disposição dos outros elementos do modelo é idêntica à da secção 4.3, com as cargas e o Condicionador Ativo Série colocados à jusante do secundário do transformador. Aliás, a principal diferença entre o modelo do circuito de potência do Condicionador Ativo Série e o modelo de simulação equivalente do FAS prende-se com o dispositivo de compensação em si, pois o Condicionador Ativo Série apresenta dois conversores de potência: um ligado em paralelo com o restante sistema (condicionador paralelo, realçado a laranja na Figura 4.27), e outro ligado em série da mesma maneira que no Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 77 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série FAS (Condicionador Série, realçado a lilás na Figura 4.27). O condicionador série, descontando a ausência da resistência de pré-carga, é em tudo similar ao Filtro Ativo de Potência Série; já o condicionador paralelo, para além do inversor apresenta um transformador de acoplamento que isola galvanicamente o equipamento de compensação da rede elétrica, uma indutância para filtragem das componentes de alta frequência presentes na corrente que flui pelo condicionador série, e uma resistência de pré-carga que é acionada no carregamento do condensador do barramento CC. Condicionador Paralelo Condicionador Série Figura 4.27 – Modelo de simulação do Condicionador Ativo Série. Como o propósito deste modelo é comparar o seu desempenho com o do FAS, as cargas são iguais ao modelo de simulação da secção 4.3: uma carga linear do tipo RL, onde R = 30 Ω e L = 5 mH; e uma carga não-linear composta por um retificador e uma carga RC, onde R = 20 Ω e C = 330 µF. 4.6.2. Modelo do Sistema de Controlo do Condicionador Ativo Série O sistema de controlo escolhido para o Condicionador Ativo Série (CAS) provém da Dissertação de Mestrado de Hélder Carneiro [43], e pode ser dividido em duas partes, onde uma delas versa sobre o condicionador paralelo, que está encarregue de regular a tensão no condensador do lado CC, e a outra parte que incide sobre o condicionador série é responsável pela compensação de problemas de QEE que, no caso do Condicionador Ativo Série, para além de mitigar o conteúdo harmónico da forma de onda da tensão, é também capaz de compensar variações do valor eficaz da tensão (cavas e sobretensões) e flutuações da tensão. A estratégia de geração de referência de tensão é a mesma que foi adotada para o FAS, e que foi descrita anteriormente na 78 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série subsecção 4.4.1. O esquema de controlo completo pode ser visto na Figura 4.28, onde se encontram evidenciadas as partes de controlo dedicadas ao condicionador paralelo e ao condicionador série. Figura 4.28 – Sistema de controlo do Condicionador Ativo Série: (a) Sistema de controlo do condicionador paralelo; (b) Sistema de controlo do condicionador série. A estratégia de controlo referente ao condicionador paralelo consiste numa malha indireta de corrente onde inicialmente é obtida a diferença entre o valor medido da tensão do barramento CC e o valor de referência para o mesmo barramento. O resultado é inserido num controlador PI e seguidamente multiplicado por uma sinusoide de amplitude unitária e por uma constante. O produto destas operações serve de corrente de referência, e é comparado com o valor medido da corrente que atravessa a indutância do condicionador paralelo, fechando assim a malha indireta de corrente. A diferença desta comparação é inserida num novo controlador PI e o sinal obtido é enviado para gerar os sinais de PWM do condicionador paralelo. O controlo do condicionador série surge bastante simplificado, sendo bem mais elementar que o do condicionador paralelo. Existe apenas uma comparação entre o valor de referência de tensão proveniente do circuito de sincronismo (PLL) e o valor medido da tensão da carga. O resultado desta diferença é inserido num controlador PI, cuja saída é enviada para geração dos sinais para os IGBTs do condicionador série. 4.6.3. Comparação dos Resultados das Simulações do Filtro Ativo Série e do Condicionador Ativo Série Nesta subsecção são apresentados os resultados de simulação do CAS, sendo simultaneamente comparados com os resultados obtidos das simulações do FAS. Objetivamente são comparados os resultados dos dois equipamentos na compensação de harmónicos de tensão e na regulação da tensão do barramento CC para Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 79 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série as mesmas condições de carga e conteúdo harmónico presente no sistema elétrico. Portanto, foram conduzidas simulações com uma carga RL e com uma carga não-linear (um retificador com uma carga RC). As características das cargas foram definidos na secção 4.3 e na subsecção 4.6.1, e em ambos os casos a forma de onda da tensão da fonte tem uma THD de 10,3%. Comparação de Resultados na Compensação Os resultados em regime permanente do CAS são apresentados na Figura 4.29, enquanto a Figura 4.30 mostra os resultados em regime permanente obtidos com o FAS. 200 Antes da compensação vcarga (V) (a) 200 100 100 0 0 -100 -100 -200 Depois da compensação vcarga (V) (c) -200 icarga (A) (b) icarga (A) 10 10 5 5 0 0 -5 -5 -10 (d) -10 0.12 0.16 Time (s) Tempo (s) 0.2 0.72 0.76 Time (s) Tempo (s) 0.8 Figura 4.29 – Formas de onda condicionadas pelo CAS: (a) Tensão na carga antes do acionamento do CAS; (b) Corrente na carga antes do acionamento do CAS; (c) Tensão na carga após o acionamento do CAS; (d) Corrente na carga após o acionamento do CAS. Na Figura 4.29 (a) e na Figura 4.30 (a) são exibidas as formas de onda da tensão na carga num instante prévio à entrada em funcionamento do CAS e do FAS respetivamente. Já na Figura 4.29 (c) e na Figura 4.30 (c) é mostrada a tensão na carga após o CAS e o FAS entrarem em funcionamento. De maneira análoga, na Figura 4.29 (b) e na Figura 4.30 (b) e também na Figura 4.29 (d) e na Figura 4.30 (d), é possível comprovar como a melhoria da tensão causa indiretamente uma melhoria sobre a corrente que a carga consome. Como é visível nesse conjunto de figuras, os resultados não diferem muito entre os dois equipamentos, sendo que ambos são capazes de compensar convenientemente os problemas de QEE relacionados com os harmónicos de tensão. De facto, após a entrada em funcionamento do CAS a THD do sistema diminuiu para 1,1%, o que é bastante próximo da taxa de 1,5% obtida com o FAS e muito menor do que os 10,3% da fonte. 80 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Antes da compensação (a) vcarga (V) 200 200 100 100 0 0 -100 -100 -200 -200 icarga (A) Depois da compensação (c) vcarga (V) (b) (d) icarga (A) 10 10 5 5 0 0 -5 -5 -10 -10 0.12 0.16 Time (s) Tempo (s) 0.2 0.72 0.76 Time (s) Tempo (s) 0.8 Figura 4.30 – Formas de onda condicionadas pelo FAS: (a) Tensão na carga antes do acionamento do FAS; (b) Corrente na carga antes do acionamento do FAS; (c) Tensão na carga após o acionamento do FAS; (d) Corrente na carga após o acionamento do FAS. Um exame ao conteúdo espetral da tensão na carga após a entrada em funcionamento quer do FAS quer do CAS denuncia uma diminuição evidente dos valores de cada um dos harmónicos presentes no sistema elétrico. A comparação entre a Tabela 4.3, a Tabela 4.1 e a Tabela 4.2 confirma esta afirmação. Tabela 4.3 – Amplitudes das componentes harmónicas da tensão na carga após a entrada em funcionamento do CAS. Ordem Valor relativo [%] Valor eficaz [V] 3ª 0,44 0,50 5ª 0,18 0,21 7ª 0,18 0,22 11ª 0,17 0,20 Por último, resta comparar o desempenho dos dois dispositivos na regulação da tensão do barramento CC. Os dois dispositivos têm abordagens diferentes em relação a este ponto, já que enquanto o CAS requisita à fonte mais corrente para desempenhar esta tarefa, o FAS produz uma pequena queda de tensão para realizar a regulação. Todavia como a Figura 4.31 mostra, a tensão no condensador do lado CC do CAS e do FAS mantém-se regulada. Na Figura 4.31 também é passível de analisar a variação da corrente requerida pelo condicionador paralelo para regular a tensão no barramento do CAS, assim como a tensão requerida pelo FAS para desempenhar a mesma tarefa. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 81 Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série Condicionador Ativo Série Vcc (V) (a) Vcc (V) 200.1 Filtro Ativo Série (c) 200.5 200.04 200 199.98 199.5 Icomp_cc (A) (b) Vcomp_cc (V) 1.5 (d) 1.5 1 1 0.5 0.5 0 0 -0.5 -0.5 -1 -1 -1.5 -1.5 1.12 1.16 Time (s) Tempo (s) 1.2 1.52 1.56 Time (s) (s) Tempo 1.6 Figura 4.31 – Formas de onda no Condicionador Ativo Série e no Filtro Ativo Série: (a) Tensão no barramento CC do CAS; (b) Corrente de compensação do barramento CC do CAS; (c) Tensão no barramento CC do FAS; (d) Tensão de compensação do barramento CC do FAS. 4.7. Conclusões Neste capítulo, com recurso a simulações computacionais, validou-se a aplicabilidade da teoria de controlo selecionada e, avaliaram-se as sinergias existentes entre o sistema de controlo e o circuito de potência. Para tal, recorreu-se ao software de simulação PSIM, exclusivamente dedicado a simular sistemas de eletrónica de potência. Esta ferramenta cumpriu com o pretendido para esta etapa e revelou ter ainda uma série de funcionalidades extra bastante interessantes e úteis, como a possibilidade de desenvolvimento de código em linguagem C dentro do próprio programa. Com recurso ao PSIM foi simulado um Filtro Ativo de Potência Série monofásico, sendo este sistema composto pelos modelos do circuito de potência e do sistema de controlo. Se a modelização do circuito de potência é bastante trivial, já o modelo do sistema de controlo apresenta características como a geração de referência de tensão e técnica de comutação com múltiplas possibilidades de implementação. Assim sendo, entendeu-se necessário em primeiro lugar testar separadamente as opções selecionadas e só depois integrá-las no sistema de controlo. Este processo é descrito ao longo da secção 4.4 deste capítulo. Obtido o modelo do FAS, procedeu-se à recolha de resultados de simulação com o intuito de avaliar o desempenho do sistema na compensação de harmónicos e na regulação da tensão no barramento CC. Por último, e para avaliar melhor a capacidade do FAS para lidar com os problemas de QEE propostos, os seus resultados de simulação foram comparados com os resultados de um Condicionador Ativo Série, concluindo-se que o FAS é capaz de 82 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 4 – Simulações do Filtro Ativo Série rivalizar na capacidade na resolução de certos problemas de QEE com equipamentos mais complexos, como é o caso do Condicionador Ativo Série. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 83 CAPÍTULO 5 Implementação do Filtro Ativo Série 5.1. Introdução Neste capítulo é relatada a implementação do protótipo laboratorial de um Filtro Ativo Série Monofásico Sem Fonte de Tensão do Lado CC. Numa primeira instância é explicado o circuito de potência concebido e são descritos os elementos mais importantes do mesmo, como o inversor e o seu filtro passivo de saída, as cargas e o circuito de comando que controla o circuito de potência. A segunda metade deste capítulo debruça-se sobre a implementação do sistema de controlo, incluindo portanto os circuitos de aquisição de sinal, a placa de condicionamento dos sinais recolhidos, o DSP (Digital Signal Processor) utilizado, o circuito de comando do inversor, e o circuito de proteção do barramento CC. Muitos dos circuitos que compõem o sistema de controlo já existiam, desenvolvidos no âmbito do Projeto SINUS [56-58], e após serem simulados no software PSIM, alguns deles foram readaptados para servirem de acordo com as especificidades do protótipo implementado. 5.2. Circuito de Potência do Filtro Ativo Série Esta secção é dedicada à explanação do circuito de potência implementado que é composto por um inversor de dois braços de IGBTs com um condensador do lado CC e um filtro passivo RLC na sua saída, por um transformador de entrada de 11 kVA que isola galvanicamente o circuito de potência da rede elétrica, e por um conjunto de cargas, constituído por uma carga puramente resistiva, uma carga que conjuga elementos resistivos com elementos indutivos e um retificador com um filtro de saída RC. Por último, e para coordenar as ações entre os diferentes elementos deste sistema, foi concebido um circuito de comando através de contactores que confere flexibilidade e segurança ao circuito. Na Figura 5.1 é mostrada uma vista geral do circuito de potência com todos os seus componentes. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 85 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Figura 5.1 – Circuito de Potência: (a) Circuito de potência na parte superior da bancada; (b) Circuito de potência na parte inferior da bancada. 5.2.1. Circuito de Comando do Filtro Ativo Série As interligações do circuito de potência devem ser corretamente projetadas de modo a que se possa intercambiar os diferentes elementos com total segurança para o usuário. Levando isto em consideração procedeu-se ao projeto de um sistema de comando que através de contactores, disjuntores, botões de pressão e interruptores manuais, troca a disposição das cargas e do Filtro Ativo de Potência Série (FAS) mediante o pretendido para cada teste realizado. Na Figura 5.2 encontra-se um esquema do circuito de comando projetado. 86 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série F Q1 Q2 K5 K5 K6 S1 K2 K3 K1 S2 Q5 Q3 K1 K2 Q6 Q4 K2 K3 K5 R RL K6 RET K4 N Figura 5.2 – Esquema do circuito de comando implementado para o Fitltro Ativo de Potência Série. O contato Q1 é um disjuntor que para além de ser um elemento de proteção do sistema, serve também como interruptor geral. Ao ser acionado tanto a parte de potência como a parte de comando ficam prontas para operar, pelo que foi adicionado um dispositivo de sinalização (lâmpada) para indicar quando o sistema está conectado à rede elétrica. O circuito de comando tem também um disjuntor que serve como sua proteção exclusiva, representado na figura pelo contato Q2. Todavia, o circuito de comando só é efetivamente acionado quando o botão S2 é pressionado, alimentando K1 e fechando os contatos associados a esta bobina (incluindo o contato de realimentação do circuito). Já o botão S1 tem como função cortar a alimentação de K1, e deve ser pressionado apenas em caso de emergência já que desativa todo o sistema. Os contatos Q3 e Q4 servem para conectar o FAS e as cargas ao circuito de potência, respetivamente. Quando Q4 é fechado, as bobinas K3 e K4 são alimentadas e os seus contatos fechados, ficando as cargas a serem alimentadas diretamente a partir da fonte sem interferência do FAS. Para conectar o FAS ao circuito, é preciso fechar Q3 o que permite alimentar K2, esta ação para além de fechar os contatos que incorporam o FAS no circuito colocando-o imediatamente a jusante da fonte de alimentação, corta também a alimentação de K3 e K4 alterando a disposição das cargas no circuito. A seleção das cargas foi outro aspeto tido em consideração, na altura de conceber o circuito de comando. Inicialmente quando são acionadas as cargas, quer seja por K2 ou K3, encontra-se selecionada uma carga puramente resistiva. Porém, ativando os contatos Q5 e Q6, é possível testar o comportamento do FAS com cargas diferentes. Quando acionado Q5, a bobina K5 passa a ser alimentada, e como consequência a carga Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 87 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série puramente resistiva é retirada do circuito e substituída por uma carga RL. De forma similar quando Q6 é ativado, K6 passa também a ser alimentada, colocando em paralelo com a carga RL um retificador com filtro RC de saída. Na Figura 5.3, pode-se analisar o esquema do circuito de potência que complementa a descrição do circuito de comando da Figura 5.2. Q2 2:1 Q3 630Ω Q4 Q3 RR Q5 Q6 117µF 100Ω CRet Rede Elétrica 1,50mH 50Ω L RL RRL RRet 20µF 12Ω Cf Rf 0,8mH Vcc Lf Ccc 4700µF Figura 5.3 – Esquema do circuito de potência do Filtro Ativo Série. 5.2.2. Conversor de Potência O conversor de potência utilizado foi um inversor composto por dois módulos de IGBTs, assinalados na Figura 5.4, do tipo SMK100GB176D da Semikron, existindo dois IGBTs em cada um desses módulos; ou seja cada módulo de IGBTs é representativo de um dos braços do inversor [59]. Figura 5.4 – Fotografia do conversor de potência (Inversor). 88 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Cada um dos IGBTs apresenta corrente de coletor (Ic) máxima de 125 A, enquanto o díodo em antiparalelo suporta correntes (If) até 100 A (para uma temperatura de 25 ºC), já a tensão coletor-emissor (Vce) não deve exceder os 1700 V. Convém salientar que em regime transitório a corrente de coletor pode exceder até 6 vezes o seu valor nominal. Outra característica relevante prende-se com os valores máximos da corrente que diminuem consideravelmente com o aumento da temperatura (a 80º C Ic = 90 A e If = 70 A), logo é indispensável o uso de dissipadores térmicos para manter a temperatura na caixa próxima dos 25º C. Na Figura 5.5 têm-se o aspeto físico de um módulo de IGBTs assim como um esquemático do seu circuito interno [59]. (a) (b) Figura 5.5 – Representações do módulo de IGBTs SMK100GB176D: (a) Esquema elétrico do módulo [59]; (b) Aspeto físico do módulo [59]. Na Figura 5.4 estão também assinalados dois circuitos de drive SKHI22AH4 (também produzidos pela Semikron), estando cada um deles designado para um dos módulos de IGBTs [60]. A Figura 5.6 mostra com maior detalhe o aspeto físico de um destes circuitos e o respetivo esquemático [60]. (a) (b) Figura 5.6 – Representações do circuito de drive SKHI22AH4: (a) Esquema elétrico do circuito de drive [60]; (b) Aspeto físico do módulo [60] Estes integrados são o interface entre o circuito entre o sistema de controlo e o circuito de potência, assegurando o isolamento elétrico entre as duas partes por intermédio de transformadores. Outras características assinaláveis destes drivers: Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 89 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série monitorização da tensão coletor-emissor (Vce) para proteção contra curto-circuitos; deteção de erros de comutação, o que permite parar a comutação caso algum erro aconteça; e definição do dead-time por hardware. Uma última nota para os condensadores snubber de 0,1 µF (dimensionados de acordo com [61]) que assentam sobre os módulos IGBTs e para as placas PCB que estabelecem as ligações entre os diferentes elementos do inversor; estas placas eram já existentes no laboratório do GEPE e foram desenvolvidas no âmbito do projeto SINUS. 5.2.3. Filtro de Acoplamento RLC Após a sintetizar as ondas desejadas no inversor é necessário retirar o conteúdo de alta frequência proveniente da comutação dos semicondutores das formas de onda sintetizadas. Para tal aplica-se um filtro passa-baixo, como o da Figura 5.7, entre os terminais do inversor e o restante circuito de potência e idealmente não deve ter qualquer tipo de influência no sistema para além da filtragem. O dimensionamento dos elementos do filtro de acoplamento é um procedimento complicado que engloba tanto de conhecimento teórico como de conhecimento empírico. (a) (b) Lf Cf Rf Figura 5.7 – Filtro de acoplamento RLC: (a) Esquema elétrico do filtro; (b) Aspeto físico do filtro. O primeiro passo no processo de dimensionamento do Filtro de Acoplamento é assumir o sistema como sendo ideal e dessa forma calcular os valores da indutância (Lf ) e do condensador (Cf) do filtro passivo. A indutância Lf pode ser calculada através da equação (5.1) que relaciona a indutância Lf com o valor desejada para a variação máxima da corrente que a atravessa [29]. Lf 0,5 Vd f s i L f max (5.1) Para calcular o condensador Cf deve-se levar em conta o valor obtido para a indutância Lf e a frequência de ressonância do filtro LC pode-se sendo que a frequência 90 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série de ressonância, ωr, deve estar compreendida entre a frequência do harmónico de maior ordem que se pretende cancelar e ¼ da frequência de comutação [29]. Partindo do que foi referido anteriormente é possível chegar à equação (5.2): Cf 1 L f r2 (5.2) Então, partindo das equações (5.1) e (5.2) foram calculados os valores de Lf e Cf que serviram como base para o dimensionamento do filtro LC de saída: Lf = 1,5 mH; Cf = 30 µF. A partir destes valores obtém-se a resposta em frequência, calculada recorrendo ao MATLAB, exibida na Figura 5.8 que permite verificar o cumprimento das condições anteriormente impostas. Figura 5.8 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 1,5 mH; Cf = 30 µF). Analisando a figura anterior facilmente se percebe que a amplitude do conteúdo espetral próximo da frequência de ressonância é amplificada. Isto revela-se um problema e torna necessário inserir no circuito uma resistência de amortecimento (Rf = 8 Ω) colocada em série com Cf. Este novo elemento tem um papel importante no desempenho do filtro passivo, pois como se pode comprovar pela resposta em frequência exibida na Figura 5.9, a amplitude da frequência de ressonância é fortemente diminuída com a sua inserção no circuito. Todavia a inserção de Rf tem também desvantagens já que aumenta as perdas energéticas associadas ao filtro passivo. Também na implementação prática deste Filtro de Acoplamento verificou-se que os resultados obtidos nos primeiros ensaios não eram totalmente satisfatórios, pelo que foi necessário, através de uma análise empírica, redimensionar os valores finais para a indutância, condensador e resistência (Lf = 0,8 mH, Cf = 20 µF, Rf = 12 Ω), e foi traçada uma nova resposta em frequência do Filtro de Acoplamento, exibida na Figura 5.10, que Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 91 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série evidência uma frequência de corte aos 1,75 kHz e uma frequência de ressonância situada aos 1,25 kHz. Figura 5.9 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 1,5 mH, Cf = 30 µF, Rf = 8 Ω). Figura 5.10 – Diagrama de Bode do Filtro de Acoplamento (Lf = 0,8 mH, Cf = 20 µF, Rf = 12 Ω). 5.3. Sistema de Controlo do Filtro Ativo Série O sistema de controlo tem como principais tarefas implementar a teoria de controlo, monitorizar e detetar falhas no circuito de potência e fornecer um interface simplificado para o utilizador acionar todo o sistema. Para cumprir com este objetivos o sistema é composto por: um bloco de aquisição e condicionamento das grandezas intervenientes na malha de controlo; um segundo bloco constituído pelo DSP onde os sinais provenientes do conjunto aquisição e condicionamento são amostrados através de um ADC interno ao DSP sendo posteriormente utilizados no cálculo da tensão de compensação, este bloco conta ainda com uma placa externa de DAC que converte os 92 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série sinais digitais do DSP em sinais analógicos passiveis de serem analisados num osciloscópio; por último o sistema de controlo conta ainda com um bloco de comando e proteção que como o próprio nome indica é encarregado de comandar o conversor de potência e proteger o barramento CC de valores de tensão incompatíveis para as características intrínsecas do condensador, tudo isto é conseguido através de um placa de comando para o inversor e de um placa de proteção para o barramento CC. Praticamente todos os blocos são alimentados por uma fonte externa ao sistema que fornece tensões contínuas de +15 V, -15 V, +5 V, -5 V e 0 V, sendo que apenas o DSP é alimentado com uma fonte diferente da anteriormente referida. 5.3.1. Sensores Utilizados A medição das grandezas de tensão fica ao encargo de sensores de efeito de Hall. Neste género de sensores a densidade do fluxo magnético gerada pela corrente que atravessa um determinado condutor induzem aos terminais de um segundo condutor uma tensão sensível às variações do fluxo magnético. Como neste trabalho interessa apenas medir os valores instantâneos da tensão optou-se pelos sensores de tensão CYHVS025 fabricados pela ChenYang cujo esquema de ligações é apresentado na Figura 5.11. (a) (b) Figura 5.11 – Sensor de tensão CYHVS025 da ChenYang: (a) Esquema de funcionamento do sensor; (b) Aspeto físico do sensor. Tendo por base o efeito de Hall, estes dispositivos são capazes de medir sinais tanto em corrente alternada como em contínua e o seu funcionamento assemelha-se ao de um transformador com razão de transformação é de 2500:1000, existindo portanto isolamento elétrico entre o sinal medido e o sinal de saída. No primário encontra-se a resistência Ri que deve ser dimensionada tendo em conta o valor máximo da tensão (VMAXin) e o valor nominal da corrente no primário do sensor (Ipn). Estas relações são traduzidas na equação (5.3). Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 93 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Ri VMAXin I pn (5.3) Por sua vez a corrente do lado do secundário (Isn) tem um valor nominal de 25 mA, pelo que a resistência Rm deve ser dimensionada conforme a tensão máxima desejada (VMAXout) para o sinal de saída. O cálculo de Rm é portanto realizado de acordo com a equação (5.4). Rm VMAXout I sn (5.4) O sensor tem uma saída em corrente o que minimiza a interferência do ruído no sinal recolhido sendo necessário e os seus valores nominais da tensão de medida situamse entre os 0 V e os 500 V embora este seja capaz de medir tensões até 1000 V e manter o isolamento entre o primário e o secundário até aos 2500 V. No projeto do Filtro Ativo de Potência Série foram usados três sensores de tensão que ficaram designados para medirem a tensão na fonte, a tensão no barramento CC e a tensão de saída do FAS. Os três foram incorporados numa PCB (Printed Circuit Board) já existente no Laboratório de Eletrónica de Potência e Energia da Universidade do Minho, sendo apenas necessário recalcular o valor das resistências para a situação específica. A placa PCB foi desenvolvida no âmbito do projeto SINUS, encontrando-se na Figura 5.12 uma fotografia da mesma, assim como uma indicação sobre as grandezas que medem cada um dos sensores. Figura 5.12 – PCB de aquisição de sinais de medição de tensões. 5.3.2. Placa de Condicionamento de Sinal Após a recolha dos sinais dos sensores estes não podem ser logo inseridos no DSP pois este não aceita tensões negativas, portanto deve ser adicionado um valor médio aos sinais provenientes dos sensores retirando assim a parte negativa do sinal e depois 94 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série adequa-o aos níveis de tensão (0 a 3 V) do ADC do DSP. Com isto em mente foi utilizada uma PCB de condicionamento de sinal já existente no laboratório do GEPE. Esta placa é capaz de condicionar em simultâneo 11 sinais analógicos (5 de tensão e 6 de corrente) e inclui também circuitos de deteção de erro. Na Figura 5.13 encontra-se uma fotografia da placa de condicionamento. Figura 5.13 – PCB para condicionamento dos sinais de medição. Uma vez que esta PCB apresenta uma aparente complexidade devido aos muitos circuitos nela inseridos, achou-se conveniente desconstruir a placa e simular as frações da placa que foram efetivamente empregadas. Como o objetivo da simulação é apenas compreender o funcionamento dos circuitos usados foi usado o software PSIM de modo a manter as simulações versáteis e simples7. Em primeiro lugar foi simulada uma montagem com um divisor de tensão na entrada, seguido de um filtro passa baixo Chebyshev de 2ª ordem e por último um amplificador diferencial que inverte o sinal de entrada, soma-lhe um valor médio e envia o sinal de saída para o ADC. O circuito completo pode ser analisado na Figura 5.14. O funcionamento do circuito da Figura 5.14 é explicado pelos resultados das simulações da Figura 5.15, neles analisa-se as entradas negativa (Vamp-) e positiva (Vamp+) da montagem amplificadora inversora do circuito para além dos sinais de entrada e saída do circuito de condicionamento. O sinal de entrada (Vin) após contemplar a sua amplitude diminuída no divisor resistivo e de passar pelo filtro passabaixo é inserido na entrada negativa da montagem do amplificador diferencial Vamp-. Na entrada positiva do amplificador diferencial Vamp+ é inserido um sinal continuo positivo 7 Existem softwares como o Multisim ou o PSpice que são mais indicados para simular circuitos de instrumentação, todavia a dificuldade na seleção dos componentes e a complexidade no visionamento das formas de onda quando em comparação com o PSIM, levou a não optar por esse tipo de software. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 95 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série que é somado ao sinal invertido e amplificado de Vamp- produzindo desta maneira o sinal de saída (Vout). V in 100nF 100Ω 1,5kΩ 15kΩ 25Ω 200kΩ + _ Vout _ 100kΩ + 15nF 3,3kΩ 4,7V 68kΩ GND GND GND +2,5V 100kΩ 100kΩ GND Figura 5.14 – Esquema do circuito de condicionamento de sinal que adequa os sinais de medição aos niveis de tensão do DSP. vout (V) 3 vamp- (V) vamp+ (V) vin (V) Sinal de Entrada Sinal de Saída 2 Entrada AmpOp Positiva 1 0 Entrada AmpOp Negativa -1 -2 -3 0 0.01 0.02 0.03 Time (s) 0.04 0.05 0.06 Tempo (s) Figura 5.15 – Resultados de simulação do circuito de condicionamento de sinal da Figura 5.14: Sinal de entrada (vin); Sinal de saída (vout); Sinal à entrada negativa do AmpOp(vamp-); Sinal na enrtada positiva do AmpOp (vamp+). Para além do circuito de condicionamento de sinais de tensão foi também simulado um circuito de deteção de sobretensões, que se encontra integrado na placa da Figura 5.13. Este circuito tem como sinal de entrada a leitura da tensão do barramento CC que é comparada com um sinal de referência equivalente a um valor máximo de tensão para o condensador do lado CC do inversor. Na eventualidade do valor medido exceder este valor máximo é enviado um sinal digital de erro que desabilita as comutações do inversor. Na Figura 5.16 encontra-se o esquemático do circuito de deteção de sobretensões. Nas simulações elaboradas, cujos resultados estão apresentados na Figura 5.17, o sinal de entrada (Vin) é constantemente comparado com o sinal de referência (Vref), que funciona como o limite máximo no caso de Vin ultrapassar esse limite, algo que acontece aos 17 ms, quando a saída do comparador passa do valor lógico “0” para ”1” e o sinal digital é armazenado na saída do flip-flop do tipo D (Vout) até que ocorra o reset do 96 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série elemento biestável. Quando Vout se encontra a “1” as comutações são bloqueadas e é enviado um sinal luminoso indicando a ocorrência de um erro. Como foi referido anteriormente, na Figura 5.17 encontram-se os resultados obtidos na simulação deste circuito de deteção de sobretensões. -15V 3,9kΩ + _ +15V 100nF 3,7kΩ 10kΩ 1kΩ 10kΩ GND +15V GND GND D GND V in +15V SET CLR Q Vout Q RESET 3,9kΩ +15V + _ 5kΩ GND 10kΩ 3,7kΩ 10kΩ GND GND GND Figura 5.16 – Esquema do circuito de deteção de sobretensões no barramento CC. vout vin (V) vref (V) 5 4 Sinal de Referência 3 Sinal de Entrada 2 Sinal de Saída 1 0 0 0.02 0.04 Time (s) 0.06 0.08 Tempo (s) Figura 5.17 – Resultados de simulação do circuito de deteção de sobretensões no barramento CC. 5.3.3. DSP (Digital Signal Processor) O DSP (Digital Signal Processor) é o centro do sistema de controlo onde todos os sinais de medida e de controlo são processados e onde é implementada a teoria de controlo do FAS. Neste projeto foi utilizado o DSP TMS320F2812 da Texas Instruments que apresenta como principais características um CPU de 32-bit, uma frequência de clock máxima de 150 MHz (ciclo máquina de 6,67 ns), um ADC de 12 bits com 16 canais e uma taxa de conversão de 12,5 MSPS, 56 pinos I/O, e dois periféricos para o controlo do inversor apelidados de Event Managers (EVA e Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 97 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série EVB) [62]. Os Event Managers são mesmo uma das características mais interessantes deste dispositivo, pois facilitam bastante a implementação da técnica de comutação PWM unipolar [63]. Figura 5.18 – Placa do DSP (Digital Signal Processor). O DSP tem também um interface JTAG (Joint Test Action Group) que é utilizado na ligação à porta USB do PC. Esta ligação é intermediada pelo emulador XDS 100 da Texas Instruments, exibido na Figura 5.19, que também é responsável por carregar o código desenvolvido no PC para a memória flash do DSP e permite realizar debug online desse mesmo código. Em relação ao código e ao seu desenvolvimento a Texas Instruments disponibiliza um software de compilação para esse efeito, o Code Composer Studio (CCS). Nele é possível conceber um programa em linguagem C/C++, compilá-lo e de seguida executá-lo. Os processos de debug e carregamento dos programas para o DSP são controlados através do CCS que também permite visualizar variáveis internas do DSP. Figura 5.19 – Emulador XDS 100 da Texas Instruments. 98 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Outro método alternativo para analisar as variáveis internas do DSP é através de placa DAC (Digital to Analog Conversion) desenvolvida no Laboratório de Eletrónica de Potência e Energia da Universidade do Minho. Esta placa tem quatro sinais analógicos de saída assim como pontos de conexão com outros periféricos do DSP (ADC e pinos I/O). Na Figura 5.20 encontra-se uma foto da placa DAC utilizada. Figura 5.20 – Placa do DAC. O programa em linguagem C, desenvolvido de raiz para o controlo do Filtro Ativo Série, foi alicerçado nos documentos disponibilizados pela Texas Instruments. A partir dessa documentação foram testadas e consequentemente integradas as diferentes funcionalidades do DSP num único programa, que tem como base o algoritmo da Figura 5.21. Nele se percebe como utilidades intrínsecas do DSP se relacionam com as funções originalmente criadas para o protótipo desenvolvido. De referir ainda que várias das funções matemáticas mais complexas foram codificadas com recurso à biblioteca de funções matemáticas IQmath, disponibilizada pela Texas Instruments. Esta biblioteca implementa algoritmos floating-point em dispositivos de código fixed-point, diminuindo o tempo de processamento e permitindo utilizar frequências de amostragem e de comutação superiores [64]. O fluxo de processamento do algoritmo da Figura 5.21 começa com o acionamento do DSP, prosseguindo com a inicialização dos seus periféricos e das variáveis, sendo definidas as frequências de amostragem e de comutação, os ganhos dos controladores e os fatores de correção do valor médio dos sinais amostrados. Após esta fase de preparação do programa é então realizada a amostragem das tensões da fonte, do barramento CC e da saída do FAS. Os sinais recolhidos são armazenados em três vetores para posteriormente exportar os sinais para ferramentas de cálculo e construção gráfica (e.g., Microsoft Excel). Estes vetores foram dimensionados Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 99 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série de acordo com a frequência de amostragem (famostragem = 32 kHz), ou seja apresentam 640 posições para 1 ciclo da rede. Inicio Calcular controladores Anti-ressonante e PID erro_Vout=Anti_Res(Vout, erro_Sum, K_res) PID_OUT=PID_Control(erro_Vout, Vout, K, Ki, Kd) Inicialização do DSP erro_Vs; erro_Vcc; erro_Vout K; Ki; Kd; K_cc; Ki_cc; K_res PID_OUT = limite Sim PID_OUT > limite? Não Digitalização das tensões medidas Vs; Vout; Vcc PID_OUT = -limite Sim Cálculo das tensões de referência Vs_ref; Vcc_ref PID_OUT < -limite? Não Sim Cálculo de erros erro_Vs=Vs_ref - Vs erro_Vcc=Vcc_ref – Vcc Vcc > limite? Não Sim Cálculo controlador PI PI_OUT=PI_Control(erro_Vcc, K_cc, Ki_cc) erro_Vcc=PI_OUT*Vpll DC_FLAG==1? Não erro_Vcc = limite Sim erro_Vcc > limite? Carrega PID_OUT para registos do EVB EvbRegs.CMPR4 = PID_OUT EvbRegs.CMPR5 = -PID_OUT Não erro_Vcc = -limite Sim Count > 639? erro_Vcc < -limite? Sim Não Não Count = 0 Count = Count ++ erro_Sum = erro_Vcc + erro_Vs Sim CpuTimer0.InterruptCount !=0 Não Figura 5.21 – Algoritmo do programa criado para controlar o Filtro Ativo Série e implementado no DSP. Concluída a conversão dos sinais analógicos procede-se à geração dos sinais de referência, recorrendo-se então à técnica da PLL. Esta técnica emprega na entrada a medição proveniente da fonte e gera na saída um sinal sincronizado com a tensão da fonte com a mesma amplitude e frequência e sem conteúdo harmónico (Vs_ref). O sinal de referência da tensão no elo CC (Vcc_ref) foi anteriormente definida aquando a inicialização das variáveis. De seguida são calculados os erros associados à regulação da tensão no barramento CC (erro_Vcc), e à compensação dos harmónicos existentes na tensão da 100 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série fonte (erro_Vs). A variável erro_Vcc sofre uma transformação adicional por intermédio do controlador PI e de uma multiplicação com uma sinusoide unitária que está em fase com Vs_ref. Uma vez recalculada a variável erro_Vcc, é necessário verificar se esta não excede os limites impostos para a tensão do barramento CC sendo empregues testes condicionais para inferir sobre este ponto. Esta fase culmina com a soma dos valores de erro_Vcc e erro_Vs com o resultado a ser armazenado na variável erro_Sum. Uma vez calculado o valor de erro_Sum, este é usado como parâmetro de uma função responsável por minimizar os efeitos da ressonância causada pelo filtro de acoplamento. Esta função é baseada nos algoritmos de amortecimento descritos em [6567], e tem um papel particularmente importante como se poderá analisar nos resultados obtidos na secção 6.2. Na Figura 5.22 encontra-se um diagrama representativo do algoritmo de amortecimento e a forma como este se relaciona com o controlador PID de saída. v out – errosum + Ʃ – + erroout Ʃ PID PIDout – K + Ʃ – Figura 5.22 – Diagrama de blocos do algoritmo de amortecimento e a sua interação com o PID de saída. Este algoritmo é equiparável a uma resistência virtual que é usada para mitigar as componentes de alta frequência e as oscilações ressonantes existentes numa rede elétrica. A resistência virtual pode substituir a resistência física existente no filtro de saída de um conversor de potência, ou trabalhar em conjunto com essa resistência permitindo realizar um ajuste fino do coeficiente de amortecimento do filtro de saída. Como sugere a Figura 5.22, o retorno da função que implementa o algoritmo de amortecimento é empregue numa outra função que implementa um controlador PID. O resultado do controlador PID é armazenado na variável PID_OUT sendo depois verificado se esta cumpre com os limites predefinidos através de testes condicionais. É também avaliado o nível de tensão do barramento CC analisando se este não excedeu os níveis máximos de tensão ou se foi recebido algum sinal externo indicativo da deteção de uma tensão excessiva no condensador do barramento. Caso não existam Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 101 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série irregularidades o valor de PID_OUT é armazenado nos registos de comparação de EVB para que finalmente se possa gerar os pulsos que são enviados para as gates dos IGBTs. 5.3.4. Placa de Comando do Inversor A placa de comando, exibida na Figura 5.23, coordena as operações referentes aos pulsos enviados para os módulos de IGBTs e as suas funções compreendem: adaptar os níveis de tensão dos pulsos provenientes do DSP (0 a 3,3 V) para os níveis de tensão de funcionamento dos semicondutores (0 a 15 V); e habilitar ou desabilitar as comutações através da receção de sinais externos provenientes dos circuitos driver dos IGBTs (associados a erros de comutação) ou de um painel comando manuais, exibido na Figura 5.24, que agrega os sinais de enable que ativam a comutação dos interrutores, e reset que reconhece a ocorrência de um erro e reativa a comutação. Figura 5.23 – PCB de sinais de comando do inversor. Além destas tarefas a placa de comando incorpora sinalizações luminosas indicando ao utilizador se o inversor está ativo ou se ocorreu algum erro que impossibilita o normal funcionamento do mesmo. Foi também concebido um interface externo à placa de comando com interruptores para permitir ao utilizador interagir com a placa de comando em segurança. Este painel de controlo possibilita acionar as funções de habilitar/desabilitar as comutações e de reset aos erros detetados na comutação. Faculta também a identificação e reset dos erros do circuito de deteção de sobretensões no barramento CC (descrito em 5.3.2), incorporando um LED (Light-Emiting Diode) que acende quando ocorre um erro no circuito referido, e um interruptor que quando pressionado pelo utilizador retira o bloqueio das comutações gerado pelo erro ocorrido. 102 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Sinalização de erros no Barramento CC On/Off Comutações Reset do erro de comutação Reset do erro do Barramento CC Figura 5.24 – Painel de controlo com os comandos para ativar/desativar as comutações, realizar reset dos sinais de erro e com sinalizações luminosas de ocorrência de erros. 5.3.5. Placa de Proteção do Barramento CC No barramento CC encontra-se o maior valor de tensão do sistema pelo que é necessário ter elementos de segurança extra que em caso de anomalia protejam o condensador assim como o restante sistema elétrico. Para tal foi concebido um circuito de proteção que monitoriza a tensão no lado CC e intervém diretamente sobre o circuito de potência caso a tensão ultrapasse um determinado valor predefinido. Na eventualidade de algo acontecer é também enviado um sinal para o DSP a informar a ocorrência. Na Figura 5.25 encontra-se o esquema do circuito projetado e o aspeto físico do mesmo. Olhando com atenção a Figura 5.25 o funcionamento do circuito é facilmente explicável. O elemento chave é o SCR (Silicon-Controlled Rectifier) que após entrar em condução descarrega a energia armazenada no condensador para um conjunto de resistências de descarga e faz atuar um contactor que corta a alimentação para o restante circuito de potência. (a) (b) Figura 5.25 – Placa de proteção do barramento CC: (a) Esquema do circuito de proteção do barramento CC; (b) Aspeto físico da placa de proteção do barramento CC. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 103 Capítulo 5 – Implementação do Filtro Ativo Série Todavia, para este semicondutor entrar em condução é necessário enviar um pulso de corrente para a gate do mesmo e este pulso apenas é enviado caso a tensão ultrapasse o valor máximo de referência definido a 250 V. Portanto o sinal de entrada do circuito é a tensão do barramento CC que tem de seguida um divisor resistivo composto por R1 e R2, ora estas duas resistências foram dimensionadas com o propósito de quando o valor máximo de referência para o lado CC for excedido caia sobre a R2 uma tensão igual ou superior a 32 V (VR2), o que por sua vez enviaria um pulso para a gate do SCR colocando-o em condução, e para garantir que o pulso é enviado para a gate apenas quando VR2 = 32 V coloca-se um DIAC de 32 V entre R2 e a gate do semicondutor. 5.4. Conclusões Neste capítulo foram abordados os aspetos práticos da implementação do Filtro Ativo de Potência Série, incidindo em primeiro lugar sobre o circuito de potência e em segunda instância sobre sistema de controlo. Em relação ao circuito de potência foram analisados três dos seus principais componentes: o circuito de comando que governa a conexão do FAS e das cargas ao sistema laboratorial, e deste à rede elétrica; o conversor de potência empregado no FAS e os dispositivos que o compõem; e o filtro RLC de acoplamento do FAS ao restante sistema laboratorial, atendendo com especial detalhe ao dimensionamento do mesmo. Por sua vez, a análise ao sistema de controlo focalizou-se nos circuitos de aquisição e condicionamento de sinais, no DSP/Microcontrolador utilizado, e nos circuitos de comando do inversor e de proteção do barramento CC. Esta desconstrução do sistema implementado permite compartimentar os diferentes elementos de acordo com as áreas de conhecimento o que por sua vez salienta o aspeto interdisciplinar deste projeto. 104 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho CAPÍTULO 6 Resultados Experimentais 6.1. Introdução Neste capítulo são apresentados e analisados os resultados experimentais obtidos a partir do protótipo laboratorial do Filtro Ativo de Potência Série (FAS), na compensação de problemas de Qualidade de Energia Elétrica (QEE), quer estes sejam provenientes da rede elétrica, ou provocados por cargas não-lineares. O desempenho do FAS foi avaliado levando em consideração dois fatores: a compensação de harmónicos de tensão e a regulação da tensão no condensador do barramento CC. Estes são os pontos fundamentais, cujo cumprimento legitima o equipamento desenvolvido como capaz de garantir que a forma de onda da tensão fornecida à carga satisfaça os limites das regulamentações vigentes, analisadas no capítulo 1. Relativamente às cargas usadas, e como já referido nos capítulos 4 e 5, foi utilizada uma carga RL e um retificador monofásico com uma carga RC. Adicionalmente, para intensificar a distorção harmónica a montante do FAS, foi adicionada uma nova carga, que consiste numa indutância em série com o sistema, sucedida de um segundo retificador monofásico com uma carga RC colocado em paralelo com o sistema. Os ensaios foram conduzidos com uma tensão da fonte de 50 V. Para registar as formas de onda e efetuar as medições requeridas, foram utilizados o osciloscópio Yokogawa DL708E e o analisador de Qualidade de Energia Elétrica Fluke 434 Power Quality Analyzer. 6.2. Resultados Obtidos Nesta secção são apresentados os resultados práticos obtidos com o protótipo laboratorial do Filtro Ativo de Potência Série num sistema elétrico de 50 Hz e com tensão nominal 50 V. É analisado o comportamento do FAS na compensação de harmónicos de tensão e na regulação da tensão no condensador do lado CC. Na parte relativa à compensação harmónica, também são examinados os efeitos do algoritmo anti-ressonância implementado digitalmente. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 105 Capítulo 6 – Resultados Experimentais Analisando a forma de onda da tensão da rede no Laboratório do GEPE, exibida na Figura 6.1, facilmente se depreende que esta se encontra bastante deformada. Isto é comprovado pela Figura 6.2, onde se vê que o valor da THD da tensão da fonte é de 4,6%, ou seja bem próxima do limite máximo permitido pela norma vigente (5% para redes protegidas segundo a norma NP EN 50 160). vfonte 20V/div 5ms/div Figura 6.1 – Forma de onda da tensão da rede no Laboratório do GEPE (vfonte). Figura 6.2 – Espetro harmónico da tensão da rede no Laboratório do GEPE. Todavia, como a THD da tensão da rede não excede os limites legais foi adicionado ao circuito de potência uma carga a montante do FAS, como já foi referido anteriormente, com o intuito de aumentar o conteúdo harmónico da tensão do sistema. Esta carga é composta por uma indutância (L = 5 mH), colocada em série com o sistema elétrico, e por um retificador monofásico, colocado em paralelo com uma carga RC (R = 100 Ω e C = 117,5 µF). O retificador requer à fonte correntes distorcidas que, quando atravessam a indutância de linha causam quedas de tensão de frequência múltipla da fundamental, o que por sua vez distorce ainda mais a forma de onda da tensão. A adição desta carga é assinalada no esquema da Figura 6.3. 106 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 6 – Resultados Experimentais Q2 5mH 2:1 Q3 630Ω Q4 Q3 RR Q5 Q6 117µF Ls 75Ω CRet Rede Elétrica 1,50mH 50Ω L RL RRL RRet 20µF 12Ω Cf Rs Cs 100Ω 117µF Rf 0,8mH Vcc Lf Ccc 4700µF Figura 6.3 – Esquema da montagem final com a fonte (ao lado esquerdo), o Filtro Ativo Série (ao centro), as cargas (ao lado direito) e a carga adicionada para aumentar o conteúdo harmónico da tensão (ao lado esquerdo sob a fonte). Com a nova disposição do circuito de potência, a forma de onda da tensão a montante do FAS altera-se, e a THD passa de 4,1% para 8,2%. Esta alteração no conteúdo harmónico é comprovada pela Figura 6.4, onde se pode observar a forma de onda da tensão, e pela Figura 6.5 onde se encontra o espetro harmónico da tensão. vfonte 20V/div 5ms/div Figura 6.4 – Forma de onda da tensão da rede (vfonte), com distorção harmónica adicional. Figura 6.5 – Espetro harmónico da tensão da fonte após a inclusão da carga a montante do FAS. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 107 Capítulo 6 – Resultados Experimentais Com as alterações operadas no circuito de potência é obtida a forma de onda de tensão a ser compensada, que consiste numa tensão com elevado conteúdo harmónico, especialmente nos harmónicos de 3ª e 5ª ordem, como se pode comprovar na Figura 6.5. É neste ponto que o FAS é colocado a funcionar. Todavia, este não começa imediatamente o processo de compensação, pois no início é preciso carregar o condensador do lado CC e proceder à regulação da tensão. Através de diversos ensaios, verificou-se que eram obtidos melhores resultados quanto menor fosse a tensão de referência do barramento, pelo que esta foi definida para 8 V. Na Figura 6.6 encontra-se o registo da tensão do barramento regulada em torno do valor de referência. 5V/div vcc 5ms/div Figura 6.6 – Forma de onda da tensão no barramento CC (vcc) antes de iniciar a compensação. Com a tensão do lado CC regulada, o sistema automaticamente procede à compensação harmónica. O algoritmo implementado no DSP calcula a tensão de compensação total, que engloba as parcelas de compensação harmónica e de regulação da tensão do barramento CC, procedendo de seguida à geração dos pulsos que serão enviados para as gates dos IGBTs do inversor. A tensão de compensação sintetizada à saída do inversor é exibida na Figura 6.7, e como se pode verificar a tensão de saída do FAS apresenta um elevado ruído de alta frequência. Uma explicação plausível se deve ao facto do filtro de acoplamento RLC ter sido dimensionado para um sistema com tensão de 115 V e não de 50 V, o que em conjunto com a impedância de linha da instalação elétrica, gera um aumento da amplitude em torno da frequência de ressonância do filtro de saída do FAS. Este ruído resultante da ressonância tem uma influência prejudicial em todo o sistema, a começar pela tensão na carga, que embora surja compensada com a entrada em funcionamento do FAS, tem uma componente de alta frequência indesejada. Este aspeto pode ser constatado na Figura 6.8, onde é mostrada a forma de onda tensão na carga, e na Figura 6.9, onde se encontra o espetro harmónico da tensão na carga após a compensação. 108 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 6 – Resultados Experimentais 10V/div vfiltro 5ms/div Figura 6.7 – Forma de onda da tensão sintetizada à saída do Filtro Ativo Série (vfiltro). vcarga 20V/div 5ms/div Figura 6.8 – Forma de onda da tensão da carga (vcarga). Figura 6.9 – Espetro harmónico da tensão da carga. Portanto, como se pode verificar pelo espetro harmónico apresentado na Figura 6.9, a THD global do sistema diminuiu, com a amplitude dos harmónicos de menor ordem (3ª, 5ª, 7ª, 9ª e 11ª ordem) a ser bastante mitigada. Todavia, assiste-se a um aumento dos harmónicos em redor de 1 kHz (a partir do harmónico de 19ª ordem), Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 109 Capítulo 6 – Resultados Experimentais obtendo-se no final um valor de 4,1% para a THD. Também na tensão da fonte surge uma componente de alta frequência indesejada e que altera significativamente a forma de onda da tensão, como se pode comprovar na Figura 6.10. Convém salientar que estes resultados foram obtidos sem a utilização da função de amortecimento descrita na subsecção 5.3.3, sendo a partir das conclusões retiradas até este ponto, que se verificou a necessidade de inclusão do método de amortecimento. vfonte 20V/div Figura 6.10 – Forma de onda da tensão da rede (vfonte) com ressonância. Com a introdução do algoritmo de amortecimento, e com o reajuste dos ganhos do sistema, os resultados melhoraram. Esta afirmação é corroborada pela forma de onda da tensão na carga exibida na Figura 6.11, e pela Figura 6.12, onde se encontra o espetro harmónico da tensão da carga. vcarga 20V/div 5ms/div Figura 6.11 – Forma de onda da tensão da carga (vcarga) com algoritmo de amortecimento. Nesta última figura, verifica-se que a THD desceu com a inclusão do algoritmo de amortecimento para os 3,6%, e que a amplitude dos harmónicos em torno da frequência de 1 kHz também diminuiu significativamente. Todavia, regista-se um ligeiro aumento 110 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 6 – Resultados Experimentais da amplitude dos harmónicos a partir do 41º harmónico, o que leva a crer que a frequência de ressonância foi transferida para uma frequência acima dos 2 kHz. Figura 6.12 – Espetro da tensão da carga com algoritmo de amortecimento. Também a Figura 6.13, onde se mostra a forma de onda da tensão na fonte, na carga e a tensão sintetizada à saída do filtro ativo, pode ser utilizada para comparar os resultados conseguidos com a inclusão do algoritmo de amortecimento, com aqueles obtidos na Figura 6.7, na Figura 6.8 e na Figura 6.10. Facilmente se depreende a melhoria introduzida pelo algoritmo de amortecimento, na minimização das componentes harmónicas ressonantes existentes no sistema. vfonte 20V/div vcarga 20V/div vfiltro 5V/div 5ms/div Figura 6.13 – Formas de onda da tensão na fonte (vfonte), da tensão na carga (vcarga),e da tensão na saída do Filtro Ativo Série (vfiltro). 6.3. Conclusões Neste capítulo foram apresentados os resultados experimentais obtidos a partir do funcionamento do protótipo laboratorial do Filtro Ativo de Potência Série desenvolvido no âmbito deste trabalho. Era pretendido verificar se o sistema de controlo escolhido no capítulo 3 seria capaz de desempenhar as tarefas de compensação harmónica e de regulação da tensão no barramento CC. Os registos adquiridos sobre o funcionamento Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 111 Capítulo 6 – Resultados Experimentais do FAS testado em laboratório permitiram comprovar a adequação do sistema de controlo, pois verificou-se que os objetivos de compensação e regulação foram cumpridos. O processo de testes começou com uma análise da tensão da rede existente no laboratório do GEPE, que apresenta uma THD de 4,6%, ou seja, bem próximo do limite máximo de 5% imposto pela norma NP EN 50 160 para redes protegidas. Todavia, uma vez que a distorção harmónica não ultrapassava o limite máximo, foi adicionada ao sistema uma carga adicional para produzir quedas de tensão de frequência múltipla da fundamental, aumentando assim a THD da tensão da fonte para 8,2%. Posto isto, iniciou-se com a regulação da tensão do barramento CC, prosseguida pela compensação harmónica da tensão da carga. Nos primeiros ensaios assinalaram-se alguns efeitos indesejados durante o funcionamento do FAS, como o aumento da amplitude dos harmónicos em torno de uma frequência de ressonância que anteriormente não eram tidos como problema. Todavia, mesmo assim a THD da tensão baixou para 4,1%. Este problema de ressonância foi contrariado com adição de um algoritmo de amortecimento, que como ficou comprovado, diminui a amplitude dos harmónicos próximos da frequência de ressonância. No final a THD da tensão da carga ficou em 3,6%, ou seja abaixo do limite máximo de 5% anteriormente referido. 112 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho CAPÍTULO 7 Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros 7.1. Conclusões Esta Dissertação de Mestrado versou sobre a implementação de um Filtro Ativo de Potência Série (FAS) Monofásico sem Fonte de Tensão do Lado CC, para compensação de harmónicos de tensão e mantendo regulada a tensão do lado CC do equipamento. Com este objetivo em mente, foi concebido um protótipo laboratorial de forma a avaliar a sua performance e validar este tipo de solução. Ao longo dos capítulos deste documento foram apresentados os passos essenciais na conceção do Filtro Ativo de Potência Série, tratando esta secção de resumir e apresentar as ideias essenciais de cada capítulo, bem como as principais conclusões sobre o trabalho realizado. No primeiro capítulo foram apresentados os diferentes problemas relacionados com Qualidade de Energia Elétrica (QEE), acompanhando cada um dos temas abordados com uma descrição e um exemplo gráfico para facilitar a compreensão do leitor. Foram também descritas as cargas de natureza não-linear, salientando o seu peso na origem de harmónicos de tensão e corrente, sendo também apresentadas formas de lidar com os harmónicos. Todavia, as soluções descritas neste ponto são de baixa sofisticação, pois adaptam as redes elétricas para lidar com os efeitos adversos do problema em questão, ao invés de resolver a causa do problema. Neste capítulo foram também descritos o enquadramento do tema da Dissertação dentro do panorama atual da QEE, as motivações para o desenvolvimento deste documento e os objetivos a atingir com o trabalho desenvolvido. No segundo capítulo foi elaborado o estado da arte dos equipamentos de compensação de problemas de QEE que apresentam a particularidade de serem colocados, totalmente ou parcialmente, em série com o sistema elétrico. Esta característica os predispõe a lidar com questões relacionadas com a qualidade da tensão, mas não impede que alguns destes equipamentos sejam capazes de lidar com problemas relacionados com a corrente ou com o fator de potência do sistema. Foram abordados apenas os equipamentos com recorrentes implementações práticas e que dispõem de uma ampla literatura de suporte. Com a descrição de cada equipamento, foram Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 113 Capítulo 7 – Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros mostrados esquemas dos seus circuitos de potência, e as vantagens e desvantagens que cada um apresenta. Da análise feita ao Filtro Ativo de Potência Série concluiu-se que é um equipamento capaz de compensar exclusivamente problemas relacionados com a tensão. No final do capítulo foi apresentada uma tabela (Tabela 2.2) particularmente interessante, que relaciona os equipamentos de compensação descritos e os problemas de QEE que cada um é capaz de compensar. No terceiro capítulo, foram abordadas três estratégias de controlo para Filtros Ativos Série: a estratégia de controlo da tensão por valores médios instantâneos, a Teoria da Potência Instantânea (Teoria p-q), e a estratégia de controlo baseada numa malha indireta de corrente. Após o estudo das diversas teorias de controlo, concluiu-se que a estratégia de controlo da tensão por valores médios instantâneos era a mais indicada para implementar no protótipo. A escolha deveu-se ao facto desta estratégia ser a única das apresentadas que foi pensada para sistemas monofásicos e para compensação da tensão. Neste capítulo foram também apresentadas técnicas para gerar uma referência de tensão, um aspeto essencial no controlo do FAS. Neste ponto optouse por usar uma PLL (Phase-Locked Loop) monofásica, pois revelou ser a técnica mais adaptável a perturbações externas, sendo bastante fácil ajustar o sinal de saída mediante alterações na entrada. Determinada a estratégia de controlo a adotar e a técnica de geração de referência de tensão, no quarto capítulo foi verificada a exequibilidade destas opções através de simulações computacionais conduzidas no software PSIM. Após a verificação do sistema de controlo, este foi assimilado no circuito de potência e testou-se as capacidades do sistema na sua plenitude. Os resultados recolhidos nas simulações provaram que o FAS concebido é capaz de compensar os harmónicos de tensão e, simultaneamente regular a tensão do lado CC. Esses resultados foram posteriormente comparados com os resultados obtidos na simulação de um Condicionador Ativo Série (CAS), que é um equipamento mais completo do que o FAS. No final os resultados obtidos foram bastante similares, verificando-se um abaixamento da THD da tensão da carga de 10,3% para valores próximos de 1,5% em ambos os equipamentos. De destacar também as opções tomadas em relação à técnica de comutação utilizada, CB-PWM Unipolar, e ao tipo de controlo adotado para o inversor. Com a fundamentação teórica do FAS testada e comprovada, o quinto capítulo focou-se na descrição dos elementos essenciais na implementação do Filtro Ativo Série. Em termos de abordagem teórica, preferiu-se separar o hardware do FAS naquele que compõe o circuito de potência e naquele que compõe o sistema de controlo. Em relação ao circuito de potência foi apresentado o circuito de comando projetado para o 114 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 7 – Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros controlar, o conversor de potência utilizado no FAS e o filtro passivo RLC colocado na saída do FAS. Sobre o sistema de controlo, descreveu-se a placa com os sensores utilizados, a placa de condicionamento dos sinais medidos, a placa de comando do inversor, e a placa de proteção do barramento CC. Todas estas placas, com exceção da placa de proteção do barramento CC, eram já existentes e foram adaptadas a partir de protótipos existentes no laboratório do GEPE. Também foi abordada a unidade de processamento utilizada, o DSP TMS320F2812 da Texas Instruments. Na subsecção designada para este tópico (ver item 5.3.3), foram descritas algumas das características deste DSP e os aspetos técnicos mais relevantes do código desenvolvido. Neste capítulo é evidenciado o aspeto multidisciplinar da componente prática deste projeto. No sexto capítulo foram relatados os resultados práticos obtidos a partir do protótipo desenvolvido. Os resultados obtidos para 50 V não coincidem inteiramente com o esperado nas simulações, já que as condições diferem nos dois casos. As principais diferenças situam-se ao nível da tensão do sistema (50 V em vez de 115 V), da tensão no lado CC (8 V em vez de 200 V) e do nível de distorção harmónica (um pouco mais baixo na situação real). No final, o valor mínimo da THD foi de 3,6%, ou seja superior ao valor obtido nas simulações (THD = 1,5%). Em relação ao valor de referência da tensão do barramento CC apenas são apresentados nesta Dissertação os resultados quando o valor de referência foi definido a 8 V, embora tenham sido conduzidos testes para diferentes níveis de tensão (70 V e 80 V). A realidade é que quanto maior a tensão do barramento CC, maior o ripple do sinal de saída do inversor. Isto pode ser explicado pela equação (5.1), que relaciona o valor da tensão do barramento CC (Vd) com a variação da corrente que atravessa a bobina do filtro de saída do FAS (ΔiLfmax). Neste capítulo também foi possível avaliar o desempenho do algoritmo de amortecimento, ficando comprovado que este tem um papel ativo na melhoria da THD da tensão da carga e na resposta geral do FAS. A principal ideia a reter com a conclusão deste trabalho é a exequibilidade da implementação do Filtro Ativo Série. O equipamento desenvolvido é capaz de mitigar os harmónicos de tensão existentes no sistema elétrico, regulando ao mesmo tempo a tensão do lado CC. Outro aspeto interessante é que este equipamento tem um custo potencialmente mais baixo do que o Condicionador Ativo Série (CAS), já que possui apenas um conversor de potência, necessitando portanto de metade dos semicondutores de potência do CAS. Em termos pessoais, este foi trabalho bastante enriquecedor já que possibilitou aplicar muito do conhecimento obtido ao longo do Mestrado Integrado em Engenharia Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 115 Capítulo 7 – Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros Eletrónica Industrial e Computadores, assim como adquirir novas valências que elevaram o nível de instrução académica para novos patamares. Este trabalho integrou, como já referido anteriormente, conhecimento de diversas áreas da Eletrónica como a Microeletrónica, a Eletrotecnia, a Eletrónica de Potência, a Programação e a Teoria de Controlo. Também o desenvolvimento desta Dissertação permitiu o desenvolvimento de aptidões de pesquisa, das capacidades intelectuais de leitura e escrita, e do nível de experiência de softwares de edição de texto e de edição de imagem. No fundo, esta Dissertação e o trabalho prático desenvolvido serviram como uma introdução à pesquisa e investigação científica. 7.2. Sugestões para Trabalhos Futuros Como é possível discernir através deste trabalho, o Filtro Ativo de Potência Série cumpre com os requisitos mínimos requeridos a este tipo de equipamento. Todavia, existem vários aspetos do FAS a otimizar e melhorar, começando pelo nível de tensão dos testes conduzidos. Neste documento foram apresentados resultados para um sistema elétrico de 50 V, que é um nível de tensão inexistente em termos de redes elétricas. Seria imperioso elevar o valor da tensão dos testes, primeiro para 115 V e depois para 230 V, para que fique comprovada a aplicabilidade do equipamento às redes elétricas comuns. Aliás, a integração do FAS numa rede elétrica comum seria outro aspeto a ser explorado. Também se poderia realizar testes para comprovar experimentalmente se o FAS pode compensar Variações do Valor Eficaz da Tensão (sags e swells) e Flutuações da Tensão. A implementação no software de funções de deteção e proteção de sobrecargas e sobretensões seria uma adição interessante ao algoritmo de controlo concebido para o Filtro Ativo Série. Também se deve tentar melhorar o algoritmo de amortecimento de modo a que seja desnecessário utilizar a resistência de amortecimento do filtro de acoplamento, que introduz perdas energéticas consideráveis. A utilização exclusiva do algoritmo de amortecimento permitiria aumentar a eficiência energética do Filtro Ativo de Potência Série. Ainda relativamente ao filtro de acoplamento, deveria ser feito um estudo mais aprofundado sobre o mesmo, de maneira a minimizar ainda mais a influência que a frequência de ressonância tem no sinal de saída do inversor. O Filtro Ativo de Potência Série desenvolvido também apresenta um bom ponto de partida, em termos de hardware e software, para desenvolver novas linhas de investigação. Por exemplo, a adição de um terceiro braço de semicondutores ao conversor utilizado e de transformadores de acoplamento à rede elétrica permitiria 116 Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho Capítulo 7 – Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros estudar o comportamento do FAS num sistema elétrico trifásico, e implementar outras alternativas ao modelo de controlo implementado (ver secções 3.3 e 3.5). A topologia do inversor poderá também ser alterada, iniciando uma investigação sobre inversores multinível, de forma a repensar quais poderiam ser utilizados no Filtro Ativo Série [68, 69]. Já mantendo o hardware original, poder-se-ia inferir sobre a aplicabilidade de novas e mais complexas técnicas de controlo, como controladores de Lógica Fuzzy [70]. Também analisar o FAS como um sistema dinâmico não-linear [71], poderia conduzir a uma teoria de controlo que torne os controladores PI e PID desnecessários, eliminando assim o ajuste dos ganhos destes controladores que é um processo demorado e instável. A viabilidade deste método foi já analisada em alguns trabalhos [72, 73]. Outra proposta de investigação para este equipamento passa pela integração no FAS de capacidades de compensação associadas a uma UPS (Uninterruptible Power Supply), ou seja, em momentos de falha de energia o FAS utiliza a energia armazenada no barramento CC para continuar a alimentar a carga [74]. Caso se pretenda implementar outra configuração de UPS é necessário adicionar um condicionador paralelo ao sistema, nesse caso o equipamento passa a ser designado por Condicionador Ativo Série, pois tem uma fonte em paralelo com o sistema que mantém a tensão no elo CC regulada [74]. Independentemente do tipo de UPS implementada, deve ser efetuada uma alteração no elemento armazenador de energia do circuito de potência do FAS para que este funcione como UPS. Os condensadores convencionais, usados no lado CC do FAS, não são capazes de armazenar energia suficiente para manter a carga alimentada durante um período significativo de tempo após uma interrupção, e as UPS usam baterias que são elementos armazenadores de energia com densidade de potência (W/kg) muito baixa, o que as torna inadequadas para quando o equipamento estiver a funcionar como Filtro Ativo Série, já que nesta situação a taxa de troca energética é elevada [75]. Portanto a solução passa por utilizar ultracondensadores, pois estes apresentam uma alta densidade de potência e uma densidade energética (Wh/kg) considerável8 [75, 76]. Atualmente os ultracondensadores existentes no mercado têm tensões na ordem dos 3 V, pelo que é necessária uma associação em série de dezenas destes elementos, de forma a permitir ter uma tensão no barramento CC capaz de manter a alimentação de uma carga aos níveis da tensão da rede elétrica (230 V) [76]. 8 As baterias têm uma densidade de energética (Wh/kg) superior à dos ultracondensadores mas têm também uma densidade de potência (W/kg) inferior quando comparadas com os ultracondensadores. Filtro Ativo Série sem Fonte de Tensão do Lado CC para Compensação de Harmónicos Nuno Fernando Carvalho Teixeira – MIEEIC – Universidade do Minho 117 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] "IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric Power Quality," IEEE Std 1159-2009 (Revision of IEEE Std 1159-1995), pp. c1-81, 2009. [2] "Despacho nº 5255/2006 (2ª série)," vol. 48, ed. Diário da República, 2006, pp. 3334-3362. [3] Henryk Markiewicz and A. 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