UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – FAFICH A NOÇÃO DE GRAMÁTICA NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE LUDWIG WITTGENSTEIN Monografia Curso de Filosofia apresentada ao Contemporânea II, Filosofia da Linguagem, da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Departamento de Filosofia – FAFICH – UFMG, como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Temas Filosóficos – CETEF. Orientador: Mauro Lúcio Leitão Condé BELO HORIZONTE 2005 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Definir a noção de gramática nas Investigações Filosóficas de Ludwig Wittgenstein é o desafio dessa monografia. Escrever sobre Wittgenstein é descortinar um universo conceitual que vai do misterioso ao extremamente lógico. Até que ponto esse austríaco quer dizer o dizível e quer calar o indizível? O que ele percebe é tudo que ele diz? Parece que sua gramática filosófica é um intrincado labirinto a ser, ainda, percorrido. Na primeira parte de nossa exposição pedimos licença ao ilustre filósofo para entrar em seu mundo de família, seu mundo na Viena do século XIX e XX. Pretendemos ao analisar alguns pontos de sua vida e obra dialogar com o contexto de surgimento de sua filosofia original e, ao mesmo tempo, extremamente controversa em duas obras marcadas por uma cisão no modo de compreender a relação entre linguagem e mundo. Ao questionar a cidade dos sonhos – Viena, podemos assinalar a preocupação com a crise da racionalidade assumida por aqueles intelectuais que viviam não o sonho, mas o perturbador pesadelo da crise da racionalidade. Os bares, os cafés são pontos de encontro da desilusão que faz encantamento com uma solução - a reconstrução da racionalidade. Na segunda parte, procuramos aprofundar o significado de duas obras tão antagônicas. No primeiro Wittgenstein, o Tractatus Logico-Philosophicus com a busca da essência entre linguagem e mundo. No segundo Wittgenstein, as Investigações Filosóficas, marcadas pelo diagnóstico de uma doença incurável e pela incurável necessidade de responder aos questionamentos e “enganos” do Tractatus. Se houve enganos, precipitações, foram próprias do seu contexto de vida. É isso que questionamos quando procuramos responder se houve, entre o Tractatus e as Investigações uma continuidade ou ruptura. 1 Analisamos os pressupostos que nos pareceu centrais no Tractatus e começamos a introduzir algumas noções presentes nas Investigações. Chegando à terceira parte, começamos por esclarecer o que Wittgenstein, como filósofo da linguagem e não como lingüista entende por gramática. Ao antagonizar as diferentes visões sobre o termo gramática, delimitaremos o terreno conceitual onde irá nascer a noção de gramática profunda do segundo Wittgenstein. Ele é um filósofo preocupado com os fundamentos da linguagem. Ele define gramática pela sua profundidade, sem se perder na definição metafísica das coisas últimas, essenciais, no sentido metafísico da expressão. Definir uma noção vasta, como nesse caso a noção de gramática, não é uma tarefa fácil. Não é objetivo de nossa exposição dialogar, a fortiori, com o Tractatus LogicoPhilosophicus. É nosso objetivo delimitar a discussão sobre a noção de gramática nas Investigações. Por isso, nossa procura na filosofia wittensteiniana é a essência do sentido da linguagem, não a essência metafísica, mas a aquilo que dizível se faz, imanente que é à própria linguagem. Dizer da noção da gramática é superar a metafísica do silêncio. É dizer dos usos, dos jogos de linguagem, dizer da vida social, da pragmática. É um Wittgenstein vivo, que pulsa significações nas linhas da linguagem. É um homem de seu tempo fazendo da linguagem filosófica um jogo de compreensão de si mesmo em relação ao mundo. Procuramos, portanto, uma definição da noção de gramática no segundo Wittgenstein. Nossa tarefa é múltipla: nos desculpamos por deficiências num jogo de linguagem tão complexo, onde as teias da razão nos parecem iludir – seria essa a ilusão que Wittgenstein se propõe desfazer? – ao falar de si mesmas. 2 PRIMEIRA PARTE CAPÍTULO 1 – NOTAS BIOGRÁFICAS 1.1. VIDA E OBRA Ludwig Josef Johann Wittgenstein foi um dos pensadores mais enigmáticos do século XX. Seus livros mais conhecidos – Tractatus Logico-Philosophicus e Investigações Filosóficas, contrapõem-se mutuamente, fazendo-nos pensar num filósofo sem medo de expressar duas opiniões muito diversas em apenas uma vida. Mas algo unifica o Tractatus e as Investigações Filosóficas: a necessidade de discutir e descortinar os limites da razão. Onde reside esse limite? Como se dá essa limitação? Qual o papel dessa limitação entre linguagem e mundo na vida social? Wittgenstein construiu com suas mais importantes obras “um manifesto contra a incerteza e o misticismo. A partir delas, ele cria um sistema de linguagem tão lógico como a matemática. A leitura da sua vida em paralelo com a da suas obras, mostra um pensador que procura preservar a dimensão da solidão, do mistério da vida; tudo aquilo que está para além das palavras e que estas não são capazes de descrever1”. 1 MURILO, Sérgio. Wittgenstein. Disponível em www.virtual.pucminas.br/comunicacao/bibl_virtual, acesso: em 03 de outubro de 2005. 3 A vida de Wittgenstein foi extremante singular. Uma vida que não se resume apenas na filosofia dos livros mas na filosofia singular de uma existência: “se levarmos em consideração apenas os aspectos lógico-linguísticos que deram enorme projeção à sua filosofia, muito provavelmente deixaremos passar despercebida a existência extremamente singular desse filósofo2”. Nascido no dia 26 de abril de 1889, em Viena, capital do então Império Austro-Húngaro, teve como pai um diretor de uma grande siderúrgica que comandava o cartel do aço na indústria austríaca. Sua mãe, filha de um dono de banco vienense, era musicista. A vida de Wittgenstein, até seus catorze anos, teve uma formação educativa caseira. Nessa idade, inventou uma máquina de costura que provocou grande admiração nos familiares. Sua habilidade para criar engenhos mecânicos levou seus pais a enviarem o jovem inventor a uma escola em Linz, na região montanhosa da Áustria. Começou a ter contato diária com a matemática e a física, numa escola que dava pouca importância à educação clássica. Depois de três anos em Linz, Wittgenstein foi para Berlim, Alemanha, estudar na Escola Técnica Superior, cursando engenharia mecânica. Em 1908, mudou-se para a Inglaterra, passando a ser aluno matriculado na Universidade de Manchester. Pesquisou aeronáutica, projetando um motor acionado a jato e um propulsor. Desinteressando pela engenharia, buscou outros assuntos. Foi aí que se deparou com o livro Princípios de Matemática, de Bertrand Russel (1872-1970). Abandonou a engenharia de vez e, em 1912, ingressou no Trinity College, a fim de estudar com Bertrand Russel, aconselhado pelo lógico G. Frege (1848-1925). A lógica tomou conta de sua vida, despertando seu interesse e satisfazendo suas indagações sobre o conhecimento. A formação musical da família - “tinha conhecimentos de música, tocava clarinete e manifestou o forte desejo de ser regente de orquestra3” - o ajudou a aproximar-se, em Cambridge, com David Pinsent, colega de estudos: ambos possuíam um repertório de mais de quarenta lieder de Schubert, que Wittgenstein sabia assobiar, enquanto Pinsent acompanhava ao 2 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein: linguagem e mundo. São Paulo: Annablume, 1998, p. 25. 3 Id., Ibid., p. 28. 4 piano. Além disso, fazia piqueniques na Islândia e na Noruega, correndo as despesas por conta de Wittgenstein. Embora considerasse Wittgenstein uma companhia difícil, irritável e por vezes deprimente, Pinsent dizia que, quando alegre, ele se tornava encantador4”. Uma personalidade marcada pela depressão e pela inteligência perspicaz. Um jovem filósofo cindido entre a vida e a morte. As buscas existencias de Wittgenstein – sentido para si mesmo e para seu mundo- o impeliram num movimento incessante em direção à lógica. O suicídio, a aniquilação total da própria vida, roubou-lhe muitas vezes o sono e o equilíbrio. Sua redenção, ou melhor, seu equilíbrio existencial foi encontrado na produção filosófica: “ir para Cambridge a fim de estudar filosofia com Russel, adquiriu para Wittgenstein o caráter de salvação5”. Na primavera de 1913, o que se tornara moda na Europa daquele período, passou por sessões de hipnose com a finalidade de alargar seu campo de visão sobre os as questões lógicas com as quais se defrontava durante suas leituras e estudos. Essa busca pelo alargamento mental não impedia um retorno cotidiano de suas questões existenciais indefinidas e indefiníveis, como escreve para Bertrand Russel: “minha vida está cheio de odiosos e mesquinhos pensamentos (isso não é exagero). Talvez você pense que seja uma perda de tempo, para mim, pensar acerca de mim mesmo: mas como posso tornar-me um lógico se não sou sequer um homem! Antes de mais nada, devo tornar-me puro6”. A filosofia, ou a lógica, para sermos mais exatos, foi para o jovem pensador um refúgio seguro, mediante as incertezas interiores de seu mundo psicológico. Por ocasião do início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Wittgenstein alistou-se para lutar no exército austríaco como voluntário. Num período entre a vida e a morte, entre a paz e a guerra, escreveu sua primeira grande obra, o Tractatus Lógico-Philophicus, 4 WITTGENSTEIN, Ludwig.Investigações filosóficas. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 6 (Vida e obra). 5 Loc. Cit. 6 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 7. 5 uma obra de profundo conhecimento lógico e de grande intenção de descrever as relações entre a linguagem e o mundo. Ao final da Guerra, depois de passar dois meses como prisioneiro dos italianos, retornou à vida civil e publicou o Tractatus, em 1921, nos Anais de Filosofia Natural (Annalen Naturphilosophie), dirigido por Wilhelm Ostwald (1853-1932). A versão inglesa com título latino foi lançada em 1922. A fortuna da família lhe pareceu, neste período da vida, um tormento, um verdadeiro contravalor7. Resolveu doar toda sua fortuna pessoal às duas irmãs: “em parte, isso foi devido ao fato de que não queria ter amigos atraídos por seu dinheiro: por outro lado, a razão dessa atitude decorria de sua predisposição para uma vida simples e frugal e da idéia de que o dinheiro poderia ser apenas uma amolação para o filósofo8”. A Primeira Guerra Mundial afetou em muito os sentimentos existenciais de Wittgenstein. Se por um lado, a fortuna da família aumentava com os investimentos do pai no mercado norte-americano, por outro lado, foi neste contexto de guerra que Wittgenstein sofreu grandes perdas: “a guerra e todas as suas conseqüentes situações limites, aliadas às mortes de seus irmãos, seu pai e do amigo D. Pinsent, configuraram, para Wittgenstein, um ambiente no qual a questão sobre o sentido da existência estará presente até o fim de sua vida, ainda que ele não faça de sua filosofia uma filosofia da existência9”. 7 Segundo CONDÉ, “apesar de todos os problemas econômicos que o pós-guerra trouxe, a família Wittgenstein, do ponto de vista financeiro, não sofreu perdas. O pai de Wittgenstein, Karl Wittgenstein, pioneiro na instalação da indústria siderúrgica na Áustria, antes de morrer em 1913, investiu grande parte de sua fortuna na indústria de aço americana, a United States Steel Corporation. Assim, com a ascensão econômica dos Estados Unidos, Karl Wittgenstein aumentou ainda mais a riqueza da família Wittgenstein. Futuramente, a própria fortuna de Wittgenstein será entendida por ele como um peso”. Op. Cit., pp. 29-30. 8 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 7. 9 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Op. Cit., p. 30. 6 As perdas afetivas e a reflexão sobre o sentido da própria vida - e sem contar a crise intelectual que uma guerra proporcionou na população européia – acabam por afetar o modo de vida do filósofo Wittgenstein. Ele buscou refúgio para seus problemas numa vida simples, destituída de grandes empreendimentos. A vida simples da contemplação filosófica foi buscada quando, em 1920, Wittgenstein passou a ser um simples professor – considerando sua posição econômica e filosófica - lecionando para crianças de nove a dez anos de idade. Em 1926, após abandonar o projeto de ensinar crianças ele pensa até mesmo em se tornar monge. No mosteiro de Hütteldorf, passou a ser um simples ajudante de jardineiro. Desta vida simples Wittgenstein consegue a paz necessária para reerguer-se dos trágicos acontecimentos de família. Retorna, em 1929, para Cambridge, dedicando-se novamente à filosofia. Sua tese de doutoramento foi o Tractatus Logico-Philosophicus. Seus examinadores foram Bertrand Russel e G. E. Moore (1873-1958). Publicou nessa época, um ensaio intitulado Algumas Observações sobre a Forma Lógica que, juntamente com o Tractatus, constituiu a totalidade dos escritos de filosofia publicados em vida. Os Cadernos Azul e Marrom são escritos de 1933 a 1935. Permanecendo em Cambridge até 1936, mudou-se para a Noruega, escrevendo o que seria sua segunda obra de grande expressão filosófica – Investigações Filosófica. Em 1937, voltou à Cambridge e depois de dois anos conseguiu a cadeira de Moore naquela instituição. Em 1938 elaborou algumas exposições chamadas Conferências e Discussões sobre Estética, Psicologia e Crença Religiosa. Na Segunda Guerra Mundial (1938-1945) trabalhou no Guy’s Hospital e desempenhou as funções até mesmo de porteiro. Transferido para Newcastle, ficou até 1944 trabalhando como ajudante de laboratório de pesquisas clínicas. Renunciou à cadeira em Cambridge e passou a dedicar-se às Investigações Filosóficas. O diagnóstico de câncer levou Wittgenstein a procurar abrigo na sua última missão em vida - a conclusão de suas Investigações. Os últimos anos de sua existência foram marcados pela aversão à fatalidade de morrer em um leito de hospital. Abraçou a filosofia e provocou uma cisão no seu próprio pensamento filosófico ao tornar evidente sua mudança conceitual diante de sua obra publicada depois de sua morte em 29 de abril de 1951. 7 Suas últimas palavras, resumem uma vida marcada pela procura de si mesmo, tendo como missão existencial achar-se a si mesmo na multiplicidade dos fatos sociais: “digalhes que eu tive uma vida maravilhosa!10”. Recorrendo a uma síntese sobre sua vida e obra, concordamos com a seguinte afirmação: “nestes mais de 50 anos desde sua morte, Wittgenstein não tem desfrutado de um repouso tranqüilo. Longe de ver sua obra satisfatoriamente assimilada, tem tido seu túmulo ocasionalmente revirado em razão de suposições sobre seus atos privados, que pouco ou nada acrescentam à sua obra filosófica. Algo que ele repudiaria já em vida. A saber: sua problemática opção sexual (pelo "amor que não ousa dizer seu nome"); sua excentricidade no trato social (é costume, por exemplo, evocar seu tumultuado encontro com Karl Popper); sua hipotética convivência, na infância, com Adolf Hitler (que, cogita-se, teria desenvolvido as sementes do anti-semitismo; visto que Wittgenstein, além de judeu, era excepcionalmente dotado e rico). Sem a pretensão, no entanto, de querer pôr fim a essas agitações típicas de um mar revolto (o próprio legado do filósofo), talvez seja interessante desviar a atenção para outros aspectos mais elucidativos de sua trajetória11”. Sua trajetória passa também, pela compreensão da sua terra natal, Viena, na Áustria, ao final do século XIX e início do século XXI. 10 11 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 8. BORGES, Júlio Daio. Wittgenstein: o fazedor de símiles. http://www.revista.agulha.nom.br/ag30wittgenstein.htm, acesso: 03 de outubro de 2005. 8 Disponível em 1.2. VIENA: A CIDADE DOS SONHOS? A Áustria viveu, no século XIX e primeira metade do século XX, o seu apogeu intelectual. Viena, a sua capital, tornou-se famosa pelos intelectuais que freqüentavam seus cafés: “Viena antes da Guerra de 1914 era uma das cidades mais fascinantes da Europa. Na Ringstrasse, a avenida-anel que a envolvia, podia admirar-se as belíssimas construções, privadas ou públicas, tais como a Ópera, a Universidade, o Parlamento ou a Rathaus, erguidas em estilos diversos, do barroco, ao neorenascentista. Os cafés de Viena eram envolventes redemoinhos de idéias e modas. Como pode-se ver na aquarela de Reinhold Volker do Griensteidl Café, sede da Jung Wien, que era freqüentada por escritores, artistas, estudantes, e um número diverso e impreciso de curiosos que vinham usufruir do convívio com aquela gente talentosa, disfarçando a presença lendo jornais. Neles, não era difícil deparar-se com o poeta Hugo von Hofmannsthal, que compunha os libretos de Richard Strauss, com Stefan Zweig, ou com o teatrólogo Arthur Schnitzel, o favorito de Sigmund Freud, e mesmo, eventualmente, com o próprio dr. Freud. Além deles, mantendo a tradição de ser a cidade mais musical de toda a Europa, Viena orgulhava-se do grande Gustav Mahler, dos compositores vanguardistas Arnold Schöenberg e Alban Berg, e dos pintores Gustav Klimt e Oskar Kokoschka, voltados a enaltecer o sensorialismo e o psiquismo tão em moda naqueles tempos12”. Os vienenses criaram na sua cidade uma atmosfera de cultura e bom gosto. As valsas, os bares, os cafés, os teatros, o povo leitor produziu um cenário único na Europa: 12 Disponível em http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/haider.htm, acessado em 03 de outubro de 2005. 9 “o estoicismo dos vienenses era quase doentio (é de F. Wickhoff, o historiador da arte, o conceito de Kunstwissenschaft, o conhecimento pela arte). O culto à opera, às belasletras e à música em geral era generalizado. Num conhecido ensaio, o psicanalista Bruno Bettelheim atribuiu aquilo tudo a uma espécie de fuga coletiva da decadência13”. Se a decadência que viria no pós-guerra já era anunciado nesse afã de racionalidade e de cultura, é uma discussão que não cabe neste trabalho. Mas a Viena de Wittgenstein se assemelha a esse cenário descrito: glória e decadência. Como a vida do filósofo: milionário e deprimido. Seria Viena da época dos Wittgenstein um cenário que provocou em Ludwig sua cisão entre a linguagem de si e o mundo fora de si? Importa-nos ressaltar o ambiente intelecto-cultural de Wittgenstein. Favorável ao questionamento, à ruptura com as filosofias anteriores. Favorável ao surgimento de um pensador sem medo de apresentar, numa só existência, duas obras que parecem contrapor-se, mas que têm em seu conjunto a resposta de um homem diante do mundo: a linguagem diz do mundo. Mas como isso acontece? Que gramática usamos para decodificar estes dois universos que se tocam: o mundo e nós mesmos? 13 Loc. Cit. Segundo CONDÉ, “se a Viena de fim do século XIX era a cidade dos sonhos e a cada dos Wittgenstein, um dia, chegara a refletir o encantamento da capital do império, famosa por suas lindas valsas, seus bares e cafés, a partir do começo do século XX nem tudo foi glória na família dos Wittgenstein”. Op. Cit., p. 29. 10 SEGUNDA PARTE CAPÍTULO 2 – INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS 2.1. RUPTURA OU CONTINUIDADE? Ludwig Wittgenstein escreveu duas importantes obras filosóficas: o Tractatus Logico-Philosophicus e Investigações Filosóficas. Entre as duas obras, a primeira lançada em vida e a segunda após sua morte, há uma ruptura ou continuidade na sua reflexão filosófica? Segundo Paulo Margutti, Wittgenstein conseguiu elaborar duas filosofias radicalmente opostas uma à outra, numa só vida: “dois aspectos de seu pensamento saltam aos olhos de qualquer estudioso do assunto: a variedade e a originalidade. Wittgenstein foi talvez o único filósofo que, no curto tempo de uma vida, conseguiu elaborar duas filosofias radicalmente diferentes14”. Essa ruptura das Investigações em relação ao Tractatus é resultado de uma nova postura filosófica diante do conceito e do uso da linguagem. Uma postura inovadora que criou um antagonismo entre o primeiro e o segundo Wittgenstein. Não há, em hipótese alguma, a consideração de que o próprio Wittgenstein tenha achado errada sua primeira filosofia. Não foi um erro, mas uma mudança de postura diante dos problemas da linguagem: 14 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Op. Cit., p.13 (apresentação de Paulo R. Margutti Pinto). 11 “sobretudo nas Investigações Filosóficas, publicados após sua morte, o filósofo passou a trilhar um novo caminho, afirmando ser extremamente insatisfatório o Tractatus. Isso, no entanto, não significa que tenha passado ao considerar suas primeiras reflexões pura e simplesmente como errôneas, mas sim como incapazes de elucidar todos os problemas da linguagem em virtude de resultarem de uma maneira ´supersticiosa´ de abordagem15.” 2.2. TRACTATUS LOGICO-PHILOSOPHICUS No Tractatus Logico-Philosophicus, Wittgenstein desenvolveu uma fascinante metafísica do silêncio16, afirmando que a linguagem, apesar de ser um instrumento poderoso para descrever os fatos da realidade do mundo, revelava-se ainda inadequada para tratar com o lado metafísico da realidade. A linguagem, um instrumento racional para descrever o mundo, deveria calarse diante da grandeza essencial das coisas – do sentido da vida, da dimensão ética da existência. O mundo e a essência da linguagem “encontram-se fora do domínio daquilo que a linguagem pode dizer17”. As coisas estão diante de nós, podemos encará-las de frente, mas não podemos ousar dizer da sua essência. Não há um discurso metafísico possível ou adequado para descrever a essência do que está no mundo e compõe a realidade das coisas. A análise lógica clareia a linguagem, mas a silencia. O silêncio é uma estratégia possível diante do absurdo que seria dizer da essência daquilo que usamos para descrever a realidade. Ao descrever, clareamos, usando a linguagem, mas devemos parar por aí. Ultrapassar o limite da descrição dos fatos do mundo18 seria um contra-senso. A principal função da linguagem, no Tractatus é a descrição do mundo. 15 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 13. 16 Cf. CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Op. Cit., p.13 (apresentação de Paulo R. Margutti Pinto). 17 Loc. Cit. 18 Loc. Cit. 12 2.3. DO TRACTATUS ÀS INVESTIGAÇÕES Quais as principais afirmações do Tractatus que serão rejeitadas por Wittgenstein nas suas Investigações Filosóficas19? Vejamos algumas: a) A imagem da essência da linguagem: se comparada a uma caixa de ferramentas, a linguagem é uma caixa composta por palavras, suas ferramentas. Não há nenhuma essência por detrás das palavras, as ferramentas. As palavras na linguagem funcionam como ferramentas para definir um objeto. Não se pretende encontrar, assim, na linguagem uma essência. O uso da linguagem passa a ser uma convenção social para definir os objetos do mundo real que nos circundam: “pense nas ferramentas em sua caixa apropriada: lá estão um martelo, uma tenaz, uma serra, uma chave de fenda, um metro, um vidro de cola, cola, pregos e parafusos. – Assim como são diferentes as funções desses objetos, assim são diferentes as funções das palavras. (E há semelhanças aqui e ali.) Com efeito, o que nos confunde é a uniformidade da aparência das palavras, quando estas nos são ditas, ou quando com elas nos defrontamos na escrita e na imprensa. Pois seu emprego não nos é tão claro. E especialmente não o é quando filosofamos!20”. b) A principal função da linguagem é a descrição do mundo: “essa idéia o levou a conceber as proposições como modelos de estados de coisas e a postular uma linguagem exata e puramente descritiva como a base de qualquer linguagem21”. 19 No prefácio das Investigações Filosóficas Wittgenstein afirma que “há quatro anos, porém, tive oportunidade de reler meu primeiro livro (o Tractatus Logico-Philosophicus) e de esclarecer seus pensamentos. De súbito, pareceu-me dever publicar juntos aqueles velhos pensamentos e os novos, pois estes apenas poderiam ser verdadeiramente compreendidos por sua oposição ao meu velho modo de pensar, tendo-o como pano de fundo. Com efeito, desde que há dezesseis anos comecei novamente a me ocupar de filosofia, tive de reconhecer os graves erros que publicara naquele primeiro livro.” WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 26, grifos nossos. 20 Id., Ibid., p. 31 (§11). 21 PINTO, Paulo Roberto Margutti. As Investigações Filosóficas de Wittgenstein. Belo Horizonte: UFMG, 2005 (apostila do curso Filosofia Contemporânea II – Filosofia da Linguagem), p. 38. As quatro críticas do Tractatus em contraposição às Investigações Filosóficas compõe a primeira parte deste texto, intitulada “A crítica à filosofia do Tractatus”. 13 Ao perceber que a linguagem é um fato social, Wittgenstein assumiu a postura de um filósofo que incorpora no seu discurso a mutabilidade da linguagem, da realidade descrita pela linguagem. A linguagem é dinâmica e pode criar novos domínios, novos territórios de significados: “se você quer dizer que elas [as linguagens] por isso não são completas, então pergunte se nossa linguagem é completa; - se o foi antes que he fossem incorporados o simbolismo químico e a notação infinitesimal, pois estes são, por assim dizer, os subúrbios de nossa linguagem. (E com quantas casas ou ruas, uma cidade começa a ser cidade?) Nossa linguagem pode ser considerada uma velha cidade: uma rede de ruelas e praças, casas novas e velhas, e casas construídas em diferentes épocas; e tudo cercado por uma quantidade de novos subúrbios com ruas retas e regulares e com casas uniformes22.” c) Atomismo tractatiano: “não há um nome próprio autêntico designando um objeto simples. Um nome pode ter um lugar na linguagem mesmo se o objeto que ele designa não mais existe ou nunca existiu. (...) Tudo depende de como compreendemos tais palavras – e a consciência deste fato leva à rejeição da questão metafísica pelos simples23.” A linguagem ordinária é analisada não mais como defeituosa – ela designa objetos independente de sua existência real ou não; d)Concepção solipsista da linguagem: no Tractatus, a linguagem está cercada pelo próprio ser. A linguagem é apenas uma linguagem e o mundo descrito por essa linguagem é apenas um tipo de mundo e de realidade. Os limites da linguagem são, assim, os limites de uma linguagem cercada pelo próprio ser. O mundo se restringe por causa da limitação interna da linguagem do ser. A linguagem privada cerca o ser falante em seu mundo e em sua realidade. Mas como seria possível então a comunicação, os jogos de palavras que formam realidades privadas? A resposta encontra-se na negação do segundo Wittgenstein de 22 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 32 (§18). 23 PINTO, Paulo Roberto Margutti. Op. Cit., pp. 38-39 14 que o mundo não é apenas o meu mundo. Assim, a linguagem é um fato social que cria verdades, realidades e um mundo próprios24. Portanto, ao escrever suas Investigações, Wittgenstein inova na sua filosofia. Rejeita antigas definições e propõe uma nova maneira de perceber a relação entre a linguagem e o mundo: “no Tractatus a pergunta fundamental de Wittgenstein era o que é a linguagem? Isto é, qual a sua essência? Nas Investigações, Wittgenstein interditará essa questão, pois segundo sua nova maneira de pensar a linguagem, não devemos perguntar o que é a linguagem, mas de que modo ela funciona. Não nos cabe buscar uma suposta essência oculta da linguagem(...), mas tão somente compreender os diversos usos da linguagem. Enfim, segundo as Investigações, devemos evitar uma atitude essencialista com relação à linguagem e adotar uma atitude pragmática”. 2.4. INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS Ludwig Wittgenstein escreveu as Investigações Filosóficas entre 1941 e 1949. A primeira parte foi escrita entre 1941 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Já a segunda parte levou três anos, escrita de 1947 a 194925. A linguagem novamente se apresenta como a questão central. Abandonando o essencialismo da primeira obra – o Tractatus, propõe uma reflexão que tem como ponto de partida o uso social da linguagem, uma predominância da dimensão pragmática em detrimento da dimensão semântica. Abandonando o jeito extremamente hermético, as Investigações tem uma linguagem mais agradável e voltada para a descrição de quais são as regras e usos, ou seja, uma preocupação sobre as funções práticas da linguagem: “referem-se a muitos objetos: ao conceito de significação, de compreensão, de proposição, de lógica, aos fundamentos da matemática, aos estados de consciência e 24 25 Cf. PINTO, Paulo Roberto Margutti. Op. Cit., pp. 40-41. No prefácio das Investigações Filosóficas Wittgenstein afirma que “nas páginas que se seguem publico pensamentos, sedimentos de investigações filosóficas que me ocuparam durante os últimos dezesseis anos”. Assim, o livro é um resultado de longa reflexão sobre a linguagem, que lhe tomou o tempo de toda uma vida. WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 25. 15 outros. Redigi todos esses pensamentos como anotações, em breves parágrafos. Às vezes como longos encadeamentos sobre o mesmo objeto, às vezes saltando em rápida alternância de um domínio para outro. (...) as anotações filosóficas deste livro são, por assim dizer, uma porção de esboços de paisagens que nasceram nestas longas e confusas viagens26”. No prefácio do livro, Wittgenstein assume a ruptura com o Tractatus e a possível polêmica em relação às Investigações, além de deixar claro sua melancolia com uma obra que pudesse ter chegado à lume em vida e não de maneira póstuma: “se minhas anotações não levam nenhum sinal que as qualifique como minhas, não quero também reivindica-las como minha propriedade. Entrego-as à publicação com sentimentos duvidosos. Não é impossível, mas na verdade não é provável que este trabalho – na sua pobreza e nas trevas desta época – deva estar destinado a lançar luzes num ou noutro cérebro. (...) Gostaria realmente de ter produzido um bom livro. Tal não se realizou; mas passou-se o momento em que poderia tê-lo corrigido27.” A nova filosofia das Investigações determina uma concepção original de significado. No programa proposto por Wittgenstein não se busca mais a essência do que a linguagem está descrevendo, mas o significado de uma palavra pelo seu uso: “pode-se formular o programa do segundo Wittgenstein como uma tentativa de substituir a questão essencialista tradicional ‘o que é x’ pela questão alternativa ‘como se usa a palavra ‘x’’? Se a alternativa for bem sucedida, a busca filosófica pela essência nada mais será que a busca por um fantasma. Isto porque seríamos capazes de deixar de lado a busca pela abstrata e fugidia essência designada por uma palavra e substituir esta busca inglória pela mera descrição dos usos concretos da palavra em questão. Assim, a difícil e complicada questão ‘o que é o significado?’ seria substituída por ‘como é a palavra ‘significado’ usada em nossa linguagem?’. A nova abordagem de Wittgenstein pode ser condensada através da seguinte diretiva, que caracteriza o 26 Id., Ibid., p. 26. 27 Loc. Cit. 16 metido de análise predominante na sua segunda filosofia; não procure o significado duma palavra, procure, ao invés, pelo seu uso28.” O significado não existe independente das palavras e não lhe é anterior, ou seja, não uma essência a sustentar as palavras e suas combinações. Se houvesse, nesse contexto, uma essência, abandonando o Tractatus, Wittgenstein afirmaria que a essência do significado de uma palavra e suas combinações é o uso29: “Pode-se, para uma grande classe de casos de utilização da palavra “significação” – se não para todos os casos de sua utilização-, explicá-la assim: a significação de uma palavra é seu uso na linguagem. E a significação de um nome elucida-se muitas vezes apontando para o seu portador. Dissemos que a frase “Nothung tem um corte afiado” tem sentido, mesmo que Nothung esteja despedaçada. Ora, isto é assim, porque nesse jogo de linguagem um nome é usado também na ausência do seu portador. Mas podemos imaginar um jogo de linguagem com nomes (isto é, com signos que chamaremos certamente também de “nomes”) no qual estes são empregados apenas na presença do portador; portanto, podem ser sempre substituídos pelo pronome demonstrativo acompanhado do gesto indicativo30”. Outra consideração a ser feita é que, para o segundo Wittgenstein, a análise da linguagem não é a busca por uma essência no significado, mas a consideração do uso que se faz da linguagem. Não há um modelo ideal, essencial a ser buscado no fundo de todo significado. A linguagem é um jogo possível, sem uma essência metafísica: “a palavra não tem significação quanto nada lhe corresponde. É importante constatar que a palavra ‘significação’ é usada incorretamente, quando se designa com ela a coisa que ‘corresponde’ à palavra. Isto é, confunde-se a significação de um nome com o portador do nome31”. 28 PINTO, Paulo Roberto Margutti. Op. Cit., p. 41. 29 Cf. PINTO, Paulo Roberto Margutti. Op. Cit., p. 43. 30 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 43 (§§43, 44). 31 Id., Ibid., p. 42 (§40). 17 Não há uma essência a ser encontrada quando se usa uma concepção de significado do uso da linguagem. Se a significação é feita através do uso da linguagem, a sua essência é a mutabilidade, a variação, mudança. Assim, os jogos da linguagem são vários, múltiplos e não cabe estabelecer uma essência ontológica para esses significados. Assume-se, radicalmente, que não há essência: a essência está no uso, nos jogos de linguagem. Parece-nos oportuno, ao introduzir os jogos de linguagem, demonstrar o importante papel da noção de gramática [profunda] na construção do conceito de linguagem de Ludwig Wittgenstein. Esse será nosso próximo assunto32. 32 É importante perceber que a forma de Wittgenstein tratar a linguagem acelera processos de mudanças em diversas áreas e a racionalidade não é mais a mesma: “Esse novo modelo de racionalidade científica possível de ser constituído a partir de Wittgenstein, em especial de suas noções de gramática e pragmática da linguagem, configura-se como um peculiar tipo de sistema que tem como um de seus principais aspectos uma perspectiva holista, embora não totalizante. Diferentemente da racionalidade científica moderna – totalizante – , essa nova noção de racionalidade não se constitui a partir de uma ordem a priori e hierárquica, contrariamente, ela é vista como uma “teia”, uma rede multidirecional flexível que se estende através de Semelhanças de família (I. F. §§ 67, 77, 108). Não é totalizante porque, além de não possuir fundamentos últimos, não pretende fornecer “a” inteligibilidade total e completa do mundo, como se todas as visões de mundo devessem convergir. Entretanto, é holista porque apresenta uma dimensão panorâmica (Übersichtlichkeit) constituindo um tipo de sistema aberto e descentralizado no qual a racionalidade não está assentada em nenhum lugar privilegiado, mas se configura a partir das múltiplas relações no interior do sistema. E, embora constitua um sistema autônomo, não se fecha no relativismo extremo na medida em que está aberto a outros sistemas”. CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein e a gramática da ciência. Disponível em http://www.fafich.ufmg.br/~mauro/publica.htm e também Unimontes Científica, vol 6, no. 1, 2004. 18 TERCEIRA PARTE CAPÍTULO 3 – A NOÇÃO DE GRAMÁTICA 3.1.CONCEITO OU NOÇÃO DE GRAMÁTICA? Ludwig Wittgenstein apresenta uma noção de gramática no conjunto de suas Investigações Filosóficas. Não é um conceito que é apresentado definido com objetividade. É uma noção construída ao longo da obra e que alicerça a sua concepção de linguagem. Nesse sentido, o termo noção se aplica melhor à construção realizada por Wittgenstein no conjunto das suas Investigações Filosóficas. De sua obra se depreende, se conclui uma noção que sustenta sua definição de linguagem, que tem muitos obstáculos para ser encontrada de uma forma imediata: “a gramática, na obra de Wittgenstein, ao mesmo tempo em que assume uma importância vital para a compreensão de sua filosofia, também se destaca por sua dificuldade de elucidação e, em alguns momentos, até mesmo por apresentar uma certa ambigüidade. Isto impossibilita dizer com certeza que Wittgenstein elabora, ou mesmo tenhase empenhado em elaborar, um conceito de gramática, pois o que efetivamente pode ser encontrado ao longo de toda sua obra, sobretudo nas Investigações, devido talvez ao próprio caráter desse livro, é muito mais uma noção de gramática do que propriamente um conceito 19 pronto, determinado e com limites bem definidos. (...) Dessa forma, as dificuldades na abordagem da gramática em Wittgenstein constituem-se de diferentes modos33”. Assim, podemos afirmar que a noção de gramática no segundo Wittgenstein apresenta duas dificuldades para sua abordagem que são: (a) ela se modifica no decorrer da obra e (b) a definição de noção de gramática está, em muitos casos, identificada com a lógica34. Essas dificuldades não nos impedem de procurar uma elucidação sobre a noção de gramática, importante que é para a compreensão da linguagem na obra investigativa de Wittgenstein. 3.2. DE QUAL GRAMÁTICA SE FALA? A expressão gramática em Wittgenstein não designa a gramática normativa de uma língua em particular, ou seja, as regras da lingüística como o estudo da fonética, a morfologia, a sintaxe, a semântica e da estilística. Essa gramática é definida da seguinte forma: “gramática é o conjunto de regras individuais usadas para um determinado uso de uma língua, não necessariamente o que se entende por seu uso "correto". Tais regras são ditadas, em geral, pelas Academias de Letras do país, nem sempre em conformidade com o uso corrente da população, mesmo em amostragens da porção tida por "mais culta". O termo "Gramática" é usado em acepções distintas, referindo-se quer ao manual onde as regras de regulação e uso da língua estão explicitadas, quer ao saber que os falantes têm interiorizado acerca da sua língua materna. Estas duas acepções distintas remetem para os conceitos de Gramática Prescritiva ou Normativa, que impõe determinados comportamentos lingüísticos como correto, marginalizando outros por não fazerem parte da prática lingüística daqueles que não são os "barões e doutos". Atualmente, a Lingüística procura descrever o conhecimento lingüístico dos falantes, produzindo aquilo que são as Gramáticas Descritivas, que, ao invés de imporem 33 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. As teias da razão.Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Belo Horizonte: Argumentum Editora, 2004 (Scientia UFMG ), p. 85. 34 Cf. Loc. Cit. 20 comportamentos lingüísticos, descrevem e incorporam fenômenos que numa abordagem prescritiva são de desprezar35.” Wittgenstein não está preocupado em fazer Lingüística e sim uma profunda revisão da filosofia a partir da conceituação de linguagem. Como podemos perceber na definição: “Lingüística é o estudo científico da linguagem humana. Um lingüista é alguém que se dedica a esse estudo. A pesquisa lingüística é feita por muitos especialistas que, geralmente, não concordam harmoniosamente sobre o seu conteúdo. Russ Rymer disse, ironicamente, que "a lingüística é a parte do conhecimento mais fortemente debatida no mundo acadêmico. Ela está encharcada com o sangue de poetas, teólogos, filósofos, filólogos, psicólogos, biólogos e neurologistas além de também ter um pouco de sangue proveniente de gramáticos’36” . Não é preocupação de Wittgenstein, apenas a investigação sobre as definições clássicas da linguagem, compreendida na forma como se segue, como se define linguagem: “a linguagem diz respeito a um sistema constituído por elementos que podem ser gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, que são usados para representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos. Nesta acepção, linguagem aproxima-se do conceito de língua.Numa outra acepção, linguagem refere-se à função cerebral que permite a qualquer ser humano adquirir e utilizar uma língua. Por extensão, chama-se linguagem de programação ao conjunto de códigos usados em computação. O estudo da linguagem é chamado lingüística, uma disciplina acadêmica introduzida por Ferdinand de Saussure, no início do século XX, e depois desenvolvida como ciência37.” Ludwig Wittgenstein, nas suas Investigações Filosóficas está essencialmente debruçado sobre a dimensão filosófica da linguagem. Essa dimensão não é o estudo da 35 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Gramática, acesso: 05 de outubro de 2005. 36 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Lingu%C3%Adstica, acesso: 05 de outubro de 2005. 37 Loc. Cit. 21 gramática de superfície – a gramática dos lingüistas, mas a gramática profunda, filosófica, essencial: “as regras com as quais Wittgenstein se ocupa não são as regras da lingüística. Isto pode ser inferido de sua distinção entre gramática de superfície e gramática profunda. A primeira se ocupa com o modo pelo qual uma palavra é usada na construção da sentença; ela é a gramática do lingüista, e pode por vezes ser enganadora. A última se preocupa com os diferentes modos pelos quais uma palavra é usada na linguagem, e pode por vezes desvelar algumas imagens enganadoras sugeridas pela grama´tica de superfície; ela é a gramática do filósofo. Como resultado, a linguagem aparece agora como mais complexa e mais diferenciada do que poderíamos ter previamente imaginado38.” 3.2. A ESSÊNCIA DO SENTIDO DA LINGUAGEM: A GRAMÁTICA No segundo Wittgenstein, a definição do uso da linguagem e a busca pela determinação dessa “essência” do e no uso não é a busca por uma essência no significado, mas a consideração do uso/significado que se faz da linguagem. Não há um modelo ideal, essencial a ser buscado no fundo de todo significado. A linguagem é um jogo possível, sem uma essência metafísica. Na linguagem, em sua análise não se busca uma essência que dê o sentido, o significado: “aprender a significação de uma expressão não se restringe a denominar objetos, mas principalmente a operar, através de regras gramaticais, as expressões que constituem as significações, isto é, aprender a significação de uma expressão é aprender a operar com regras gramaticais39.” A gramática profunda de Wittgenstein é a compreensão de regras que, de acordo com o uso, mudam o significado, mudam a significação da linguagem. O uso social da linguagem é múltiplo. 38 PINTO, Paulo Roberto Margutti. Op. Cit., p. 44. 39 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein: linguagem e mundo. Op. Cit., p. 112. 22 É preciso perceber a multiplicidade do uso. Para que a linguagem seja usada, significando algo, é preciso uma gramática. A essência da linguagem é imanente à própria linguagem em uso. Assim, a essência da linguagem, imanente à própria linguagem, pode ser expressa na frase “a essência está expressa na gramática40”. O que isso quer dizer? A essência está na gramática é a afirmação de que, fora do uso de regras de uso, não há linguagem. A linguagem se faz no uso prático, quando a sua gramática se torna evidente. Tomemos como exemplo o parágrafo 573 e 574 das Investigações Filosóficas: “expectativa é, gramaticalmente, um estado como: ter uma opinião, esperar algo, saber algo, ser capaz de algo. Mas, para compreender a gramática desses estados, precisamos perguntar: “qual o critério para afirmar que alguém se encontra nesse estado?” (Estado de dureza, de peso, de ajustamento.). Ter uma opinião é um estado.- Um estado de quê? De alma? De espírito? Ora, de quem se diz que tem uma opinião/(...) não devemos esperar nenhum esclarecimento da resposta á questão. As questões que penetram mais profundamente são: que consideramos, em casos especiais, como critério para afirmar que alguém tem tal ou tal opinião? Quando dizemos: ele chegou naquela ocasião, a essa opinião? Quando dizemos que ele mudou sua opinião? E assim por diante. A imagem que as respostas a essas questões nos dão mostra o que é aqui tratado gramaticalmente como estado41.” A gramática no segundo Wittgenstein é autônoma42, independe da relação nome – objeto. A denominação de objetos é substituída pelo uso de expressões que têm dentro de seu funcionamento lógico, uma gramática profunda. A opinião sobre o estado das coisas e das pessoas indica que é possível partilhar, no uso, um significado. O significado, quando regulado por uma gramática profunda, torna-se prático: “a gramática não é simplesmente um sistema de regras sintático-semânticas, mas um conjunto de atividades governadas por regras, isto é, a gramática envolve, além da dimensão sintático-semântica, uma dimensão pragmática. E é nesse sentido que, para o 40 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 120 (§371). 41 Idem, Ibid., p.147 (§§572-573). 42 Cf. CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Op. Cit., p. 113. 23 segundo Wittgenstein, a significação de uma expressão não é a subsistência de um objeto na realidade(...) mas constitui-se no uso de uma expressão. A significação é o produto de regras gramaticais surgidas da práxis da linguagem (...)43.” É o uso da linguagem que torna a gramática uma noção importante. Ela determina as regras do jogo lingüístico, do jogo de linguagem. As Investigações Filosóficas demonstram em seus exemplos do uso da linguagem que a gramática é uma regra essencial para a operação linguagem-significado. Frases, exemplos, desenhos, esquemas, situações variadas, regidas pela batuta da gramática. É como se por detrás de cada significado houvesse uma regra, não uma metaregra, essencial, metafísica, mas uma regra prática, cotidiana, prática, para operacionalizar a disputa que a linguagem impõe no uso cotidiano – a disputa entre ser ou não compreendido, lembrando que até o fato de não sr compreendido supõe uma gramática –a gramática profunda que não foi habilmente usada. Se cabe às Investigações descrever o uso da linguagem, analisemos agora uma outra passagem: “mesmo quando se concebe a frase como imagem de um estado de coisas possível e se diz que ela mostra a possibilidade do estado de coisas, então, no melhor dos casos, a frase pode fazer o que faz uma imagem, pintada ou plástica, ou um filme; e ela, em todo caso, não pode colocar o que não se dá. Portanto, depende inteiramente de nossa gramática o que (logicamente) dito possível e o que não é, - a saber, o que ela autoriza?” – Mas tudo é arbitrário! –Não é com toda figuração em forma de frase que sabemos o que fazer; nem toda técnica tem um emprego em nossa vida, e quando, na filosofia, somos tentados a contar entre as frases algo de inteiramente inútil, isso freqüentemente acontece porque não refletimos suficientemente na sua aplicação44”. O arbitrário é o uso incorreto da linguagem e de suas regras – a gramática profunda. Mas há alguma coisa possível de incorreção no uso prático da linguagem? 43 Loc. Cit. 44 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 139-140 (§ 520). 24 Dificilmente. A gramática está inserida na prática social45 e como tal é um produto social validado pelos usuários. Por isso pode modificar-se com o tempo. Se há algo que não pode ser dito ou dito de maneira errônea, a prática social determinará que o erro lingüístico aconteceu. O uso implica saber das regras, saber usar-se da gramática. Por isso, a regra é a determinação do correto ou do incorreto. Façamos agora, algumas observações finais sobre a noção de gramática no segundo Wittgenstein. Em primeiro lugar, a gramática é dinâmica. A situação determina um jogo de linguagem, sua satisfatoriedade ou não. Um elemento que não participa da gramática, não pode compor assim, um jogo de linguagem. Seu uso se perde, seu significado se esvai. Por isso, a noção de gramática é pragmática: “as regras que constituem a gramática efetivamente como tal pela práxis social. A gramática é um produto social. Resta salientar que, da mesma forma que o uso condiciona a regra, essa regra, em contrapartida, determinará se o uso está correto ou não. No entanto, na medida em que a gramática é um conjunto de regras que está em aberto, novas regras podem ser acrescentadas, antigas regras alteradas, etc.46” Por isso, a práxis social cria as regras para os jogos de linguagem. A gramática torna-se, assim, um produto social, uma convenção que se torna importante à medida que é usada para a constituição das formas de vida. Mas dizer que a gramática com suas regras é uma convenção social não tira a necessidade de que, num jogo de linguagem, haja uma coerência, uma vez que um jogo de linguagem, com suas regras, com sua gramática estão vinculados aos nossos hábitos, costumes e instituições47: “Quero dizer: há um caso normal e casos anormais. Apenas em casos normais o uso das palavras nos é claramente prescrito; não temos nenhuma dúvida, sabemos o que é preciso dizer neste ou naquele caso. Quanto mais o caso é anormal, tanto mais duvidoso torna-se o que devemos dizer. E se as coisas se comportassem de modo totalmente diferente 45 CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. As teias da razão. Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Op. Cit., p.89. 46 Loc. Cit. 47 Cf. Loc. Cit. 25 do que se comportam de fato – e se não houvesse, por exemplo, expressão característica da dor, do terror, da alegria; se o que é regra se tornasse exceção e o que é exceção, regra, ou se as duas se tornassem fenômenos de freqüência mais ou menos igual - então nossos jogos de linguagem normais perderiam o sentido. – O procedimento de colocar um pedaço de queijo sobre a balança e fixar o preço segundo o que marca o ponteiro perderia seu sentido, se acontecesse freqüentemente que tais pedaços, sem causa aparente, crescessem ou diminuíssem repentinamente (..)48”. Em segundo lugar, a gramática é a essência das regras de caráter operatório, pelo qual são elaborados significados e construímos a linguagem. Para realizar a linguagem, para usá-la em contextos variados, necessitamos dominar a técnica, precisamos dominar a operação: “o que chamamos ‘seguir uma regra’ é algo que apenas uma pessoa pudesse fazer uma vez na vida? – E isto é, naturalmente, uma anotação sobre a gramática da expressão ‘seguir a regra’. Não pode ser que apenas uma pessoa tenham uma única vez, seguido uma regra. Não é possível que apenas uma única vez tenha sido feita uma comunicação, dada ou compreendida uma ordem etc. – Seguir uma regra, fazer uma comunicação, dar uma ordem, jogar uma partida de xadrez são hábitos (costumes, instituições), Compreender uma frase significa compreender uma linguagem. Compreender uma linguagem significa dominar uma técnica49.” Em terceiro e último lugar, a gramática da qual fala Wittgenstein nas suas Investigações Filosóficas é uma gramática que não está superficialmente preocupada em constituir significados. Não é isso. A gramática profunda das Investigações constitui a própria racionalidade, constituição essa racionalidade. Essa constituição não é apenas o estudo da linguagem, mas da práxis dessa linguagem, seus usos, suas regras, a produção das regras, o significado. É por isso que, no segundo Wittgenstein, se há uma essência a ser buscada pela razão é o desvelamento das 48 WITTGENSTEIN, Ludwig. Op. cit., p. 72 (§§ 141-142). 49 Id., Ibid., p. 92 (§199). No parágrafo 206, Wittgenstein ainda acrescenta que “o modo de agir comum a todos os homens é o sistema de referência [gramática] por meio do qual interpretamos uma linguagem desconhecida”. 26 regras da gramática. Se há uma lógica, essa lógica só tem sentido dentro de uma linguagem que seu pressuposto. A lógica não é a essência: a lógica é uma linguagem com regras próprias, que participa de uma gramática e tem seu próprio jogo de linguagem. Por isso, a gramática profunda de Wittgenstein, ou melhor, a noção de gramática é extremamente importante em seu pensamento: a racionalidade é antes de tudo gramatical50. Se há uma essência presente na linguagem é a gramática. Não que a gramática ocupe o lugar de uma essência metafísica, mas como algo imanente à própria linguagem. Enfim, o sentido [essência] da linguagem é a gramática. 50 Cf. CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. As teias da razão.Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Op. Cit., p.93. É importante citar uma classificação de três grupos em que, segundo CONDÉ, pode ser considerada a noção de gramática, como aparece citada dentro das Investigações Filosóficas: gramática de palavra ou expressão como domínio de uma técnica (§§ 150, 182, 257, 293, 339, 657, 660, 693); gramática como “lugar” a partir do qual estabelecemos nossas “considerações” acerca do mundo (§§ 47, 90, 122, 392, 401) e gramática como nossas ilusões (§§ 110, 111, 122), Op. Cit., p. 92. 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apresentar a vida e a obra de Ludwig Wittgenstein estimulou-nos à compreensão de que a linguagem de um tempo é a linguagem das pessoas que viviem nesse tempo, vivem esse paradigma, esse modus vivendi. Wittgenstein estimula a percepção de um homem profundamente filosófico – atraído pela dor de seu tempo, pela dor da existência, procura não a saída vergonhosa – o suicídio, mas a morte heróica, a seu modo, claro, na participação nas duas guerras mundiais. Um homem rico por fora, mas pobre por dentro: frágil, atormentado pelos amores platônicos, por situações familiares e sociais difíceis. Sua procura interior pela simplicidade feliz da existência é um convite a rever os valores hodiernos de sucesso, fama e glória. Mas de sua vida atormentada pela discordância entre o que tinha e o que sentia, podemos tirar uma bela filosofia. Uma filosofia preocupada, incisiva, forte. Uma filosofia revolucionária ao modo wittgensteiniano – sem pressa e sem excessos. Podemos afirmar, após esse estudo da noção de gramática que a linguagem é um fato social. Não o fato social de Max Weber, implicando numa Ciência Social. Não. O sentido de fato social é a pragmática: o uso da linguagem determina a análise que dela se pode fazer. Ao desembaraçar as profundezas da linguagem, as teias da razão, Wittgenstein, o segundo, e talvez o melhor, contribui para a compreensão da constituição social – de uso, da comunicabilidade. A linguagem em uso – em comunicação, supõe, assim, uma regra. A regra não é uma essência metafísica. A regra é imanente: é uma gramática que introduz a possibilidade de, por mais complexa que seja, a linguagem possibilitar a compreensão do ser no mundo. 28 O estudo da noção de gramática nos conduziu a uma conclusão importante: a razão se comunica através do uso da linguagem. A linguagem é um fato social. Mas a linguagem não se faz sem uma noção adequada da noção de gramática. A gramática é a autonomia da linguagem. A gramática possibilita a linguagem dizer do dizível, ou seja, de si mesma. A noção de gramática é um argumento importante para desfazer os enganos essencialistas, metafísicos de uma relação indizível com o mundo, com as coisas. A noção de gramática dá sentido à linguagem e possibilita ser ela múltipla, dinâmica, complexa, simples, mas sempre, na medida do humano que a pratica, exatamente social e profundamente racional. Portanto, a noção de gramática, como foi demonstrada, é o sentido da linguagem no segundo Wittgenstein. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein: linguagem e mundo. São Paulo: Annablume, 1998, 144 p. _______. As teias da razão.Wittgenstein e a crise da racionalidade moderna. Belo Horizonte: Argumentum Editora, 2004 (Scientia UFMG ). _______. Wittgenstein e a gramática da ciência. Disponível em Unimontes Científica, vol 6, no. 1, 2004 e www.fafich.ufmg.br/~mauro/publica.htm. PINTO, Paulo Roberto Margutti. 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