SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE- SES -SP COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS-CRH GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS-GDRH CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS “Dr. Antonio Guilherme de Souza” SECRETARIA DE ESTADO DA GESTÃO PÚBLICA PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL - PAP SAMUEL DOS SANTOS SOUSA EFEITOS DA XILAZINA E DA CETAMINA EM EQUINOS E BOVINOS Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional - SES-SP, elaborada no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP - Jaboticabal. Medicina Veterinária e Saúde Pública Jaboticabal - SP 2015 "Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante.” Charles Chaplin DEDICATÓRIA A Deus, nosso mestre superior, e aos meus pais, de quem muito aprendi em todos os sentidos, e sempre me deram todo apoio do mundo! Pois são as pessoas mais importantes da minha vida! AGRADECIMENTOS Agradeço, A Deus primeiramente por me conceder uma vida maravilhosa, repleta de amor, saúde, paz e conquistas. Aos meus pais, Laura e Sebastião, por absolutamente tudo. Aos erros e acertos, tudo me ajudou a ser quem eu sou hoje. Às minhas irmãs, Lídia e Eliza, pessoas que sempre posso contar com a ajuda e que compartilham dos momentos significativos de minha vida. Agradeço de forma especial a meu orientador, Prof. Dr José Antonio Marques, pela amizade, por todo o conhecimento passado, pela paciência em ensinar, por ter me transformado no médico veterinário que sou hoje, sem medir qualquer tipo de esforço. A minha irmã de residência Gabriela (Fi inha), por todas as dificuldades que passamos e conseguimos superar nestes dois anos, por todas as noites mal dormidas, por cada sapo que tivemos de engolir, por todo aprendizado que tivemos juntos, você se tornou mais que uma amiga. A minha R2 Cinthia, pela amizade, o carinho e como me portar diante das situações do dia a dia. Ao meu R1 Yuri, pelo companheirismo, pela amizade, por me acompanhar em todas as ciladas que a vida nos colocou. As minhas eternas estagiárias Vane e Gabi, por sempre me colocarem pra cima e pra frente, por me fazerem acreditar que tudo é possível mesmo quando tudo parece perdido. Vocês são dois anjos que apareceram em minha vida. Ao amigos-irmãos da República Chapa Fria, Gordéli, Rufião, Marruco, Cobaia e Cuba, por dividirem os momentos felizes e, também, os mais difíceis, por me mostrarem a seriedade da vida. Grande parte do homem que sou hoje devo a vocês. A todos os professores do Departamento de Clínica e Cirurgia da FCAVUNESP, em especial, Prof.º José Marques, Prof.º Delphim, Prof.º Canola, Prof.º Luis Marques, Prof.º Valadão, Prof.ª Deborah, Prof.º André, Prof.º Paulo Canola, por me preparar para todos os desafios que a profissão impõe. Aos funcionários do setor de grandes animais, Tarcisio, Beto, Bertanha, Laurinho Careca, Laerte, Fábio, Baiano, Pé de Pano, Manduca, Miguel, Edson (600), por todos os ensinamentos e pela a vontade de ajudar sempre. Aos pós-graduandos Darcio, Tiago e Cássia, pela amizade e por todos os ensinamentos relacionados a anestesia veterinária. Graças a vocês eu aprendi que a anestesia é uma dádiva de Deus. A todos os coleguinhas residentes da gestão 2012-2014, com vocês passei momentos que serão inesquecíveis. Foi um prazer viver esses dois anos de residência ao lado de vocês. A todos os funcionários dos diversos setores do Hospital Veterinário da FCAVUNESP, por todo o serviço prestado. Sem vocês seria impossível o funcionamento do hospital. Aos vizinhos e amigos da República Invernada, por todos os momentos de diversão e descontração que tivemos. vi SUMÁRIO Página RESUMO......................................................................................................... Vii SUMMARY...................................................................................................... Viii I INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1 II OBJETIVO................................................................................................... 2 III REVISÃO DE LITERATURA...................................................................... 3 III.I Xilazina..................................................................................................... 3 III.II Cetamina................................................................................................. 7 IV DISCUSSÃO............................................................................................... 11 V CONCLUSÃO.............................................................................................. 13 VI REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 13 vii EFEITOS DA XILAZINA E DA CETAMINA EM EQUINOS E BOVINOS RESUMO A necessidade do veterinário a campo de utilizar das várias técnicas anestésicas para trabalhar com animais de grande porte faz com que a anestesia intravenosa apresente maior praticidade, pois possibilita o emprego de associação de fármacos visando obter efeitos sinérgicos e assim, promover anestesia de qualidade e com segurança. O objetivo deste estudo é revisar os fármacos Xilazina e Cetamina, bem como seu mecanismo de ação, farmacologia e sua aplicabilidade em grandes animais Palavras-Chave: Bovinos, Dissociativos, Equinos, Fármacos, Miorrelaxantes viii FECCTS OF XYLAZINE AND KETAMINE IN EQUINES AND BOVINES SUMMARY One of the requirements to the Veterinarians who act in fieldwork is the different anestesic techniques, therefore the intravenous anestesic procedures present great practicity ,specially because the possibility to associate a plenty of drugs with sinergic effects and promoting an safer and more quality anestesic. This study aims to review Xylazin and Cetamin use, besides their mechanism of action, farmacology data and feasibility on the large animals practices Keywords: Cattle, Dissociative, Drugs, Equine, Muscle Relaxants 1 I.INTRODUÇÃO Tendo em vista a necessidade do veterinário a campo de utilizar das várias técnicas anestésicas para trabalhar com animais de grande porte, a anestesia intravenosa vem apresentando maior praticidade, pois possibilita o emprego de associação de fármacos visando obter efeitos sinérgicos e assim, promover anestesia de qualidade e com segurança (SANTOS et. al., 2010). Os agonistas alfa-2, sendo a xilazina a mais utilizada, promovem sedação, analgesia e relaxamento muscular, podendo ser revertido com o uso de um antagonista. Os fármacos desta classe farmacológica são agonistas de receptores alfa-2, que estão localizados em todos os tecidos do organismo, e quando estimulados, impedem a liberação de noradrenalina na membrana neuronal (SPINOSA, GÓRNIAK, BERNARDI, 2006). A xilazina é comumente utilizada, em bovinos, para produzir sedação e em doses mais elevadas promove contenção com decúbito. Este fármaco apresenta variações entre as espécies, sendo que os bovinos são mais sensíveis do que os equinos. Existe também variação entre a mesma espécie,onde observa-se que os bovinos zebuínos são mais sensíveis do que bovinos taurinos (RIEBOLD, 2007). Em equinos a xilazina é um fármaco de notória importância, pois é utilizada com o objetivo de produzir sedação sem a ocorrência de decúbito, permitindo a realização de procedimentos mais simples com o animal na posição quadrupedal. Além disto ela é um fármaco de escolha como medicação pré-anestésica por ser eficaz e segura (HUBBELL, 2007). A cetamina é um fármaco pertencente a classe dos anestésicos dissociativos, é um agente estimulante do sistema límbico, causando disforia, alucinações e contrações musculares em equinos e bovinos. Este fármaco é muito utilizado como indutor anestésico em animais de grande porte, pois mantém a pressão arterial e não promove alterações RIEBOLD, 2007). cardiorespiratória significativas (HUBBELL, 2007; 2 II. OBJETIVO O objetivo deste estudo é revisar os fármacos Xilazina e Cetamina, bem como seu mecanismo de ação, farmacologia e sua aplicabilidade em grandes animais. 3 III. REVISÃO DE LITERATURA III. I Xilazina A xilazina, é um agente sedativo, da classe dos agonistas alfa-2, que pode ser utilizado tanto pela via intravenosa quanto intramuscular (MASSONE, 2008). O fármaco foi sintetizado na Alemanha, na década de 60, para o tratamento de hipertensão em seres humanos e, devido ao seu potente efeito sedativo, caiu em desuso, sendo utilizado na medicina veterinária no início dos anos 70 pois é um potente sedativo para o uso em animais (THURMON; TRANQUILLI; BENSON, 2007). Quimicamente é conhecida como cloridrato de 2 (2,6-dimetilfenilamino)-4H5,6-diidro- 1,3-tiazina e é semelhante à clonidina, um anti hipertensivo utilizado em humanos. Farmacologicamente a xilazina é classificada como um fármaco analgésico e sedativo (GROSS, 2003). No início da década de 70 ela começou a aparecer na literatura Americana e Europeia onde relatava-se a eliminação da hipertonicidade muscular produzida pela cetamina; promovia rápida sedação, analgesia e relaxamento muscular em equinos e bovinos (LEMKE, 2007). A xilazina provoca queda na freqüência cardíaca e na pressão arterial (CAMPBELL, 1979) e quando aplicada por via intravenosa diminui o fluxo de sangue uterino, devendo ser utilizada com cautela em animais prenhes (HODGSON, 2002). Este alfa-2 agonista causa importante depressão respiratória em doses elevadas, reduzindo a frequência respiratória e o volume corrente, podendo causar redução da PaO2, consequente hipoxemia e hipercapnia (RAPTOPOULOS e WEAVER, 1984). Durante a década de 80 as propriedades analgésicas e sedativas da xilazina foram atribuídas a estimulação de receptores alfa 2 (LEMKE, 2007). Sua aplicação causa sedação por estimulação de receptores alfa adrenérgicos, presentes tanto no sistema nervoso central como no periférico, ocasionando diminuição na liberação de noradrenalina que resulta na diminuição da atividade simpática do sistema nervoso central (CORTOPASSI & FANTONI, 2009). 4 Como pode ser observado na Figura 1, os efeitos provocados pelo os agonistas alfa 2 depende de qual receptor ele vai se ligar, sendo que esses receptores pode ser pré ou pós sinápticos. Ao se ligarem em receptores póssinápticos o fármaco desencadeia sinais como sedação, analgesia, vasocontsrição, inibição da liberação de insulina e alterações no comportamento, enquanto ao se ligarem em receptores pré-sinápticos provocam diminuição na liberação de noradrenalina, reduzindo a atividade simpática no sistema nervoso central e promovendo vasodilatação, diminuição na motilidade gastrointestinal entre outros efeitos (VALVERDE, 2010) Figura 1. Mecanismo de ligação dos fármacos agonistas alfa-2 aos receptores adrenérgicos pré e pós-sinápticos e os efeitos que são desencadeados após a ligação. Após a administração, a xilazina é absorvida pelos tecidos rapidamente, com um tempo de meia vida de absorção de 2,8-5,5 minutos e logo se distribui, com meia vida entre 1,2 e 6 minutos (GROSS, 2003). O tempo de meia vida de eliminação é de aproximadamente 36 minutos e o fármaco e seus metabólitos não são mais 5 identificados nos tecidos em três dias (LEMKE, 2007). A xilazina é metabolizada no fígado e o produto de sua metabolização é o 1, amino-2-6-dimetilbenzeno (ADB), o qual é encontrado na urina quatro horas após a administração, sugerindo a eliminação renal (GROSS, 2003). Os efeitos observados no sistema nervoso central, após a administração, são sedação, hipnose, relaxamento muscular, ataxia, analgesia e depressão do centro vasomotor. Já os observados sobre o sistema nervoso periférico são bradicardia, bloqueio átrioventricular de segundo grau, inicialmente aumento transitório da pressão arterial, aumento da pressão venosa central, redução da freqüência respiratória e do volume corrente e relaxamento da musculatura do trato respiratório superior (SPINOSA & GÓRNIAK, 2011). A administração intravenosa de xilazina induz um curto período de hipertensão com bradicardia reflexa, seguido por um período de queda no débito cardíaco e na pressão arterial. A fase de hipertensão inicial é causada por ativação dos receptores alfa 2 pós sinápticos periféricos que promovem contração da musculatura lisa vascular produzindo vasocontrição (THURMON; TRANQUILLI; BENSON, 2007). O período de hipotensão e diminuição do débito cardíaco pode estar relacionado com a ativação de receptores alfa 2 centrais e com a diminuição da atividade central do sistema nervoso simpático (GROSS, 2003). Em contraste com os efeitos cardiovasculares observados após a aplicação de xilazina por via intravenosa, a aplicação por via intramuscular parece ter menos impacto sobre esses efeitos. Em bezerros que recebem o fármaco pela via intramuscular, ocorrem efeitos hemodinâmicos caracterizados por queda na freqüência cardíaca, no débito cardíaco e na pressão arterial, sem aumento inicial da pressão, isso sugere que em bezerros, após uma injeção intramuscular, não ocorre vasoconstrição transitória e também não ocorre aumento na pressão arterial (LEMKE, 2007). Um outro efeito sobre o sistema cardiovascular é um bloqueio no nodo atrioventricular do tipo segundo grau após a aplicação de xilazina por via intravenosa e desaparece espontaneamente (GROSS, 2003). Esta alteração está relacionada ao aumento no tônus vagal induzido pela xilazina (LEMKE, 2007). 6 Embora a xilazina promova queda na frequência respiratória, as doses recomendadas, não provocam alterações no pH arterial, na PaO2 e PaCO2 em e cavalos (LEMKE, 2007). A xilazina também reduz o volume corrente promovendo relaxamento da musculatura do trato respiratório superior sem alterar de forma significante os gases sanguíneos (RAPTOPOULOS & WEAVER, 1984). Alterações gastrointestinais são relatadas após aplicação de xilazina em diversas espécies, pois esse fármaco reduz a motilidade intestinal e aumenta o tempo do trânsito intestinal. Nos ruminantes os movimentos de contração do rúmem e retículo são inibidos por ação deste fármaco. São reportados, também, a presença de salivação excessiva quando a xilazina não é administrada juntamente com um anticolinérgico, bem como foi informado a ocorrência de relaxamento no esfíncter gastroesofágico com conseqüente refluxo de ingesta (LEMKE, 2007). O débito urinário aumenta em bovinos, eqüinos e pôneis e submetidos a aplicação de xilazina, enquanto a densidade urinária e a osmolaridade diminui em pôneis e cavalos. O reflexo de micção se mantém, ocorrendo apenas redução na atividade do esfíncter uretral (LEMKE, 2007). Hipoinsulinemia e hiperglicemia transitória são observadas em animais que foram sedados com xilazina, isso ocorre devido a inibição da liberação de insulina pelas células betas do pâncreas, mediada pela ativação dos receptores alfa 2, sendo que a magnitude e duração destes eventos são dose-dependentes. A xilazina também provoca alterações hormonais transitórias no hormônio de crescimento, testosterona, prolactina, hormônio antidiurético e nos níveis do hormônio folículo estimulante (LEMKE, 2007). O tônus do miométrio e a pressão intrauterina aumentam após a injeção de xilazina em bovinos, enquanto que nas ovelhas prenhes ocorre aumento na contração uterina e diminuição na atividade diafragmática do feto uma hora após a aplicação do fármaco. A aplicação de fármacos agonistas alfa 2 produzem aumento na pressão intrauterina de éguas. Embora a ocorrência de problemas reprodutivos não esteja bem relacionada com a aplicação de xilazina durante as diferentes fases da gestação, deve-se levar em consideração que esse fármaco ocasiona redução do débito cardíaco fetal e do fornecimento de oxigênio ao feto (LEMKE, 2007). 7 Deve ser cuidadosamente considerado a utilização de xilazina quando existirem complicações como aberrações cardíacas, hipotensão arterial ou choque, depressão respiratória, problemas renais e/ou hepáticos bem como deve-se ter cautela ao manipular animais sob efeito do fármaco uma vez que os mesmos podem reagir de forma violenta contra o profissional (GROSS, 2003). As doses recomendadas de xilazina para ruminantes e pequenos ruminantes são de 0,05-0,1 mg/kg por via intravenosa, 0,1-02 mg/kg por via intramuscular e para os equinos as dose variam entre 0,5-1,0 mg/kg por via intravenosa e 1,0-2,0 mg/kg por via intramuscular (LEMKE, 2007). Em grandes animais a xilazina é utilizada para promover sedação e analgesia para a realização de procedimentos diagnósticos e procedimentos cirúrgicos menos invasivos, esse fármaco também pode ser utilizado como medicação pré-anestésica antes da indução da anestesia pela cetamina associada a um benzodiazepínico ou pelo tiopental. Uma outra utilização da xilazina para grandes animais é na preparação da anestesia total intravenosa, onde esta é associada ao éter gliceril guaiacólico e a cetamina (LEMKE, 2007). RIBEIRO et al. (2012) relataram que após a administração de 0,1 mg/kg por via intravenosa de xilazina em bovinos, os animais apresentaram intensa ataxia, com sinais evidentes de sedação e apresentaram decúbito, permanecendo por até 40 minutos. Os autores também informaram que os animais tiveram queda na freqüência cardíaca e respiratória, redução da pressão arterial média e diminuição dos movimentos ruminais. III.II Cetamina A cetamina é um anestésico dissociativo, descoberto na década de sessenta com o objetivo de substituir a fenciclidina e seus efeitos adversos. Os fármacos desta classe produzem dissociação entre o sistema límbico e tálamo, impedindo que as informações sensitivas cheguem até o córtex, suprimindo as sensações nociceptivas (VALADÃO, 2009). 8 O termo anestésico dissociativo é usado para descrever um estado de anestesia induzido por um fármaco que interrompe as transmissões ascendentes de regiões do cérebro responsáveis pela consciência e inconsciência, em vez de causar depressão generalizada como ocorre com outros anestésicos injetáveis (LIN, 2007). A anestesia dissociativa é caracterizado por um estado de catalepsia onde os olhos permanecem abertos com presença de nistagmo leve, variados graus de hipertonicidade muscular e com movimentos involuntários que não estão relacionados com o estímulo cirúrgico (LIN, 2007). Quimicamente chamada de cloridrato de 2-(o-clorofenil)-2-(metilamino)clicloexanona, a cetamina é um anestésico muito versátil, podendo ser administrada tanto por via intravenosa quanto por via intramuscular, sendo mais comumente utilizada associada a outros agentes anestésicos, como por exemplo os relaxantes musculares, sendo possível até realização de procedimentos intra abdominais (BRANSON, 2003). Os anestésicos dissociativos agem bloqueando os receptores muscarínicos dos neurônios centrais, interferem na neurotransmissão GABAérgica e bloqueiam o transporte neuronal de serotonina, dopamina e norepinefrina, ocasionando diminuição na resposta do sistema nervoso central a impulsos sensoriais, sem bloquear o tronco cerebral e as vias medulares (FANTONI; CORTOPASSI; BERNARDI, 2011). Pesquisas demostramn também, que o antagonismo de receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) tem sido responsável pelos efeitos anestésicos, analgésicos e neuroprotetor (LIN, 2007). A cetamina é utilizada de forma mais cautelosa, geralmente associada a xilazina, pois isoladamente induz analgesia, mas não o relaxamento muscular adequado, sendo a recuperação conturbada e prolongada (SANTOS et. al., 2010). Esta associação pode ser administrada por via intravenosa ou intramuscular e, geralmente, produz decúbito de 30 a 40 minutos e, caso seja necessário, metade da dose pode ser reaplicada. A função cardiorrespiratória se mantém inalterada em animais hígidos e a qualidade da recuperação é boa (ABRAHAMSEN, 2008). Apesar de ainda não haver comprovações que os anestésicos dissociativos estão relacionados com episódios convulsivos, e que alguns estudos comprovam que cetamina em doses baixas pode ser utilizada como anticonvulsivantes devido ao 9 antagonismo de receptores NMDA, alguns casos de epilépticos foram relatados após a utilização desse fármaco, portanto é desaconselhável o uso do mesmo em animais com histórico de epilepsia (BRANSON, 2003; LIN, 2007). A analgesia produzida pela cetamina ocorre após a aplicação de baixas doses, pois ela eleva o limiar de dor. O grau de analgesia parece ser maior na dor somática do que para dor visceral. Os anestésicos dissociativos são muito eficazes para o controle da dor pós-operatória relacionada a cirurgias músculoesqueléticas e tegumentar, ainda mais que os receptores NMDA estão envolvidos com respostas neurogênicas de injúria tecidual e inflamação, sugerindo, portanto, que a cetamina seja efetiva na redução da dor ocasionada após esse tipo de trauma (LIN, 2007). Os anestésicos dissociativos induzem aumento no fluxo sanguíneo cerebral, na pressão intracraniana, e na pressão do fluido cerebroespinhal, portanto não é aconselhável o uso de cetamina em pacientes com trauma cranioencefálico (LIN, 2007). A cetamina pode agir diretamente estimulando centros adrenérgicos centrais ou indiretamente por inibição de da captação neuronal de catecolaminas, principalmente a noradrenalina, promovendo aumento no débito cardíaco, na pressão aórtica média, na pressão arterial pulmonar, na pressão venosa central e na freqüência cardíaca e por essas propriedades estimulantes cardíacas, além de sua ação anti arrítmica, a cetamina torna-se um importante fármaco na indução de baixo risco e hipovolêmicos (BRANSON, 2003). Almeida et. al. (2008) verificou que a freqüência cardíaca aumentou após a aplicação de cetamina em bovinos pré medicados com amitraz. O autor também relatou aumento na freqüência respiratória após a injeção desse fármaco nos animais que receberam tanto amitraz quanto xilazina na pré medicação. Muitos anestésicos são depressores da resposta ventilatória ocasionando hipóxia, a cetamina tem um efeito interessante, pois não promove esse tipo de depressão, ela também reduz a resistência das vias aéreas. Quando utilizado como anestésico único o fármaco não promove perda do reflexo faríngeo e laríngeo, podendo ocasionar laringeoespasmo, broncoespasmo e tosse, secundário a manipulação ou a secreções na região orofaringeana (BRANSON, 2003). 10 A distribuição da cetamina nos tecidos corpóreos ocorre de forma rápida ocorrendo primariamente em tecido adiposo, cérebro, fígado e pulmão. Após ligar-se a proteínas plasmáticas o fármaco é biotransformado no fígado por N desmetilação e hidroxilação do anel cicloexano com formação de glicuronídios hidrosolúveis que são eliminados na urina. O tempo de meia vida de eliminação da cetamina no equino é de 42 minutos enquanto no bezerro é de 60 minutos (BRANSON, 2003). A cetamina é contraindicada em casos que o paciente apresente comprometimento hepático e/ou renal, bem como problemas cardíacos, não deve ser utilizada também em animais que possuam lesões na cabeça, pois ela aumenta a pressão intracraniana podendo agravar o quadro. Apesar de não ser comprovada sua relação em desencadear convulsões a cetamina deve ser evitada em pacientes com distúrbios convulsivos (BRANSON, 2003). Nos equinos a cetamina é utilizada principalmente para indução anestésica no procedimento de derrubada dos animais, sendo que ela pode ser administrada juntamente com o éter gliceril guaiacólico ou associada a um benzodiazepínico, o qual promove indução e recuperação anestésica suave (BRANSON, 2003). É aconselhável que os animais sejam pré medicados com xilazina ou um tranqüilizante (LIN, 1996). O autor também informa que a cetamina pode ser associada e ao éter gliceril guaiacólico e a xilazina para ser administrada por infusão contínua em equinos para realização de procedimentos a campo. Em bovinos a cetamina pode ser utilizada na forma de bolus na dose de 2,2 – 3,0 mg/kg, seguida por uma infusão contínua a 0,2% em solução salina na dose de 10 ml/minuto para a realização de procedimentos cirúrgicos tais como amputação de dígito ou laparotomia. A associação de cetamina (2 mg/ml), éter gliceril guaiacólico(50 mg/ml) e xilazina (0,1 mg/ml), assim como nos eqüinos, se mostrou uma técnica efetiva para promover anestesia nos bovinos podendo ser realizado procedimentos cirúrgicos tais como redução de fraturas femorais com placas e pinos, hérniorrafias e cesarianas (LIN, 1996). 11 IV. DISCUSSÃO PICAVET et al. (2004), após a aplicação de 0,2 mg/kg de xilazina por via intramuscular em bezerros observaram, após dez minutos, que os animais apresentaram diminuição significativa da frequência cardíaca, do débito cardíaco, da pressão arterial média e, também, do volume sistólico. Os autores atribuíram que tais alterações hemodinâmicas podem estar relacionadas a depressão do miocárdio pela xilazina. Em um outro estudo DOHERT et al. (1987), também utilizando a dose de 0,2 mg/kg de xilazina em bezerro mas por via intravenosa, relataram que os animais tiveram diminuição na freqüência cardíaca que pode ser resultado da diminuição do tônus simpático e aumento do tônus vagal. Porém no presente estudo os autores relataram que os animais apresentaram hipertensão transitória inicial, atribuída ao aumento da resistência vascular sistêmica, isso pode ser relacionado a ativação de adrenoreceptores alfa 1 e alfa 2 pós-sináptico ocasionado pela xilazina. Segundo LEMKE (2007), essas diferenças entre as pressões arteriais observadas nestes dois estudos, podem ser atribuídas a via de administração do fármaco, uma vez que, o autor diz que parece não ocorrer vasoconstricção transitória quando a xilazina é administrada por via intramuscular em bezerros. KERR et al. (1996), relataram que equinos pré-medicados com 1,1 mg/kg intravenosa de xilazina ou 100 ug/kg de romifidina por via intravenosa apresentaram bloqueio atrioventricular de segundo grau, que cessou após a indução anestésica com cetamina asscociada com diazepam. MORTON et al. (2011) afirmaram que equinos que receberam uma dose baixa de xilazina (0,25 mg/kg) intravenosa também apresentaram bloqueio atrioventricular de segundo grau. Adicionalmente WAGNER et al. (1991), relataram que equinos que receberam xilazina ou detomidina tem maior chances de apresentarem bloqueio independentemente da via de administração do fármaco. Esse bloqueio está relacionado com a capacidade da xilazina de aumentar o tônus vagal (LEMKE, 2007). A xilazina em doses entre 0,5-1,0 mg/kg reduz o tempo de esvaziamento gástrico, diminui a motilidade no duodeno, bem como no jejuno e na flexura pélvica 12 de equinos (SUTTON et al., 2002; MERRITT et al., 1998; ADAMS et al., 1984). FÜLÖP et al. (2005) e GYIRES et al. (2009), relataram que os fármacos pertencentes a classe dos alfa 2 agonistas reduzem a motilidade gastrointestinal devido a ativação de receptores pré sinápticos do subtipo alfa 2a. WATSON et al. (2002), observaram que éguas pré medicadas com xilazina tiveram aumento da glicemia sérica e do fluxo urinário durante a anestesia inalatória. Adicionalmente HERNANDEZ et al. (2002), também, observaram aumento no fluxo urinário de éguas sedadas com xilazina e detomidina, um outro fármaco também pertencente a classe dos alfa 2 agonistas. Os resultados destes estudos podem ser explicados pelo fato da xilazina inibir o hormônio antidiurético, e também, por inibir a liberação de insulina, ocasionando o aparecimento de diurese e hiperglicemia (LEMKE, 2007). HODGSON et al.(2002), observaram que após a aplicação de 0,04 mg/kg de xilazina em vacas no trimestre final da gestação, ocorreu diminuição no fluxo sanguíneo da artéria uterina, aumento na resistência vascular uterina e diminuição de 60% no fornecimento de oxigênio ao feto. RODRIGUEZ-MARTINEZ et al. (1986), relataram que a pressão intra uterina aumentou após a administração de 0,02 mg/kg de xilazina em vacas não prenhes. ENDERLE et al. (2008) relataram que cavalos submetidos a anestesia inalatória pelo isoflurano, associado a infusão contínua de cetamina e lidocaína, mantiveram a frequência cardíaca e pressão arterial mais estável do que os animais que receberam apenas isoflurano. Isso pode ser explicado pelo fato de a cetamina inibir a captação de catecolaminas promovendo aumento no débito cardíaco e na pressão arterial (BRANSON, 2003). PUROHIT et al. (1981), observaram que no eletrocardiograma de equinos, os animais apresentaram bloqueio atrioventricular de segundo grau após a administração de xilazina, porém, os autores relataram que esse bloqueio cessou após a administração de cetamina. Esse fato pode ser atribuído as propriedades antiarrítmicas que este fármaco possui (LIN, 2007). GUEDES et al. (2012), observaram que cavalos com laminite crônica tratados com doses subanestésicas de cetamina (0,6 mg/kg) associada ao tramadol (5,0 mg/kg) promoveu analgesia por um período maior quando comparado com os 13 animais que receberam apenas o tramadol. A cetamina tem a capacidade, mesmo que em doses baixas, de elevar o limiar de dor e por sua característica antagonista de receptores NMDA, que estão diretamente envolvidos nas respostas neurogênicas (LIN, 2007). V. CONCLUSÃO Com base neste estudo pode-se concluir a importância na escolha do fármaco a ser utilizado e características do mesmo, como mecanismo de ação, tempo de ação e possíveis associações. Isso possibilita ao profissional controle maior da anestesia e sedação, além da prevenção de contratempos previstos na utilização de cada um desses fármacos de forma individual ou associada. VI. REFERÊNCIAS ABRAHAMSEN, E. J. Ruminant field anesthesia. Veterinary Clinics of America: Food Animal Pratice, v. 24. p. 429-441, 2008. ADAMS, S. B.; LAMAR, C. H.; MASTY, J. Motility of the distal portion of the jejunum and pelvic flexure in ponies: effects of six drugs. American Journal of Veterinary Research, v. 45, p. 795-799, 1984. ALMEIDA, R. M.; VALADÃO, C. A. A.; REIS, R. G. Influência da pré-medicação anestésica de bovinos com cetamina. Ciência Animal Brasileira, v. 9, n. 2, p. 402409, 2008. BRANSON, K. R. Anestésicos injetáveis. In: ADAMS, H. R.. Farmacologia e Terapêutica em Veterinária. 8 ed. 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