UNIVERSIDADE TIRADENTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E AMBIENTE Efetividade de medicamentos homeopáticos em ensaios biológicos de gastroproteção e cicatrização ANA PAULA BELIZÁRIO DE SOUSA ARACAJU Janeiro – 2009 i UNIVERSIDADE TIRADENTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E AMBIENTE EFETIVIDADE DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE GASTROPROTEÇÃO E CICATRIZAÇÃO Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora para a obtenção do título de Mestre em Saúde e Ambiente, na área de concentração Saúde e Ambiente. ANA PAULA BELIZÁRIO DE SOUSA Orientadores: Juliana Cordeiro Cardoso, D.Sc. Francine Ferreira Padilha, D.Sc. ARACAJU Janeiro– 2009 ii EFETIVIDADE DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE GASTROPROTEÇÃO E CICATRIZAÇÃO ANA PAULA BELIZÁRIO DE SOUSA DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E AMBIENTE DA UNIVERSIDADE TIRADENTES COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM SAÚDE E AMBIENTE Aprovada por: ________________________________________________ Juliana Cordeiro Cardoso, D.Sc. Orientadora ________________________________________________ Francine Ferreira Padilha, D.Sc. Orientadora ________________________________________________ José Carlos Tavares de Carvalho, D.Sc. 1º Examinador ________________________________________________ Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Júnior, D.Sc. 2º Examinador ________________________________________________ Leonardo Rigoldi Bonjardim, D.Sc. Suplente ________________________________________________ Vânia Fonseca, D.Sc. Suplente ARACAJU Janeiro - 2009 iii Dedico este trabalho: Às minhas filhas por permitirem experimentar plenitude do amor. iv me a AGRADECIMENTOS A minha família berço de amor, exemplo, sabedoria, ética e respeito à vida e que me possibilitou conhecer a força de Deus e fazer parte dela em uma vida rica de oportunidades. A Universidade Tiradentes e ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa pela chance de me expressar como profissional farmacêutica e educadora e por ter me concedido o ambiente necessário para exercitar o desafio do conhecimento e me sentir transformada por ele. Neste universo, dedico gratidão especial aos meus orientadores Profa Dra Juliana Cordeiro Cardoso, por ter me permitido ser quem eu sou em todos os sentidos e me ajudar na construção da minha história de vida. Ao Prof Dr Ricardo Luiz Cavalcanti de Albuquerque Júnior por dedicar às pessoas que o cercam a compreensão da complexidade do ser humano. Você conquistou toda admiração da minha alma e a Profa Dra Francine Ferreira Padilha por acreditar neste meu sonho e disponibilizar a ele um olhar arrebatador. A perfeição do contexto vem da energia de todos que nos cercam e nos ajudam a amar e construir, pessoas especiais como Adriana Lima e a sua família que aceitou a minha amizade de maneira franca e aberta e por me ajudarem sempre, despretensiosamente. Todo o meu carinho e respeito. Aos funcionários da Viver Manipulações que exercem na verdade a função de amigos e enfrentam os desafios com muita coragem e me estimulam a seguir os meus sonhos. A Rosinely Pereira Filho pelo trabalho competente e que ajudou de maneira significante a atingir os objetivos desta pesquisa. A João Paulo Gusmão Passos pelo carinho especial e parceria nesta etapa da vida. Aos companheiros desta investida científica Vitor Oliveira, Ana Roseli Ribeiro, Amanda Fontes e Suzicleide Carvalho pela confiança e ajuda inestimável nos desafios da pesquisa. A convivência singular na pluralidade do mestrado, ambiente de riqueza e de sonhos compartilhado entre professores e alunos, seres especiais, nem bons e nem ruins, mas verdadeiramente humanos. A professora Valmira Santos, minha profunda admiração pela maneira como se entrega ao conhecimento e pela coragem de ser quem é. A Ana Cláudia, Luciana e Analice pela aproximação que se transformou em uma rica amizade, sincera e acolhedora. Mulheres fortes e de luta, mas com a delicadeza da alma feminina. A Malone por termos divididos bons momentos de convivência e amizade. Novamente a minha família personalizada nestas pessoas, Juracy, Sônia, Anderson, Milena, Robert, Samuel, José Benício, Elizabete Colen (in memorian) Maria Izabel, Benício Belizário, Antônio Cristino, Eurídice Cristino, Claúdia Suzana, Cláudio Tadeu, Eduardo Cristino (in memorian), Maria Efigênia, Maria do Carmo, Maria de Lurdes, Maria Hélia e a força espiritual de meus avós paternos Irene e Adoptivo Mendes. v SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO GERAL 12 2 CAPÍTULO 1 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 1.1 Origem e desenvolvimento dos princípios homeopáticos 15 1.2 Modelos propostos para avaliação dos medicamentos homeopáticos 23 1.2.1 Úlcera gastrointestinal 23 1.2.1.1 Fisiologia do trato gastrointestinal 23 1.2.1.2 Úlceras gástricas: desenvolvimento fisiopatológico e terapêutica 24 1.2.1.3 Terapia Medicamentosa 27 1.2.1.4 Produtos naturais com atividade gastroprotetora 35 1.2.2 Cicatrização 39 1.3 Referências 49 3. CAPÍTULO 2 - Avaliação da atividade gastroprotetora do medicamento 63 homeopático Nux vomica (Strychnos nux vomica L.) 30cH 2.1. INTRODUÇÃO 66 2.2. MATERIAL E MÉTODOS 67 2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 70 Referências 75 4. CAPÍTULO 3 - Avaliação da efetividade da Delphinum staphysagria 6cH e 79 30cH em ensaios biológicos de cicatrização por segunda intenção 3.1 INTRODUÇÃO 82 3.2 MATERIAL E MÉTODOS 83 3.3 RESULTADOS 86 3.4 DISCUSSÃO 93 Referências 97 4. CONCLUSÃO GERAL 101 vi LISTA DE TABELAS Tabela 2.1. Esquema de dose empregado nos diferentes grupos 68 Tabela 2.2. Parâmetros para cálculo do ILU segundo Método A 69 Tabela 2.3. Parâmetros para cálculo do ILU segundo Método B. 69 Tabela 2.4. Valores médios relativos ao ILU e porcentagem de inibição 71 calculados pelos métodos A e B vii LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES OMS - Organização Mundial de Saúde cH – Centesimal Hahnemanniana ppm - parte por milhão SUS - Sistema Único de Saúde PNPIC - Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares PIC - Práticas Integrativas e Complementares CP-AMHB - Comissão científica da Associação Médica Brasileira HIV – Vírus da Humunideficiência Adquirido TGI - Trato Gastrointestinal ECL – células enterocromafins-like (ECL) Na+. – Sódio/ K+ - Potássio AMPc - Adenosina monofosfato-cíclico H, KATPase – Bomba de prótons pH.- potencial hidrogênico iônico EGF - Fator de crescimento epidermal AINES.- antiinflamatórias-não-esteroidais HP - Helicobacter pylori IARC/WHO - Agência Internacional de Pesquisa do Câncer e a Organização Mundial de Saúde IBP - inibidores da bomba de prótons FDA - Food and Drug Administration MUPS - multiple unit pellet system HCl - ácido clorídrico g/Kg - grama/Kilograma mm.- milimetro mL - mililitros FHB – Farmacopéia Homeopática Brasileira TM – Tintura mãe UNIT – Universidade Tiradentes CTR3 – grupo controle 3 dias CTR7 – grupo controle 7 dias CTR14 – grupo controle 14 dias CTR21 – grupo controle 21 dias TS6/3 – grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH 3 dias TS6/7 – grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH 7 dias TS6/14 - grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH 14 dias TS6/21 – grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH 21 dias TS30/3 – grupo tratado Delphinum staphysagria 30cH 3 dias TS30/7 – grupo tratado Delphinum staphysagria 30cH 7 dias TS30/14 - grupo tratado Delphinum staphysagria 30cH 14 dias TS30/21 – grupo tratado Delphinum staphysagria 30cH 21 dias HE - Hematoxilina/Eosina Eex - Superfície da ferida Qex - extensão total GCSal – grupo controle salina GTNux - tratado com Nux vomica 30cH GCOmp – grupo controle positivo omeprazol. GCcim – grupo controle positivo cimetidina. ILU - Índice de lesões ulcerativas viii LISTA DE FIGURAS Figura 1.1: Considerações atuais sobre a fisiopatologia da úlcera péptica 26 Figura 1.2 28 Figura 1.3 Fármacos antgonistas dos receptores H2. (A) Cimetidina (B) Ranitidina (C) Famotina e (D) Nizatidina. Aspectos botânicos da Strychnos nuxvomica Figura 1.4 Mediadores vasoativos de origem plasmática e celular 42 Figura 1.5 Mediadores quimiotáticos da resposta inflamatória 43 Figura 1.6 Fases envolvidas na produção de mediadores inflamatórios pela via do ácido araquidônico. 44 Figura 1.7 Aspectos botânicos da Delphinum staphysagria 48 Figura 2.1 Avaliação histomorfológica: (a) GCSal, (b) GTNux, (c) GCOmp e (d). GCcim (1); Avaliação histomorfológica: aumento 100x (2 e 3); aumento 400x Legenda: Exs:exsudato seroso. Hm: hemorragia; Hp: hiperemia; Ed: edema; NF: eosinofilia compatível com necrose fibrinóide. 73 Figura 3.1 Figura 3.1. Perfil de retração das feridas em função do tempo no 86 39 grupo controle (CTR), no grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH (TS6) e no grupo tratado com Delphinum staphysagria 30 cH (TS30). Figura 3.2. Figura 3.2. Avaliação macroscópica da retração das feridas nos 87 tempos 3 (CTR/3; TS6/3; TS30/3), 7 (CTR/7; TS6/7; TS30/7), 14 (CTR/14; TS6/14; TS30/14) e 21 (CTR/21; TS6/21; TS30/21) dias no grupo controle (CTR), staphysagria 6cH (TS6) e no grupo tratado Delphinum no grupo tratado com Delphinum staphysagria 30 cH (TS30). Figura 3.3 Figura 3.4 Avaliação histomorfológica dos grupos experimentais controle (CTR) e tratados TS6 e TS30 nos tempos 3, 7, 14 e 21 dias coradas por HE. Aumento 100x e em destaque aumento 400x. Legenda: TS6: grupo tratado com D. staphysagria 6cH. TS30: grupo tratado com D. staphysagria 30cH. CTR: grupo tratado com água destilada. Avaliação histomorfológica dos grupos experimentais controle (CTR), e tratados TS6 e TS30 nos tempos 3, 7, 14 e 21 dias coradas por picrossirius. Secções analisadas sobre a luz polarizada, evidenciando colágeno. Legenda: TS6: grupo tratado com D.staphysagria 6cH. TS30: grupo tratado com D.staphysagria 30cH. CTR: grupo tratado com água destilada. ix 89 92 EFETIVIDADE DE MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE GASTROPROTEÇÃO E CICATRIZAÇÃO Ana Paula Belizário de Sousa O uso de produtos naturais se torna cada dia mais freqüente, podendo ser considerado como um dos desdobramentos das ações do homem na busca de terapias menos agressivas e seguras em relação aos efeitos colaterais e adversos apresentados pelos medicamentos sintéticos. Neste contexto, a fitoterapia e a homeopatia se destacam como práticas de escolha entre profissionais e usuários. A Homeopatia propõe cuidados com a saúde, utilizando medicamentos diluídos que possuem, também, como fonte de princípio ativo, vegetais que são aplicados na clínica médica direcionados pelo princípio da semelhança. Desta maneira, em virtude da necessidade premente de pesquisas nestas áreas para o enfrentamento desta problemática este trabalho teve como objetivo avaliar a ação cicatrizante de medicamentos Delphinum staphysagria nas dinamizações 6cH e 30cH e a atividade gastroprotetora da Nux vomica 30cH. A D. staphysagria foi administrada por via oral em ratos Wistar antes e após a realização de feridas por procedimento cirúrgico no dorso dos animais, sendo observado o processo de reparo cicatricial após 3, 7, 14 e 21 dias por análise macroscópica e histomorfológica. Para o ensaio de gastroproteção, o medicamento N. vomica foi administrado via oral durante três dias antes da agressão gástrica produzida por etanol. Após agressão os animais foram sacrificados e o índice de lesão ulcerativa foi calculado, e o material foi submetido à análise histomorfológica. Os resultados macroscópicos do ensaio de cicatrização apontaram o D.staphysagria como medicamento potencial para acelerar o processo cicatricial, sendo que na diluição 6cH foi observado um melhor padrão de desenvolvimento cicatricial, expresso principalmente pelo grau de contração da área da ferida e dos achados histomorfológicos. O medicamento N. vomica apresentou cerca de 60% de resposta gastroprotetora em relação ao grupo controle, evidenciando desta forma seu potencial antiulcerogênico. Desta forma, pode-se concluir que os medicamentos homeopáticos avaliados apresentaram eficácia terapêutica nos modelos testados. Palavras-chave: Terapêutica Homeopática, Cicatrização, Gastroproteção. x Nux vomica, Delphinum staphysagria, Effectiveness of homeopathic medicine in teste of biological cytoprotection and healing Ana Paula Belizário de Sousa Abstract The use of natural products is nowaday becoming frequent and may be regarded as an unfolding of the actions of mankind in the search of less aggressive and safer therapy. The synthetic drugs in actuality have adverse effects and side effects. The phytotherapy and homeopathy are non-conventional medicine and practices of choice among professionals and users. The Homeopaty proposes to health care, using medicines that are diluted, too, as a source of active principle, plants that are applied in the clinic directed by the principle of similarity. Thus, given the need for research in these areas to confront the problems described above this work aimed to evaluate the healing action of plant Delphinum staphysagria (6cH and 30cH) and activity of Nux vomica antiulcerogenic 30cH. The D. staphysagria was administered orally to rats before and after surgery for wounds to the back of the animals, and observed the process of healing by second intention repair after 3, 7, 14 and 21 days a macroscopic analysis. For the test of gastric cytoprotection, Nux vomica the drug was administered orally for 3 days before the attack gastric produced by ethanol. One hour after administration of ethanol, the animals were sacrificed and the ulcerative index lesion was calculated. We performed the analysis of the material Histomorphological evaluating the integrity of the gastric mucosa, hyperemia and presence of areas of necrosis and bleeding. The results of testing of macroscopic healing D.staphysagria pointed to the potential as a medicine to speed up the healing process, and that the dilution was observed 6cH closer alignment of edges of the wound. The Nux vomica showed about 60% of cytoprotectant response in the control group, thus showing their potential antiulcerogenic. Uniterms: Homeopaty therapy, Nux vomica, Delphinum staphysagria, cytoprotection and healing by second intention xi INTRODUÇÃO GERAL Na busca de imprimir novas ações que tragam respostas condizentes com a necessidade do homem em resolver os problemas gerados pela forma como o mesmo se apropriou da natureza, os trabalhos com produtos naturais se tornam receptivos nas diferentes partes do mundo. Em resposta a esta tendência, diferentes linhas de pesquisas se ocupam em verificar a possibilidade da utilização segura da matéria prima vegetal como princípio ativo para produtos que possam apresentar uma performance mais adequada frente aos problemas terapêuticos existentes na atualidade (VEIGA JÚNIOR, et al., 2005). O convívio com efeitos adversos é considerado fator limitante para a aplicabilidade terapêutica de um grande número de fármacos. Na atualidade há o interesse crescente no uso de terapias complementares e produtos naturais, especialmente vegetais como recurso terapêutico (RATES, 2001). Dentro deste universo, apesar dos notáveis avanços realizados pela medicina convencional, o uso da fitoterapia e da homeopatia aparece com destaque no mundo globalizado. Um crescimento exponencial no interesse e no uso das medicinas alternativas e complementares, principalmente em países ocidentais desenvolvidos, pode ser observado por meio de indicação consensual de fitomedicamentos para a prevenção do aparecimento de certos estados patológicos (SPADACIO e BARROS, 2008; ROSSI et al., 2008). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece esta realidade e a importância do uso destas práticas, recomendando o desenvolvimento de políticas públicas que facilite a integração da medicina tradicional e complementar/alternativa nos sistemas nacionais de atenção à saúde. No Brasil, a Política de Práticas Integrativas e complementares (PNPIC) apresenta as diretrizes para a aplicação deste conhecimento no Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2006a; SPADACIO e BARROS, 2008). O movimento descrito acima acontece mesmo em fase de intenso avanço tecnológico e de fragmentação das premissas que envolvem a pesquisa na área de medicamento. No contexto do aumento do consumo das Práticas Integrativas e Complementares (PIC), existe ainda um volume pequeno de trabalhos científicos utilizando os medicamentos que atendem a esta terapêutica, entre estes, o homeopático. A avaliação da efetividade de medicamentos homeopáticos em ensaios biológicos considerando a gastroproteção e a cicatrização envolve condições desafiadoras tanto para a pesquisa homeopática quanto para a clínica médica de maneira geral. Estes estudos buscam trazer respostas que possam auxiliar na modificação das premissas existentes no meio médico científico com relação à impossibilidade de interação biológica como resposta terapêutica positiva de substâncias dinamizadas (ultradiluídas) (FRYE, 2003). 12 Alia-se a esta realidade a necessidade de busca de produtos com potencial gastroprotetor bem como de substâncias que estimulem o processo cicatricial, sendo estes eventos patológicos comuns na clínica médica. As terapêuticas aplicadas para os dois casos ainda apresentam limites, visto que o uso de medicamentos sintéticos com ação gastroprotetora possui efeitos adversos e os tratamentos convencionais para a cicatrização não contam com um medicamento efetivo que acelere o restabelecimento da integridade da área lesada (HIRUMA-LIMA et al., 2008; MANDELBAUM et al., 2003). A avaliação das ultradiluições visa consolidar um caminho em desenvolvimento, aliando-se às pesquisas experimentais já realizadas em centros de referência no mundo que estudam a atividade destes produtos (TEIXEIRA, 2004b). Segundo Viksveen (2003), a pesquisa laboratorial com medicamentos homeopáticos é muito escassa. A maioria dos estudos realizada é de natureza clínica, com metodologias variadas, resultados polêmicos e duvidosos com relação a sua real eficiência de cura. Desta forma, este trabalho pretende avaliar medicamentos homeopáticos através de ensaios de cicatrização e gastroproteção, envolvendo modelos experimentais validados para avaliação de produtos alopáticos e fitoterápicos. Os medicamentos selecionados neste trabalho, Delphinum staphysagria 6cH e 30cH foram escolhidos por apresentarem ação de cicatrização e estarem descritos na farmacopéia e na matéria médica homeopática, além de ser constatada a sua efetividade através da utilização clínica. A Nux vomica 30cH foi selecionada para a avaliação antiulcerogênica por apresentar registros de sua atividade citoprotetora e ações patogenéticas homeopáticas relacionadas com alterações gástricas. A experimentação e conseqüentemente a confirmação do potencial para cicatrização e gastroproteção dos medicamentos em estudo poderá colaborar para a ratificação da viabilidade do modelo homeopático, auxiliando na construção de um caminho possível para o enfrentamento das limitações dos medicamentos sintéticos do ponto de vista terapêutico/medicamentoso. Pesquisas experimentais que embasem a prática clínica destas terapias geram diretamente uma informação de cunho técnico/científico e indiretamente a possibilidade de confirmação do caminho histórico assumido pelo homem na busca da solução de seus problemas de saúde frente à utilização da natureza. Este trabalho foi organizado na forma de capítulos sendo o primeiro destinado a revisão bibliográfica dos temas, o segundo e o terceiro capítulos apresentam os artigos sobre o estudo de gastroproteção de Nux vomica na dinamização 30cH e sobre o estudo de cicatrização de feridas por segunda intenção de Delphinum staphysagria 6cH e 30cH respectivamente. 13 CAPÍTULO 1 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1. Origem e desenvolvimento dos princípios homeopáticos A medicina hegemônica foi construída utilizando conceitos formulados a partir da Revolução Científica, no século XVI, que culminaram dois séculos mais tarde na Revolução Industrial e na implantação do modelo econômico capitalista, proporcionando um elevado desenvolvimento tecnológico, econômico e social (GOTTSCHALL, 2003). O modelo econômico gerado após a Revolução Industrial associado ao desenvolvimento de processos no setor de química fina proporcionou o desenvolvimento de medicamentos sintéticos com ação voltada apenas para o órgão lesado, possibilitando que os produtos sintéticos adquirissem primazia no tratamento farmacológico, fato este, que se somou ao desenvolvimento do poderio econômico das companhias farmacêuticas (RATES, 2001). O modelo de tratamento focalizado remonta os conhecimentos científicos postulados por Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910), os quais instituem a teoria microbiana das doenças, na qual diferentes desequilibrios orgânicos são causados por agentes microbianos singulares, o que levou a formulação da teoria da etiologia específica, onde agentes causais sejam eles microrganismos, distúrbios metabólicos ou carência de vitaminas são os determinantes das doenças (FONTES, 2005). Outra teoria que veio contribuir para a concepção de localização específica do processo patológico foi a de Rudolf Virchow (1821-1902), sobre a patologia celular. A doença passou a estar diretamente ligada às alterações estruturais no nível celular, descoberta que possibilitou os estudos dos fenômenos inflamatórios e de doenças como o câncer (RUBIN e FARBER, 2000). Concomitante ao estudo dos fenômenos patológicos, o estudo da fisiologia se tornou fundamental, tendo como grande expoente Claude Bernard (1813-1878). Bernard introduziu a pesquisa objetiva e sistemática na medicina, utilizando-se de protocolos de experimentações e de métodos de quantificação dos conceitos fisiológicos. A fisiologia passou a ser empregada para compreender de que modo os órgãos podem se alterar e dentro de que limites podem se desviar do normal. O normal adquire um conteúdo experimental: o fenômeno patológico é uma variação quantitativa do fenômeno normal, numa exageração ou atenuação dos fenômenos vitais (CANGUILHEM, 1995). Paralelamente ao desenvolvimento do pensamento mecanicista, houve o surgimento de correntes epistemológicas que se contrapunham a este sistema que se colocou como hegemônico. Neste contexto, pode-se citar o pensamento animista e organísmico da escola médica de Montepelier (que reagia ao materialismo vigente), os românticos alemães e sua Naturphilosophie, o vitalismo que gera a homeopatia como reação ao mecanicismo médico 15 (MORAES, 2005). Também, os trabalhos de Paracelso (1493-1541) que foram desenvolvidos séculos antes já demonstravam a busca de posturas terapêuticas que visavam manter a integridade entre homem e natureza, considerando a importância desta última na saúde humana e como fonte dos elementos terapêuticos (OLIVEIRA, 1981). A exemplo dos medicamentos, Paracelso, assumiu uma postura mais crítica em relação às formulações com 40 a 50 componentes muito comum em sua época. Pode-se dizer que este médico foi o primeiro a tentar empregar um modelo rudimentar de similitude, designado como doutrina das assinaturas, onde buscava a semelhança entre os órgãos humanos e suas doenças com os elementos naturais através da forma (TEIXEIRA, 1998). Na atualidade, estas correntes se firmaram de tal modo que a sociedade contemporânea observa que é necessária uma mudança de posicionamento em relação à forma hegemônica de apropriação da natureza. Este comportamento tem a finalidade de garantir a continuidade das condições propícias à vida. Observa-se então um pensamento globalizado de busca de produtos diferenciados, os quais são identificados como menos agressivos (naturais) e promotores de saúde (TESSER e LUZ, 2002; CAMPONAGARA, 2007). Luz (2005) avalia que uma grande inquietação social está associada a esta condição, podendo identificar assim a preocupação do movimento ecológico surgido nos últimos vinte anos, e que não se limita a tematizar a questão do meio ambiente, mas também a questão da vida como um todo, incluindo-se neste contexto a condição da saúde humana. A recuperação de posturas em relação à vida, saúde, higiene, entre outras, está ligada a essa consciência ecológica característica do fim do milênio. Este posicionamento leva à procura de outro paradigma em saúde, ao menos nas grandes cidades, ou nas regiões mais urbanizadas do mundo atual. Neste contexto, a medicina tecnológica tende a ser representada como antinatural e antiecológica, e a busca da medicina “naturista” recebe a adesão de camadas importantes das populações urbanas. Em conformidade com o raciocínio até então exposto, a medicina homeopática constitui-se então em uma racionalidade médica específica, distinta e divergente em alguns pontos centrais da medicina ocidental científica (LUZ, 1996). Esta adota como concepção doutrinária básica um paradigma vitalista, em contraposição à medicina científica, que adotou a mais de um século uma postura que pode-se qualificar como biomecânica, isto é, em que o indivíduo humano é concebido como um sistema orgânico de partes interdependentes, cada qual com sua função no todo, sem um princípio vital que as oriente, seguindo o modelo de um mecanismo, de uma complexa e aperfeiçoada máquina, estando de acordo com as correntes filosóficas/científicas que se constituíram a partir da revolução científica (BARBOSA NETO, 2006; LISBOA, 2006). 16 Estas novas concepções eram construídas paralelamente a consagrada prática clínica que utilizava sangrias, eméticos e sanguessuga, denominada de medicina heróica. Os resultados pouco eficazes, proporcionados por estas formas de tratamento, geravam uma necessidade de busca de resoluções menos agressivas e mais efetivas. Neste contexto, o médico alemão Christian Frederick Samuel Hahnemann (1755-1843), avaliando tais procedimentos e tratando com ressalva o modelo biomecânico em construção buscou alternativas terapêuticas que melhor condição trouxesse para o tratamento dos enfermos (TEIXEIRA, 2006). Hahnemann pesquisou sobre a toxicidade dos componentes utilizados na época e verificou a ação terapêutica dos mesmos, dentro das perspectivas de investigação pertinentes a esta fase de desenvolvimento da ciência. Este pesquisador preconizava que a experimentação sistemática seria o ponto de partida para respostas sobre a ação terapêutica das substâncias testadas, e não apenas a teoria preconizada por diversos autores da época. Traduzindo a matéria médica de Cullen discordou da interpretação que o médico escocês dava a respeito da ação da quina (Cinchona officinalis) no tratamento das febres intermitentes. Ao experimentar a auto-administração deste medicamento, observou o desenvolvimento de sintomas semelhantes ao da malária que cessavam ao deixar de ingerir a substância (NASCIF, 1995; OLIVEIRA, 1981, FONTES, 2005). A partir destes resultados, o pesquisador instituiu um novo protocolo em que as drogas eram experimentadas em homens sãos, observando o desencadeamento dos sintomas próprios de cada substância, catalogando as informações (sinais e sintomas de ordem geral, psíquica, emocional ou física) e elaborando livros textos denominados de Matérias Médicas Homeopáticas. Desta maneira se constituiu a possibilidade de aplicação deste conhecimento em doenças que apresentassem os mesmos sintomas colhidos nas experimentações. Nesta prática, os sintomas do enfermo cediam quando submetidos à influência de medicamentos que agiam pelo princípio da semelhança (DANCIGER, 1992; CAMPBELL, 1991; LUZ, 1996; TEIXEIRA, 1998). Hahnemann, a partir do princípio da similitude, cinturão primário do conjunto de hipóteses que liga o modelo homeopático aos fenômenos experimentais observados, constituiu de maneira sistematizada a possibilidade de uso deste princípio que já havia sido enunciado por Hipocrátes (TEIXEIRA, 1998; BEVILAQUA, 2003). Com o transcorrer de seus trabalhos ao princípio da similitude e a experimentação no homem são, agregou-se a questão das diluições das drogas. Para evitar as agravações medicamentosas e fornecer segurança de uso ao sistema homeopático foi proposta uma farmacotécnica na qual a dinamização foi inserida como elemento diferencial que consiste na diluição e agitação das substâncias utilizando uma escala e um método próprio (FONTES, 2005; RIBEIRO, 2005; TEIXEIRA, 2006). 17 A publicação do Organon ocorreu em 1810, este livro reúne todos os trabalhos de experimentação de Hahnemann, discute os fundamentos da terapêutica incluindo o princípio da semelhança, a escolha individualizada do medicamento adequado a cada paciente, a condução de uma consulta homeopática com vistas à integralidade do paciente, e orientações sobre a relação médico/paciente (TEIXEIRA, 1998; LISBOA, 2006; TEIXEIRA, 2006). O Organon apresenta o mecanismo de ação das drogas (efeito primário e secundário), bem como, a aplicabilidade desta possibilidade de reação orgânica segundo os princípios da semelhança e dos contrários, sendo que a aplicabilidade da similitude terapêutica estimula uma reação homeostática curativa contra a enfermidade. Esta condição encontra fundamentação científica no estudo do “efeito rebote”, bem como, de eventos iatrogênicos graves e até mesmo fatais de fármacos modernos que atuam de forma antagônica (contrária) aos sintomas. Vários trabalhos experimentais demonstraram tal possibilidade, podendo tomar como exemplo os fármacos com ação primária antiinflamatória (corticosteróides, ibuprofeno, indometacina, salicilatos, paracetamol) que apresentam como reação secundária, o aumento dos mediadores da inflamação. Medicamentos utilizados primariamente como antidispépticos (antiácidos, antagonistas H2, misoprostol, sucralfato) no tratamento das gastrites e úlceras gastroduodenais, provocam após a diminuição inicial da acidez, rebote ácido (ANDRIOLI et al., 1997; TEIXEIRA, 1999, TEIXEIRA, 2006). O sistema homeopático, embora partindo da mesma fisiologia, anatomia e anamnese, apresenta uma concepção de organismo, saúde, doença e terapêutica oposta a da medicina ortodoxa. Hahnemann posicionou-se contrário à tendência materialista e organicista (LUZ, 1996). A Homeopatia constitui-se então como um corpo de práticas e concepções médicas que permaneceu incólume a uma dependência cada vez maior dos inventos tecnológicos, aplicados a produção e descoberta de novas entidades terapêuticas, que fazem parte do perfil da medicina hegemônica, característica que foi moldada no transcorrer da historicidade da medicina científica. O seu surgimento não difere de nenhuma outra realidade científica, pois foi revolucionária na época de sua criação tanto sob o aspecto clínico como conceitual. Pois representa ainda uma revolução do pensamento pela maneira como aborda a enfermidade, representando discordâncias, também, da terapêutica científica contemporânea (DANCIGER, 1992; LUZ, 2005). Na atualidade, o medicamento homeopático mantém sua característica conceitual, porém passa a ser observado do ponto de vista analítico, diferenciando-o de um placebo não somente por pesquisas clínicas, mas também por meio de ensaios utilizando instrumentos que envolvem tecnologia de última geração tais como microscopia eletrônica de transmissão, espectroscopia de Raman, espectroscopia de Ultravioleta-visível e 18 ressonância magnética nuclear, impedância elétrica (BONAMIN, 2001; CASALI et al., 2006; ASSUMPÇÃO, 2008, LENGER et al., 2008). A resistência observada em relação ao tratamento homeopático, fato este presente desde a sua constituição, tem origem mais no desconhecimento científico sobre como um elemento ultradiluído pode agir positivamente no sistema biológico do que propriamente pelas respostas clínicas observadas na prática do princípio da semelhança. A visão química rejeita que uma ultradiluição, na ordem de parte por milhão (ppm) possa ser diferente do solvente puro (FRYE, 2003). Rao et al. (2008) demonstraram que a estrutura da molécula do solvente após entrar em contato com solutos pode apresentar uma conformação molecular diferente mesmo após várias diluições, onde quimicamente a presença do “princípio ativo” não pode ser detectada com instrumentação utilizada na atualidade (CASALI et al., 2006). Apesar da medicina hegemônica estar bem aceita e desenvolvida na maior parte do mundo, a OMS reconhece a importância das práticas alternativas e ao final da década de 1970 criou o programa de medicina tradicional estimulando o desenvolvimento de políticas públicas para facilitar a integração da medicina alternativa nos sistemas nacionais de atenção a saúde. Na Europa, vários países disponibilizam a homeopatia em seu sistema de atenção à saúde pública, contemplando a homeopatia entre as práticas integrativas e complementares de medicina, a exemplo da Itália que desde 1996 vivencia esta experiência na região da Toscana, prática que esta sendo ampliada para outras regiões (ROSSI et al., 2008). Aproximadamente 500 milhões de pessoas utilizam tratamento homeopático no mundo, sendo que a OMS em 2002, novamente reafirma seu posicionamento, considerando a Homeopatia o segundo mais importante sistema médico usado internacionalmente. Como marco deste reconhecimento esta instituição tem incentivado o desenvolvimento de projetos homeopáticos que visem incrementar sua implementação junto aos sistemas públicos de saúde mundiais de forma coadjuvante aos tratamentos clássicos por considerar a mesma uma alternativa eficiente e segura ao tratamento de doenças crônicas, aumentando a resolutividade clínica, diminuindo os custos e os efeitos iatrogênicos da terapêutica farmacológica convencional. A Homeopatia, no Brasil, é reconhecida como especialidade médica desde 1980 pelo Conselho Federal de Medicina e na atualidade a mesma está disponibilizada no SUS com experiências bem sucedidas em vários estados (RIBEIRO, 2005; TEIXEIRA, 2006). Sua aceitação como terapêutica viável, tanto popularmente como pelas instituições públicas concretiza-se com a aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares pelo Ministério da Saúde (PNPIC) de maio de 2006, por meio da Portaria 971 do Ministério da Saúde, estabelecendo as diretrizes para a sua incorporação e implementação com o intuito de incentivar e apoiar projetos de assistência, ensino e 19 pesquisa homeopática nas diversas esferas do SUS, juntamente com outras práticas não convencionais (BRASIL, 2006a). No país, o princípio de experimentação no homem é verificado através de estudos patogenéticos realizados pela comissão científica da Associação Médica Brasileira (CPAMHB), por meio de Protocolo de Experimentação Patogenética, havendo a possibilidade do conhecimento de novas substâncias ativas para a homeopatia, sendo o próprio fármaco alopático uma das fontes de pesquisa, tendo como base sua possibilidade farmacológica de atuação orgânica (efeito primário) (TEIXEIRA, 2006). A experimentação patogenética, também, é utilizada como método didático para o ensino dos pressupostos homeopáticos em disciplinas do curso de graduação e na especialização médica, demonstrando a atividade das doses infinitesimais frente à matéria médica homeopática, aumentando a credibilidade na proposta do modelo homeopático (TEIXEIRA, 2004a). Desta forma, estabelecida a possibilidade de trabalho com o princípio da semelhança, e utilizando-se de medicamentos diluídos para tal prática, Hahnemann instaurou para dentro da ciência médica um princípio que suscita as maiores dúvidas e críticas à homeopatia: o medicamento dinamizado. Independente do movimento globalizante de busca pelas terapias não-tradicionais e da já citada crise do modelo hegemônico esta prática médica ainda possui caráter polêmico. Trabalhos científicos apresentando também resultados positivos para efeitos biológicos dos medicamentos ultradiluídos (dinamizados), evidenciando a capacidade de organização e informação destes sistemas têm sido demonstrados em modelos in vitro e in vivo (MACÊDO et al., 2004; LOPES, 2004). A informação contida nas unidades ultradiluídas promove alterações nos sistemas orgânicos de maneira análoga às doses ponderais independente da sua utilização pelo princípio da semelhança (BASTIDE et al, 1985). Os trabalhos de Davenas et al. (1988) inauguraram no universo dos ensaios biológicos a possibilidade de verificação da ação in vivo e in vitro de ultradiluições de anticorpos anti-IgE na degranulação de basófilos, causando grande polêmica no meio científico sobre a veracidade do experimento. Este fato direcionou outros pesquisadores na busca dos efeitos e do entendimento desta propriedade tanto a nível biológico quanto físicoquímico, alcançando a reprodutibilidade necessária aos experimentos científicos (BONAMIN, 2001). Recentemente, Guedes et al. (2006) promoveu o retardo na metamorfose e no desenvolvimento de girinos de Rana catesbeiana do estágio de duas para quatro patas, utilizando ultradiluições de tiroxina de girinos da mesma espécie, reproduzindo os estudos de Endler realizados e publicados na década de 1990. Em ambos os trabalhos foram utilizadas substâncias altamente diluídas a ponto de nenhuma molécula original estar 20 presente. Os efeitos biológicos segundo os autores pode ter ocorrido por meio da bioinformação molecular veiculada pela água (ENDLER et al., 1994). A teoria da memória da água explorada por alguns pesquisadores ganhou notoriedade no meio acadêmico a partir dos trabalhos de Davenas (1988). Seguindo esta linha Del Giudice et al., (1998) estudaram as modificações de natureza eletromagnética da água pela “teoria quântica da super-radiância”. Segundo a eletrodinâmica quântica, a matéria não representa um aglomerado inerte de moléculas e sim um meio dinâmico, capaz de selecionar e catalisar as reações moleculares de acordo com os diversos campos eletromagnéticos que ocorrem no seu interior. Por meio de modelos matemáticos, os autores postulam que o campo eletromagnético de uma substância em solução pode gerar certos “domínios de coerência” no solvente, específicos e estáveis, como uma “assinatura eletromagnética da substância na água”. Porto (2004) demonstrou a ação de campos magnéticos que transmitem informações da solução padrão para a água pura deionizada, produzindo solução imagem que reproduzem parcialmente os efeitos farmacológicos do padrão. Segundo Teixeira (2006), apesar da ausência de mecanismos que expliquem tais processos, as propriedades físicoquímicas estudadas nestes trabalhos compõem um conjunto de evidências experimentais que demonstram, de modo inequívoco, alterações no comportamento da água, quando tratadas sob a ação de campos magnéticos na presença de uma solução de referência. No Brasil, outros estudos vêm sendo conduzidos para investigar a realidade clínica pertinente à prática da homeopatia e a efetividade do medicamento homeopático através de ensaios biológicos que buscam expressar a partir de sua metodologia parâmetros da patogenesia medicamentosa constatados pela experimentação no homem e confirmados na prática clínica da homeopatia. O estímulo ao sistema imunológico tem sido avaliado por meio de trabalhos que mostraram a efetividade do medicamento (ABUD, 2005). Macêdo et al. (2004) estudaram a ação anti-inflamatória de medicamentos dinamizados de Arnica montana 6cH em animais de laboratório. Lima et al. (1997) realizaram observações clínicas de pacientes tratados com o medicamento homeopático Thuja ocidentalis 12 e 30 cH para o tratamento do papiloma vírus humano. Atropa belladonna foi testada em diversas diluições para avaliação antinoceptiva utilizando modelo tradicionalmente descrito em trabalhos para avaliação da efetividade de medicamentos alopáticos em animais (AQUINO e MÜELLER, 2000). Todos os trabalhos acima citados apresentaram resultados positivos. O medicamento homeopático Canova tem apresentado resultados promissores em vários trabalhos ligados a respostas imunológicas específicas in vitro, diminuindo a liberação do fator de necrose tumoral, além de estimular a produção de óxido nítrico pelos macrófagos, evidenciando um processo de ativação celular. Diversos mecanismos de defesa dependem das células e dos elementos intercelulares do conjuntivo, que contém 21 células fagocitárias (macrófagos e granulócitos) e células produtoras de anticorpos (plasmócitos), havendo, assim, importância abrangente na clínica médica (SASAKI, 2001; DIETER, 2005). Em 2001 foi realizado o primeiro estudo clínico randomizado duplo-cego para avaliar a eficácia do medicamento Canova em pacientes portadores de HIV. Nesse estudo foi constatada a diminuição da carga viral, queda nas infecções oportunistas e diminuição dos danos hepáticos causados pela medicação convencional (SASAKI, 2001). Em ensaio biológico sobre cicatrização Dieter (2005), utilizando o mesmo medicamento complexo observou a diminuição da inflamação ao redor da incisão e da hipercelularidade com uma cicatrização adequada. Em virtude do cenário construído até então, o momento atual apresenta o ambiente propício para o efetivo estudo de produtos naturais e no caso específico do presente trabalho a investigação de medicamentos homeopáticos de origem vegetal à procura de uma nova condição (FRYE, 2003; LUZ, 2005). Nos últimos anos a pesquisa científica, clínica e pré-clínica têm demonstrado a confirmação de eficácia e segurança destes medicamentos, afirmando o valor existente na forma de uso e apropriação do fármaco, características de outras épocas da terapêutica, onde a presença de efeitos deletérios associados aos medicamentos possuía uma dinâmica menos agressiva (RATES, 2001). Apesar de vários trabalhos em diferentes modelos já terem sido publicados sobre a efetividade de medicamentos homeopáticos, ainda a literatura é relativamente escassa quando comparada com a de produtos fitoterápicos ou mesmo fármacos sintéticos (TEIXEIRA, 2006). Modelos convencionais com animais de laboratório são aceitos e muito utilizados para a avaliação da efetividade terapêutica de produtos naturais. Geralmente, o estudo de determinado produto natural tem sido justificado através de levantamentos etnofarmacológicos para a confirmação da sua eficácia terapêutica reconhecida popularmente (VIEGAS JR, et al. 2005). No caso de medicamentos homeopáticos, a informação pode ser coletada através das Matérias-médicas que apresenta o resultado de experimentações realizadas no homem são (patogenesia). Esta literatura apresenta um conjunto de informações que permitiu a seleção de medicamentos específicos para o processo de gastroproteção e cicatrização proposto neste trabalho. 22 1.2 Modelos propostos para avaliação dos medicamentos homeopáticos 1.2.1. Úlcera gastrointestinal 1.2.1.1. Fisiologia do trato gastrointestinal O trato gastrointestinal (TGI) apresenta uma grande superfície de absorção e uma variedade de glândulas produtoras de sucos digestivos com capacidade de quebrar os nutrientes em moléculas suficientemente pequenas para, após completa digestão na superfície da mucosa serem absorvidos pelo intestino delgado (KUTCHAI,1996). Sua conformação é adequada para obtenção de nutrientes e manutenção do bom funcionamento das células. Como parte do TGI, o estômago é constituído por várias camadas de músculo liso e revestido por uma mucosa e pode ser dividido em quatro regiões anatômicas: cárdia, fundo, corpo e antro. Este órgão está envolvido na digestão de proteínas e possui depressões e glândulas em toda sua extensão, sendo a superfície constituída por células epiteliais secretoras de muco e os sulcos, por células parietais, principais, enterocromafins-like (ECL) e células G, produtoras de gastrina. (KUTCHAI,1996). As células parietais, secretoras de ácido, e as células principais, de pepsinogênio, estão localizadas primariamente no fundo e no corpo, enquanto que as células de gastrina estão no antro (KUTCHAI, 1996). O suco gástrico é uma mistura da secreção parietal (ácido e fator intrínseco) e secreções não parietais (muco, bicarbonato, Na+, K+ e pepsinogênio). As células parietais secretam ácido por três vias: parácrina, quando estimuladas pela histamina produzida pela ECL; endócrina, estimuladas pela gastrina produzida pelas células G do antro; e neural, estimuladas pela acetilcolina liberada nas terminações nervosas eferentes do vago e do sistema nervoso entérico. Na membrana basolateral das células parietais a histamina, gastrina e acetilcolina possuem seus respectivos receptores. Na membrana das células ECL existem receptores para a gastrina e a acetilcolina e há também o estímulo da secreção ácida indiretamente, através da liberação de histamina (YAO e FORTE, 2003). A secreção ácida envolve basicamente uma elevação inicial de cálcio intracelular e/ou adenosina monofosfato cíclica (AMPc), seguido pela ativação da cascata proteína kinase AMPc dependente, que leva à translocação e inserção da bomba de próton (H, K ATPase) da membrana apical das células parietais (YAO e FORTE, 2003). Adicionalmente, o estômago tem uma série de barreiras para que a sua função primordial de digestão não acabe por lesá-lo. 23 A camada de muco é uma das principais barreiras que isolam as células do lúmen, onde ocorrem às variações de pH, conteúdo osmótico e calórico da refeição. Assim, na camada mucosa podem ser observados quatro níveis de proteção. O primeiro constituído pelos fatores secretados para o lúmen tais como fosfolipídios de superfície ativa, bicarbonato, ácidos, muco, prostaglandinas e outras substâncias antibacterianas como a lactoferrina (VINAGRE, 2005). O segundo nível de proteção é constituído pelo próprio epitélio que funciona contra a difusão passiva de substâncias e dispõe de um sistema eficaz de reparo rápido, que envolve a produção de fatores tróficos como, por exemplo, o fator de crescimento epidermal (EGF), garantindo a integridade da mucosa. A proteção dada pela ação conjunta de aferência nervosa sensitiva e a microcirculação de mucosa e submucosa determina o terceiro nível de proteção. Desta forma, qualquer modificação do meio, incluindo a ação de agentes invasivos, é detectada pela aferência e imediatamente são desencadeadas respostas como: aumento de fluxo sanguíneo na região para facilitar a ação reparadora dos fatores de crescimento e garantir um aporte nutritivo necessário para que as células desempenhem corretamente suas funções (WALLACE, 2001). O quarto nível de defesa é constituído pelo sistema imunológico da mucosa, que inclui a participação das células de alerta como mastócitos e macrófagos que, por sua vez, mobilizam todo sistema imunológico celular para uma resposta inflamatória de proteção (WALLACE, 2001). A mucosa não é impenetrável a diversas substâncias ingeridas ou produzidas. Deste modo, a formação de úlceras e a ocorrência de injúrias são inevitáveis (BERSTAD e BERSTAD, 1993). 1.2.1.2. Úlceras gástricas: desenvolvimento fisiopatológico e terapêutica As úlceras gástricas e duodenais foram bastante comuns após a primeira guerra mundial tornando-se um distúrbio de homens e mulheres idosos sendo que até o século XIX o perfil epidemiológico correspondia somente a mulheres jovens. Atualmente afetam uma parte considerável da população mundial, atingindo 8 a 10% da população dos países industrializados sem distinção de grupos étnicos ou distribuição sexual. No continente americano quase dois milhões de adultos têm úlcera ativa em alguma fase da vida e somente nos Estados Unidos 4 milhões de casos de úlcera péptica foram estimados, contudo 500.000 novos casos são registrados anualmente (FERREIRA, 2005; RUBIN e FARBER, 2000). A úlcera é considerada uma lesão benigna da mucosa gástrica ou duodenal, ocorrendo quando o epitélio gástrico é exposto às secreções gástricas (ácido-péptico) (MAYER, 2007). A úlcera é uma lesão profunda da mucosa, onde tanto os componentes do 24 tecido epitelial e conjuntivo, incluindo miofibroblastos subepiteliais, células do músculo liso, vasos e nervos, podem ser destruídos. São patologias caracterizadas por lesões ulcerosas agudas ou crônicas que, na maioria das vezes, aparecem em qualquer porção do trato gastrintestinal exposta à ação agressiva do suco ácido-péptico (CALAM e BARON, 2001). Tanto as úlceras localizadas no estômago quanto as do duodeno são referidas como úlcera pépticas. No estômago as úlceras se localizam mais comumente no antro (60%) e na junção do antro com o corpo na pequena curvatura (25%). Cerca de 20% dos moradores das grandes cidades na atualidade convivem com algum problema no estômago e/ou duodeno, ou seja, duas em cada dez pessoas sofrem de problemas que vão desde a indisposição passageira até a gastrite, úlcera e tumores (BERTGES et al., 2006). De acordo com OTOFUJI (2005), considerando a revisão realizada por SZABO (1991), a lesão celular da mucosa gástrica pode ocorrer por causas adquiridas ou inatas, sendo que as cinco causas mais comuns são: (1) hipóxia e isquemia (resultante da diminuição do fluxo sangüíneo ou do decréscimo da hemoglobina ou ainda da diminuição das enzimas antioxidantes dos tecidos); (2) por agentes químicos (como monoaminas, eicosanóides, endotelinas, fármacos sintéticos, e principalmente substâncias químicas ingeridas propositadamente como o etanol); (3) por agentes biológicos (como vírus, bactérias, fungos, parasitas, levando a reações imunológicas que geralmente são desenvolvidas para a defesa do organismo, entretanto produzem radicais livres tóxicos que contribuem para a injúria tecidual); (4) por fatores físicos (estresse, temperaturas extremas, força mecânica) e (5) por defeitos genéticos. Independente de sua etiologia é geralmente aceito que esta doença se estabelece quando é rompido o equilíbrio entre os fatores agressivos (secreção gástrica de ácido, pepsina, infecção por Helicobacter pylori) e os de defesa da mucosa (fluxo sanguíneo, muco, HCO3, secreção, prostaglandinas, etc.) (Figura 1.1) (MORIMOTO et al., 1991). São doenças caracterizadas por lesões ulcerativas agudas ou crônicas que, na maioria das vezes, aparecem em qualquer porção do trato gastrintestinal exposta à ação agressiva do suco ácido-péptico (CALAM e BARON, 2001) 25 Figura 1.1: Considerações atuais sobre a fisiopatologia da úlcera péptica Fonte: VINAGRE, 2005 2001). Fatores como o estresse, fumo, nutrição deficiente, álcool, uso contínuo de drogas antiinflamatórias-não-esteroidais (AINEs), predisposição genética, além dos fatores agressores endógenos (ácido, pepsina, e bile) estão associados à etiologia desta patologia. No mundo contemporâneo hábitos alimentares inadequados estão comumente vinculados ao tipo de vida levada pelo homem. A falta de informação acerca da escolha nutricional do alimento, o hábito de comer compulsivamente, o descomprometimento com os horários das refeições surgem como potenciais agentes causais de problemas gástricos que perturbam a população mundial, bem como a brasileira (MATTOS, 2002). Sintes et al. (1995) observou a correlação entre o consumo de café, o tabagismo, bem como o jejum prolongado relacionam-se com a atual etiologia desta doença, pois promovem um maior contato da secreção ácida do estômago com a mucosa. O abuso de bebidas alcoólicas, álcalis e ácidos fortes podem contribuir para o agravamento do quadro (CAVATAIO et al., 1996; MARQUES, 2002). O jejum prolongado aparece como fator que possibilita o desencadeamento de ulcerações por permitir um maior contato da secreção ácida do estômago com a mucosa (MARQUES, 2002). Na atualidade o Helicobacter pylori (Hp) também é apontado como um fator envolvido no desencadeamento das lesões gástricas ulcerativas. Trata-se de um bastonete gram-negativo, flagelado em forma de espiral e que coloniza o estômago e o duodeno e é apontado como um importante fator de risco para úlceras gastroduodenais, sendo sua transmissão inter-humana (PASSOS, 2007; LINZ e SCHUSTER, 2007). Metade da 26 população mundial está infectada por este microrganismo, porém 80% desses indivíduos permanecem sem nenhuma evidência clínica de doença e somente uma pequena percentagem desenvolve sintomas relacionados à sua presença (AMIEVA e EL–OMAR, 2008). Porém, a Agência Internacional de Pesquisa do Câncer e a Organização Mundial de Saúde (IARC/WHO) classificaram e definiram esta bactéria como carcinogênica, pois além de estar associada ao risco de desenvolvimento de úlcera péptica a mesma apresenta uma relação com a formação de linfomas e câncer gástrico (PINHEIRO et al., 2008). Apesar do ambiente inóspito do estômago o Hp é capaz de se adaptar em virtude de algumas propriedades que lhe são inerentes e que lhe conferem patogenicidade. Sua morfologia espiralada ou em “S” com extremidade arredondada, que juntamente com a presença de flagelos, garantem a bactéria motilidade adequada, permitindo a penetração no muco. A produção de proteínas que facilitam seu transporte (flagelina) e os efeitos deletérios sobre a mucosa foi identificada (EATON et al., 1996; MARTINS et al., 2002). Uma vez na presença da mucosa gástrica, a bactéria induz a uma hipocloridria transitória, por meio de um mecanismo ainda não bem elucidado (FREDERICK e RICHARD, 2002). A sua capacidade de produção de amônia por hidrólise da uréia, presente em condições fisiológicas no suco gástrico facilita sua colonização, pois promove a formação de um micro-ambiente com pH neutro no exterior da bactéria, conferindo resistência à acidez gástrica (LADEIRA et al., 2003). Vale ressaltar que a lesão tecidual proporcionada pelo Helicobacter pylori depende de fatores do hospedeiro e da bactéria, sendo que a interferência deste microrganismo é determinada pela complexa interação entre estes. Contudo, pode-se ainda considerar que foram identificadas na população pessoas sadias colonizadas pela bactéria, que não desenvolviam as úlceras e indivíduos acometidos pela doença sem a presença dessa bactéria (SIQUEIRA et al., 2007). Os AINEs, quando usados regularmente por um longo período inibem a via das enzimas ciclooxigenases, responsável pela síntese das prostaglandinas e desencadeiam o processo ulceroso. As prostaglandinas têm efeito citoprotetor da mucosa por inibir a secreção ácida, aumentar a quantidade de muco e por ser uma substância vasodilatadora que garante o aporte nutritivo necessário para o bom funcionamento celular (RUBIN e FARBER, 2000; WALLACE, 2001, VINAGRE, 2005). O uso indevido de substâncias e até mesmo fármacos considerados “banais” pela população, como os antiinflamatórios e analgésicos, podem acarretar diversas conseqüências como resistência bacteriana, reações de hipersensibilidade, dependência, sangramento digestivo, e ainda ampliar a possibilidade para o desenvolvimento de 27 neoplasias. Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas encobre a doença de base que passa despercebida e pode, assim, progredir. Em trabalhos realizados sobre o consumo de medicamentos os antiinflamatórios representam entre 30 a 50% dos medicamentos consumidos pela população (FERREIRA, 2007; SOUSA et al., 2008). Cientes desta condição, Ribeiro et al. (2007) investigaram o uso de AINEs por pacientes submetidos à endoscopia e a influência deste no aparecimento das lesões gastroduodenais relatadas nos exames endoscópicos. Constatou-se que dos 556 pacientes entrevistados, 135 (24,3%) relataram uso de AINEs no período de 1 mês anterior à endoscopia. Destes, 83,7% apresentaram lesões gástricas (gastrites e/ou úlceras), referidas nos laudos endoscópicos. Estes achados sugerem uma alta freqüência (83%) de lesões gástricas com possível relação com o uso de AINEs. 1.2.1.3. Terapia Medicamentosa Os tratamentos geralmente são dirigidos à redução dos fatores de agressão, mas pode-se também fortalecer as defesas das mucosas gástricas e duodenais com os chamados agentes citoprotetores com o objetivo de promover o equilíbrio entre estes fatores. Desta maneira, a terapêutica assumida com relação a esta doença consiste da inibição da secreção gástrica por inibidores antagonistas de receptor H2, inibidores de H+,K+ATPase (bomba de prótons), antiácidos, antibioticoterapia asssociada quando existe a presença de Hp e o uso de sucalfrato, bismuto coloidal e misoprosol que são considerados agentes citoprotetores. Figura 1.2 – Fármacos antagonistas dos receptores H2. (A) Cimetidina (B) Ranitidina (C) Famotina e (D) Nizatidina. 28 Os antagonistas dos receptores H2, como, ranitidina, cimetidina, famotidina e nizatidina (Figura 1.3) são fármacos congêneres a histamina com substituição da fração etilamina por uma cadeia lateral grande como é o caso da cimetidina (primeiro da classe a ser liberado para uso clínico). A famotidina, ranitidina e a nizatidina possuem modificação na estrutura básica do fármaco que é um anel imidazólico. São dose dependentes e inibem competitivamente a interação de histamina com os receptores H2 e interferem muito pouco na função de outros tecidos que possuem receptores para H2 desencadeando seus efeitos principalmente sobre a fisiologia da secreção gástrica. Em animais de laboratório atuam frente a ulceração gástrica induzida por estresse, ligadura pilórica, aspirina e agonistas dos receptores H2. (SILVA et al., 2002). Estes medicamentos promovem a inibição da secreção ácida basal (jejum) e noturna o que colabora para a sua efetividade clínica. A secreção é diminuída tanto em seu volume como na concentração de H+, a secreção de pepsina e fator intrínseco, também, sofre influência, havendo diminuição da quantidade secretada. São bem absorvidos, sendo que uma hora após sua administração sua concentração plasmática máxima é alcançada. Sofrem metabolização hepática e são eliminados pela urina entre duas a três horas, requerendo cuidados especiais em seu uso para pacientes que apresentem comprometimento renal (SILVA et al., 2002). Em virtude de sua meia-vida plasmática curta, os antagonistas dos receptores H2 podem ser administrados em quantidades relativamente maiores, uma a duas vezes ao dia para favorecer uma terapêutica efetiva, pois doses acima do recomendado são bem toleradas. O tratamento de oito semanas se mostra efetivo para 50 a 75% dos pacientes, sendo que o mesmo pode se estender até 16 semanas com uma taxa maior de cicatrização. As recidivas diminuem quando os fármacos são administrados em dose de manutenção ao deitar (GILMAN et al., 2007). Apesar de serem considerados fármacos bem tolerados em função da sua atuação limitada em receptores H2 em outros órgãos que não no estômago e a pouca penetração destes agentes através da barreira hematoencefálica em virtude de serem hidrofílicos, um número significativo de efeitos adversos foram relatados para o uso de cimetidina e ranitidina. A literatura inicialmente considerava a existência de baixa incidência de reações, porém o uso disseminado destes fármacos tem apresentado um acúmulo de informações que revelam a possibilidade da presença destes efeitos na clínica médica (MARCOLIN et al.; 2004; UE et al., 2007). Alteração da lactação, cefaléia, tonteira e náusea, mialgia, exantemas e prurido são sintomas que podem acompanhar a utilização do fármaco. O uso por tempo prolongado como normalmente requer a terapêutica com estes fármacos pode levar a perda da libido, 29 impotência e ginecomastia. Estes sintomas estão relacionados à capacidade da cimetidina de aumentar a secreção de prolactina e de ligar a receptores andrógenos. Segundo Ue et al. (2007), o uso da ranitidina é preferível à cimetidina, visto que a última apresenta em usos prolongados e em altas doses efeitos colaterais antiandrogênicos. Ao estimular a produção de prolactina e inibir o citocromo P450, a cimetidina promove o aumento da concentração plásmatica do estradiol em homens, levando aos sintomas acima mencionados. A interação da cimetidina com o citocromo P450 inibe sua atividade diminuindo o metabolismo de muitas substâncias que são substratos para oxidases hepáticas de função mista. A ranitidina, a famotidina e a nizatidina não inibem o sistema P450, porém já existem estudos conflitantes a respeito da maior segurança da ranitidina (MARCOLIN; et al., 2004). A cimetidina interage com o propranolol, carbamazepina, varfarina, antidepressivos tricíclicos, entre outros. Com esta ação, este medicamento pode aumentar os níveis destes fármacos, sendo que a famotidina e a nizatidina são mais seguras, pois não apresentam interação medicamentosa com o citocromo P450. Porém pacientes em uso de ranitidina podem experimentar cefaléia, tonteira, cansaço, irritabilidade, rash cutâneo, constipação, diarréia, trombocitopenia e elevação de transaminases. Atenção deve ser dada a pacientes com insuficiência renal, que devem ter a dose reduzida. É descrita tolerância aos antagonistas dos receptores H2 devido à hipergastrinemia que surge com o seu uso, a qual estimula a liberação de histamina (GUIMARÃES et al., 2006). O uso de nizaditina foi avaliado em estudo multicêntrico envolvendo 210 crianças com idade variando entre 5 dias a 18 anos com diagnóstico de refluxo gastroesofágico. Com uma terapêutica de oito dias, 32% dos pacientes alcançaram melhora total dos sintomas. Apesar do número significativo de pacientes envolvidos, esse estudo sugere uma eficácia limitada do fármaco, ou, mais provavelmente, uma dificuldade em avaliar esta doença a partir de sintomas clínicos. Ademais, em relação à segurança do fármaco, vários efeitos adversos, como infecção do trato respiratório superior, vômito, diarréia, pneumonia, lesão cutânea, fadiga e tremor foram observados. Por outro lado, estudos em adultos comprovaram a superioridade dos inibidores da bomba de prótons (IBP) sobre os antagonistas dos receptores H2 na cicatrização de úlceras pépticas (GUIMARÃES et al., 2006). Os bloqueadores da bomba de prótons são substâncias benzimidazólicas que inibem seletiva e completamente a bomba de prótons H+ K+ ATPase na membrana da célula parietal. A secreção gástrica ácida é suprimida em resposta a todos os agentes estimulantes até que novas moléculas da bomba sejam sintetizadas. Atualmente, os IBP em uso clínico no mundo são omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol e esomeprazol. Dentre esses, o esomeprazol é o que mais reduz a acidez intra-gástrica. Apenas omeprazol e 30 lanzoprazol são aprovados pela FDA para uso em crianças. Para menores de 1 ano, nenhum é aprovado (BRUNTON, 2007). Estes fármacos em pH neutro são quimicamente estáveis, lipossolúveis, bases fracas e sem atividade inibitória. Através do sangue se difundem para os canalículos secretores onde tornam-se protonados, sofrendo rearranjo para formar um ácido sulfênico e uma sulfenamida. A sulfenamida interage de forma covalente com os grupamentos sulfidrila em pontos críticos do domínio extracelular (luz) da bomba de prótons da superfície da membrana. A inibição total ocorre com duas moléculas da substância ligadas por molécula da enzima. Estas substâncias podem ser consideradas pró-fármacos que precisam ser ativadas para serem eficazes (GILMAN et al., 2007). O omeprazol resulta na inibição permanente da atividade da bomba de prótons, sendo que a secreção de ácido retorna somente após a inserção de novas moléculas de H+ K+ ATPase. O efeito inibidor do lansoprazol parece poder ser revertido por um mecanismo distinto envolvendo glutation celular não havendo a necessidade de restaurar a secreção ácida (BRUNTON, 2007). A potente ação dos inibidores da bomba de prótons, além de elevar o pH gástrico, também resulta em redução do volume intra-gástrico de 24 horas, promovem redução no volume de suco gástrico, na secreção de pepsina e fator intrínseco, porém não afetam a motilidade gástrica. Como a ligação, principalmente, do omeprazol é irreversível este promove uma inibição dose dependente que permanece mesmo após o fármaco ter sido eliminado do organismo. O efeito inibitório do lansoprazol também dura mais do que seria previsto de sua meia-vida de eliminação do plasma (FAN et al., 2008). O omeprazol administrado por via oral é absorvido rapidamente, porém em grau variável, podendo atingir 70% com a administração continuada, se liga a mais de 95% às proteínas do plasma, sendo eliminado rapidamente (meia-vida de aproximadamente 1 hora) por excreção urinária de seus metabólitos, após metabolismo hepático, mas o seu efeito pode persistir por 24 a 72 horas nos receptores alvo. A implicação clínica disso é uma grande exposição sistêmica ao fármaco. A biodisponibilidade oral do omeprazol é nitidamente inferior à do lansoprazol, respectivamente 35 a 65% e 80 a 91% (GILMAN et al., 2007). As apresentações comerciais destes fármacos são cápsulas de liberação prolongada. Por serem destruídos em pH ácido estes são microencapsulados, visando uma proteção entérica, desta forma, os grânulos deixam o estômago intactos, sendo rapidamente absorvidos no intestino. O omeprazol é comercializado na formulação MUPS (multiple unit pellet system), os quais não devem ser mastigados ou triturados porque são ácido-lábeis. Não existe preparação líquida industrializada. Quando se prescrevem cápsulas para crianças ou indivíduos que não são capazes de degluti-las, as cápsulas são abertas e misturadas a meios ácidos, de preferência semi-líquidos, tais como iogurtes. Parece não 31 existir mudanças na farmacodinâmica do fármaco quando adotadas essas formas alternativas de administração (GUIMARÃES et. al., 2006). Embora semelhantes em sua estrutura os inibidores da bomba de prótons apresentam diferenças em relação ao metabolismo. São metabolizados em graus variados pelo sistema enzimático hepático P450, principalmente omeprazol, sendo metabolizado especificamente pelas enzimas CYP2C19 e CYP3A4. Aspectos importantes sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica referem-se ao polimorfismo genético dessas enzimas que afeta a biotransformação e a eliminação plasmática dos inibidores da bomba de prótons. O polimorfismo genético pode levar a grande diferenças na cinética destes fármacos. Indivíduos que metabolizam pior o fármaco podem ter maior exposição após uma dose terapêutica. Assim, parte da grande variabilidade da dose observada em estudos com omeprazol, principalmente em crianças pode ser explicada por esses achados (BRUNTON, 2007). Uma conseqüência da profunda redução da acidez gástrica é o aumento da produção de gastrina. Os pacientes que tomam a dose usual destes medicamentos têm uma modesta hipergastrinemia, sendo que a administração prolongada de doses altas de omeprazol em animais de laboratório causa hiperplasia das células mucosas oxínticas, supostamente devido aos efeitos tróficos da gastrina destas células. Tumores carcinóides também são produzidos em ratos. Em humanos a administração contínua durante seis anos não apresentou evidências contundentes destas manifestações, porém vários médicos não indicam uma terapia a longo prazo com estes medicamentos se uma terapia alternativa adequada estiver disponível (GILMAN et al., 2007). Estudos experimentais mais recentes indicam um risco aumentado para o desenvolvimento do câncer gástrico após o uso prolongado de IBP, sendo que a maior parte destes estudos refere-se ao omeprazol. O mecanismo carcinogênico pode estar relacionado com a produção aumentada de peptídios tróficos como a gastrina em resposta a hipocloridria promovida pela terapêutica prolongada. Foi verificado metaplasia intestinal e hiperplasia de células endócrinas verificadas em animais de laboratório, podendo também estar relacionado com o aparecimento de adenocarcinoma e carcinoma de células escamosas induzidos por compostos N-nitrosos (SOUSA et al., 2002). Um importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer gástrico é a presença de nitrosaminas formadas pela ação bacteriana em estômagos hipoclorídricos, sendo que os inibidores da bomba de prótons reduzem a acidez gástrica o suficiente para promover a proliferação de bactérias, sobretudo de Escherichia coli Pseudomonas sp. Estas bactérias reduzem de nitratos em nitritos catalisando o processo de nitrosação com conseqüente formação endógena de compostos N-nitrosos. Outro e importante aspecto é a redução significativa do índice ácido ascórbico/nitritos no suco gástrico em pacientes 32 usuários de omeprazol 40 mg/dia durante 4 semanas o que sugere um risco aumentado para câncer gástrico, pois esta relação regula a síntese de compostos N-nitrosos potencialmente carcinogênico (SOUSA et al., 2002). Dados adicionais sobre a segurança do uso prolongado de omeprazol em crianças ainda são necessários. Até o momento, os registros de uso de lansoprazol foram apenas de períodos de 12 semanas (GUIMARÃES et al., 2006). Os efeitos adversos relacionados ao omeprazol são cefaléia, diarréia, dor abdominal, náusea, rash cutâneo, constipação e deficiência de vitamina B12. O lansoprazol pode causar cefaléia, diarréia, dor abdominal, náusea, elevação de transaminases, proteinúria, angina e hipotensão. Hipergastrinemia e hiperplasia de células parietais são observadas com o uso de omeprazol. A hipergastrinemia pode ter ações pró-cinéticas. Ademais, esses achados não apresentam implicações clínicas relevantes (GILMAN et al., 2007). Os inibidores da bomba de prótons podem participar de muitas interações com fármacos. Devido à redução intensa da acidez gástrica, os IBP podem reduzir a biodisponibilidade de fármacos que precisam de um pH mais baixo para sua absorção, tais como ampicilina, cianocobalamina, ferro, digoxina e cetoconazol. Em virtude da interação dos inibidores da bomba de prótons com o citocromo P450 estes fármacos apresentam o efeito potencial de interagir com drogas metabolizadas por essa via enzimática. Em humanos, foram identificadas interações do omeprazol com fenitoína, benzodiazepínicos, diazepam, carbamazepina, claritromicina, metotrexato e warfarina. Os níveis de imipramina, clomipramina e amitriptilina podem ser alterados em virtude da interferencia do omeprazol junto a esta enzima (MARCOLIN et al.; 2004; UE et al., 2007). Já o lansoprazol é menos capaz de inibir ou induzir o citocromo P450, sendo que o seu envolvimento em interações com drogas é menor. Tanto os antagonistas dos receptores H2 quanto os inibidores da bomba de prótons devem ser utilizados com prudência em pacientes em uso de glicocorticóides, levando em consideração os efeitos colaterais destes, bem como, dosagem e custo, pois não há estudos suficientes demonstrando a melhor escolha nestes casos (PEREIRA et al., 2007). Apesar de possuir efetividade terapêutica questionável os antiácidos continuam sendo procurados para os cuidados empregados nas úlceras pépticas. Por possuírem um histórico farmacológico de utilização neste contexto e serem amplamente divulgados nos diversos meios de comunicação, os antiácidos são empregados para o alívio de diversos sintomas gastrintestinais que, nem sempre, correspondem às suas indicações (FREITAS et al., 2006). A função destas substâncias é neutralizar o ácido clorídrico (HCl) produzido pelas células parietais. O hidróxido de alumínio e o de magnésio são os mais utilizados e os constituintes comuns de formulações com propriedades antiácidas. O bicarbonato de sódio 33 e o carbonato de cálcio, também são usados. Sua indicação clínica ainda ocorre em tratamentos de episódios curtos e autolimitados de hiperacidez e como adjuvantes da terapia no tratamento em longo prazo de úlceras pépticas e de refluxo gastresofágico (DE LUCA et al., 1999) Os antiácidos reagem com o HCl formando cloretos, água e dióxido de carbono, neutralizando o ácido. A produção dióxido de carbono pode levar a distensão abdominal e eructação com refluxo ácido. O cálcio pode ativar mecanismos dependentes deste íon a exemplo da produção de gastrina e ou HCl. O hidróxido de alumínio reage de maneira mais lenta e consegue manter a neutralização por mais tempo em relação ao composto com magnésio (GILMAN et al., 2007). Estes diferem significativamente entre si quanto à potência, taxa de absorção, tempo de ação, efeitos secundários, complicações sistêmicas e interações medicamentosas. Essas últimas são determinadas pela valência do cátion, dose utilizada, duração do tratamento e momento de administração do antiácido em relação ao outro fármaco (MECHICA, 1999; HENDERSON, 2000). As doses baixas de antiácidos usadas esporadicamente são inefetivas no tratamento de úlceras pépticas e não constituem terapia eficaz. Em determinadas condições patológicas o uso de antiácidos, pela sua fraca proteção digestiva, deve ser evitado, bem como, pelo número insuficiente de estudos que demonstrem a sua interação com outros fármacos a exemplo dos glicocorticóides que são amplamente utilizados na clínica médica. Em indivíduos com função renal comprometida, hipertensos ou com insuficiência cardíaca o uso de antiácidos deve ser realizado com cautela ou não ser utilizado (BRUNTON, 2007). Quando há a presença de Hp é recomendado a introdução de antibióticos, pois a erradicação da bactéria promove a diminuição da recidivas que são comuns nesta doença frente aos mecanismos etiopatológicos envolvidos já apresentados. Segundo Coelho et al. (2004), existem vários antibióticos e suas associações já utilizados para erradicação do Hp em tempos diversos de tratamento, sendo necessária a inclusão de um fármaco atuante na secreção salivar e/ou gástrica, como o metronidazol e a claritromicina, concomitante a fármacos de ação luminal a exemplo do bismuto, amoxicilina, tetraciclina e furazolidona para garantir o sucesso do tratamento. Alguns protocolos terapêuticos são propostos para o combate do Hp, porém, determinar qual o melhor tratamento torna-se complexo tanto por esse microrganismo colonizar um ambiente de difícil acesso a muitos medicamentos, quanto pelo surgimento da resistência bacteriana (FREDERICK e RICHARD, 2002). No Brasil como em outros países observa-se a resistência do Hp de 8% em relação a claritromicina e de 52% metronidazol, na França estes índices são de 15,8% e 46,4% e na Alemanha 15,8 e 46,4% respectivamente (PINHEIRO et al., 2008). Na atualidade são sugeridos esquemas 34 terapêuticos que envolvem a associação de até quatro medicamentos: um inibidor da bomba de prótons, dois antibióticos, um antagonista dos receptores H2, havendo, nesta condição, melhora de 95 -100% dos casos, principalmente os que apresentam resistência ao metronidazol. Após o término do tratamento deve-se realizar o controle de cura durante um a três meses para evitar resultados falso-negativos (COELHO et al., 2004). Outros fármacos como o sucralfato, que se adere ao epitélio ulcerado exerce, também, citoproteção e apresenta poucos efeitos colaterais, porém, interagem com outros fármacos, reduzindo a biodisponibilidade destes, sendo mais eficiente em úlceras duodenais. Os análogos da prostaglandinas como misoprosol, apesar de não ser um fármaco de primeira escolha pode ser útil para úlceras provocadas por AINEs. Em doses terapêuticas apresenta efeitos colaterais como diarréia em usuários e é um composto abortífero potencial o que limita sua utilização (BRUNTON, 2007). A inibição da secreção gástrica é estimulada, também, por substâncias com função de antagonista muscarínicos como a pirenzepina e telenzepina. A carbenoxolona é um derivado do ácido glicirrízico, atua aumentando a barreira mucosa protegendo o tecido contra a ação do HCl, sendo ativa, porém menos eficiente que os demais fármacos já citados e que apresentam efeito citoprotetor. Este fármaco possui consideráveis efeitos colaterais como a interferência negativa na tolerância à glicose. Desta maneira, dentro das perspectivas para os cuidados com as ulcerações gástricas, considerando os mecanismos de agressão e proteção envolvidos nesta dinâmica deve-se instituir meios mais seguros para reparo e manutenção destes mecanismos, garantindo aos pacientes a aceleração do processo de cicatrização e diminuição da taxa de recidiva (GILMAN et al., 2007). 1.2.1.4. Produtos naturais com atividade gastroprotetora Os hábitos de vida contemporâneo, a aplicação de terapêutica a longo prazo para evitar as recidivas da doença, presença de efeitos colaterais já confirmados e o uso abusivo de medicamentos, aliado ao atual interesse por produtos naturais, caracterizam-se como fatores determinam para o desenvolvimento de vários estudos envolvendo o efeito citoprotetor da mucosa gástrica de plantas com possível potencial farmacológico frente a esta doença (RATES, 2001; ANDRADE et al., 2007). Estudos realizados por Twardowschy et al., (2007) e Mayer, (2007), demonstraram o efeito citoprotetor do extrato hidroalcoólico de Tabebuia avellanedae . e Salvia officinalis quando administrado por via oral em experimentos utilizando ratos. Estes extratos atuaram protegendo a mucosa gástrica contra lesões induzidas por etanol, diminuindo a secreção ácida e promovendo a cicatrização de úlceras produzidas por ácido acético. Ambos os extratos apresentaram ação sequestrante de radicais livres. 35 A exemplo da Tabebuia avellanedae e da Salvia officinalis, vários outros vegetais tem se apresentado como possíveis fontes alternativas de terapia. Diversos compostos têm sido isolados de plantas e demonstraram in vitro, em modelos animais e também em estudos clínicos, possíveis fontes alternativas de terapia (CASTILLO-JUAREZ et al., 2007). O quadro 1 apresenta alguns vegetais que tiveram suas propriedades citoprotetoras avaliadas frente à metodologia científica padronizada para úlceras gástricas. 36 Quadro 1 – Plantas medicinais testadas para ação antiulcerogênica. Planta Allium sativum Tipo de Extrato Referência Acetanólico e etanólico CANIZARES et al., 2004 Etanólico CASTILLO-JUÁREZ et al., 2007. Metanólico LUIZ-FERREIRA et al., 2008 Anacardium occidentale hidroetanólico KONAN; BACCHI, 2007 Anacardium orientalis Hidroalcóolico KUBO et al.,1999 Amphipterygium adstringens Anacardium humile St. Hil Chlorella vulgaris aquoso Cistus laurifolius Clorofórmico Cordia verbenacea DC Curcuma amada Dracaena cochinchinensis Jasminum grandiflorum VINAGRE, 2005 USTUN et al., 2006 ROLDÃO et al., 2008 Frações de extrato etanólico SIDDARAJU E DHARMESH, 2007 metanólico ZHU, 2007 Etanólico UMAMAHESWARI et al, 2007 Maytenus robusta Hidroalcoólico Olea europaea L Óleo fixo Opuntia ficus indica (L.) Mill Aquoso ANDRADE et al., 2007 ROMERO et al., 2007 GALATI et al., 2003 Éter dietílico Plinia edulis (Vell.) Sobral Salvia officinalis Solanum nigrum (L.) Etanólico ISHIKAWA et al., 2008 hidroetanólico MAYER, 2007 Metanólico JAINU e DEVI, 2006 Syngonanthus bisulcatus e Syngonanthus arthrotrichus Etanólico BATISTA, 2003 Tabebuia avellanedae Lorentz ex Griseb Vernonia polyanthes hidroalcoólico TWARDOWSCHY, 2007 Metanólico e clorofórmico BARBASTEFANO et al., 2007 Considerada, também, um produto natural a própolis vem sendo avaliada para uma série de ações biológicas. Alguns estudos buscam verificar a sua ação antiulcerogênica em experimentos que utilizam das mesmas metodologias empregadas nos trabalhos presentes na tabela acima (LIU et al. 2002). No trabalho de Barros et al., (2007) utilizando extrato de própolis verde e tendo como controle positivo o omeprazol (30mg/kg) observou-se uma diminuição da área lesionada e no percentual de lesões em comparação com o grupo 37 controle (salina). Seguindo o protocolo de indução de úlcera por indometacina foi observado, também, a redução significativa de todos os parâmetros envolvidos em comparação com o controle. Os extratos de mangaba e própolis vermelha apresentaram um efeito protetor em relação ao controle negativo (salina). Estes extratos foram eficientes em reduzir respectivamente 46,15% e 92,3% segundo metodologia propostas por Gamberini et al. (1991) e 76,92% e 100% das lesões ulcerativas de acordo com Szelenyi e Thiemer (1979), mostrando uma significante atividade antiulcerogênica, sendo estas superiores a cimetidina que é um fármaco bastante utilizado no tratamento das úlceras pépticas (PINHEIRO et al., 2008). Na dose de 1g/Kg a própolis foi eficiente em reduzir o índice médio das lesões ulcerativas em 72,06% nas unidades experimentais tratadas com indometacina, evidenciando atividade antiulcerogênica de própolis oriunda da região de Rio Azul, Paraná, Brasil (ARAÚJO et al., 2002). No trabalho de Pinheiro et al. (2008), avaliou-se também a atividade antioxidante dos extratos hidroalcoólicos de caju e própolis, sendo que na concentração 2,5% o poder de inibição do radical DPPH foi de 92,8% para o caju e de 99,36% para a própolis vermelha utilizada na mesma concentração. Esta atividade certamente esta relacionada a presença de flavonóides presente nestes vegetais. Em homeopatia a Nux vomica, medicamento originário de uma árvore nativa da Índia Strychnos nuxvomica possui em sua patogenesia proeminente atividade sobre o TGI. A árvore pertence à família das Loganiaceae, e era utilizada pelos médicos árabes do século XI. Foi introduzida na Alemanha no século XVI como veneno para ratos e outras pestes animais. É encontrada, também, na Bismania, China, Tailândia e Austrália (CRAIG e STITZEL, 2004). Na literatura podem ser encontrados os seguintes sinônimos para este vegetal: Strychnos colubrina, Strychnos ligustrina Blume, Strychnos lucida Wall, Strychnos ovalifolia Stokes. Este vegetal é conhecido popularmente com as seguintes denominações Matacán, Mata-perros, Nuez vómica, Colubrina, Carimão, Fava de Santo Inácio, Vomiquero entre outras denominações de acordo com os diversos países onde é conhecida (SOARES, 2000). A Nux vomica é utilizada, também na medicina popular chinesa e extensivamente nos países asiáticos. As sementes são indicadas para melhorar a circulação e nas dores reumáticas, sendo que historicamente tem sido empregada em doenças como tumores e artrite reumatóide. A análise fitoquímica deste vegetal aponta os alcalóides como o grupo mais abundante nesta espécie e o responsável por sua propriedades farmacológicas tal como atividade citoprotetora, antitussígena e antitumoral. Porém suas propriedades tóxicas tem 38 limitado seu uso e investigação como planta medicinal, em virtude desta característica, na medicina Chinesa, as sementes são aquecidas com o objetivo de diminuir sua toxicidade, sendo que estudos vem demonstrando que o aquecimento promove a transformação de seus alcalóides diminuindo sua toxicidade (YIN et al., 2003; DENG et al, 2006). Figura 1.3 Aspectos botânicos da Strychnos nuxvomica Das sementes deste vegetal se extrai a estricnina que é o alcalóide responsável por sua toxicidade. Seu uso como pesticida persiste, sendo uma fonte de envenenamento acidental de crianças e animais domésticos (GILMAN et al., 2007). Com o desenvolvimento da química, no século XIX e com métodos disponíveis para o isolamento de princípios ativos das drogas em estado bruto, Mangedie (1783-1855) realizou o isolamento da estricnina e descreveu seu mecanismo de ação (OGA, 2003, CRAIG e STITZEL, 2004). Esta droga promove grande excitabilidade do sistema nervoso central e pode provocar convulsões com excitação descontrolada e extensão tônica do corpo e de todos os membros. Sob a influência de estricnina todos os estímulos sensitivos produzem resposta exagerada. A principal consideração na terapêutica após envenenamento com estricnina é evitar as convulsões que podem ser fatais, sendo que o diazepam e o clonazepam são fármacos preferidos para evitar tal evento. A morte resulta da paralisia medular que é primariamente devida a hipóxia resultante de períodos de respiração prejudicada (GILMAN et al., 2007; CRAIG e STITZEL, 2004). Apesar de sua reconhecida toxicidade, foi utilizada na Idade Média como antídoto da peste. Uma pequena dose favorece o apetite, ajuda na digestão e aumenta a freqüência da micção. As informações descritas acima e que dizem respeito a esta excitação pronunciada do sistema nervoso central são verificadas na experimentação homeopática, pois na sua matéria médica constam sintomas mentais importantes com extrema excitação do experimentador, sendo administrada em homeopatia, a partir do princípio da semelhança, 39 tendo como possibilidade de aplicação clínica pacientes com alto grau de irritabilidade e que se frustram intensamente quando suas expectativas não se cumprem. Na descrição de seus sintomas gerais aparecem as manifestações gástricas, sendo o estômago um dos pontos mais sensíveis avaliado durante a experimentação (VIJNOVSKI, 1978/92). 1.2.2. Cicatrização A cicatrização é um processo complexo e dinâmico de restauração de estruturas celulares e camadas teciduais, visando à restituição dos tecidos lesados, a fim de preservar suas funções. Com o progredir da ciência verificou-se que as células possuem diversos mecanismos que propiciam a continuidade do equilíbrio necessário para que se mantenha sua integridade mesmo em presença de estímulos considerados estressantes (RUBIN e FARBER, 2000; FINE e MUSTOE, 2001). A recuperação do tecido lesado corresponde a um fenômeno altamente complexo caracterizado pelo desenvolvimento de uma seqüência de eventos interdependentes e sobrepostos que envolvem as células de constituição do tecido, bem como, a matriz extracelular, concentrando-se especialmente nos tecidos conjuntivos que formam a arquitetura da pele dos vertebrados (DIETER, 2005). Para a pele, de acordo com Weissman, apud DIETER, 2005) caracterizam-se três tipos principais de lesões: a) lesão superficial: quando atinge somente o epitélio sem comprometer a camada basal da derme, existe epitelização por deslocamento das células sem resultar em cicatriz; b) lesão profunda: constituída por ferida incisa limpa com perda inapreciável de tecido, mínima hemorragia, ausência de infecção e com bordas bem justapostas; c) lesão aberta: com perda de substância, com ou sem infecção, bordas irregulares com ou sem justaposição, havendo preenchimento do espaço por uma massa de vasos e células neoformadas que constitui o tecido de granulação com posterior reorganização e conversão em tecido fibroso. Na busca de adaptação às condições adversas descritas a construção da resposta de cicatrização ocorre em três fases: inflamatória, proliferativa e de remodelação. Dentro destas fases desenvolve-se uma série de eventos coordenados que podem ser identificados na fase inflamatória: hemostasia, quimiotaxia leucocitária, diapedese, fagocitose e liberação de fatores de crecimento. Já na fase proliferativa desenvolve-se a angiogênese, proliferação fibroblástica e epitelização. Na continuidade deste processo há intensa atividade dos fibroblastos com produção de matriz extracelular, colágeno e glicosaminoglicanas. A condição estabelecida pela fase anterior permite que ocorra a contração com aproximação das bordas das feridas com auxílio dos miofibroblastos, permitindo a remodelação do tecido conjuntivo e aumento da resistência das fibras colágenas. Estes processos biológicos 40 resultam, finalmente, na substituição dos tecidos lesados por tecido cicatricial (RUBIN e FARBER, 2000; KUMAR et al, 2005). Em grande parte o processo de regeneração depende de fatores locais e sistêmicos como fatores do hospedeiro. Embora o tipo de ferimento, o tempo de evolução, o órgão ou tecido envolvido e as técnicas utilizadas interfiram, o processo de reparo é basicamente o mesmo, ocorrendo em todo o organismo. O conceito mais importante a este respeito é a compreensão de que a cicatrização não consiste em uma série de eventos, e sim, em uma sincronia de processos, alguns dos quais continuam por muitos anos após o restabelecimento da integridade física do tecido lesado (MANDELBAUM et al., 2003). Em termos clínicos a cicatrização pode ser classificada em primeira, segunda e terceira intenção (CONTRAN et al., 2000). A cicatrização por primeira intenção ocorre quando as bordas das feridas são deixadas unidas e há perda inconspícua de substância, a cicatrização é rápida e a cicatriz é praticamente imperceptível (BRASILEIRO FILHO, 2000). Quando ocorre perda de substância significativa, a cicatrização se processa mais lentamente (cicatrização por segunda intenção), fazendo-se necessária a formação da reação de granulação, rica em elementos vasculares e celulares, que vão se formando paulatinamente, preenchendo o vazio resultante dos tecidos perdidos. Gradativamente, à medida que se formam novas camadas de reação de granulação, as mais antigas, profundamente situadas, vão perdendo seu conteúdo em vasos, passando a predominar os fibroblastos e feixes de colágeno (BARRETO, 2008). Neste modelo não existe a sutura do ferimento, ou seja, as bordas permanecem separadas durante o processo de cicatrização. Pode-se, ainda, considerar a cicatrização por terceira intenção quando o ferimento está evoluindo por segunda intenção e sutura-se a região com o intuito de auxiliar no processo cicatricial (WEISSMAN apud DIETER, 2005). A primeira fase do processo de cicatrização, chamada de exsudativa ou inflamatória, tem início logo após o trauma primeiramente como uma reação reflexa caracterizada por vasoconstrição, havendo também formação de coágulo. Ocorre em seguida vasodilatação, tendo como conseqüência a presença de exsudato inflamatório no local da ferida composto de plasma, eritrócitos e leucócitos, atuando no sentido de eliminar da área da lesão microrganismos e os componentes do tecido lesado, sendo uma expressão orgânica do tecido e de sua microcirculação na tentativa de suplantar a agressão sofrida (FINE e MUSTOE, 2001). 41 Esta fase também é caracterizada pela presença de dor, calor, rubor e perda da função. Os mediadores vasoativos (histamina, serotonina, bradicinina, prostaglandina e óxido nítrico) são provenientes de fontes plasmáticas e celulares, sendo produzidos nos locais das lesões por diversos mecanismos (Figura 1.5). Há a constituição do edema pela ação dos mediadores que alteram a permeabilidade capilar, havendo extravasamento de líquido para o espaço extravascular. A formação do mesmo é potencializado pela vasodilatação das arteríolas e a concomitante vasoconstrição das vênulas pós capilares, havendo elevação da pressão hidrostática no leito capilar, bem como, pela ligação dos mediadores vasoativos com receptores específicos das células endoteliais que resulta em contração celular e formação de gap (lacuna) por onde, também, ocorre extravasamento de líquido (RUBIN e FARBER, 2000). LESÃO TECIDUAL Produção de Mediadores inflamatórios Mediadores Vasoativos DERIVADOS DO PLASMA Coagulação Sistema fibrinolítico Ativação do fator de Hageman DERIVADOS DAS CÉLULAS Desgranulação do mastócito/basófilo Produção de degradação da fibrina Plaquetas Sistema calicreína cinina Ativação do sistema complemento Cinina Células inflamatórias C3a, C5a Endotélio Histamina Serotonina Fator ativador das plaquetas Prostaglandinas Leucotrienos Óxido nítrico Fator ativador das plaquetas Prostaglandinas Aumento da permeabilidade vascular EDEMA Figura 1.4 Mediadores vasoativos de origem plasmática e celular As plaquetas, leucócitos polimorfonucleares, células endoteliais, mastócitos teciduais, basófilos, monócitos/macrófagos, bem como, o tecido lesado são fontes celulares de mediadores vasoativos. Estes podem estar pré-formados e armazenados em grânulos citoplasmáticos a exemplo da histamina e da serotonina. As prostaglandinas, leucotrienos, 42 tromboxanos e o fator ativador plaquetário são derivados do metabolismo dos fosfolipídeos ou do ácido araquidônico não estando pré formados (Figuras 1.5 e 1.6). A produção alterada de reguladores normais da função vascular também pode ser responsável pela produção de mediadores vasoativos (RUBIN e FARBER, 2000, DIETER, 2005). LESÃO TECIDUAL Produção de Mediadores inflamatórios Fatores Quimiotáticos FATORES QUIMIOTÁTICOS • C5a •Produtos da lipoxigenase: LTB4 •Quimiocinas Recrutamento e estimulação das células inflamatórias INFLAMAÇÃO AGUDA •PMN •Plaquetas •Mastócitos INFLAMAÇÃO CRÔNICA •Macrófagos •Linfócitos •Plasmócitos Figura 1.5. Mediadores quimiotáticos da resposta inflamatória. 43 Fosfolipídeos da membrana Fosfatidilcolina Fosfatidilinositol P2 Fosfatidilipase C Diacilglicerol Costicosteróide INIBIÇÃO Fosfatidilipase A2 Diacilglicerol lipase Ácido Araquidônico Aspirina Indometacina INIBIÇÃO Via da cicloxigenase Prostaglandinas Via da Lipoxigenase Tromboxanos Novos agentes farmacológicos? Leucotrieno Figura 1.6. Fases envolvidas na produção de mediadores inflamatórios pela via do ácido araquidônico. O fator de agregação plaquetária é produzido por todas as células inflamatórias ativadas, células endoteliais e teciduais lesadas. Quando disponíveis ativam a musculatura lisa vascular, estimulam células endoteliais, monócitos/macrófagos, neutrófilos e as plaquetas. Atuam induzindo a agregação plaquetária e a desgranulação, incrementando a produção de serotonina, promovendo, assim, alteração da permeabilidade vascular, além do próprio fator ser um vasodilatador extremamente potente (Figura 1.7) (ROBBINS et al., 1995; CORSI et al., 1995; RUBIN e FARBER, 2000). Os mediadores vasoativos também podem ser derivados do plasma que possui três mecanismos zimógenos em cascata (coagulação, geração de cinina e sistema complemento) que podem ser ativados a partir da constituição da lesão. Estes mecanismos em conjunto levam, também, a produção de substâncias vasodilatadoras como a bradicinina, uma das cininas com maior atividade vasoativa. As anafilotoxinas, decorrentes da ativação do sistema complemento, além de colaborarem com a atividade vascular, atuam na defesa do hospedeiro, pois constituem parte integrante do sistema imunológico. O sistema complemento colabora também com a produção de quimioatrativos de leucócitos, incrementa a fagocitose leucocitária e promove a lise celular, sendo indispensável no processo inflamatório (RUBIN e FARBER, 2000). 44 A segunda fase da resposta inflamatória que ocorre logo depois da instauração dos fenômenos vasculares é o recrutamento celular. Por ação de fatores quimiotáticos, os neutrófilos que realizam fagocitose apresentam-se ao local da lesão, atuando no controle da infecção, destruindo bactérias e promovendo a lise de tecido desvitalizado. A marginalização de leucócitos, que se caracteriza pela presença dos mesmos na região periférica do vaso em contradição ao fluxo normal que ocorre com células no centro do vaso e a periferia clara rica em plasma, ocorre em virtude da resposta a exposição dos leucócitos aos fatores quimiotáticos e a lentificação do fluxo sanguíneo em decorrência da vasodilatação (CORSI et al., 1995; DIETER, 2005). Após o processo de marginalização é desencadeada a adesão das células ao endotélio por ação inicial de duas glicoproteínas: selectinas e adressinas. A “desaceleração” inicial dos leucócitos é seguida de “rolagem” com posterior fixação ao endotélio proporcionado pelas -integrinas, fazendo com que os leucócitos migrem para o local da inflamação. Participam deste processo duas outras glicoproteínas, a fibronectina e a laminina modulando a ligação entre as células fagocitárias e as paredes celulares. Em conjunto, a expressão local coordenada pelo fator de agregação plaquetária, moléculas de adesão e quimiocinas na superfície das células endoteliais resultam no acúmulo local de leucócitos e plaquetas, o que pode ocasionar redução do fluxo sanguíneo e redução da perfusão tecidual (RUBIN e FARBER, 2000). Gradualmente os neutrófilos diminuem em número e são substituídos por outras células do sistema de defesa. A infiltração pelos macrófagos, que continuam o processo da fagocitose iniciado pelos neutrófilos é um componente importante da inflamação crônica. Os macrófagos produzem e liberam fatores como as monocinas, que controlam a formação do tecido de granulação, influenciam a angiogênese, estimulam a proliferação celular mesenquimal e a migração e proliferação dos fibroblastos, produzem enzimas proteolíticas que digerem fibrina e o colágeno desvitalizado, removem neutrófilos dando lugar a proliferação celular (BARRETO, 2008). Os linfócitos, plasmócitos e eosinófilos são responsáveis pela resposta imune aos antígenos invasores, sendo requisitados no processo de cicatrização e estão presentes em grande número principalmente na inflamação crônica. As inflamações aguda e crônica podem ser consideradas as extremidades de um processo contínuo e dinâmico no qual as características morfológicas dessas respostas inflamatórias freqüentemente se sobrepõem, sendo que a duração e a intensidade da resposta são sinais importantes na avaliação da severidade e de possíveis fatores que venham interferir na cicatrização ( DIETER, 2005; CORSI et al., 1995 apud BARRETO, 2008). Analisadas tais considerações, o desencadeamento da fase inflamatória leva a formação de um exsudato rico em fibrina, sendo que as células fagocitárias se 45 responsabilizam pela retirada de células mortas, bactérias e material que se acumulou após a lesão, permitindo a instauração dos mecanismos de substituição do tecido necrótico por uma série de eventos que evoluem de mecanismos de contração para reparação e finalmente regeneração, sendo que os três mecanismos são operados simultaneamente (RUBIN e FARBER, 2000). A fase proliferativa pode ser caracterizada por intensa presença de tecido de granulação que é formado por tecido conjuntivo ricamente vascular com presença de capilares novos, fibroblastos abundantes e número variável de células inflamatórias. As células do tecido conjuntivo têm a capacidade de se multiplicarem para regenerar o tecido destruído, pois esse tipo de tecido é dotado de grande capacidade de regeneração, constituindo as cicatrizes (STITES et al, apud DIETER, 2005). Nesta etapa os fibroblastos são requisitados e sintetizam as fibras colágenas e elásticas, as glicoproteínas e as proteoglicanas da matriz extracelular. Estes apresentam citoplasma rico em retículo endoplasmático rugoso e aparelho de Golgi desenvolvido. Há, também, o fibrócito, uma célula menor que o fibroblasto e que diante ao estímulo da cicatrização pode reassumir a estrutura do fibroblasto, desempenhando função bem definida (RUBIN e FARBER, 2000, DIETER, 2005; BARRETO, 2008). A neoformação vascular (angiogênese) inicia-se 42 a 72 horas após a lesão do tipo ferida, durando vários dias, sendo estimulada pelos macrófagos que fazem uma interação com os tromboxanos e as prostaglandinas produzindo o fator angiogênico (quimiotático) que atrai as células meso e endoteliais. As células endoteliais formam vacúolos que se juntam formando uma luz, arborizam-se e anastomosam-se com surgimento de um novo leito capilar. Estes capilares tendem a se projetar na superfície da ferida como grânulos vermelhos minúsculos originando assim o nome do tecido. Porções do novo leito capilar diferenciam-se em arteríolas e vênulas (RUBIN e FARBER, 2000; KUMAR et al., 2005). A presença de fibroblastos ativados aparece dois a três dias após a lesão, sendo que de quatro a cinco dias se tornam aptos a produzirem componentes da matriz extracelular, fibronectina, ácido hialurónico, proteoglicanos e colágeno tipo I e III. A pele normal e a cicatriz madura contem colágeno do tipo I e II, com predomínio do tipo I, já o tecido de granulação é amplamente composto por colágeno tipo III. Os fibroblastos alinham-se em ângulo reto em relação a arcos vasculares recém formados, se movem na ferida ao longo da matriz extracelular, sendo que as primeiras fibras de colágeno produzidas preenchem rapidamente o espaço da ferida com feixes orientados ao acaso, que aumentam gradativamente dando origem a uma estrutura densa e consistente que une firmemente os tecidos lesados (RUBIN e FARBER, 2000). Neste processo participam ativamente os miofibroblastos que são células com morfologia semelhante ao do fibroblasto, porém com quantidade de actina e de miosina 46 maiores, com característica intermediária entre fibroblastos e a célula muscular lisa. Estes existem no tecido conjuntivo com a finalidade de auxiliar no fechamento dos ferimentos pela contração das bordas das feridas abertas (HUPP, apud BARRETO, 2008). A reorganização do citoesqueleto, gerada por força contrátil dos fibroblastos, miofibroblastos e outras células, leva ao estabelecimento da etapa seguinte, fase cicatricial propriamente dita, ocorrendo, também, epitelização da superfície. A proliferação das células epiteliais ocorre até que haja justaposição dos botões epiteliais e formação de camadas subseqüentes. Este processo é importante, pois o epitélio oferecerá ao organismo uma dupla proteção contra a perda de fluídos, eletrólitos e proteínas e contra a penetração de agentes infecciosos (RUBIN e FARBER, 2000; KUMAR et al., 2005). Com a progressão da formação da cicatriz há um acúmulo de colágeno, sendo que a força tênsil da ferida continua aumentando durante muitos meses após o teor de colágeno ter alcançado o seu pico. De acordo com o amadurecimento do processo de cicatrização há o aumento da formação de ligações cruzadas de colágeno e o tecido granulado vai se transformando em uma cicatriz pálida e avascular, porém com ganho de maior resistência mecânica. A remodelação da cicatriz normalmente se inicia por volta da terceira semana após o trauma e persiste por meses ou anos (CORSI et al., 1995; DIETER, 2005). Pela participação da homeopatia desde a sua sistematização nos cuidados prestados ao restabelecimento e manutenção da saúde, pode-se encontrar dentre os medicamentos utilizados nesta terapêutica, alguns destinados a auxiliar no processo de cicatrização. Delphinum staphysagria é um vegetal que compõe o conjunto de medicamentos homeopáticos utilizados, entre outras finalidades terapêuticas, para este propósito. Este vegetal, originário da região do mediterrâneo, cresce em locais sombrios e frescos e é conhecido desde a antiguidade pelos gregos e romanos, sendo popularmente conhecido como “Albarraz”, “Coca piojera”, “Estafisagria”, “Mata piojos”, “Yerba piojera” e “Erva de piolho” (SOARES, 2000). O extrato vegetal é produzido a partir das sementes secas e maduras (SOARES, 2000), sendo que o extrato bruto apresenta características tóxicas e no passado foi empregado para provocar vômitos e diarréia (LOCKIE e GEDDES, 1997). A Delphinum staphysagria pertence a família das Ranunculaceae e entre sua sinonímia encontra-se denominações como Delphinum platani folio Tourn, Staphys agria Bauh, Staphysagria macrocarpa Spach. O vegetal apresenta como característica flores azuis que aparecem agrupadas em ramos terminais (Figura 1.7). Os frutos são cápsulas que possuem as sementes, nas quais se encontram flavonóides destacando-se a delfinidina. Esta substância apresenta sabor amargo e pode causar a morte por asfixia. O extrato de suas sementes é utilizado 47 popularmente para combater piolhos, havendo utilização na medicina como antineurálgico (VIJNOVSKI, 1978). Na Homeopatia foi experimentada no homem são por Hahnemann. De acordo com a matéria médica descreve os sintomas mentais produzidos pelo medicamento, além de apresentar sua patogenesia geral e específica sobre o organismo do experimentador, fornecendo as informações necessárias para seu emprego clínico. Apresenta proeminentes sintomas mentais que se manifestam em conseqüência dos sentimentos e emoções reprimidas. Nos sintomas gerais aparece como o principal medicamento das feridas cortantes, acelerando a cura e a reabsorção do sangue extravasado. Também é utilizado para alívio de dores, possuindo ação efetiva no pós-operatório. Estas observações justificam a sua utilização em feridas cirúrgicas dolorosas e de difícil cicatrização que se observa na clínica homeopática (LOCKIE e GEDDES, 1997; VANNIER, 1987; VIJNOVSKI, 1978). Por ser um extrato tóxico e não utilizado na alopatia é um vegetal pouco explorado pela literatura científica. Figura 1.7. Aspectos botânicos da Delphinum staphysagria Para a produção das dinamizações homeopáticas primeiramente é produzida uma tintura mãe por maceração ou percolação com as sementes do vegetal, que é o ponto de partida para as diluições seguidas de sucussões, caracterizando a dinamização. Sua tintura resulta em material amarelo pálido com odor característico e teor alcoólico entre 60 e 70% (FONTES, 2005). 48 1.3 Referências ABUD, A. P. 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No bioensaio foram utilizadas ratas Wistar, tratadas com salina (controle negativo), Nux vomica 30cH (grupo teste), omeprazol ou cimetidina (controles positivos). Os medicamentos foram administrados por via oral por 3 dias na dose de 10,0 mL/Kg para o medicamento homeopático, 100 mg/ Kg para cimetidina e 30 mg/Kg para o omeprazol. O controle negativo recebeu 3,0 mL de salina. No segundo dia a alimentação foi suspensa e no terceiro dia, após 30 minutos da administração dos medicamentos, 1,0 mL de etanol foi administrado, seguindo o sacrifício 1 hora após. O cálculo do índice de lesões ulcerativas (ILU) foi realizado por dois métodos diferentes. Os resultados do medicamento homeopático em relação à salina foram estatisticamente diferentes, apresentando índice de inibição de lesões gástricas entre 58 a 67%, valores similares aos encontrados no controle positivo (cimetidina). Os achados histomorfológicos foram coerentes com os resultados macroscópicos. Os resultados encontrados para o medicamento foram promissores, demonstrando que a Nux vomica 30cH apresenta potencial efeito gastroprotetor. Palavras-chaves: Gastroproteção, homeopatia, Nux vomica. 64 EVALUATION OF ACTIVITY CITOPROTECTION THE HOMEOPATHIC MEDICINE Nux Vomica (Strychnos nux vomica L.) 30cH Abstract The Strychnos nux vomica L. has been used due its properties under the digestive tract. The objective of this work was to evaluate the gatroprotective activity of this plant as homeopathic medicine spurred at 30cH under gastric lesions produced by ethanol. These injuries are common nowadays and the main factors involved in the etiology of this disease is alcohol consumption, smoking, inadequate diet, use of non-steroidal anti-inflammatory and the presence of Helicobacter pylori (Hp). In the bioassay, were used Wistar female rats, treated with saline (negative control), Nux vomica 30cH (test group), omeprazole or cimetidine (positive control). The drugs were administered orally for 3 days at the dosis of 10.0 mL/Kg for the homeopathic medicine, 100 mg/Kg for cimetidine and 30 mg/kg for omeprazole. The negative control received 3.0 mL of saline. On the second day the feed was suspended and the third day, 30 minutes after the administration of medicines, 1.0 mL of ethanol was administered, following the sacrifice 1 hour latter. The calculation of the ulcerative index lesions (IUL) was performed by two differents methods. The results of homeopathic medicine compared to saline group were statistically differents, presenting index of gastric lesions inhibition between 58 to 67%, similar to those found in the positive control (cimetidine). The histomorphological findings were consistent with the macroscopic results. The results for the drug have been promising, showing that the Nux vomica 30cH shows potential gastroprotective effect. Keywords: Gastroprotective, homeopaty, Nux vomica. 65 2.1. INTRODUÇÃO A avaliação de vegetais com atividade gastroprotetora possui significativa importância, pois as lesões gástricas representam um problema global muito comum atualmente. Uma parte considerável da população mundial apresenta úlcera ativa em alguma fase da vida, atingindo 8 a 10% da população dos países industrializados sem distinção de grupos éticos ou distribuição sexual. Nos Estados Unidos há um número elevado de internações e gastos com doenças digestivas, sendo que as úlceras pépticas possuem lugar de destaque. Em 2004 foram gastos 3118,6 milhões de dólares entre custos diretos e indiretos para os cuidados destinados a esta doença (FERREIRA, 2005; EVERHART e RUHL, 2009). A úlcera é considerada uma lesão profunda e benigna da mucosa gástrica ou duodenal, ocorrendo de forma aguda ou crônica quando o epitélio gástrico é exposto às secreções gástricas (CALAM e BARON, 2001; BARRETO, 2008). Tanto as úlceras localizadas no estômago quanto as do duodeno são referidas como úlcera pépticas (ABITBOL, 2005). Independente de sua etiologia é aceito que esta doença se estabelece quando é rompido o equilíbrio entre os fatores agressivos (secreção gástrica de ácido, pepsina, infecção por Hp) e os de defesa da mucosa (fluxo sanguíneo, muco, HCO3, secreção, prostaglandinas, etc.) (JAINU e DEVI, 2006; UMAMAHESWARI et al., 2007). A atividade gastroprotetora de produtos naturais vem se concretizando como uma promissora linha de pesquisa em distintos centros de investigação científica do mundo. Dentro deste universo, a avaliação de vegetais com possível atividade gastroprotetora tem reafirmado o conhecimento tradicional em relação aos efeitos clínicos positivos de diversas espécies vegetais frente às lesões gástricas (OTOFUJI et al. 2003; VINAGRE, 2005; CASTILLO-JUAREZ et al., 2007; UMAMAHESWARI et al., 2007). No Brasil, a utilização e a necessidade de estudos de produtos naturais foram reforçadas após a aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema de Único se Saúde (SUS) que viabiliza o emprego destes recursos terapêuticos pela população de maneira geral (BRASIL, 2006). A farmacoterapia empregada para controlar a úlcera gástrica, geralmente é dirigida à redução dos fatores de agressão, promovendo a diminuição da secreção ácida com a utilização de antagonistas de receptor H2, (cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina) inibidores de H+,K+-ATPase (bomba de prótons – omeprazol, lansoprazol, pantoprazol, 66 rabeprazol e esomeprazol), antiácidos, antibioticoterapia asssociada quando existe a presença de Hp e o uso de sucalfrato, bismuto coloidal e misoprosol que são agentes gastroprotetores (BANDHOPADHYAY et al.,2002; WOLFE e SACHS, 2000; JAINU e DEVI, 2006). Apesar destes fármacos serem considerados bem tolerados, o uso disseminado e por tempo prolongado como normalmente requer a terapêutica com estes fármacos tem permitido um acúmulo de informações que revelam a presença de efeitos colaterais. Os inibidores da bomba de prótons podem participar de interações com outros fármacos interferindo negativamente na ação terapêutica dos mesmos. Estudos recentes indicam um risco aumentado para o desenvolvimento de câncer gástrico após o uso prolongado dos inibidores da bomba de prótons (SOUSA et al., 2002; MARCOLIN et al., 2004; Ue et. al , 2007). Existem experiências positivas com pesquisas que apontam a ação do medicamento homeopático em processos inflamatórios, antinoceptivos, estimulando a atividade do sistema imunológico, a cicatrização, entre outras possibilidades de atividade farmacológica (AQUINO e MÜELLER, 2000; BONAMIN, 2001; MACÊDO et al, 2004; ABUD, 2005; DIETER; 2005). Dentre as plantas medicinais, as sementes da Nux vomica (Strychnos nux vomica L.), apresentam potencial terapêutico no tratamento de úlceras gástricas quando manipulada como medicamento homeopático. É uma planta medicinal da família das Loganiaceae, contendo como princípios ativos alcalóides (estricnina, brucina, vomicina, colubrina), ácido sulfúrico e taninos (VANNIER e POIRER, 1987; SOARES, 2000). Em relação aos estudos experimentais sobre a efetividade terapêutica com produtos naturais de origem vegetal, a prática com medicamentos homeopáticos ainda é pouco numerosa, sendo os principais restritos ao âmbito epidemiológico e clínico (VIKSVEEN, 2003). Desta forma o objetivo do presente trabalho foi avaliar a ação gastroprotetora da Nux vomica, em modelo in vivo tradicionalmente utilizado para fármacos alopáticos, utilizando o etanol como agente agressor. 2.2. MATERIAL E MÉTODOS 2.2.1. Soluções Ultradiluídas (diluição centesimal 30cH) O medicamento Nux vomica 30cH foi obtido utilizando a metodologia clássica para produção das dinamizações homeopáticas pelo Método Hanemanniano para substâncias solúveis. O ponto de partida foi o medicamento dinamizado na 29cH para a produção da 67 diluição 30cH. A matriz 29cH foi diluída obedecendo a escala centesimal, com desconcentração da ordem de 1:100. O veículo utilizado nas diluições foi água destilada e volume preparado a cada diluição foi de 10 mL. Após a diluição, a solução formada foi sucussionada 100 vezes por processo manual. Todo o procedimento foi realizado de acordo com a metodologia descrita na Farmacopéia Homeopática Brasileira (1997). 2.2.2. Animais Foram utilizadas 24 ratas Wistar do Biotério da Universidade Tiradentes - UNIT, com idade de três meses, pesando entre 250 e 300 g. Os animais receberam ração padrão Labina® e água ad libitum, mantidos em gaiolas em grupos de seis animais identificados e separados por grupo experimental. As recomendações da Lei Nacional no. 6.638 de 5 de novembro de 1979, para manuseio científico de animais foram respeitadas, e o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIT através do parecer consubstanciado número 250608. Os animais foram divididos em quatro grupos denominados de controle salina (GCSal), tratado com Nux vomica 30cH (GTNux), controle cimetidina (GCCim) e controle omeprazol (GCOmp). 2.2.3. Administração dos medicamentos e indução das úlceras por etanol A administração do medicamento foi realizada por via oral através de gavagem, sendo administradas doses diárias durante 3 dias, conforme descrito na tabela 2.1. Tabela 2.1. Esquema de dose empregado nos diferentes grupos Grupo GCSal Medicamento Salina Dose 10 mL/Kg GTNux Nux vomica 30cH 10 mL/Kg GCCim Suspensão aquosa 100 mg/Kg GCOmp Xarope 30 mg/Kg No segundo dia de administração do medicamento, a alimentação dos animais foi retirada e no terceiro dia, o medicamento foi administrado 30 minutos antes da indução da úlcera por etanol. A úlcera foi induzida por via oral com 1 mL de etanol absoluto. Após uma hora de administração do etanol, os animais foram sacrificados e os estômagos retirados para contagem das lesões e cálculo do índice de lesões ulcerativas (ILU). 68 2.2.4. Índice de lesões ulcerativas (ILU) O índice de lesões ulcerativas foi calculado segundo dois métodos. O ILU proposto por GAMBERINI et al. (1991) (método A) foi calculado pela somatória dos escores definidos segundo parâmetros expostos na tabela 2.2. Tabela 2.2. Parâmetros para cálculo do ILU segundo Método A Parâmetro Número de petéquias Limites Até 10 Até 20 Até 30 Escore (pontos) 1 2 3 Número e dimensão das úlceras de até 1 mm maiores que 1 mm Hemorragia Ausente Presente 0 1 Perda das pregas gástricas Ausente Presente 0 1 Perda da coloração Ausente Presente 0 1 *n x 2 *n x 3 *n= número de lesões encontradas O cálculo da porcentagem de inibição das lesões ulcerativas foi realizado pela equação 1. % de inibição das lesões = (Média controle negativo – média tratado) x 100 (Eq.1) Média controle negativo De acordo com SZELENYI e THIEMER (1979) (Método B), o ILU foi calculado levando-se em consideração a classificação descrita na tabela 2.3 e a equação 2. Tabela 2.3. Parâmetros para cálculo do ILU segundo Método B. Classificação da lesão Parâmetro avaliado Nível 1 pontos hemorrágicos < 1mm Nível 2 úlcera de 2 mm de extensão Nível 3 úlceras profundas de 3 mm de extensão ILU = Σ (lesões de nível 1) + (lesões de nível 2 X 2) + (lesões de nível 3 X 3) (eq. 2) 69 O cálculo da porcentagem de inibição das lesões ulcerativas foi realizado utilizando também a equação 1. Os resultados foram submetidos a Análise de Variância (ANOVA) seguido por teste de Dunnet e Tukey no programa Statistica 7.0. Foram considerados valores estatisticamente significativos aqueles que apresentaram p<0,05. 2.2.5. Avaliação histopatológica Após avaliação macroscópica, os espécimes foram acondicionados em recipientes contendo formol a 10% para fixação. Decorrido o período de 24h, as peças foram seccionadas transversalmente, desidratadas em álcool, diafanizadas em xilol e incluídas em parafina em forma de blocos. Os blocos foram seccionados em micrótomo (American Optical®) e obtidos cortes com 5 μm de espessura. De cada animal foi confeccionada uma lâmina com cerca de 3 secções cada, as quais foram submetidas a coloração Hematoxilina/Eosina e observadas em um microscópio óptico (ZEISS, AXIOLAB®). Foram observadas as características das mucosas gástricas e descritas as alterações patológicas encontradas, tais como áreas de necrose, preservação da mucosa e áreas de hemorragia. 2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A mucosa gástrica possui mecanismos de defesa contra substâncias endógenas (ácido clorídrico, pepsina e bile) e também contra agressores externos, tal como o etanol. Os mecanismos de defesa envolvem a produção de muco, fluxo sanguíneo na mucosa gástrica, secreção de bicarbonato, produção endógena de glutationa e prostaglandina. A formação da lesão ocorre quando existe uma sobreposição dos estímulos irritantes em relação aos mecanismos de proteção. A ingestão de etanol além de alterar os mecanismos de defesa, ainda pode aumentar a liberação de histamina, o influxo de íons cálcio, gerar radicais livres e alterar a produção de leucotrienos (ANDRADE et al., 2007). Os resultados da avaliação citoprotetora de Nux vomica segundo o ILU métodos A e B estão descritos na tabela 2.4. Todos os animais tratados com medicamento (alopático ou homeopático) apresentaram valores de ILU diferentes do controle negativo (salina). Esta observação deve-se a instauração de um desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e os agentes agressores, que ocorreu quando os animais em jejum durante 24 horas foram submetidos a ingestão de etanol absoluto. O GCSal apresentou uma maior intensidade de lesões, devido provavelmente a depleção do muco, alterações na permeabilidade e 70 produção de radicais livres pelo etanol (TWARDOWSCHY et al., 2008; ANDRADE et al., 2007). Tabela 2.4. Valores médios relativos ao ILU e porcentagem de inibição calculados pelos métodos A e B Tratamento Método A Salina Hemorragia intensa, presença de lesões 14,8±4,4a Nux vomica Hemorragia superficial, presença de lesões 6,2±1,2b Omeprazol Ausência de hemorragia e lesões 0,2±0,4c Cimetidina Hemorragia leve, presença de lesões 4,8±3,0b Método B 9,3±5,1a 3,0±1,1b 0,0±0,0b 2,0±1,6b Método A ------ 58,17 98,84 30,76 Método B ------ 67,57 100,00 69,23 Aspecto da mucosa ILU Inibição LU (%) *Letras diferentes na mesma linha representam valores estaticamente diferentes (p<0,05). No grupo GCSal, foram evidenciadas extensas e pouco espaçadas áreas de alterações histomorfológicas do tecido epitelial de revestimento gástrico (Figura 2.1 a1), representadas por edema intersticial moderado e hemorragia profusa estendendo-se desde o terço profundo ao superficial do epitélio, associada a marcante exsudação serosa (Figura 2.1 a2); além disso, evidenciou-se áreas extensas de proeminente eosinofilia do terço epitelial superior, acompanhada de perda de limites citoplasmáticos e picnose nuclear, achados consistentes com necrose fibrinóide do epitélio foveolar (Figura 2.1 a3). Verificouse, ainda, discreto edema e alguns vasos hiperemiados na mucosa e submucosa. Ressaltase que mesmo em áreas de maior preservação da estrutura do tecido epitelial observou-se a presença de focos hemorrágicos e hiperemia, embora de leve intensidade. A ingestão de etanol produz lesões hemorrágicas, edema submucoso, friabilidade da mucosa, infiltração de células inflamatórias e perda de células epiteliais do estômago (GOMES et al., 2009). Os grupos submetidos ao tratamento medicamentoso antes da ingestão do etanol apresentaram mucosa mais íntegra em decorrência da ação protetora promovida. No grupo GCCim a inibição da secreção gástrica ocorreu em virtude da ação da cimetidina atuar como antagonista dos receptores H2 (GUIMARÃES et al., 2006). O omeprazol utilizado no GCOmp também promoveu a inibição da secreção gástrica de maneira efetiva, pois interferiu na atividade da bomba de prótons, agindo irreversivelmente sobre sua função (BRUNTON, 2007). Desta maneira, os medicamentos utilizados como controle 71 positivo apresentaram uma evidente ação gastroprotetora, sendo que o omeprazol apresentou resultados mais efetivos. O medicamento homeopático testado, assim como a cimetidina apresentaram diferença significativa em relação ao omeprazol no ILU calculado pelo método A (p=0,0028 e 0,0198 respectivamente). Porém quando o cálculo foi realizado segundo método B foi observado que a Nux vomica 30cH e a cimetidina não apresentaram diferença significativa no ILU em relação ao omeprazol (p=0,1439 e 0,4525 respectivamente). Os resultados do medicamento homeopático comparado a cimetidina foram estatisticamente semelhantes quando avaliados pelos métodos de A e B apresentando p=0,7855 e p=0,8735 respectivamente, indicando potencial efetividade como protetor gástrico. O GCcim apresentou mucosa gástrica mais preservada que o GCsal., porém com aspecto similar aos achados histomorfológicos das secções do GTNux. No GCcim foi identificado áreas de exulceração secundárias com aumento expressivo da eosinofilia citoplasmática, perda parcial dos limites celulares, além de distinta picnose nuclear que são alterações sugestivas de instalação de um possível quadro de necrose. Presença de intensa hiperemia entre as glândulas fúndicas (Figura 2.1a) e hemorragia na profundidade do epitélio (Figura 2.1b). Na lâmina própria foi observada infiltração leucocitária mononuclear moderada e pontos hemorrágicos (Figura 2.1b). Nas áreas mais preservadas da mucosa gástrica, o epitélio foveolar se apresentou substituído por reação inflamatória crônica (Figura 2.1c), com as porções profundas bem preservadas, porém com leve predominância de células inflamatórias crônicas na lâmina própria (Figura 2.1d). 72 Figura 2.1 - Avaliação histomorfológica: (a) GCSal, (b) GTNux, (c) GCOmp e (d). GCcim (1); Avaliação histomorfológica: aumento 100x (2 e 3); aumento 400x Legenda: Exs:exsudato seroso. Hm: hemorragia; Hp: hiperemia; Ed: edema; NF: eosinofilia compatível com necrose fibrinóide. No grupo GTNux, as áreas de alterações histomorfológicas do epitélio gástrico foram menos extensas e substancialmente mais espaçadas que no grupo controle GCsal (Figura 2.1 b2); verificou-se a presença de edema intersticial moderado, particularmente na superfície do tecido epitelial (Figura 2.1 b3), além de hemorragia em grau moderado e hiperemia, muitas vezes limitadas ao terço profundo (Figura 2.1 b4). Focos de alteração eosinofílica compatíveis com necrose fibrinóide foram pouco evidentes. Na mucosa, observou-se a presença de vasos hiperemiados e, na submucosa, edema moderado e focos hemorrágicos. As áreas de preservação da estrutura epitelial foram bastante extensas, e mostraram escassos e pouco representativos hemodinâmicos. 73 sinais morfológicos de distúrbios No grupo GCOmp, não foram evidenciadas alterações na estrutura histomorfológica da parede epitelial, mucosa e submucosa gástricas, se mostrando compatíveis com a normalidade (Figuras 2.1 c2, c3 e c4). Para o medicamento homeopático não se pode, ainda, justificar a atividade gastroprotetora encontrada como uma ação específica, se a mesma controla mecanismos agressores ou estimula ações protetoras. A Nux vomica possui atividade terapêutica gástrica relatada, bem como, pronunciada ação tóxica que é um fator limitante para a sua utilização segura (MAAS, 1993; YIN et al., 2003). Sua avaliação na forma de medicamento homeopático confirmou sua potencialidade na terapia gastroprotetora. A diluição favorece sua segurança como medicamento e sua aplicação em lesões promovidas por etanol demonstram atuar baseada no princípio da semelhança, elemento norteador da prática clínica homeopática. A maior objeção médica para a homeopatia é o elevado nível de diluição dos medicamentos homeopáticos. As dinamizações acima de 12cH apresentam-se com concentrações abaixo do número de Avogrado indicando ausência das moléculas da substância original (FRYE, 2003). Entretanto, ensaios biológicos envolvendo animais e vegetais tem demonstrado respostas positivas frente aos desafios propostos (CAVALCANTI et al., 2007; SILVEIRA, 2008). Os resultados de gastroproteção apresentados pela Nux vomica 30cH reforçam a efetividade do medicamento homeopático agregando elementos que afirmam a ação terapêutica de substâncias diluídas a partir da interação com o meio orgânico. Em relação às divergências encontradas entre os métodos A e B, os resultados demonstraram que os critérios utilizados pelo método A consideram vários parâmetros envolvidos no processo de ulceração, permitindo a caracterização da eficácia de cada medicamento, apontando a expressão farmacológica da substância de forma mais adequada. Apesar da Nux vomica 30cH apresentar uma efetividade inferior ao omeprazol no protocolo utilizado neste trabalho, o índice de proteção do medicamento homeopático ficou entre 59 e 67%, muito próximo dos resultados obtidos pela cimetidina (Tabela 2.4). Estes dados apontam que outros protocolos com um tempo de utilização maior do medicamento homeopático devem ser testados a fim de aperfeiçoar os resultados de gastroproteção já encontrados, permitindo a utilização eficaz e segura da Nux vomica 30cH. 74 Outros protocolos devem ser desenvolvidos utilizando metodologias comumente empregadas como indução de úlcera por estresse, por uso de antiinflamatório e ligadura do piloro com o objetivo de avaliar o potencial do medicamento Nux vomica 30cH e buscar o entendimento da possível forma de atuação do medicamento. Deve-se considerar também a alteração das escalas, dinamização e métodos de preparo empregados na produção do medicamento homeopático, parâmetros estes que podem alterar a resposta biológica. Os inibidores dos receptores H , bem como, os inibidores da bomba de prótons a exemplo do omeprazol utilizado como controle positivo nos experimentos deste trabalho apesar da comprovada efetividade vem apresentando efeitos colaterais como relatado por diversos autores (MARTELLI et al., 1998; WOLFE e SACHS, 2000; LEXCHIN, 2004; JAINU; e DEVI, 2006). Neste contexto, pode-se concluir que a Nux vomica 30cH pode ser considerada um possível agente terapêutico para o tratamento de úlceras gástricas, pois se soma a sua potencialidade a necessidade de novos medicamentos que além de efetivos garantam uma terapêutica segura ao paciente. Referências ABUD, A. P. R., Ação in vitro do medicamento homeopático Canova em células de medula óssea de camundongos, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. ANDRADE, S. F.; LEMOS, M.; COMUNELLO, E.; NOLDIN, V. 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CAPÍTULO 3 - EFETIVIDADE DA Delphinum staphysagria 6cH E 30cH EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE CICATRIZAÇÃO 80 EFETIVIDADE DA Delphinum staphysagria 6cH E 30cH EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE CICATRIZAÇÃO Resumo A cicatrização caracteriza-se como um processo orgânico de restauração da lesão e desenvolve-se a partir de um complexo conjunto de reações que se iniciam pela instauração do processo inflamatório. Nas etapas posteriores ocorre o reparo da ferida com a deposição e remodelação de colágeno e a reconstituição do epitélio perdido. A cicatrização por segunda intenção é a forma de resolução adotada quando o ferimento apresenta grande extensão e a necessidade de reposição da área perdida. Na atualidade, numerosos estudos estão sendo desenvolvidos com o emprego de produtos naturais com o objetivo de encontrar um produto seguro que possa estimular o processo de cicatrização. Neste contexto, os medicamentos homeopáticos são uma opção viável para estudo, pois a Delphinum staphysagria é um vegetal utilizado em homeopatia e que possui ação positiva sobre a cicatrização de acordo com sua patogenesia. Desta maneira, o presente trabalho se propôs avaliar o efeito deste medicamento sobre a dinâmica de cicatrização por segunda intenção em um modelo experimental. O medicamento Delphinum staphysagria foi produzido nas dinamizações 6cH e 30cH, seguindo as regras da Farmacopéia Homeopática Brasileira. Os mesmos foram administrados em 72 ratos Wistar cinco dias antes do procedimento cirúrgico e cinco dias após a confecção da ferida. Os animais foram divididos em doze grupos denominados de controle (CTR/3, CTR/7, CTR/14 e CTR/21), tratado com D.staphysagria 6cH (TS6/3, TS6/7,TS6/14 e TS6/21) e D.staphysagria 30cH (TS30/3, TS30/7, TS30/14 e TS30/21). A confecção das feridas foi realizada ao quinto dia de tratamento e o acompanhamento da retração da ferida foi realizado através de medição nos tempos 0, 3, 7, 14 e 21 dias após o procedimento cirúrgico, e em seguida foram submetidos ao sacrifício. Não foi utilizado controle positivo por não existir medicamento via oral para auxiliar o processo de cicatrização. Os espécimes retirados foram emblocados em parafina e secções histológicas foram coradas em HE e Picrossírius. A avaliação macroscópica demonstrou que a melhor retração da área lesada ocorreu entre os grupos TS6 e TS30, sendo TS6 mais efetivo. De maneira geral, os grupos tratados apresentaram melhor resposta cicatricial. A reação inflamatória foi mais intensa e persistente no CTR. A reação de granulação, a angiogênese, a deposição de colágeno, a presença de fâneros cutâneos, a reepitelização foram observados em todo processo e apresentaram-se melhor constituídos e em fase sempre mais adiantadas que os grupos CTR. TS6 em todos os períodos avaliados apresentou uma resposta cicatricial mais adequada. Estes dados sugerem que os medicamentos homeopáticos Delphinum staphysagria 6cH e 30cH propiciaram melhorias importantes no processo de reparo cicatricial por segunda intenção, indicando uma importante colaboração da homeopatia no reparo de lesões. Palavra-chave: cicatrização, homeopatia, Delphinum staphysagria. 81 EVALUATION OF EFFECT of DELPHINUM STAPHYSAGRIA 6cH E 30cH ON WOUND HELING Abstract The healing is characterized as an organic process of restoration of the injury and is developed on the basis of a complex set of reactions that, beginning the introduction of the inflammatory process. In steps occurs after the repair of the wound with the deposition and alteration of collagen and reconstitution of the epithelium lost. The healing by the second is the intention of resolution adopted when the injury has great scope and need for replacement of the lost area. Currently, many studies are being developed with the job natural products with the goal of finding a safe product that can stimulate the healing process. In this context, the homeopathic medicines are a viable option for study, because the Delphinum staphysagria is a plant used in homeopathy and has positive action on the healing according to its pathogenesis. This way, this work is proposed to evaluate the effect of this medicine on the dynamics of healing by second intention in a experimental model. The drug was produced Delphinum staphysagria in dinamizations 6cH and 30cH, following the rules of the Pharmacopoeia Brazilian Homeopathic. They were administered in 72 rats five days before the surgery and five days after the making the wound. The animals were divided into twelve groups called control (CTR / 3, CTR / 7, CTR/14 and CTR/21), treated with D.staphysagria 6cH (TS6 / 3, TS6 / 7, TS6/14 and TS6/21) and D.staphysagria 30cH (TS30 / 3, TS30 / 7, TS30/14 and TS30/21). The preparation of the wounds was made the fifth day of treatment and monitoring of retraction of the wound was through measurement at 0, 3, 7, 14 and 21 days after the procedure surgical, and then were submitted to sacrifice. It was not positive control used by no oral medication for help the healing process. The specimens were removed embedded in paraffin and histological sections were stained by HE and Picrossírius. The macroscopic evaluation showed that the best retraction the injured area occurred between the groups TS6 and TS30, and more TS6 effective. Overall, the treated groups showed better healing response. The inflammatory reaction was more intense and persistent in the CTR. The reaction of granulation, the angiogenesis, the deposition of collagen, the presence of cutaneous annexes the reepithelialization were observed in any case and had made themselves better and more advanced stage when the groups CTR. TS6 in all periods evaluated presented a more appropriate response scarring. These data suggest that the homeopathic medicines and Delphinum staphysagria 6cH 30cH provided significant improvements in the repair process cicatricial by second intention, indicating a major collaboration of homeopathy the repair of injuries. Keywords: Healing, Homeopathy, Delphinum staphysagria. 82 3.1 INTRODUÇÃO O entendimento do processo de cicatrização consiste na compreensão da dinâmica da resposta celular adotada frente às agressões sofridas e que determinam à formação e a intensidade das lesões. Uma cascata de eventos celulares e moleculares é instaurada, caracterizando os fenômenos bioquímicos e fisiológicos do processo cicatricial. O desencadeamento da inflamação determina o início dos eventos de reparo e atua em defesa do organismo, proporcionando uma condição local para o desencadeamento da fase proliferativa e de remodelação. A conseqüência destes eventos deve ser a contração da ferida e a substituição do tecido lesado, garantindo a manutenção da integridade orgânica (DIEGELMANN e EVANS, 2004; DIETER, 2005, MARTINS et al., 2006; SEMENOPFF SEGUNDO et al. ,2007, BARRETO, 2008). A perda do tecido pode ocorrer de maneira superficial comprometendo apenas o epitélio ou estabelecer-se de forma intensa, podendo chegar ao tecido subcutâneo. A ferida aberta requer do organismo a formação de um novo tecido para preenchimento do espaço da lesão, tecido de granulação. Este evento irá garantir o desencadeamento das fases subseqüentes do processo cicatricial que propiciam a reposição e remodelação do colágeno, bem como, a contração da área lesada caracterizando a cicatrização por segunda intenção (BRASILEIRO FILHO, 2000). O processo cicatricial normal é influenciado por diversos fatores como a localização anatômica da ferida, tipo de pele, técnica cirúrgica utilizada, idade, raça, estado nutricional do paciente, doença de base e o uso de fármacos sistêmicos (MANDELBAUM et al, 2003). Na atualidade, sabe-se que a utilização tópica de produtos como os corticóides, antifúngicos, associações de antibióticos atrapalham a migração epidérmica se comparado ao não tratamento. Esta é uma informação que contradiz em vários momentos a prática clínica destinada aos ferimentos. A existência de grande controvérsia sobre o uso de antisépticos reforça as dificuldades em relação à cicatrização, pois existem trabalhos que revelam que os benefícios obtidos são restritos e não justificam o custo de sua aplicação (DEALEY, 2001; RIBEIRO et al., 2003). O uso de produtos naturais vem sendo discutido, neste sentido, como uma possibilidade no processo cicatricial por diversos autores (SEMENOPFF SEGUNDO et al., 2007; BARRETO, 2008). Os mesmos possuem importância significativa, pois buscam encontrar respostas as necessidades intrínsecas que deve possuir um produto para ser considerado efetivo na cicatrização de feridas. Os produtos empregados para o tratamento de feridas devem apresentar facilidade de aplicação e remoção; conforto; boa relação custo/benefício e adaptabilidade às diversas partes do corpo e são reunidos, na atualidade, em dois grandes grupos de agentes, os tópicos e os curativos. Desta forma existe o 83 estímulo para o desenvolvimento de novos produtos auxiliem na melhoria do processo de cicatrização. Entre tais recursos, estão inclusos as terapias alternativas (MANDELBAUM et al.,2003). Nesta perspectiva o emprego por via oral de um medicamento seguro que apresente como resultado terapêutico um efeito positivo no processo cicatricial é um desafio (MANDELBAUM et al.,2003; DAMANTE, 2004; MALAFAIA et al., 2006; COUTINHO et al., 2006; SANTOS et al., 2007). O medicamento de uso oral é a forma farmacêutica de escolha para a homeopatia, sendo que a Delphinum staphysagria, de acordo com sua patogenesia possui uma atividade farmacológica que permite sua prescrição dentro deste contexto, sendo utilizada para cicatrização, principalmente de feridas produzidas por objetos cortantes e de vasta extensão, sendo administrado por via oral (VIJNOVSKI, 1978/92; VANNIER, 1987; SOARES, 2000; FONTES, 2005). No Brasil, a oficialização da homeopatia como uma prática médica alternativa e a sua implantação no SUS possibilitou em 2007 a realização de 312.533 consultas médicas, Segundo informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde em Seminário da Atenção Básica. Esta realidade associada à elevada incidência e prevalência de lesões crônicas, particularmente as úlceras nos pés e pernas em portadores de diabetes aponta para a importância de um melhor preparo para lidar com esse problema, como implica maior investimento em pesquisas na busca de novos recursos com menor custo e eficácia (MANDELBAUM et al.,2003). Desta maneira, o presente trabalho propôs avaliar a efetividade do medicamento homeopático Delphinum staphysagria nas dinamizações 6cH e 30cH em ensaios biológicos de cicatrização por segunda intenção no intuito colaborar para a necessária compreensão do processo de cicatrização e contribuir com as pesquisas para o avanço do entendimento da atuação de medicamentos utilizados nas terapias alternativas. 3.2 MATERIAL E MÉTODOS Obtenção da Tintura mãe de Delphinum staphysagria. A tintura mãe (TM) utilizada nos ensaios biológicos (lote 4489) foi adquirida do Laboratório Schraibmann, São Paulo (Brasil) especializado na produção de extratos brutos vegetais. A produção do mesmo ocorre por maceração de acordo com método descrito na Farmacopéia Homeopática Brasileira (1997). 84 Soluções Ultradiluídas (diluições centesimais 6cH e 30cH): Para obtenção destas diluições foi utilizada a metodologia clássica para produção das dinamizações homeopáticas pelo Método Hanemanniano para substâncias solúveis. O ponto de partida foi a TM do vegetal. A mesma foi diluída obedecendo à escala centesimal, ou seja, a cada diluição foi realizada uma diluição na ordem de 1:100, sendo necessárias 6 e 30 diluições para a produção da D.staphysagria na 6cH e 30cH respectivamente. O veículo utilizado nas diluições foi água destilada e o volume preparado a cada diluição foi de 10 mL. Após cada diluição, a solução formada foi sucussionada 100 vezes por processo manual. Todo o procedimento de preparo foi realizado segundo a Farmacopéia Homeopática Brasileira (1997). Animais Os ensaios foram realizados utilizando 72 ratos machos Wistar do Biotério da Universidade Tiradentes - UNIT, com idade de três meses, pesando entre 250 e 300 g. Os ratos receberam ração padrão Labina® e água ad libitum, foram mantidos em gaiolas em grupos de três animais identificados e separados por grupo experimental. As recomendações da Lei Nacional nº. 6.638 de 5 de novembro de 1979, para manuseio científico de animais foram respeitadas, e o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIT através do parecer consubstanciado n. 250606. Os experimentos foram realizados no Biotério da UNIT. Os animais foram divididos em doze grupos denominados de controle (CTR/3, CTR/7, CTR/14 e CTR/21), tratado com D.staphysagria 6cH (TS6/3, TS6/7, TS6/14 e TS6/21) e D.staphysagria 30cH (TS30/3, TS30/7, TS30/14 e TS30/21). Os animais foram sacrificados em 3, 7, 14 e 21 dias após o procedimento cirúrgico. Não foi utilizado controle positivo por não existir medicamento via oral para auxiliar o processo de cicatrização. Administração dos medicamentos A administração foi realizada por via oral através de gavagem. Foram administradas doses diárias de 10 mL/Kg durante 5 dias antes da confecção das feridas, sendo mantida a mesma dosagem durante 5 dias após este procedimento. Os animais CTR receberam água destilada e os animais TS6 e TS30 receberam medicamento dinamizado na 6cH e 30cH respectivamente. 85 Procedimento cirúrgico O animais foram anestesiados com tiopental na dose de 75 mg/Kg e após atingirem plano anestésico foi realizado a tricotomia do dorso do rato de forma manual. Foi realizada a desinfecção do dorso do rato com solução de iodo-povidine a 10% (LM FARMA) e uma incisão (lâmina número 15) foi efetuada para obtenção de uma ferida com área de 1cm2 na profundidade que correspondeu a penetração da parte ativa da lâmina (BARRETO, 2008). Monitoramento macroscópico das feridas O acompanhamento da retração da ferida nos grupos estudados foi realizado nos tempos 0, 3, 7 e 14 dias. As feridas foram medidas com auxílio de um paquímetro no sentido crânio-caudal. O cálculo da diminuição do tamanho da ferida foi feito utilizando a equação 1: % retração da ferida = (Xi – Xf) * 100/ Xf (Eq. 1) na qual Xi é o tamanho inicial da ferida em mm e Xf é o tamanho da ferida em mm no tempo pré-definido. Para o sacrifício, os animais foram submetidos à nova administração de anestésico em quantidade três vezes maior àquela utilizada para anestesia, sendo constatada a morte do animal por cessação dos sinais vitais e opacificação da córnea. Foi realizada a remoção dos espécimes equivalentes à área cicatricial, deixando uma margem de tecido ao redor da mesma de 0,5 cm. A mesma foi acondicionada em frasco plástico contendo formol a 10% (tampão fosfato, pH 7,4) com volume 10 vezes maior que o da peça. Análise Estatística Os dados obtidos dos diferentes grupos foram submetidos a análise de variância (ANOVA), seguido de Tukey, onde valores de p>0,05 foram considerado resultados estatisticamente semelhantes. Procedimento histológico Após 24 horas os espécimes foram submetidos à técnica histológica convencional. Os blocos de parafina com material de coleta fixado foram montados no micrótomo, sendo obtidos cortes que foram corados com hematoxilina/eosina (HE) para avaliação das características do processo inflamação-reparo e Picrossírius para análise descritiva da deposição de colágeno. Para tanto, a deposição de fibras colágenas (fibroplasia) coradas, 86 destacadas por sua birrefringência ao exame com microscópio de luz polarizada, foram categorizadas de acordo com sua disposição e aparência. 3.3 RESULTADOS Análise macroscópica dos espécimes O acompanhamento da retração das feridas nos diferentes grupos foi realizado durante 21 dias. Foi observado que os animais tratados com o medicamento homeopático na dinamização 30cH apresentaram aumento de cerca de 20% da ferida no terceiro dia após a intervenção cirúrgica. O grupo controle também apresentou comportamento semelhante (p= 0,7309). No terceiro dia foi observada diferença significativa no tamanho da ferida entre os grupos TS6 e TS30 com valor de p=0,046. De acordo com a avaliação macroscópica, foi observado que o grupo TS6 exibiu o melhor padrão de contração da ferida em relação aos demais grupos, sendo que no terceiro dia foi evidenciado redução de 13% em relação ao tamanho inicial da ferida, enquanto que os demais grupos apresentaram evidente aumento da ferida. O grupo TS6, durante todo o experimento, apresentou maior velocidade de retração da ferida, chegando em 21 dias com cerca de 87% de retração em relação ao tamanho inicial (Figura 3.1). Figura 3.1. Perfil de retração das feridas em função do tempo no grupo controle (CTR), no grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH (TS6) e staphysagria 30 cH (TS30). 87 no grupo tratado com Delphinum CTR/3 TS6/3 TS30/3 CTR/7 TS6/7 TS30/7 CTR/14 TS6/14 TS30/1 4 CTR/21 TS6/21 TS30/2 1 Figura 3.2. Avaliação macroscópica da retração das feridas nos tempos 3 (CTR/3; TS6/3; TS30/3), 7 (CTR/7; TS6/7; TS30/7), 14 (CTR/14; TS6/14; TS30/14) e 21 (CTR/21; TS6/21; TS30/21) dias no grupo controle (CTR), no grupo tratado Delphinum staphysagria 6cH (TS6) e no grupo tratado com Delphinum staphysagria 30 cH (TS30). Nenhum dos grupos exibiu sinais clínicos de supuração, edema intersticial ou hiperemia perilesional. Aos 14 dias pode ser observado que os grupos tratados com os medicamentos homeopáticos além de apresentarem feridas de tamanhos menores, o aspecto das mesmas sugeriu uma maior resolutividade na formação da cicatriz externa (Figura 3.2). 88 Análise das secções histológicas coradas em HE A análise histomorfológica das feridas dos animais pertencentes ao grupo CTR demonstrou intensa infiltração neutrofílica superficial ao terceiro dia, edema de grande magnitude e reação de granulação incipiente, que quando presente limitava-se as bordas das feridas e região correspondente a hipoderme. Os espécimes referentes ao grupo TS6 apresentaram infiltração neutrofílica mais discreta e edema intersticial significativo em toda área da ferida, acompanhado por reação de granulação que se distribuída ao longo da lesão. Observou-se, ainda, a presença marcante de vasos capilares intensamente hiperemiados. Em TS30, por sua vez, a infiltração neutrofílica também se fez presente, porém a reação inflamatória de modo geral foi eminentemente crônica, sendo notado o predomínio de linfócitos e plasmócitos, bem como reação de granulação em fases iniciais de desenvolvimento. Em adição, destacou-se a presença de intenso edema, resultado de proeminente exsudação serosa, particularmente nas zonas mais centrais da ferida. Em nenhum dos grupos observou-se qualquer indício de reepitelização da superfície da ferida. Ao sétimo dia, todos os grupos apresentavam reação inflamatória crônica intensa. Contudo, o grupo CTR7 apresentou infiltração neutrofílica persistente na superfície da ferida, acompanhada de edema moderado nas porções mais centrais. Na área mais profunda houve formação de vasos sanguíneos hiperemiados de pequeno calibre. O grupo TS6 demonstrou ausência de reação neutrofílica na superfície e granulação exuberante em toda a extensão da ferida. Esta reação se caracterizou pela proliferação intensa de células fusiformes alongadas compatíveis com fibroblastos associada a deposição de matriz eosinofílica delicada disposta em fibrilas, consistente com colágeno imaturo. Além disso, um rico leito vascular composto por vasos sanguíneos capilares bastante dilatados e congestos pode ser observado, bem como, a persistência de discreto edema intersticial. Em TS30, por sua vez, uma reação de granulação exuberante também se fez presente, em toda a extensão da ferida; no entanto, nesta predominou a proliferação de células fusiformes volumosas, com núcleos ovóides exibindo cromatina dispersa, compatíveis com células endoteliais ativadas, associadas à abertura de vasos sanguíneos estreitados e de aspecto bastante irregular – vasos “em fenda”. Observou-se início do processo de reepitelização, mas esta ainda se apresentou bastante incipiente. Ao décimo quarto dia o grupo CTR mostrava infiltração inflamatória moderada composta principalmente de linfócitos e ocasionais plasmócitos, além de substancial presença de vasos capilares dilatados e congestos. As células fusiformes se mostravam organizadas em faixas paralelas a superfície da ferida, havendo evidente deposição de matriz hialina, de espessura variável, compatível com colágeno. Adicionalmente, apesar da 89 reepitelização estar avançada, esta ainda foi incompleta. No grupo TS6 houve infiltração apenas discreta de ocasionais linfócitos e alguns poucos plasmócitos. Células fusiformes compatíveis com fibroblastos se arranjaram em disposição paralela, seguindo o trajeto dos feixes ondulados de fibras eosinofílicas e hialinas compatíveis com colágeno. Vasos sanguíneos estavam presentes, alguns deles congestos. Pôde ser verificada a formação de numerosos fâneros cutâneos (folículos pilosos e glândulas sebáceas), especialmente nas zonas marginais da área cicatricial. Similarmente, discreta inflamação com ocasionais linfócitos e poucos plasmócitos também foi observada em TS30, assim como a disposição semelhante das células fusiformes interpretadas como fibroblastos. Além disso, verificou-se escassa densidade vascular, e desenvolvimento de fâneros cutâneos marginais, embora menos numerosos que em TS6. Observou-se, ainda, reepitelização completa da superfície da ferida tanto em TS6 quanto em TS30. Ao vigésimo primeiro dia, o grupo CTR exibiu presença de discreta vascularização, e persistência de escasso infiltrado linfoplasmocitário, particularmente nas áreas centrais da cicatriz. Observou-se, ainda, proliferação intensa de células fusiformes alongadas (compatíveis com fibroblastos), paralelamente dispostas, e deposição de feixes hialinos espessos interpretados como fibras colágenas, além de formação de anexos cutâneos nas bordas das feridas. Em TS6, observou-se ausência de infiltração inflamatória, colágeno aparentemente bem formado, e desenvolvimento abundante de fâneros cutâneos, muitos deles observados na porção central da ferida. Em TS30, a reação inflamatória foi escassa, mas linfócitos e plasmócitos foram evidenciados nas porções profundas dos espécimes. Os fâneros cutâneos se mostraram numerosos, mas se concentraram nas margens da ferida. Ressalta-se que apenas em CTR processo de reepitelização, apesar de bastante avançado, ainda se mostrou incompleto. 90 CTR/3 TS6/ 3 TS30/3 CTR/7 TS6/ 7 TS30/7 CTR/14 TS6/14 TS30/1 4 CTR/21 TS6/21 TS30/2 1 Figura 3.3 - Avaliação histomorfológica dos grupos experimentais controle (CTR) e tratados TS6 e TS30 nos tempos 3, 7, 14 e 21 dias coradas por HE. Aumento 100x e em destaque aumento 400x. Legenda: TS6: grupo tratado com D. staphysagria 6cH. TS30: grupo tratado com D. staphysagria 30cH. CTR: grupo tratado com água destilada. 91 Análise das secções histológicas coradas em picrossírius analisadas sob luz polarizada Ao terceiro dia, as fibras e fibrilas de colágeno se mostraram curtas, delgadas e delicadas, e exibiram birrefringência amarelo esverdeada. No grupo CTR, estas foram particularmente escassa em quase toda extensão da ferida, embora na profundidade, se mostrassem mais aparentes, densas e longas. Em TS6, o colágeno era mais aparente e exibia disposição ora paralela ora reticular, mas mantinha a aparência delgada e delicada. Em TS30, as fibras colágenas exibiram arranjo similar, mas foram menos aparentes que em TS6. Ao sétimo dia, ainda predominaram fibras colágenas com birrefringência amareloesverdeada, embora estas se mostrassem mais abundantes. Em CTR, os feixes observados nas zonas superficiais e centrais das feridas se mostraram particularmente delgados e curtos, com organização tipicamente reticular, enquanto na profundidade se apresentaram mais compactos e com menor quantidade de espaços interfibrilares. No grupo TS6 observou-se maior deposição colagênica, organizada em feixes mais densos, ora paralelos ora reticulares, em toda a extensão da ferida. Em TS30, as fibras birrefringentes se apresentaram densas na porção profunda da ferida, porém com aspecto mais reticular nas porções superiores, onde houve abundância de espaços interfibrilares. Nos três grupos, ao décimo quarto dia, destacou-se a disposição de feixes de colágeno com birrefringência amarelo/alaranjado, com espessura e arranjo variado. No grupo CTR as fibras se apresentaram delgadas e delicadas, com arranjo levemente entrelaçado e com abundância de espaços interfibrilares no centro da ferida, e disposição marginal densa e predominantemente paralela. No grupo TS6, foi observada maior homogeneidade na deposição colagênica, os feixes mostrando aparência delicada, espessura variável e disposição paralela, embora a tendência ao entrelaçamento já fosse observada. O colágeno em TS30, por sua vez, apresentou-se bastante denso e com disposição arquitetural compacta e paralela. 92 Figura 3.4 - Avaliação histomorfológica dos grupos experimentais controle (CTR), e tratados TS6 e TS30 nos tempos 3, 7, 14 e 21 dias coradas por picrossirius. Secções analisadas sobre a luz polarizada, evidenciando colágeno. Legenda: TS6: grupo tratado com D.staphysagria 6cH. TS30: grupo tratado com D.staphysagria 30cH. CTR: grupo tratado com água destilada. Em 21 dias, os grupos CTR e TS30 exibiram deposição colagênica intensa, os longos feixes birrefringentes amarelo-alaranjados se apresentando com espessura variável, aspecto grosseiro e com disposição entrelaçada predominante, embora fascículos paralelos ainda pudessem ser evidenciados. Já no grupo TS6, o padrão arquitetural de 93 entrelaçamento dos feixes e espessura das fibras de colágeno se assemelhou sobremaneira à derme normal. 3.4 DISCUSSÃO O estudo da cicatrização sob o efeito de estímulos medicamentosos torna-se significativamente interessante por representar a possibilidade de melhoria do processo cicatricial, visto que, o auxílio terapêutico pode se fazer necessário desde lesões com menor significado (lesão superficial) até aquelas que requerem preenchimento tecidual da área perdida (lesão aberta) (CONTRAN et al., 2000; BALBINO et al., 2005; BIONDO-SIMÕES et al., 2006). A observação do comportamento das diferentes fases da cicatrização, vislumbrando a interdependência e sobreposição das mesmas, permite a compreensão da dinâmica da resposta celular adotada frente às agressões sofridas e conseqüentemente das reações orgânicas peculiares a este mecanismo de reparo (MANDELBAUM et al.,2003; DIEGELMANN e EVANS, 2004; DIETER, 2005, MARTINS et al., 2006; SEMENOPFF SEGUNDO et al.,2007, BARRETO, 2008). A ferida aberta realizada por instrumento cortante sem auxílio de qualquer tratamento tem uma dinâmica de reparo que ocorre pela instauração da inflamação que caracteriza o início da cicatrização. Este evento atua em defesa do organismo e propicia uma condição local para o início da fase proliferativa e de remodelação levando a contração da ferida e a substituição do tecido lesado, garantindo a manutenção da integridade orgânica (DIETER, 2005; MARTINS et al., 2006). A análise macroscópica das áreas de reparo nos animais experimentais demonstrou que o uso dos medicamentos homeopáticos pareceu promover uma melhor retração da ferida ao longo do tempo, embora esta diferença não tenha sido estatisticamente significativa. Deve ser destacado que, entre os três grupos, o TS6 exibiu a melhor resposta clínica por meio da inspeção visual. Este aparente paradoxo pode ter sido reflexo do elevado desvio-padrão das médias da extensão das feridas e mesmo do tamanho amostral usualmente utilizado neste tipo de experimento. A despeito dos resultados satisfatórios observados com o uso de medicamentos homeopáticos, o dinamizado 30cH (TS30) demonstrou aumento na extensão da ferida ao terceiro dia, similarmente ao grupo controle (CTR), fato não observado na diluição 6 cH (TS6). Estes achados parecem sugerir a participação ativa de fenômenos exsudativos nos dois primeiros grupos, que poderiam resultar na produção de quadros mais expressivos de edema e conseqüente aumento na extensão das feridas (DI-POÏ et al., 2005). Além disso, foi observada uma tendência a maior exsudação e edema em TS30, fenômeno que encontra respaldo nas características 94 intrínsecas da ação dos medicamentos homeopáticos, que podem induzir agravação inicial e temporária dos sintomas (TEIXEIRA, 2006). Histologicamente, as etapas referentes à cicatrização são organizadas em fases, sendo a etapa inicial o desencadeamento de resposta inflamatória caracterizada por exsudato inflamatório rico em neutrófilos, típico da inflamação aguda, que persiste, em média, por três dias. Em seguida, como conseqüência dos eventos vasculares da etapa inicial da cicatrização, instala-se quadros de edema de intensidade variada (CONTRAN et al., 2000; DIEGELMANN e EVANS, 2004; BARRETO, 2008). No presente trabalho, foi observado que ao terceiro dia, a reação inflamatória foi intensa, embora o padrão de infiltração leucocitária tenha se mostrado diferente entre os três grupos avaliados. A infiltração neutrofílica mais exuberante nos grupos CTR e TS30, em associação a intenso edema, são fortemente sugestivos de maior atividade de fenômenos exsudativos nestes grupos (DIEGELMANN e EVANS, 2004). Por outro lado, TS6 e TS30 exibiram rica infiltração de linfócitos e plasmócitos, indicando um amadurecimento do processo inflamatório, pois estas células, segundo Barreto (2008), são próprias de inflamação crônica. Além disso, a neoformação vásculo-endotelial evidenciada nestes grupos se estendeu das margens ao centro das feridas, indicando um processo mais adiantado das fases inicias do reparo em relação ao grupo CTR. A reação de granulação que caracteriza a fase proliferativa da cicatrização manifesta-se através da presença de tecido conjuntivo ricamente vascular, com vasos neoformados, tendo início entre 42 a 72 horas após a lesão (MANDELBAUM et al.,2003). As células endoteliais que foram atraídas para a região da ferida formam vacúolos que se organizam formando uma luz, e tendem a se espalhar por toda a ferida, projetando-se na superfície como grânulos avermelhados (RUBIN e FARBER, 2000; DIETER, 2005). Esta fase da cicatrização pôde ser identificada nos espécimes correspondentes aos grupos tratados com D. staphysagria ao sétimo dia, o que não se verificou no controle. Sugere-se, pois, que o uso de medicamentos homeopáticos promoveu intensificação da angiogênese, proliferação de fibroblastos e deposição, embora ainda bastante incipiente, da matriz extracelular. Entretanto, a evidenciação de vasos mais numerosos e melhor formados no grupo TS6, em relação aos demais, é sugestiva de um desenvolvimento mais adiantado dos eventos biológicos que caracterizam a fase proliferativa do reparo. A evolução cronológica do processo cicatricial é acompanhada por novos achados morfológicos, como a deposição progressiva de colágeno acompanhada de reepitelização da superfície da ferida, garantindo a proteção necessária ao tecido cicatricial, colaborando para a restauração da lesão (Wendt, 2005). Adicionalmente, ocorre redução progressiva da intensidade da infiltração leucocitária e do componente vascular, para dar origem a cicatriz primária (KUMAR et al., 2005, BARRETO, 2008). 95 Ao décimo quarto dia, todos os grupos estudados apresentavam correspondência com este processo evolutivo. No entanto, a colagenização aumentada e completude da reepitelização, aliados a redução substancial do componente inflamatório, evidenciados em TS6 e TS30 são indicativos de um padrão mais resolutivo de reparo cicatricial nestes grupos em relação ao controle. Destaca-se, ainda, a formação de fâneros cutâneos nas porções marginais das feridas evidenciadas em TS30 e TS6, particularmente numerosos neste último, mas não observados em CTR. A formação de fâneros cutâneos no local da lesão é conduzida por células epiteliais que migram do tecido íntegro adjacente à ferida. Estas células epiteliais se diferenciam em células especializadas a exemplo de glândulas sebáceas e folículos pilosos (MARTIN, 1997; DI-POÏ et al., 2005). Tais achados oferecem evidências de melhor interação entre a matriz extracelular e o tecido epitelial periférico nos grupos anteriormente mencionados, sugerindo facilitação do fenômeno de migração e diferenciação celular. O melhor padrão de organização morfológica, expresso pela ausência de reação inflamatória residual, intensa condensação colagênica e formação abundante de anexos cutâneos em toda extensão da ferida, foi observado em TS6. Estes resultados parecem indicar que a dinamização 6cH foi mais efetiva em acelerar os eventos biológicos que caracterizam as fases tardias do reparo que 30cH e controle. Esta afirmação é reforçada pela verificação de persistência de infiltração inflamatória crônica, ainda que escassa, apenas nos grupos CTR e TS30. Além da reação inflamatória e organização arquitetural dos tecidos cicatriciais, a dinâmica de deposição colagênica durante o reparo cicatricial tem sido considerada um elemento de extrema relevância para avaliação do sucesso deste processo (MANDELBAUM et al.,2003). A síntese de colágeno da área lesada que ocorre durante o processo de cicatrização por segunda intenção representa um dos fatores mais significativos para a recuperação dérmica após uma agressão (DIEGELMANN e EVANS, 2004, BARRETO, 2008). As fibras colágenas têm papel fundamental na arquitetura tecidual, na resistência dos tecidos e em uma ampla variedade de interações célula-célula e célula-matriz (RICH, WHITTAKER, 2005). As secções histológicas coradas com Picrosirius e examinadas sob luz polarizada apresentam as fibras colágenas de modo específico, pois as moléculas de colágeno fibrilar representam híbridos de subclasses bioquímicas distintas de colágenos denominados tipo I, II e III (FONSECA, 2003; LINSENMAYER, 1991). Os padrões de birrefringência evidenciados, bem como as diferenças de diâmetro, o arranjo estrutural das fibras do colágeno e os diferentes tipos desta molécula podem ser observados utilizando esta metodologia (HIRSHBERG et al., 1996; HIRSHBERG et al., 1999). O colágeno tipo I se apresenta como fibras espessas amarelas brilhantes, amarelo-alaranjado ou vermelha e o 96 tipo II aparece formando fibras finas com birrefringências variadas diferentes do colágeno anteriormente mencionado. O colágeno tipo III é evidenciado como fibras delgadas com birrefringência de coloração esverdeadas e amarelo-esverdeadas e é comum nas etapas iniciais do processo de reparo cicatricial. A observação obtida pela birrefringência da molécula corada sob luz polarizada permite avaliar as diferentes fases da cicatrização, caracterizadas pelas variações de densidade e padrão de organização dos feixes de colágeno. Desta forma, esta coloração aliada à microscopia de polarização é ferramenta importante para avaliação da quantidade de deposição de colágeno em estudos que visam à avaliação da cicatrização (RABAU e DAYAN, 1994; RIBEIRO et al., 2004). A função do colágeno tipo III é orientar a migração de células endoteliais para formação da reação de granulação (RAMOS e MIRANDA, 2007). A rede colagênica observada no terceiro e sétimo dias se apresentou mais organizada no grupo TS6, o que indica uma possível precocidade no desenvolvimento das etapas iniciais da reação de granulação, reforçando os achados observados em HE. A disposição arquitetural mais densa do colágeno tipo III observado no sétimo dia, particularmente em TS6, é resultado da deposição progressiva destas moléculas, e sua importância reside no fato de que esta disposição funcionará como arcabouço para deposição das fibras de colágeno tipo I, responsável pela força tênsil da cicatriz em formação (BARRETO, 2008). A verificação de predominância de fibras colágenas tipo I no décimo quarto e vigésimo primeiro dias sugere que a substituição das moléculas do colágeno tipo III por esta outra classe de colágeno representa uma etapa característica da evolução do processo cicatricial, conforme já relatado por outros autores (JUNQUEIRA et al, 1983; RICH e WHITAKER, 2005; CARNEIRO et al., 2005). O entrelaçamento das fibras tem papel importante na fase de remodelação do reparo cicatricial, pois facilita a dispersão de forças mecânicas que incidem sobre a derme, sendo portanto um indicador de maturação do processo cicatricial. No décimo quarto dia e vigésimo primeiro dia, o grupo TS6 apresentou a melhor disposição colagênica, indicando que o processo encontra-se numa fase mais resolutiva em relação aos demais grupos estudados. No entanto, a densidade de deposição colagênica ao décimo quarto dia pareceu maior no grupo TS30, fato que sugere uma maior estimulação da síntese de colágeno. Este resultado, porém deve ser interpretado com ressalvas, visto que a maior densidade de colágeno interfere nas interações células-matriz extracelular necessárias ao amadurecimento do tecido cicatricial, a exemplo do desenvolvimento adequado dos fâneros cutâneos (MARTIN, 1997). Esses achados vem justificar a menor quantidade de anexos dérmicos observados no grupo TS30, apesar da maior intensidade de colagenização. Além disso, a deposição mais lenta e regulada de colágeno verificada em TS6 poderia promover aceleração do processo cicatricial com minimização das chances de produção de cicatrizes hipertróficas (quelóides). 97 A análise dos resultados obtidos no presente estudo vem sugerir que o uso de Delphinum staphysagria ultradiluída sob condições homeopáticas (dinamizada) acelerou o processo de reparo cicatricial por segunda intenção em ratos. Além disso, a dinamização 6cH apresentou os resultados mais satisfatórios sem efeitos adversos. No entanto, estudos posteriores são necessários a fim de elucidar o mecanismo fisiopatológico responsável pela atividade biomodulatória deste medicamento homeopático sobre os eventos biológicos que caracterizam o reparo cicatricial dérmico. No experimento os medicamentos foram administrados por via oral e confirmaram os achados referentes à experiência terapêutica de prescrição de D. staphysagria para o estímulo do processo cicatricial que fazem parte do cotidiano da clínica médica. 3.5 Referências BALBINO, C. A.; PEREIRA, L. M.; CURI, R. Mecanismos envolvidos na cicatrização: uma revisão, Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 41(1), jan./mar., 2005. BARRETO, A.L.S. Estudo histomorfológico do efeito de membranas de colágeno contendo própolis vermelha sobre o processo de reparo cicatricial por segunda intenção em ratos Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ambiente, UNIT, Aracaju, SE, Brasil, 2008. BIONDO-SIMÕES, M. L. P.; ALCANTARA, E. M.; DALLAGNOL, J. 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Caminho este de extrema necessidade pela complexidade inserida nos princípios homeopáticos e sua coerente conexão com os caminhos contemporâneos da ciência. A resposta in vivo corrobora com os conhecimentos pertinentes ao modelo experimental homeopático (homem são) que é a base para a prática clínica da homeopatia, permitindo a aplicabilidade prática e experimental de trabalho com o princípio da semelhança e a concisa resposta e colaboração ao sistema de atenção à saúde e ao desenvolvimento do homem como um todo. Cumpriu-se com o estudo o papel da ciência que é a busca sem preconceito das possibilidades de verdade que cercam o ambiente humano e o integram a natureza, transcendendo os paradigmas, dando ao pequisador a liberdade do discernimento racional. 102