Trabalho Completo - Pró-reitoria de Pesquisa, Pós

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO - PRPI
O USO DO GASTRÓPODE Littoraria angulifera (LAMARCK, 1822) COMO
INDICADOR ECOLÓGICO DO ESTADO DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL
DE MANGUEZAIS ESTUARINOS NO CEARÁ.
Heleny Noronha David(1); Rafaela Camargo Maia(2)
Bolsista(1); IFCE, campus Acaraú; Endereço eletrônico: [email protected]
Orientador(2); IFCE, campus Acaraú; Endereço eletrônico: [email protected]
1. RESUMO. Littoraria angulifera é um gastrópode de manguezal que pode funcionar como
indicador ecológico, porque responde plasticamente às alterações ambientais. O objetivo deste
trabalho foi estudar a distribuição deste gastrópode em manguezais sob diferentes condições de
perturbação antrópica em manguezais no Ceará. Em cada área selecionada para o estudo, foram
identificadas as espécies vegetais e foi estimada a altura e a circunferência das árvores. Também
foram coletados todos os indivíduos de L. angulifera encontrados abaixo da altura do peito, os quais
foram medidos em laboratório. Os maiores valores de densidade foram encontrados em áreas
conservadas e os menores valores em áreas impactadas por desmatamento. O tamanho da concha
também variou, apresentando maiores valores em áreas conservadas e menores tamanhos em áreas
de carcinicultura e desmatamento. Dessa forma, conclui-se que o principal impacto que afeta a
distribuição de L. angulifera é o desmatamento e a melhor condição ambiental para o
desenvolvimento dessa espécie são áreas conservadas.
PALAVRAS-CHAVE: Impacto antrópico. Bioindicadores. Moluscos.
2. INTRODUÇÃO
O manguezal é um ecossistema encontrado em regiões costeiras, de clima tropical,
apresentando uma vegetação lenhosa específica adaptada às flutuações de salinidade e ao sedimento
lodoso e pobre em oxigênio, possuindo solo rico em matéria orgânica e inundado devido às
variações de marés (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). Ocorre entre os ambientes terrestres e
marinhos, podendo estar localizado na foz dos rios e estuários e onde esteja presente a mistura de
água doce e águas marinhas (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).
É um ambiente que se destaca pelos seus altos índices de produtividade, o que
proporciona um ambiente bastante favorável para reprodução, crescimento, refúgio e sobrevivência
dos estágios iniciais do ciclo de vida para diversos animais (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995). É
importante para a ciclagem de nutrientes e proporciona grande quantidade de recursos para sua
fauna permanente, bem como para animais migratórios (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).
A grande quantidade de animais existentes no manguezal, tais como moluscos,
crustáceos e peixes, por exemplo, proporcionam importantes recursos pesqueiros que movem a
economia das populações que vivem em áreas de manguezal (CASAL; SOUTO, 2012). Sabe-se
portanto que este ecossistema possui elevada importância para a manutenção das populações que
vivem em zonas costeiras, uma vez que a prática da pesca gera emprego e renda para estas pessoas
(CASAL; SOUTO, 2012).
Mesmo sendo reconhecida a importância ecológica e econômica deste ambiente, devido
à grande capacidade de aproveitamento de seus recursos naturais, estes ecossistemas estão
frequentemente expostos a impactos ambientais de inúmeras origens, como industrial, urbanização,
aquicultura entre outras ações humanas realizadas em zonas costeiras (CUNHA-LIGNON et al,
2009). Animais invertebrados são geralmente usados para indicar mudanças do ambiente, pois são
altamente sensíveis a estas variações (BAGLIANO, 2012). Estes organismos podem responder aos
impactos por meio do declínio do número de espécies, enquanto há aumento da abundância de
alguns taxa, além de poder apresentar mudanças na composição específica da comunidade ou
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alterações morfológicas nos indivíduos (NEW, 1995). Além disso, animais invertebrados têm
características como: 1) tamanho que os permitem ser visíveis a olho nu; 2) são fáceis de coletar, já
que existem técnicas de coleta padronizadas que não exigem um custo alto; 3) são abundantes e
apresentam distribuição ampla; 4) possuem baixa capacidade de locomoção e 5) ciclos de
desenvolvimento longos o suficiente para detectar alterações na biota, os tornando bons modelos
para estudos em ecologia (ROSENBERG; RESH, 1993).
Segundo Melo et al. (2012), L. angulifera pode funcionar como indicador ecológico de
degradação ambiental, porque responde plasticamente às alterações no ambiente, permitindo-se
relacionar o formato ou tamanho da concha com as condições ambientais. Apesar disso, trabalhos
utilizando L. angulifera como bioindicador para áreas degradadas de manguezal são ainda escassos,
tornando evidente a necessidade deste estudo para avaliar as respostas deste organismo em áreas
com diferentes tipos de impactos ambientais.
Desta forma, o objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos das condições ambientais de
manguezais estuarinos impactados por desmatamento utilizando o gastrópode L. angulifera como
indicador ecológico, comparando áreas impactadas e não impactadas.
3 METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado nos meses de setembro a novembro de 2014, em
manguezais estuarinos do rio Acaraú (Acaraú), do rio Aracatimirim (Itarema) e do rio Aracatiaçu
(Amontada) todos localizados no Estado do Ceará. Em cada uma dessas regiões, foram escolhidas
três áreas sob as mesmas condições ambientais (bosques mistos do médio estuário), porém sujeitas
a diferentes pressões antrópicas (desmatamento, carcinicultura e presença de resíduos sólidos).
Também foram selecionadas três áreas controle, com baixo nível de perturbação ambiental,
totalizando 12 áreas de amostragem. A metodologia foi baseada na proposta por Schaffer-Novelli e
Cintrón (1986), que consiste no emprego de parcelas múltiplas, adaptada por Maia e Coutinho
(2012) que propõe a replicação dos transectos. Em cada ponto de amostragem, foram sorteados três
sítios aleatoriamente e em cada um desses sítios foi demarcado um transecto de três parcelas com
dimensão de 100 m², distanciadas em 5 m. As parcelas se encontravam orientadas
perpendicularmente ao rio a partir do início da faixa de vegetação.
Em cada parcela, as árvores foram identificadas em nível de espécie, onde foi estimada
a altura de cada vegetal, e também medida a circunferência numa altura de 1,30m do solo.
Posteriormente, os dados de circunferência foram transformados em diâmetro à altura do peito e
foram calculados para cada área os valores médios da altura, o DAP médio e a densidade dos
indivíduos. Na área vegetada, dentro das parcelas demarcadas para o estudo estrutural, foram
coletados todos os indivíduos de L. angulifera encontrados a 1,30 m do solo. Em laboratório foram
feitas medições de altura, largura, altura da abertura e largura da abertura da concha.
Com relação à análise estatística, foi realizada uma análise descritiva da densidade e dos
parâmetros de tamanho da concha analisados. A seguir, foram testadas a normalidade dos dados e a
homogeneidade das variâncias. Para comparar a densidade, o tamanho da concha de L. angulifera
entre os diferentes tipos de impactos ambientais estudados foi utilizada uma Análise de Variância
(ANOVA). Quando detectadas diferenças entre as médias, ao nível de significância de 95% (p <
0,05), o teste de comparações múltiplas de Tukey foi utilizado. Também foi realizada uma Análise
de Correlação entre a densidade e tamanho da concha de L. angulifera com os parâmetros
estruturais dos bosques amostrados para cada um dos diferentes impactos ambientais estudados.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram registradas 4.421 árvores de cinco espécies de mangue distintas: R. mangle, A.
germinans, A. shaueriana, L. racemosa e C. erectus. Durante o período amostral, foi coletado um
total de 5.997 indivíduos de L. angulifera. As áreas conservadas apresentaram a maior quantidade
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de espécimes coletados, 2.184 indivíduos no total. Já a menor quantidade de animais coletados foi
observada para as áreas impactadas por desmatamento, com apenas 451 indivíduos. Nas áreas de
carcinicultura foram coletados 2.176 espécimes e nas áreas com presença de resíduos sólidos foram
encontrados 1.183 animais.
Com relação aos valores referentes à densidade populacional de L. angulifera,
verificou-se que houve variação significativa (F3, 104 = 5,1059, p= 0,00246), havendo menor
quantidade de indivíduos em regiões impactadas por desmatamento e em maior quantidade nas
áreas impactadas pela carcinicultura e conservadas e nas áreas de resíduos sólidos, foi observado
um valor intermediário entre as demais. De acordo com os resultados da análise de variância, a
altura da concha (F3, 6002 = 884,02, p < 0,0001), a largura da concha (F3, 6002 = 905,40, p < 0,0001), a
altura da abertura (F3, 6002 = 916,64, p < 0,0001) e a largura da abertura (F3, 6002 = 750,05, p <
0,0001) variaram de maneira significativa entre as áreas em estudo, sendo os maiores valores
encontrados para as áreas conservadas e os menores valores encontrados para áreas desmatadas e/ou
carcinicultura. As áreas de carcinicultura e desmatamento se mostraram semelhantes para altura da
concha e altura da abertura, onde foram observados os menores valores.
Para áreas impactadas por resíduos sólidos foram observadas correlações fortes entre a
densidade de L. angulifera e a densidade de R. mangle (r = 0,69). O mesmo foi observado para a
altura da concha com o DAP (r = 0,78) e a densidade (r = -0,79) de A. shaueriana, e com a
densidade de A. germinans (r = -0,82). A largura da concha correlacionou fortemente com o DAP (r
= 0,76) e a densidade (r = -0,79) de A. shaueriana e com a densidade de A. germinans (r = -0,84). A
altura da abertura apresentou forte relação com o DAP (r = 0,77) e a densidade de A. shaueriana (r
= -0,79) e com a densidade de A. germinans (r = -0,84). A largura da concha se correlacionou
positivamente com o DAP de A. shaueriana (r = 0,78) e negativamente com a densidade de A.
shaueriana (r = -0,79) e de A. germinans (r = -0,86), indicando que, quanto maior o DAP de A.
shaueriana, maior o tamanho da concha e quanto maiores os valores de densidade de A. germinans
e A. shaueriana, menor o tamanho da concha. Para as áreas conservadas não houve relações fortes
entre os dados de medição da concha com os dados biométricos das árvores, porém foram
observadas fortes correlações positivas entre os dados de densidade de L. angulifera e altura de C.
erectus (r = 0,78), DAP de A. shaueriana (r = 0,72), DAP de C. erectus (r = 0,78) e DAP de R.
mangle (r = 0,69). Para áreas com presença de impacto por desmatamento, o resultado da análise de
correlação indicou relações negativas fortes entre a densidade de Littoraria angulifera e a altura (r =
0,74) e o DAP de R. mangle (r = 0,94), indicando que quanto maiores esses valores, maior a
densidade de gastrópodes. A altura da concha correlacionou negativamente com a altura (r = -0,72)
e o DAP (r = -0,74) de A. shaueriana. O mesmo ocorreu para a largura da concha, que
correlacionou negativamente com a altura (r = -0,73) e o DAP (r = -0,74) de A. shaueriana. A altura
da abertura também teve correlação negativa com a altura (r = -0,73) e com o DAP (r = -0,75) de A.
shaueriana. A largura da abertura seguiu o mesmo padrão, correlacionando de forma negativa com
a altura (r = -0,73) e o DAP (r = -0,73) de A. shaueriana, o que indica que quanto maiores os
valores de altura e DAP de A. shaueriana, maiores os tamanhos de altura, largura, altura da abertura
e largura da abertura da concha. Para as áreas de carcinicultura, a altura (r = -0,73) e o DAP (r = 0,83) de L. racemosa se correlacionaram negativamente com a densidade de Littoraria angulifera,
ou seja, quanto maiores os parâmetros de medida dessa espécie de árvore, menor a densidade dos
moluscos. Já o DAP de R. mangle se mostrou fortemente relacionado à densidade de L. angulifera,
porém, positivamente (r = 0,75). A densidade de R. mangle obteve correlação positiva com a altura
(r= 0,97), largura (r= 0,94), altura da abertura (r= 0,94) e largura da abertura (r= 0,95).
O maior número de gastrópodes encontrados nas áreas conservadas provavelmente se
deve às melhores condições ambientais nessas áreas, o que propicia um ambiente adequado para
esses animais se desenvolverem. De acordo com Merkt e Ellison (1998), a variação morfológica é
determinada principalmente pelas condições ambientais locais, como o clima e a estrutura vegetal.
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Segundo os autores, áreas com baixo grau de impacto ambiental favorecem um melhor
desenvolvimento de litorinídeos. O tamanho da concha de L. angulifera também apresentou maiores
valores em áreas conservadas, possivelmente por conta das melhores condições e recursos.
Provavelmente fatores como a forte incidência de luz solar estava afetando a
disponibilidade de alimento e por isso foram encontradas conchas menores e em menor número, já
que em manguezais, a densidade das árvores de mangue pode estar fortemente relacionada com a
distribuição das espécies da malacofauna (MAIA, 2010). Um manguezal degradado disponibilizará
menor área de substrato e menor proteção contra a dessecação, podendo favorecer a competição
intraespecífica entre os organismos (MELO et al, 2012), portanto, possivelmente a competição por
substrato também pode estar influenciando a distribuição dos organismos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados obtidos no presente trabalho indicam que L. angulifera apresentou densidade
populacional e tamanho da concha distintos, nas áreas com diferentes tipos de impacto, podendo
essa espécie ser, portanto, um indicador ecológico do estado de degradação ambiental nos
manguezais estudados.
5. REFERÊNCIAS
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uso de avaliadores de danos ambientais. Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade, v. 2, n. 1, p.
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CASAL, F. S. C.; SOUTO, F. J. B. Mangrove ecozonation in artisanal fishery of crustacea of
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Aplicação de Ferramentas com Diferentes Escalas Espaço-Temporais. Revista da Gestão Costeira
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MELO, C.G.B., MAIA, R.C., ROCHA-BARREIRA, C.A. Variação morfológica da concha e
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