Quando nascem nossos filhos, as mãos são como berços em cuja concha abrigamos a fragilidade deles, como fossem cristais prestes a se romper. As mãos protegem, guardam aquele ser inaugural, desprotegido depende do calor de mãos para que nada, absolutamente nada, impeça-lhes o sono pulsando na respiração macia. E ficamos em paz com o corpo de nosso filho protegido do mundo, na concha infinita de nosso infinito amor, como um milagre que respira. Mas o tempo nos ensina que as mãos agora protegem longe do toque. Não serão mais as mãos em concha, porém as mãos em torno de um vazio, geografia inconcreta, em que se movem nossos filhos. Eles se arriscam fora ninho, saem para o mundo, tentam caminhar e certamente experimentam a queda que nossas mãos não podem impedir, mas podem proteger no vazio do espaço por onde eles vacilam. Podem evitar a queda, a dor, o susto, mas não podem impedir que o caminho suceda ao caminhar. E eles carecem de vacilar, precisam tentar, precisam cair. E quando nossos corações disparam de ansiedade, nossas mãos desenham o vazio, sem tocar-lhes o corpo, mas antecipando os passos do provável sempre chegar para que eles possam ser. Sim, ser é ousar. Nestes momentos, nossas mãos não podem ser mais a concha protetora de nosso amor, mas a suave muralha de nossos cuidados. E ficamos imaginando como seria bom se o mundo fosse feito de algodão. É quando os corpos existem sem a concha de nosso afeto, sem a muralha de nosso cuidado, mas ao lado de outros corpos, cheios de vida, de energia, experimentando o vôo livre de todos os riscos. Ficamos com nossas mãos, entrelaçadas, torcendo e rezando, para que Deus proteja com Suas mãos absolutas os passos arriscados de nossos adolescentes. E assim a vida se cumpre na palma de nossas mãos. CARLOS SEPÚLVEDA