Inundações fluviais na área de conglu~encia do córego do Góis

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USO DO SOLO E INUNDAÇÕES AO LONGO DO RIO DAS ANTAS E CÓRREGO DOS
GÓIS EM ANÁPOLIS (GO).
Kesia Rodrigues dos Santos - UEG/PVIC - [email protected]
INTRODUÇÃO
Anápolis é uma cidade situada na porção central do estado de Goiás, entre Goiânia e Brasília. A
área estudada está na porção central da cidade, englobando um trecho de aproximadamente 3 km ao
longo do Rio das Antas, entre as confluências dos córregos dos Góis, à sul, e dos Cesários, à norte.
Este local é caracterizado como sendo uma área urbana consolidada, parte da qual está dentro das
planícies fluviais do Córrego dos Góis e do Rio das Antas, onde são freqüentes as inundações. Este
trabalho é parte de um projeto de iniciação científica, onde serão investigados os fatores antrópicos
que contribuem para as inundações, quais as medidas tomadas pelo poder público e quais as
conseqüências imediatas das inundações para a população local. Neste artigo serão apresentados os
resultados iniciais do projeto, relativos ao mapeamento do uso do solo em escala 1/10.000.
O artigo inicia com a uma apresentação dos materiais e métodos utilizados, seguida de um texto
sobre inundações urbanas e seu condicionamento na área de estudo, elaborado a partir de pesquisa
bibliográfica. Prossegue com a apresentação do uso da terra e os danos causados pelas inundações,
medidas de controle de inundações, concluindo com uma síntese dos resultados obtidos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi baseado na cartografia do uso do solo e as bases cartográficas utilizadas foram: mapa
geomorfológico preliminar da planície fluvial do Rio das Antas na área central de Anápolis em
escala 1/10.000 (LACERDA, 2005); base topográfica planimétrica 1/10.000 da área (LACERDA,
2005); planta urbana de Anápolis em escala 1/8.000; imagem Ikonos de 2001.
Na cartografia de uso do solo utilizou-se como unidade básica de mapeamento as quadras, quando
elas têm uma classe de uso claramente predominante. Nos casos em que existem mais de uma classe
de uso da terra em cada uma delas, em proporções significativas, foram subdivididas para efeitos de
mapeamento. As etapas do mapeamento foram interpretação da imagem, lançamento de dados na
base topográfica e trabalho de campo.
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ENCONTRO REGIONAL DE GEOGRAFIA – EREGEO, 9, Porto Nacional (TO), 2005. Anais... Porto Nacional:
EREGEO, disco compacto, 2005, 7p.
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Foi também realizada uma pesquisa bibliográfica sobre os seguintes temas: inundações urbanas;
trabalhos anteriores na área; matérias de jornais locais relativas às inundações.
INUNDAÇÕES URBANAS
A área de estudo é o local mais afetado por inundações em Anápolis, segundo Teixeira et al. (2004)
e Lacerda et al. (2004a, 2004b, 2005), que assinalam a existência de uma planície de inundação na
área. Segundo Oliveira (1998):
“inundações são fenômenos que fazem parte da dinâmica fluvial, atingindo periodicamente as várzeas,
também denominadas planícies de inundação. Correspondem ao extravasamento das águas de um
curso de água para as áreas marginais, quando a vazão é superior à capacidade de descarga da calha. A
planície de inundação funciona como um regulador hidrológico, absorvendo o excesso de água nos
períodos de intensas chuvas e cheias. Todo e qualquer rio tem sua área natural de inundação. As
inundações passam a ser um problema para o homem quando ele deixa de respeitar esses limites
naturais dos rios e passa a ocupar essas áreas. Isto ocorre na área estudada, onde a planície de
inundação foi ocupada de forma inadequada.”
Outro aspecto que influencia as inundações urbanas é o assoreamento, abordado a seguir.
O Córrego dos Góis é bastante assoreado, devido ao grande número de erosões aceleradas em sua
microbacia, descritas por Souto e Lacerda (2004). Na parte sul da microbacia, existem focos de
erosão em sulcos, constituídos por caixas de empréstimo e obras de terraplanagem, cujas dimensões
são de até 400x100m. Na microbacia do Córrego dos Góis foram observadas 12 ravinas, com
volumes entre 250m3 e 2500 m3, além de quatro voçorocas, com volumes da ordem de 8000m3 a
25000m3. As áreas de erosão acelerada representam as fontes dos sedimentos, cuja deposição
resulta no assoreamento do Córrego dos Góis e, também, do Rio das Antas.
Ações antrópicas que também contribuem para ocorrência de inundações são obras que estrangulam
os leitos das drenagens, tais como bueiros, canalizações, pontes e aterros (TUCCI et all, 1995).
Estas intervenções também estão presentes na área, conforme descrito a seguir, na abordagem do
uso do solo.
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USO DO SOLO
Conforme assinalado anteriormente, a área de estudo está situada na porção central de Anápolis,
comportando um uso do solo bastante diversificado.
A área é cortada longitudinalmente pela Avenida Brasil, uma das mais importantes da cidade, tendo
na extremidade norte acesso a BR-153 e GO-414 e, na parte sul, acesso à BR-153.
Foram construídos aterros em vários pontos dessa área, objetivando o aproveitamento do espaço
para instalação do sistema viário, à exemplo da Avenida Brasil. Aterros também foram utilizados
para construção de prédios públicos, tais como Tribunal de Justiça do Estado, Palácio da Cultura,
Fórum, Terminal Rodoviário e Ginásio Internacional de Anápolis. Parte destes aterros está dentro
da planície de inundação e, em alguns casos, sobre o leito menor, canalizado, do Rio das Antas. Em
alguns casos a construção dos aterros resultou na diminuição do leito menor do Rio das Antas,
contribuindo para a ocorrência de inundações.
Segue-se a descrição das categorias de uso do solo nessa planície de inundação e vertentes
próximas, e os prejuízos causados pelas inundações nesses locais.
Áreas Residenciais - Trata-se de casas e prédios de apartamentos, sendo as primeiras mais
abundantes na área. A cada chuva forte, as populações ribeirinhas ficam apreensivas, pois o
histórico de danos é grande, com perda de móveis, roupas e eletrodomésticos nas casas invadidas
pela água.
Comércio – Os estabelecimentos comerciais incluem concessionárias de veículos, lojas de tintas,
lojas de artigos variados, bancas de jornal, farmácias e postos de gasolina. Notícias veiculadas na
imprensa local assinalam prejuízos relativos a produtos estragados devido às inundações.
Serviços - Incluem restaurantes, hotéis, retíficas e pequenas oficinas de conserto de aparelhos
eletrônicos e estofados. Os prejuízos devido às inundações são maquinário danificado, aparelhos
eletrônicos perdidos, danos em freezer e geladeira, além de alimentos que se tornaram impróprios
para o consumo.
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Instituições Educacionais – Compreendem prédios da Universidade Estadual de Goiás (UEG),
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC), colégios de ensino médio e cursinhos pré-vestibular.
Prédios de Instituições Religiosas – Os locais de culto estão representados por centro espírita e
igreja evangélica.
Hospitais e Clínicas – Compreendem o Hospital Municipal de Anápolis, Hospital das Crianças,
Instituto Onco-Hematológico (Banco de Sangue Goiano), clínicas oftalmológicas e laboratórios de
análises clínicas. Segundo informações verbais de moradores, o Banco de Sangue foi invadido pela
água em 2005. A altura da água atingiu 80cm e o prédio foi parcialmente interditado para limpeza.
Prédios Públicos – A Sede Administrativa da Prefeitura está construída em cima do leito do Rio das
Antas, em local onde a drenagem foi canalizada. O prédio é conhecido como Palácio da Cultura
onde, além do gabinete do prefeito, ficam o Teatro e a Biblioteca Municipais, as Secretarias
Municipais de Educação, Ciência e Tecnologia. Outros prédios públicos abrigam o Fórum, Câmara
dos Vereadores, Secretaria da Cidadania e Trabalho, Tribunal de Justiça do Estado, Juizado da
Infância e da Juventude, além do Ginásio Internacional de Anápolis.
Vegetação Antrópica – Na área de estudo existe uma pequena parcela ocupada por vegetação
antrópica, ao longo do Córrego dos Góis e Rio das Antas, representada principalmente por
gramíneas.
Praças – A principal praça da área é a Praça Abílio Wolney, também denominada “Praça do
Ancião”. Segundo informações verbais, a praça sofre alagamento pelas águas de escoamento
superficial, nos eventos de chuvas fortes.
Sistema Viário – É representado por ruas pavimentadas e grandes avenidas, tais como a Avenida
Brasil, citada anteriormente. Notícias veiculadas em jornais locais assinalam transtornos no trânsito,
e carros arrastados pelas águas, o que já resultou na morte de uma pessoa (FOLHA DO ESTADO,
2002; BARBOSA, 2002; GONÇALVES, 2002; TRIERS, 2002).
Um trecho de cerca de 600m do Rio das Antas foi canalizado, começando no estacionamento do
Fórum, passando pelo Palácio da Cultura e Praça do Ancião, terminando logo após a Avenida
Goiás. Sobre este trecho da planície de inundação foram construídos prédios, praça e avenidas
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enumerados anteriormente. À jusante e à montante desta área, o Rio das Antas tem o leito
revestido em concreto, porém aberto. O leito do Córrego dos Góis não é revestido, mas não houve
preservação da mata ciliar e as margens estão cobertas apenas por vegetação antrópica.
MEDIDAS DE CONTROLE DAS INUNDAÇÕES
Segundo a imprensa local, a prefeitura tomou medidas como alargamento das margens e dragagem
do leito das drenagens. Isto parece não ter resolvido o problema, já que as inundações persistiram,
principalmente na Rua Amazílio Lino, local mais afetado pelas enchentes.
Os moradores e proprietários de estabelecimentos comerciais, por sua vez, tentam amenizar o
problema, construindo muros de proteção e colocando produtos em cima de cavaletes, fora do
alcance das águas.
Segundo Oliveira (1998), o controle das inundações pode ser preventivo e corretivo. O controle
preventivo consiste em ocupar adequadamente as planícies fluviais, áreas naturalmente inundáveis.
Estas áreas devem ser destinadas à preservação e à construção de equipamentos urbanos que não
sofram com as enchentes e não obstruam o fluxo da água durante as inundações, à exemplo de
parques lineares.
O controle corretivo é necessário no caso de planícies de inundação ocupadas e povoadas e segundo
Oliveira (1998) pode-se relocar a população ou construir obras de proteção contra as inundações.
No caso de relocação, as áreas liberadas devem ser utilizadas como locais de lazer e recreação, em
parques lineares, além da implantação de reservatórios para amortecimento das cheias. Este autor
assinala ainda a necessidade de implantação de redes adequadas de drenagem, além da
recomposição de matas ciliares.
Além das providências enumeradas, poder-se-ia acrescentar que o lixo jogado na drenagem ou
próximo a ela pode agravar a situação e, nesse sentido, poderia se fazer um trabalho de educação
ambiental junto à população.
CONCLUSÕES
A inundação é um acontecimento natural e, portanto, as planícies de inundação não deveriam ser
povoadas. Quando a ocupação já está consolidada, é preciso não aumentar a possibilidade de
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ocorrência de inundação, evitando o assoreamento, estrangulamento e lançamento de lixo e esgoto
nas drenagens. É necessário também melhorar os sistemas de drenagem das águas pluviais, para que
não sobrecarreguem os rios nos eventos pluviosos.
A área de estudo está situada na porção central de Anápolis e compreende a planície fluvial do Rio
das Antas e de seu afluente pela margem direita, o Córrego dos Góis. A planície e as vertentes
próximas tem um uso do solo bastante diversificado incluindo áreas residenciais, comércio,
serviços, locais de culto, hospitais e clínicas, prédios públicos, praças e sistema viário. O Rio das
Antas foi canalizado em parte da área e foram construídos aterros para construção do sistema viário
e de prédios públicos. As drenagens estão assoreadas, devido à existência de focos erosivos a
montante.
A área de estudo é um local de inundações em Anápolis e os danos assinalados incluem: perda de
móveis, roupas e eletrodomésticos nas casas invadidas pela água; produtos estragados nos
estabelecimentos comerciais; danos em maquinário, aparelhos eletrônicos, freezer e geladeira em
oficinas e restaurantes; interdição de hospital; inundação de ruas com carros arrastados e uma morte
por afogamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, F. J. Folha do Estado. Chuva e lixo clandestino provocam assoreamento de rios e
erosões na cidade. Cidades. Anápolis, 28 de março de 2002.
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Anápolis (GO). Plurais, Anápolis, (aceito para publicação), 2005.
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central de Anápolis em escala 1/10.000. Anápolis: UEG, 2005 (inédito).
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TEIXEIRA S. S., SOUZA, J. C., LACERDA H. Erosão acelerada e inundações em Anápolis (GO):
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