VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 ANÁLISE COMPARATIVA DA HUMIDADE DO SOLO SOB DIFERENTES USOS E COBERTOS VEGETAIS Adélia Nunes Departamento de Geografia, Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 3004-530 Coimbra, Portugal. Tel.: +351 239 859900, Fax. 239 836733, E-mail: [email protected] 1. Introdução A humidade do solo (Θ) é um dos principais elementos do ciclo hidrológico, com um papel fundamental na elaboração dos balanços de água, pois determina as taxas de infiltração, percolação e escoamento superficial (Cerdà, 1997). O seu conhecimento revela-se, ainda, importante pela influência que exerce em determinados processos ecológicos, tais como a fotossíntese, respiração e circulação de nutrientes (Band et al., 1993). Por outro lado, afecta a actividade primária florestal (Vertessey et al. 1996), a composição das espécies vegetais (Stephenson, 1998) e detém um papel crucial na inflamabilidade do coberto vegetal e no regime dos incêndios florestais (Clark, 1990). Por conseguinte, a sua importância está amplamente reconhecida em hidrologia (Famiglietti et al., 1998). A seguinte equação, proposta para descrever o teor de água no solo, considera a precipitação como a única entrada no sistema e interpreta a humidade edáfica como o resíduo dos processos de evapotranspiração e escoamento superficial (Mahmood, 1996, in Ceballos, 1999). ΔSM= P- AET – OF Em que ΔSM: Variações na humidade do solo (Soil Moisture); P: Precipitação; AET: Evapotranspiração real (Evapotranspiration); OF: Fluxo superficial (Overland Flow). Não obstante, o teor de humidade num determinado ponto é influenciado por um conjunto de factores, entre os quais se destacam a precipitação e a temperatura antecedente, a textura do solo, a qual determina a capacidade em armazenar água, o declive, por afectar o escoamento superficial e a infiltração, e ainda o tipo e a densidade do coberto vegetal, os quais interferem no volume de água, através de mecanismos de evapotranspiração (Gómez-Plaza et al., 2000; Illston et al., 2004). 1 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais O crescente interesse pela disponibilidade de água no solo surge, nestes últimos anos, reforçado num cenário em que se anunciam importantes mudanças, nos quantitativos e distribuição da precipitação, na Península Ibérica e noutras regiões sensíveis do globo. Neste contexto, o conhecimento da ocupação do solo e das respectivas tendências de evolução deverão constituir, no nosso país, mais um elemento a ponderar sobre as estratégias de resposta e de adaptação com vista à eficaz gestão dos recursos hídricos, no futuro. Os objectivos deste estudo centram-se na avaliação da dinâmica espacial e temporal da humidade do solo, sob diferentes ocupações e coberturas vegetais, no decurso dos anos de 2005 e 2006. Pretende-se, ainda, identificar alguns dos principais factores que controlam, sazonalmente, a humidade do solo e explicam a sua variação em profundidade (10, 20, 30 e 40cm), à escala da parcela. 2. Área de estudo A área de estudo localiza-se no concelho do Sabugal (distrito da Guarda), no interior Centro de Portugal (Figura 1). Corresponde a uma área de planalto (Meseta Ibérica), o substrato é granítico e os solos são, na sua maioria, cambissolos dístricos (FAO, 1974). Anualmente, a precipitação ronda em média os 800 mm, embora os respectivos quantitativos tenham oscilado, no posto udométrico de Pega, desde 1960/61 a 2004/05, entre os 1514 mm (em 2000-01) e os 273 mm (em 2004-05). A sua sazonalidade é tipicamente mediterrânea, ou seja é no Outono/Inverno que ocorrem os maiores quantitativos de precipitação, cerca de 70% do total, em contraste com a Primavera e, em especial com o Verão, marcado por uma acentuada escassez hídrica. A temperatura média anual ronda os 12ºC. Nos meses mais quentes, de Julho e Agosto, ascende a um valor médio de 20ºC, enquanto nos mais frios, de Dezembro e Janeiro, fica-se por um valor médio de 4ºC. 3. Metodologia A metodologia utilizada consistiu na selecção de áreas-amostra representativas dos usos e coberturas vegetais mais importantes, em termos espaciais, na área de estudo: cereal de sequeiro em alternância com pousio; matos, carvalhal em recuperação, pinhal jovem e adulto e pastagem. As áreas-amostra, com cerca de 20 m2, localizam-se em 3 vertentes distintas (Figura 1), embora todas se encontrem expostas a Este. As variações na altitude são escassas (± 50 m), o declive é sensivelmente o mesmo (± 10%), e a distância entre as mesmas rondará, em linha recta, os 2 km. 2 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 As variações espácio-temporais na humidade do solo foram monitorizadas com recurso a um Profile Probe associado a um HH2 Moisture Meter (Marca Delta-T Devices), o qual permite a leitura simultânea desta variável a diferentes profundidades e o cálculo do respectivo deficit hídrico (Figura 2). Cada Profile Probe é detentor de vários sensores (4 em 40 cm de espessura), cujo acesso em profundidade se faz através de um tubo com um diâmetro de 27mm, previamente inserido no solo. Em cada parcela instalaram-se 2 tubos. A leitura da humidade do solo processou-se com uma periodicidade de, aproximadamente, duas vezes por mês. O respectivo valor corresponde à média dos dois pontos de observação, sendo que em cada um desses pontos eram recolhidas 4 leituras, às diferentes profundidades, coincidentes grosso modo com os pontos cardeais. Figura 1. Localização da área de estudo 3 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Moisture meter (HH2) Profile Probe Figura 2. Equipamento utilizado na monitorização da humidade do solo A monitorização da temperatura fez-se através de sensores associados a dataloggers (Marca Tiny Tag Ultra, com temperatura variável entre -30ºC e 50ºC), em abrigo, instalados a 10 cm do solo, enquanto os quantitativos de precipitação baseiamse nos dados recolhidos através de um pluviómetro digital com uma resolução de 0,2 mm, conectado a um datalogger automático que regista a informação sempre que cada basculamento é efectuado. Em cada uma das áreas-amostra procedeu-se à quantificação do coberto vegetal e à recolha de amostras de solos, tendo sido determinadas a textura, a porosidade e a matéria orgânica. A análise dos dados fez-se com o recurso a estatísticas uni e multivariadas, tendo-se utilizado o programa estatístico SPSS. De modo a averiguar se existiam diferenças estatísticas significativas foi analisada a variância a um factor (também denominada de ANOVA). Foram, ainda, aplicados Modelos de Regressão Linear Múltiplos entre as variáveis monitorizadas. Esta técnica permite a análise da relação entre uma variável dependente (Y) e um conjunto de variáveis independentes (X´s). Na interpretação dos resultados foram tidos em conta níveis de significado inferiores a 0,05 (p-value <0,05). 4. Resultados 4.1. Variações no coberto vegetal e nas características dos solos A análise à evolução do solo coberto por vegetação (Figura 3) mostra que sob povoamentos arbóreos, isto é, no carvalhal em recuperação e no pinhal adulto, ao longo do ano, não se visualizam alterações relevantes no grau de cobertura vegetal, o qual atinge valores muito próximos dos 100%. Nas parcelas com pastagem e com mato, as oscilações anuais na percentagem de vegetação acompanham o ritmo das precipitações, ou seja, atingem um valor mínimo no culminar da estação estival, 4 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 incrementam a sua representatividade no Outono/Inverno e mostram um declínio na Primavera. Esta variabilidade relaciona-se, principalmente, com a periodicidade do estrato herbáceo, que seca em especial a partir de Maio e rebenta na sequência das primeiras chuvadas do Outono. Em ambos os casos, a proporção de solo resguardado por vegetação foi superior a 70%, atingindo valores mínimos no final do Verão de 2005, devido à prolongada e acentuada secura estival, verificada nesse ano. 100 % 90 PCS: Parcela com cereais de sequeiro; PP: Parcela em pousio; PM: Parcela com matos; PCR: Parcela com carvalhal em recuperação; PPA: Parcela com pinhal adulto; PPJ: Parcela com pinhal jovem; PAST: Parcela com pastagem. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Mar.05 Jun.05 PCS PPA Set.05 Dez.05 PP PPJ Mar.06 Jun.06 PM PAST Set.06 Dez.06 PCR Figura 3. Evolução do coberto vegetal nas áreas-amostra seleccionadas. Com a menor cobertura vegetal sobressai a parcela com pinhal jovem, seguida da que ficou em pousio. A protecção vegetal, no ciclo de cultivo, oscila entre os 0%, no período de alqueive que antecede a sementeira dos cereais, e os 70%, em Março/Abril, quando o centeio atinge um elevado crescimento. Análises granulométricas efectuadas aos solos põem em evidência o predomínio de texturas franco-arenosas em todas as áreas analisadas, devido à preponderância das areias (2-0,063mm) e à fraca proporção de elementos finos (silte e argilas). De entre os usos do solo monitorizados, os valores mínimos de porosidade foram obtidos nas parcelas em pousio e na pastagem (± 50%). Em contrapartida, é no campo de cereais, na parcela com plantações de pinheiros e sob o carvalhal em recuperação que se assinalam as maiores percentagens de poros (≥ a 60%), nos 10 cm superficiais. Sob o pinhal adulto e sob o mato (giestal), a porosidade ronda os 55%. Os maiores teores de matéria orgânica foram observados nas parcelas que comportam comunidades arbóreas (carvalhal em recuperação e pinhal adulto) e arbustivas, com valores a rondar os 1,5%. Pelo contrário, as cultivadas com cereais e em pousio são as que mostram as mais baixas percentagens de matéria orgânica, cerca de 0,5%, enquanto nas parcelas com pastagem e pinhal plantado os valores obtidos rondavam os 1%. 5 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 4.2. Variações da humidade no perfil dos solos A Figura 4 sistematiza alguns dos parâmetros estatísticos relativos à humidade do solo no decurso 2005 e 2006, para os diferentes perfis. Os valores expostos correspondem à média das 4 leituras efectuadas às profundidades de 10, 20, 30 e 40 cm. As linhas extremas representam os valores máximos e mínimos observados, a caixa encontra-se delimitada pelo 1º e 3º quartil, sendo o traço do meio o valor referente à mediana. 45 45 2005 40 35 30 25 Pastagem Cereais Pousio Carvalhal em recuperação Pinhal adulto Mato Pinhal jovem 40 35 30 20 15 15 10 10 0 2006 Pinhal Pastagem jovem Carvalhal em recuperação Pinhal adulto Mato 25 20 5 Pousio Cereais 5 p=0,000 0 p=0,000 Figura 4. Humidade no perfil dos solos sob diferentes usos e cobertos vegetais. Em todos os solos monitorizados, os valores máximos, mínimos e mediana se revelaram superiores no ano de 2006 comparativamente ao de 2005. Para o primeiro ano observado obteve-se uma mediana de 17% enquanto no segundo ano rondou os 23%. Estes maiores teores de humidade relacionam-se, em especial, com os superiores quantitativos de precipitação registados no segundo ano monitorizado, com um total de 1220 mm, face a 2005, cuja soma pluviométrica pouco ultrapassou os 500 mm. A maior distribuição intra-anual deste meteoro no decurso de 2006 também pode ter contribuído para os mais altos conteúdos assinalados. Ainda em relação a 2005, além do menor volume de precipitação, cerca de 40% do total ocorreu em apenas um mês, no de Outubro, enquanto 70% concentrou-se entre Outubro e Dezembro. Por outro lado, há ainda a acrescentar o facto dos meses de Novembro e Dezembro de 2004 terem assinalado valores bastante baixos de precipitação, quando confrontados com os quantitativos tidos como médios para a área. 6 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 0 50 100 150 200 250 300 42 PRECIPITAÇÃO (m m ) 350 (º C ) 39 36 TEMPERATURAS 33 30 M é d ia d a s t e m p e r a t u r a s m á x im a s 27 24 21 18 15 12 9 6 M é d ia d a s t e m p e r a t u r a s d iá r ia s 3 N o v .0 6 D e z .0 6 Dez.06 O u t.0 6 Out.06 Nov.06 S e t.0 6 J u l.0 6 Jul.06 Set.06 J u n .0 6 Jun.06 A g o .0 6 M a i.0 6 Mai.06 Ago.06 A b r.0 6 Abr.06 M a r.0 6 F e v .0 6 J a n .0 6 D e z .0 5 N o v .0 5 O u t.0 5 S e t.0 5 A g o .0 5 J u l.0 5 J u n .0 5 M a i.0 5 A b r.0 5 M a r.0 5 F e v .0 5 J a n .0 5 0 (%) 40 HUMIDADE DO SOLO 35 30 25 20 15 10 PCS PP PM PCR Mar.06 Fev.06 Jan.06 Dez.05 Nov.05 Out.05 Set.05 Ago.05 Jul.05 Jun.05 Mai.05 Abr.05 Mar.05 Fev.05 0 Jan.05 5 PPA PPJ PAST PCS: Parcela com cereais de sequeiro; PP: Parcela em pousio; PM: Parcela com matos; PCR: Parcela com carvalhal em recuperação; PPA: Parcela com pinhal adulto; PPJ: Parcela com pinhal jovem; PAST: Parcela com pastagem. Figura 5. Evolução mensal da precipitação, temperaturas médias diárias e média das temperaturas máximas e humidade no perfil do solo, em 2005 e 2006 7 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais Em ambos os anos monitorizados, os valores mais elevados de humidade foram assinalados pelos solos com pastagem, a que correspondem uma mediana de, respectivamente, 24% e 31%. Por ordem decrescente, seguiram-se os solos sob pinheiros jovens, com cereais e carvalhal em recuperação. Com os menores teores de humidade sobressaem os perfis que comportam comunidades arbustivas, que ficaram em pousio e, ainda, os que se encontram sob pinhal adulto. A análise da variância (ANOVA), relativa a 2005 e 2006, mostra diferenças, com significado estatístico ao nível de 0,000 (p=0,000), entre os diferentes tipos de ocupação, corroborando a importância que tem sido atribuída aos usos e à cobertura vegetal na explicação das variações espaciais do teor de humidade do solo (Gómez-Plaza et al., 2000; James et al., 2003). O comportamento da humidade do solo ao longo do ano relaciona-se directamente com as variações sazonais ocorridas na precipitação e na temperatura (Figura 5). Como seria de esperar, os maiores teores de humidade foram assinalados nos meses em que se registaram os mais altos quantitativos de precipitação, os quais coincidem com as menores temperaturas. Em contrapartida, as mais baixas concentrações de humidade ocorreram nos meses de Verão, quando a precipitação é negligenciável, as temperaturas são bastante altas e a evapotranspiração atinge os valores anuais mais elevados. Os resultados da aplicação de regressões múltiplas, com o objectivo de aclarar a dependência acumulada da humidade do solo relativamente às três variáveis analisadas, aparecem sistematizados nos Quadros 1 (A e B). Em relação a 2005 (Quadro 1A), os modelos multivariados apresentam como variável independente ou com maior peso, por justificar mais de 65% da variância, a média das temperaturas máximas registadas nos 15 dias antecedentes às leituras efectuadas. Os usos do solo que apresentam a maior dependência em relação a esta variável são o pousio (com 93,6% da variância explicada), o pinhal adulto (76,5%), o carvalhal em recuperação (74,8%), o pinhal jovem (74,4%), a pastagem (71%) e, por último, a parcela com mato (65,3%). Nos solos sob carvalhal em recuperação, pinhal adulto e pinhal plantado o modelo introduz, ainda, a temperatura média diária registada nos 15 dias antecedentes à leitura, embora a variância explicada por este elemento seja reduzida, pois em nenhum dos casos o respectivo aditamento ultrapassa os 10%. Como excepção, tanto em 2005 como em 2006, ressalta a parcela com a cultura de cereais, onde a maior parte da variabilidade observada na humidade do perfil do solo se relaciona com as oscilações assinaladas na precipitação. A associação desta variável 8 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 com a média das temperaturas máximas representa um acréscimo de cerca 30%, explicando estes dois elementos do clima, em 2005, aproximadamente 90% das variações observadas. Em 2006, o modelo admite também a média das temperaturas máximas, explicando ambas as variáveis cerca de 79% das oscilações registadas. Em 2006 (Quadro 1B), as variâncias explicadas através dos modelos de regressão linear múltipla são, com excepção das parcelas com cereais e em pousio, superiores às de 2005 pois a influência conjunta da precipitação e da temperatura justifica mais de 87% da variabilidade observada no conteúdo de água no solo. Estes dados parecem sugerir que, nos anos mais pluviosos, as oscilações no teor de humidade dos solos são melhor explicadas pelas variações que ocorrem nos elementos do clima, sendo as temperaturas máximas, no cômputo geral, através da influência que exercem na evapotranspiração do coberto vegetal, que explicam a maior variância observada. 9 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais 2005 Modelo r Variância explicada (%) Erro padrão da regressão Pastagem 1a 2b 1c 1c 1c 2d 1c 2d 1c 2d 1c 0,778 0,941 0,967 0,808 0,865 0,903 0,875 0,922 0,862 0,894 0,843 60,5 88,6 93,6 65,3 74,8 81,6 76,5 85,1 74,4 80,0 71,0 3,1536 1,7875 1,9563 2,7393 3,2192 2,8231 2,7021 2,2118 2,5139 2,2843 2,8516 2006 Modelo Variância explicada (%) Erro padrão da regressão Cultura de cereais Pousio Matos Carvalhal em recuperação Pinhal adulto Pinhal jovem r Equações da regressão múltipla (humidade do solo em %) Θ = 10,934+0,234Prec. Θ = 17,687+ 0,185Prec.-0,268 Tmax. Θ = 32,403-0,639Tmax. Θ = 19,327-0,359Tmax. Θ = 29,221-0,529Tmax. Θ = 34,080-1,031Tmax.+ 0,639Tmed. Θ = 25,126-0,466 Tmax. Θ = 29,858-0, 955 Tmax.+ 0,623Tmed. Θ = 30,866-0,409Tmax. Θ = 34,265-0,760 Tmax.+ 0,447Tmed. Θ = 33,779-0,426Tmax. Equações da regressão múltipla (humidade do solo em %) Cultura de cereais 1a 0,830 68,9 4,2184 Θ = 19,599+0,099 Prec. 2b 0,887 78,7 3,5733 Θ = 27,970+ 0,078Prec.-0,309 Tmax. Pousio 1c 0,827 68,4 4,1788 Θ = 37,965-0,704Tmax. 1d 0,940 88,4 2,5928 Θ = 29,963-0,459Tmax.+ 0,056Prec. Matos 1a 0,843 71,1 3,6569 Θ = 12,465+0,090Prec. 2e 0,959 92,0 1,9620 Θ = 18,216+0,076Prec.- 0,409Tmed. Carvalhal em 1c 0,912 83,2 2,9511 Θ = 40,187-0,752Tmax. recuperação 2d 0,944 89,1 2,4314 Θ = 35,971-0,642 Tmax.+ 0,031Prec. Pinhal adulto 1c 0,864 74,7 3,2411 Θ = 33,090-0,637 Tmax. 2d 0,940 88,4 2,2404 Θ = 27,335-0, 487 Tmax.+ 0,043Prec. Pinhal jovem 1c 0,829 68,8 3,5461 Θ = 39,746-0,603Tmax. 2d 0,955 91,3 1,9185 Θ = 32,499-0,414 Tmax.+ 0,054Prec. Pastagem 1c 0,856 73,3 3,2956 Θ = 44,007-0,625Tmax. 2d 0,932 86,9 2,3617 Θ = 38,341-0,478Tmax.+ 0,042Prec. Modelo- 2005: a) Predictors: (Constant), Prec.; b) Predictors: (Constant), Prec., Tmax.; c) Predictors: (Constant), Tmax., d) Predictors: (Constant), Tmax., Tmed.; Modelo- 2006: a) Predictors: (Constant), Prec.; b) Predictors: (Constant), Prec., Tmax.; c) Predictors: (Constant), Tmax., d) Predictors: (Constant), Tmax., Prec.; e) Predictors: (Constant), Prec., Tmed.; Prec.: Precipitação acumulada nos 15 dias anteriores à leitura da humidade do solo; Tmax.: Média das temperaturas máximas nos 15 dias anteriores à leitura da humidade do solo; Tmed.: Média das temperaturas diária nos 15 dias anteriores à leitura da humidade do solo. Quadro 1. Resultados da aplicação de regressões múltiplas entre a humidade no perfil dos solos e os elementos do clima (precipitação e temperatura). 4.3. Variações espaciais da humidade Vários estudos, efectuados em distintas condições climáticas, consideram que, sob climas húmidos, a variabilidade espacial da humidade do solo é superior quando o perfil está seco (Famiglietti et al., 1999; Illston et al., 2004) enquanto em condições semi-áridas as diferenças espaciais incrementam-se quando o perfil está mais húmido (Gómez-Plaza et al., 2000; Martínez-Fernández et al., 2003). 10 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Na área em análise, tendo em conta a instabilidade espacial da humidade no perfil dos solos para os dois anos analisados (Figura 6), pode verificar-se que os desvios mais expressivos, avaliados através da evolução mensal dos coeficientes de variação, ocorrem no período em que a humidade atinge as menores percentagens, ou seja, entre Junho e Setembro. Nas épocas mais húmidas, de Novembro a Abril, os coeficientes de variação atenuam-se, acusando uma maior homogeneidade entre os diferentes perfis monitorizados. As maiores discrepâncias observadas em praticamente todo o ano de 2005, com excepção dos últimos 2 meses, sugerem que quanto menores forem os quantitativos de precipitação, maiores serão as diferenças de humidade nos diversos usos de solo. (%) 140 120 100 80 60 40 Perfil (10-40 cm) 10 cm 20 cm 30 cm Dez.06 Nov.06 Set.06 Out.06 Ago.06 Jul.06 Jun.06 Mai.06 Abr.06 Mar.06 Fev.06 Jan.06 Dez.05 Nov.05 Out.05 Set.05 Jul.05 Ago.05 Jun.05 Abr.05 Fev.05 Mar.05 Jan.05 0 Mai.05 20 40 cm Figura 6. Evolução dos coeficientes de variação da humidade entre os diferentes tipos de ocupação e coberto vegetal É na camada superficial dos solos que se observavam os mais elevados coeficientes de variação, sendo os respectivos desvios mais expressivos nos períodos de maior escassez pluviométrica, os quais coincidem com temperaturas mais altas, face aos que registam maiores quantitativos de precipitação e temperaturas inferiores. Por conseguinte, a instabilidade espacial entre os diferentes usos do solo foi, no decurso de 2005, visivelmente superior face a 2006, atingindo-se um pico nos 3 meses de Verão, ao superar os 100%. Estes resultados mostram que é nesta profundidade que a humidade sofre as maiores variações temporais, em cada tipo de ocupação, mas também as maiores oscilações espaciais, isto é, entre os diferentes usos do solo. À medida que a profundidade aumenta, a instabilidade espacial e temporal da humidade tende a decrescer, atingindo à espessura de 40 cm os valores mais baixos, 11 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais sendo nos meses em que se regista a maior evapotranspiração que ocorre a maior instabilidade no conteúdo de água no solo. 5. Discussão e conclusões Os diversos usos do solo e coberturas vegetais acusaram diferenças significativas no respectivo teor de humidade, no decurso dos dois anos monitorizados. Em termos sazonais, as oscilações no comportamento da humidade, quer à superfície quer no perfil dos solos, estão dependentes da estacionalidade da precipitação e, sobretudo, das variações registadas nas temperaturas. Com a primeira variável, a relação é positiva enquanto com a segunda é de sinal negativo. A disponibilidade da água no solo depende, ainda, da sua aptidão para a armazenar e conservar. A análise à evolução intra-anual da humidade permite verificar que os solos alcançaram nas épocas mais críticas em termos de evapotranspiração, que coincidem com o período de maior escassez em termos pluviométricos e com as temperaturas mais elevadas, um acentuado défice hidrológico, sobretudo nas duas camadas superficiais, em que a água praticamente desaparece ou fica muito limitada para a vegetação, tanto nas culturas antrópicas como nas espécies naturais. Esse défice de água foi, peculiarmente, intenso até ao mês de Outubro de 2005, pois, desde Novembro de 2004 até à referida data, os quantitativos de precipitação foram bastante baixos. As maiores quantidades de pluviosidade registadas no decurso de 2006, associadas a temperaturas médias máximas ligeiramente mais baixas explicam os maiores teores de humidade, ao longo de todo ano, e a menor variabilidade espacio-temporal entre os diferentes usos dos solos. Os resultados obtidos mostram, assim, a importância do uso e coberto vegetal no teor de humidade do solo (Gómez-Plaza et al., 2000; Martínez-Fernández, et al, 2003), pois em todos os níveis de profundidade se detectaram diferenças com significado estatístico. De facto, a vegetação constitui um factor determinante no conteúdo de água do solo, devido às variações sazonais no grau de cobertura vegetal, às exigências por parte dessa mesma vegetação e ao padrão das raízes (Gómez-Plaza et al., 2000). Nas camadas superficiais do solo a precipitação e a vegetação são os principais factores a influenciar a variabilidade da humidade, uma vez que a evapotranspiração (intimamente dependente da temperatura do ar, mas também da maior ou menor densidade do sistema radicular) se manifesta mais activa. À medida que a profundidade aumenta, continua a verificar-se uma plena dependência da humidade em relação aos principais elementos do clima. A estabilidade temporal e espacial 12 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 tende a incrementar-se com a profundidade, tendo assinalado as menores variações no ano em que se registou maior quantidade de precipitação, ou seja em 2006. Entre os usos do solo monitorizados, destaca-se a pastagem como sendo a que mais humidade armazenou ao longo do período avaliado. A ordem decrescente, tendo em conta os dois anos observados, seria a seguinte: pastagem> pinhal jovem> cultura de cereais> carvalhal em recuperação> pousio/abandono recente> pinhal adulto> mato. Estes resultados estão de acordo, por exemplo, com aqueles que foram obtidos por Rauzi (1963) ou Rauzi & Smith (1973), ou mais recentemente por Bosch et al. (2006). Com efeito, a gestão de pastagens tem sido identificada como um tipo de uso que pode ser utilizado para incrementar o teor de humidade no solo, disponível para as plantas (Rauzi, 1963). A explicação para este aumento deve-se, por um lado, ao facto das pastagens afectarem a biomassa vegetal, que se desenvolve à superfície e é depois fornecida sob a forma de manta morta, interferindo de modo positivo na infiltração (Rauzi & Smith, 1973). Vários trabalhos (Bosch & Hewlett, 1982; Zhang et al., 1999; Farley et al., 2005) são, também, peremptórios ao afirmarem que o bosque consome uma quantidade de água bastante maior face às comunidades vegetais dominadas por espécies herbáceas. Com efeito, o bosque apresenta potenciais de evaporação e intercepção mais significativos do que as comunidades herbáceas, pois o respectivo balanço energético e a própria estrutura da cobertura vegetal arbórea é capaz de consumir e libertar maior quantidades de água para a atmosfera (Gallart & Llorens, 1996). À semelhança do registado para as formações arbóreas, são também diversas as investigações a concluírem que a recolonização por parte de densas comunidades arbustivas, apesar de favorecerem a infiltração, aumentam de forma expressiva as perdas de água por intercepção e por evapotranspiração (Gallart & Llorens, 1996; Belmonte Serrato et al., 1999). De acrescentar, ainda, o facto das comunidades arbustivas se caracterizarem por uma longa e activa transpiração face às herbáceas que, sazonalmente, entram num processo de dormência (Farley et al., 2005). Nas nossas latitudes, a interrupção do ciclo biológico das gramíneas ocorre no período de Verão, altura em que a evapotranspiração potencial atinge o seu valor máximo. Nestas circunstâncias, as perdas de água do solo passam a fazer-se por evaporação, afectando em especial a camada superficial em contacto com a atmosfera. A ausência de um coberto vegetal permanente, constituído essencialmente à base de herbáceas, e as escassas exigências hídricas dos pinheiros ainda muito jovens, são talvez os factores que mais terão contribuído para os maiores valores de humidade 13 Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais registados, em ambos os anos monitorizados, na parcela com pinhal jovem. Outra das causas poderá estar associada ao desenvolvimento de crostas superficiais, sobretudo no período de Verão, contribuindo para uma redução nos níveis de evaporação das camadas superficiais do solo. A maior variabilidade obtida nas parcelas sujeitas à cultura de cereais e em pousio, na camada superficial, sugerem que estes solos respondem, de forma mais dinâmica, às oscilações sazonais dos principais elementos do clima, mas também, evidenciam uma fraca capacidade de retenção hídrica. Este comportamento deve-se à actual ou recente utilização antrópica, cujo remeximento do solo implicou uma destruição da sua estrutura natural e um aumento da porosidade textural. Os baixos teores de matéria orgânica aliados a uma cobertura vegetal intermitente e com raízes pouco profundas faz com que respondam mais activamente ao balanço hídrico estacional. Em profundidade, as necessidades por parte da vegetação são, praticamente, nulas, efectuando-se as perdas de humidade por evaporação directa a partir do solo. 14 VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física Universidade de Coimbra, Maio de 2010 Referências bibliográficas Band, L. E., Paterson, P., Nemani, R., Running, S. W., 1993, 'Forest ecosystem processes at the watershed scale: incorporating hillslope hydrology', Agricultural and Forest Meteorology, vol. 63, pp. 93-126. Belmonte Serrato, F., Delgado Iniesta, M. 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