Formação dos Linfócitos B: Ontogenia e Memória Adeliane Castro da Costa Durante a formação das células elas passam por um processo de ontogenia. Nesse processo, cada linhagem celular passam por uma ontogenia restrita a sua linhagem. Durante a ontogenia dos linfócitos B, aquela célula tronco que está destinada a ser uma célula B apresenta o marcador CD43+, a qual passará por várias fazes de maturação para tornar-se uma célula B madura. Na fase pró-B, esta célula interage com o estroma da medula óssea, numa interação com c-KIT e FCS, VCAM e VLA-4. Pela ação do flt3 ocorrerá início da indução da transcrição gênica com início da ação da RAG1/RAG2 e da TdT iniciando a recombinação gênica e formação da cadeia pesada VDJ. Esta fase culmina numa faze Pré-B, na qual termina a formação da cadeia pesada VDJ (Pré-B precoce). Há um estímulo para a formação de uma cadeia leve falsa a qual ocupa o sítio da cadeia leve. Neste momento ocorre a indução de estímulo para a produção de IL-7 pelo estroma da medula óssea. Além disso o linfócito Pré-B adquire receptor de IL-7. Esta célula entra numa fase em que não há mais ação da RAG1/RAG2 nem da TdT, para evitar indução de mutações durante o processo de proliferação. Após a proliferação e formação de vários clones, volta a ação das enzimas RAG1/RAG2 e não mais da TdT, uma vez que irá formar a cadeia leve da BCR, nas quais não há adição de nucleotídeos durante a formação. Esta célula que agora é um linfócito Pré-B tardio apresenta em sua membrana a BCR (IgM) com cadeias completas pesadas e leves e Igα e Igβ. Novamente há a ação da IL-7 e esta célula entra em proliferação, formação de vários clones, encerrando-se o processo de recombinação gênica. Agora esta célula é um linfócito B maduro que possue em sua membrana IgM, Igα e Igβ. Agora ela irá passar por um processo de seleção em que o reconhecimento forte do antígeno próprio pode levar a edição de receptor até que ele não reconheça tão forte o antígeno próprio. Caso ele reconheça fracamente este será selecionado positivamente e passa a expressar IgM, IgD, Igα e Igβ em sua membrana. Estas células são agora linfócitos B maduros que possuem receptores aptos em sua membrana. Elas saem da medula óssea e migram para os órgãos linfóides periféricos para poderem ter a chance de encontrar com o antígeno. Por meio de gradiente de quimiocinas CXCL13 essas células podem ser atraídas para o linfonodo utilizando os receptores de adesão CD44 e CXCR5, entrando no linfonodo por meio das vênulas do endotélio alto. No linfonodo, antígenos podem entrar por meio de vasos linfáticos aferentes e serem retidos pelos macrófagos especializados e por células dendríticas foliculares. Dentro do linfonodo, os LB podem entrar em contato com os antígenos retidos por macrófagos especializados e mostrados por receptores Fc de complemento ou por outras maneiras. Nesta fase o linfócito B reconhece o antígeno por meio do BCR, induzindo este linfócito a sobrevivência e proliferação. A sobrevivência e proliferação podem ser induzidas por Bcl-2 e BAFF. Nesta fase, esta célula que agora é um blasto pode se diferenciar para o plasmócito de vida curta, podendo produzir anticorpos sem muita especificidade. Outro caminho que esta célula pode seguir é se conduzir para o folículo, formando o centro germinativo (também chamada de zona escura). No centro germinativo esta célula passa a ser chamada de centrócito. Por meio da ação da AID ela inicia o processo de hipermutação somática e CSR (Class Swit Recombination), ao mesmo tempo em que está em processo de proliferação. Após este processo, os clones gerados migram para a zona clara a qual é rica em células dendríticas foliculares mostrando os antígenos em sua membrana. Neste local, os clones de LB irão entrar em contato com o antígeno por meio do BCR (nesta fase essa célula é um centroblasto). Caso haja linfócitos T cognatos naquela região, pode haver a troca de isótipos e esta célula pode ou não tornar-se um plasmócito secretor de anticorpos. Caso não haja linfócitos cognatos, essas células retornam a zona escura, passam por um processo de proliferação com hipermutação somática pela AID (processo chamado de maturação de afinidade). Estas células passam por uma divisão estocástica, de maneira qu7e os clones gerados não sejam idênticos. Estas células retornam para a zona clara, reconhecem novamente o antígeno mostrado pelas células dendríticas. Alguns podem reconhecer de maneira forte o antígeno e outras de maneira fraca. A força do reconhecimento gera nessas células estímulos de sobrevivência e proliferação, podendo receber ação da IL-4 que induz produção de BAFF e Bcl-2 nessas células. Caso reconheçam fracamente elas podem entrar em apoptose ou retornam para a zona escura, fazendo todo o processo novamente até que se formem células com alta afinidade pelo antígeno. Esta célula com alta afinidade perdem CXCR5 e ganham CXCR7, permitindo sua migração para a zona de linfócitos T e B, ocorrendo mudança de isótipo e formação de células B efetoras e de memória (Plasmócitos de vida longa). Bruno de Paula Santos Células progenitoras hematopoiéticas na medula óssea podem ter dois destinos: células progenitoras mieloides ou células progenitoras linfoides (CLP). Assim que ela toma o destino linfoide, ela passa a expressar fatores que a fazem migrar para o endósteo, como o CXCR4. A CLP expressa VLA-4 que se liga a VCAM-1, presente nas células estromais, e o ckit de CLP se liga a SCF. Essas ligações ativam E2A, responsável pela expressão de IKAROS, PU.1. Células que expressam E2A tomaram um destino para se tornar linfócito B, enquanto a expressão de Notch 1 é para um destino de célula T. A células pró-B precoce está ligada à célula estromal e a expressão de Ikaros leva a expressão de Rag1/2 e Tdt, fatores responsáveis pela recombinação somática de de DHJH da cadeia pesada. Posteriormente, há o fim da recombinação onde DHJH se recombinam com VH e VHDHJH se liga a porção constante, formando um VpréBCR/λ5, onde a cadeia leve é tida por falsa, por ainda não ser a cadeia leve final. PU. 1 e E2A levam a expressão do receptor IL7Rα e nesse estágio tem-se a célula pró-B tardia. As células estromais liberam IL-7 que ligam ao receptor IL7Rα e a célula então se solta, havendo também redução da expressão de cKit. A célula começa a se proliferar (células pré-B “early” ou grande). Há a ativação de fatores de Ikaros novamente, como Rag1/2 e começa o processo de formação da cadeia leve. TGF-β é responsável pela redução de Rag1/2 ao fim deste processo, onde as células pró-B pequenas estão formando o BCR. Quando a molécula de IgM está formada, tem-se a célula B imatura. A formação de IgD, molécula de BCR de suporte no crosslinking, auxilia na seleção negativa deste linfócito B, tentando a sua capacidade de reconhecer antígenos próprios. Outros fatores levam esse linfócito, já maduro, para a circulação, com destino aos órgãos linfoides periféricos. Nos linfonodos, eles chegam pelas vênulas altas. O processo de encontro e reconhecimento de antígenos podem se dar por várias formas. O antígeno pode ter adentrado no epitélio do órgão e estar na região medular, pode ter vindo pela circulação e ter sido capturado por um macrófago subcapsular ou por uma célula dendrítica, pode ter sido retido em alguma região do tecido devido o seu tamanho. Para que as células B e T cognatas (aquelas que reconhecem o mesmo epítopo) tenham maior chance de se encontrar, esses antígenos são previamente mostrados as essas células, para que o LB possa apresentar o antígeno à célula T. Logo, as células dendríticas foliculares formam estruturas denominadas icossomas, que aprisionam o antígeno em “bolsas” capazes de mostra-las à célula B. Se esse linfócito B reconhecer esse antígeno, ele será endocitado e processado. Há entçao a ativação de proto-oncogenes, sendo o principal o Bcl-2, que irá ativar a proliferação dessa célula. Sendo esse processo de divisão estocástico, algumas se tornarão plasmócitos de vida curta e alguns serão células apresentadoras de antígenos. Para que ocorra um forte reconhecimento do linfócito B com o antígeno, ocorre primeiro uma ligação fraca, mas suficiente para levar essa célula a proliferação. Forma-se assim a zona escura do centro germinativo, onde as células sofrem hipermutação somática e tentam novamente reconhecer o antígeno. Aquela que reconhecer com maior afinidade vai passar por esse processo novamente e aquelas que não reconheceram, sofrerão apoptose. Esse processo continua até haver um reconhecimento de alta afinidade, em que a célula B vai se manter ligado por tempo o suficiente para endocita-lo e apresentalo por via de MCH de classe II e expressar CCR7, que fará os linfócitos B ativados migrarem para a zona de células T. Linfócitos T helper ativados após reconhecimento do mesmo antígeno, expressam CXCR5, que os fazem migrar para a zona folicular. Diz-se então que o local de apresentação do antígeno ao linfócito T helper pela célula B é feita na zona de transição. O TCR reconhece o MHC de classe II, o CD40L do linfócito T se liga ao CD40 do linfócito B e o B7 do mesmo se liga ao CD28 da célula T. Há então ativação da transdução de sinal para que ocorra a troca de isótipo da cadeia pesada, a formação de plasmócitos de vida longa e células de memória. Vale lembrar que o processo descrito é para resposta ditas timo-dependentes (para antígenos proteicos). Antígenos polissacarídicos e lipídicos são capazes de deflagar um sinal forte o suficiente para a ativação de linfócitos B sem o auxílio de células T.