Consumo em 2012 antibiótic 9.º DA EUROPA Consumimos 23 doses diárias de antibiótico por mil habitantes, o dobro dos holandeses, os mais moderados. excesso de uso reduz A utilização incorreta dos antibióticos tem contribuído para o desenvol Algumas já sobrevivem à ação de vários medicamentos deste tipo. Se não arr o drama das infeções da “era pré-antibióti T omar os antibióticos de forma responsável, apenas quando indispensáveis e seguindo com rigor as indicações do médico, é crucial para travar o desenvolvimento de bactérias resistentes, preservar a eficácia daqueles medicamentos e legar armas de combate às próximas gerações. O alerta é reforçado de forma sistemática pelas autoridades de saúde nacionais e internacionais, com particular ênfase no Dia Europeu do Antibiótico, comemorado todos os anos, a 18 de novembro. A introdução dos tratamentos com antibióticos permitiu reduzir a duração das doenças causadas por bactérias e a consequente mortalidade, abrindo as portas à evolução da medicina. Não seria possível, por exemplo, realizar transplantes de órgãos, quimioterapia ou, mesmo, cirurgias ortopédicas sem a ajuda de antibióticos potentes. Mas o número de doentes infetados com bactérias que não cedem à ação dos antibióticos está a aumentar. Alguns já não conseguem ser tratados adequadamente, porque os microrganismos resistem a vários medicamentos a que, no passado, eram sensíveis. São as chamadas bactérias multirresistentes, que sobrevivem na presença de três ou mais antibióticos. Arma contra infeções Estes medicamentos, também denominados antibacterianos, matam as bactérias ou inibem o seu crescimento, 1. Quando surgiram os antibióticos 1930 Inibem o crescimento de bactérias responsáveis, por exemplo, por pneumonias e infeções no coração e nos ossos. 34 testesaúde 118 1940 Ambos matam as bactérias causadoras, por exemplo, de pneumonia, infeções urinárias e otites. 1950 Os três primeiros impedem o crescimento da clamídia (infeção sexualmente transmissível) e de bactérias causadoras de pneumonias. O último elimina microrganismos que provocam infeções graves. icos Só com receita. Tome antibióticos apenas quando recomendados pelo médico. Não use os que foram prescritos a outra pessoa ou que sobraram de um tratamento anterior, mesmo que lhe pareça sofrer do mesmo problema. Infeções à distância. Lave as mãos com frequência, para limitar a transmissão de microrganismos. Este cuidado é particularmente importante após espirrar, tossir ou assoar-se. Tratamento à risca. Siga as indicações do médico quanto à dose, frequência da toma e duração do tratamento, mesmo que se sinta melhor. uz eficácia vimento de bactérias resistentes. epiarmos caminho, podemos reviver cos” 3. Missão do doente ajudando a curar infeções em pessoas, animais e, por vezes, plantas. Destinam-se a tratar doenças causadas por bactérias, como pneumonias pneumocócicas. Nas infeções da garganta, ouvidos e olhos são muitas vezes inúteis ou desnecessários, porque a maioria é causada por vírus ou por substâncias alergénicas, contra os quais aqueles medicamentos não têm efeito. O mesmo se verifica em relação às gripes > 2. Resistências em Portugal Streptococcus pneumoniae Klebsiella pneumoniae Pseudomonas aeruginosas Enterococcus Staphylococcus Escherichia faecalis aureus coli 21% resistentes 22% resistentes 27% resistentes 37% 47% resistentes resistentes 60% resistentes As seis bactérias com mais resistências podem causar pneumonias e infeções urinárias, entre outras. A Escherichia coli, com 60% de bactérias insensíveis às aminopenincilinas, é a mais problemática. No caso da Klebsiella pneumoniae, é preocupante a mutirresistência: mais de um quinto das bactérias não sucumbe na presença de cefalosporinas, fluoroquinolonas e aminoglicosídeos. 1960 As quinolonas eliminam, por exemplo, bactérias responsáveis por infeções urinárias. Os dois últimos impedem o desenvolvimento de infeções pélvicas e abdominais. 1970 Trava o crescimento de bactérias como as que causam pneumonias ou infeções no coração e nos ossos. 2000 Impede o crescimento, por exemplo, dos microrganimos responsáveis por pneumonia, incluindo a hospitalar, e infeções cutâneas. Nos últimos anos não houve inovação na área dos antibióticos. É preciso apostar na investigação para continuarmos a ter armas contra infeções. 118 testesaúde 35 Higiene das mãos 15 SEGUNDOS Lavar as mãos com água e sabão, por exemplo, antes e após contactar com doentes, previne infeções. > e constipações. As infeções urinárias, apesar de muitas vezes serem bacterianas, raramente necessitam de antibiótico: basta usar um analgésico para controlar os sintomas. Existem vários grupos de antibióticos, que se diferenciam pela composição química e pelo seu modo de atuação nas bactérias. Distinguem-se ainda pelo número de bactérias que atingem: alguns combatem apenas um grupo restrito (ditos de espetro estreito) e são receitados quando se conhece o microrganismo causador da doença, geralmente, após a realização de análises; outros atuam sobre vários tipos (largo espetro), podendo ser prescritos quando não se conhece o real responsável ou quando estão envolvidas várias bactérias. O ideal seria que os médicos apenas prescrevessem antibióticos depois de apurarem o microrganismo que originou a doença. Em maio de 2015, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução para promover a segurança dos pacientes e intensificar a batalha contra as resistências bacterianas. Nesta, recomenda, quando possível, a realização sistemática de um diagnóstico microbiológico antes da prescrição, de modo a escolher o medicamento certo. O uso de antibióticos pela razão errada por exemplo, quando a infeção é causada por vírus - ou de forma incorreta, que inclui tratamentos mais curtos do que o necessário, doses mais baixas ou com menor frequência, favorece o aparecimento de resistências. Defesas naturais aceleradas O desenvolvimento de mecanismos de defesa pelas bactérias é um processo natural de adaptação a ambientes adversos. A utilização excessiva 36 testesaúde 118 Antibiótico útil às vezes DOR DE GARGANTA E TOSSE A toma de antibiótico só pode justificar-se se a tosse persistir por mais de 14 dias ou se a garganta apresentar pontos brancos, acompanhados de febre. Na maioria das vezes, estes sintomas assinalam uma infeção bacteriana. OTITE Em geral, melhora em três dias. Em bebés até aos 6 meses, o antibiótico pode ser ponderado após os primeiros sinais. Os mais velhos também são candidatos à toma, se tiverem sintomas severos. SINUSITE Mais de 10 dias sem melhoras, febre alta, expetoração espessa e colorida durante mais de três dias podem justificar o antibiótico. INFEÇÃO URINÁRIA A toma deve ser pensada caso os sintomas não diminuam após três ou quatro dias. INFEÇÃO NO OLHO Se não melhorar após uma semana, sentir dor, houver inchaço ou secreções espessas, pode ser preciso aplicar um antibiótico. e inapropriada de antibióticos, dentro e fora dos hospitais, acelera a produção de resistência. Quando, por exemplo, o nosso corpo não absorve uma quantidade de medicamento suficiente para matar os microrganismos, estes podem sofrer alterações genéticas que impedem a sua ação. Estas bactérias “alteradas” multiplicam-se, prolongando ou agravando a doença. Os mecanismos de defesa passam para a geração seguinte, garantindo que os “filhos” são, pelo menos, tão resistentes como os “pais”. Mas não só: as bactérias que vivem no mesmo espaço trocam, entre si, material genético, no qual é possível seguirem genes de resistência aos antibióticos. As bactérias “modificadas” podem ter capacidade para alterar a estrutura química do medicamento ou para impedir a sua entrada. Há ainda mutações na estrutura do próprio microrganismo que o tornam insensível. Deste modo, desenvolvem-se infeções mais difíceis de tratar. Os antibióticos habitualmente usados tornam-se ineficazes. O médico terá de escolher outros, nalguns casos, mais potentes e caros, atrasando o tratamento. Com o avançar do processo, alguns microrganismos adquirem capacidade para se protegerem de vários antibióticos. Quando adquirem resistência a, pelo menos, três grupos de antibióticos, diz-se que são multirresistentes. Há já várias bactérias que podem tornarse insensíveis a todos os antibióticos conhecidos (panresistentes), até porque têm aparecido poucos fármacos novos nos últimos anos. Se tal suceder, há o risco de regressarmos à “era pré-antibióticos”, com maior número de infeções impossíveis de tratar e mais mortes. Preservar o antibiótico Segundo o Centro Europeu de Controlo de Doença, Portugal é dos países europeus com elevada taxa de resistência do Staphylococcus aureus, responsável por pneumonias, infeções no coração e nos ossos, e do Enterococcus faecalis e faecium, que causam infeções urinárias e meningite. Felizmente, em 2012 ainda acredita na eficácia dos antibióticos contra vírus e um quarto afirma que servem para atacar gripes. Estas crenças erradas são mais comuns entre os inquiridos com menor escolaridade. Quase todos confessam, no entanto, já ter recebido informação sobre a forma de tomar estes fármacos, na maioria dos casos, de profissionais de saúde. Provavelmente, tal ocorreu aquando da prescrição e dispensa destes medicamentos. No último ano, apenas quatro em cada 10 obtiveram informação relacionada com o tema e apenas um quinto se lembra de campanhas institucionais. Talvez o médico de família e o farmacêutico devam chamar a si esta responsabilidade de informação e consciencialização, sobretudo se forem confrontados com pedidos injustificados de antibióticos dos consumidores. Para que, pelo menos, seja acautelada a utilização correta. Cristina Cabrita Especialista da TESTE SAÚDE Entregue eventuais sobras de antibióticos na farmácia, para evitar a tentação de usá-los mais tarde e 2013, reduzimos ligeiramente as taxas de resistência do Staphylococcus aureus à meticilina (um antibiótico), o que poderá indiciar que as medidas para o controlo deste problema começam a dar frutos. Existe um interesse global em fazer frente ao problema. Várias estratégias têm sido postas em prática, como campanhas e vídeos sobre a resistência aos antibióticos, apelos da Organização Mundial de Saúde à lavagem das mãos e à vacinação (para limitar a transmissão de infeções), a instituição do dia europeu do antibiótico e a sensibilização para a prescrição e toma racional daqueles medicamentos. Ao nível nacional, destacam-se os programas para o controlo da infeção e das resistências antimicrobianas da Direção-Geral da Saúde, e o trabalho da Aliança Portuguesa para a Preservação do Antibiótico, da qual a DECO faz parte. Este grupo, além de desenvolver ações de sensibilização junto dos consumidores e dos profissionais de saúde humana e veterinária, pretende promover a investigação na área. As campanhas sobre a utilização racional destes fármacos têm de continuar. Um inquérito que realizámos a 1243 portugueses mostra que quase metade O nosso inquérito Entre 8 e 11 de outubro, 1243 portugueses responderam a algumas questões sobre antibióticos. Metade ainda acredita erradamente que são eficazes contra vírus. As bactérias resistentes matam todos os anos 25 mil europeus Ideias corretas Uso excessivo reduz eficácia Não tratam gripes 99% 69% A toma excessiva causa efeitos secundários Não matam vírus 56% 46% Saber muda comportamentos? Já receberam informação sobre como tomar 97% Depois de informados, tornaram-se mais prudentes na toma Deixaram de usar antibióticos por iniciativa própria Deixaram de guardar sobras de antibióticos em casa 78% 44% 38% 118 testesaúde 37