ALTERAÇÕES RESPIRATÓRIAS RELACIONADAS À POSTURA Karina de Sousa Assad* Layana de Souza Guimarães** RESUMO A proposta desse artigo é demonstrar que algumas alterações posturais podem levar a distúrbios do sistema respiratório. O órgão responsável pela respiração (o pulmão) se encontra dentro da caixa torácica e qualquer modificação desta, advindo de um desequilíbrio postural, pode comprimir o pulmão de um lado ou de ambos, ou modificar o arranjo natural do mesmo, e isso, levaria a conseqüências perigosas como desencadear patologias respiratórias. O estudo sobre este tema torna-se de grande relevância visto a grande incidência de patologias do trato respiratório, assim como da coluna vertebral e músculos pertinentes. 1) A POSTURA Segundo OLIVER & MIDDLEDITCH (1998) postura é a posição assumida pelo corpo, quer seja por meio da ação integrada dos músculos operando para atuar contra a força da gravidade, ou quando mantida durante a inatividade muscular. Muitos fatores podem influenciar a postura, como o músculo esquelético e a superfície de sustentação. Segundo GARDINER (1995) a postura é a atitude assumida pelo corpo, podendo ser uma postura ativa ou inativa. A postura inativa é a que pede mínima demanda aos músculos responsáveis pela manutenção das funções corporais essenciais, tais como a * Aluna do 3o ano de Fisioterapia e Monitora da disciplina Cinesioterapia. Aluna do 3o ano de Fisioterapia e Monitora da disciplina Cinesioterapia. ** respiração, esse tipo de atitude é preferível, pois permite liberdade de movimento respiratório e o mínimo trabalho ao músculo cardíaco. Já a postura ativa é a que se mantém por meio da ação coordenada de vários músculos para conseguir estabilidade. A postura ativa estática é mantida pela interação de grupos musculares com o objetivo de estabilizar as articulações em oposição à gravidade, a postura ativa dinâmica forma uma base eficiente para o movimento, neste caso a postura é modificada constantemente como resultado disso, sendo que a intensidade e distribuição do trabalho muscular necessário dependem do padrão postural e das características do indivíduo que a assume. Em geral, são os músculos antigravitacionais que se encontram ativos, ou seja, aqueles que mantém a posição ereta do corpo contra a ação da gravidade. Esses músculos são do tipo multipenada e em forma de leque, o que favorece uma forte ação muscular além da maioria de suas fibras são vermelhas, o que ajuda na resistência a fadiga da contração prolongada, com isso conseguese alta eficiência e mínimo esforço. “Diz-se que a postura é boa quando cumpre a finalidade para a qual é usada com eficiência máxima e esforço mínimo”(GARDINER, 1995), considerando que duas pessoas nunca são idênticas, o padrão exato de boa postura tem que variar para cada indivíduo. Porém nas posturas eretas, o alinhamento de determinadas partes do corpo normalmente trás o equilíbrio perfeito de um segmento sobre o outro, um estado que pode ser mantido com o mínimo de esforço muscular e que esteticamente agrada a vista. A postura eficiente desenvolve-se muito naturalmente, desde que os mecanismos essenciais à manutenção e ao ajustamento estejam íntegros e saudáveis, para isso é importante uma base psicológica boa, pois a emoção e atitude mental têm um efeito profundo sobre o sistema nervoso como um todo, e isso se reflete na postura do indivíduo, por exemplo a alegria, felicidade e confiança são estimulantes e refletem-se em uma postura alerta na qual predomina as posições de extensão, já a infelicidade, o conflito e o sentimento de inferioridade têm efeito oposto e resultam em posturas nas quais são visíveis as posições de flexão. GARDINER (1995) afirma que a postura é má quando é ineficaz, ou melhor, quando não atinge a finalidade a que se destinava ou quando uma grande força muscular é usada para mantê-la, o alinhamento defeituoso pede um trabalho muscular adicional para manter o equilíbrio, ou distensão dos ligamentos próximos ou cãimbras dos movimentos torácicos, e até uma base ineficiente impedem a eficiência do movimento. KISNER & COLBY (1998) afirmam que a má postura é aquela fora do alinhamento normal, sem limitações estruturais. A dor é ocasionada devido a sobrecarga mecânica quando a pessoa mantém uma má postura por período prolongado. Geralmente não ocorrem anormalidades em equilíbrio de força e flexibilidade muscular, mas se a má postura continua, eventualmente se desenvolverão desequilíbrios de força e flexibilidade, porém se esse maus hábitos forem prolongados pode haver encurtamento adaptativo dos tecidos moles e haver fraqueza muscular envolvida. Segundo OLIVER & MIDDLEDITCH (1998) durante a vida adulta as alterações ocorrem nos tecidos moles são adaptativas a fatores ambientais. Tensões mecânicas como as impostas por posturas prolongadas assimétricas tem um efeito marcante sobre os músculos e tecidos moles, com isso ocorre produção aumentada de fibroblastos e de colágeno, o que pode ocasionar perda da elasticidade do músculo. GARDINER (1995) afirma que os fatores que contribuem para uma postura inadequada são a atitude mental, fraqueza geral depois de uma doença e fadiga prolongada. A dor localizada, fraqueza muscular, estresses ocupacionais e tensão localizada sem finalidade reduzem a eficiência do mesmo nessas circunstancias. Assim como uma noção errada sobre o que é uma boa postura também pode contribuir para o estabelecimento de uma má postura através do esforço voluntário ineficiente (figura 1). Sendo assim destaca-se a importância de desde criança se ter um bom hábito postural devido as sobrecargas no crescimento ósseo e alterações adaptativas em músculos e tecidos moles. 2) RESPIRAÇÃO: IMPORTÂNCIA E MECANISMO. TRIBASTONE (2001), fala da importância da respiração regular e eficaz para um bom equilíbrio psicomotor e emocional. Além de ser uma função fisiológica vital, a respiração pode estar relacionada com vários fatores emocionais e comportamentais, em que qualquer desajuste da mecânica respiratória normal reflete em atos posturais característicos e vice-versa alterando o estado emocional do indivíduo, com relação à concentração e fixação de pensamentos. O mecanismo da respiração consiste na entrada de oxigênio, através das vias aéreas superiores para os brônquios e finalmente para os alvéolos pulmonares, de onde serão levados pela corrente sangüínea para o sistema corporal. Sendo também uma via de excretas, em que através da própria corrente sangüínea o sistema como um todo elimina gás carbônico que é levado até os pulmões, de onde é eliminado para o meio através das vias aéreas superiores. Essa troca de oxigênio e gás carbônico entre o meio e os pulmões se configura no processo de ventilação alveolar. As trocas no interior do sistema é chamada de perfusão. Para que ocorra à entrada de ar nos pulmões a pressão intra-alveolar deve estar ligeiramente negativa, ou seja, menor que a pressão atmosférica, passando de um lugar de maior pressão para um de menor pressão, o mesmo acontece com a expiração, em que o ar intra-alveolar deve estar ligeiramente positivo para que o mesmo passe para o meio externo. A quantidade de ar que penetra nas vias aéreas superiores não é a mesma que chega aos pulmões, pois parte desse ar fica concentrado no espaço morto anatômico. Sendo que aquele ar mesmo estando no interior dos pulmões e não sofre troca é chamado de espaço morto fisiológico. Além da ventilação, a perfusão, que é a troca de gases no sistema como um todo, também tem que estar em perfeitas condições para uma boa respiração. Para que a respiração ocorra de forma correta, é necessário que as fases da ventilação e da perfusão estejam em harmonia, pois não adiantaria Ter uma boa ventilação sem uma boa perfusão e vice-versa. Correlacionando esse processo com a postura, teríamos que pensar no comportamento corporal mais comum adotado em geral pelos indivíduos, que é a posição em pé, deitado em decúbito dorsal, deitado em decúbito lateral e sentado. Cada uma dessas posições permite ao paciente uma mecânica respiratória diferente, em que cada uma delas pode ser a melhor ou a pior posição a ser adotada irá depender do estado do indivíduo, se este se encontra patológico ou “normal” e, de acordo com o que está acostumado. Segundo BRUNNSTROM (1995), a posição ou postura correta é aquela em que o indivíduo se encontra o mais confortável possível. Em contrapondo com o mesmo temos: “A posição mais favorável é a em pé, com o peito ligeiramente inclinado à frente, para dar mobilidade as primeiras costelas, facilitar a elevação do diafragma e diminuir a resistência das vísceras. A posição em decúbito dorsal se caracteriza por um aumento considerável da respiração abdominal. Na posição em decúbito lateral as costelas apoiadas no solo permanecerão imóveis, enquanto as costelas no alto gozam do máximo de mobilidade porque estão livres” TRIBASTONE (2001). 3) RELAÇÃO POSTURA E RESPIRAÇÃO: KISNER & COLBY (1998) afirmam que as costelas limitam todos os movimentos do tórax, por exemplo, durante a inclinação para o lado o tórax é elevado e alargado do lado contralateral e é comprimido do lado ipsolateral, e durante a rotação as costelas fazem protusão posteriormente no lado no qual os corpos vertebrais rodam e são achatados no lado contralateral. Sendo assim, o ato postural interfere na mecânica respiratória, assim como o contrário é verdadeiro. Como exemplo disso, podemos citar um indivíduo que rotineiramente fica deitado em decúbito dorsal (indivíduos que utilizam travesseiros para dormir), além de outras complicações a respiração também fica prejudicada devido à obstrução das vias aéreas e, isso em longo prazo pode ter conseqüências perigosas. Outro exemplo é a dos indivíduos que tem desequilíbrio postural em virtude de uma cifose torácica, que em quadros avançados, comprimem o pulmão, diminuindo o volume pulmonar levando a alterações respiratórias (figura 2). Exemplo parecido são os pacientes que tem escoliose, em que, se esta for côncava para o lado direito então o pulmão direito estará comprometido, pois irá ocorrer compressão havendo alteração da mecânica respiratória. Assim como pacientes que se encontram acamados por muito tempo em uma só posição, por exemplo, decúbito dorsal, irá haver comprometimento da ventilação dorsal desse paciente, já que o mesmo está comprimido contra a cama e as costelas do dorso permanecem imóveis, impossibilitando a expansão pulmonar em toda a sua amplitude. Por outro lado, para uma boa postura faz-se necessário a flexibilidade, sendo que esta flexibilidade a nível de caixa torácica torna-se imprescindível para o sucesso da respiração, pois o processo de inspiração e de expiração precisam da flexibilidade da caixa torácica para expansão e compressão pulmonar. A ausência dessa flexibilidade também leva a patologias respiratórias. BIBLIOGRAFIA AZEREDO, Carlos Alberto Caetano. Fisioterapia Respiratória Moderna. 4 ed. São Paulo: Manole, 2002. BRUNNSTROM, S. Cinesiologia clínica. 4 ed. São Paulo: Manole, 1987. GARDINER, M. Dena. Manual de terapia por exercícios. São Paulo: Santos, 1995. KISNER, Carolyn & COLBY, Lynn Allen. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole, 1998. OLIVER, Jean & MIDDLEDITCH, Alison. Anatomia funcional da coluna vertebral. Rio de Janeiro: Revinter, 1998. SOUCHARD, Philippe & OLLIER, Marc. As escolioses: seu tratamento fisioterapêutico e ortopédico. São Paulo: Realizações, 2001. TRIBASTONE, Francisco. Tratado de exercícios corretivos: aplicados a reeducação motora postural. São Paulo: Manole, 2001. DADOS DAS AUTORAS NOME: Karina de Sousa Assad ENDEREÇO: Avenida Doutor Freitas, 2434 TELEFONES: 248.1090 e 9971.9455 CARGO: Aluna do 3o ano de Fisioterapia da Unama e monitora da disciplina Cinesioterapia NOME: Layana de Souza Guimarães ENDEREÇO: Travessa Apinagés, 555 TELEFONES: 272.7775 e 9623.5602 CARGO: Aluna do 3o ano de Fisioterapia da Unama e monitora da disciplina Cinesioterapia