DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DOS SISTEMAS DE EQUAÇÕES LINEARES: UMA ANÁLISE DOS REGISTROS DE ALUNOS DO 1º ANO DO CURSO DE MATEMÁTICA DA UNESPAR/FECILCAM Wellington Hermann, (TIDE), UNESPAR/FECILCAM, [email protected] Veridiana Rezende, (TIDE), UNESPAR/FECILCAM, [email protected] INTRODUÇÃO Os encaminhamentos adotados por professores para ensinar matemática, geralmente, não assumem a característica de um roteiro fixo e imutável, que deve ser seguido à risca. Mais como o traçado suave de uma curva, que se adapta às formas pouco definidas e mutáveis, que como o traço duro, certo, definido e definitivo de uma linha reta, o planejamento das ações que visam criar um ambiente propício para a aprendizagem, assumem um caráter provisório, mutável e adaptável. Isso porque, a sala de aula de matemática é um espaço dinâmico, onde acontecem imprevistos, pois é essencial e predominantemente composta por pessoas: professores e alunos. A atividade docente assume, assim, o status de arte: a arte de ensinar matemática. Em que os planejamentos são esboços das ações que futuramente acontecerão para proporcionar a aprendizagem aos alunos. Porém, assumir esse status para a atividade docente, não implica que ela deve acontecer no improviso, mas como uma ação intencionalmente planejada que pode ser adaptada segundo as necessidades percebidas pelo professor. Além disso, todo plano de ensino é fundamentado, implícita ou explicitamente, em alguma teoria do que significa ensinar e aprender. Por vezes, a teoria é pessoal, surge da experiência, da convivência com outros professores e não se apresenta sistematizada formalmente. Por outras, surge de pesquisas, é abrangente e formalmente sistematizada. Indica o que significa aprender e sugere alguns fundamentos para que o professor leve a cabo seu plano de ensino. Nesse texto, apresentamos uma pesquisa que surgiu dos encaminhamentos utilizados por uma professora, segunda autora desse trabalho, para ensinar o conteúdo de sistemas de equações lineares. Seu planejamento e sua atuação foram baseados em uma teoria formal e sistematizada, que afirma que aprender matemática implica em coordenar os diferentes registros de representação semiótica de um objeto matemático (DUVAL, 2012). A abordagem utilizada para ensinar o conteúdo foi a de proporcionar aos alunos atividades em que pudessem mobilizar os diversos registros relativos a sistemas de equações lineares, por vezes utilizando software, para efetivar a aprendizagem. Após a professora encerrar o trabalho com esse conteúdo, surgiram duas questões: que tipo de registros relativos ao conteúdo de sistemas de equações lineares ficam mais profundamente arraigados na mente dos alunos? Quais registros eles mobilizam ao escrever sobre tal conteúdo? Para dar conta de responder a essas questões, realizou-se a coleta de informações e, baseado no que foi obtido, realizaram-se análises, conforme se segue. A COLETA DE INFORMAÇÕES O trabalho foi desenvolvido com trinta alunos do primeiro ano do curso de Matemática da UNESPAR/Campus de Campo Mourão, que cursam a disciplina de Geometria Analítica e Álgebra Linear. Foram utilizadas duas aulas para o desenvolvimento da atividade que consistiu em escrever um texto em formato de carta, que seria enviado a um amigo por e-mail, lhe ensinando o conteúdo de sistemas de equações lineares. “Um amigo seu está com um problema: precisa aprender o conteúdo de sistemas de equações lineares para apresentar em um seminário na escola em que estuda. Ele não sabe nada a respeito do tema e, sabendo que você é aluno do curso de matemática, pediu sua ajuda por e-mail. Elabore um texto para enviar para seu amigo por e-mail, ensinando tudo o que você sabe a respeito do conteúdo para ele”. Foi dito que se tratava de parte de uma pesquisa que está sendo desenvolvida e foi pedido que não utilizassem qualquer material de apoio para escrever o texto: livro, caderno ou consulta a colegas. Eles deveriam basear sua escrita naquilo que sabiam a respeito do conteúdo. Mantivemos o anonimato dos alunos utilizando a letra “A” seguida de um número entre 1 e 30, fazendo correspondência entre a ordem numérica do código e a ordem alfabética dos respectivos nomes. Mais que um instrumento para coleta de informações, a escrita de cartas pode ser utilizada como um encaminhamento pedagógico para proporcionar aprendizagem. Para escrever, os alunos devem sistematizar saberes referentes ao tema, sintetizar o que sabem e expor suas ideias. Segundo Freitas (2006): A escrita de cartas de futuros professores de Matemática para alunos de sala de aula parece instaurar um processo reflexivo em que o pensamento se processa, em diferentes momentos, pela releitura da escrita, na interação estabelecida (p.39). Um desafio para a escrita, especificamente no trabalho proposto, foi imposto pela inserção de um interlocutor que não sabe nada a respeito do conteúdo que os alunos deveriam ensinar. Lins (1999), apoiado na concepção de Jaques Derrida de que a comunicação é um acidente, diz que toda enunciação é dirigida “a um ser cognitivo (o interlocutor a quem me dirijo, e que pode ou não corresponder a um ‘outro’)” (p. 81, grifo do autor). Os alunos deveriam, então, imaginar esse interlocutor, que poderia ser alguém real ou fictício, mas que não deixaria de ser uma idealização, para, com base nele, elaborar seu texto. O texto produzido, então, assume um caráter pessoal, dirigido ao que Lins (1999) chama de “um leitor” e torna-se “[...] o resíduo de uma enunciação. Mas quem pode dizer se algo é um texto ou não é apenas o leitor, e apenas no instante em que esse leitor produz significado para o texto” (p. 82). A comunicação acontece, então, na convergência dos significados, na medida em que ambos, o um autor e o um leitor “dizem coisas que o outro diria e com a autoridade que o outro aceita” (LINS, 1999, p. 82). Apesar de os alunos escreverem para algum amigo, fictício ou não, eles sabem que esse amigo não receberá o texto. Apesar de seus interlocutores assumirem nomes de amigos que supostamente não sabem nada a respeito do tema proposto, eles intuitivamente sabiam que seu um leitor, em última instância, seria a professora da disciplina. Alguém que havia lhes ensinado o conteúdo proposto: utilizando encaminhamentos específicos; por meio de exemplos específicos; e que havia indicado um livro para consulta. LIVRO DIDÁTICO ADOTADO E OS PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS DA PROFESSORA DA DISCIPLINA É importante tecer comentários a respeito da abordagem feita pelos autores do livro utilizado como fonte de consulta, devido à possibilidade que esse instrumento apresenta de exercer influência sobre a forma como os alunos aprendem os conceitos relativos ao conteúdo abordado nessa pesquisa, assim como também é importante relatar as formas como o conteúdo de sistemas de equações lineares foi trabalhado pela professora da disciplina de Geometria Analítica e Álgebra Linear. A professora, segunda autora desse artigo, adotou o livro Álgebra Linear, dos autores Alfredo Steinbruch e Paulo Winterle (STEINBRUCH; WINTERLE, 1987). Nele, o conteúdo referente a sistemas de equações lineares faz parte de um apêndice juntamente com o conteúdo de Matrizes e Determinantes. A estratégia adotada pelos autores do livro foi abordar, primeiramente, os conteúdos de Matrizes e Determinantes, apresentando as diversas operações que se podem realizar com matrizes, formas de reduzi-las à forma escada, matrizes equivalentes, como calcular determinantes e, após, apresentam o conteúdo de sistemas de Equações Lineares. Após apresentar a definição, os autores passam a tratar de duas formas para a resolução para sistemas: o método de Gauss-Jordan e o método da matriz inversa, ambos priorizando o tratamento matricial. Aliás, nessa obra, o tratamento dado à solução dos sistemas de equações lineares é predominantemente matricial. O registro algébrico aparece, na maioria das vezes, apenas para apresentar os sistemas de equações a ser resolvido. Não aparecem em nenhum momento do livro o registro gráfico nem situações problemas para os alunos interpretarem e representarem em forma de sistemas. No entanto, para Duval (2012), a limitação em apenas um registro de representação semiótica “[...] não favorece em nada as transferências e as aprendizagens ulteriores: torna os conhecimentos adquiridos pouco ou não utilizáveis em outras situações aonde deveriam realmente ser utilizados” (p. 283). Ele acrescenta que a compreensão de um conceito limitada a apenas um registro “[...] conduz a um trabalho às cegas, sem possibilidade de controle do ‘sentido’ daquilo que é feito” (p. 283). Segundo Duval (2012), um objeto matemático não pode ser confundido com sua representação, e, por consequência, para a compreensão de um conceito é preciso que o sujeito reconheça e coordene diferentes representações de um mesmo conceito. O pesquisador acrescenta que: Se a conceitualização implica coordenação de registros de representação, o principal caminho das aprendizagens de base matemática não pode ser somente a automatização de certos tratamentos ou a compreensão de noções, mas deve ser a coordenação de diferentes registros de representação, necessariamente mobilizados por estes tratamentos ou por esta compreensão. A coordenação de registros aparece como condição fundamental para todas as aprendizagens de base, ao menos nos domínios em que os únicos dados que são utilizados são as representações semióticas, como em matemática e em francês (DUVAL, 2012, p. 284). Desse modo, com a intenção de favorecer a aprendizagem dos alunos em relação aos sistemas de equações lineares, e levando em consideração pressupostos de Duval (2012), que defende que para a aprendizagem de um conceito devem ser consideradas suas diferentes representações e coordenação entre diferentes registros de representação semiótica, a professora da disciplina buscou atividades que favorecessem aos alunos conhecer e coordenar os diferentes registros relacionados aos sistemas de equações lineares. Pois, caso contrário, se a professora optasse por seguir o livro texto, os conhecimentos dos alunos ficariam limitados às representações Matriciais e Algébricas, privando-os de conhecer, segundo Duval (2012), o verdadeiro sentido dos sistemas de equações lineares. Desse modo, com preocupação de colaborar com a formação desses futuros professores de Matemática, a professora da disciplina buscou realizar uma abordagem diferenciada em relação ao livro texto, e optou por explorar os registros Língua Natural, Gráfico, Algébrico, além da representação Matricial proposta pelo livro. Na primeira aula sobre sistemas de equações lineares, a professora, sem mencionar o conteúdo a ser trabalhado, pediu para que os alunos se reunissem em grupos com três indivíduos e entregou para cada grupo uma folha com duas atividades: uma situação problema que correspondia a um sistema de duas equações e duas incógnitas; e a outra atividade que consistia de três sistemas de equações lineares com duas equações e duas incógnitas, escolhidos estrategicamente de modo que um sistema tratava-se de um sistema compatível determinado, o outro sistema compatível indeterminado e o terceiro sistema era incompatível. A professora pediu que os alunos resolvessem a situação problema do modo que eles considerassem pertinente. Alguns alunos resolveram por tentativa e erro, e outros alunos montaram um sistema e o resolveram pelos métodos da Substituição ou Adição, que haviam aprendido na Educação Básica. Cabe ressaltar que a maioria dos alunos não se lembrava de como resolver um sistema de ordem dois que, segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para a disciplina de Matemática (PARANÁ, 2008), os alunos devem estudar este conceito desde o 8º ou 9º ano do Ensino Fundamental. Com relação à atividade dois, que diz respeito aos três sistemas lineares, a professora solicitou que os alunos representassem num mesmo plano cartesiano as duas equações lineares, de cada um dos itens. Nesta resolução, conforme ilustra a Figura 1, os alunos perceberam que no primeiro caso as retas representadas eram concorrentes, no segundo caso as retas eram coincidentes, e no terceiro caso as retas eram paralelas. Após os alunos chegarem a este resultado em grupos, a professora formalizou o significado das posições das retas representadas em cada caso. Foi ressaltado que o fato das retas terem um ponto em comum significa que existe um único par ordenado (x,y) que satisfaz ambas as equações. As retas coincidentes foram associadas às infinitas soluções que satisfazem ambas as equações, e retas paralelas significa que não existe ponto comum que satisfaz ambas as equações. Figura 1: Representação Gráfica de Sistemas Lineares Fonte: Autores deste trabalho Após esta discussão, os alunos resolveram os três sistemas algebricamente e relacionaram as soluções algébricas com as posições das retas representadas por eles no plano cartesiano. Desse modo, esta atividade favoreceu aos alunos vivenciarem numa mesma aula, os registros Língua Natural, Gráfico e Algébrico referente aos sistemas de equações lineares. Para os sistemas de equações com três incógnitas, a professora se fundamentou na pesquisa de Jordão (2011), que faz um estudo sobre resolução algébrica e gráfica de sistemas de equações lineares de ordem 3x3 no Ensino Médio. Essa pesquisa auxiliou tanto na escolha do Winplot para visualizar e representar as equações no espaço cartesiano, quanto a indicar as oito possibilidades de intersecção (ou não) dos planos que presentam as soluções dos sistemas. Para realizar o trabalho, os alunos foram levados ao Laboratório de Informática da faculdade para plotarem no Winplot os oito tipos de sistemas de equação lineares, presentes na pesquisa de Jordão (2011), para interpretarem graficamente as soluções dos sistemas, e classificarem os sistemas em compatível determinado, compatível indeterminado e incompatível. Após a aula de Laboratório, alguns destes sistemas foram resolvidos algebricamente em sala de aula, favorecendo aos alunos associarem as interpretações das resoluções algébrica e gráfica. Para as resoluções dos sistemas de ordem maior ou igual a três, foram trabalhados com os alunos os métodos de resolução presentes no livro texto envolvendo métodos relacionados a representações matriciais como Gauss-Jordan e Matriz inversa, além da regra de Crammer que também não consta no livro texto. No decorrer das aulas, diversas situações problemas envolvendo sistemas de equações lineares de ordem três foram propostas aos alunos, sendo várias delas retiradas da pesquisa de Lamin (2000). Cabe salientar que tanto as listas de exercícios quanto a avaliação da aprendizagem consistiram de atividades que exploraram os registros Língua Natural, Gráfico, Algébrico e representação Matricial. Buscou-se explorar os diferentes registros sem atribuir ênfase a um ou outro, embora o livro texto privilegiasse o registro Matricial. Após um mês que os alunos haviam realizado a avaliação sobre este conteúdo, a professora da disciplina, juntamente com o professor de Complementos da Matemática desta mesma turma, ambos autores deste trabalho, resolveram investigar o que ficou para os alunos sobre o conteúdo de sistemas de equações lineares após uma abordagem que buscou explorar diferentes registros de representação semiótica. As análises desta investigação estão descritas na sequência deste texto. A TEORIA DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA E AS ANÁLISES DESTA PESQUISA As dificuldades no ensino e aprendizagem da matemática podem ser decorrentes do fato de a Matemática ser uma ciência abstrata. Neste sentido, Duval (2003) alerta que é preciso considerar as diferenças existentes entre a atividade cognitiva em Matemática e de outras Ciências, tais como Biologia, Física ou Química, nas quais os conceitos podem ser observados ou manipulados por meios de experiências visuais. Pois, para Duval (2003), o funcionamento do pensamento em Matemática apresenta especificidades em relação a outros domínios do conhecimento. Assim, considerando que os conceitos matemáticos são abstratos, e que só podemos ter acesso a estes conceitos por meio de suas representações, Duval (2012) defende que recorrer a diversos registros de representação semiótica parece “[...] uma condição necessária para que os objetos matemáticos não sejam confundidos com sua representação e que eles possam ser reconhecidos em cada uma de sua representação” (p. 270). Duval comenta, ainda, sobre a complementariedade existente entre os registros de representação. Para o pesquisador, a linguagem, uma figura ou um diagrama não oferecem as mesmas possibilidades de representação. Duval (2012) afirma que “[...] toda representação é cognitivamente parcial em relação ao que ela representa, e que de um registro a outro não estão os mesmos aspectos do conteúdo de uma situação que estão representados” (p. 280, grifos do autor). Desse modo, Duval (2003) conjectura que a compreensão de um conceito matemático supõe a coordenação de ao menos dois registros de representação semiótica, ou seja, passar de um registro para outro registro é essencial para a compreensão de um conceito matemático. No caso deste trabalho, que trata dos sistemas de equações lineares, os registros de representação considerados são: Registro Língua Natural - apresentados na forma de situação problema, na descrição do sistema de equação linear ou método de resolução em nossa língua materna – o português; Registro Gráfico – interpretação gráfica da solução de um sistema linear; Registro Algébrico – consiste na representação algébrica ou resolução algébrica de um sistema linear; Registro Numérico – consiste na resolução por tentativa e erro ou na forma Matricial. Duval (2012) aponta que existem dois tipos de transformação entre registros, que ele denomina por tratamento e conversão. Como tratamento, o pesquisador considera uma transformação interna a um registro. Por exemplo, no caso dos sistemas de equações lineares, partir de um registro algébrico e resolvê-lo algebricamente, é considerado, na perspectiva de Duval, um tratamento. Como conversão Duval (2012) denomina a transformação externa do registro inicial, ou seja, é uma transformação de um registro a outro registro de representação. Um exemplo de conversão seria partir de uma situação problema, interpretá-la na forma de um sistema de equações e resolvê-la na forma algébrica. Outro exemplo de conversão é partir de um sistema na representação algébrica, interpretá-lo e representá-lo graficamente. Sendo assim, fundamentados na teoria dos registros de representação semiótica de Raymond Duval, agrupamos as produções escritas dos alunos, solicitadas conforme descritas acima, em cinco grupamentos de respostas, especificadas a seguir. Grupamento I: Conversão: Registro da Língua Natural para o Registro Algébrico As respostas de quatro alunos, A2; A6; A17; A30, foram classificadas neste grupamento. Dois alunos, A2 e A6, descreveram uma situação problema, relacionada a um sistema de equações de ordem dois, interpretaram e resolveram algebricamente o sistema, e apresentaram a solução em língua natural. Ou seja, entendemos que estes dois alunos realizaram as seguintes conversões: Língua Natural – Algébrica – Língua Natural. Os outros dois alunos, A17 e A30, apresentaram uma situação problema relacionada a um sistema de equações. Eles interpretaram algebricamente esta situação, na forma de um sistema de equações lineares. Observamos que a situação apresentada pelo aluno A17 diz respeito a um sistema de ordem três, e a situação apresentada por A30 refere-se a um sistema de ordem dois. Grupamento II: Tratamento no Registro Algébrico Nesse grupamento, identificamos as repostas de dois alunos, A7; A8. Ambos os alunos apresentam um exemplo de sistemas de equações lineares com duas equações e duas incógnitas, e os resolvem algebricamente. A aluna A8 faz alusão a interpretar um problema para descobrir o que deve ser resolvido: Você primeiro tem que interpretar o problema para descobrir o que deve ser revolvido (aluna A8). Assim, embora a aluna A8 tenha apresentado apenas o registro algébrico em sua produção escrita, consideramos que o fato dela se referir a problemas para se interpretar e resolver um fato importante, de acordo com a perspectiva de Duval. Pois, pois ela associa de algum modo, o Registro Língua Natural com o Registro Algébrico. Grupamento III: Processo para solução no Registro Língua Natural Nesse grupamento de respostas, foram classificadas as respostas de oito alunos, A10; A11; A14; A15; A20; A21; A25; A27. Estes alunos utilizam-se do Registro Língua Natural para descreverem passo a passo métodos algébricos, gráficos ou numéricos para resolução e interpretação das soluções de um sistema de equações lineares. Os alunos A11, A14, A20, A21 e A25 descrevem o método da adição ou o método da substituição, que estamos considerando métodos algébricos de resolução. Os alunos A10, A27 e A25 descrevem os métodos de Gauss-Jordan ou de Crammer, que consideramos como métodos relacionados ao Registro Numérico na forma Matricial. A interpretação gráfica de um sistema de equações de ordem 3 apareceu na resposta do aluno A15. O fato de os alunos descreverem os métodos de resolução em Língua Natural, indica que suas aprendizagens não ficaram restritas apenas ao processo mecânico de manusear símbolos e regras. Assim, entendemos que se os alunos são capazes de explicitar cada um dos passos dos métodos para a resolução dos sistemas de equações lineares, podemos inferir que houve aprendizado em relação a estes métodos. Grupamento IV: Descreve o que acredita ser um sistema de equações lineares Dentre os sujeitos desta pesquisa, seis alunos, A16; A18; A22; A26; A27; A29, descreveram o que acreditam ser um sistema de equações lineares. Para ilustrar, apresentamos a descrição do aluno A27: Sistema é organizado através de 2 ou mais equações, com 2 ou mais incógnitas, e um valor independente, onde com a resolução do problema temos que respeitar a igualdade com o termo independente. Sua forma genérica é: Figura 2: Representação Algébrica e genérica de um sistema de equações do aluno A27 Fonte: Autores desta pesquisa Grupamento V: Registro de Representação Gráfica para a solução de um sistema Dois alunos representaram graficamente a solução de um sistema linear. No entanto, um dos alunos havia participado como monitor de uma oficina sobre sistemas de equações lineares e suas diferentes representação, cuja professora da disciplina era a ministrante. Por isto, consideramos que este aluno é um caso especial e que suas representações recebem influência da abordagem utilizada na oficina. Contudo, o aluno A19, classificou as soluções dos sistemas como: Compatível Determinado; Compatível Indeterminado e Incompatível, associando com as representações gráficas de um sistema de ordem dois, conforme ilustra a representação a seguir representada por A19: Figura 3: Representação Gráfica pelo aluno A19 Fonte: Autores deste trabalho As respostas de nove alunos foram classificadas em um grupamento que denominamos por outros. Na maioria dos casos os alunos realizaram tentativas incipientes de definir o que é um sistema de equações lineares, mas que não foram consideradas corretas pelos autores deste trabalho. CONSIDERAÇÕES Neste trabalho, procuramos destacar os diferentes registros de representação semiótica, na perspectiva de Duval, utilizados por alunos da disciplina de Geometria Analítica e Álgebra linear para a compreensão/representação do conceito de sistemas de equações lineares. Para isto, apresentamos o relato de procedimentos didáticos da professora dessa disciplina, segunda autora deste texto, que buscou apresentar aos seus alunos atividades relacionadas a registros que vão além dos registros apresentados no livro texto da disciplina que, assim como muitos livros de Álgebra Linear, prioriza a representação Matricial ou Algébrica. Analisamos, após decorrido um mês da avaliação de aprendizagem, por meio da escrita de uma carta, os registros mobilizados pelos alunos sobre os sistemas de equações lineares. Desse modo, conforme mostram os resultados das análises desta investigação, podemos afirmar que a abordagem diferenciada, valorizando diferentes registros para os sistemas de equações lineares: Registro Língua Natural; Registro Gráfico; Registro Algébrico; Registro Numérico – sobretudo na forma Matricial, faz-se presente nas respostas dos alunos. As análises das respostas dos alunos permitem afirmar que as práticas pedagógicas dos professores interferem no modo como os alunos concebem os conceitos matemáticos. Pois, embora não sejam abordados no livro texto, as respostas dos alunos se referem a situações problemas, representação gráfica, conversões, tratamentos e descrição de métodos para resolução de sistemas na língua natural. REFERÊNCIAS DUVAL, Raymond. Registros de representações semióticas e funcionamento cognitivo do pensamento. Revemat: Revista eletrônica de Educação Matemática. Florianópolis, v. 7, n. 2, p. 266 – 297, 2012. DUVAL, Raymond. Registros de representações semióticas e funcionamento cognitivo da compreensão em Matemática. In: Aprendizagem em Matemática. Machado, S. D. A. (org.). p. 1133. Campinas, SP: Papirus, 2003. FREITAS, Maria Tereza Menezes. A escrita no processo de formação contínua do professor de matemática. Tese de doutorado. Campinas - SP: UNICAMP, 2006. JORDÃO, Ana Lúcia Infantozzi. Um estudo sobre equações algébricas e gráficas de Sistemas Lineares 3x3 no 2º ano do Ensino Médio. Dissertação de Mestrado (Mestrado Profissional em Educação Matemática). PUC, São Paulo, SP, 2011. LAMIN, Maria Regina Nunes. Resolução de Problemas modelados com Sistemas de Equações Lineares. Trabalho de Conclusão de Curso (Departamento de Matemática). UFSC, Florianópolis, SC, 2000. LINS, Romulo Campos. Por que discutir teoria do conhecimento é relevante para a Educação Matemática. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani Bicudo (org.). Pesquisa em Educação Matemática: Concepções e perspectivas. São Paulo: Editora da UNESP, 1999. PARANÁ, Diretrizes Curriculares de Matemática para as séries finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio: Matemática – Curitiba: Secretaria de Estado da Educação, 2008, 50p. STEINBRUCH, Alfredo: WINTERLE, Paulo. Álgebra Linear. 2.ed. São Paulo. McGraw-Hill 1987.