Boletim Económico Agosto de 2006 Banco de Cabo Verde Boletim Económico Actividade Económica Nacional 1. Introdução 2 2. Enquadramento Internacional 4 3. Políticas Macroeconómicas 7 Política Monetária do Banco de Cabo Verde Política Orçamental 4. Actividade Económica Nacional 11 Consumo Privado, Rendimento Disponível e Poupança Formação Bruta de Capital Fixo Exportações e Importações Balança Corrente e de Capital Balança Financeira Inflação Texto Taxa de Câmbio Efectiva como Indicador de Competitividade O Caso de Cabo Verde Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 Boletim Económico 1. Introdução A actividade económica global evoluiu favoravelmente nos primeiros seis meses do ano, favorecida por um maior dinamismo dos investimentos e do consumo, não obstante a contínua volatilidade dos preços do petróleo e a manutenção da política de aperto das condições monetárias e financeiras pelos bancos centrais, com o intuito de conter as pressões inflacionistas. Nos primeiros seis meses de 2006, a actividade económica nacional foi marcada pela redução do consumo e do investimento públicos, de acordo com as informações do Ministério das Finanças, e por um abrandamento do consumo privado, a atender aos resultados dos inquéritos qualitativos do Instituto Nacional de Estatísticas sobre o volume de vendas no comércio a retalho, entre outros indicadores. De registar, que a política orçamental caracterizou-se, no primeiro semestre, por uma orientação menos expansionista, traduzindo uma desaceleração acentuada das despesas totais (1,6%), particularmente em resultado do decréscimo das despesas com investimento (8% em termos homólogos), num contexto de aumento acentuado das receitas (19% em termos homólogos). Não obstante o arrefecimento da procura interna, regista-se um alargamento do desequilíbrio externo, que induziu ao aumento das necessidades de financiamento externo da economia, condicionado, particularmente, pelo aumento das importações de bens (27,6%), porquanto as exportações de bens e serviços mantiveram um ritmo de crescimento robusto (43,5%). Reflectindo as entradas para o Estado no quadro da ajuda orçamental, bem como a posição líquida positiva das operações realizadas no mercado interbancário de divisas, as reservas internacionais líquidas do Banco de Cabo Verde registaram um aumento de 7,7% em termos homólogos, permitindo à Autoridade Monetária continuar a sua política de afrouxamento das condições Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 2 Boletim Económico monetárias, reduzindo o coeficiente de reservas de caixa aplicado aos bancos, de 17% para 15%, em Março. E para absorver a liquidez excedentária do sistema, no quadro de um perfil ascendente da inflação, o BCV teve que recorrer, em Março e Abril, à emissão de títulos de intervenção monetária. Nos primeiros seis meses do ano, a inflação, medida pela taxa de variação média do índice de preços no consumidor, manteve a tendência ascendente iniciada nos últimos meses de 2005, atingindo, a nível nacional, a taxa de 3,4% em Junho. Para o final do ano, o Banco de Cabo Verde prevê um crescimento da actividade económica, em torno de 5%, em termos reais, que deverá reflectir uma desaceleração, tanto do consumo público (2,7%), como do consumo privado (5%), e um contributo negativo da procura externa líquida, apesar da expectativa de aceleração das exportações, nomeadamente dos serviços. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 3 Boletim Económico 2. Enquadramento Internacional Informações disponíveis apontam para uma evolução favorável da economia mundial nos primeiros seis 6,0 meses do ano, favorecida por um maior dinamismo dos PIB 5,0 em percentagem investimentos e do consumo, à escala global, não obstante a contínua volatilidade dos preços do petróleo e a manutenção da política de aperto das condições monetárias e financeiras pelos bancos centrais, com o intuito de conter pressões inflacionistas. 4,0 3,0 Zona Euro 2,0 1,0 0,0 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 04 04 04 04 05 05 05 05 06 06 A economia norte-americana, com um forte crescimen- 4,5 4,0 continua a liderar o desempenho mundial, benefician- 3,5 em percentagem to no período, particularmente no 1º trimestre (5,6%), do de um grande dinamismo da procura interna, em especial do consumo privado (suportado pela contínua IPC EUA 3,0 2,5 2,0 HIPC Zona Euro 1,5 melhoria do seu mercado de trabalho) e de um contri- 1,0 buto menos negativo da sua procura externa líquida. 0,5 0,0 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 04 04 04 04 05 05 05 05 06 06 Contudo, o reforço das economias europeias e nipónicas, bem como o robusto desempenho das economias 10,0 emergentes (particularmente da China, com um crescideixam antever, para 2006, um padrão de crescimento global mais equilibrado e menos dependente do consumo privado norte-americano. em percentagem mento de 10,9% em termos homólogos no 1º semestre) Taxa de Desemprego 9,0 8,0 Zona Euro 7,0 6,0 5,0 EUA 4,0 3,0 Desde inícios do ano a Federal Reserve aumentou por 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 04 04 04 04 05 05 05 05 06 06 4 vezes a sua taxa de referência (17 vezes desde o início do novo ciclo da política monetária), fixando-a em 5,25% a 29 de Junho, procurando suster as pressões inflacionistas1 exacerbadas pelos preços dos produtos energéticos e, em certa medida, pelo aumento dos custos com o factor trabalho (4,2% no 2º trimestre e 2,5% no 1º trimestre. Fonte: Federal Reserve Bank of Philadelphia, Bureau of Economics Analysis, Comis s ã o Europeia 1 Informações de Junho apontam para uma taxa de inflação core de 2,4% em termos anualizados, 0,4 p.p. acima dos 2% projectados para o final do ano pelo FED. Quadro 2 Indicadores Económicos (taxas de variação em percentagem) PIB Estados Unidos Zona Euro Japão Economia Mundial 2005 3,5 1,3 2,7 4,8 2006 3,4 2,0 2,8 4,9 Inflação 2005 2006 3,4 2,8 2,2 2,0 -0,1 0,2 2,8 2,7 Desemprego 2005 2006 5,1 4,9 8,6 8,3 4,4 4,1 5,4 5,2 Fonte: Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 4 Boletim Económico As estimativas preliminares do Eurostat, para o primeiro trimestre de 2006, apontam para um desempenho positivo da Zona Euro, com um crescimento real da sua actividade em torno de 2%, impulsionado pela aceleração significativa da actividade económica na Alemanha, Itália e Espanha. O desempenho da Área do Euro é determinado por um maior dinamismo do consumo privado (igualmente influenciado pela melhoria do mercado de trabalho), do investimento e da exportação. De acordo com a Comissão Europeia e, atendendo aos resultados apurados dos principais índices de confiança no clima económico, o crescimento da Zona Euro, no 2º trimestre, deverá manter-se acima do potencial, em aceleração relativamente aos primeiros três meses do ano. A melhoria do sentimento económico é extensível aos consumidores, embora de uma forma mais lenta e gradual. Em Junho, a inflação na área do euro, medida pela variação homóloga do índice harmonizado de preços no consumidor (HIPC), situou-se em 2,5% (acima da meta de 2% do Banco Central Europeu), com a desaceleração dos preços dos energéticos em Junho a ser compensado 1,400 alimentares não transformados e dos serviços. Excluin- 1,300 do bens alimentares e industriais energéticos, a varia- 1,200 ção homóloga do HIPC aumentou para 1,5% em Junho. dólares por um crescimento mais elevado dos preços de bens Taxa de Câmbio EUR/USD 1,100 No mercado cambial, o cenário do fim próximo do ciclo juros na Zona Euro favorece a expectativa de uma em torno de 1,3 EUR/USD, no espaço de um ano. Não obstante, até Junho, o USD tinha valorizado, em termos médios cerca de 5%, relativamente ao EUR. O FED interrompeu a 8 de Agosto a sequência de aumentos das taxas 2 de juro, prevendo retomar a sua política de acordo com a evolução dos preços. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 Dez-05 Fonte: Indicadores de Conjuntura, Banco de Portugal de restrições nos EUA2 e da continuação da subida dos ligeira apreciação do euro face ao dólar para valores Jun-06 Dez-04 Jun-05 Dez-03 Jun-04 Dez-02 BCE em aumentar a taxa Refi para 3% aos 3 dias de Agosto. Jun-03 0,800 Dez-01 torno da actividade económica, sustentou a decisão do Jun-02 0,900 Dez-00 A evolução actual dos preços, aliada ao optimismo em Jun-01 1,000 5 Boletim Económico No Japão, os indicadores disponíveis apontam para um reforço efectivo da economia, embora as informações do 2º trimestre sugiram uma desaceleração do ritmo de crescimento da actividade face ao trimestre anterior (3,1%). A 14 de Julho, o Banco do Japão decidiu aumentar a overnight call rate de zero para 0,25%, prevendo a continuidade de ajustamentos graduais às taxas de juro, de acordo com a evolução da actividade económica e dos preços. O mercado petrolífero, desde inícios do ano, tem-se caracterizado por uma contínua volatilidade dos preços, os quais têm registado sucessivos máximos históricos3. A instabilidade no Médio Oriente, agravada com a mais recente ofensiva israelita no Líbano, os problemas de produção na Nigéria, bem como as tensões políticas internas dos produtores como a Venezuela e a Bolívia, têm perturbado a oferta, enquanto que, pelo lado da procura, o forte crescimento de algumas economias emergentes (China e Índia) e a falta de diversificação energética nos países desenvolvidos têm ditado um aumento crescente da procura do petróleo, difícil O último máximo histórico nos preços do petróleo, que ocorreu a 7 3 de Agosto quando o brent ultrapassou os 78,6 USD, acontece associado ao anúncio do fecho de um dos maiores campos da British Petroleum nos Estados Unidos, devido a vazamento num oleoduto. Depois de ter registado em 2004 e 2005 aumentos na ordem dos 34% e 46%, respectivamente, o preço do petróleo encareceu cerca de 30%, desde o inicio do ano . de superar no curto prazo. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 6 Boletim Económico 3. Políticas Macroeconómicas Política Monetária do Banco de Cabo Verde Nos primeiros seis meses de 2006, os principais agregados monetários registaram uma trajectória positiva, mantendo a tendência dos anos anteriores, determinada pelo reforço das reservas internacionais líquidas do Jun-06 Mar-06 Set-05 Dez-05 Jun-05 Mar-05 Set-04 Dez-04 Jun-04 Mar-04 Em termos absolutos, as reservas internacionais líqui- Set-03 absorção de liquidez Dez-03 vamente a Dezembro de 2005. Jun-03 que registaram um acréscimo substancial (39%), relati- cedência de liquidez Mar-03 dos activos externos líquidos dos bancos comerciais, em percentagem Banco de Cabo Verde (7,7% em termos homólogos) e Taxas de Intervenção BCV 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 das da Autoridade Monetária totalizaram 17.513 milhões de escudos (17,4% do PIB), em Junho de 2006, Taxas de Juro valores médios para prazos de 181 dias a 1 ano reflectindo, nomeadamente, as entradas de divisas como a posição líquida positiva das operações realizadas no mercado interbancário de divisas. Empréstimos 15,0 em percentagem para o Estado no quadro da ajuda orçamental, assim 13,0 11,0 9,0 Depósitos a prazo Dep. Emigrantes 7,0 5,0 ções monetárias, no sentido de fomentar a redução dos custos de intermediação financeira dos bancos. Para tal, procedeu à redução do coeficiente de reservas de caixa aplicado aos bancos, de 17% para 15%, em Março do corrente ano. No entanto, com o objectivo de simultaneamente esterilizar a liquidez libertada, num contexto de um perfil ascendente da inflação, a Autoridade Monetária recorreu, em Março e Abril, à emissão de títulos de intervenção monetária (TIM’s), num montante de 1,5 milhões de escudos. Estes desenvolvimentos resultaram num crescimento da massa monetária (M2) da ordem dos 8,3%, que compara ao crescimento programado para o ano, de 11%. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 7 Jun-06 Dez-05 a continuação da política de afrouxamento das condi- Mar-06 Set-05 Jun-05 Dez-04 Mar-05 Set-04 Jun-04 Dez-03 Mar-04 Set-03 Jun-03 O reforço da posição externa do país permitiu ao BCV Mar-03 3,0 Boletim Económico Da análise dos restantes factores de criação de liquidez, destaca-se a redução do crédito líquido ao sector público, na ordem de 310,2 milhões de escudos, relativamente a Dezembro, compensada pelo crescimento de 6,7% do crédito à economia, que supera os valores registados em Dezembro de 2005. Quadro 3 Evolução dos Principais Indicadores Monetários saldos em fim de período milhões CVE Dez-04 Mar-05 Jun-05 Set-05 Dez-05 Mar-06 Jun-06 1 - Activos Externos Líquidos do Sistema 1.1 - Reservas Internacionais Líquidas 13.787,3 11.295,7 14.670,2 18.164,3 20.097,4 21.888,8 24.399,3 25.714,3 12.069,6 14.945,6 14.334,2 16.260,4 16.543,1 17.513,0 2 - Crédito Interno Líquido 2.1 - Crédito líq. ao SPA 2.2 - Crédito à Economia 2.3 - Crédito às Inst. Financ. n/Monetárias 57.319,2 25.684,1 31.591,4 43,7 57.583,9 57.224,4 58.609,0 60.193,1 60.896,1 62.189,2 25.386,5 24.642,4 26.166,0 25.652,2 25.934,4 25.342,1 32.164,8 32.551,2 32.414,9 34.515,1 34.938,4 36.826,3 32,6 30,8 28,1 25,7 23,3 20,8 3 - Outros Activos Líquidos -8.258,2 -8.592,3 4 - M2 62.848,3 63.895,8 66.250,5 69.532,4 72.641,3 76.183,1 78.666,3 -9.138,4 -9.174,0 -9.440,6 -9.112,3 -9.237,1 Fonte: Banco de Cabo Verde Reflectindo, essencialmente, a evolução positiva do crédito à economia, o crédito interno líquido atingiu 62.189,2 milhões de escudos, um crescimento de 3,3% relativamente a Dezembro de 2005, e de 9%, em termos homólogos. A evolução do crédito à economia traduz, fundamentalmente, o acréscimo de 7,4% do crédito à habitação, cujo peso no total do crédito ascende a 53,3%, e o crescimento expressivo do crédito ao comércio, restaurantes e hotéis, 44,4% relativamente a Dezembro e 63% relativamente a Junho de 2005. Para esta dinâmica do crédito à economia, contribuiu, de entre outros aspectos, a evolução favorável das taxas de juro activas praticadas no conjunto do sistema bancário, cuja média, em Junho, se situou em 11,5%. Apesar de se verificar uma diminuição na circulação monetária, na ordem dos 6,7%, resultante da crescente utilização de novos meios de pagamento, regista-se um crescimento homólogo de 25% na constituição de depósitos em moeda nacional, com o consequente aumento dos passivos monetários (6,1%). Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 8 Boletim Económico Não obstante, os passivos quase monetários cresceram 9,7%, traduzindo, sobretudo, a evolução positiva dos depósitos dos emigrantes (4,3%), num contexto de subida das taxas de juro nos principias mercados de emigração. Política Orçamental A política orçamental caracterizou-se por uma orientação menos expansionista no primeiro semestre de 2006, traduzindo uma desaceleração acentuada das despesas totais, que cresceram apenas 1,8%, face aos 26,9% registados em igual período do ano anterior, num contexto de aumento acentuado das receitas totais (19% em termos homólogos). Em resultado destes desenvolvimentos, o saldo global registou um superavit de 493 milhões de escudos (0,5% do PIB) e o défice primário, reflectindo a melhoria combinada do rácio das receitas e das despesas, deduzidas dos encargos com os juros da dívida, reduziu-se em 2,4 p.p., fixando-se em 0,8% do PIB. Quadro 4 Contas do Sector Público Administrativo (milhões de escudos) 2004 Receitas Totais Receitas orçamentais Receitas correntes Receitas tributárias Receitas não tributárias Reembolsos de capital por EP Donativos Transf. de OFN Despesas Totais Despesas de funcionamento das quais: Juros da dívida Despesas de investimento Saldo Total Por memória: Saldo Total incl. Donativos Saldo Total excl. Donativos Saldo Corrente Saldo Primário excl. Donativos Saldo Orçamental 26.116 18.756 18.682 16.637 2.045 74 7.360 0 26.853 18.007 2.056 8.846 -737 -0,9 -9,8 0,8 -7,3 0,9 2006 2005 var (%) 1º semest 1º semest 28.425 35.594 11.989 14.279 19,1 21.623 26.168 9.765 12.026 23,1 20.806 24.626 9.734 11.695 20,2 18.543 21.252 8.688 10.501 20,9 2.263 3.374 1.046 1.194 14,2 816 1.542 32 330 6.633 9.170 2.224 2.233 0,4 170 256 0 20 31.098 40.720 13.539 13.785 1,8 19.012 24.154 9.383 9.962 6,2 1.930 1.822 902 959 6,3 12.086 16.290 4.156 3.824 -8,0 -2.673 -5.126 -1.550 493 percentagem do PIB var (p.p.) -2,9 -5,1 -1,7 0,5 2,2 -10,2 -14,2 -4,1 -1,7 2,4 2,0 0,5 0,4 1,7 1,3 -8,1 -12,4 -3,1 -0,8 2,4 2,9 2,0 0,4 2,1 1,6 2005 2006 O Fonte: Ministério das Finanças e BCV Orçamentado O Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 9 Boletim Económico Para a desaceleração acentuada das despesas públicas, contribuíram, essencialmente, a redução das despesas de investimento (8%) e, em menor grau, o abrandamento das despesas correntes, que cresceram 6,2%, face aos 13,2% do ano anterior. Para o crescimento das despesas correntes, contribuiu, sobretudo, o acréscimo de 24,4% na rubrica “Transferências e Subsídios”, em resultado do aumento das transferências aos municípios e das pensões para as famílias. Por seu turno, o aumento importante das receitas verificado no primeiro semestre, ficou a dever-se, essencialmente, a uma melhoria na cobrança da generalidade dos impostos, em particular, dos impostos sobre o rendimento (15,6%), sobre o valor acrescentado não deduzidos dos reembolsos (24,7%) e sobre as transacções internacionais (21,9%), porquanto os donativos registaram um ligeiro aumento (0,4%), estabilizandose em torno dos 2.233 milhões de CVE. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 10 Boletim Económico 4. Actividade Económica Nacional As estimativas do Banco de Cabo Verde apontam para um crescimento económico em torno de 5%, em termos reais, em 2006, o que corresponde a um abrandamento menos favorável da actividade económica nacional deverá reflectir a desaceleração tanto do consumo público (2,7%) como do consumo privado (5%) e um contributo negativo da procura externa líquida, apesar 12,0 10,0 pontos percentuais de 1,4 p.p. relativamente a 2005 (6,4%). A evolução da expectativa de aceleração das exportações, nomea- 8,0 Decomposição do Crescimento PIB 6,0 4,0 2,0 0,0 -2,0 2003 2004 2005 2006 -4,0 -6,0 damente de serviços. Procura interna Exportações Importações PIB (taxa de variação real em %) Quadro 5 15,0 Produto Interno e Componentes taxas de variação real 10,0 5,0 2,7 5,2 -19,3 12,6 11,1 5,8 5,0 0,0 -5,0 -10,0 Importações 5,3 8,4 4,4 16,1 1,2 8,9 4,7 6,4 Exportações 7,0 -10,2 7,3 5,8 7,7 6,7 5,4 5,0 5,0 Investimento 2006 P Consumo Público 2005 E Consumo Famílias 2004 E tax var real em percentagem Consumo Famílias Consumo Público Investimento Público Privado Exportações Importações PIB Procura Agregada -15,0 2004 Fonte: INE e Banco de Cabo Verde Estimativas do Banco de Cabo Verde a partir das Contas Nacionais 2005 2006 0,0 E do INE de 2003. Projecções -5,0 P 3º tri 4º tri 1º tri 04 04 05 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 05 05 05 06 06 vendas no comércio a retalho s.r.e - mm3 Consumo Privado, Rendimento Disponível e Poupança -10,0 -15,0 O consumo privado deverá registar um crescimento de 5%, mantendo a tendência de abrandamento dos últi- -20,0 mos dois anos, de acordo com as projecções do BCV e os -25,0 resultados dos inquéritos qualitativos do Instituto -30,0 Nacional de Estatísticas sobre o volume de vendas no comércio a retalho. linha de tendência Fonte: Banco de Cabo Verde, Instituto Nacional de Estatísticas Embora em desaceleração, a estimativa do crescimento do consumo privado supera a evolução prevista do rendimento disponível das famílias (1,2%), devendo, assim originar uma redução na taxa de poupança das famílias na ordem dos 0,3%. Neste contexto, com a estimativa de uma ligeira aceleração nos investimentos, prevê-se que as necessidades de financiamento externo da Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 11 Boletim Económico economia cabo-verdiana aumentem em 2006. Seguindo a mesma tendência, o consumo público deverá desacelerar (2,7% contra os 8,4% em 2005), traduzindo uma política de contenção dos gastos, nomeadamente dos gastos com o pessoal e com a aquisição de bens e serviços, de acordo com informações preliminares do Ministério das Finanças. Formação Bruta de Capital Fixo Após uma desaceleração em 2005, as projecções do BCV apontam para um crescimento do investimento, em 2006, na ordem dos 5,2%, em termos reais, que deverá reflectir, essencialmente, a aceleração do investimento privado (12,6%, em termos reais), porquanto as projecções da Autoridade Monetária indiciam uma redução acentuada do investimento público (19% em termos reais), tendo em conta que os dados preliminares do Ministério das Finanças sugerem um decréscimo, em termos homólogos, dos investimentos, no 1º semestre. Carteira de Encomendas no subsector da habitação e construção de edifícios não residenciais -25,0 Num contexto de expansão do crédito à economia, o -26,0 comportamento previsto para o investimento privado equipamento, material de transporte e construção, até certo ponto justificadas pelos aumentos nas importa- 1º tri 05 2º tri 05 3º tri 05 4º tri 05 1º tri 06 -28,0 -29,0 -30,0 ções de máquinas (44,2%), material de construção -31,0 (31,7%) e melhoria nas importações de material de -32,0 transporte (-15,5% contra os –41,1% em 2005), bem -33,0 como pela tendência de evolução dos indicadores con- 4º tri 04 -27,0 s.r.e - mm3 resulta das evoluções projectadas da FBCF em bens de 3º tri 04 Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas junturais do INE (carteira de encomendas no subsector da habitação e construção de edifícios não residenciais). Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 12 2º tri 06 Boletim Económico Quadro 6 Indicadores de Investimento taxas de variação anual, em percentagem Construção Importações de Cimento Importações de Ferro e Aço Importações de outros materiais de construção Bens de Equipamento Importação de Máquinas Material de Transporte Importação de Material de Transporte 2006 2004 2005 2006P 27,6 11,6 21,7 75,4 16,9 18,4 3,5 33,6 12,8 5,1 29,4 4,6 31,7 24,6 67,4 7,7 26,7 14,3 27,6 44,2 -9,2 31,6 -3,9 -15,5 1º semest Fonte: Direcção Geral das Alfândegas, Inquérito às empresas, Banco de Cabo Verde P Projecções Exportações e Importações O Banco de Cabo Verde prevê para 2006 um crescimento real das exportações na ordem dos 11,1% (8,9% em 2005), impulsionado, sobretudo, pelas exportações de serviços. No primeiro semestre, as exportações cabo-verdianas registaram um comportamento positivo, crescendo em termos homólogos em 43,5% (17,7% no primeiro semestre de 2005), em resultado do aumento das exportações de serviços, na ordem dos 51%, e de bens, na ordem dos 6,3%. Para as exportações de bens contribuíram, especialmente, as mercadorias tradicionais, o pescado fresco, que mantém um ritmo de crescimento robusto, na ordem dos 180%, compensando inclusivamente a redução das exportações de produtos transformados (3%). Os países da Zona Euro continuam sendo os principais mercados das exportações cabo-verdianas (87,3%), em particular, os países de origem do capital das empresas francas instaladas no país, que garantem, actualmente, cerca de 97% das exportações cabo-verdianas. No que concerne a serviços, as viagens por motivo de turismo explicam o aumento significativo das exportações de serviços, no primeiro semestre do ano (em termos homólogos perto de 100%), fruto, em grande medida, do aumento da capacidade hoteleira do país e da conjuntura económica favorável dos países de origem Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 13 Boletim Económico dos turistas (particularmente, Itália, Espanha, Alemanha, Portugal e Inglaterra). As exportações de serviços ligados à navegação aérea, contudo, registaram uma evolução menos favorável, nos primeiros seis meses do ano, diminuindo em termos nominais cerca de 2%, em grande medida, consequência da redução de fluxos de transportadoras estrangeiras nos aeroportos internacionais do país, o que se traduziu, igualmente, numa redução das reexportações de combustíveis, em cerca de 15%, em termos homólogos, em Junho. No que diz respeito às importações, o BCV prevê um aumento real de 5,8% em 2006 (4,7% em 2005), tendência de expansão confirmada pelas informações do 1º semestre. As importações de bens e serviços registaram um acréscimo de 24%, em termos homólogos, no primeiro semestre de 2006, acompanhando a evolução das componentes da despesa, cujo conteúdo importado é muito significativo (consumo de bens duradouros, semi duradouros e energéticos). Por categoria de bens, regista-se um aumento exponencial da importação de bens energéticos (81%) e aumentos robustos de bens de consumo (28%) e intermédios (26,9%), contrariamente à importação de bens de capital que apresenta uma variação de apenas 0,5% no período. De referir que o efeito preço contribuiu, significativamente, para o crescimento nominal das importações, particularmente de bens de consumo e combustíveis que, em termos de volume, registaram, respectivamente, um aumento de 2,6% e uma redução de 15%, em relação aos volumes importados em igual período do ano anterior. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 14 Boletim Económico Quadro 7 Evolução das Importações de Bens (milhões de escudos) 2004 Bens de Consumo 14.503 Bens Intermédios 8.554 Bens de Capital 9.318 Combustíveis 2.862 Artigos Diversos 3.237 Total 38.473 Fonte: Direcção Geral das Alfândegas 2005 16.042 9.553 6.536 2.691 3.422 38.245 2005 1º Sem 6.968 4.537 3.539 1.071 1.546 17.662 2º Sem 9.073 5.016 2.997 1.620 1.876 20.583 2006 1º Sem 8.918 5.758 3.557 1.939 1.935 22.107 As importações de serviços, igualmente, verificaram um aumento significativo (16,5%) no período, em resultado do agravamento dos fretes marítimos de mercadoria, de perto de 40%, em termos nominais, explicado, em grande medida, pelo encarecimento dos combustíveis a nível internacional, pelo aumento nas despesas com os serviços de apoio à navegação aérea, em cerca de 25%, bem como pelo aumento nas despesas de viagens de nacionais, particularmente por motivo de turismo (19%). Balança Corrente e de Capital A necessidade de financiamento da economia caboverdiana, medida pelo saldo conjunto das balanças corrente e de capital, estabilizou-se em torno dos 1,1% do PIB, no primeiro semestre de 2006, com um ligeiro tre de 2005. O aumento das necessidades de financiamento da economia traduz, no essencial, o agravamento do défice corrente, que passou a representar 2% do PIB, quando em igual período de 2005 representava 1,7% do PIB. 2,0 em percentagem do PIB aumento (0,1 p.p. do PIB) relativamente ao 1º semes- 0,0 -2,0 1º sem 04 2º sem 04 1º sem 05 2º sem 05 -4,0 -6,0 -8,0 -10,0 -12,0 Balança Corrente Balança de Capital A deterioração da balança de bens, de 15,6% para 18,9% do PIB, em resultado do forte aumento das Saldo Conjunto das Balanças Corrente e de Capital Fonte: Banco de Cabo Verde importações, explica o comportamento da balança corrente, na medida em que as balanças de serviços, rendimentos e transferências correntes verificaram comportamentos globalmente favoráveis no período. As exportações líquidas de serviços, sustentadas nas receitas de viagens por motivo de turismo, passaram a Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 15 Boletim Económico representar 5,7% do PIB (2,4% do PIB no 1º semestre de 2005). Por seu turno, o saldo da rubrica rendimentos líquidos de investimento e trabalho regista um comportamento positivo, com um decréscimo no seu défice na ordem dos 20%, em resultado da diminuição dos encargos com os juros da dívida externa por parte do sector público (3,8%) e do aumento da rendibilidade líquida das aplicações dos bancos comerciais e da Autoridade Monetária (34,5%), não obstante o aumento, no período, das remessas de emigrantes transferências de lucros e dividendos aos investidores internacionais, de 13% em termos homólogos. 1.300,0 1.200,0 milhões de escudos As transferências correntes registaram um aumento de 5%, relativamente ao período homólogo, o que se fica a dever ao aumento das transferências de emigrantes (3,6%) e outras transferências privadas, na ordem dos 1.100,0 1.000,0 900,0 800,0 700,0 600,0 22,7%. Por seu turno, as transferências oficiais dimi- Fonte: Banco de Cabo Verde Balança Financeira Nos fluxos financeiros, é de salientar o aumento significativo na taxa de realização dos investimentos externos privados relativamente ao primeiro semestre do ano anterior (em torno de 70%), relacionado, em grande medida, com o ritmo de andamento dos projectos aprovados nos anos anteriores. No que concerne aos outros investimentos, de notar um aumento importante dos activos externos do país (75,9%)4, acompanhado de uma redução dos passivos (23,1%), particularmente 4 dos desembolsos líquidos da dívida externa pública excedentária dos bancos em instrumentos financeiros internacionais com rendibilidades mais atractivas. (63,2%) e dos fluxos de moeda e depósitos de não residentes detidos pela banca residente (3,4%), constituí- efeito da aplicação da liquidez dos, em grande medida, por recursos de emigrantes e depósitos de instituições financeiras internacionais. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 16 Abr-06 Jan-06 Jul-05 Out-05 Abr-05 Jul-04 Jan-05 de 24,6%. Out-04 nuíram relativamente ao período homólogo, em cerca Abr-04 Jan-04 500,0 Boletim Económico Quadro 8 Finaciamento da Balança em percentagem do Défice Corrente 2005 2004 1º Sem. 2º Sem. Transferências de Capital 17,7 33,7 84,5 Investimento Externo 42,4 116,6 187,2 Depósitos de Emigrantes 26,4 72,9 131,7 Dívida Externa Pública (líq.) 4,4 76,2 45,3 2006 1º Sem. 68,4 282,9 106,7 39,8 Fonte: Banco de Cabo Verde A redução dos passivos financeiros do país, ao contribuir para a diminuição do impacto do serviço da dívida no fluxo de caixa das exportações (de 10,4% para 6,3% em termos homólogos), não foi, contudo, suficiente para impedir o agravamento da vulnerabilidade financeira do país, medida pelo grau de abertura da conta de capital e de operações financeiras, que passou a representar 2,2% do PIB (0,6% do PIB em Junho de 2005), e que é explicado, no essencial, pela expansão do investimento directo estrangeiro (IDE), uma obrigação contingente do país face ao exterior. Inflação 10,0 pela taxa de variação média do Índice de Preços no 8,0 Consumidor (IPC), manteve a tendência ascendente 6,0 taxa homóloga 2,0 mados. Em termos homólogos, a taxa de inflação apresenta, em Junho, uma tendência crescente, 7%, traduzindo, em larga medida, os aumentos observados nas classes “alimentares e bebidas” (9,3%), particularmente as suas componentes mais voláteis e de maior peso relativo, os legumes frescos (18,5%) e os peixes (34%) e, ainBanco de Cabo Verde / Agosto 2006 9,0 7,0 6,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 Praia S. Vicente Zonas Rurais Bens e Serviços Diversos Hab., Equip. e Mat. de Uso Dom. Alimentares e Bebidas Inflação Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas 17 Jun-06 Mar-06 Set-05 Dez-05 Jun-05 Mar-05 Set-04 Dez-04 taxa de variação 12 meses Junho 06 8,0 em percentagem caso dos bens alimentares, sobretudo os não transfor- taxa média -6,0 tamentos sectoriais entre a procura e a oferta, para o Jun-04 -4,0 Mar-04 impactos de primeira ordem dos recentes aumentos de Set-03 -2,0 Dez-03 mento da inflação reflecte, de entre outros factores, os preços e tarifas em bens essenciais, bem como desajus- taxa mensal 0,0 Jun-03 nível nacional, a taxa de 3,4% em Junho. O comporta- 4,0 Dez-02 média do índice de preços no consumidor a atingir, a Índice de Preços no Consumidor Mar-03 iniciada nos últimos meses de 2005, com a variação em percentagem Nos primeiros seis meses do ano, a inflação, medida Boletim Económico As classes “habitação, equipamento e material de uso Índice de Preços no Consumidor doméstico“ e “energia e água” também contribuíram, 6,0 significativamente, para o aumento verificado no IPC, crescendo em termos homólogos 12,9% e 18,8%, respec- 3,0 2,0 1,0 -4,0 2,0 inflação dos serviços (6%). 1,0 Set-05 Nov-05 Set-05 Jul-05 Mai-05 -2,0 Alimentares -5,0 3,3%, respectivamente (1,1% e 1,5%, respectivamente, 3,0 em Dezembro de 2005). De acrescentar, que a taxa 2,0 20,0 15,0 10,0 1,0 Abr-06 Jan-06 Out-05 Jul-05 Abr-05 Jan-05 Out-04 Jul-04 Jan-04 0,0 -1,0 em percentagem 4,0 em percentagem mados” e “serviços” que, em Junho cresceram 3,0% e -2,0 -3,0 core inflation 5,0 0,0 -5,0 bens industriais energéticos tx var 12 meses Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 Nov-05 Jul-05 Mai-05 Mar-05 Jan-05 Jan-05 Mar-05 Set-04 Nov-04 Jul-04 Mai-04 Mar-04 -1,0 Jan-04 em percentagem 0,0 -4,0 te, a evolução das classes “bens alimentares transfor- “bens industriais não energéticos”. Industriais -3,0 de 1% (-0,5% em Dezembro), reflectindo, essencialmen- pela variação negativa em 3,8% nos preços da classe Serviços taxas de variação médias energéticos) registou uma taxa de crescimento médio média relativamente baixa da inflação core é explicada Set-04 Bens taxa de inflação mais elevada (7,3%) que a taxa de ção core (taxa de inflação expurgada do efeito dos bens alimentares não transformados e dos bens industriais Nov-04 -3,0 meses do ano, registando, em termos homólogos, uma Seguindo a mesma tendência do índice global, a infla- Jul-04 -2,0 para a evolução média da inflação nos primeiros seis Mai-04 ta-se uma contribuição superior da componente “bens”, Mar-04 Jan-04 0,0 -1,0 Abr-04 Da análise das principais componentes do IPC, consta- 4,0 em percentagem tivamente. taxa de variação média 5,0 18 Taxa de Câmbio Efectiva Como Indicador de Competitividade: O Caso de Cabo Verde Sumário Este artigo procura responder à questão de até que ponto, em Cabo Verde, a taxa efectiva real funciona como um indicador de competitividade. Da análise das várias opções metodológicas, conclui-se que o problema fundamental no cálculo dos índices de Cabo Verde relaciona-se com o método de cálculo dos ponderadores, que atribui às remessas de emigrantes um peso importante na determinação das taxas efectivas. Na medida em que o envio de remessas obedece a uma combinação de razões de ordem económica e altruística, variações nas taxas de câmbio causadas pelos fluxos de remessas não devem ser confundidas com determinantes fundamentais da competitividade. Neste estudo, cenários alternativos de cálculo dos ponderadores revelaram-se pouco conclusivo, pelo que existe claramente campo para pesquisas futuras, destacando-se a utilização de deflactores, como por exemplo, o índice unitário do custo de trabalho, que é um indicador do nível de competitividade, amplamente utilizado. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 1 1. Introdução Num mundo caracterizado por uma grande variedade de moedas, o conceito da taxa de câmbio efectiva tornou-se importante para a análise económica, devido à necessidade de se resumir, num único indicador, as relações existentes entre uma moeda e as moedas de demais países. As taxas de câmbio nominais (NEER) sintetizam o valor da moeda nacional, relativamente às moedas dos parceiros comerciais mais importantes. Sendo uma média ponderada de várias taxas de câmbio bilaterais, a NEER é um indicador que permite resumir num índice as flutuações das taxas de câmbio dos parceiros, sendo possível expressar as variações nominais em desvalorização (depreciação) ou valorização (apreciação). A taxa de câmbio efectiva real (REER), obtida deflacionando a taxa efectiva nominal por um índice de preço ou de custo considerado apropriado, constitui um indicador de competitividade largamente utilizado. Contudo, a análise do impacto das medidas de política sobre as REER não deixa de ser sensível ao tipo de índice escolhido. Segundo Sebastian Edwards, a escolha de um índice de preço é crucial para o cálculo da REER, tornando importante determinar quais devem ser os itens mais apropriados para responder a diferentes objectivos de política. Por exemplo, se o objectivo é quantificar o impacto do choque de produtividade sobre a taxa de câmbio, o índice de taxa de câmbio com base no PIB parece ser o mais indicado, uma vez que incorpora variações na produtividade. Por outro lado, se o objectivo é medir o efeito do fluxo de capitais, bem como a competitividade externa do país, neste caso, o ponderador do comércio deflacionado pelo índice de preços no consumidor, decomposto em tradable e nontradable, é, para alguns autores, o mais apropriado, na medida em que permite captar o impacto do fluxo de capitais sobre a REER e sobre a competitividade (Dutch Disease). Igualmente, se o interesse é quantificar a competitividade das importações, das exportações ou a competitividade global, pode-se, para o cálculo da REER, utilizar os índices dos ponderadores das exportações, das importações ou de ambos. A REER, apesar de constituir um indicador bastante, como medida de competitividade, revela algumas fragilidades, na medida em que o conceito de competitividade é bem vasto e de difícil conceptualização a nível da economia no seu todo. Segundo Paul Krugman, são as empresas, ao invés das economias, que competem à escala mundial do comércio, pelo que a REER deve ser vista como um conceito restrito de competitividade. Em qualquer dos casos, a utilização da REER pode, no entanto, ser justificável, tendo em atenção que o desempenho das empresas no plano externo é, na abordagem de M. Porter, influenciado pelo contexto interno que, directa Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 2 ou indirectamente, afecta os custos e os riscos de negócios. No caso particular de Cabo Verde, as taxas efectivas nominais e reais são calculadas por um ponderador constituído pelas remessas dos emigrantes e pela variação dos índices dos principais parceiros comerciais do país. Apesar de, ao longo dos anos, os ponderadores terem sofrido algumas alterações, as componentes dos mesmos não foram mudados. Na medida em que a REER pode ser interpretada como indicador de competitividade, este documento procura explorar até que ponto a metodologia de cálculo da REER é consistente com o conceito de competitividade. Para responder a esta questão, este artigo encontra-se organizado da seguinte forma: na secção 2, aborda-se o conceito de taxa de câmbio e de taxa efectiva real e nominal e as metodologias de construção do índice a considerar. Na secção 3, analisa-se a estrutura das taxas efectivas de Cabo Verde e a sua evolução recente. Posteriormente, faz-se a análise da paridade do poder de compra, enquanto indicador do nível de competitividade, e alguns cenários alternativos são construídos, com base em conceitos alternativos da REER. Por fim, apresenta-se as principais conclusões. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 3 2. Aspectos Metodológicos 2.1. Taxa de Câmbio Efectiva Real Seguindo a teoria da paridade de poder de compra (PPP), o índice da taxa de câmbio real pode ser definido como sendo a média ponderada das taxas de câmbio bilaterais, ajustada pelo nível de preços dos dois países. As taxas bilaterais podem ser calculadas da seguinte forma: Reer = exp/p ou em forma logarítmica como: Ln(reeer) = Ln(e) +Ln(p*)- Ln(p) Em que e é a taxa nominal bilateral, expressa em unidade de moeda estrangeira por unidade de moeda nacional, p e p* o nível de preço da economia nacional e no país estrangeiro. Nesta formulação “ao incerto ”, uma depreciação da moeda resulta de uma redução do índice. Em alternativa, “e pode ser definido “ao certo” como preço da moeda nacional em unidade de moeda estrangeira. Neste caso, o aumento do índice corresponde a uma depreciação da moeda nacional. Segundo uma outra definição avançada por Rudiger Dornbush, a taxa efectiva real é calculada como razão dos preços internos dos tradables (Pt) com os nontradables (Pn): REER = Pt/Pn. Uma descida da REER sugere uma apreciação da taxa real e uma reafectação da procura a favor dos tradable, o que corresponde a perda de competitividade, no pressuposto de que os preços dos parceiros comerciais não se alteram. Utilizando quaisquer destas definições, a REER torna-se um instrumento útil na análise dos movimentos das taxas de câmbio e do seu impacto sobre os preços das importações e da competitividade das exportações, apesar das suas limitações. Mesmo aceitando as limitações da REER na medição da competitividade, outros problemas metodológicos podem ainda ser levantados, os quais estão ligados à escolha do deflactor mais apropriado à comparação competitiva dos preços ou dos custos internacionais. Tendo este aspecto em mente, para os objectivos deste documento define-se a REER como o produto entre a taxa nominal (NEER) e os índices de preços relativos que, neste caso, correspondem à média ponderada dos índices de preços do país e dos parceiros comerciais, expressa em média aritmética, da seguinte forma: REER ∑ (NEERjit) (P*it/Pjt) Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 4 P*it é a média ponderada do índice de preços dos parceiros comerciais, enquanto que Pjt é o IPC da economia doméstica. No caso da média geométrica, a REER seria: REER = ∏ (NEERjit × Pit/Pjt)) Apesar da média aritmética ser a mais fácil de utilizar, razões de ordem teórica indicam que a média geométrica é a melhor opção, pelo facto das variações percentuais do índice da média aritmética,normalmente diferirem em função da forma como a taxa de câmbio é definida. Por outro lado, os índices de preços baseados na média aritmética são sensíveis à alteração do período de base. Estas constatações normalmente não estão presentes nas estimativas da REER baseadas em médias geométricas, que tratam os movimentos das taxas de câmbio de forma simétrica, o que também facilita a sua aplicação em modelos econométricos, em que as variáveis são logaritmizadas. 2.2 Composição do Cabaz de Moedas Em termos teóricos, a qualidade de um índice será, naturalmente, melhorada com a inclusão de um maior número possível de moedas no seu cálculo e, tanto mais, quanto maior for a intensidade do comércio internacional entre o país e os actuais e os potenciais parceiros ou concorrentes. Contudo, do ponto de vista prático, a inclusão de um número elevado de moedas tem inconvenientes, na medida em que exige a compilação de dados que nem sempre estão disponíveis, o que pode inviabilizar a construção atempada dos índices. Para além deste aspecto, é necessário ter-se em mente que os mercados de muitas moedas podem ser caracterizados por distorções originadas por intervenções das autoridades. Em outras circunstâncias, algumas moedas de países com inflação muito elevada terão de ser necessariamente excluídas, na medida em que o cálculo da taxa efectiva nominal a prazo será dominado, essencialmente, pelo declínio do valor externo da moeda do país de inflação alta, o que representa um enviesamento no comportamento da REER. Por estas razões, muitas taxas efectivas de câmbio publicadas contêm um número reduzido de moedas, apenas as essenciais para o objectivo definido, que é o da análise da competitividade externa do país. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 5 2.3 A Escolha dos Ponderadores O Fundo Monetário Internacional desenvolveu um modelo econométrico (Multilateral Exchange Rate Model ou MERM) em que REER funciona como indicador de competitividade. Contudo, o MERM revelou-se de reduzida aplicabilidade, o que levou ao seu abandono, não obstante a robustez teórica por detrás da sua construção. Com isto, a maioria dos bancos centrais adoptaram as estatísticas dos fluxos comerciais, para calcular os ponderadores dos índices da REER. A escolha do método de ponderação depende dos objectivos do cálculo da REER1. Os ponderadores bilaterais das importações, por reflectirem o peso do parceiro comercial nas importações do país, parecem ser uma boa base para a avaliação da competitividade do país. Este ponderador pode ser expresso da seguinte forma: W = in ij M ij Mj M ij sendo as importações de j oriundas de i e ções de j provenientes dos parceiros considerados. Mj as importa- Para certas situações, este método de ponderação pode não ser o mais adequado, na medida em que apenas capta o comércio bilateral entre o país e o seu parceiro, ficando de fora o impacto no mercado interno da concorrência de outros países ou o third country effect, que é a concorrência que o país doméstico enfrenta no mercado interno dos produtos oriundos de outros países2. Em alternativa, podem ser construídos ponderadores duplos das exportações, que consideram em cada mercado a concorrência do produtor interno e de outros exportadores3 . O peso do país i nas exportações de j, W x i, j pode ser estimado com base na seguinte fórmula: 1 Para uma discussão mais detalhada sobre os métodos de ponderação, ver “ BIS-Economic Paper - nº. 39 Measuring International Price and Competitiveness- November 1993 “ Ver Luci Ellis - Measuring the Real Exchange Rate: Pitfalls and Practicalities - Reserve Bank of Australia - August 2001 2 3 ECB Ocasional Paper Séries, N.º 2 - February 2002 Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 6 ⎛ X ij W =⎜ ⎜X ⎝ j x ij ⎛ ⎞ ⎟ ⎞ ⎜ ⎛ X kj Y i ⎟×⎜ + ⎜ ⎟ Y + ∑Xi ⎟ ∑ ⎜ k ≠i ⎝ X j h ⎟ ⎠ ⎜ i h ≠i , j ⎝ ⎠ ⎛ ⎞ k ⎟ ⎞ ⎜ X i ⎟×⎜ ⎟ Y + ∑Xk ⎟ h ⎟ ⎠ ⎜ k h≠k , j ⎝ ⎠ Yi (Yk ) em que X representa as exportações e a produção doméstica do país i (país k), com os pesos a reflectirem a concorrência que o país i enfrenta no mercado interno e nos mercados externos. Os ponderadores totais resultam da combinação da dupla ponderação das exportações e ponderações simples das importações, segundo a fórmula: ⎛ Mj Wij = ⎜ ⎜M +X j ⎝ j ⎞ ⎛ Xj ⎟ × Wijm + ⎜ ⎟ ⎜M +X j ⎠ ⎝ j ⎞ ⎟ × Wijx ⎟ ⎠ em que o factor de ponderação é o peso das importações ou exportações de j no total do seu comércio externo nos mercados relevantes. Por fim, o período de referência utilizado no cálculo dos ponderadores é normalmente fixo, na medida em que é fácil de estimar. Contudo, para se obter uma estrutura de ponderadores que não esteja afectada por oscilações cíclicas, as bases fixas são normalmente estimadas através de uma média da estrutura do comércio externo equivalente a 3 anos. 2.4. A Escolha dos Deflactores Existem vários tipos de índices de preços ou de custo que podem ser considerados: o índice de preço no consumidor, o custo unitário do trabalho, o deflactor do PIB, o índice de preços no produtor e o índice de preços das exportações são os mais frequentemente utilizados para deflacionar a NEER. Para alguns autores, não há um deflactor que por si só consiga traduzir a evolução da competitividade, mesmo quando ele é definido em sentido restrito, em termos de preços ou de custos. Como qualquer deles apresenta vantagens e desvantagens, em função dos objectivos definidos, é comum optar-se pela construção de vários deflactores. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 7 O índice do custo unitário do trabalho (ULC) é defendido por muitos autores, visto que permite captar as evoluções nos custos unitários do trabalho, num sector muito exposto à concorrência internacional, que é a indústria transformadora. Na verdade, dada a similaridade da estrutura económica dos países industrializados, o padrão do comércio dominante é intra - indústria, pelo que, neste caso, é vantajosa a utilização do ULC, na comparação dos custos internacionais. Contudo, o ULC apresenta a desvantagem, por um lado, de ser bastante sensível ao ciclo económico, diminuindo nos períodos de slack e crescendo em épocas de expansão e, por outro, de reflectir todos os custos, nomeadamente os custos de capital4. O deflactor do PIB, apesar de ser uma medida agregada dos custos internos, tem a desvantagem de incluir os non tradables e os serviços que não entram no comércio internacional, pelo menos de forma directa. O índice de preços de exportação, teoricamente, seria um indicador ideal para deflacionar a NEER. Contudo, este índice traduz, meramente, o valor unitário das exportações, não sendo, por isso, um verdadeiro índice de preços. O índice de preços é utilizado na generalidade das situações, pois apresenta a vantagem de poder ser utilizado como proxi para os non tradables, de ser publicado com alta-frequência e da composição do cabaz facilitar a comparação entre os países. Contra o IPC, reside o facto de ser influenciado pela taxa de câmbio, pelos impostos e subsídios e, em certas circunstâncias, os preços são administrados, o que representa uma interferência com o equilíbrio de mercado. Estas limitações também se aplicam aos índices de preços no produtor (IPP), embora o IPC tenha a vantagem de ser publicitado com regularidade e não apresentar problemas de harmonização. 2.5. Síntese das Diferentes Metodologias Na maior parte dos países são utilizados ponderadores totais para o cálculo das taxas efectivas. Para o cálculo da REER, o Banco Central Europeu (e os países que fazem parte da Zona Euro) utiliza os ponderadores globais, que são estimados com base nas informações sobre as exportações e importações, excluindo o comércio da Zona Euro. O peso das importações corresponde à percentagem de cada parceiro no 4 BIS Economic Paper nº 39-November 1993 Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 8 total das importações da Área do Euro. As exportações têm uma dupla ponderação, de forma a captar os efeitos da concorrência em mercados terceiros de produtos da Zona Euro. Os fluxos comerciais considerados pelo BCE incluem apenas as manufacturas, pela sua relevância em termos de competitividade externa (os serviços são excluídos devido à falta de informação). A metodologia da dupla ponderação das exportações é aplicada, também em outros países como o Canadá e os USA, por exemplo, onde o âmbito do comércio externo recai, igualmente, sobre as manufacturas5. Relativamente aos ponderadores, as restrições de informação limitam, seriamente, a escolha de índices para deflacionar a NEER. Para a maioria dos países, a falta de dados inviabiliza a utilização do ULC e a escolha recai, necessariamente, sobre o IPC e, em segundo plano, sobre os deflactores do PIB e o IPP. Este facto explica, em grande parte, o porquê dos índices baseados no ULC serem calculados apenas para um conjunto reduzido de países industrializados, onde as informações comparativas sobre custo unitário do trabalho e a produção industrial estão disponíveis. Apesar do IPC continuar a ser o deflactor mais utilizado, convém ter-se em mente a necessidade de se utilizar a core inflation, como base de cálculo, expurgando, assim, da NEER os itens que nominalmente introduzem volatilidade específica às variações do IPC. 3. Índices de Taxa de Câmbio Efectiva pelo Banco de Cabo Verde 3.1. Metodologias de Cálculo Conforme foi referido nos pontos anteriores, as REER são de utilização muito importante para a análise do impacto das alterações cambiais na evolução das componentes da balança de pagamentos e dos preços internos. Cabo Verde, como pequena economia aberta, começou desde 1997 a estimar as suas taxas efectivas, de forma a avaliar o comportamento da sua moeda em relação ao conjunto das moedas dos países com os quais mantém relações económicas mais intensas. 5 Novo Índice Cambial para Portugal - Banco de Portugal -Boletim Económico - Dezembro 2004 Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 9 Para o cálculo das taxas de câmbio efectivas, oito países constituíam o cabaz, designadamente, Portugal, Alemanha, França, Holanda, Estados Unidos da América, Itália, Espanha e Inglaterra, uma vez que se apresentavam como principais parceiros comerciais e principais países de proveniência das remessas de emigrantes. Em 1999, a decisão de vincular o Escudo Cabo-verdiano ao Escudo Português e, por essa via, ao Euro e as alterações na estrutura do comércio externo do país justificaram a revisão da metodologia de cálculo da NEER, o que viria a concretizarse em 2002. Assim, em 2002, na sequência da substituição das moedas nacionais dos parceiros pertencentes à Zona Euro pelo EUR, foram calculados novos coeficientes de ponderação para o cálculo das taxas de câmbio efectivas, tendo como ano base uma média dos anos 1998 a 2001. O novo cabaz comporta a Zona Euro, os Estados Unidos e o Reino Unido. A série do novo índice é calculada através de uma média geométrica ponderada das taxas de câmbio dos principais parceiros comerciais de Cabo Verde, tendo como coeficiente de ponderação o peso relativo do país emissor de cada moeda que entra no cabaz do comércio externo de Cabo Verde e o peso relativo do país de origem das remessas de emigrantes. Para o cálculo desses coeficientes são adicionados os valores de importação, exportação e remessas de emigrantes. 3.2. Método de Ponderação As NEER de Cabo Verde são obtidas aplicando os pesos do comércio global e das remessas de emigrantes às taxas de câmbio bilaterais do CVE, face às moedas dos parceiros comerciais. Os pesos globais compreendem as informações sobre as importações, exportações e remessas de emigrantes. Os pesos das importações e das exportações são as percentagens individuais de cada país parceiro, no total das importações e exportações dos países parceiros de Cabo Verde. Igualmente, o peso das remessas de emigrantes é a percentagem de cada país de origem no total das remessas provenientes dos países parceiros. Em termos de ponderação global, nos dois momentos de cálculo das taxas de câmbio efectivas, foram considerados como principais parceiros comerciais de Cabo Verde, os seguintes países, com os respectivos coeficientes: Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 10 Coeficientes (Ano Base 1990) Portugal Holanda Espanha França Itália Reino Unido Alemanha EUA Coeficientes (Ano Base 2001) 0,4598 Zona Euro 0,1611 EUA 0,0362 Reino Unido 0,8829 0,0949 0,0222 0,1089 0,0295 0,0283 0,0604 0,1158 3.3. Deflactores e Período de Referência A taxa de câmbio efectiva real mede a competitividade da economia cabo-verdiana, em termos de preços ou de custos, em relação aos respectivos parceiros comerciais. Até 2001, utilizava-se como deflactor o índice de preços no consumidor de Cabo Verde e dos oito países que faziam parte do cabaz. Com a entrada física do euro em circulação, passou a utilizar-se como deflactor, o índice de preços harmonizado da Zona Euro e continuou a utilizar-se os índices de preços no consumidor do Reino Unido, dos Estados Unidos e do próprio país. Antes de 2001, o período de base para o cálculo das taxas de câmbio efectivas é o ano de 1990. A partir desta data, passou-se a calcular as taxas de câmbio efectivas, utilizando o referido ano como ano base. No que diz respeito à frequência dos dados das taxas de câmbio efectivas, estes são publicados mensalmente na Internet e em várias publicações do Banco de Cabo Verde. 4. Taxa efectiva de Cabo Verde e a competitividade externa Conforme se disse anteriormente, no cálculo dos ponderadores incluem-se os fluxos externos das importações, exportações e remessas de emigrantes e consideram-se como principais parceiros os países da Zona Euro, o Reino Unido e os Estados Unidos da América. Desta metodologia de cálculo resulta que o coeficiente afecto à Zona Euro é o mais importante (0,8829), o que é revelador do volume de trocas comerciais entre Cabo Verde e os países integrantes da Zona, particularmente, Portugal, de onde são também provenientes relevantes fluxos de remessas de emigrantes. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 11 No caso dos EUA, o valor do coeficiente é 0,0949 e, como o volume de comércio com este país é reduzido, o ponderador reflecte, essencialmente, a importância das remessas. Por último, nota-se que o peso do Reino Unido é residual (0,0222), pelo que é questionável o seu papel no cabaz. Fígura 1 Taxas de Câmbio Efectivas (2001=100) ( moeda estrangeira por escudo caboverdiano) Zona Euro Reino Unido COEF 2001 2002 2003 2004 0,8918 100,00 100,00 100,00 100,00 0,0149 100,00 101,05 111,24 109,14 Taxa Efectiva Taxa Efectiva Nominal (TEN) Real (TER) EUA 0,0933 100,00 105,40 126,21 138,97 100,00 100,49 102,35 103,25 100,00 99,83 100,50 97,35 A análise da evolução das taxas de câmbio efectivas reais, enquanto indicador de competitividade da economia cabo-verdiana, revela um comportamento díspare, do ponto de vista da tendência de evolução. Uma inspecção visual dos gráficos indica que períodos de depreciação da taxa efectiva real, sugerindo aumento da competitividade da economia cabo-verdiana, não correspondem à redução do défice da balança de bens e serviços. Figura 2 Défice de Bens e Serviços Evolução da Taxa de Câmbio Efectiva Real 0,50 Jul-04 Out-04 Abr-04 Jan-04 Out-03 Jul-03 Abr-03 Jan-03 Jul-02 Out-02 Abr-02 -1.000,00 1,00 Jan-02 0,00 1,50 -2.000,00 0,00 Ja n0 Ab 2 r0 Ju 2 l- 0 O 2 ut -0 Ja 2 n0 Ab 3 r0 Ju 3 l- 0 O 3 ut -0 Ja 3 n0 Ab 4 r0 Ju 4 l- 0 O 4 ut -0 4 -0,50 -3.000,00 -1,50 -4.000,00 -1,00 Taxa Efectiva Real Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 Balança de Bens e Serviços 12 Pelo facto da REER de Cabo Verde não reflectir a competitividade, pode-se avançar duas razões fundamentais ligadas ao método de ponderação: 1. A inclusão das remessas de emigrantes no cálculo dos ponderadores. Por detrás do envio de remessas estarão vários motivos, desde o puro altruísmo á razões de interesse económico. Das estimativas dos reais motivos de envio de remessas, tanto no estudo do FMI, como no do Weber, a variável dummy, representativa de mudança de regime cambial, parece ser a mais significativa. Destaca-se, ainda, que nas estimativas de Weber, o diferencial das taxas de juro são significativas, sugerindo que por detrás das transferências dos emigrantes dominam motivos económicos6. Se o diferencial é uma das variáveis importantes, neste caso, num contexto de paridade fixa, o aumento de fluxos de remessas conduz à apreciação da moeda cabo-verdiana, o que não deve ser confundido com a perda de competitividade resultante do efeito “Bella Bellassa”. No estudo de Bourdet, o aumento de 10% das remessas conduz a uma apreciação de 1,2% da taxa efectiva real. 2. Desequilíbrio intrínseco à estrutura do cabaz. A dependência externa fez com se alargasse o âmbito do comércio externo. No cálculo dos ponderadores, considera-se o comércio total, incluindo os serviços do lado das exportações, mas, do lado das importações, não existem informações disponíveis sobre os serviços dos parceiros. Pelo que se disse anteriormente, na maior parte dos países os ponderadores incluem apenas as manufacturas, pela sua relevância em termos de competitividade, e os ponderadores das exportações, normalmente, têm uma dupla ponderação para que o índice reflicta o efeito de países terceiros. Aqui, levanta-se o problema da aplicabilidade do conceito da REER, enquanto indicador da competitividade, para países como Cabo Verde, pequeno, price taker e, sobretudo, com peso praticamente nulo no comércio de mercadorias a nível mundial. Por último, destaca-se que, caso forem excluídos os serviços e bens alimentares, a NEER transformar-se-á num simples índice de importação, ou seja, num indicador de preços das importações. 6 Cape-Verde´s Exchange Rate Policty and it´s Alternative. Romain Weber- 2004 Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 13 Em alternativa, a abordagem da Paridade do Poder de Compra (PPP), que mede o nível de competitividade ao invés de variações, é frequentemente realçada na literatura. A doutrina da PPP estabelece que as taxas de câmbio e os níveis de preços tendem a ajustar-se, de forma a manter o poder aquisitivo de uma dada moeda, pelo que, num certo momento, o seu valor real será o mesmo em qualquer país. Tendo por base os pressupostos da teoria de one price, a PPP pode ser expressa da seguinte forma: rt = et - pt + pt* [1] onde rt é o logaritmo da taxa de câmbio real, et é o logaritmo da taxa de câmbio nominal, pt e pt* é o logaritmo do IPC doméstico e externo, respectivamente. Apesar de na literatura ter havido alguma controvérsia sobre a validade da PPP no curto prazo, testes empíricos indicam que, no longo prazo, a PPP pode ser um bom indicador de comportamento da taxa de câmbio. Uma forma de testar esta relação (PPP no longo prazo) consiste em verificar se qt é uma sequência estacionária. No caso de Cabo Verde, a maioria do comércio externo é com Portugal pelo que, neste caso, a arbitragem de bens pode aproximar-se ao estipulado na teoria da PPP. Aceitando este postulado, pode-se recorrer ao modelo monetário simples definido anteriormente, para testar até que ponto a PPP pode ser um bom indicador de competitividade externa de Cabo Verde. Para atingir este desiderato, basta verificar se qt é uma sequência estacionária ou não. Para testar a presença de raíz unitária da taxa de câmbio real, usámos o teste DicKey-Fuller e Phillips-Perron. O quadro 1 contém o resultado de testes de estacionaridade da taxa de câmbio real7. Em ambos os testes, não se rejeita a hipótese de existência da raíz unitária, ou seja, a PPP não se verifica no longo prazo, mesmo para nível de significância de 10%. Definindo taxa de câmbio “ao incerto”, a inspecção visual dos gráficos mostra-nos que, nos últimos anos, Cabo Verde tem perdido competitividade relativamente a Portugal. Este resultado parece suportar a conclusão do estudo de Bourdet e Flack 7 Os IPC são integradas de ordem 1 [I(1)]. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 14 sobre o impacto das remessas na economia cabo-verdiana8. Neste modelo, em que o conceito de tradable e non tradable foi utilizado para definir a taxa de câmbio efectiva, a variável mais significativa são as remessas de emigrantes. A conclusão importante do estudo a reter é o facto de, nas últimas duas décadas, as taxas de câmbio em Cabo Verde se terem apreciado em cerca de 14%, representando uma perda acentuada da competitividade externa do país, uma conclusão análoga ao efeito Dutch Disease. Quadro 1 – Teste de Raíz Unitária Null Hypothesis: R has a unit root Exogenous: Constant Lag Length: 0 (Automatic based on SIC, MAXLAG=12) t-Statistic Prob.* Augmented Dickey-Fuller test statistic -1.126909 0.7036 Test critical values: 1% level -3.484653 5% level -2.885249 10% level -2.579491 Bandwidth: 4 (Newey-West using Bartlett kernel) Adj. t-Stat Prob.* Phillips-Perron test statistic -0.951129 0.7687 Test critical values: 1% level -3.484653 5% level -2.885249 10% level -2.579491 *MacKinnon (1996) one-sided p-values. 8 Emigrant’s Remittances and Dutch Disease in Cape Verde - Yves Bourdet e Hans Flack Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 15 Figura 3 -0.96 .08 .06 -1.00 .04 -1.04 .02 -1.08 .00 -.02 -1.12 -.04 -1.16 -.06 -1.20 -.08 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 95 96 97 Taxa de Câmbio Real 98 99 00 01 02 03 04 05 Dif. Taxa de Câmbio Real 5.30 .08 5.25 .06 5.20 .04 5.15 .02 5.10 .00 5.05 -.02 5.00 -.04 4.95 4.90 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 -.06 95 96 97 Log. IPC Cabo Verde 98 99 00 01 02 03 04 05 04 05 Dif. Log. IPC Cabo Verde 4.84 .012 4.80 .008 4.76 4.72 .004 4.68 .000 4.64 4.60 -.004 4.56 4.52 -.008 95 96 97 98 99 00 01 02 Log. IPC Portugal Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 03 04 05 95 96 97 98 99 00 01 02 03 Dif. Log. IPC Portugal 16 5. Definição Alternativa de Índice de Taxa de Câmbio Como referido, o que se questiona é a relevância da inclusão dos fluxos de remessas de emigrantes e a escolha da base do comércio no cálculo dos ponderadores, para, posteriormente, se considerar as taxas de câmbio real como indicador da competitividade do comércio externo. Alguns cenários alternativos podem ser construídos, no intuito de se determinar quais são os métodos mais relevantes para o caso de Cabo Verde. Salienta-se, no entanto, que esta análise deve ser vista com cautela, uma vez que, devido à alteração de métodos de cálculo do ano base dos índices, o período de comparação é relativamente curto, de apenas dois anos e meio. Cenário 1: Ponderadores Excluindo Remessas de Emigrantes Se no cálculo dos ponderadores se considerar o peso do comércio bilateral, excluindo as remessas de emigrantes, e se se mantiver os mesmos países parceiros (Zona Euro, Estados Unidos da América e Reino Unido) constatamos que, relativamente ao cenário actual, se verifica um ligeiro aumento do peso do coeficiente da Zona Euro (0,9451), alguma redução no ponderador do Reino Unido (0,0208) e uma baixa considerável no ponderador dos EUA (0,0341), o que poderá ser representativo da importância do fluxo de remessas de emigrantes proveniente deste país. Figura 4 Taxas de Câmbio Efectivas (1998-2001=100) ( moeda estrangeira por escudo caboverdiano) Zona Euro COEF 2001 2002 2003 2004 0,9451 100,00 100,00 100,00 100,00 Reino Unido 0,0208 100,00 101,05 111,24 109,14 EUA 0,0341 100,00 105,40 126,21 138,97 Taxa Efectiva Nominal (TEN) 100,00 100,20 101,02 101,31 Taxa Efectiva Real (TER) 100,00 99,57 99,25 95,61 A análise comparativa da evolução das taxas de câmbio efectivas nominais, no período de Janeiro de 2002 a Outubro de 2004, sugere que, quando se incluem as remessas no cálculo dos ponderadores, os níveis de apreciação/depreciação das TEN são superiores, muito embora sigam de perto a tendência de evolução das TEN, quando não são incorporadas as remessas na determinação dos coeficientes. Relativamente às taxas de câmbio efectivas reais, não se registam alterações signi- Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 17 ficativas, quando se retiram as remessas de emigrantes do cálculo de ponderadores, havendo mesmo períodos em que as TER coincidem. Figura 5 Evolução da Taxa Efectiva Real 0,6 0,500 0,4 0,000 0,2 Set-04 TER TER sem Remessas Set-04 Jan-04 Set-03 Jan-03 TEN Mai-04 -0,4 Mai-03 -1,500 Set-02 0 -0,2 Mai-02 Mai-04 Jan-04 Set-03 Mai-03 Jan-03 Set-02 Jan-02 Mai-02 -1,000 % 1,000 -0,500 Ano Base 1998-2001 0,8 Jan-02 1,500 % Evolução da Taxa Efectiva Nominal Ano Base 1998-2001 TEN sem remessas Cenário 2: Ponderadores com Remessas incluindo o Brasil Neste cenário, mantém-se a metodologia de cálculo actual de ponderadores (incluindo importações, exportações e remessas de emigrantes) e, ao nível dos países parceiros, substitui-se o Reino Unido pelo Brasil, cujo peso, em termos de trocas comerciais com Cabo Verde, tem vindo a crescer desde 2000. O coeficiente obtido para o Brasil é superior ao do Reino Unido (0,208 e 0,0222), o que poderá ser indiciador de uma maior importância das trocas comerciais com o Brasil, do que com o Reino Unido. Figura 6 Taxas de Câmbio Efectivas (1998-2001=100) ( moeda estrangeira por escudo caboverdiano) Zona Euro COEF 2001 2002 2003 2004 0,8841 100,00 100,00 100,00 100,00 Brasil 0,0208 100,00 131,49 164,00 171,93 EUA 0,0950 100,00 105,40 126,21 138,97 Taxa Efectiva Nominal (TEN) 100,00 101,01 103,28 104,34 Taxa Efectiva Real (TER) 100,00 100,27 101,07 97,93 Porém, a trajectória das taxas de câmbio, quer nominais, quer reais apresenta exactamente a mesma tendência de evolução, com intervalos coincidentes, comparativamente ao cenário de evolução actual. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 18 Figura 7 Evolução da Taxa Efectiva Real Evolução da Taxa Efectiva Nominal Ano Base 1998-2001 Ano Base:1998-2001 2 0,6 1,5 0,4 1 0,5 0,2 % % 0,8 Jul-04 Out-04 Jan-04 Abr-04 Jul-03 Out-03 Jan-03 Abr-03 Out-02 -1 Jul-02 Jan-02 Jul-04 -0,5 Out-04 Abr-04 Jan-04 Jul-03 Out-03 Jan-03 Abr-03 Jul-02 Out-02 Jan-02 Abr-02 -0,2 Abr-02 0 0 -1,5 -0,4 TEN c/ Reino Unido TER c/ Reino Unido TEN c/ Brasil TER c/ Brasil Cenário 3. Brasil, ao invés do reino Unido, mas Excluindo as Remessas Retomando o cenário 2, que inclui o Brasil, ao invés do Reino Unido, mas excluindo as remessas no cálculo dos ponderadores, apenas ao nível da evolução das taxas de câmbio nominais se verifica que, quando incluídas as remessas, os níveis de apreciação/depreciação das TEN são superiores do que quando as remessas não são consideradas. Ao nível das taxas de câmbio efectivas reais, a tendência de evolução é coincidente, num caso e noutro. O coeficiente mais relevante continua sendo o da Zona Euro (0,9391), seguido dos EUA (0,0339) e finalmente do Brasil (0,0270). Figura 8 Taxas de Câmbio Efectivas (1998-2001=100) ( moeda estrangeira por escudo caboverdiano) Zona Euro COEF 2001 2002 2003 2004 0,9391 100,00 100,00 100,00 100,00 Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 Brasil EUA 0,0270 100,00 131,49 164,00 171,93 0,0339 100,00 105,40 126,21 138,97 Taxa Efectiva Nominal (TEN) 100,00 100,85 102,14 102,61 Taxa Efectiva Real (TER) 100,00 100,10 99,95 96,31 19 Figura 9 Evolução da Taxa Efectiva Real Evolução da Taxa Efectiva Nominal Ano Base:1998-2001 2 Ano Base 1998-2001 0,8 1,5 0,6 1 0,4 % % 0,5 0,2 -1,5 Set-04 Mai-04 Jan-04 Set-03 Mai-03 Jan-03 Set-02 -0,2 Mai-02 0 Jan-02 Set-04 Mai-04 Jan-04 Set-03 Jan-03 Set-02 Mai-03 -1 Mai-02 -0,5 Jan-02 0 -0,4 TER c/Brasil, c/Remessas TER c/Brasil, s/Remessas TEN c/Brasil, c/Remessas TEN c/ Brasil, s/ Remessas Concluindo, a inclusão das remessas no cálculo dos ponderadores parece reflectirse em níveis superiores de apreciação/depreciação das taxas de câmbio efectivas nominais, não produzindo alterações significativas ao nível das taxas de câmbio efectivas reais. Por outro lado, quando se substitui o Reino Unido pelo Brasil no leque dos países parceiros, não se registam alterações significativas nas trajectórias de evolução das TEN e TER. Da análise destes resultados, vê-se claramente que, enquanto a NEER difere sempre que os ponderadores são alterados, o deflactor utilizado acaba sempre, em grande medida, por neutralizar estas diferenças. Uma abordagem mais fina da questão exigiria a utilização de deflactores alternativos, como por exemplo, o índice de preços no produtor ou o deflactor do PIB ou do custo unitário do trabalho, estatísticas que, no nosso caso, não estão disponíveis, ou não têm a alta frequência dos dados do IPC e, este, como se sabe, apesar da sua vantagem operacional, engloba bens não transaccionáveis e não leva em consideração alguns bens intermédios. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 20 6. Conclusão É pertinente interpretar a taxa de câmbio efectiva real, da forma como é calculada pelo BCV, como um indicador de competitividade da economia cabo-verdiana, face aos seus principais parceiros comerciais? A resposta, pelo que se pode constatar ao longo deste artigo, é, seguramente, não, pois a lógica da inclusão das remessas briga com o conceito fundamental dos determinantes da produtividade e a sua prevalência transmite uma visão errónea da evolução da competitividade, mormente em certas situações. Factores de ordem exógena levam a um aumento do influxo de remessas e, à subsequente apreciação do escudo cabo-verdiano. A utilização dos fluxos de importações e exportações no cálculo de ponderadores pode não ser a melhor forma de se chegar a uma taxa de câmbio efectiva real que reflicta os reais movimentos de competitividade, pois a base do comercio externo dos parceiros de Cabo Verde restringe-se aos bens manufacturados. Em alternativa, cálculos econométricos revelam um resultado misto - a PPP de Cabo Verde e Portugal falhou o teste de estacionariadade, enquanto que, no estudo de Bourdet, as remessas de emigrantes têm contribuído para a perda de competitividade. Os resultados dos cenários alternativos não são conclusivos, dado que as limitações do número de observações não permitem uma conclusão definitiva. Tendo em conta estas informações, sugere-se, para trabalhos futuros, a construção de três tipos diferentes de índices: • • um ponderado pelas importações de bens; • um índice mais geral que inclui as importações e as exportações. outro pelos fluxos do turismo; No entretanto, para efeitos de ordem comparativa, o actual ponderador poderá ser mantido. Em termos de ponderador, apesar de se questionar o uso do índice de preços no consumidor para deflacionar a taxa de câmbio nominal, em termos práticos, as vantagens relativas de natureza operacional recomendam a sua manutenção. Contudo, convém iniciar o processo de construção do índice de custo unitário de trabalho e do produtor, pois pode ser um exercício interessante a comparação dos deflactores. Banco de Cabo Verde / Agosto 2006 21 C.P. 50. Av. Amilcar Cabral, Praia, Cabo Verde Tel: +238 60 70 00. Fax: +238 60 70 00. www.bcv.cv