Linhagens e cultivares de alface de folhas lisas sob cultivo hidropônico. Adriana Guedes Magalhães1; Júlio Carlos Polimeni de Mesquita2; Dimas Menezes1; Luciane Vilela Resende1; Rogério Oliveira de Melo1. 1Universidade Federal Rural de PE, DEPA, 2 Dois Irmãos, 52171-900 - Recife/PE. Hidroponia Juliana, Chã Grande, PE. [email protected]. RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar linhagens e cultivares de alface de folhas lisas sob cultivo hidropônico no nordeste brasileiro, onde temperaturas médias superiores a 25oC tornam difícil a produção de alface com qualidade. O experimento foi desenvolvido no município de Chã Grande - PE no segundo semestre de 2002. Seis cultivares e duas linhagens foram avaliadas: Carolina AG-546; Brasil 303; Regina 2000 (Horticeres); P-57 (UFRPE/IPA); Elisa; Verdinha (Hortivale); Regina (Asgrow) e P-62 (UFRPE/IPA), no delineamento de blocos ao acaso com três repetições. Foram avaliados a queima das bordas das folhas; peso da planta inteira; comprimento e peso do caule; peso da raiz e número e peso das folhas. As cvs. Regina 2000, Regina e Elisa se destacaram pela produção da planta inteira e resistência à queima das bordas das folhas. No entanto, a cor verde claro e a tendência ao pendoamento precoce apontam para a busca de cultivares mais adaptadas ao cultivo hidropônico sob temperaturas elevadas. Palavras-chaves: Lactuca sativa L.; queima das bordas; hidroponia. ABSTRACT Lettuce lines and cultivars type flat leaves under hydroponics growth. The purpose of this research was to evaluate lettuce lines and cultivars type flat leaves under hydroponics growth in the Brazilian Northeast, where medium temperatures over 25oC turn difficult the lettuce production with quality. The experiment was developed in the municipal district of Chã Grande - PE in the second semester of 2002. Six cultivars and two lines were evaluated: Carolina AG-546; Brasil 303; Regina 2000 (Horticeres); P57 (UFRPE/IPA); Elisa; Verdinha (Hortivale); Regina (Asgrow) and P-62 (UFRPE/IPA), using randomized blocks with three replicates. They were evaluated tip burn; weigh of the whole plant; length and weight of the stem; weigh of the root and number and weight of the leaves. The cvs. Regina 2000, Regina and Elisa stood out for the production of the whole plant and resistance to tip burn. However, the light-green leaves and the tendency to bolting appear for the cultivars search more adapted to the hydroponics growth under high temperatures. Key-word: Lactuca sativa L., tip burn, hydropony. INTRODUÇÃO O cultivo da alface (Lactuca sativa L.) em sistemas hidropônicos é bastante difundido no Brasil. Este cultivo é realizado em ambiente protegido, onde a temperatura atinge valores elevados. A alface responde com aceleração do pendoamento ao aumento da temperatura, aumentando ainda mais o estímulo sob condições de dias longos (Ryder, 1986). No nordeste brasileiro, próximo às grandes cidades, predominam temperaturas médias superiores a 25oC, tornando difícil a produção hidropônica de alface com qualidade, isto é, plantas com número e tamanho normal das folhas, sem alongamento do caule e com ausência do “tip burn” ou “queima dos bordos”. Costa et al. (2001) afirmaram que a possibilidade de controle de vários fatores, dentre eles a concentração de nutrientes da solução nutritiva, é uma das principais vantagens conferidas à hidroponia, dadas a rapidez e a facilidade com que isso pode ser feito. Esta opinião é a mesma de Beninni et al. (2003) para o cultivo hidropônico da alface: controlando-se as condições do meio nutritivo, os substratos para a produção de mudas e os fatores que inibem o desenvolvimento da pressão radicular como seca, vento, alta salinidade, alta intensidade luminosa e extensos fotoperíodos que promovem o aparecimento de “tip burn” ou “queima dos bordos” resolveria um dos principais problemas enfrentados pelos produtores de alface. Embora os nordestinos prefiram alfaces de folhas lisas, soltas e verdes escuras, estas são as mais afetadas pela “queima dos bordos” no cultivo hidropônico. O objetivo deste trabalho foi avaliar linhagens e cultivares de alface de folhas lisas sob cultivo hidropônico. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na hidroponia Juliana, município de Chã Grande PE no segundo semestre de 2002. Seis cultivares e duas linhagens foram avaliadas: Carolina AG-546; Brasil 303; Regina 2000 (Horticeres); P-57 (UFRPE/IPA); Elisa; Verdinha (Hortivale); Regina (Asgrow) e P-62 (UFRPE/IPA). No dia 25 de outubro procedeu-se o semeio em placas de espuma fenólica com células de 2 x 2 x 2 cm, umedecidas diariamente com água pura até 15 dias após a semeadura quando as plantas foram transferidas para perfis hidropônicos com diâmetro de 50 mm no espaçamento de 10 X 10 cm passando a receber solução nutritiva por 10 dias. Passado este período, foram transferidas para perfis hidropônicos com 75 mm de diâmetro, no espaçamento de 25 X 25 cm. A solução nutritiva foi estabelecida com base em Furlani (1999), adaptada para as condições locais, mantendo-se a condutividade elétrica em torno de 2,0 mS cm1. O esquema hidropônico foi o sistema NFT, técnica do fluxo laminar de nutrientes. A circulação da solução nutritiva foi comandada por um timer programado para promovê-la de 15 em 15 minutos durante o dia e por 15 minutos, a cada duas horas, no período noturno. O delineamento experimental foi o blocos ao acaso, com três repetições, cada parcela contendo nove plantas. Cada bloco foi constituído por apenas um perfil, garantindo a uniformidade na distribuição da solução. A avaliação da queima das bordas das folhas foi realizadas aos 40 dias após o semeio e oito dias antes da colheita, contando-se o número de plantas por parcela que apresentavam os sinais da queima, depois transformados em porcentagem. Após a colheita, aos 48 dias pós-semeio, procedeu-se a pesagem individual de cada planta (raiz, caule e folhas) da parcela. Realizou-se um sorteio para a obtenção de três plantas por parcela, nas quais foram efetuadas as seguintes mensurações: comprimento do caule, peso do caule, número de folhas e peso das folhas. Os resultados foram submetidos à analise de variância e comparados pelo teste de Tukey a 1% de probabilidade, com auxilio do programa estatístico SANEST. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados de queima das bordas das folhas, peso da planta inteira, comprimento e peso do caule, peso da raiz, número e peso das folhas, encontram-se na Tabela 1. A queima das bordas deprecia a alface inviabilizando a sua comercialização. Metade dos genótipos apresentaram alta incidência dessa anomalia, destacando-se a linhagem P-57 e a cv. Brasil 303. Por outro lado, as cvs. Regina 2000 (Horticeres) e Elisa não apresentaram qualquer sintoma, enquanto Regina (Asgrow) e Verdinha foram pouco afetadas, embora Verdinha tenha apresentado forte enrugamento das bordas das folhas. Em peso da planta destacou-se a cv. Regina 2000 (Horticeres) com 242,1 g/planta, sem diferir da cv. Regina (Asgrow), que sua vez não diferiu da cv. Elisa. Kopp et al. (2000) obtiveram 183,65 g/planta da cv. Regina e fazem referência ao trabalho de Santos et al. (2000) que obtiveram 184,1 g/planta com a mesma cultivar. As linhagens P-62 e P-57 fazem parte de um trabalho de melhoramento genético para resistência ao calor. A primeira destacou-se pelo menor tamanho do caule por ocasião da colheita, sem diferir da cv. Carolina AG-546. O pendoamento da alface inicia com o alongamento do caule. A colheita deve acontecer antes desse evento. No nordeste brasileiro raras cultivares conseguem exprimir toda sua capacidade de desenvolvimento das folhas, na fase vegetativa, devido ao calor. As cvs. Regina 2000, Regina e Elisa se destacaram pela produção da planta inteira e resistência à queima das bordas das folhas. No entanto, a cor verde claro e a tendência ao pendoamento apontem para a busca de genótipos mais adaptados ao cultivo hidropônico no nordeste brasileiro. LITERATURA CITADA BENINNI, E. R. Y.; TAKAHASHI, H. W.; NEVES, C. S. V. J. Manejo do cálcio em alface de cultivo hidropônico. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 21, n.4, p. 605-610, out./dez. 2003. COSTA, P. C.; DIDONE, E. B.; SESSO,T. M. ; CAÑIZARES, K. A L.; GOTO, R. Condutividade elétrica da solução nutritiva e produção de alface em hidroponia. Scientia Agricola, v. 58, n. 3, p. 595-597, jul./set. 2001. FURLANI, P. R.; SILVEIRA, L. C. P.; BOLONHEZI, D.; FAQUIN, V. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas: Instit. Agronômico de Campinas. Boletim Técnico n.º 180, p. 72,1999. KOPP, L.M.; SCHUNEMANN, A.P.P.; BRACCINI NETO, J.; LEMOS, C.A. de S.; SIMONETTI, R.B.; SILVA, E.S.B. da. Avaliação de seis cultivares de alface sob duas soluções nutritivas em sistema de cultivo hidropônico. Rev. Fac. Zootec. Vet. Agro. Uruguaiana, v.7, n.1, p. 19-25, 2000. RYDER, E.J. Lettuce breeding. In: Breeding Vegetable Crops (Basset, M. ed.). AVI Publishing Co., Westport, CT, USA, p. 433-474, 1986. SANTOS, O.; SCHIMIDT, D.; NOGUEIRA FILHO, H.; LONDERO, F.A. Cultivo sem solo: hidroponia. Santa Maria, CCR/UFSM, p.107, 2000 (Caderno Didático nº 1). TABELA 1 – Avaliação da queima das bordas das folhas; peso da planta inteira; comprimento do caule; peso do caule; peso da raiz; número de folhas e peso das folhas. Linhagens Queima Planta Caule Caule Raiz Folhas Folhas e Cultivares Bord.(%) (g) (cm) (g) (g) (n) (g) P-62 UFRPE/IPA 22,2 145,7* e 3,5*a 10,6*a 31,1* c 34,1* c 96,7*b Carolina AG-546 33,3 175,9 de 4,4 ab 10,0 a 33,3 bc 39,0 abc 140,0 ab P-57 UFRPE/IPA 88,9 221,5 abc 6,2 bc 15,0 ab 36,7 abc 37,4 abc 169,2 a Elisa 0,0 203,9 bcd 6,2 bc 18,3 ab 40,6 ab 39,7 abc 159,2 a Regina Asgrow 3,7 235,9 ab 7,4 cd 22,8 b 43,3 a 40,1 abc 185,0 a Verdinha Hortivale 3,7 193,5 cd 8,2 cd 18,3 ab 37,8 abc 36,1 bc 161,1 a Regina 2000 Hortic. 0,0 242,1 a 8,8 d 25,0 b 38,9 abc 40,7 ab 175,0 a Brasil 303 81,4 227,2 abc 9,4 d 20,6 ab 42,8 a 42,8 a 161,7 a Média 205,7 6,8 17,6 38,0 38,7 157,2 C.V. (%) 12,70 21,12 8,38 5,40 9,33 *Médias seguidas da mesma letra são semelhantes pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.