Caracterização dos Nervos da Córnea para o Diagnóstico de Diabetes José Silvestre Silva1,2, António Miguel Morgado1,3 Departamento de Física, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra 2 Centro de Instrumentação, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra 3 IBILI - Instituto Biomédico de Investigação em Luz e Imagem, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra 1 [email protected] Resumo A causa mais comum de incapacidade nos diabéticos é a neuropatia diabética. O diagnóstico precoce e quantificação precisa são importantes. . As alterações precoces, observáveis no plexus nervoso sub-basal da córnea dos diabéticos, podem constituir a base de um método simples e não-invasivo para a detecção da neuropatia diabética. Neste trabalho pretende-se desenvolver uma ferramenta automática, capaz de identificar eficientemente os nervos da córnea e extrair a sua forma, para determinar a sua densidade, tortuosidade e outros parâmetros morfométricos. O método proposto efectua a normalização da luminosidade e contraste das imagens, para depois identificar os segmentos dos nervos e reconstruí-los. 1. Introdução A prevalência da Diabetes Mellitus está a aumentar dramaticamente. Este aumento resultará no incremento da prevalência das complicações crónicas da Diabetes. A causa mais comum de incapacidade nos diabéticos é a neuropatia diabética. As principais complicações de longo prazo da neuropatia diabética são as infecções dos pés que não cicatrizam podendo levar à sua amputação. O diagnóstico precoce e a quantificação precisa da neuropatia diabética são importantes para definir os doentes em risco, diminuir a morbilidade dos pacientes e avaliar o desempenho de terapias. A córnea, a região externa transparente do olho, é um dos tecidos com maior densidade de nervos do corpo humano com uma concentração de nervos 20 a 40 vezes superior à existente na polpa dentária. Já se demonstrou que é possível observar, logo numa fase inicial da doença, uma diminuição significativa da enervação do plexus sub-basal em indivíduos diabéticos [1], através de imagens obtidas in vivo por [email protected] microscopia confocal da córnea [2] [3], uma técnica de imagiologia não invasiva.Assim, a observação e a quantificação de parâmetros morfométricos do plexus sub-basal pode ser o método ideal para avaliar a patologia das fibras nervosas em diabéticos e constituir a base de um método de diagnóstico da neuropatia diabética [3] [4]. Actualmente, a análise dos nervos da córnea é baseada num trabalho monótono de identificação manual e desenho dos nervos. Esta extracção de informação clínica é subjectiva e sujeita a erros. O objectivo deste trabalho é o desenvolvimento de uma ferramenta automática, capaz de identificar eficientemente os nervos da córnea e extrair a sua forma, para determinar quantitativamente a sua densidade, tortuosidade e outros parâmetros morfométricos. 2. Método Os nervos aparecem como estruturas lineares brilhantes sob um fundo escuro. O reconhecimento de nervos da córnea é similar ao reconhecimento de estruturas vasculares em imagens da retina [5]. Numa primeira fase, este método efectua uma uniformização do contraste da imagem, seguido pela identificação dos segmentos de recta, que correspondem a nervos da córnea. 2.1. Pré-processamento Normalmente, as imagens dos nervos da córnea possuem um contraste não uniforme, resultante de níveis de cinzentos mais intensos no centro da imagem. Para uniformizar o contraste, de forma que seja possível aplicar o algoritmo em toda a imagem, esta é equalizada localmente, intensificando o contraste e equalizando cada píxel a partir do histograma local de numa região de [8 × 8] pixeis. 2.2. Identificação dos nervos Para a obtenção de uma imagem binária correspondente aos nervos da córnea, é aplicado um “threshold” de 2/3 do valor máximo da imagem obtida no pré-processamento. De seguida é usada a Transformada de Hough, para identificar os segmentos de recta. Por fim, estes segmentos são comparados entre si: Quando dois ou mais segmentos se encontram no mesmo alinhamento e são adjacentes, o que significa que fazem parte da mesma recta, são substituídos por um único segmento. Esta metodologia, ainda em desenvolvimento, permite identificar automaticamente os nervos quando estes correspondem a estruturas rectas. Nas situações em que possam descrever uma curvatura, ou uma mudança repentina de direcção, é necessário processamento adicional para identificar a continuidade dos segmentos. 2.3. Caracterização dos nervos O índice de tortuosidade (que quantifica se um nervo é uma estrutura curva / sinuosa) é um dos parâmetros extraídos das imagens do plexus sub-basal (nervos da córnea), usado na discriminação entre indivíduos saudáveis e diabéticos. Para cada nervo, identificado pelo segmento calculado anteriormente, são determinados vários parâmetros: espessura no ponto médio do segmento; a orientação do segmento; a tortuosidade; o comprimento do segmento; a densidade dos nervos. O índice de tortuosidade é calculado a partir segunda derivada do nervo da córnea, no ponto médio do segmento respectivo. 3. Discussão Para caracterizar os nervos da córnea, foram analisadas várias imagens adquiridas por microscopia confocal, de indivíduos saudáveis e de indivíduos com diabetes. Apesar de este trabalho ainda estar a decorrer, os resultados preliminares permitem observar que o valor do índice de tortuosidade é claramente distinto entre os dois grupos de indivíduos, possuindo um valor médio bastante superior para os indivíduos com diabetes, quando comparado com indivíduos saudáveis. De forma a identificar um maior número de nervos da córnea, encontra-se em estudo uma modificação do actual algoritmo, que consiste em localizar toda a estrutura de nervos, seguido da identificação dos nós que ligam os vários nervos, de modo que seja possível segmentar todos os nervos, independentemente da sua curvatura. a) b) Figura 1 – Imagens obtidas por microscópio confocal; a) imagem original; b) identificação parcial dos nervos da córnea. 4. Conclusão A análise dos nervos da córnea é um método rápido, não invasivo, que pode permite avaliar o grau de neuropatia em indivíduos com diabetes. Os resultados preliminares obtidos a partir de imagens adquiridas por microscopia confocal, demonstram que existem diferenças significativas na densidade e tortuosidade dos nervos da córnea entre indivíduos saudáveis e diabéticos. 4. Referências [1] M. Popper, M. J. Quadrado, A. M. Morgado, J. N. Murta, J. A. V. Best, and L. J. Müller, "Subbasal Nerves and Highly Reflective Cells in Corneas of Diabetic Patients: In vivo Evaluation by Confocal Microscopy," Invest. Ophthalmol. Vis. Sci., vol. 2005, pp. 879-880, 2005. [2] C. N. Grupcheva, T. Wong, A. F. Riley, and C. N. J. McGhee, "Assessing the sub-basal nerve plexus of the living healthy human cornea by in vivo confocal microscopy," Lens and Cornea, vol. 30, pp. 187-190, 2002. [3] O. Stachs, A. Zhivov, R. Kraak, J. Stave, and R. Guthoff, "In vivo three-dimensional confocal laser scanning microscopy of the epithelial nerve structure in the human cornea," Graefe's Archive for Clinical and Experimental Ophthalmology, vol. 245, pp. 569-575, 2007. [4] M. Mocan, I. Durukan, M. Irkec, and M. Orhan, "Morphologic alterations of both the stromal and subbasal nerves in the corneas of patients with diabetes," Cornea, vol. 25, pp. 769-773, 2006. [5] L. J. Muller, C. F. Marfurt, F. Kruse, and T. M. T. Tervo, "Corneal nerves: structure, contents and function," Experimental Eye Research vol. 76, pp. 521-542, 2003.