CONTRASTES DE DESENVOLVIMENTO 1_Países desenvolvidos vs Países em Desenvolvimento O mundo atual é marcado por fortes contrastes. Nem todos os países apresentam o mesmo nível de riqueza e de bem-estar da sua população. À exceção da Austrália e da Nova Zelândia, todos os países desenvolvidos, também designados ricos, do Norte ou industrializados, se localizam no hemisfério norte, enquanto os países em desenvolvimento, também designados do sul ou pobres, localizam-se no hemisfério sul. Nos PD a maioria da população dedica-se a atividades dos setores terciário e secundário; tem acesso a bons serviços de educação, saúde, segurança social e o nível médio de rendimento é elevado. Nos PED a maior parte da população dedica-se a atividades do setor primário (agricultura tradicional, pesca artesanal, ...). Nestes países uma grande percentagem da população apresenta um nível de rendimento muito baixo, não tem acesso a água potável nem a uma alimentação satisfatória e também não dispõe de cuidados médicos ou uma educação de qualidade. As catástrofes naturais e a instabilidade política e social que é vivida em muitos destes países (Serra Leoa, Níger, Mali, Somália, Síria, ...) ajudam a agravar a situação precária em que se encontram. 2_CRESCIMENTO ECONÓMICO E DESENVOLVIMENTO CRESCIMENTO ECONÓMICO Crescimento económico - processo que conduz ao aumento da produção de bens e de serviços e que se reflete no aumento do consumo e do nível de vida da população. Não reflete o modo como a riqueza está distribuída pela população. Nível de vida - conceito ligado ao nível de rendimentos obtidos. Está associado à capacidade de aquisição de bens materiais, relacionando-se com o salário médio. O crescimento económico é medido por indicadores económicos como o Produto Interno Bruto per capita (PIB/hab.), o Produto Nacional Bruto per capita (PNB/hab.), o Rendimento Nacional Bruto per capita (RNB/hab.), o consumo de energia por habitante, a % de população por setor de atividade, consumo de energia, etc. Estes 1 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia indicadores apenas servem para medir o grau de riqueza de um país e não dão uma ideia do desenvolvimento e do bem-estar da população desse território. INDICADORES DE CRESCIMENTO ECONÓMICO PIB (Produto Interno Bruto) - valor total de bens e serviços produzidos dentro das fronteiras de um país, independentemente de serem realizados por nacionais ou estrangeiros (pessoas ou empresas). PNB (Produto Nacional Bruto) - valor total de bens e serviços produzidos pelos nacionais (pessoas ou empresas) de um país, dentro do seu país ou no estrangeiro. RNB (Rendimento Nacional Bruto) - corresponde ao valor que fica no país, que se obtém adicionando e/ou subtraindo ao PIB, os rendimentos primários (receitas, impostos, subsídios, rendimentos, ...) recebidos e/ou pagos ao resto do mundo. O consumo de energia reflete a situação económica de um país e o seu nível de industrialização (quanto maior, maior o consumo que pode refletir o nível de conforto e o maior grau de industrialização de um país). Que fatores favorecem o crescimento nos países desenvolvidos? - Riqueza acumulada que é aplicada nos diversos setores económicos, no próprio país e no estrangeiro; - Grande produtividade agrícola e industrial que assegura as exportações; - Grande desenvolvimento do setor dos serviços; - Mercado interno muito desenvolvido, graças às técnicas de marketing e de publicidade; - Investigação científica e desenvolvimento tecnológico, aplicado na melhoria da produção e na qualidade dos produtos; - Recursos humanos com elevado grau de instrução e de qualificação profissional, abertos às inovações. O crescimento económico nem sempre é sinónimo de desenvolvimento. Tem de ser visto como um meio para atingir o desenvolvimento, não um fim em si mesmo. Um 2 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia país rico, em que apenas um pequeno número de pessoas beneficia dessa riqueza e em que a maior parte da população vive com grandes carências ao nível da alimentação, da habitação, da saúde, da educação, do acesso à água potável e ao saneamento básico, ...., não pode ser considerado um país desenvolvido. DESENVOLVIMENTO Desenvolvimento - processo que conduz à melhoria do bem-estar e da qualidade de vida das populações (de todos e não apenas de uma minoria). Quando o crescimento económico se reflete no nível de vida das populações, ultrapassando a sua vertente meramente económica e se estende à esfera social e cultural, melhorando os níveis de educação e formação profissional, assegurando à população cuidados de saúde essenciais e elevando os padrões de habitação, emprego, segurança social, …, então, o crescimento é pleno, podendo ser entendido como um processo de desenvolvimento. Bem-estar - estado resultante da satisfação das necessidades humanas primárias e secundárias. Necessidades humanas primárias - condições que asseguram a sobrevivência do ser humano como a alimentação, habitação, vestuário, saúde, etc. Necessidades humanas secundárias - condições que, não sendo necessárias à sobrevivência humana, contribuem para o bem-estar como o lazer, a cultura, a segurança social, os transportes, eletrodomésticos, telemóvel, etc. Qualidade de vida - estado que resulta da satisfação das necessidades básicas do ser humano, mas que pressupõe, igualmente, a sensação de segurança, de integração social, de liberdade e a qualidade do ambiente. INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO - Indicadores de ordem económica: PIB per capita, RNB per capita, consumo de energia; - Indicadores de ordem demográfica: Taxa de mortalidade infantil, esperança média de vida, ...; - Indicadores de ordem sociocultural: taxa de analfabetismo, taxa de alfabetização, número de habitantes por médico, % de população com acesso a água potável ou ao 3 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia saneamento básico, etc. Taxa de mortalidade infantil - número de óbitos com menos de um ano de idade, por cada mil nascimentos, durante um ano. Esperança média de vida - número de anos que, em média, cada indivíduo tem probabilidade de viver. Taxa de analfabetismo - percentagem de pessoas, com idade superior a 15 anos, que não sabem ler, escrever nem compreender um texto simples. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO - IDH Para se poder avaliar e comparar o desenvolvimento dos países, a ONU, em 1990, criou o ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH). O Índice de Desenvolvimento Humano é um indicador composto, calculado a partir de outros indicadores simples que englobam três dimensões do desenvolvimento humano. DIMENSÕES Uma vida longa e Acesso ao conhecimento saudável Um padrão de vida digno INDICADORES - Esperança média de - Taxa de alfabetização de vida adultos : % da população com - PIB per capita mais de 15 anos que sabe ler e escrever. - Taxa de escolarização bruta (TEB): % de estudantes matriculados nos ensinos básico, secundário e superior em relação à população com idade escolar oficial para os três níveis. 4 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia O IDH varia entre 0 e 1 e é expresso em milésimas. Em 2011, os 187 países analisados foram classificados em quatro grupos, assim distribuídos: - 47 Países de desenvolvimento humano muito elevado - (1ºNoruega; 41º Portugal); - 47 Países de desenvolvimento humano elevado - (74º Ucrânia; 84º Brasil); - 47 Países de desenvolvimento humano médio – (101º China; 134º Índia); - 46 Países de desenvolvimento humano baixo - (148º Angola; 176º Guiné-Bissau; 187º República Popular do Congo). Relação entre IDH e PIB ou RNB De um modo geral o IDH elevado corresponde a países com rendimento elevado e o IDH baixo corresponde a países com rendimento baixo, no entanto, é possível atingir valores elevados de IDH sem elevados rendimentos. Quando a classificação do IDH é melhor que a obtida no PIB ou RNB per capita, isso significa que tem havido a conversão de riqueza em desenvolvimento humano, ou seja, apesar de ter um rendimento baixo, tem-se verificado um esforço na melhoria das condições de acesso da população à saúde e à educação. Quando a classificação de um país no rendimento é melhor do que a obtida no IDH, isso significa que o crescimento económico não tem sido utilizado na melhoria das condições de vida da população relativamente ao acesso da população à saúde e à educação. Críticas ao IDH Como acontece com todos os indicadores, o IDH é uma média que não reflete as desigualdades entre grupos sociais, sexos, etnias e regiões dentro de um mesmo país, … e enfrenta problemas de disponibilidade, atualidade e de fiabilidade dos dados. Também, como é calculado com um reduzido número de indicadores simples, que apenas traduzem a relação entre rendimento, saúde e educação, não inclui outros aspetos importantes do desenvolvimento, como o respeito pelos direitos humanos, a democracia, a segurança, a degradação ambiental ou o esgotamento dos recursos naturais. O VIH/SIDA tem um grande impacte no IDH uma vez que provoca a diminuição da esperança média de vida e, ao gerar um elevado número de órfãos (crianças que ficam desprotegidas e incapazes de frequentar a escola e de adquirirem 5 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia conhecimentos que lhes permitam sair da situação difícil em que se encontram), também faz diminuir os indicadores relativos à educação. Outros Indicadores dos contrastes de Desenvolvimento Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de mortalidade infantil (TMI) A Mortalidade infantil consiste no óbito de crianças durante o seu primeiro ano de vida. A Taxa de Mortalidade Infantil é o número de óbitos de crianças com idades inferior a 1 ano a dividir por 1000 nascimentos. A mortalidade elevada deve-se: Deficiente assistência médica; Baixo nível sanitário; Escassez de alimentos e fome; Catástrofes naturais e epidemias. Nos países em que a taxa de mortalidade é baixa deve-se: Boa assistência médica; Boas condições sanitárias; Boa alimentação; Elevado nível de vida das populações. Distribuição da Taxa de Mortalidade Infantil A Esperança Média de Vida Os valores da esperança média de vida têm vindo a aumentar ao longo do tempo. Esse aumento na duração média da vida das pessoas tem sido mais evidente nos últimos decénios pois, de 1950 até aos nossos dias, a esperança média de vida a nível mundial aumentou cerca de 17 anos. 6 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia Para o aumento daquele valor contribuíram, entre outros fatores: a melhoria da assistência médica, medicamentosa e hospitalar; a melhoria na alimentação; a ampliação de conhecimentos sobre a importância da higiene e das condições sanitárias; a melhoria das condições de trabalho; a melhoria das condições da habitação; o alargamento dos sistemas de protecção social; a elevação do estatuto da mulher, ou seja, a igualdade de direitos. Esperança média de vida - Número médio de anos que, ao nascer, uma criança poderá viver. Contrastes da Esperança Média de Vida a Nível Mundial Apesar da elevação da esperança média de vida, a nível mundial registam-se ainda situações muito diversas. …………………………………………………………………………………………………. OBSTÁCULOS AO DESENVOLVIMENTO 7 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia Estrutura económica A actividade económica de muitos países em desenvolvimento gera receitas escassas, pois centra-se no sector primário (fig. 2), com uma agricultura tradicional de baixo rendimento e, em alguns casos, com plantações dominadas por interesses estrangeiros, cujas receitas não permanecem no país; o sector primário é ainda complementado pela exploração mineira destinada à exportação. Os sectores secundário e terciário têm um peso muito reduzido na economia, evidenciando uma industrialização muito fraca, redes de transporte pouco desenvolvidas e mercado interno pouco significativo (fig. 3). Os serviços, para além de estarem relacionados com actividades de exportação, encontram-se mal organizados. A Dependência Comercial A exportação de um reduzido número de produtos agrícolas (café, cacau, algodão, bananas, chá, etc.) ou da indústria extractiva (petróleo e alguns minérios) origina uma grande dependência do mercado mundial. As trocas são realizadas com um reduzido número de países que impõem os seus preços. Fig. 2 Os produtos tradicionalmente exportados estão sujeitos a uma grande instabilidade de preços nos mercados internacionais, dada a grande concorrência entre países exportadores e as crises de superprodução. Alguns produtos têm sofrido diminuição da procura, devido ao avanço tecnológico (por exemplo, substituição do cobre pelas fibras de vidro, de outros metais pelo plástico, do algodão por fibras sintéticas). A dependência comercial verifica-se, ainda, na degradação dos termos de troca: os países do Sul exportam produtos de menor valor relativo (os produtos primários são mais baratos que os bens manufacturados) e esta desigualdade agrava-se com o tempo. 8 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia De facto, os termos de troca têm sido sucessivamente mais desfavoráveis para os países pobres, uma vez que necessitam de exportar cada vez mais, para adquirir no estrangeiro a mesma quantidade de bens. Assim, ao aumento do volume da produção e das exportações não corresponde um aumento dos rendimentos, o que se reflecte no empobrecimento do nível de vida destas populações. Fig. 3 Obstáculos internos ao desenvolvimento dos países menos avançados A Dependência Financeira O crónico défice das balanças comerciais destes países leva-os a recorrer à ajuda internacional e a empréstimos externos. O valor da dívida junto dos credores tem vindo a agravar-se, aumentando ainda mais o atraso do desenvolvimento económico (fig. 4). Os investimentos estrangeiros nestes países agravam também a dependência. As empresas multinacionais que se instalam nos países menos avançados se, por um lado, criam empregos e transferem tecnologia, por outro, exploram os seus recursos (matérias-primas) e a mão-de-obra abundante e barata. Além disso, a riqueza produzida nestes países é repatriada para os países desenvolvidos onde se localiza a empresa-mãe. Fig. 4 Principais factores da dependência dos países em desenvolvimento 9 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia Principais Factores da Dependência dos Países em Desenvolvimento Débil capacidade de Flutuação dos produção interna preços das Monoprodução matérias-primas e Mono exportação degradação dos Monomercado termos de troca Implantação de empresas multinacionais Crescente endividamento e ajuda extrema pouco eficaz Obstáculos à Aplicação Eficaz das Aulas Externas Externos Internos Os projectos nem A ajuda pode sempre se adaptam contribuir para o às necessidades e aumento da dívida e Má distribuição da características a satisfação de riqueza socioculturais das compromissos com populações países dadores As ajudas são muitas vezes Insuficientes preferenciais montantes da ajuda conforme interesses político económicas Incorrecta definição de prioridades de investimento Regimes políticos ditatoriais Corrupção e má gestão por parte de algumas classes dirigentes O Crescimento Demográfico Os países menos avançados têm outro grande obstáculo ao seu desenvolvimento - o ritmo de crescimento acelerado da população. De facto, mesmo que em alguns países as taxas de crescimento económico sejam substancialmente elevadas, tornase difícil a constituição de excedentes e poupanças, porque o crescimento demográfico é demasiado rápido. Assim, os recursos disponíveis terão de ser repartidos por uma população cada vez mais numerosa, pelo que a parcela desses recursos que cabe a cada indivíduo varia a um ritmo inferior ao do crescimento económico. Se se registar estagnação ou recessão económicas, as consequências para a população destes países são ainda mais gravosas, fi- cando os países mais endividados para fazerem face às respectivas carências produtivas e, por isso, mais dependentes. A Rápida Urbanização Nota-se também, nestes países, uma urbanização acelerada que origina grandes assimetrias regionais e que transforma as capitais em imensas manchas de pobreza e miséria, com piores condições económicas para muitos dos migrantes e provocando uma rápida degradação do ambiente. 10 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia As Desigualdades Sociais Outro tipo de problemas, nomeadamente a nível social, resulta da extrema pobreza em que vive a maio-ria da população, com carências nas necessidades mais básicas, em contraste chocante com uma minoria privilegiada que detém elevados rendimentos, investe o capital no estrangeiro e importa bens de luxo. A insuficiência das estruturas de ensino contribui para uma continuação das enormes desigualdades sociais, impossibilitando que a maioria da população melhore o seu estatuto socioeconómico. Os Regimes Políticos A existência de regimes ditatoriais em muitos países em desenvolvimento tem constituído um obstáculo ao progresso porque, regra geral, esses regimes tendem a beneficiar minorias privilegiadas, com o apoio implícito de potências estrangeiras. Retirado de G 9 - Geografia 9.º Ano, António Duarte, Texto editora 11 Colégio de S. Gonçalo Grupo De Geografia