CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] L.E.R. TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS (DMO) PREFÁCIO Dr. Sergio Nicoletti Os distúrbios músculo-esqueléticos ocupacionais são compostos por uma série de dessaranjos de natureza funcional e, mais raramente, por lesões verdadeiras dos tecidos que compõem as estruturas do sistema músculo-esquelético. Essa afirmação é especialmente correta quando se refere a pessoas com idades abaixo de 40 anos, faixa etária predominante na população mais acometida pelas doenças associadas ao trabalho. Na medida em que examinamos pessoas com idades mais avançadas, começamos a descobrir lesões morfologicamente evidenciáveis pelos métodos clínicos de exame físico e pelos recursos imagenológicos simples como as radiografias e a ultra-sonografia. Tais lesões, no entanto, podem aparecer, e com frequência aparecem, em pessoas que jamais estiveram envolvidas com tarefas organizadas, repetitivas ou estressantes, deixando dúvidas sobre o papel que o trabalho possa ter em sua produção. Evidentemente, enquanto profissionais de saúde, devemos nos preocupar com a população que, vinculada ou não com as empresas por meio de contratos de trabalho, possam ter aumentadas as chances de desenvolver lesões no seu sistema músculoesquelético, em decorrência do seu estilo de vida, quase sempre determinado pelo trabalho. 1 Um ourto aspecto importante acerca do tratamento dos distúrbios músculo-esqueléticos ocupacionais associadas ao trabalho organizado é a necessidade que o médico tem de perceber a força com que os aspectos psico-sociais no trabalho influem na saúde das pessoas. Essa força tem passado desapercebida porque fomos ensinados e estamos sendo obrigados a nos concentrar apenas nos aspectos das doenças das pessoas, quando deveríamos estar preocupados com a sua saúde. Em função do modelo reducionista de saúde, ensinado atualmente nas escolas médicas, a especialização em doenças ou em sistemas ou orgãos é o objetivo da maior parte dos alunos (e ser atendido por um especialista em doenças parece ser a vontade da maior parte dessas pessoas). Isso leva o médico dos nossos dias a se distanciar cada vez mais daquele que deveria ser seu verdadeiro objetivo, qual seja, o de ser um especialista em saúde, entendida no seu sentido mais amplo de bem estar físico, metal e social. A percepção segmentada da doença faz com que o especialista, desatento em relação ao contexto em que adoecemos, perca contato com os fatores que verdadeiramente afetam a saúde das pessoas e por conseguinte, se torne ineficaz no controle das doenças. Essa situação tem sido complicada pela aplicação de novas tecnologias médicas, pela concentração da prática médica em torno do hospital ou de clínicas onde, ao invés do médico ser o agente de promoção de saúde, os equipamentos computadorizados de diagnóstico e tratamento são as estrelas do lugar. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 Custos astronômicos dos serviços (provavelmente com resultados muito aquém do que seria possível obter se utilizassemos com mais propriedade os recursos disponíveis), expectativas irrealistas acerca das possibilidades de cura, desconhecimento dos fatores psico-sociais de produção das doenças e o despreparo dos médicos para entender o papel social que a sua profissão detém no seio de uma sociedade, são as consequências mais visíveis dos inúmeros erros de direcionamento de políticas de saúde que o mundo ocidental vem praticando há muitas décadas. Todas elas, certamente, contribuem para que os distúrbios músculo-esqueléticos ocupacionais sejam a fonte de sofrimento que hoje atinge um contingente enorme da humanidade e o servedouro de recursos que acrescenta uma sobrecarga econômica importante sobre os financiadores dos programas de atendimento médico, sem permitir a acumulação correspondente de renda entre os profissionais de saúde e sem produzir os resultados esperados, em termos de proteção à saúde das pessoas. Apesar da especialização exagerada ser um fator complicador no processo de cura de um doente com DMO, acreditamos que, por si só, ela não é um obstáculo intransponível. Pelo contrário, a especialização em doenças do Aparelho Locomotor - apenas para citar o exemplo que conhecemos de perto por sermos cirurgiões ortopedistas - tem se mostrado muito valiosa na compreensão dos fenômenos físicos que acompanham as doenças ocupacionais e tem nos ajudado a tornar mais eficazes os processos terapêuticos baseados na abordagem holística que estamos empregando. Neste fascículo vamos resumir os principais enfoques terapêuticos empregados atualmente por diferentes profissionais especialistas em Aparelho Locomotor, para o tratamento das DMO. Todos eles, como se verá, consideram muito importante a integração do médico especialista com o médico da empresa, de maneira a promover mudanças nos fatores que, apesar de serem extrínsecos em relação ao paciente, contribuem para que ele fique doente. Incluimos ainda, conceitos acerca da responsabilidade civil do médico, escrito por um advogado, empresário do setor de Administração e Direito em Saúde porque acreditamos que a classe médica está prestes a enfrentar sérios problemas legais, em função da crescente frequência com que pessoas insatisfeitas com os resultados do tratamento que receberam, ou ainda, inconformadas com a empresa que consideram culpada pelo seu sofrimento, resolvem cobrar na justiça compensações financeiras pela sua doença. Só para citar um exemplo, a manutenção de registros adequados dos pacientes é um dos aspectos mais importantes da prática do Médico do Trabalho e do Ortopedista Ocupacional e a não observação dos preceitos corretos de documentação relativa ao estado de saúde dos pacientes e dos procedimentos empregados para tratá-los pode colocar o médico em posição difícil frente a um tribunal. O Dr. Eduardo Farah vai mostrar a importância, dentro da área da Medicina Ocupacional, de se manter um registro adequado de pacientes e de se cultivar boas relações humanas com todos eles. 2 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS DO OMBRO O ENFOQUE DO ORTOPEDISTA OCUPACIONAL Hoje em dia acreditamos que o ombro é um órgão de choque do Sistema Nervoso Central. Algumas pessoas, quando submetidas a situações de estresse emocional, sentem dores nas costas; outras apresentam dores e distúrbios funcionais do sistema digestivo e do sistema cardiovascular, muitas sentem dores nos ombros!!! Todos esses fenômenos, aparentemente tão distintos entre si são, na verdade, expressões físicas de distúrbios muito mais complexos, que tanto podem ter origem no simples excesso de utilização do corpo, causado pelo trabalho sem repouso suficiente, quanto pode ter sido originado em níveis internos e intangíveis do nosso indissolúvel conjunto corpo-mente1,15. Cabe ao profissional de saúde, encarregado da atenção à saúde das pessoas que trabalham, aprender a interpretar os fenômenos físicos e psíquicos presentes, de maneira correta e, dentro de suas limitações, utilizar os seus conhecimentos em benefício dos pacientes. fazendo tricô; pode aparecer em pessoas que, num determinado final de semana passaram horas deitadas em posição inadequada, assistindo televisão ou num mecânico que, apesar de ser dono da oficina e de não ter que se submeter a horas extras impostas pela empresa, ainda assim não observa normas ergonômicas de trabalho: passa dos limites trabalhando, durante horas, em posições desajeitadas, porque tem prazos a cumprir, etc. Mesmo pessoas que não trabalham em condições desfavoráveis podem apresentar síndromes tensionais do pescoço, bastando para tanto que estejam enfrentando crises verdadeiras ou imaginadas que acarretam sobrecargas emocionais importantes. Como o ombro tem estreita relação anatômica e funcional com a região cervical, os estados de tensão do pescoço podem levar ao aparecimento de dor referida ao ombro e mesmo de desequilíbrios funcionais que favoreçam o aparecimento de síndromes do pinçamento subacromial. SÍNDROME TENSIONAL DO O tratamento da Síndrome Tensional PESCOÇO COMO CAUSA DE do Pescoço requer que o Ortopedista DOR NO OMBRO Ocupacional e sua equipe identifiquem Posturas inadequadas, mantidas por muitas horas sem interrupção, como pode ocorrer com profissionais que trabalham em postos ergonomicamente inadequados, como digitadores, trabalhadores de linhas de montagens, caixas de bancos, etc, produzem contratura muscular, dor e impotência funcional dos membros superiores. Esse mesmo quadro, no entanto, pode ser causado por situações que nada têm com o trabalho organizado. Pode acometer donas de casa que passam horas a fio 3 os fatores envolvidos na produção do estado tônico da musculatura cervicotorácica e institua o programa adequado de suporte emocional e de medidas auxiliares de relaxamento, massagens, alongamento e eliminação dos padrões anormais de acomodação fasciomiotendíneos. Para tal fim, podem ser utilizados numerosos recursos como a fisioterapia tradicional, a reeducação postural global, as técnicas de relaxamento com biofeedback, a acupuntura, etc. O aspecto mais importante do trata- mento reside no fato de que, para ter sucesso, o profissional deve compreender a situação e proporcionar ao paciente o apoio que ele(a) necessita para perceber porque está doente, visualizar saidas alternativas e ativamente, participar do processo de cura. PINÇAMENTO SUBACROMIAL PRIMÁRIO Em 1970, Neer associou as tendinites e as roturas do tendão do músculo supra-espinhal com o fenômeno mecânico de atrito do tendão contra o arco coracoacromial8 e afirmou que 95% das lesões desse tendão eram causadas por pinçamento subacromial decorrente, em sua maioria, dos acrômios com esporões 6 ou de acrômios muito curvos . Estão se acumulando evidências de que as lesões do manguito rotador são de natureza multifatorial e que a forma do acrômio não constitui fator importante na produção das dores do ombro10,11,14. Esse conceito é importante na medida em que muitos dos ortopedistas que consideram a curvatura do acrômio importante na gênese das tendinites do ombro, tendem a indicar tratamentos cirúrgicos para retirar a porção anterior mais curva. DIAGNÓSTICO IMAGENOLÓGICO 1. Radiografias simples9 l Normal l Acrômio muito curvo ou com esporão l Irregularidades no tubérculo maior 2. Ultra-sonografia12 l Normal l Espessamento de bolsa subacromial l Rotura de tendão Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA SÍNDROME DO MANGUITO ROTADOR: I. CONTROLE DA DOR 3. Ação sobre os fatores extrínsecos que favorecem as doenças ocupacionais do Aparelho Locomotor presentes na empresa e no domicílio (pausas, rodízios, adequação posto de trabalho, orientação para trabalho doméstico, etc.). Controlar a dor é um dos procedimentos mais importantes no tratamento da Síndrome do Pinçamento Subacromial. É importante que se saiba que, mesmo na presença de roturas completas do tendão do supra-espinhal é possível se obter alívio considerável da dor, através da correção dos fatores de risco extrínseco, de medidas fisioterápicas adequadas, e do controle farmacológico do processo inflamatório associado. Em situações de Pinçamento Subacromial, as medidas de analgesia realizadas com meios físicos como calor (obtidas com os numerosos aparelhos existentes no mercado), frio e estímulos elétricos que interferem com a condução da dor, devem ser encarados como meios auxiliares de tratamento e jamais como os procedimentos principais. O sucesso do tratamento dependerá sempre da compreensão que o terapeuta tenha da fisiopatologia da síndrome e de sua ação efetiva sobre os distúrbios neuromotores associados. Pode-se dizer que os meios de tratamento empregados hoje (calor, frio, ondas elétricas), são os mesmos que tem sido empregados a centenas de anos para tratamento de distúrbios músculo-esqueléticos. O que tem mudado é a nossa compreensão dos mecanismos que desencadeiam as doenças que causam os DMO. Essas mudanças tem permitido utilizar melhor as nossas velhas e eficazes fontes de tratamento. 4. Correção cirúrgica das causas primárias do pinçamento, quando o tratamento clínico não for eficaz e o diagnóstico estiver seguramente estabelecido. Analgésicos antiinflamatórios Os diferentes usos dos medicamentos de controle da dor serão expostos no capítulo de Reumatologia. Cabe salientar aqui a necessidade de se 1. Dor 2. Dificuldade para tarefas acima do ombro 3. Dificuldades para atividades de vida diária (vestir, lavar, passar, dormir do lado afetado) 4. Piora com esforços 5. Piora à noite, com o decúbito 6. Melhora quando o paciente se levanta da cama 7. No início, desaparece com analgésicos antiinflamatórios 8. Manobra do Pinçamento positiva 9. Teste do Supra-espinhal positivo quando houver lesão completa do tendão do supra-espinhal TRATAMENTO DO PINÇAMENTO SUBACROMIAL PRIMÁRIO 1. Controle da dor 2. Ação terapêutica sobre os fatores intrínsecos (próprios do paciente) que favorecem o aparecimento de doenças ocupacionais do Aparelho Locomotor (desequilíbrios musculares, encurtamentos, instabilidade glenoumeral, distúrbios posturais, contraturas musculares, etc.). evitar o uso prolongado de medicamentos que podem trazer distúrbios gástricos e outros efeitos colaterais importantes. As infiltrações com corticosteróides, feitas repetidamente, também devem ser evitadas. Quando o tratamento prolongado for inevitável, é importante utilizar medicamentos que tenham menor poder lesivo contra a mucosa gástrica. Repouso ativo Nas fases iniciais das síndromes de pinçamento subacromial, a simples interrupção da atividade que produz a dor é suficiente para causar alívio dela e dos outros sintomas. Nos estágios mais avançados, mesmo após a interrupção dos movimentos ou da postura estática, a dor tende a persistir. Isso é particularmente comum após períodos prolongados de atividades. O repouso ativo consiste na interrupção das tarefas diárias por períodos frequentes (cinco minutos a cada hora, por exemplo) e a realização de movimentos de alongamentos e posturas de relaxamento. Quando o paciente estiver utilizando aparelhos de imobilização, estes devem ser retirados e a articulação imobilizada deve ser estimulada com massagens suaves, alongamentos, etc. 2. AÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE OS FATORES INTRÍNSECOS Eliminar encurtamentos/recuperar amplitude de movimentos A dor decorrente do pinçamento subacromial tende a fazer com que a pessoa evite elevar o braço e tenda a proteger o membro superior de encontro ao tronco. Isso leva ao aparecimento de atitudes e posturas fixas que comprometem a função do 4 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] ombro. O tratamento dos encurtamentos é feito com exercícios de alongamento, realizados em sessões curtas, ao longo de todo o dia, com a supervisão periódica do terapêuta (2 a 3 vezes por semana) na clínica ou no ambulatório de reabilitação. É preciso atenção para não confundir a limitação de movimentos produzida por encurtamentos (limitação estática) com a limitação decorrente do bloqueio neuromotor de proteção, que se instala em pacientes que tem um ou ambos os ombros instáveis (bloqueio dinâmico da amplitude de movimento). As limitações de movimentos decorrentes dessa segunda situação conferem proteção ao ombro e o terapêuta não deve tentar eliminá-las. Encurtamentos estáticos, por outro lado, devem ser eliminados (fig 1)). Esse fenômeno é facilmente observável na musculatura da coxa de uma pessoa que tenha sofrido uma lesão do joelho. Observa-se a presença de hipotrofia do quadríceps e a dificuldade que o terapêuta encontra para recuperar a função e o trofismo da musculatura, enquanto o processo de reparação da lesão estiver em curso. Nos ombros essa situação ocorre com muita frequência, porém, as mudanças do trofismo e o desequilíbrio funcional não são facilmente observáveis porque os músculos do manguito rotador, os mais frequentemente acometidos, estão situados profundamente. Insistir em ganhar função - principalmente força muscular - em paciente com o ombro doloroso é ineficaz e pode causar sofrimento ao paciente. Excepcionalmente, pode não ser aconselhável eliminar, por algum tempo, os fenômenos de bloqueio antálgico. Na região cervical, por exemplo, o bloqueio antálgico pode manifestar-se por meio de contratura da musculatura paravertebral que protege uma raiz comprimida por uma hérnia de disco. Fig. 1: Encurtamento dos músculos inseridos no processo coracóide (peitoral menor, coracobraquial e cabeça curta do bíceps do braço) podem ser identificados pela elevação do ângulo inferior da escápula. Eliminar bloqueio antálgico Todas as vezes que uma lesão ou um processo doloroso se instala ao redor de uma articulação, o sistema nervoso central instala uma espécie de bloqueio reflexo, cuja função é a proteção da região comprometida. 5 Estimular coordenação dos músculos depressores da cabeça umeral Os músculos do manguito dos rotadores tem como função a depressão da cabeça do úmero, em resposta à força criada pelo músculo deltóde, para elevar o membro superior. Mesmo quando o tendão do músculo supra-espinhal se rompe, os três músculos restantes são capazes de exercer sua função de estabilização da cabeça umeral e o paciente con- segue elevar o braço completamente. No entanto, o pinçamento subacromial produz inflamação crônica da bolsa subacromial e bloqueio antálgico que retroalimenta o distúrbio mecânico do pinçamento. A estimulação dos músculos infraespinhal e redondo menor (rotadores externos, além de depressores da cabeça) e do músculo subscapular (rotador interno, além de depressor) pode ser realizada sem a elevação do braço (fig 2). Fig. 2: O paciente realiza estimulação ativa dos depressores da cabeça umeral, sem elevar o braço. 3. AÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE OS FATORES EXTRÍNSECOS O tratamento eficaz da síndrome do pinçamento subacromial associado às doenças ocupacionais não será eficaz se o médico não puder atender as necessidades de mudanças dos fatores externos de produção da doença. Com frequência, o pinçamento é a consequência natural da fadiga dos músculos do ombro, causada por um posto de trabalho mal projetado ou por um programa de produção inadequado às condições funcionais do trabalhador. Neste caso, o tratamento clínico, por mais correto que seja, não será eficaz na eliminação da dor. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 FATORES EXTRÍNSECOS QUE AFETAM O OMBRO: . Elevação repetida . Objetos fora da área de alcance . Elevação de objetos pesados . Mudança abrupta de rotina de trabalho . Contração estática prolongada (digitadores) Condicionamento tarefa-específico Atividade repetitivas favorecem a instalação de padrões de utilização e adaptação anormais dos diferentes grupos musculares envolvidos nos gestos de trabalho. Por exemplo, um caixa de banco tende a desenvolver força e resistência muscular no deltóide anterior e trapézio superior, contraturas do peitoral menor e fraqueza relativa dos músculos deltóide posterior, infra-espinhal e trapézio médio e inferior. O tratamento eficaz dessa situação requer o reconhecimento dos padrões anormais de adaptação e o trabalho ativo, visando condicionar os diferentes grupos musculares a executar suas tarefas adequadamente. O alongamento das estruturas encurtadas e o fortalecimento dos músculos mais fracos tendem a restabelecer o equilíbrio funcional do ombro. Para os profissionais mencionados, os programas de resistência seletiva da musculatura mais utilizada é importante. 4. TRATAMENTO CIRÚRGICO DA SÍNDROME DO MANGUITO ROTADOR A acromioplastia, procedimento comumente utilizado para tratamento cirúrgico da síndrome do manguito rotador que ocorre em pessoas com idade superior a 40 anos, não tem indicação tão frequente, quando se trata de doente com sintomas desen- volvidos em associação com o trabalho. Nessas pessoas, geralmente mais jovens, a fadiga do tendão ocorre, mais frequentemente, por excesso de utilização, produzida pela exposição intensa a fatores de risco extrínsecos, ou então pela presença de variações morfológicas (fatores de risco intrínsecos ) que tornam os ombros das pessoas suscetíveis aos esforços físicos, mesmo quando sua intensidade e duração não sejam flagradamente exageradas. É por isso que muitos pacientes apresentam distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais e lesões do manguito rotador no ombro e membro superior não dominantes. Por vezes, no entanto, o processo inflamatório localizado no espaço subacromial é tão grande que o tratamento conservador não consegue fazer regredir os sintomas com eficácia. Nessas criscunstâncias, a artroscopia é um recurso importante para, com um mínimo de morbidade. realizar a retirada do tecido inflamado do ombro e, ao mesmo tempo, realizar um inventário preciso das lesões existentes. Em muitos casos, a sinovectomia da bolsa sinovial crônicamente inflamada permite produzir alívio considerável da dor e permite que se inicie, precocemente, o programa de reabilitação correto. Nas raras vezes em que existe diminuição anatômica do espaço subacromial, a espessura (ou a curvatura do acrômio) pode ser diminuída com o auxílio de uma freza artroscópica de osso. Nos pacientes mais idosos, podem estar presentes roturas do manguito rotador, cuja presença pode não estar associada com o trabalho e sim com processos degenerativos ainda não totalmente compreendidos. TENDINITES DO MANGUITO SECUNDÁRIAS À INSTABILIDADE GLENOUMERAL OCULTA Acreditamos que a associação entre instabilidade subclínica e lesão do manguito rotador e/ou pinçamento subacromial possivelmente seja mais frequente do que se imagina, porque: 1. em nossa experiência temos verificado que existe um número considerável de pacientes que apresentam pinçamento e tendinopatia do manguito rotador, sem que seja possível comprovar a existência de estreitamento anatômico do túnel do supra-espinhal10; 2. as variações morfológicas ligamentares encontradas nos ombros de pacientes com dor no ombro e que nunca sofreram traumatismos importantes são muito frequentes10. Dessa maneira, a articulação pode apresentar instabilidade subclínica, ou seja, não tão grande a ponto de produzir sintomas de instabilidade glenoumeral, mas suficiente para produzir tendência para a movimentação anormal da cabeça umeral. Isto leva a sobrecargas nos tendões do manguito rotador que, por sua vez, produzem distúrbios funcionais capazes de acarretar pinçamento subacromial4; e 3. porque muitos dos pacientes com pinçamento subacromial, mesmo no grau III de Neer, melhoram muito com o tratamento conservador, voltado para o fortalecimento dos músculos estabilizadores ativos da articulação glenoumeral. 6 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] No estudo que realizamos em 199210 verificamos que 27 (56,25%) dos pacientes com dor no ombro, o exame artroscópico permitiu detectar a presença de anormalidade do complexo cápsuloligamentar anterior, dos quais destacaram-se as anomalias ligamentares e a presença de um grande recesso anterior, característica que torna a articulação glenoumeral instável2,3,5,7. As variações do ligamento glenoumeral médio, isoladamente, foram muito mais frequentes (17/27), enquanto as anomalias isoladas do ligamento glenoumeral inferior aparecem em (4/27) e ambos os ligamentos apresentavam sinais de insuficiência em (6/27). É interessante ressaltar que os achados relacionados à presença de formas ligamentares do tipo IV descritos por DePalma3, são diferentes dos encontrados em nossa população. TRATAMENTO DO PINÇAMENTO SUBACROMIAL SECUNDÁRIO I. CONTROLE DA DOR Deve ser reallizado seguindo-se os mesmos critérios delineados para as causas primárias. do manguito rotador. Isto acontece porque os grandes recessos articulares, criados pelas variações morfológicas cápsuloligamentares, impedem que a estabilização passiva da cabeça umeral se faça de maneira normal, ocasionando incoordenação e sobrecarga dos músculos rotatores do ombro. O tratamento das causas primárias da instabilidade não pode ser feito conservadoramente. No entanto, muitos dos pacientes com pinçamento subacromial secundário à instabilidade experimentam uma grande melhora com a estimulação da contração coordenada dos músculos depressores da cabeça umeral (subscapular, infra-espinhal e redondo menor) e com o fortalecimento global dos músculos do ombro e da cintura escapular. Os exercícios para estimulação do manguito depressor são feitos com um pedaço de borracha tubular dessas usadas para garrotear o braço, quando se quer injetar medicação endovenosa (fig. 3). Prescrevemos séries com poucas repetições dos movimentos, estimulados pela borracha tubular, que deverão ser realizadas várias vezes ao dia (por exemplo, 8 repetições 2. AÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE OS FATORES INTRÍNSECOS A causa mais comum de pinçamento secundário associada ao trabalho é a instabilidade glenoumeral oculta, na qual as anomalias cápsuloligamentares, apesar de não serem suficientemente intensas para produzir luxação glenoumeral, propiciam o aparecimento de sobrecargas nos tendões 7 cada 2 horas, durante o dia). Ritmo de execução e padrão de movimentos são fatores muito importantes. Com frequência, o terapeuta precisa supervisionar a realização dos exercícios para garantir que sejam executados adequadamente. 3. AÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE OS FATORES EXTRÍNSECOS Movimentos repetitivos que incluam elevação ou manutenção prolongada dos ombros em abdução, precisam ser limitados a um nível compatível com a capacidade funcional das pessoas que operam o posto de trabalho. Frequentemente, bastam adaptações relativamente simples do processo de produção para que este objetivo seja atingido. TENDINITE DA CABEÇA LONGA DO BÍCEPS DO BRAÇO O tendão da cabeça longa do bíceps pode sofrer as consequências dos movimentos repetitivos e das instabilidades glenoumerais e apresentar tendinites ou mesmo roturas. O tratamento, nestes casos, se confunde com os procedimentos utilizados para tratar o pinçamento subacromial e as lesões do manguito rotador. A rotura completa isolada do tendão do bíceps é rara. TENDINITE CALCIFICANTE E DMO Fig. 3: Borracha tubular, encontrada em farmácias ou em casas que comercializam artigos de borracha. A tendinite calcificante é uma doença que atinge, mais comumente, os tendões do manguito dos músculos rotadores do ombro. Sua natureza é desconhecida, existindo algumas Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 teorias - não totalmente comprovadas - para explicar o acúmulo de cristais nos tendões. O foco de calcificação pode comportar-se de maneiras diversas: de maneira que a exploração intra e extra-articular seja a mais completa possível e todos os aspectos conhecidos da patologia do articular sejam avaliados. 1. Produzindo uma sinovite química extremamente intensa, durante a qual o paciente sente dores muito fortes. Esta é uma situação de urgência, que requer a atuação rápida e segura do ortopedista. O tratamento se baseia na injeção de 5 a 8 centímetros cúbicos de Lidocaína a 0,5% associados com uma ampola de corticóide no interior da bolsa subacromial e da administração de analgésicos por via oral. Em pacientes que toleram baixas temperaturas locais, a utilização de bolsa de gelo, sobre a região do deltóide é um complemento terapêutico eficaz. O repouso ativo deve ser instituído, com uso de tipóia ou aparelho imobilisador de lona, que deve ser retirado cada duas horas, durante o dia, para estimulação suave do ombro, dentro dos limites impostos pela dor. Outras medidas auxiliares como estimulação transcutânea podem ser úteis no controle da dor. 3. Assintomática. Por vezes a tendinite calcificante constitui apenas um achado radiográfico. Nesses casos não é necessário qualquer tratamento. 2. Produzindo sinovite crônica, de intensidade média a moderada, que responde aos analgésicos comuns mais recidiva tão logo o controle medicamentoso seja interrompido e piora com cinesioterapia. Nessa situação, se após tentativas suscessivas de tratamento conservador não se conseguir abolir os sintomas, a exerese do foco de calcificação pode ser feita por via artroscópica. Durante a cirurgia é importante que o cirurgião conheça bem os aspectos da patologia artroscópica do ombro13, BURSITE DO OMBRO A bolsa (bursa) subacromial é uma estrutura localizada no espaço subacromial, entre o acrômio e os tendões do manguito rotador. Como todas as bursas, a bolsa subacromial é recoberta por membrana sinovial e pode sofrer processos inflamatórios em várias condições. Em verdade, a bursite do ombro raramente é consequência de doença primária, como artrite reumatóide ou infecção. Na maioria das vezes, a inflamação da bursa é consequência de alguns processo subajacente, como o pinçamento subacromial ou a tendinite calcificante. Esse é o motivo pelo qual o tratamento das bursites e, com muita frequência, ineficaz. Para que a inflamação desapareça é necessário tratar a(s) sua(s) causa(s) e não apenas injetar corticóides ou empregar meios físicos, como o calor ou o frio, no espaço subacromial e na região deltóidea. 8 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO A síndrome do túnel do carpo é a mais comum das neuropatias compressivas do membro superior. Faremos uma abordagem prática do diagnóstico e da conduta para os portadores desta patologia. através do exame das artérias radial e ulnar utilizando o teste de Allen. Examinamos ambos os punhos simultâneamente fazendo compressão com o polegar sobre a entrada do nervo mediano no túnel do carpo. O teste de Phalen com flexão ou extensão de ambos os punhos também é utilizado para provocar dor, semelhante à dor noturna do paciente. exemplo em músculos anômalos, mas são procedimentos de exceção. O ultrason é um exame inespecífico para a síndrome do túnel de carpo, sendo mais indicado para as tenossinovites. QUEIXAS DO PACIENTE DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TRATAMENTO Habitualmente o paciente queixa-se de parestesias e dores imprecisas ao nível do punho e dos dedos que frequentemente se irradia para o antebraço e braço. Como nas demais síndromes compressivas, a dor noturna é a queixa clínica mais comum. A dor mais frequente é a do tipo formigamento e pode ser de intensidade moderada não impedindo o sono do paciente ou bastante intensa a ponto de o paciente acordar à noite por causa da dor. A dor e as parestesias costumam aumentar quando existe maior utilização da mão e do membro superior. A síndrome do túnel do carpo pode ser provocada por um grande número de afecções tais como artrite reumatóide, alterações da tireóide, mieloma múltiplo, diabetes, trauma, alcoolismo, tumores locais, menopausa e também relacionado à gestação. Para o tratamento adequado é necessário sabermos o diagnóstico correto e para tanto devemos procurar excluir cada uma destas situações. Os sinais de compressão do nervo mediano também devem ser procurados proximalmente ao nível do pronador redondo ou do lacertus bicipital. O cuidadoso exame da coluna cervical deve sempre acompanhar o exame do membro superior para procurar compressões neste nível. Em pacientes cujas queixas estão relacionadas com LER, em princípio, o tratamento deve ser conservador. Existe um componente emocional muito grande acompanhando as lesões por esforços repetitivos e a presença de uma cicatriz cirúrgica confirma ao paciente a presença de uma lesão importante, impedindo a sua conscientização dos aspectos psicológicos envolvidos na LER. A partir do diagnóstico de síndrome do túnel de carpo iniciamos o tratamento conservador. O paciente é imobilizado por duas semanas e é feita prescrição de antiinflamatórios. Após este período utiliza-se tala noturma por mais duas semanas. Se não houver melhora pode ser feita infiltração com corticosteróides na bainha dos flexores. Durante este período o paciente é avaliado emocionalmente: se é estável, se quer voltar a trabalhar, se colabora com o tratamento e se não existem maiores litígios entre ele e empresa onde trabalha. Se o médico não está seguro nesta avaliação deve procurar auxílio de outro profissional especializado na área psicológica. Quando as realizamos o tratamento cirúrgico costumamos utilizar incisão cirúrgica na borda da eminência hipotenar na palma da Prof. Dr. Vilnei Mattioli Leite Prof. Dr. Walter Albertoni Prof. Dr. Flávio Faloppa EXAME FÍSICO BURSITE DO OMBRO Em pacientes com compressão crônica do nervo mediano podemos encontrar sinais de paralisia e atrofia da musculatura tenar com impossibilidade do movimento de oponência do polegar. Em pacientes com LER, quando encaminhado mais precocemente, não encontramos nenhuma alteração no volume da região tenar. As queixas são vagas e imprecisas e para o diagnóstico é importante o mapeamento da área sensitiva do nervo mediano. Devemos examinar a integridade dos arcos superficiais e profundo 9 EXAMES COMPLEMENTARES Como rotina devemos fazer um exame radiográfico do punho e da região cervical para excluir patologia óssea. A função da tireóide e o nível de glicemia devem sempre ser avaliados. A eletroneuromiografia é o exame que nos vai dar a localização da lesão. Os cortes de tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem nos ajudar quando houver suspeita de alteração anatômica importante na região como por Apesar dos exames complementares mais sofisticados o diagnóstico continua sendo clínico. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 mão com prolongamento de 2cm para o antebraço. (fig 4). Fig. 4 - Incisão para abertura do túnel do carpo Esta abordagem permite também o acesso ao canal de Guyon por onde passa o nervo ulnar (fig 5). destes tendões. Após fechamento de pele o paciente é imobilizado por duas semanas. Antes de retornar ao trabalho o paciente deve ser seguido pelo terapeuta da mão durante 2 a 3 semanas. Podemos também abrir a retinácula através de endoscopia ou do retinaculótomo de Paine, possibilitando uma abordagem com incisão cirúrgica mínima. Quando estivermos diante de um paciente instável emocionalmente, o mesmo deve ser encaminhado para o tratamento com psiquiatra ou psicólogo preferentemente com experiência em LER. O bom relacionamento médicopaciente e uma empresa que permita o retorno rápido do paciente ao trabalho mesmo em outra função fazem um bom resultado. Quando é indicada a cirurgia em pacientes instáveis os resultados são decepcionantes com qualquer tipo de tratamento. RESULTADOS Fig. 5 - Exposição da artéria e veia ulnar O ligamento transverso é seccionado, o nervo mediano é exposto e examinado (fig 6). Os resultados cirúrgicos são bons quando existe colaboração do paciente, já que a técnica cirúrgica em si é pouco agressiva. Algum grau de dor ao nível da cicatriz pode estar presente por alguns meses, mas a dor noturna praticamente desaparece a partir da segunda semana. Quando encontramos causa de compressão por variação anatômica, como por exemplo músculos anômalos, os resultados são uniformemente bons (fig 7). Fig. 6 - Abertura do canal do carpo com exposição do nervo mediano que apresenta sinais de compressão na entrada do canal. Os tendões flexores também são examinados e feito exame anátomopatológico de fragmento da sinovial. Quando existe sinovite importante pode ser feita também a sinovectomia Fig. 7 - Presença de músculos anômalos dentro do túnel do carpo 10 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS O ENFOQUE DO REUMATOLOGISTA Dr. Milton Helfenstein Dr. Daniel Feldman INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o número de diagnósticos de DMO, por diversos motivos, vem crescendo rapidamente no nosso país. A cura e o retorno ao trabalho dependem sempre de medidas preventivas ou corretivas, no ambiente de trabalho, envolvendo atenção, tanto aos fatores ergonômicos, como aos fatores educacionais do trabalhador ( treinamento, aperfeiçoamento e condicionamento ). É importante salientar que num determinado trabalho, diversos fatores devem ser periodicamente avaliados, particularmente: o design do local, a implementação de estratégias ergonômicas, avaliação dos fatores biomecânicos e antropométricos, a redução da força envolvida, a redução do grau de repetitividade, a eliminação de posturas impróprias. Todos eles visando reduzir a incidência ou o agravamento de uma possível patologia. As tarefas devem respeitar os fatores constitucionais de cada indivíduo: sexo, biotipo, idade, condição física e psicológica. Os equipamentos e os instrumentos devem ser apropriados. Os trabalhadores devem ser devidamente treinados e condicionados antes de efetivarem seus empregos. Existem, por exemplo, programas educacionais sobre padrões e atividades dos membros superiores em operários industriais de risco, que podem trazer benefícios na prevenção, ou pelo menos, na diminuição da 11 incidência de enfermidades1. ESTRESSE POSTURAL Estudos demonstram que a flexão do tronco, inclinações laterais ou rotações da coluna, aumentam o estresse mecânico na musculatura para-vetebral e nos discos intervertebrais24; e a flexão prolongada pode ocasionar níneis importantes de fadiga5. Posturas estáticas e demoradas do tronco, como a inclinação anterior prolongada, pode aumentar o risco de dor lombar6,7. Métodos individuais de trabalho, como por exemplo, técnica para levantar objetos, podem limitar a extensão de inclinações e rotações do tronco e da coluna vertebral durante a execução de tarefas manuais. A avaliação do estresse postural num local de trabalho tem sido de rara ocorrência, principalmente devido ao tempo requerido para a contínua coleta de dados quantitativos posturais. Por este e outros motivos foram desenvolvidos vários sistemas de análise de posturas12,14, entre eles um sistema computadorizado desenvolvido no centro de ergonomia da Universidade de Michigan, que contribui na avaliação dos diversos fatores que interagem nas atividades do trabalho e que causam tal estresse. Esse sistema foi aplicado para estudar operários na linha de montagem de uma indústria automobilística, e os resultados da análise foram utilizados para identificar causas específicas de sobrecarga postural e, consequentemente, desenvolver mudanças nos equipamentos e promover métodos de redução do estresse postural15. REGIÕES MAIS AFETADAS PELOS DMO Geralmente os locais mais afetados são os ombros, os punhos e os dedos, a coluna cervical e lombar. A complexa estrutura do ombro permite que essa articulação, entre todas as outras, exerça a maior amplitude de movimentos. Porém, essa condição de estabilidade deixa-a mais suscetível de vir a sofrer alguma lesão. À medida em que os braços afastam-se do corpo, se acelera a fadiga. Para minimizar a fadiga muscular no trabalho, deve-se evitar a elevação dos braços acima dos ombros; evitar também tarefas com as mãos acima da cabeça; manter os cotovelos próximos ao corpo e dobrados entre 90° e 110°; evitar uso da força por períodos prolongados; aplicar a menor quantidade de força permissível; manter os utensílios sempre ao alcance. Uma inclinação da cabeça com ângulo maior que 30° e por tempo prolongado, pode levar ao desconforto e à dor. Além disso, a flexão ou a extensão exagerada do pescoço tem que ser evitada. Toda a estação de trabalho deve ser projetada para permitir à coluna vertebral uma posição neutra enquanto o indivíduo trabalha. Deve-se manter todos os materiais em frente ao trabalhador numa altura apropriada, se necessário usar cadeiras giratória e com altura ajustável, evitando inclinações e rotações com a coluna, evitando posturas estáticas prolongadas e alternando posturas frequentemente Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 durante o turno de trabalho. Os fatores não-ocupacionais precisam ser também avaliados, especialmente em relação a práticas de ginástica, esporte, atividades manuais, hobbies, lazer, trabalho doméstico, instrumentos musicais, etc. Talvez, em certos casos, esses fatores possam ser contributórios para o quadro clínico. Em suma, vários estágios devem ser seguidos para se reduzir os riscos de acidentes e de patologias associadas ao esforço cumulativo, iniciando-se pela aplicação de um projeto ergonômico, boa seleção, aprendizagem de técnicas e condicionamento, além de respeito aos fatores biomecânicos. Todavia, se um trabalhador apresentar sintoma(s), é extremamente importante que o mesmo noticie sua(s) queixa(s) nos primeiros dias, e esforços devem ser prontamente iniciados para não permitir qualquer progressão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DOS DMO Os DMO envolvem uma constelação de manifestações clínicas, que se estendem desde patologias bem definidas e de, relativamente, fácil diagnóstico, até síndromes dolorosas crônicas de gênese multifactorial, muitas vezes superpostas com aspectos psicológicos importantes e diversos sintomas disfuncionais (parestesias, cefaléia, cansaço, tontura, zumbido, sensação de inchaço, palpitações, constipação, dismenorréia, dificuldade de concentração e de memória, alterações do humor e do comportamento, etc). Portanto, o primeiro passo deve ser dirigido à tentativa de se estabelecer um diagnóstico preciso, e de se identificar e eliminar os fatores causais. Todas as enfermidade classificadas como DMO (LER), têm incidência comum na população em geral e, por esse motivo, em muitas circunstâncias pode ser extremamente difícil considerar um determinado trabalho ou ocupação como o agente causal. Devem ser sempre questionadas as outras possíveis etiologias e os fatores não ocupacionais precisam ser considerados. Se determinada ocupação não for considerada como a causa aparente, deve ser então avaliado se tal ocupação pode estar sendo um fator agravante. Entre as patologias responsáveis pelas queixas localizadas ou regionais, as mais frequentemente diagnosticadas são: 1. as doenças tendíneas inflamatórias e 2. as neurológicas periféricas compressivas, e que afetam principalmente os membros superiores: 1. Tendinite do supra espinhoso e da cabeça longa do bíceps, epicondilites medial e lateral, tenossinovites estenosantes (De Quervain, dedo em gatilho), e as tendinites do punho. 2. Síndrome do desfiladeiro torácico, Síndrome do supinador, Síndrome do pronador redondo, Síndrome do túnel cubital, Síndrome do canal de Guyon e, muito mais comumente, a Síndrome do túnel de carpo. TRATAMENTO DOS DMO O tratamento deve sempre conter a correção dos fatores ergonômicos e dos fatores biomecânicos envolvidos. O repouso do membro afetado deve ser valorizado na fase aguda. O uso de órteses adequadas pode ser necessário nesta fase. A reabilitação deve ser instituida tão rápido quanto permissível, evitando o desuso e a atrofia. Medidas fisioterápicas, entre elas a termoterapia, a eletroterapia e a hidroterapia, podem trazer benefício. A cinesioterapia, envolvendo exercícios isométricos e isotônicos, passivos e ativos, devem fazer parte da abordagem terapêutica, porém nos devidos momentos e com cargas compatíveis. Além de medicamentos analgésicos, antiinflamatórios, e relaxantes musculares de diversas categorias farmacológicas, podemos fazer uso de corticóides sistêmicos ou locais, desde que bem indicados. Raros casos necessitarão de tratamento cirúrgico. Essa opção, deve ficar reservada para casos de rupturas tendíneas ou para casos de síndromes neurológicas compressivas que não responderam ao devido tratamento conservador. Essas patologias regionais quando bem manejadas apresentam, de maneira geral, um prognóstico favorável, com a maioria dos indivíduos apresentando recuperação para o trabalho. No entanto, um grande desafio para o tratamento da chamada LER permanece para os casos 12 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] crônicos e difusos, com dores generalizadas, acompanhadas de diversos sintomas disfuncionais, com uma pobreza de achados físicos e de exames complementares, e que afeta uma grande proporção dos pacientes com este diagnóstico. Muitos desses pacientes preenchem os critérios universalmente aceitos do Colégio Americano de Reumatologia para a Síndrome da Fibromialgia17 e, na verdade, esses pacientes em nada diferem dos pacientes com diagnóstico de Fibromialgia vistos em consultórios ou hospitais18, exceto por estarem fora do cenário ocupacional e não estarem envolvidos em litigação trabalhista19. Outros pacientes, com quadro clínico semelhante, porém com dor regional, podem ser diagnosticados como portadores de síndromes miofasciais. De qualquer forma, independentemente do rótulo diagnóstico, o tratamento é o mesmo. Muitos autores, mesmo não diagnosticando com Síndrome da Fibromialgia, fazem a abordagem terapêutica da considerada LER crônica e difusa de uma maneira multidisciplinar, sempre abarcando, entre outros fatores, os aspectos psicológicos, a qualidade do sono, o condicionamento aeróbico e os exercícios de alongamento20,21. Além de cuidadosa investigação dos fatores ergonômicos e biomecânicos no ambiente de trabalho, é imperativo uma avaliação do traço e estado psicológico do indivíduo, principalmente no que concerne à ansiedade (padrões de tensão, apreensividade, capacidade de relaxamento, 13 perfeicionismo), depressão, somatização, tendência a sentimentos de desânimo e baixa auto-estima22,26. O suporte psicológico é, no mínimo, tão importante quanto o tratamento medicamentoso e fisioterápico. O uso de intervenções cognitivo-comportamentais pode mudar os níveis de frustração, raiva e desamparo que tão comumente afetam esses pacientes. A psicoterapia deve abranger: técnicas de relaxamento (por exemplo biofeedback); aprimoração de habilidades cognitivas para melhor enfrentar a dor, o estresse e as emoções negativas; abordagens de modificações sensoriais (por exemplo hipnose) para ajudar no controle da dor27; instruções para melhorar o nível de comunicação entre supervisores, colegas de trabalho e familiares; treinamento de técnicas que possam ajudar nos problemas emocionais do trabalho e do lar. Com um adequado condicionamento físico reduzem-se as possibilidades de ocorrer fadiga, portanto a boa forma física contribui potencialmente para o retorno ao trabalho e para manter um bom padrão de produtividade. Um regime diário de exercícios deve ser baseado no nível de força, flexibilidade e capacidade aeróbica de cada indivíduo em relação às demandas de seu prévio trabalho ou de uma possível nova função mais factível. O alongamento dos membros e da coluna melhora a flexibilidade, evitar retrações, favorece o relaxamento e a liberação de metabólitos musculares. Para melhorar a qualidade do sono, e proporcionar descanço e recupe- ração de energia, podem ser necessários os psicotrópicos diazepínicos ou os antidepressivos tricíclicos. Geralmente, os mais benéficos são a imipramina e o cloridrato de amitriptilina, porém muitos outros podem ser prescritos. Além do trabalho de condicionamento físico e de cinesioterapia, a fisioterapia pode trazer benefícios através da hidroterapia e da eletroterapia. A infiltração de trigger points e de tender points pode ser efetiva. Deve ser indicada quando: (a) a dor estiver interferindo com funções essenciais, como por exemplo, dormir ou dirigir; (b) ajudar a restabelecer uma completa amplitude de movimentos; (c) eliminar a irradiação de uma dor ativa, como ocorre na infiltração do trigger point na síndrome miofascial28,29. A terapia ocupacional pode trazer modificações ou implementações no trabalho e no lar e oferecer ensinamentos para simplificações de tarefas. A acupuntura pode contribuir no controle da dor, no relaxamento muscular e, consequentemente, na diminuição do consumo de medicamentos e de seus efeitos indesejáveis. Apesar dessa abordagem terapêutica ampla, muitos pacientes permanecem sintomáticos, particularmente aqueles que são deprimidos, que estão insatisfeitos com seu trabalho, que acreditam ter adquirido lesões através das atividades desse trabalho e que estão envolvidos em litígio trabalhista30,31. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 É imperativo que os profissionais envolvidos com estes pacientes reconheçam essas possibilidades e direcionem suas atenções para a eliminação desses fatores, ou então, terão maior incidência de pacientes refratários. CONTROLE MEDICAMENTOSO DA DOR Os principais grupos de medicamentos utilizados no tratamento dos DMO são os seguintes: ANALGÉSICOS O uso de analgésicos não narcóticos (paracetamol, dipirona), está indicado nos pacientes com quadros agudos, relacionados à postura, como torcicolos e lombalgias, mas não tem indicação nos processos que são basicamente inflamatórios, como tendinites e bursites. Quando a sintomatologia dolorosa se prolonga por mais de três meses, estes pacientes se comportam como portadores de Síndromes Dolorosas Crônicas, sejam regionais ou difusas e o uso de analgésicos pode agir sinérgicamente ao de outras drogas, no controle da dor. ANTIFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS Os pacientes que apresentam quadros inflamatórios localizados, especialmente as tendinites dos extensores ou dos flexores do carpo, epicondilites laterais e mediais e a síndrome de impingement do ombro, certamente se beneficiam com o uso destas medicações, em doses plenas e por tempo adequado. Ou seja, os pacientes devem ser tratados farmacologicamente da mesma maneira que são tratados os portadores das mesmas doenças mas que não tem relação com a profissão exercida. Nenhuma preparação parece ser superior a outra, pois o mecanismo de ação é semelhante; quanto aos efeitos colaterais, os antiinflamatórios mais modernos tem um perfil as vezes menos tóxico que os outros mais antigos, e a idiosincrasia do paciente é muito importante. Os antiinflamatórios que agem como bloqueadores específicos da enzima ciclooxigenase-2, ainda não tem tempo de estudo prático para estabelecer o seu verdadeiro perfil terapêutico e tóxico. Uma nota de cautela faz-se imprescindível. Cada vez mais são descritos os efeitos colaterais dos antiinflamatórios, tanto a curto como a longo prazo, por isto, só devem ser utilizados quando houver certeza do diagnóstico e especialmente de que o processo inflamatório está presente. CORTICOESTERÓIDES O uso de corticoesteróides sistêmicos, tanto por via oral como por via parenteral, é bastante controvertido, principalmente devido ao perfil de efeitos colaterais desta drogas. Contudo, quando usados por um período de tempo curto (geralmente inferior a quatro semanas) os efeitos tóxicos podem equivaler-se em severidade e frequência aos causados pelos antiinflamatórios não hormonais, portanto, naqueles pacientes mais sintomáticos, e com processo inflamatório comprovado, eles podem ser úteis. Não há indicação nenhuma para o uso crônico de corticoesteróides nestes pacientes. A injeção local de corticóides (infiltração), é uma medida terapêutica bastante difundida para o tratamento de doenças regionais ou localizadas nas bolsa sinoviais e bainhas tendíneas. Não há na literatura trabalhos demonstrando que esta modalidade é superior ao uso sistêmico destas drogas, especialmente os preparados convencionais de Betametasona ou Dexametasona de depósito, que seguramente são absorvidos pela circulação logo após a injeção local. Já o uso de Hexacetonida de Triancinolona, que não é absorvida, acaba com este problema. Por outro lado não se sabe a sua segurança quanto à integridade de ligamentos e tendões. Se os sintomas não forem localizados, não devemos tentar infiltrar múltiplos locais pois o risco de infectar uma bolsa ou uma articulação fica preocupante ANTIDEPRESSIVOS O controle dos processos dolorosos, especialmente crônicos, dependem da regulação de diversos mecanismos implicados na gênese do distúrbio. Assim, as vias nociceptivas periféricas, os neurônios do corno posterior da medula e os tratos ascendentes, formam um sistema complexo que regula a chegada de informações nociceptivas ao córtex cerebral, com um balanço final de facilitador, As vias descendentes, especialmente as serotonino-dependentes, as noradrenérgicas e dopaminérgicas, formam o sistema inibidor. 14 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] As drogas antidepressivas, especialmente os derivados tricíclicos, agem em diferentes níveis desta complexa malha. Em doses inferiores às necessárias para o tratamento de depressão, os tricíclicos inibem a secreção de Substância-P na medula (principal neurotransmissor facilitador), aumentam a secreção de Serotonina (principal mediador inibidor), além de terem propriedade de analgésicos periféricos e induzirem à uma melhor qualidade do sono, como já mencionado. Mais de 80% dos pacientes com Distúrbios Musculoesqueléticos Ocupacionais, os tem por tempo superior a três meses e todos estes tem o perfil do paciente com dor crônica. Por isto o uso de antidepressivos é fundamental para controle do sintoma doloroso. Eles devem ser usados em doses inferiores às usadas para tratar depressão, a não ser que esta esteja presente no quadro clínico. 15 COMENTÁRIOS FINAIS A prevenção e o tratamento dos DMO são extremamente complexos e difíceis. Torna-se essencial examinar a intencionalidade das suas manifestações dentro do contexto ocupacional. Certamente as crenças e convicções do indivíduo exercem influência em seu restabelecimento. Além disso, é extremamente importante a conscientização do empregador quanto a necessidade do treinamento de seus funcionários para as tarefas que lhes são incumbidas, dando preparo técnico, educação postural, ritmo e velocidade adequados, duração da jornada e dos intervalos de trabalho apropriados, respeito aos fatores ergonômicos e, de suma importância, constituíndo um bom ambiente de trabalho, com reconhecimento aos seus funcionários. Pois, seguramente, o indivíduo que tem preparo e satisfação com o seu trabalho, será mais produtivo, menos sintomático e com esse trabalhador estaremos iniciando a prevenção dos DMO. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 ACUPUNTURA NA LER Dr. Eduardo Francisco de Oliveira e SIlva Dr. Ysao Yamamura ELETROFISIOLOGIA DO PONTO DE ACUPUNTURA Estudos recentes no campo da eletrofisiologia evidenciaram em algumas áreas da pele um aumento de condutibilidade e diminuição da resistência elétrica, características estas coincidentes com a clássica descrição dos pontos de acupuntura. Comprovou-se também que a diferença de potencial elétrico da pele nestes pontos não é constante, variando de acordo com a influência de fatores externos e internos ao corpo humano. Entre estes fatores externos identifica-se temperatura do ambiente, o horário e as estações do ano. Nos fatores internos, evidenciam-se as fadigas, as emoções e as doenças do órgãos internos. Estes estudos coinscidem com fatores etiopatogênicos capazes de promover a doença na Medicina Tradicional Chinesa. ANATOMIA E HISTOLOGIA DOS PONTOS DE ACUPUNTURA Estudos histológicos demonstram uma concentração de terminações nervosas livres e encapsuladas de fibras nervosas, principalmente A-delta e C, de receptores articulares, órgão tendineo de Golgi e fusos musculares, maior nas áreas correspondentes aos pontos de acupuntura. As agulhas de acupuntura provocam nos diferentes receptores nervosos, efeitos múltipos, pois o sistema nervoso é específico em relação à via de condução de estímulos e, em consequência, as respostas também são específicas. O estímulo originado pela agulha de acupuntura pode variar de acordo com a manipulação efetuada na agulha, a intensidade, o movimento giratório no sentido horário ou antihorário, e a frequência. Estes estímulos determinam a liberação de neurotransmissores específicos nas sinápses, excitando-as ou inibindo-as, provocando respostas distintas. Os antigos chinezes preconizavam que para se tonificar um ponto de acupuntura deve-se-ia fazer movimento giratório da agulha no sentido horário ou direcioná-lo obliquamente no sentido da corrente de energia do canal, sendo que para sedar, dever-se-ia proceder de forma inversa. Estas técnicas de manipulação do ponto de acupuntura e as respostas obtidas tem respaldo científico uma vez que na forma de estímulo gerado pela manipulação da agulha poderão ser liberado neurotransmissores específicos, que podem inibir ou excitar as sinapses no nível do sistema nervoso, promovendo respostas específicas. AGULHA DE ACUPUNTURA A agulha de acupuntura é formada por cabo, corpo e ponta: o cabo geralmente é de cobre ou alumínio, e o corpo/ ponta podem ser feitos de prata, ouro ou aço inoxidável, ferro, alumínio ou cobre. A diversidade na constituição metálica do cabo e corpo/ponta da agulha tem finalidade de estabelecer uma diferença de potencial entre os dois extremos da agula, da ordem de 1800 microvolts, elevando-se para níveis em torno de 140000 microvolts quando a agulha é fixada entre os dedos do acupuntor. O potencial elétrico formado na ponta da agulha e a diferença de constituição metálica do cabo e corpo/ponta, depende também dos efeitos de ondas eletromagnéticas do ambiente que agem sobre a agulha de acupuntura, transformando-a numa espécie de antena receptora. As radiações naturais e artificiais existentes na natureza denominadas por Becker (fontes de poluição eletromagnéticas), interagem com efeito antena da agulha de acupuntura, transmitindo-se ao homem. MECANISMO DE AÇÃO DA ACUPUNTURA As fibras A-delta, ou do grupo III, e as fibras C ou do grupo IV são as principais fibras correlacionadas com o estímulo da agulha de acupuntura. Estudos realizados em coelho e gato, nos quais foram feitas anestesias com novocaína nos pontos de acupuntura, demonstraram que as fibras A-delta são dominantes ao mediar a acupuntura, seguidas pelas fibras C e, em menor proporção pelas fibras do grupo II ou A-gama. O estímulo da agulha de acupuntura, alterando o potencial elétrico que age sobre as terminações nervosas livres dos pontos de acupuntura, alterando o potencial da membrana celular, desencadeando o potencial de ação e a condução do estímulo nervoso. Os efeitos de agulha de acupuntura dependem da profundidade de sua inserção, pois os tipos de receptores nervosos são diferentemente distribuídos de acordo com os planos 16 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] da estratigrafia. A inserção superficial atingirá os receptores nervosos associados às fibras A-delta que fazem a medição para as dores agudas e termocepção; a inserção profunda estimulará as fibras nervosas do fuso muscular e as fibras A-delta e C mais profundas e devem ser utilizadas no tratamento das doenças profundas, ou seja, de instalação mais consolidada. A inserção da agulha no ponto de acupuntura provoca algumas reações sensitivas concomitantes conhecidas como sensação de acupuntura ou Te Qi e são: Dor, Queimação, Choque; neurofisiologicamente depende do estímulo dos vários tipos de receptores nervosos e da profundidade da inserção. Os estímulos das fibras superficiais A-delta pode provocar a sensação de dor; das fibras nervosas mais profundas, no nível dos músculos e tendões, sensação de peso; das fibras C, reações autônomas, como formigamento e parestesia. Na inserção das agulhas de acupuntura, 3 efeitos locais dão determinados: a) elétrico b) neuroquímico, por ação mecânica e c) misto. A inserção e manipulação da agulha causam lesões celulares que provocam, no local, o aparecimento de substâncias bioquímicas como a substância P, a transformação do ácido aracdônico em leucotriênos, em tromboxano tipos A2 e B2, e Prostaglandinas PGE2, PGD2. Estas substâncias alógenas estimulam os quimioreceptores e a Substância P, sendo um neurotransmissor, ativa os mastócitos a liberarem histamina estimulando as fibras C e provocando vasodilatação capilar. São liberados ainda no local, a 17 bradicinina, a serotonina, íons K e a Prostaglandina, que estimulam os quimioreceptores, diminuindo o limiar de excitação. O estímulo da agulha chegando ao corno posterior da medula se espraia no trato de Lissauer, promovendo associações segmentares acima e abaixo do nível medular da estimulação primária. No nível da lâminas Hexed ocorrem sinapses com interneurônios intermediadas pela substância P, que foi o primeiro neurotransmissor identificado no SNC pelo mecanismo de ação da acupuntura. SINAPSES DAS FIBRAS NERVOSAS NO CORNO POSTERIOR Através das fibras aferentes somáticas, os estímulos nociceptivos e os estímulos da acupuntura chegam ao corno posterior da medula, estabelecendo sinapses com neurônios motores homolaterais e/ou contralaterais para formar o arco reflexo somato-somático e com os neurônios pré-ganglionares simpáticos para formar o arco reflexo somato visceral. Esta última é uma das vias pela qual os pontos de acupuntura têm ação sobre os órgãos internos. Os neurônios aferentes somáticos também podem fazer sinapse com o trato proprioespinal estabelecendo, no nível medular, associações de segmentos superiores e inferiores, conectando os plexos braquial, lombar e sacral. Ao se estimular os pontos de acupuntura no membro superior ou inferior, o estímulo pode atingir estruturas cuja inervação se relaciona a um plexo diferente. Por outro lado, as fibras aferentes somáticas podem fazer sinapses no nível medular com fibras aferentes viscerais e, em conjunto, a informação que chega por estas vias pode seguir para a formação reticular via trato espinoreticular, indo interagir com a modulação do SNA, ao nível do hipotálamo. Dependendo da maneira como se faz o estímulo, da profundidade, e do ângulo de inserção da agulha, é possível direcionar o estímulo para uma ou outra destas vias nervosas descritas. A Medicina Tradicional Chinesa tem o mérito de haver conseguido identificar onde e como fazer estimulações na parte somática, para obter resultados específicos sobre os órgão internos e as várias estruturas do corpo humano. A analsegia para uma dor muito intensa poderá ser obtida fazendo-se inserção seguida de estímulos fortes, que provavelmente atuarão sobre as fibras A-delta e sobre o trato neoespinotalâmico, produzindo analgesia por liberação de substâncias opióides. VIAS ASCENDENTES E DESCENDENTES DA ACUPUNTURA Os estímulos da acupuntura são conduzidos, em sua maioria, por meio dos tratos espinotalâmicos, e sua ação depende das fibras nervosas estimuladas. As fibras A-delta projetam seus estímulos principalmente pelo trato neoespinotalâmico, fazem a medição da dor aguda, têm velocidade de condução mais rápida e estão, predominantemente, ligadas aos mecanismos de defesa, enquanto que as fibras C, projetam seus estímulos principalmente pelo trato paeloespinotalâmico, con- Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 duzem mais lentamente e estão associadas, entre outras, aos estímulos viscerais. Na projeção dos estímulos da medula até o encéfalo, as vias nervosas fazem conexões com várias partes do SNC, de modo que a ação da acupuntura, por meio destas conexões nervosas, pode estimular estruturas como a formação reticular, a substância cinzenta periaquedutal, o hipotálamo, o sistema límbico e áreas corticais. Portanto, a inserção da agulha na parte somática interage diretamente no nível do SNC, podendo tratar as afecções deste setor, por exemplo: ansiedade, tensão, medo e pânico, que respondem bem ao tratamento pela acupuntura. Han e Xie, em 1987, demonstraram que os melhores resultados da acupuntura sobre o sistema límbico são obtidos com estímulos em uma frequência abaixo de 5 htz, nos pontos de acupuntura relacionados às fibras nervosas do tipo C. Os efeitos analgésicos e anestésicos da acupuntura são, hoje, concebidos a partir de pesquisas científicas, como um processo de excitação que libera endorfinas em respostas a estímulos intensos e vigorosos sobre a agulha nos pontos que agem nos níveis das fibras A-delta, situadas em níveis mais superficiais. Experimentalmente foi determinado que os estímulos em torno de 100 Htz promovem analgesia, enquanto que em torno de 300 Htz promovem anestesia. Isto deve-se ao fato de que estímulos nestas diferentes frequências induzem a liberação de substâncias específicas no nível da substância gelatinosa e no núcleo magno da rafe. As respostas corticais aos estímulos da acupuntura são projetadas principalmente pela via serotoninérgica e encefalinérgica. Esta, na sua porção terminal no nível do corno posterior, libera encefalina excitando o interneurônio inibitório da substância P no nível da lâmina 2 de Hexed, bloqueando a condução do estímulo da dor e promovendo a analgesia ao nível medular. A propedêutica energética compreende a inspeção, o interrogatório, a olfação, o ouvir e o palpar, que constituem as etapas interdependentes para o diagnóstico energético na Acupuntura. Nas alterações estruturais ou orgânicas, os exames complementares são necessários. O efeito analgésico da acupuntura abole também os arcos reflexo patológicos que promovem contraturas musculares causadoras de alterações biodinâmicas intra e extra articulares, que constituem estímulos para um círculo vicioso de perpetuação da dor. Estudos experimentais e dados clínicos obtidos sugerem que a Acupuntura controla a dor em 85% dos paciente, em especial nas afecções miofasciais e osteoligamentares. A dor é a manifestação predominante no paciente portador de LER e pode surgir sempre que o organismo sofrer a agressão dos fatores patogênicos de origem física, química, mecânica ou psíquica. A dor na LER apresenta-se em graus variáveis de intensidade, que dependem de um limiar individual ligado a fatores internos de ordem energética, orgânica ou psíquica. Na concepção energética os fatores físicos, químicos ou mecânicos que agridem o organismo, geram modificações no nível do equilíbrio energético. No nível celular, estes fatores promovem condições que se traduzem por alterações da polaridade positiva ou negativa, dependendo do agente agressor, excitando os receptores da dor, ocasionando dores somáticas. As articulações são também suscetíveis a estes bloqueios energéticos, porque, estruturalmente, ao realizarem os movimentos, provocam o acotovelamento dos canais, o que dificulta o trânsito de sangue e de energia. CONCEITUAÇÃO ENERGÉTICA DA LER A medicina chinesa compreende a LER como um distúrbio funcional da pessoa, com limitação e/ou incapacidade para trabalho, afetando segmentos do corpo, por bloqueio nos canais de energia e colaterais, causados pela penetração de fator patogênico, provocando dor e alterações orgânicas em nervos, tendões, ligamentos, fásciais e músculos. Para processar o diagnóstico, a medicina chinesa busca as manifestações somáticas e psíquicas ocasionadas pelas alterações do Yang e do Yin do órgãos. Neste conceito a propedêutica energética precede a propedêutica funcional e morfológica. FISIOPATOLOGIA DA LER NA MEDICINA CHINESA Conceitualmente, a LER tem origem ocupacional e clinicamente pode ser resultado de: a) uso repetitivo de grupos musculares; b) uso forçado de grupos musculares; c) manutenção de postura inaqueda 18 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] (sec Saúde - resolução SS-107080692). Clinicamente, as estruturas mais afetadas são: articulação do punho (De Quervain, túnel do carpo), cotovelo (epicondilite) e ombro (tendinite do supraespinhoso e cabo longo do bíceps braquial). No ambulatório de Acupuntura da UNIFESP, temos observado ser o fator emocional o principal agente patogênico. Vale ressaltar que o estresse a que se submetem este pacientes no ambiente de trabalho, associado aos demais fatores, ergonômicos e físicos, provocam distúrbios de ordem psíquica e somática, e devem ser valorizados pelo terapeuta, que deverá tratar o indivíduo como um todo, tanto o físico como o psíquico. TRATAMENTO COM ACUPUNTURA Antes de se iniciar o tratamento, deve-se averiguar rigorosamente as causas e as manifestações clínicas da LER. Na propedêutica energética da medicina tradicional chinesa, estabelece-se o diagnóstico energético da LER. Em todos os casos valorizamos o aspecto psíquico e as manifestações somáticas do paciente, e iniciamos o 19 tratamento harmonizando o psiquismo através de pontos de acupuntura específicos, por exemplo: VG20 (Baihui), Yintang, VC17 (Shanzhong), C& (Shenmen). Além do mental já citado, utilizamos os pontos locais dolorosos (ASHI points), os pontos SHU antigos e os pontos correspondentes aos 5 movimentos visando restabelecer o livre fluxo de energia dos canais afetados, e finalmente aplicamos os pontos de união alto/baixo IG4 (Hegu), F3 (Taichong). Os casos crônicos com mais de 6 meses de doença, que já apresentam alterações estruturais nas bainhas dos tendões, tendões ou sinóvias, também são tratáveis pela Acupuntura, com resultados eficazes. CONCLUSÕES As considerações propostas neste artigo sobre patologia tão complexa e com fisiopatologia ainda desconhecida na medicina ocidental, procuram relacionar a neurofisiologia e a neuroanatomia com o mecanismo de ação da acupuntura no tratamento da LER. Estudos clínicos atuais e reais já comprovam a eficácia dos mecanismos fisiológicos que implicam na ativação do sistema supressor da dor na ação da Acupuntura. Na UNIFESP, no setor de acupuntura, o tratamento da LER tem um enfoque médico multidisciplinar, sendo os resultados obtidos bastante satisfatórios. Em todos os casos, além do tratamento específico para o bloqueio energético nos Canais de Energia, avaliamos o pulso e harmonizamos os orgãos internos, segundo a concepção da Medicina Tradicional Chinesa. Dr. Cheng, em 1990, publicou um trabalho sobre LER, onde estudou 36 pacientes com LER, obtendo-se em 24 (82%) alívio completo da dor, com follow-up de 2 anos e meio até 8 anos após o término do tratamento por acupuntura. Este estudo incluiu também pacientes que tinham se submetido a cirurgias, mas que ainda tinham dor. O tratamento foi realizado pela estimulação manual ou elétrica em dois pontos de acupuntura CS-7 (Shenmen) e CS-6 (Neiguan). Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 A REABILITAÇÃO DO PACIENTE PORTADOR DE DMO O ENFOQUE DO TERAPEUTA OCUPACIONAL Ter.Ocup. Maria e Jaqueline É quase impossível falar em reabilitação do paciente portador de DMO considerando-se o alívio somente dos sinais clínicos de dor e inflamação, sem estender o conceito de reabilitação, incluindo o retorno efetivo ao trabalho, seja ele na mesma função ou através da reorientação vocacional. Para isto, poderíamos pensar em centros especializados de tratamento para esta população atingida pelos DMO, com profissionais especificamente voltados para este problema e incluir drasticamente o recondicionamento do trabalho como parte efetiva do processo de tratamento. O terapeuta está em uma posição que lhe permite um estreito relacionamento com o paciente, por seu contato diário com o mesmo e por possuir um arsenal para a avaliação do status de trabalho e das condições físicas do paciente, através de métodos mensuráveis. O diagnóstico não é da competência do Terapeuta, mas os dados de sua avaliação, bem como os dados de evolução, podem guiar o Ortopedista Ocupacional no completo e fiel diagnóstico que pode ser diferente do inicial. Os DMO tem sido a grande causa de afastamentos do trabalho em diferentes industrias. Para reduzir os DMO relacionados com o trabalho , é crucial identificar os problemas relacionados com as tarefas específicas do trabalhador e suas características individuais4. O terapeuta deve proceder a uma avaliação inicial que determinará os objetivos de tratamento e os objetivos finais de retorno ao trabalho, às atividades de vida diária e de vida prática para cada paciente individualmente. para pesquisa de inchaço, pontos gatilhos e limitação passiva do movimento deve ser realizada. O diagnóstico preciso é de suma importância porque cada patologia tem causas, tratamentos e prognósticos diferentes12. Cada tipo de patologia tem suas próprias características na abordagem terapêutica como, por exemplo, na Síndrome do desfiladeiro torácico, cujo tratamento é correção postural, redução de atividades acima do nível da cabeça, modificações ergonômicas no campo de trabalho, alongamento de musculatura do tronco superior e relaxamento de pontos de gatilho da dor. Questionário onde o próprio paciente discrimina e analisa os movimentos realizados durante sua atividade no trabalho, no uso de ferramental e suas posturas são de grande valia para orientar o terapeuta no programa de tratamento e educação do paciente e detecção dos fatores causais dos DMO. O tratamento da tendinite no antebraço, por outro lado, além dos cuidados com os fatores de risco extrínseco, pode necessitar de imobilização com órteses ou aparelhos gessados, alongamentos, crioterapia e repouso. A avaliação deve conter dados da história da doença, dados subjetivos, tais como, status da dor (utilizando a escala visual análoga), status de vida diária e sintomas correntes, bem como dados objetivos e mensuráveis para reavaliações futuras e verificação da evolução e eficácia do tratamento: amplitude de movimento, força muscular (dinamometria e força de pinch) utilizando aparelhos especificamente criados para este fim e com validação científica, volumétrica, para avaliação e controle de edema, análise da postura e simulação do trabalho, testes provocativos e de estresse e avaliação da sensibilidade valendo-se de testes aprovados e com validade científica. A palpação de tendões e músculos O tratamento deve ser dividido em etapas de acordo com o grau de lesão, intensidade dos sintomas e grau de tolerância do paciente. As etapas serão modificadas de acordo com a regressão dos sinais inflamatórios e melhora da força e endurance do paciente, culminando com o restabelecimento da função e retorno ao trabalho. Ênfase deve ser dada no sentido de educar o paciente quanto ao emprego de técnicas de relaxamento e à utilização de gelo, alongamentos e períodos de repouso durante o trabalho, tudo isso visando que o próprio indivíduo aprenda a controlar seus sintomas e favoreça as mudanças de estilo de vida que propiciarão sua cura. Sabe-se que o deficit de oxigenação dos tecidos está relacionado com a fisiopatologia dos DMO. Portanto, orientações quanto à restrição ao uso de álcool, tabagismo e início de um programa de exercícios aeróbicos para melhora geral do sistema cardiorespiratório não podem ser negligenciados na orientação e educação do indivíduo portador de DMO. Evidentemente, um programa de tratamento com essas características 20 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] deve ser elaborado considerando as limitações próprias de cada indivíduo. Assim, uma caminhada de 20 minutos diários, em um local apropriado, pode ser suficiente para, em conjunto com a implementação de medidas de restrição ao fumo e ao álcool, produzir ganhos consideráveis em saúde e bem estar físico. RELAÇÃO ENTRE PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO E TRATAMENTO DOS DMO A compreensão dos princípios de cicatrização são importantes no tratamento dos distúrbios musculoesqueléticos ocupacionais. Esforços repetidos podem resultar em lesões musculares microscópicas, lesões de tecidos moles, ou irritação do deslizamento de estruturas, a qual produz resposta inflamatória localizada. Quanto mais agressivo e duradouro é o mecanismo desencadeante, maior a chance de cronificar o processo inflamatório e resultar em formação de cicatrizes9. Portanto, devemos aplicar os conceitos de cicatrização ainda que as feridas e cicatrizes não sejam visíveis. O tratamento pode ser dividido em dois estágios distintos, que dependerão de remissão de sintomas e da tolerância do paciente para sua progressão. ESTÁGIO I DO TRATAMENTO DOS DMO O paciente será considerado no estágio I de tratamento na fase inflamatória aguda onde o objetivo principal é o controle da dor, regressão do edema e manutenção de movimentos ativos. Nesta fase, o tratamento é similar para as tendinites e tenossinovites, síndromes nervosas compressivas e 21 dor miofascial. É importante avaliar a necessidade de afastamento ou não do trabalho. O ideal é que o paciente continue com sua atividade produtiva tanto quanto possível, valendo-se das modificações necessárias no ambiente e nas posturas de trabalho, pausas mais prolongadas, uso de órteses, etc. Ocasionalmente, um período curto de afastamento pode ser necessário, mas isto dependerá, é claro, do estágio da doença. tantemente monitorado para a reagudização dos sintomas e modificação da fase de tratamento. Se o tratamento progride muito rápido, isto somente exarcebará os sintomas e prolongará o tempo de tratamento. ATIVIDADES DOMÉSTICAS QUE DEVEM SER REALIZADAS COM PRECAUÇÃO14 Esfregar roupas roupas l Colocar roupas no varal l Carregar sacolas l Sovar massa de pão l Lustrar móveis l Segurar panelas quentes e cheias pelo cabo l Passar rodo e vassoura no chão l Andar de ônibus segurando na alça superior l Carregar criança no colo l Lavar panelas l l Torcer Quando estão afetados a mão e o punho, as órteses termoplásticas sob medida estão indicadas para prover o repouso das estruturas acometidas. O material de que são confeccionadas pode variar, de acordo com sua rigidez, em rígido ou semi-flexíveis. O gelo deve ser utilizado várias vezes ao dia em forma de compressas, bolsas de gelo, banhos de imersão numa mistura de água e álcool ou massagem com gelo. Outras modalidades também utilizadas nesta fase são o TENS para controle da dor, ultrassom, massagem suave para drenagem linfática e relaxamento. Exercícios ativos leves para amplitudes de movimento e alongamentos suaves, dentro da tolerância do paciente, podem ser iniciados também nesta fase. ESTÁGIO II DO TRATAMENTO DOS DMO O paciente progride para o estágio II quando a fase inflamatória está sob controle. Nesta fase serão enfocados o reforço muscular, a recuperação das amplitudes articulares e o condicionamento para o retorno ao trabalho. O paciente deve ser cons- Outras atividades Tricô Crochê l Jogo de baralho l Jogo de vídeo-games l Manuseio de crianças pequenas l Pintura de detalhes l Escrita por tempo prolongado e mal posicionado l l Em geral, todas as atividades que se caracterizem por repetição, manutenção de uma mesma postura e sobrecarga de um determinado grupo muscular devem ser evitadas. Evite o uso excessivo de álcool e cigarros. Faça exercícios regulares que melhorem suas condições cardiorespiratórias. Alongue-se. Faça relaxamentos. Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 alongamento da cápsula articular. - exercícios de flexo-extensão dos dedos com o punho em posição neutra para manter o deslizamento dos tendões na Síndrome do Túnel do Carpo (STC). CUIDADOS E PROCEDIMENTOS PARA SEU PACIENTE PORTADOR DE DMO ESTÁGIO I DO TRATAMENTO O uso da órtese auxilia no alívio dos sintomas inflamatórios agudos e da dor, como por exemplo, nas parestesias e dor noturna na Síndrome do Túnel do Carpo, nas tenossinovites de DeQuervain e nas epicondilites laterais do cotovelo. l Retirar a órtese para aplicação de gelo e exercícios ativos suaves que promovem o deslizamentos dos tendões e das estruturas envolvidas mantendo a mobilidade articular e elasticidade dos tecidos, 3 a 4 vezes ao dia. Supervisione o seu uso e indicação. Jamais indique uma órtese e perca o paciente de vista. l l A retirada da órtese deve ser graduada de acordo com a remissão dos sintomas agudos iniciais. Nos casos severos, o uso de órtese de uso noturno pode, por exemplo, evitar a flexão exagerada do punho durante o sono agravando os sintomas da STC ou ainda o tennis elbow strap auxilia na contenção da expansão do ventre do músculo extenso comum dos dedos nas epicondilites laterais de cotovelo. Oriente exercícios de alongamento suaves e dentro da tolerância de dor do paciente. -músculo extensor de punho nas epicondilites laterais - músculos rotadores externos e cápsula posterior do ombro. - exercícios pendulares para o ombro visando relaxamento muscular e l l A Aplicação de gelo por 10 a 15 minutos, tomando os devidos cuidados de proteger a pele contra queimaduras por frio, é um ótimo antiinflamatório na fase aguda, salvo naqueles pacientes que apresentam reações adversas ao frio e referem aumento dos sintomas. Promove analgesia e auxilia na regressão do edema. Todos os exercícios devem ser prescritos e, conjuntamente, orientase o paciente a reconhecer em si mesmo a sua limitação de dor e resitência para os mesmos. Os exercícios não devem nunca ocasionar piora dos sintomas e dor. Quando isto acontece é porque a série de repetições ou a carga dos exercícios excederam a capacidade tênsil que a unidade musculotendínea é capaz de suportar6. Portanto, diminua a carga, as repetições ou ponha seu paciente de repouso. l l Como regra geral, os exercícios devem ser realizados em várias sessões distribuidas ao longo do dia, respeitando-se os limites individuais de cada paciente. O número de repetições será sempre pequeno, não ultrapassando 10 movimentos a cada vez. Oriente seu paciente a reconhecer e tratar os sinais de recidiva dos sintomas inflamatórios usando gelo e repouso da região afetada. l l Massagem retrograda (iniciando-se de proximal para distal, para utilizar primeiro os vasos de maior calibre) é indicada para drenagem do edema. l Utilizar calor superficial e algum tipo de atividade aeróbica, como caminhar ou andar de bicicleta, e alongamentos como aquecimento prévio aos exercícios, são primordiais no estágio II de fortalecimento e aumento da resistência muscular, quando se visa, nesta fase do tratamento o retorno ao trabalho. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO Uma avaliação subjetiva e objetiva dos componentes desta síndrome deve ser realizada para estabelecimento do programa de tratamento e comparação dos dados de evolução. Na avaliação subjetiva observa-se a duração, localização e causa da dor. Trabalho e atividades correlacionadas com o agravamento dos sintomas são relacionadas para modificações específicas nos hábitos do paciente. Avaliação objetiva verificando ADMs, edema, força de preensão e pinça e alterações sensitivas no território inervado pelo nervo mediano são tomadas. Se as ADMs ativas estão diminuídas, o paciente deve ser cuidadosamente avaliado em relação ao encurtamento dos tendões flexores decorrentes de tenossinovites crônicas que frequentemente estão associadas a STC. Se a compressão está em estágio avançado, uma atrofia da musculatura tenar pode estar presente. Testes provocativos como sinal de Tinel e Phalen devem ser pesquisados; avaliação de alterações sensitivas utilizando-se os monofilamentos de Semmes-Weinstein provaram ser mais CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] fiéis para síndromes compressivas que os teste Weber de discriminaçao de dois pontos7,3. Como o nervo mediano é predominantemente responsável pela inervação dos dedos utilizados para a preensão de pequenos objetos, a habilidade manipulativa do paciente pode ser avaliada através do Moberg pick-up test. TRATAMENTO CONSERVADOR Está indicado para aqueles pacientes com queixas sensoriais subjetivas; atrofia e fraqueza da musculatura tenar; que indicam lesões mais destrutivas e procedimento cirúrgicos de descomprensão do nervo. Na terapia serão tratados os sinais inflamatórios, analgesia da dor, controle de edema, se presente, através de massagem retrógrada, banhos de contraste; exercícios suaves, de acordo com a tolerância do paciente, para deslizamentos dos tendões flexores dentro do túnel carpiano. Órteses com punho em posição neutra ou discreta extensão podem ser bastante úteis para alívio dos sintomas noturnos de dor e parestesia devido ao aumento de pressão dentro do túnel, pela flexão involuntária do punho durante o sono. O uso da órtese é gradualmente interrompido, a medida que os sinais inflamatórios regridem. Utilizamos o calor, precedido dos exercícios para alongamento e deslizamento dos tendões flexores. O paciente é instruído a evitar atividades que exijam flexo-extensão de punho e desvio ulnar combinados com preensão de objetos e pinça, pois estes são os movimentos mais agravantes dos sintomas da STC. Atividades tais como as que utilizam 23 martelo, serrote, abrir válvulas ou maçanetas de porta, devem ser evitadas ou adaptações ergonômicas devem ser feitas no sentido de minimizar o problema. O paciente é também instruído a monitorar seus sinais inflamatórios, tais como, edema e aumento de temperatura, que devem ser tratados com gelo e repouso. A fase II começa com a introdução gradual de atividades para aumento da força muscular. Os exercícios de fortalecimento devem ser precedidos de aquecimento da musculatura com movimentos ativos do polegar, dedos e punho. Exercícios aeróbicos estão também indicados. Atividades que melhoram a resistência e coordenação devem ser realizadas visando o retorno ao trabalho. TRATAMENTO CIRÚRGICO Pacientes que, apesar de não apresentarem doenças concomitantes que favoreçam a compressão carpiana e que não respondem ao tratamento conservador, mesmo quando tiverem sido realizadas mudanças ergonômicas em seus postos e na organização de seu trabalho, de maneira a eliminar os fatores de risco extrínsecos de produção dos DMO, são candidatos a liberação do ligamento transverso do carpo. A cirurgia visa aumentar o volume do túnel carpiano e liberar o nervo (neurólise) quando necessário. O paciente é encaminhado à terapia uma semana após a cirurgia, para controle de edema, dor, deslizamento tendões flexores, para evitar aderências cicatricias em torno do nervo mediano, etc. Flexão de punho deve ser evitada até o décimo dia após a operação. Massagem da cicatriz deve ser iniciada após a retirada dos pontos para auxiliar na reorganização das pontes de colágeno. Procedimentos de desensibilização devem ser prescritos se o paciente referir hipersensibilidade na região. Os mesmos critérios aplicados na fase conservadora são seguidos para progredir para a fase de fortalecimento muscular (em torno da 4ª semana pós-operatória) e retorno ao trabalho. Nesta fase, grande ênfase deve ser dada a completa recuperação das ADMs de punho e dedos, desensibilização da cicatriz, adequar força, coordenação e resistência, pois mesmo o paciente com severa neuropatia pode retornar a uma vida produtiva. EPICONDILITE LATERAL TENNIS ELBOW Proceder a avaliação do paciente verificando pontos dolorosos e sua localização, ADMs, presença de inchaço, circumetria ao nível da prega do cotovelo (acima e abaixo). Problemas associados, como neuropraxia do nervo ulnar, síndrome compressiva do interósseo posterior e anormalidades intra-articulares podem estar presentes. TRATAMENTO CONSERVADOR Na fase inicial aguda pode-se usar a imobilização com aparelho gessado ou órtese para evitar flexão do punho, reduzindo-se assim a tensão do músculo extensor comum dos dedos, produzida pela contração excêntrica da musculatura. Um contensor no nível do cotovelo ( tennis elbow strap) pode também ser utilizado durante as atividades de vida diária, Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 visando deprimir a expansão máxima do músculo extensor comum dos dedos durante a contração concêntrica10. Neste estágio se combate a inflamação e dor com gelo e ultrasom galvânica ao invés de ultrasom nos pacientes com epicondilite lateral. Ele recomenda 4 a 6 sessões por 2 a 3 semanas, período para diminuir a dor, inflamação e promover a cicatrização. Após a aplicação das modalidades, massagem de fricção transversa na região do extensor comum dos dedos auxilia na redução de formação de aderências e reorganização do tecido colágeno. Pode-se aplicar gelo antes da massagem, com objetivo de anestesiar a área. Exercícios suaves de alongamento estão indicados. No estágio II, quando os sinais inflamatórios regridem, inicia-se o fortalecimento da musculatura, a resistência e o condicionamento. Exercícios para fortalecer isoladamente o músculo extensor comum dos dedos não são necessários, pois o foco desta fase é a melhora global da musculatura do membro superior, evitando-se, assim, recidivas de lesões. Os exercícios excêntricos de fortalecimento da musculatura de antebraço são realizados e os de contração concêntrica somente quando o paciente não tem mais a queixa de dor excessiva. Stanish previne que exercícios com dor implicam que a força tênsil do tecido não é ainda suficiente e aconselha que exercícios que demandem stress na unidade músculotendínea devam ser realizados com cuidado6. Os exercícios ativos são realizados 2 a 3 vezes ao dia. Quando a dor está ausente adiciona-se resistência gradual aos exercícios. O paciente é educado quanto a modificações nos hábitos de trabalho, como levantar objetos com antebraço em posição neutra; modificações ergonômicas em ferramentas de trabalho como martelo são necessárias para se diminuir a alavanca, força e torque. REABILITAÇÃO APÓS TRATAMENTO CIRÚRGICO Pacientes que não respondem ao tratamento conservador podem necessitar de cirurgia para reparação de tendão extensor comum, liberação de cicatrizes ou de ligamentos. O paciente é encaminhado à terapia após o período de imobilização da cirurgia, que varia de acordo com a técnica utilizada. Avaliação e medidas são realizadas para se estabelecer o programa que, nesta fase inicial pósoperatória, se iniciará no estágio I de combate aos sinais de inflamação e controle de edema e cicatriz. Durante 6 semanas evita-se exercícios resistidos para previnir novas lesões nas estruturas reparadas. Em torno da 8ª semana, quando as estruturas estão devidamente cicatrizadas, medidas de força de preensão utilizando-se o dinamômetro JAMAR podem ser realizadas para estabelecer o valor de base da força e acompanhar seu progresso. O estágio II é controlado de maneira semelhante ao tratamento conservador. TENOSSINOVITE DE DEQUERVAIN Na tenossinovite de DeQuervain os tendões dos músculos abdutor longo do polegar e do extensor curto do polegar se inflamam devido ao atrito ou a movimentos repetitivos dos mesmos, que excedem a capacidade dos tendões de deslizar dentro da bainha comum, dentro do 1º compartimento dorsal. Dor sobre o processo estilóde do rádio e inchaço são sintomas presentes nesta região. Os sintomas podem ser induzidos por atividades laborativas que exijam movimentos repetidos de pinça com desvio ulnar do punho como, por exemplo, na montagem de componentes eletrônicos. A avaliação deve pesquisar dor, edema, inchaço, ADMs do polegar e demais dedos com comparação à mão contralateral. As medidas de força são prorrogadas até que a dor regrida. O teste de Filkelstein é realizado e a dor ao nível do estilóide radial é referida na resposta positiva ao teste adução do polegar a palma e desvio ulnar do punho. TRATAMENTO CONSERVADOR Nos estágios iniciais da fase aguda, o foco da terapia é a redução de dor e inflamação e o polegar é imobilizado numa órtese tipo spica incluindo a imobilização do punho. Fortalecimento e aumento da ADMs só serão enfocados na terapia quando os objetivos citados acima não forem alcançados. O punho é imobilizado em 15 graus de extensão e o polegar em adução palmar com a MF fixa em 10 graus de flexão. Se manobras de flexão e extensão resistida da IF apresentarem dor, imobilizar a IF também. Inicialmente a órtese é usada dia e noite e retirada somente para higiene e aplicação de gelo por CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] 10 minutos, 3 vezes ao dia, quando a órtese é retirada para exercícios ativos suaves de polegar e punho, que devem evitar amplitudes extremas e nunca causa dor. Se os exercícios ativos suaves causarem dor, imobilização completa é recomendada. Se, ao contrário, a dor e inflamação regridem, procede-se a retirada gradual da órtese e progressão dos exercícios. Atividades suaves de preensão, tais como macramê, com o membro em elevação, trabalham a preensão e auxiliam na regressão do edema. Atividades neste estágio devem visar abdução e flexão do polegar com níveis baixos de resistência. Quando a fase inicial está sob controle, inicia-se o II estágio de fortalecimento da força de preensão e pinça, retirada completa da órtese e treino da resistência para retorno ao trabalho. Para evitar a recorrência dos sintomas, são implementadas adaptações ergonômicas de ferramentas, visando, por exemplo, limitar o desvio ulnar do punho. O rodízio de função, visando diminuir o tempo de execução dos movimentos repetidos de pinça, aumenta a eficácia do tratamento. REABILITAÇÃO PÓS TRATAMENTO CIRÚRGICO Cirurgicas para abertura do 1º compartimento e liberação dos tendões envolvidos e das aderências são por vezes necessárias. No pós-operatório faz-se a inspeção das condições da cicatriz, avaliação das ADMs e presença de edema. Na primeira fase do pós-operatório, o controle do edema, maximixar as ADMs e previnir aderências dos 25 tecidos cicatriciais através de massagens de retrógrada e de deslizamento são os objetivos iniciais. Paciente é servido de uma órtese do mesmo tipo do tratamento conservador e os mesmos critérios para seu uso e retirada são observados. A aplicação de gelo e/ou TENS está indicada para pacientes que referem dor severa. Exercícios para promover deslizamentos dos tendões envolvidos bem como de todos os dedos são orientados com o objetivo de prevenir aderências. Hipersensibilidade da cicatriz pode estar presente devido à irritação do ramo sensitivo do nervo radial e deve ser devidamente tratada com as técnicas de desensibilização. O paciente é encorajado a usar a mão em atividades leves de preensão de objetos pequenos tais como dobradura de papel. O estágio II de fortalecimento e retorno ao trabalho é o mesmo da fase de tratamento conservador. INDICAÇÃO, USO E CONFECÇÃO DE ÓRTESES Podemos definir órtese como um dispositivo exo-esquelético que, aplicado a um ou vários segmentos do corpo, tem a finalidade de proporcionar o melhor alinhamento possível, buscando sempre a posição funcional. Adequar a órtese a uma determinada parte do corpo auxilia na redução da fadiga, facilita a recuperação do complexo musculotendíneo e das articulações afetadas, proporcionalmente melhora da função remanescente. As órteses são normamente confeccionadas em materiais termomoldá- veis, leves e de fácil modelagem. O terapeuta ocupacional, pode e deve avaliar, indicar, confeccionar e orientar o uso destes dispositivos. O mercado atual oferece uma gama enorme de opções de materiais para a confecção de órteses. É imperativo o conhecimento, por parte do terapeuta, de anatomia, biomecânica e princípios de física para a aplicação das linhas de força, de tração e torque para a confecção e indicação correta de uma órtese, não transformando este valioso dispositivo em um arsenal perigoso. Não basta ter o aparelho, é imprescindível a orientação e supervisão terapêutica do uso, evitando-se assim complicações iatrogênicas. O tempo e a forma de utilização da órtese são primordiais para o tratamento. Qualquer que seja a órtese indicada é fundamental que esta não permaneça na região por período indefinido, pois um revezamento entre o posicionamento e repouso proporcionados pela órtese e exercícios de movimentação ativa são necessários para a manutenção da mobilidade articular e deslizamento dos tendões. Devemos tomar cuidado com o ajuste correto da órtese ao segmento corporal a ser imobilizado, observando o posicionamento adequado das articulações envolvidas e o correto direcionamento das linhas de força e tração. Por exemplo, na confecção de uma órtese tipo cock-up para imobilização do punho, em um paciente portador de Síndrome do Túnel do Carpo em fase aguda, o punho será imobilizado em posição neutra ou em Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 discreta extensão de 15 a 20 graus, visando assim minimizar a pressão anatômica sofrida pelo nervo mediano. Sabemos que as órteses não substituem as terapias e que não é possível padronizar suas dimensões, sem correr o risco de não atingir os objetivos perseguidos, uma vez que existe uma imensa variação das características físicas e antropométricas dos segmentos a serem tratados e alterações do quadro inicial apresentado pelo paciente, tais como regressão de edema, fazendo-se necessário novos ajustes à órtese. As órteses adequadas ao paciente portador dos DMO são aquelas do tipo estático que provem repouso, posicionamento e/ou diminuição do estresse do membro afetado, com o objetivo de manter a articulação em posição funcional (auxiliando na redução do processo inflamatório e da dor), porém sem permitir a movimentação ativa ou excessiva do segmento afetado, proporcionando assim relaxamento e repouso, objetivos perseguidos na indicação da órtese. EDUCAÇÃO E ORIENTAÇÃO Consideramos que a partir de intervenções preventivas e curativas, podemos obter efetivos resultados no que diz respeito às patologias decorrentes de lesões traumáticas e não traumáticas, acarretando diminuição nas taxas de abstinência e, consequentemente, melhora na qualidade de saúde do trabalhador e mais produtividade. Sendo os DMO, dentre as afecções relacionadas ao trabalho, um dos problemas de maior destaque atualmente, o tratamento implica não somente na abordagem clínica da região afetada. Deve-se também auxiliar o trabalhador na compreensão e reorganização de sua relação com o trabalho e atividades gerais, de modo a levá-lo a perceber a dimensão psico-social de sua problemática. Ajudando-o a conhecer melhor o seu cotidiano, seus hábitos funcionais e posturais, bem como a sobrecarga de determinadas funções e as excessivas exigências pelo seu desempenho, sejam elas de ordem pessoal e/ou profissional, e como modificá-las. As mesmas orientações precisam ser divulgadas e ensinadas para os supervisores e encarregados de seção que, bem treinados e conscientes, podem se tornar valiosos agentes de prevenção de DMO. A mudança de estilo de vida e uma higiene postural só ocorrem com a educação e informação e as necessidades de reorganizar o ambiente de trabalho para absorver as inovações tecnológicas, por vezes desastrosas, utilizando-as de forma construtiva ou menos danosa possível. RESUMO DOS CUIDADOS E PROCEDIMENTOS PARA SEU PACIENTE PORTADOR DE DMO ESTÁGIO I DO TRATAMENTO l l l l l l Órtese Aplicação de gelo, 10 a 15 minutos, e antiinflamatório e analgésico. Exercícios ativos suaves para manter o deslizamento dos tendões, 3 a 4 vezes ao dia, 10 vezes cada um, ou de acordo com a tolerância de dor do paciente. Exercícios suaves de alongamentos. Os exercícios NUNCA devem ocasionar piora dos sintomas. Massagem retrógrada para redução do edema. ESTÁGIO II DO TRATAMENTO l l l l l Calor superficial, por 15 minutos, prévio aos exercícios. Como regra geral, os exercícios devem ser realizados 3 vezes ao dia, 2 sets de 10 repetições cada um, respeitando-se os limites individuais de cada paciente. Atividade aeróbica, como caminhar. Atividades simuladas de trabalho, para aumentar resistência de retorno ao trabalho. Orientar o paciente a reconhecer e tratar os sinais de recidiva dos sintomas inflamatórios. O terapeuta ocupacional tem um papel importante na equipe médica do trabalho frente ao avanço incontrolado dos DMO, atuando na área de modificações ergonômicas, educação e orientação dos trabalhadores, socializando assim o conhecimento atual sobre esta, e intervindo curativamente nas fases iniciais destes distúrbios, aumentando, deste modo, as chances de recuperações efetivas. 26 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] A RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO E OS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS Eduardo Elias Farah O médico possui um conhecimento técnico específico, o qual ele vende a pessoas físicas e jurídicas e é responsável pela qualidade deste serviço, respondendo civil e criminalmente por seus atos profissionais. O número de processos contra médicos ainda é relativamente pequeno no Brasil. Em outros países, como os Estados Unidos, estes processos fazem parte das preocupações de todo médico. Mas, com os movimentos de defesa do consumidor e com a atuação cada vez mais fiscalizadora da mídia, uma parcela maior da população brasileira tem exercido seus direitos de cobrar algo que seja percebido como não tendo sido feito adequadamente pelo médico. Isto significa que existe, como já ocorreu em outros países, a probabilidade de aumento nas ações indenizatórias contra erros médicos. Alguns leitores devem estar se perguntando o motivo de, dentro de uma série de fascículos cujo tema principal são os Distúrbios Músculo-esqueléticos Ocupacionais, reconhecidos pela legislação brasileira como LER, colocarmos um assunto como o da responsabilidade civil do médico. Acreditamos que os médicos devem estar cientes dos apectos jurídicos, econômicos e sociais realcionados à sua responsabilidade profissional e sua consequências. As doenças ocupacionais, com seus aspectos polêmicos, contribuem para a vulnerabilidade do médico, principalmente quando ele não adota medidas preventivas, como a correta documentação de todo e qualquer dado sobre o paciente. 27 Em relação à LER, mesmo não sendo uma doença nova, a atenção dada a ela no Brasil está crescendo, ganhando força devido às suas consequências econômico-financeiras, tanto pela perda de trabalho (que gera altos gastos com tratamentos médicos, recrutamento, seleção, treinamento, etc) quanto pelo valor das ações de indenização provenientes dos empregados afetados. E por estar tão intrinsecamente ligado a aspectos financeiros é que as ações do médico, relacionadas à LER podem ser mais motivo de ações indenizatórias. TIPOS DE RESPONSABILIDADE DO MÉDICO No Direito Brasileiro, existem duas formas de responsabilidade da pessoa: a) a responsabilidade penal e, b) a responsabilidade civil. A responsabilidade penal decorre da infração de uma norma de direito público (Código Penal Brasileiro). Assim, quem sofre o dano é a sociedade. Sua finalidade é punir o agente causador do dano. A responsabilidade civil decorre da infração de uma norma de direito privado. Assim, o interesse lesado, nesse caso, é o do particular. Sua finalidade é o ressarcimento e a reparação do dano. Como coloca o ilustre magistrado Miguel Kfouri Neto, em A Respon sabilidade Civil do Médico - Revista dos Tribunais 654, a responsabilidade civil do médico já estava presente nas primitivas legislações. O Código de Hamurábi (2.394 a.C.) já se referia a questões ligadas ao comportamento médico, nos arts. 218,219 e 226, cominando pena aos médicos ou cirurgiões que cometessem lesões corporais e matassem um homem livre ou escravo. A pena prevista no art. 218 era a de Talião. A mão do médico era o orgão considerado culpado pelo insucesso. A responsabilidade civil médica caracteriza-se pela existência de: 1) ação ou omissão lesiva do médico; 2) dano pessoal, moral ou patrimonial; e 3) nexo-causal, a relação de causa (ação) e efeito (dano). A responsabilidade civil médica é basicamente contratual, mas, diante de seu caráter profissional, exige a apreciação de culpa, além do cumprimento do contrato dos serviços médicos (responsabilidade contratual) e o exercício geral da profissão (responsabilidade extra-contratual). Apenas como um lembrete, vale a pena citar que um contrato é um acordo entre as partes, podendo ser verbal. Um contrato escrito apenas ajuda a provar sua existência e esclarecer suas condições. Na relação médico-paciente, mesmo que não haja nada escrito, existe sempre a figura do contrato. A existência de um dano ressarcível, por consistir na lesão da integridade psicofísica da pessoa humana, requer a existência de culpa do agente. Quando um cliente toma os serviços profissionais de um médico, este se obriga a tratar o cliente com zelo e diligência, utilizando os recursos da sua profissão . Mas quando ocorre um dano, deve-se restabelecer o equilíbrio patrimonial, obrigando quem gerou o dano a indenizar financeiramente a outra parte. FORMAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 O Código Civil Brasileiro expõe: Artigo 159 - Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Aritgo 1.545 - Os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteira e dentistas, são obrigados a satisfazer o dano, sempre que da imprudência, negligência, ou imperícia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento. (os grifos são nossos). A responsabilidade legal está constituída pela necessidade jurídica e social de que todo médico arque, perante as autoridades competentes e legalmente constituídas, com os ônus decorrentes de danos causados voluntariamente ou involuntariamente no exercício de sua arte. E o valor da indenização é o reflexo da extensão dos danos. Age com culpa o médico que merece ser reprovado ou censurado por seu comportamento. E isto ocorre quando, em face das circunstâncias concretas do caso, entede-se que ele podia e devia ter agido de outro modo. Por isso, o médico deve pensar nas possíveis consequências prejudiciais de seus atos. Para verificarmos quanto a existência ou não de culpa, é preciso entender se a responsabilidade do médico é objetiva ou subjetiva. A responsabilidade objetiva está baseada na teoria do risco. Toda pessoa que exerce uma atividade, cria um risco de dano para terceiros. Assim, caso ocorra algum dano, será obrigado a reparálo, independente de culpa. A responsabilidade subjetiva fundamenta-se na existência de culpa (conforme o artigo 159 do Código Civil Brasileiro). Se a pessoa não agiu com culpa, não terá o dever de indenizar. Agir com culpa significa agir com imprudência, negligência ou imperícia. CARACTERIZAÇÃO DA CULPA DO MÉDICO imprudência ou negligência. O artigo 5°, dispõe: O médico deve aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente. Portanto, podemos afirmar a necessidade de constante atualização do médico, evitando, assim, a imperícia. A imprudência consiste em agir precipitado, sem cautela, sem precaução, sem comedimento, sem ponderação. Consiste no agir sem evitar tudo o que for plausível ou previsível. Pode ser considerado imprudente o médico que transgride normas técnicas de praxe, reiteradas pela literatura e experiência. Exitem 3 graus de culpa: grave, leve e levíssima. O Código Civil Brasileiro não faz distinção entre os graus. Assim , agindo com culpa, ainda que levíssima, terá o médico o dever de indenizar. A negligência implica estar o médico na posse dos conhecimentos suficientes, porém executar com descuido, abandono, desatenção, falta de estudo do caso concreto, omissão de precauções, falta de interesse ou de investigação de tal modo que, mesmo sendo capaz, não age como deveria agir. A responsabilidade será objetiva ou subjetiva conforme o tipo de obrigação existente entre o paciente e o médico: A imperícia equivale a inaptidão ignorância, inexperiência e falta dos conhecimentos específicos, elementares e básicos, próprios de qualquer ramo da técnica, do saber ou de uma profissão. O médico pode ser imperito por origem (má-formação acadêmica), ou adquire esta característica por esquecimento, pela falta da prática ou pela falta de aperfeiçoamentos posteriores ao da graduação. Cabe acrescentar que o próprio Código de Ética Médica estabelece em seu artigo 29: É vedado ao médico: Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, RESPONSABILIDADE OBJETIVA X SUBJETIVA a) obrigação de resultado - na obrigação de resultado, o médico se obriga a alcançar um resultado. Se não alcançá-lo, mesmo tendo agido com total competência, terá, em tese, o dever de indenizar. A obrigação de resultado gera uma responsabilidade objetiva do médico. Como exemplos de obrigação de resultado citamos boa parte das transfusões de sangue. Nestas situações, o médico está obrigado a garantir o resultado final do seu trabalho, presumindo-se a sua culpa, se não atingir aquele fim. Neste caso, em função da inexecução do contrato, o médico responderá por perdas e danos, conforme coloca o artigo 1.056 do Código Civil Brasileiro: Não cumprindo a obrigação ou deixando de cumpri-la 28 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] pela modo e no tempo devidos, responde o devedor por perdas e danos. paciente, que deve ser a mais completa possível e estar sempre adequadamente arquivada. b) obrigação de meio - é aquela que decorre do relacionamento normal entre o médico e o paciente, de modo que, havendo qualquer dano, o médico só responde se tiver agido com culpa. Nela, quem tem que provar a culpa do médico é o paciente. A obrigação de meio gera uma responsabilidade subjetiva do médico. A cura não pode ser prometida nem assegurada, não havendo desta forma a obrigação de resultado. Para tornar-se uma obrigação de resultado deve ser possível assegurar o resultado. Mas, quanto mais as técnicas médicas aplicadas geram resultados positivos e estes se aproximam de um percentual de 100% dos casos tratados, mais próximo a obrigação fica de responder por resultado. Assim, podem os médicos ter um maior risco face o grau de certeza alcançado pela técnica. A obrigação de meio é a quase sempre encontrada na prestação do serviço médico. Ele, enquanto possuidor de um conhecimento específico, deverá agir de acordo com estes conhecimentos, sem garantir o resultado de sua intervenção. Um simples exemplo é o caso de um cardiologista que, em uma cirurgia, compromete-se em usar toda a sua técnica, mas não garante que o paciente saia com vida da mesa de operações. A obrigação de resultado é mais cômoda para o paciente porque está no campo da responsabilidade objetiva. Isto significa que não é necessário provar a culpa do médico, bastando provar que houve dano provocado pelo médico (nexo-causal). Mas como já dissemos, a obrigação do médico é quase sempre de meios, sendo a produção de provas tarefa extremamente difícil. E muitas vezes, a dificuldade em estabelecerse as provas em um processo é a variável mais importante no convencimento do juiz e da procedência ou não da ação. Por isto, entre outros cuidados, omédico deve ter especial atenção à documentação do 29 Em relação ao trabalho desenvolvido sobre LER, se constatado erro médico, além da responsabilização perante o paciente, o médico contratado por uma empresa pode ser obrigado a ressarcir os danos causados à esta empresa, caso deixe de diagnosticar e/ou tratar adequadamente uma doença ocupacional (LER) existente em um funcionário que, através de uma ação judicial, peça uma indenização financeira à empresa para compensar os prejuízos causados por esta doença. Relacionado, no nosso entender, entre outros, à LER , o Código de Ética Médica, nos seus artigo 40 e 41, coloca que é vedado ao médico deixar de esclarecer ao trabalhador sobre as condições de trabalho que ponham em risco sua saúde e sobre as determinantes sociais, ambientais ou profissionais de sua doença. ACIDENTE DE TRABALHO Diferentemente do que a maioria das pessoas imaginam, os casos de doenças ocupacionais são classificados como acidente de trabalho e não são julgados pela Justiça do Trabalho. E por significarem o ressarcimento de um dano, o foro para discussão deste tema é a própria Justiça Civil. Como a ilustre colega Dra. Leonora Ferraro em artigo recente colocou: Nossos juristas apontam uma diferença básica entre o acidente de trabalho e a doença profissional: enquanto o acidente de trabalho é provocado por um fato súbito e violento como, por exemplo, a queda de um trabalhador de um andaime; a doença profissional, também denominada ergopatia, surge de modo lento e progressivo, como as varizes em trabalhadores que laboram com vendas e permanecem por longas horas em pé. A ilustre colega coloca ainda que, mesmo com este entendimento, a doença profissional seria uma espécie do gênero acidente do trabalho. Este entendimento encontra respaldo, entre outros, nos artigos 139 e 140 do Regulamento dos Benefícios da Previdência Social. Estes artigos citados acima apontam que o acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária. Acrescenta ainda que são consideradas como acidente do trabalho as doenças profissionais e as doenças do trabalho. Na vida moderna, o trabalho ocupa cerca de metade das atividades que Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 realizamos quando estamos acordados. Com esta prevalência, parece-nos lógico imaginar que uma significativa parte das doenças que afetam o ser humano estejam relacionadas de alguma forma ao trabalho que realizamos. A concorrência, produtividade, vida urbana agitada, entre outros fatores, contribuem para intensificar esta relação. Por isto, os médicos em geral devem estar atentos para estas doenças, mesmo sendo uma área de conhecimento mais íntima dos médicos do trabalho. E para quem deseja conhecer melhor e tratar de pacientes com LER, o entendimento profundo do ambiente laborativo é fundamental. ERROS MÉDICOS As causas mais comuns de erros médicos, segundo o médico Genival Velloso de França, em sua obra Direito Médico, dizem respeito a: l exame superficial do paciente e consequente diagnóstico falso; l operações prematuras; l omissão de tratamento ou retarda mento na transferência para outro especialista; l descuidos nas transfusões de sangue e anestesias; l emprego de métodos e condutas inadequados e incorretos; l prescrições erradas; l abandono ao paciente; l negligência pós-operatória; l omissão de instrução necessária aos doentes; l responsabilidade médica por suícidio em hospitais psiquiátricos. Em muitos destes erros podemos traçar um paralelo com o correto diagnóstico e tratamento da LER, como o exame superficial, a omissão de tratamento ou retardamento na transferência para outro especialista, prescrições erradas, entre outros. PREVENINDO ERROS MÉDICOS Para evitar estes erros, o médico precisa, além de garantir sua reciclagem e atualização profissional, realizar um exame médico completo e de forma correta. Isto não significa pedir ao paciente um exagerado número de exames complementares desnecessários. Um sistema de investigação e tratamento médico lógico e organizado, com a devida documentação e cuidados, estará diminuindo consideravelmente futuros problemas jurídicos. O relacionamento profissional entre o médico e seu paciente inicia-se através da consulta, que objetiva um diagnóstico e um prognóstico preciso e evolve aspectos técnicos e comportamentais. Dos aspectos técnicos fazem parte a anamnese, o exame físico geral, o exame físico especial (na parte do corpo onde se encontra a queixa) e a requisição de exames complementares. A anamnese adequada é indispensável como elemento de investigação médica. Ela deverá versar sobre a história atual do paciente; sobre suas doenças pregressas; sobre sua história familiar, social e profissional. Um instrumento auxiliar e preventivo é o uso de uma anamnese clínica completa, na forma escrita, com o preenchimento direto pelo paciente. Este questionário deverá abordar várias questões relacionadas à saúde do paciente (histórico, manifestações atuais, etc) e será datado e assinado pelo paciente. É fundamental colocar que este questionário não elimina a necessidade de uma anamnese clínica pessoal, com perguntas diretamente feitas pelo médico, além dos exames físicos e, se necessário, complementares. Sob o aspecto jurídico, esta anmnese objetiva comprovar o questionamento por parte do médico e os dados relatados pelo paciente, assegurando tão somente isto. A comunicação entre médico e o paciente é um aspecto de suma importância na análise de um processo. O médico deve esclarecer ao paciente todos os efeitos relacionados a determinada medicação, principalmente os efeitos secundários, explicitando as indicações, contra-indicações, precauções, reações adversas, posologia e observações. O fato destes dados estarem presentes na bula dos medicamentos não elimina a responsabilidade do médico. Mas se a prescrição da medicação for pertinente e cercada das cautelas recomendáveis e não havendo prova de que o profissional da medicina foi negligente, imperito ou imprudente no acompanhamento do tratamento, não há como considerar procedente uma ação indenizatória. Outra recomendação se relaciona à pronta suspensão do medicamento (exceto se dele depender diretamente a manutenção da vida do paciente) quando ocorrer qualquer reação inesperada ou inadequada, garantindo ainda, se possível, um retorno ao consultório em prazo compatível com o comum aparecimento destas reações. A ficha médica, com um relato preciso do histórico do paciente, é um importantíssimo instrumento nos casos de 30 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] dúvida e processos civis. Detalhes como a legibilidade do escrito (o que muitas vezes não combina com a cultura médica) e a falta de rasuras são bastante apreciáveis para garantir entendimento e credibilidade nestes documentos. O registro na ficha médica das informações fornecidas verbalmente ao paciente é mais um apreciado cuidado preventivo. O ilustre Dr. José de Aguiar Dias, em sua obra Da Responsabilidade Civil, comenta que, entre as obrigações implícitas no contrato médico estão os conselhos: Responde o médico por infração de dever de conselho quando não instrui o cliente ou pessoas que dele cuida a respeito das precauções essenciais requeridas pelo seu estado. A responsabilidade médica, no nosso entender, também pode ocorrer quando existe erro no diagnóstico (que não fosse escusável). Alguns autores acreditam que o diagnóstico errado não é sinal de imperícia, dadas as circunstâncias que envolvem a análise dos sintomas, às vezes confusas. Ocorreria aí o que chamam de erro honesto. Mas não é esse o nosso entendimento. Acreditamos ser possível ocorrer imperícia, por exemplo, quando um médico relata um diagnóstico como preciso ao paciente, mesmo quando a doença não faz parte de sua especialidade médica. A forma mais previsível de erro médico de diagnóstico é por negligência, quando mesmo capaz e ciente do que deveria ser feito, o médico não o faz. Um exemplo simples é o caso de um exame comple- 31 mentar necessário que deixa de ser pedido, gerando danos ao paciente (exame de sangue para verificar se o paciente é diabético). Reconhecemos, entretanto, serem de difícil imputação os casos de erro médico por diagnóstico. A ilustre Professora Teresa Ancona Lopez Magalhães, em Responsabilidade Civil dos Médicos, In Responsabilidade Civil - Doutrina e Jurisprudência, coloca que, quando se tatar de lesão que teve origem em diagnóstico errado, só será imputada responsabilidade ao médico que tiver cometido erro grosseiro. É no tratamento, como já citado, que normalmente ocorrem os casos de erro médico. Às vezes, um vício da profissão pode, devido às suas consequências em determinado caso, ser motivador de uma ação indenizatória. Um bom exemplo é o de formular uma receita com letra ilegível, criando situação de erro do farmacêutico na entrega da medicação solicitada ao paciente. O próprio Código de Ética Médica, no seu artigo 39, coloca que é vedado ao médico receitar ou atestar de forma ilegível. A INDENIZAÇÃO FINANCEIRA A satisfação do dano, no âmbito civil, se dá através de uma indenização financeira na mesma extensão dos danos causados, objetivando a mais completa reparação. Isto significa cobrir, conforme o caso, gastos com o tratamento (como medicamentos, hospitais, médicos, outros profissionais habilitados, exames, transportes, aparelhos e tudo o que seja necessário), lucros cessantes, prejuízos no desenvolvimento de sua função laborativa, etc. Todo este cálculo, que é de difícil realização, explica o alto valor dado pelos tribunais nos processos indenizatórios, quando procedentes. O nobre Professor Carlos Alberto Bittar, em Responsabilidade Civil Médica, Odontológica e Hospitalar, acrescenta que os desvios de conduta ou falhas dos serviços devem ser sancionados com rigor no plano jurídico, para efeito de desestimularse novas práticas lesivas, dentro da teoria da responsabilidade civil. O Código de Defesa do Consumidor, em seus vários artigos, estabelece a responsabilidade objetiva do prestador de serviços. Isto significa que, independente de culpa, os hospitais, clínicas e empresas de assistência médica, respondem pela reparação do dano ao paciente. Mas para os médicos, em regra, enquanto prestadores de serviços, mantem-se a responsabilização por culpa. Desta forma, no caso de erro médico, normalmente é o estabelecimento de saúde que responde ao paciente pela reparação do dano, já que este é o caminho mais rápido para o paciente obter sua reparação, de prova mais fácil. Ao estabelecimento cabe o direito de regresso contra o profissional, ou seja, uma ação contra o médico, buscando a prova de sua culpa e recuperação do dano (ou sejam, do valor pago ao paciente). No nosso estender este mesmo caminho poderia ser percorrido por empresa que sofre ação indenizatória por empregado vítima de acidente de trabalho ou doença profis- Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 sional, desde que o motivo da ação se origine por erro médico. Aqui também cabe o direito de regresso contra o médico. O médico pode responder também por fato de terceiro. Este é o caso dos médicos proprietários e dos diretores das casas de saúde , responsáveis por outros médicos, enfermeiros e auxiliares. O Código Civil Brasileiro estabelece, nos artigos 1521 e outros, que o patrão é também responsável pela reparação civil por seus empregados ou prepostos, quando estes estiverem no exercício do trabalho que lhes competir, ou por ocasião dele. O Supremo Tribunal Federal (Súmula 341) acrescenta que: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto. ENTENDIMENTO DOS JUÍZES No trabalho já citado do ilustre magistrado Miguel Kfouri Neto, em A Responsabilidade Civil do Médico Revista dos Tribunais 654, cabe-nos compilar literalmente suas conclusões e recomendações sobre o tema, pois nelas encontramos a visão que julgamos acertada: A apuração da culpa médica não deve se ater a um rigorismo absoluto de premissas científicas. O juiz, na apreciação da prova, deverá considerar o dano, estabelecer o nexo causal e avaliar as circunstâncias do ato médico sem tergiversações. Prova cabal, irrefutável, insuscetível de questionamento por peritos médicos, é de dificílima obtenção, nessa matéria. Por isso, sendo os indícios convincentes, há mister julgar-se procedente a pretensão indenizatória. Nem se adotar a teoria do risco, a culpa objetiva, presumida nem se exigir prova absolutamente inquestionável. Sopesando-se as condições anteriores do paciente, a conduta médica e a consequência danosa, estabelecer-se-á a culpa. O julgador deve, nestes casos, abandonar o excessivo formalismo probatório e se deixar guiar por maior percentual de senso comum. Em síntese deverá - se for o caso - sobreporse aos laudos periciais, escoimandose do ranço corporativista e decidir, até, contra eles. NOSSAS CONCLUSÕES E SUGESTÕES Não foi nossa intenção tentar aqui esgotar um tema tão profundo e delicado como o da responsabilidade civil do médico, cuja complexidade, desdobramentos e opniões conflitantes provavelmente ainda suscitarão muitas acaloradas discussões. Alguns aspectos não foram intencionalmente abordados, como a questão do sigilo profissional. Nosso objetivo neste texto foi o de esclarecer aspectos gerais e alertar o médico para alguns cuidados que acreditamos pertinentes. Também não queremos gerar um sentimento de pânico, disseminando o medo. Por ser este um veículo destinado unicamente à classe médica, ficamos à vontade para abordar de forma franca e direta este tema. Acreditamos que a melhor forma de combater os erros médicos é através de boa formação técnica e atualização constante, forte atenção e comunicação com o paciente, um sistema de investigação e tratamento médico lógico e organizado, com a devida documentação e uma rápida resposta para os imprevistos da vida. Para tudo isto, é necessário dar as devidas condições de trabalho e remuneração aos médicos. Deixamos como sugestão aos médicos interessados a busca de informações sobre tema que, juntamente com a responsabilidade civil, tem crescido em importância nas discussões jurídicas e nos tribunais: o dano moral. O dano moral manifesta-se no ser humano através da dor física ou psíquica. E, por seus aspectos subjetivos ( a dor psíquica), teremos certamente um longo caminho até criarmos mecanismos adequados para sua mensuração. OS 10 MANDAMENTOS DA PRÁTICA MÉDICA SEGURA Para finalizar, colocamos abaixo um resumo dos cuidados que um médico deve ter para diminuir o risco de sua atividade profissional. A maioria deles fazem parte do bom senso: 1) Crie e cultive uma relação de amizade e confiança com seu paciente; 2) Seja organizado, mantendo todas as informações sobre seus pacientes adequadamente arquivadas e acessíveis; 3) Faça uma anamnese completa e detalhada; 4) Registre todas as informações do paciente na ficha técnica; 5) Escreva sempre de forma legível e evite rasuras; 6) Comunique-se claramente com seu paciente, explicando detalhadamente cada exame ou medicamento proposto e mantenha controle próximo quanto às suas expectativas; 7) Utilize um sistema de investigação e tratamento médico adequado, através de uma rotina médica passo-a-passo muito bem planejada; 8) Mantenha-se sempre atualizado em sua área de atuação e em relação à medicina em geral; 9) Antes de executar qualquer procedimento médico, certifique-se pessoalmente de que todos os cuidados (pessoais e materiais) foram tomados; 10) Peça sempre opnião de colegas e especialistas em caso de dúvida. 32 CBOO - Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional - Dr. Sergio Nicoletti www.cboo.com.br / e-mail: [email protected] CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS Frente a um(a) paciente com queixas de Ocupacionais. No entanto, temos forta- fatores de risco para a saúde encontrados dores múltiplas, que já foi examinada lecido nossa crença de que a solução no trabalho. Estaremos procurando por inúmeros médicos, fez um inacredi- para o problema dos DMO está em oportunidades para catalizar a união tável número de sessões de fisioterapia, nos tornarmos agentes da promoção de do saber universitário com a visão tem consigo uma lista enorme de nomes saúde no trabalho e, de maneira eficaz, prática do empresário e o poder regula- de medicamentos, que já tomou e não criarmos condições para que trabalhar mentador do Estado para que, em con- experimentou nenhuma melhora, não não tenha só a conotação de castigo junto com as instituições médicas e a mais sentimos o desespero e a irritação bíblico registrado no ganharas o teu pão sociedade, possamos tornar mais seguro que algumas vezes sentimos ante a com o suor do teu rosto mas possa, o ato de trabalhar e possamos buscar impotência causada pelo aparente esgo- tanto quanto possível, representar um novas formas de praticar medicina. tamento de nossas possibilidades tera- ato percebido como dignificante e com- pêuticas. Isso ocorria quando ainda pensador. É chegada a hora de nos não haviamos compreendido as nuances unirmos empresários, sindicatos, traba- que cercam o ficar doente e nem tí- lhadores, Universidade, profissionais de nhamos identificado o incomensurável saúde ocupacional e governo para, juntos, poder de curar que o médico tem, procurarmos soluções que alterem, para quando se volta para os aspectos melhor, a situação atual. humanos, pessoais do doente e também Acreditamos que, mesmo que não seja para as suas relações com a empresa possível alcançar soluções ideais, que onde trabalha. Continuamos empregan- agradem plenamente a todas as partes do todas as técnicas conhecidas de envolvidas com o problema da doença reabilitação, incluindo o tratamento no trabalho, atuando com sinergia, certa- cirúrgico, quando se faz necessário. mente poderemos ser mais eficazes do Nossos resultados tem sido melhores do que temos sido, até aqui, no controle que eram antes, quando não empregá- dos DMO. Nos próximos anos estaremos vamos os conceitos de Ortopedia voltados para a consolidação de um Ocupacional, no tratamento das pessoas sistema unificado de informações e de com Distúrbios Músculo-Esqueléticos estoque de dados clínicos, anatomopatológicos, ergonômicos, psico-sociais e organizacionais que nos permitam compreender melhor o papel dos diferentes 33 Rua Borges Lagoa, 1231 - cj.32 - CEP 04038-001 - Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 REFERÊNCIA S BIBLIOGRÁFICA S TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS MÚSCULO-ESQUELÉTICOS OCUPACIONAIS DO OMBRO O ENFOQUE DO ORTOPEDISTA OCUPACIONAL 01.ALMEIDA, M.C.C.G. Características emocionais determinantes da LER. In Codo, W.; Almeida, M.C.C.G. LER- Lesões por esforços repetitivos. Ed. Vozes Ltda. Petrópolis. 1995. P24-56. 02. CALLANDRIELLO, B. The pathology of recurrent dislocation of the shoulder. Clin. Orthop. 20: 33-39, 1961 03. De Palma, A; De Palma, F. Envejecimento biologico del ombro. In Cirurgia del Ombro. 3a. ed. Buenos Ayres. 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Rua Borges Lagoa 1231 - cj 32. 04038-001 - Vila Clementino - São Paulo - SP Telefax: (0xx11) 5572-1902 / 5549-6002 internet: www.cboo.com.br e-mail: [email protected] Prof. Dr. Vilnei Mattioli Leite - Professor Adjunto - Livre Docente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Chefe do Laboratório de Microcirurgia da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior da UNIFESP/E.P.M. Prof. Dr. Walter Albertoni - Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia e Chefe da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior da UNIFESP/E.P.M. Prof. Dr. Flávio Faloppa - Professor Adjunto - Livre Docente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Chefe de Clínica da Disciplina de Cirurgia da Mão e Membro Superior da UNIFESP/E.P.M. Dr. Milton Helfenstein Pós-graduado à nivel de doutoramento Disciplina de Reumatologia - UNIFESP Escola Paulista de Medicina. Dr. Daniel Feldman - Professor Adjunto Disciplina de Reumatologia - UNIFESP Escola Paulista de Medicina 37 Dr. Eduardo Francisco de Oliveira e Silva Assistente no Setor de Medicina Chinesa e Acupuntura. Disciplina de Ortopedia e Traumatologia - Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo. Dr. Ysao Yamamura - Chefe do Setor de Medicina Chinesa e Acupuntura. Disciplina de Ortopedia e Traumatologia - Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo. Eduardo Elias Farah - Sócio-Diretor da Quest Consultoria e Treinamento, empresa especializada em administração e direito para empresas e profissionais da área de Saúde.