MARIA DO CÉU PINTO Huntington considera que , no Islão , uma "religião militante" , não existe distinção entre o que é religião e o que são matérias seculares . Esta sua pro­ pensão teocrática dificulta a integração de não-Muçulmanos nas sociedades islâmicas ; por outro lado , toma difícil a integração e adaptação dos Muçulma­ nos nas sociedades onde a maioria dos indivíduos não é muçulmana. 52 Huntington antecipa que num cenário que caracteriza "o Ocidente contra o resto (do mundo)" , poderá formar-se uma coligação islâmico-confuciana, sendo que a sua caracteóstica principal será a sua oposição ao liberalismo oci­ dental . Actualmente , o conflito entre os estados ocidentais e islâmico-confu­ cianos centram-se na questão do armamento e da tentativa dos últimos em adquirir e desenvolver armas que considerem necessárias à sua segurança. 53 A referida coligação serviria os propósitos da China e da Coreia do Norte , por um lado , e de vários estados dos Médio Oriente , por outro . Uma versão importante da tese da confrontação é aquela que emergiu recentemente e que equaciona o fundamentalismo islâmico com a ameaça comunista: os simpatizantes desta tese defendem que o fundamentalismo é tão perigoso quanto o comunismo o foi no seu apogeu . Tal como o comunismo , o Islão político rejeita os fundamentos sociais , económicos e culturais do Oci­ dente . Tal como o comunismo floresceu enquanto movimento internacional acalentado pela União Soviética, o fundamentalismo islâmico viceja enquanto movimento internacional fomentado pelo regime pária de Teerão . Os funda­ mentalistas islâmicos elegeram o Ocidente como o seu principal inimigo, à semelhança daquilo que fizeram os Marxistas-Leninistas , e estão empenhados na destruição da ordem ocidental . Nesta sua cruzada , estão equipados não apenas o fanatismo ideológico , uma das características do comunismo sovié­ tico , mas também do fanatismo religioso da jihad que se propõe usar a violên­ cia e o terrorismo como o meio principal de combate ao Ocidente "infiel" . 54 A comparação do fundamentalismo islâmico com o comunismo tem sido vigorosamente defendida por Radek Sikorski , presidente de um think-tank con­ servador que goza de influência política em Washington , o New Atlantic Ini­ tiative . Diz Sikorski: "Há uma teoria que tem vindo a ganhar terreno aqui: a de que o mundo dos Muçulmanos radicais , a sua visão da vida, é uma ameaça para o Ocidente , como o foi o comunismo . O Islamo-Fascismo ou o Islamo-Comu­ nismo é uma ameaça principalmente para quem vive naquela cultura. Os EUA podem terminar com essa opressão ." 55 Daniel Pipes , uma controversa figura entre os especialistas do Médio Oriente , devido à cruzada que desde há anos vem movendo contra o Islamismo , tem advogado a mesma posição nas páginas da sua revista, o Middle East Quarterly , bem como noutros fóruns . Ele afirma que: "o fundamentalismo islâmico é um movimento utópico radical , mais próximo , no seu espírito de outros movimentos (comunismo , fascismo) do que da religião tradicional ." 56 De acordo com o autor, os fundamentalistas acreditam que o grande conflito dos tempos modernos será entre o Ocidente e o Islão . 57 O seu movimento encontra-se em competição directa com a civilização ocidental numa luta pela "supremacia global" . 58 88