Guia de Leitura

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O turbante da sabedoria
e outras histórias de Nasrudin
CONTO
Ilan Brenman
Ilustrações Samuel Casal
Temas Humor jocoso; Astúcia; Desafios e enigmas; Cultura oriental;
Quebra de padrões e preconceitos; Sufismo; Islamismo
Disciplinas afins Literarura; Filosofia; História
Indicação Leitor em processo e fluente
Guia de leitura
para o professor
TEATRO
POESIA
CONTO
Série De boca em boca
96 páginas
TRADIÇÕES POPULARES
2008996299373
De boca em boca
As histórias tradicionais guardam a memória do mundo
– um tesouro que se atualiza cada vez que uma pessoa
empresta corpo e voz à transmissão de enredos de
origem anônima e coletiva. A série De boca em boca
reúne uma amostra representativa desse rico acervo de
histórias da tradição oral, oriundas de diferentes povos e
regiões. São narrativas singulares que, por trás do traço
pitoresco, da particularidade local, revelam de modo
lúdico e lírico a experiência comum da humanidade.
A fim de recuperar a dimensão vocal dessas histórias,
que se costuma perder na passagem para a escrita,
De boca em boca recria, por meio de recursos
gráficos (como os itálicos e negritos e as variações no
tamanho dos caracteres e na sua distribuição espacial),
inflexões de tom, mudanças de ritmo e ênfase (é apenas
uma sugestão, entre as múltiplas possibilidades de
oralização). Dessa maneira, povoa-se a solidão da
página e as palavras ganham altura no céu da boca.
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série De boca em boca
O autor Assim que conheceu Nasrudin, Ilan Brenman
ficou fascinado e fez logo uma seleção de narrativas
do sábio tolo para contar para seu público. A empatia
foi tanta que ele resolveu publicá-las em livro. Filho
de argentinos, neto de russos e poloneses, Ilan nasceu
POPULARES
em Israel e mora no Brasil desdeTRADIÇÕES
1979. Há mais
de 15
série Lugar de lendas
anos conta histórias por todos os cantos do país. Além
disso, faz doutorado na Faculdade de Educação da
USP, ministra cursos, palestras e presta consultoria para
diversas entidades educativas e culturais.
O ilustrador Samuel Casal vive em Florianópolis, nasceu
em 1974 e é ilustrador profissional desde 1990. Quadrinista
e designer, já ilustrou livros para crianças e jovens, entre
eles uma edição de contos de Edgar Alan Poe para a editora
alemã Die Gestalten. Com vários prêmios em seu currículo,
Samuel colabora com jornais e revistas, como Folha de
S.Paulo e Caros Amigos, e participou de exposições no
Brasil, Europa e América Latina. Nas horas vagas, ele cultiva
dois hobbies: tocar guitarra e tatuar os amigos.
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O turbante da sabedoria
e outras histórias de Nasrudin
Ilan Brenman
RESUMO
Ascetismo – origina-se do grego askese,
que significa “prática”, e define-se pela
renúncia aos prazeres mundanos e pela
adesão a uma vida austera como forma
de elevação espiritual.
Berberes – povos originários do
noroeste da África, que partilham
traços culturais e uma língua comum,
o berbere ou tamazight, em suas
diversas variantes dialetais. Os povos
berberes vivem principalmente em
regiões desérticas e montanhosas do
Marrocos, Argélia e Mauritânia, e
compõem-se de vários grupos étnicos,
como os tuaregues. Com as invasões
árabes, os berberes converteram-se ao
islamismo no início do século VIII, mas
preservaram sua cultura.
Califa – palavra de origem árabe,
já latinizada, calı̄pha, que significa
“representante” ou “sucessor”. É
o título dado ao chefe supremo
dos muçulmanos, o sucessor de
Muhammad. Detém simultaneamente
os poderes espirituais e temporais.
Historicamente, foi o título que
recebeu Abu Bakr, sogro de
Muhammad, a quem sucedeu após sua
morte em 632.
Mulá – palavra de origem árabe,
mawla, que significa “senhor”. É
um título atribuído a personalidades
religiosas islâmicas, grandes
conhecedoras do Alcorão. Pícaro – palavra de origem espanhola,
pícaro designa o personagem literário
que se caracteriza pela astúcia e
por lançar mão de expedientes nem
sempre lícitos para ganhar a vida.
Protagonista das novelas picarescas,
que floresceram no chamado Século
de Ouro da literatura espanhola
(séculos XVI e XVII).
O turbante da sabedoria e outras histórias de Nasrudin reúne
narrativas do mulá Nasrudin, que, segundo a tradição popular de
diversos países do Oriente Médio, teria sido um sábio sufi nascido na região da Anatólia, Turquia, no século XIV. No entanto,
não se sabe ao certo se ele realmente existiu. Personagem real ou
de ficção, o fato é que as histórias de Nasrudin circularam pelo
mundo, incorporando-se às tradições de povos árabes, persas,
pashtus, entre outros.
Dividido em seções dedicadas às fases da vida do mulá, o livro
compõe-se de narrativas distribuídas em “A infância de Nasrudin”, “A juventude de Nasrudin”, “Nasrudin, um homem casado”,
“A maturidade de Nasrudin”, “A velhice de Nasrudin” e “A morte
de Nasrudin”. Ao longo de sua leitura, percebe-se que a esperteza, a visão de mundo acurada, a sabedoria, enfim, do mestre sufi
era algo que ele possuía desde a infância. Mas não se trata aqui
de uma criança prodígio: pelo contrário, Nasrudin é alguém que
preservou durante toda a vida um olhar ingênuo sobre o mundo, ou seja, a ausência de ideias preconcebidas, de parti-pris e
preconceitos, tudo isso aliado à irreverência própria das crianças, que não aderem a ideias, instituições ou pessoas por força de
convenções sociais. Postura de certo modo infantil, mas filosófica por excelência, de quem vê o mundo como se fosse sempre a
primeira vez e pensa exclusivamente pela própria cabeça.
Em algumas histórias, o comportamento e as ideias de Nasrudin parecem ser tão-somente naïfs, ingênuas ou provir de um
louco, mas, mesmo nesses casos, por meio de parodoxos, conseguimos ver determinados ângulos da realidade que, de outro
modo, seriam dificilmente perceptíveis. É o caso do episódio em
que um amigo encontra Nasrudin procurando algo no chão,
em frente à casa do mulá. Nasrudin explica-lhe que está à procura da chave de sua casa, que perdeu dentro dela. O amigo pergunta então por que ele a está procurando fora de casa, ao que
Nasrudin explica que fora de casa há luz. Assim, percebe-se que
se guiar estritamente por um raciocínio rígido, lógico e linear
pode não levar ao melhor dos caminhos.
Nasrudin também personifica o sentido de humor que, ao enfocar eventos corriqueiros por ângulos inusitados, livra-nos da
chacota ou daquele tipo de censura social que se fundamenta somente no preconceito. Em um dos contos, por exemplo, a mulher
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de Nasrudin é atraída ao quarto por um estrondo. Chegando ali,
ela o vê no chão, envolto em um cobertor. Pergunta-lhe o que
aconteceu, e o mulá responde-lhe que foi somente o cobertor que
caiu da cama. Ela então quer saber a razão do barulho e do fato de
ele estar caído no chão. Nasrudin esclarece-lhe que simplesmente,
quando o cobertor caiu, ele estava dentro dele... Em outra história, quando sua fama de sábio já se espalhara
por todo lado, Nasrudin é procurado por um comerciante que
recebera uma carta de um país distante. Sem conseguir decifrar
aquela língua estrangeira, o homem lhe leva a carta, esperando
que seu conteúdo seja revelado. Nasrudin a examina e a devolve, dizendo que também é incapaz de entender aquela língua.
Diante disso, o homem se mostra indignado e pergunta ao mulá
como seria possível que ele, com aquelas vestes brancas e aquele
turbante esplendoroso de sábio, não soubesse traduzir a carta.
Nasrudin então tira sua túnica e faz com que o comerciante a
vista; tira também seu turbante e o coloca na cabeça do homem.
E encerra o assunto dizendo: “Já que é assim, então tente agora
você traduzir sua carta”.
Desse modo Nasrudin adquire notoriedade, tornando-se aos
poucos venerado como sábio, sendo requisitado em diversos locais para opinar sobre os mais variados assuntos, para resolver
problemas, para proferir palestras. No entanto, ao longo de toda
a sua vida, ele nunca deixa de ser um homem comum, às voltas
com problemas prosaicos, como uma esposa que lhe azucrina a
vida e com quem tem contendas frequentes.
A qualidade de sábio do mulá Nasrudin não vem de uma vida
de exceção, de alguém que se eleva acima dos outros pela erudição, por exemplo. Por isso mesmo, seus ensinamentos são facilmente inteligíveis, pois, não apelando a conhecimentos acumulados, provocando o riso mais imediato e espontâneo, oferecem
insights e revelações ao leitor sem que ele se dê conta exatamente
de como isso aconteceu.
Rede de histórias
Personagens de humor e protagonistas de obras-primas
Nasrudin faz parte de uma longa linhagem de personagens
bufões, burlescos ou picarescos, os chamados sábios-idiotas
que, sob o manto do riso, da ironia, do ridículo e do nonsense,
põem a nu verdades muitas vezes incômodas que ninguém mais
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e outras histórias de Nasrudin
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teria coragem ou meios de revelar. Desde a Antiguidade (como
no Satyricon, de Petrônio), o recurso nunca deixou de ser usado
não somente na literatura, como também no teatro e em outras
formas de arte.
Na vida real, o personagem materializou-se na figura do bobo
da corte, muito popular na Idade Média europeia. Ter um bobo
era motivo de prestígio nas cortes, cada rei tinha o seu, e alguns
deles tornaram-se célebres, como Triboulet, bobo da corte do
rei francês Luís XII (séculos XV-XVI). Muitos tinham aparência
grotesca, o que ajudava a que não fossem levados a sério. Assim,
podiam ir muito além do que os súditos comuns nas críticas aos
poderosos.
Na literatura, a figura do truão, do bufo, do bobo da corte ou
do pícaro protagonizou obras-primas em diversas épocas. Dentre os personagens desse gênero, podemos citar: o Parvo do Auto
da barca do inferno, de Gil Vicente; Cândido, do livro homônimo de Voltaire; John Falstaff das peças Henrique IV e As alegres
comadres de Windsor, de William Shakespeare; Dom Bibas de
O bobo, de Alexandre Herculano. Também o Dom Quixote, de
Cervantes, apresenta recursos burlescos e picarescos, e muitos
especialistas consideram que essa obra teve grande influência de
narradores árabes.
O islamismo
A base filosófica e cultural das histórias de Nasrudin tem sua
origem no islamismo e no sufismo. A palavra “islamismo” deriva do árabe “Islã”, que significa paz, pureza ou submissão à palavra de Deus e costuma designar o mundo muçulmano. “Muçulmano”, por sua vez, designa todo adepto da religião islâmica e
tudo que a ela se relaciona. O islamismo surgiu na atual Arábia
Saudita por revelação do profeta Muhammad, nascido no ano
570, e que, a partir de seus quarenta e poucos anos, começou a
compilar as revelações divinas que recebia em um volume que
se tornaria o Alcorão, livro sagrado dessa religião. Muhammad
é considerado pelo islamismo o último dos profetas, descendente de uma linhagem que se teria originado com Adão – assim
como o judaísmo e o cristianismo, o islamismo também é uma
religião derivada da Bíblia.
São quatro as práticas básicas da religião islâmica: 1) orações
obrigatórias cinco vezes ao dia; 2) jejum vespertino durante o ramadã, mês que corresponde ao nono do calendário muçulmano
e que não é fixo em relação ao calendário ocidental; 3) a zakt, pa-
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lavra que significa purificação ou crescimento e que indica a obrigação de todo muçulmano de destinar parte de suas economias à
caridade; 4) a peregrinação anual à cidade sagrada de Meca (na
Arábia Saudita), chamada de haj, a que está obrigado todo muçulmano que tenha condições de fazê-la.
O sufismo
O sufismo é considerado o ramo mais místico e contemplativo
da religião islâmica, embora seus adeptos reivindiquem-no simplesmente como o islamismo em si. De fato, parece ter surgido
logo nos primeiros tempos da última das grandes religiões monoteístas do mundo.
A origem da palavra “sufismo” não é muito clara, podendo ser
derivada de saf, que quer dizer puro, ou de suf, que designava a vestimenta de lã usada pelos primeiros seguidores de Muhammad.
O ramo religioso representado pelo sufismo preconiza o ascetismo, estado em que o adepto atingiria uma elevação de consciência tal que lhe permitisse compreender Deus. A iluminação
pela via do ascetismo está presente também em outras religiões:
é o caso da prática do satori, no zen-budismo; do ascetismo dos
chamados padres do deserto, nos primórdios do cristianismo, entre outros exemplos.
No caso do sufismo, entre suas práticas mais emblemáticas estão aquelas exercitadas pelos dervixes. Os dervixes são religiosos
sufistas que fazem voto de pobreza e filiam-se a ordens, como a
dos Dervixes Rodopiantes ou a dos Dervixes gritadores. Dependendo de cada ordem, exercitam determinados rituais que, no final, podem levá-los a um estado de transe. Essas práticas podem
ser corporais, como rodopios violentos e cada vez mais rápidos,
repetições de frases sagradas ou simplesmente a entoação de cânticos. Os primeiros dervixes surgiram entre os séculos XII e XIII e
muitas vezes foram combatidos, assim como os sufistas em geral,
por muçulmanos mais ortodoxos.
Outra característica do sufismo é sua vertente literária, em
que se procura divulgar seus ensinamentos sagrados por meio
de contos e poemas. Os contos sufi são histórias curtas que, em
geral, têm um tom cômico ou anedótico e que, sob aparente simplicidade, procuram revelar verdades profundas. No entanto, os
leitores são encorajados a lê-las de espírito aberto e sem grandes
preocupações intelectuais, pois, segundo afirmam, somente desse
modo o conhecimento autêntico pode ser revelado. Os poemas
sufis também constituem uma tradição que se tornou conhecida
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Oriente Médio
Muito diferente daquela da Idade
Média e mesmo da Era Moderna
(quando o Oriente Médio fez parte
do poderoso Império Otomano) é a
situação do Oriente Médio na época
contemporânea, permeado por guerras
e conflitos de naturezas diversas.
Sua localização estratégica de
confluência entre a Europa, a África e
a Ásia contribuiu para que a história
da região fosse conturbada. Dominada
pelo Império Otomano até a Primeira
Guerra Mundial, após o término do
conflito, passou a ser disputada por
potências europeias, tendo sido a
França e a Inglaterra, principalmente,
os países a estabelecer domínio sobre
ela. A partir de então, formaram-se
os Estados atuais, muitas vezes por
processos não consensuais, o que
se reflete até hoje na conjuntura
sociopolítica do Oriente Médio e
relaciona-se com os conflitos étnicos
e religiosos, que ali são numerosos.
Alguns dos governos atuais da região
têm grupos religiosos como base do
poder, com uma interpretação estrita
do islamismo.
Outro fator de instabilidade, e dos
mais importantes, foi a criação
do Estado de Israel em 1948 por
deliberação da ONU, a qual nunca
foi aceita pelos países árabes,
tendo estes entrado em guerra com
Israel logo em seguida. Essa mesma
deliberação da ONU previa também
a criação de um Estado palestino, o
que nunca ocorreu e se transformou
em uma das principais reivindicações
dos países islâmicos, principalmente
os árabes, e motivo de longas
negociações e contendas entre eles e
Israel.
Ilan Brenman
em todo o mundo. Entre os poetas mais notórios dessa tradição
estão Jalalludin Rumi, Ib’n Arabi e Haidar Ansari.
A COR LOCAL
As fronteiras da região conhecida como Oriente Médio
não estão estabelecidas unanimemente. O conceito de Oriente
Médio surgiu da divisão geográfica da Ásia, feita pelos europeus,
entre duas regiões: o Oriente Próximo e o Extremo Oriente, que
seriam, respectivamente, a região do Oriente mais perto e a mais
longínqua em relação à Europa. O Oriente Próximo também era
chamado, em alguns países, de Oriente Médio, mas, ao longo do
tempo, a definição deste último passou a dar-se também em função de questões geopolíticas, culturais e religiosas.
Na convenção mais comumente aceita nos tempos atuais, o
Oriente Médio é uma região de maioria árabe, onde predomina
a religião muçulmana, formada pelos países da área leste do mar
Mediterrâneo até o Golfo Pérsico. A região inclui, portanto, parte do norte da África (Egito), Eurásia (Turquia, que tem parte de
seu território localizada na Europa) e Ásia (Jordânia, Iraque, Irã,
Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Emirados Árabes, Quatar, Bahrein
e Israel). No entanto, muitos defendem também a inclusão de
outros países do norte da África (Marrocos, Argélia, Líbia e Tunísia), por serem islamizados, e também de países sob a área de
influência do subcontinente indiano (Afeganistão e Paquistão),
igualmente islamizados.
Um pouco de história
O Oriente Médio já foi das regiões mais prósperas e florescentes do planeta, sendo o berço das primeiras civilizações. Por ele
se estenderam os grandes impérios da história, como o Persa, o
Macedônio, o Romano, o Mongol e o Otomano. Ali nasceram as
três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e
o islamismo – também chamadas de “as religiões do Livro”, por
terem derivado da Bíblia.
Os muçulmanos do norte da África, árabes e berberes, colonizaram parte da Europa e estabeleceram seu domínio por quase
toda a Península Ibérica por sete séculos (cerca do século VIII ao
século XV), criando um império ao qual chamavam Al-Andalus.
Os governos muçulmanos que se instalaram em terras ibéricas
durante a Idade Média notabilizaram-se pela tolerância religiosa e pela preservação da cultura greco-romana da Antiguidade
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Por fim, a descoberta de importantes
jazidas de petróleo, que fez do Oriente
Médio a maior região produtora do
mundo, também provocou cobiça e
levou a diversos conflitos e tensões
com outros países. Mais recentemente, ações terroristas de
grupos islâmicos fundamentalistas em
diversos pontos do globo, contabilizando
milhares de mortos (sendo o mais
notório o desvio de aviões contra as
Torres Gêmeas em Nova York em 11 de
setembro de 2001), fizeram a questão
do Oriente Médio ocupar um lugar de
destaque no noticiário internacional.
Esses grupos não apresentam
reivindicações homogêneas, mas, entre
as mais consensuais, está a criação de
um Estado palestino e, entre as mais
polêmicas, o estabelecimento de estados
islâmicos, regidos por leis religiosas,
em todos os países árabes e de maioria
muçulmana e na Península Ibérica, no
antigo território de Al-Andalus.
Ilan Brenman
clássica. O império Al-Andalus foi uma das épocas em que a Península Ibérica teve mais influência cultural. Sábios muçulmanos
dedicavam-se a traduzir textos helênicos e romanos em cidades
como Toledo, na Espanha, e tiveram papel importante para que
estes chegassem até os nossos dias.
No entanto, ao longo desses sete séculos, os reinos cristãos
da Europa nunca deixaram de combater os muçulmanos, travando com eles diversas batalhas nesse período que ficou conhecido como Reconquista (da qual também fizeram parte, de certo
modo, as cruzadas). Finalmente, em 1492, com a conquista de
Granada pelos Reis Católicos da Espanha, cai o último reino muçulmano da Península Ibérica.
Após a Reconquista, mesmo com o restabelecimento dos reinos cristãos, a herança deixada pelos povos muçulmanos (genética, linguística ou no âmbito da cultura humanística, entre
outras) na Europa não se apagou, constituindo uma contribuição
importante para o Ocidente.
ALÉM DA PÁGINA
O turbante da sabedoria e outras histórias de Nasrudin pode
ser trabalhado de diversas maneiras em sala de aula, aproveitando-se tanto da oralidade das narrativas, como do conhecimento
ingênuo, malicioso e popular do personagem.
Recolho de histórias
Num primeiro momento, o professor pode sugerir a formação de grupos para ler e interpretar algumas das narrativas do
livro, em sala de aula. Como exercício, os alunos poderão recolher na própria escola, ou em casa, com amigos e familiares,
histórias com respostas curiosas e espirituosas como as de Nasrudin. No entanto, é importante fazer o aluno entender que não
se trata somente de histórias engraçadas protagonizadas por um
personagem esperto, mas diz respeito a um conjunto de conhecimentos que questionam diversos aspectos de nossas vaidades,
inseguranças e veleidades cotidianas, além da própria ideia de
sabedoria como algo lógico, preciso, racional. Ao procurar histórias similares, o aluno poderá perceber que as atitudes e ideias
desconcertantes de Nasrudin são uma maneira de questionar o
modo como habitualmente funcionamos, sem jamais nos perguntarmos por isso.
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Atenção,
professor
As atividades propostas nesta seção
foram elaboradas tendo em vista
alunos com diferentes graus de
maturidade. Cabe a você, então, julgar,
entre as sugestões oferecidas, quais as
que mais se ajustam ao grupo com que
está trabalhando.
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Pesquisa sobre narrativas orais
Quanto à linguagem da narrativa, o professor pode iniciar em
sala de aula uma pesquisa sobre narrativa oral. Como os alunos
já terão recolhido histórias na escola e em casa, eles terão mais
condições de obter respostas interessantes sobre “o que é uma
narrativa oral”. E, a partir da experiência que acumularam, podem chegar a algumas conclusões próprias. O professor também
poderá indicar outras fontes de leitura e explicar que as narrativas orais são passadas de boca em boca, que normalmente têm a
finalidade de explicar as coisas do mundo, de transmitir ensinamentos, um saber cristalizado numa pequena história.
O Nasrudin brasileiro
Outra atividade é pensar sobre como seria o “Nasrudin brasileiro”. Sabendo que o personagem tem origem na tradição oral
do Oriente Médio e que, portanto, circula num cenário diferente
do que se tem no Brasil e interage com habitantes que também
não fazem parte do nosso dia-a-dia, cabe perguntar quais seriam
as peculiaridades do Nasrudin brasileiro. Por quais situações circularia, com quem conversaria, quais seriam seus interesses? É
um exercício que permite uma forma diferenciada de autoconsciência cultural, fazendo com que o aluno se dê conta das marcas
culturais presentes na história de Nasrudin ao mesmo tempo que
procura encontrar aquelas que caracterizam a cultura brasileira.
Criação literária
LIVROS e FILMES
Por último, os alunos podem ser convidados a escrever um texto usando o que pesquisaram, aproveitando-se da concisão dessas
histórias orais, como também do conhecimento que cada uma delas apresenta.
Livros e textos de apoio
Para o professor
•Said, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do
Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. (Edição
de bolso).
Em Orientalismo, o palestino-norte-americano Edward Said
mostra como o conceito de Oriente foi produzido pelos ocidentais para entender os povos situados a leste da Europa e
como esse conceito terminou por firmar estereótipos e preconceitos.
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•Carrière, Jean-Claude. O círculo dos mentirosos: contos filosóficos do mundo inteiro. Tradução: Cláudio Figueiredo.
São Paulo: Códex, 2004.
Nesta obra, o roteirista e escritor francês reúne relatos populares do mundo inteiro, que tratam de alguns assuntos,
desde as diversas versões da origem do mundo até o enigma
da morte. São 21 capítulos temáticos, com narrativas de vários povos e religiões.
•Calvino, Ítalo. Fábulas italianas. Tradução: Nilson Moulin.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
•Xidieh, Oswaldo Elias. Narrativas populares: estórias de
Nosso Senhor Jesus Cristo e mais Pedro andando pelo mundo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1993.
•Benjamin, Walter. O narrador. In: Magia e técnica, arte e
política (ensaios sobre literatura e história da cultura). São
Paulo: Brasiliense, 1985.
Para o aluno
•Farah, Paulo. ABC do mundo árabe. São Paulo: Edições
SM, 2006.
•Ocelot, Michel. Azur e Asmar. Tradução: Annita Costa Malufe. São Paulo: Edições SM, 2006.
•L’Homme, Erik. Contos de um reino perdido. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. São Paulo: Edições SM, 2006. (Coleção Cantos do mundo).
•Gendrin, Catherine. Volta ao mundo dos contos nas asas
de um pássaro. Tradução: Heitor Ferraz Mello. São Paulo:
Edições SM, 2007.
filmes
•Ocelot, Michel. As aventuras de Azur e Asmar [Azur et Asmar]. Bélgica, Itália, Espanha e França, 2005.
•Foster, Marc. O caçador de pipas [The kitte runer]. EUA,
2007.
•Satrapi, Marjane; Paronnaud, Vincent. Persépolis [Persepolis]. EUA e França, 2007. Desenho de animação.
Elaboração do guia Helder Garmes (professor
do Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas da USP) e Nina Basílio (jornalista
e editora); Preparação Heitor Ferraz Mello;
Revisão Carla Mello Moreira e Penelope Brito.
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