NEOPLASIA DE MAMA COM METÁSTASES ATÍPICAS PARA O COLO DO ÚTERO – RELATO DE UM CASO INCOMUM Autoria: José Barreto Couto Neto – Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande (FCM) Talita Borges Brito – Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande (FCM) E-mail: [email protected] RESUMO ESTENDIDO Introdução - A neoplasia de mama, em estágios mais avançados, pode disseminar suas células à distância. Chamamos metástase quando isso ocorre. Os sítios mais comumente acometidos por metástases nesse tipo de câncer são: linfonodos, ossos, pulmões e o fígado.A observação de um grupo de células advindas da neoplasia de mama no trato genital feminino é rara. Quando ocorre, com mais frequência acomete o endométrio ou os ovários. Relato do caso - LMDP, 38 anos, feminina, parda, professora, evangélica, em dezembro de 2007 referia nódulo em mama esquerda de aproximadamente 4 cm. Negava casos de câncer de mama na família, porém referia mãe falecida aos 37 anos por neoplasia de útero. A paciente foi submetida à biópsia, cujo resultado da lesão foi um quadro morfológico compatível com carcinoma invasivo, grau II histológico, associado a lesões nas margens cirúrgicas. Foi realizado na peça da biópsia, um painel imunohistoquímico evidenciando receptores de estrógeno e progesterona positivos, bem como antígeno KI – 67,proteína P53 e oncoproteína C-erb B2. A paciente iniciou quimioterapia neoadjuvante (quando é realizada antes da cirurgia) com medicação da classe dos antracíclicos. Em agosto de 2008, foi submetida àmastectomia radical, com margens cirúrgicas comprometidas pela neoplasia, além de ressecção linfonodalcom ausência de linfonodos acometidos pela doença. Em setembro de 2008 a paciente inicia o uso de Tamoxifen, uma medicação que faz bloqueio dos hormônios femininos, para que estes não supram as necessidades do tumor maligno dependente de hormônios. No mesmo mês foi submetida às sessões iniciais de radioterapia. Em acompanhamento clínico com a oncologista, foi notado aumento sequencial do marcador tumoral CA – 15.3, sem evidências de alterações nos exames de imagem. A pacientenaquele momentotinha queixas de dores abdominais e metrorragia, tendo sido avaliada pelo ginecologista que evidenciou ainda no exame físico, infiltração da vagina, colo do útero friável, espessado, de consistência firme e vascularização aumentada. A paciente foi submetida a um PET-CT com FDG [18F], um exame de imagens obtidas através da aquisição de tomografia por emissão de pósitrons em conjunto com tomografia computadorizada helicoidal, após injeção venosa de fluordesoxiglicose marcada com flúor-18 e com preparo oral prévio. Este exame evidenciou espessamento hipermetabólico do colo uterino de aspecto inespecífico. Interrogou-se a possibilidade de tecidos neoplásicos. Tendo em vista as hipóteses diagnósticas de um novo tumor na paciente, agora de colo do útero e a possibilidade de metástases da neoplasia mamária na cérviceuterina da mesma, os médicos optaram em realizar uma conização (um procedimento que retira parte do colo do útero da paciente). O exame anatomopatológico somado ao exame imunohistoquímico da peça anatômica mostrou tratar-se realmente de uma condição rara de metástase da mama localizado na cérvice uterina. A paciente foi tratada paliativamente com capecitabina e após 4 ciclos desse quimioterápico evoluiu com carcinomatose peritoneal; em segunda linha, recebeu gencitabina e cisplatina sem resposta ao tratamento, evoluindo com piora progressiva da performance statuse ao óbito em junho de 2010. Objetivo - Relatar a ocorrência de um caso raro de metástase mamária para a cérvice uterina acompanhado em um hospital de referência oncológica de Campina Grande. Metodologia - Para a realização do presente relato de caso foi utilizada a análise sistemática do prontuário da paciente referida, discussões com os médicos responsáveis pelo caso, além de correlação dos exames da paciente com o quadro clínico observado. Conclusão - O comprometimento metastático do colo uterino é uma condição rara, sendo um grupo de células advindo de carcinomas com histologia do tipo lobular da mama, situação pouco descrita na literatura. Embora poucos casos tenham sido evidenciados, percebe-se que a paciente foi adequadamente submetida a exames, procedimentos e tratamentos que estavam estabelecidos por consensos, de forma adequada e dentro dos padrões de tratamento. Porém os tumores de mama com metástase em colo uterino são agressivos e associados a um mau prognóstico. Nesse sentido, tendo como base a piora progressiva da performancestatusda paciente, o óbito foi a evolução natural da doença frente ao caso relatado. Palavras-chave: câncer de mama, metástase, colo do útero Referências Mazur MT, Hsueh S, Gersell DJ (1984) Metastasis to the female genital tract: analysis of 325 cases. Cancer 53:1978-1984. Onuma K, Dabbs D, Bhargava R (2008) Mammaglobinexpressionin the female endometrium.Int J GynecolPathol 27 (3): 418-425. Kumar NB, Hart WR (1982) Metastasis to the uterine corpus from extragenital cancers. A clinicopathologic study f 63 cases. Cancer 50:2163-2169. Le Bouedec G, Kauffmann P, De Latour M, Fondrinier E, Cure H, Dauplat J. Uterine metastasis of breast cancer. Report of 8 cases. J. GynecolObstBiolReprod 1991:20:34954. Adler LP, Crowe JP, al-Kaisi NK, Sunshine JL. Evaluation of breast masses and auxillary lymphnodes with [F-18] 2-deoxy-2-fluoro-D-glucose PET. Radiology 1993;187:743-50. Moon DH, Maddahi J, Silverman DH, Glapsy JA, Phelps ME, Hoh CK. Accuracy of whole-body fluorine-18-FDG PET for detection of current or metastatic breast carcinoma. J Nucl Med 1998:39:431-5. 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