Dissertação apresentada por Vinícius, ao Mestrado de

Propaganda
1
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
VINICIUS JOSÉ GOMES FORMIGA BARROS
AS NOVAS TENDÊNCIAS DA
ANESTESIOLOGIA EM UTI
JOÃO PESSOA
2011
2
VINICIUS JOSÉ GOMES FORMIGA BARROS
AS NOVAS TENDÊNCIAS DA
ANESTESIOLOGIA EM UTI
Dissertação apresentada por Vinícius, ao
Mestrado de Terapia Intensiva, promovido pela
Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientador: Dr. João Bezerra Junior
JOÃO PESSOA
2011
3
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA - SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
AVALIAÇÃO DE DISSERTAÇÃO
Comunicamos à Coordenação do Curso de Mestrado Profissionalizante em Terapia
Intensiva, que a dissertação de Vinícius José Gomes Formiga Barros, intitulada: As novas
tendências da anestesiologia em UTI, foi submetida à apreciação da Comissão Examinadora
composta pelos seguintes professores: (orientador), (examinador) e (examinador), no dia
____ de __________ de ______ .
A monografia foi __________________ pela Comissão Examinadora e obteve
nota ( ___________________ )
Reformulações sugeridas: Sim ( )
Não ( )
Atenciosamente,
__________________________________________
Dr. João bezerra Junior
Orientador
__________________________________________
Examinador
__________________________________________
Examinador
4
“À medida que aumenta o conhecimento sobre as células e a turbulência química em seu
interior, torna-se evidente que o aparente caos de nossos tecidos tem um forte propósito - a
sobrevivência”.
Sherwin B. Nuland
5
A minha esposa e filhos sempre juntos na minha caminhada.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, fonte de criação e sabedoria;
Aos meus familiares que sempre compreenderam a ausência durante os estudos;
Especialmente ao meu orientador pela paciência, dedicação, compreensão e brilhantismo em
suas orientações;
A todos os professores do curso pela competência e zelo na transmissão do conhecimento;
Aos amigos e colegas de curso, pela força e conselhos;
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Anestesia pelo éter........................................................................................... 15
Figura 2 – Consequências da dor.................................................................................... 16
Figura 3 – Anestesia Geral...........................................................................................
19
Figura 4 – Anestesia Geral inalatória.............................................................................. 20
Figura 5 – Anestesia Regional.......................................................................................... 20
Figura 6 – Anestesia Peridural........................................................................................ 21
Figura 7 – Agentes α2-agonistas...................................................................................... 28
Figura 8 - Agentes α2-agonistas adrenérgicos.................................................................35
Figura 9 – Unidade de Terapia Intensiva....................................................................... 37
Figura 10 – Drogas mais utilizadas na UTI.................................................................... 38
8
LISTA DE ABREVEATURAS
ACh - Acetilcolina
AINH - Anti-inflamatórios não hormonais
BMN - Bloqueadores neuromusculares
ED50 - European Datum 1950
EDTA - Ácido etilenodiamino tetra-acético
FC – Frequência Cardíaca
GABA - Ácido gama-aminobutírico
IAM - infarto do miocárdio
MAC - Sigla inglesa que traduz a mínima concentração alveolar que corresponde mais ou
menos à ED50 para os fármacos intravenosos
NMDA - N-metil-D-aspartato
NT - Neurotransmissor
PA – Pressão arterial
REM - Sono
UTI – Unidade de Terapia Intensiva
VM – Ventilação mecânica
9
Vinicius José Gomes Formiga, Barros. As novas tendências da anestesiologia em UTI.
2011. 42fls. Dissertação (Mestrado profissionalizante em Terapia Intensiva) – Sociedade
Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI, São Paulo.
RESUMO
A presente dissertação teve como objetivo apontar as novas tendências da anestesiologia em
UTI. Através da pesquisa bibliográfica, utilizando referências importantes como Manica,
Moritz, Terzi e Amaral entre outros, se discorreu sobre a história, conceito e evolução da
anestesia e se apontou os anestésicos atuais mais utilizados nos diferentes circunstâncias
relacionadas à dor. Desde a antiguidade a medicina vinha tentando combater a dor. Para tanto,
diversos meios foram testados para o seu alívio e hoje já se dispõe de diversos e diferentes
fármacos que tratam do quadro dolor em suas várias e distintas intensidades. No tratamento
da dor em UTI, os consensos para a sedoanalgesia indicam como fármacos sedativos o
midazolam e o propofol e como analgésicos os opióides. Nos últimos anos novos fármacos
têm sido adicionados a esse arsenal terapêutico, tais como a cetamina e a dexmedetomidina. O
fentanil é indicado para a analgesia em UTI, principalmente de pacientes instáveis
hemodinamicamente. Contudo, as melhoras do processo anestésico atualmente têm suas
raízes em diversos fatores: qualificação dos médicos anestesistas; avanços tecnológicos
aplicados na medicina, que disponibiliza aparelhos cada vez mais precisos de monitoramento
de funções vitais e instrumentos de aplicação; drogas mais seguras; melhor preparo dos
pacientes e, principalmente, a instituição da consulta pré-anestésica.
Palavras-Chave: Anestesiologia. Farmacologia. UTI.
10
Vinicius José Gomes Formiga, Barros. New trends in anesthesiology in the ICU. 2011.
42fls. Disertation (Mestrado profissionalizante em Terapia Intensiva) – Sociedade Brasileira
de Terapia Intensiva – SOBRATI, São Paulo.
ABSTRACT
This dissertation aimed to point out the new trends in anesthesiology in the ICU. Through
literature search, using references as important Manica, Moritz, Terzi and Amaral among
others, have talked about the history, concept and evolution of anesthesia and pointed to the
anesthetics commonly used today in different conditions related to pain. Since ancient
medicine had been trying to combat the pain. To this end, various means were tested for their
relief and today it has several different drugs that treat the painful in its various and different
intensities. In the treatment of pain in the ICU, the consensus to indicate how sedoanalgesia
sedative midazolam and propofol and opioids as analgesics. In recent years new drugs have
been added to the therapeutic armamentarium, such as ketamine and dexmedetomidine.
Fentanyl is indicated for analgesia in ICU, particularly in hemodynamically unstable patients.
However, the improvements of the anesthetic process today have their roots in several factors:
qualification of anesthesiologists; applied technological advances in medicine, equipment that
provides more accurate monitoring of vital functions and enforcement tools; safer drugs,
better preparation of patients, and especially the institution of pre-anesthetic.
Key-words: Anesthesiology. Pharmacology. ICU.
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................12
1.1 OBJETIVOS................................................................................................................. 13
1.2 MÉTODO DE ABORDAGEM..................................................................................... 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................. 15
2.1 A DOR E SEUS EFEITOS............................................................................................ 15
2.2 ANESTESIA: ASPECTOS CONCEITUAIS................................................................ 19
2.3 A MEDICINA ANTES E APÓS DA ANESTESIA..................................................... 22
2.4 IMPORTÂNCIA DA ANESTESIA PARA A MEDICINA......................................... 24
2.5 A ANESTESIOLOGIA ATUALMENTE..................................................................... 26
2.5.1 Sedação...................................................................................................................... 26
2.5.2 Analgesia.................................................................................................................... 29
2.5.3 Bloqueadores neuromusculates............................................................................... 36
2.6 A ANESTESIOLOGIA EM UTI.................................................................................. 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 41
REFERÊNCIAS................................................................................................................ 42
12
1 INTRODUÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é o local onde se concentra a maior tecnologia
dentro de um hospital e uma das áreas mais importantes em uma instituição de alta
complexidade. É responsável pela assistência a pacientes em fase crítica de sua doença, e em
decorrência de acidentes ou procedimentos como uma cirurgia de maior risco. Por essa razão
conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais da área de saúde, para prestarem
serviços intensivos conforme suas especialidades. Dentre esses serviços encontra-se a
anestesiologia, a qual tem como finalidade amenizar um dos processos mais desagradáveis do
paciente em UTI: a dor.
Na realidade a dor sempre foi e sempre será o maior algoz do homem e que as vêzes,
em um período mais remoto, acreditava ser um desígnio divino, um castigo, já que ele não
possuía recursos para combatê-la.
Desde a antiguidade a medicina tentou contornar a dor e diversos meios foram
testados para o seu alívio. Das primeiras experiências até os dias atuais, a evolução da
anestesiologia se deu de forma contínua e inovadora, onde novos anestésicos foram
descobertos e introduzidos na prática anestésica, sendo atualmente realizada por modernos
aparelhos e drogas sofisticadas, consolidando a anestesiologia como uma especialidade
médica imprescindível no âmbito hospitalar e especialmente na UTI.
Nessa perspectiva, a presente dissertação busca traçar uma linha do tempo na história e
evolução da anestesia, dentro do seu projeto de ser uma área específica da prática médica,
hoje a anestesiologia, colocando em evidência os primeiros passos da ciência médica no
combate a dor ao atual estágio em que se encontra e como atua para esse fim em um ambiente
de alta complexidade como é a UTI.
A relevância desse estudo está no fato de que a anestesia está entre as especialidades
médicas, para não dizer as ciências mundiais, que mais tem evoluído ao longo dos últimos
anos, buscando sempre aperfeiçoar as técnicas, tornar as drogas mais eficientes e, sobretudo,
assegurar ao paciente um combate e alívio à dor com menos risco e maior qualidade durante e
após o pós-operatório, principalmente quando o paciente se encontra na UTI, dependendo de
todo um conjunto de procedimento para sair do quadro de risco de morte.
13
1.1 OBJETIVOS
Geral: Apontar as novas tendências da anestesiologia em UTI.
Específicos:

Discorrer sobre a história da anestesia;

Descrever sobre a evolução do conceito de anestesia;

Apontar os anestésicos atuais mais utilizados nos diferentes circunstâncias
relacionadas à dor.
1.2 MÉTODO DE ABORDAGEM
De acordo com a natureza do trabalho de pesquisa desenvolvida, o método de
abordagem utilizado é o dedutivo.
Segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 25):
A dedução é o caminho das consequências, ou seja, do geral para o particular, leva à
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias e leis legais, pode-se chegar à
determinação ou previsão de fenômenos ou fato particular. O percurso da mesma fazse causa para o efeito.
Quanto aos procedimentos metodológicos, foi utilizado o método monográfico. De
acordo com Lakatos e Marconi (2001, p. 84), o método monográfico “consiste na observação
de determinados indivíduos, profissões, instituições, grupos ou comunidades, com a
finalidade de obter generalizações”.
Do ponto de vista dos procedimentos e objetivos da pesquisa, quanto ao objeto, foi
utilizada a pesquisa bibliográfica.
Segundo Lakatos e Marconi (2001), este tipo de pesquisa pode-se constituir em um
procedimento preparatório para a realização de outra pesquisa.
Assim, a pesquisa bibliográfica tem os seguintes objetivos:

Elaborar um trabalho acadêmico através da delimitação de um tema;
14

Proporcionar conhecimentos para a participação de eventos de caráter
científico;

Fornecer subsídios para a pesquisa de campo.
No processo de trajetória da pesquisa bibliográfica, foram executadas as seguintes
etapas:

Escolha do objeto da pesquisa;

Formulação do problema;

Identificação das fontes primárias e secundárias;

Pesquisa de obras;

Análise do material;

Redação do texto.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A DOR E SEUS EFEITOS
Desde a antiguidade a medicina vinha tentando combater a dor. Para tanto, diversos
meios foram testados para o seu alívio, como beberagens de várias plantas, o álcool. Porém
constantemente com essas tentativas de combater a dor os profissionais da medicina eram
barrados pela população, pela igreja como sendo um herege. Um médico inglês pelo ano de
1700 e pouco conseguiu fazer uma operação sem dor com o paciente inalando éter. Esse
médico quase foi morto pela população da cidade quando se descobriu sobre o que ele estava
fazendo.
Quando nos Estados Unidos da América Tomas Grimm Moer descobriu a anestesia
pelo éter e demonstrou na escola de medicina de Massachuster, foi uma inovação. Imaginam
como era a medicina só podendo realizar amputação, abertura de abscesso e retirada de um
corpo estranho sem anestesia. Era feito com indivíduos amarrados, às outras operações nem
pensar. Até então a cirurgia tinha como obstáculo à dor. Nessa demonstração de Tomas uma
cirurgia foi realizada com a retirada de um tumor no pescoço do paciente (Figura 1). O
paciente atingiu o plano de anestesia com o éter e posteriormente recuperou os sentidos.
Como o éter tem uma analgesia longa o doente retorna os sentidos, mas ainda continua
analgesiado (COLLINS, 19179).
Figura 1 – Anestesia pelo éter
16
Enquanto os americanos desenvolviam a anestesia pelo éter, os europeus
desenvolviam pelo clorofórmio e assim foi pro um longo tempo. Mas a cirurgia evoluiu tanto
que a anestesiologia se tornou especialidade médica.
A primeira anestesia realizada no Brasil foi com éter, em 1847, no Hospital Militar do
Rio de Janeiro pelo médico Roberto Jorge Haddock Lobo. A anestesia com o clorofórmio
chegaria ao Brasil no ano seguinte, em 1848, sendo realizada na Santa Casa de Misericórdia
do Rio de Janeiro, pelo médico Manuel Feliciano Pereira de Carvalho. A anestesia para aliviar
a dor durante os procedimentos invasivos continuava a ser um tema que despertava o interesse
dos médicos até bem depois disso (GUÉRIOS, 2004).
O estudo da dor de 1960 para cá foi que realmente a medicina começou a compreender
os mecanismos da dor e começou a ver a importância. Muita das vezes se opera um indivíduo,
terminada a operação, terminada a anestesia o paciente fica num pós-operatório durante dias
sentindo fortes dores.
Sobre a dor sabe-se que esta se apresenta de dois tipos: aguda e crônica, mas são
completamente diferentes, mas ambas levando a um grande sofrimento, com consequências
(Figura 2) que pode levar a morte (TEIXEIRA, 1994).
Figura 2 – Consequências da dor
A dor aguda é aquela que tem como consequência um traumatismo imediato, uma
pancada, uma queimadura, um corte. Já a dor crônica é aquela que se instala lentamente e vai
cronificando; é uma dor que dura mais de duas semanas.
17
Define-se então a dor como sendo uma sensação desagradável pela conscientização de
uma agressão tissular. Por exemplo, quando se encosta um cigarro no pé provoca uma lesão
tissular pela queimadura isso desencadeia um influxo nervoso e quando a consciência tomar
ciência daquela agressão sente-se a dor. Se não se está consciente, se o indivíduo está em
coma profundo ele não sente a dor, e não conscientiza aquele estímulo então ele não sente
aquela dor. Então, é preciso que ocorra um estímulo nóxio (do latim quer dizer nocivo) para
agredir o tecido, nesse tecido existem receptores de fibras sensitivas que são chamados
transceptores nociceptivos. Então tem o agente nóxio que pode ser queimadura, trauma,
químico, mas podem ser também e principalmente agentes elaborados pelo próprio tecido que
foi agredido.
Surge aqui uma cadeia de reações que constituem o que se chama de inflamação; pela
liberação de prostaglandinas, bradicininas. Uma vez ativada a fibra nervosa duas classes de
fibras são muito importantes na transmissão da dor. São as fibras chamadas a-delta e a fibra
C, elas são responsáveis por estes estímulos que vão desencadear a dor. Essas fibras agora
caminham pelo nervo vão até o gânglio dorsal que existe junto à medula. Por exemplo, a fibra
que inerva o casco de uma girafa ela vai desde ali do casco sobe pela perna da girafa e o corpo
do neurônio está lá em cima perto da espinha do animal. Então junto da espinha tem um
gânglio vertebral posterior desse gânglio sai um prolongamento aferente que vai ao corno
posterior da medula. No corno posterior, essa fibra vai fazer conexão com neurônios
internunciais que se distribuem no corno posterior, formando varias conexões entre si
chamado de lâminas. Então essas lâminas são designadas pelas letras romanas I, II, III, IV
entre outros; mas as lâminas envolvidas no processo de transmissão da dor são as lâminas I, II
e V (MANICA, 2004).
Daqui partem conexões que podem ter vários destinos, ou elas passam ao lado
contrário, ou elas seguem para o corno anterior. O anterior da medula que é chamado corno
motor é o corno sensitivo (posterior). Nesse “motor” a medula faz conexão com um outro
neurônio e agora vai permitir a fibra que vai aos músculos da região agredida. Então mesmo
que se corte a medula e ocorra uma queimadura no pé do animal forma-se um arco reflexo
que vem via posterior e esse impulso passa direto dessas lâminas ao corno anterior e provoca
uma contratura.
As fibras que passam pela comissura anterior e chegam a uma estrutura lateral vai
constituir o feixe espino-talâmico. Então os feixes espino-talâmico sobem pela parte contraria
da medula e vão às direções ao encéfalo, vão às direções ao sistema reticular fazendo várias
18
conexões que vão terminar no córtex sensitiva do lado oposto. Surge então à conscientização
daquela agressão, a conscientização da intensidade da agressão, a localização da agressão.
O organismo precisa da dor como um sinal de alerta e ela é muito importante para a
sobrevivência. Mas também não precisa que a dor se transforme num desconforto extremo, a
dor tem que funcionar só como um sinal de alerta (TEIXEIRA, 1994).
O organismo possui mecanismos de moderação dessa dor, então o cérebro produz
substancias que funcionem como verdadeiros analgésicos são as endorfinas. Então o próprio
cérebro produz seu analgésico; próprio analgésico que são as endorfinas e mediante reflexo
em cursos descendentes impulsos descendentes vão até a medula e criam barreiras, vão criar
modulação aos influxos que estão subindo pelo feixe espino-talâmico. Então uma série de
reações química bloqueia os receptores dos transmissores nervosos a nível medular a fim de
que um mínimo possível de impulsos dolorosos passe. O corpo, ele próprio, toma
providencias para que a dor não seja tão violenta. Para tanto, hoje se tem substâncias que
atuam em diversos locais bloqueando todos esses mecanismos citados (MORGAN,
MURRAY, MIKHAIL, 2010).
Nas superfícies das células existem receptores sensíveis aos neurotransmissores e as
fibras nervosas que transmitem o impulso. Tem também suas vesículas armazenadoras de
neurotransmissoras. Assim, foi possível encontrar substâncias que bloqueiam esses receptores
pós-sinápticos e não deixam o neuroreceptor ativar o neurônio pós-sinápticos impedindo que
o impulso nervoso passe ali. Dessa forma, foram descobertas substâncias que bloqueiam esses
mecanismos pré-sinápticos e impedem a liberação do NT. Através desses mecanismos pré e
pós sinápticos pode-se manter o paciente sem dor. Com essa evolução se permitiu dividir a
anestesia em 2 classes, aquela anestesia que bloqueia a transmissão até o neuro eixo,
bloqueando a condução e a anestesia que bloqueia a conscientização da dor. Quando se
bloqueia a transmissão do influxo nóxio está se realizando uma anestesia do tipo condutiva,
ou anestesia de bloqueio. Assim, a anestesia pode ser de 2 tipos, ou condutiva quando ela
impede influxo nervoso de caminhar pelas vias sensitivas e não deixa esse influxo chegar ao
cérebro é anestesia condutiva ou de bloqueio. A outra forma de anestesia é a anestesia geral
que também é chamada de narcose. Na condutiva o paciente não perde a consciência, mas não
sente dor (GUÉRIOS, 2006).
A diferença entre dormir e a narcose é que no dormir tem só inconsciência, já a
narcose tem o dormir mais a analgesia, é um plano mais profundo. Caso o paciente não esteja
em estado de analgesia o seu corpo mesmo que esteja dormindo vai perceber a reação
respondendo com a atividade adrenérgica, causando taquicardia, sudorese, aumento da
19
frequência cardíaca entre outros. A liberação das catecolaminas pelo sistema adrenérgico é
que prepara os seres para lutar ou fugir. Por isso as catecolaminas dilatam os brônquios,
mobilizam o glicogênio hepático e aumenta o nível de glicose no sangue para fornecer energia
para os músculos, aumenta o fluxo sanguíneo nas artérias da musculatura estriada, promove
constrição das artérias da pele para direcionar o sangue para o centro. A dor é uma das
grandes mobilizadoras do sistema adrenérgico.
Anestesia condutiva ou de bloqueio eu bloqueio às vias que conduzem o impulso
doloroso e a geral ou narcose promove a inconsciência e leva essa inconsciência a um plano
profundo chamado analgesia (MANICA, 2004).
2.2 ANESTESIA: ASPECTOS CONCEITUAIS
A anestesia é uma droga que suprime a dor e outras sensações, podendo ser efetuada
de três formas distintas: geral, regional e local (GUÉRIOS, 2006).
Na anestesia geral a administração de medicamentos mantém o paciente inconsciente,
sem dor e imóvel durante todo o procedimento (Figura 2).
Figura 3 – Anestesia Geral
Está indicada para cirurgias do abdome, tórax, cabeça, pescoço, cirurgias neurológicas
e cardíacas. Cirurgias em crianças são realizadas, normalmente com anestesia geral para
20
evitar movimentação brusca durante os procedimentos. A anestesia geral pode ser aplicada
por via venosa, inalatória (Figura 4) ou ambas (EBERT, SCHIMID III, 2004).
Figura 3 – Anestesia Geral inalatória
Figura 4 – Anestesia Geral inalatória
Anestesia regional é realizada com a administração de medicamentos em apenas
algumas áreas do corpo (Figura 5).
Anestesia Regional
Figura 5 – Anestesia Regional
21
Este tipo de anestesia inclui:
a) Anestesia Raquidiana: Realizada com anestesia local, nas costas, com deposição do
anestésico no líquor. O paciente fica com os membros inferiores e parte do abdome
completamente anestesiados e imóveis.
b) Anestesia Peridural: Realizada pela adição de anestésicos locais nas costas
próximos aos nervos que transmitem a sensibilidade dolorosa (Figura 6). Neste caso é
possível se realizar o bloqueio de apenas algumas raízes nervosas.
Figura 6 – Anestesia Peridural
c) Bloqueios de nervos periféricos: Este tipo de anestesia o anestésico é administrado
apenas ao redor dos nervos que inervam o local da cirurgia. Por exemplo, cirurgias sobre um
dedo da mão podem ser realizadas com bloqueios dos nervos que inervam a mão.
d) Anestesia local: Realizada com a infiltração do anestésico em uma determinada área
do corpo, sem que ocorra bloqueio de um nervo específico. A anestesia limita-se à área
infiltrada, por exemplo: cirurgias plásticas e dermatológicas, extração de corpo estranho
superficial, cirurgias odontológicas. Atuando nas sinapses do sistema nervoso, as anestesias
22
impedem a transmissão de impulsos nervosos entre neurônios, causando, portanto, a perda
temporária dos sentidos na área desejada.
Ressalta-se que o sistema nervoso humano possui cerca de100 bilhões de neurônios,
células altamente excitáveis, responsáveis pelas respostas a estímulos. As complexas funções
do sistema nervoso ocorrem por meio das interações entre os prolongamentos dessas células.
Portanto, inibir essas interações é impedir com que informações cheguem ao cérebro e
consequentemente que exista qualquer tipo de dor (MILLER, 2005).
Existem três tipos de neurônios: sensitivo, que conduz impulsos do órgão receptor
para a medula ou para o encéfalo, motor, que conduz impulsos da medula ou do encéfalo para
os músculos ou glândulas, e o misto, que conduz impulsos nervosos em ambos os sentidos.
Os anestésicos agem deprimindo a comunicação neuronal atuando principalmente os
neurônios sensitivos. Isso se dá em parte pela amplificação dos efeitos do neurotransmissor
GABA, uma molécula de sinalização que inibe a excitação das células nervosas. Por ser um
neurotransmissor inibitório, ele ajuda a manter o equilíbrio geral do sistema nervoso,
deprimindo a capacidade dos neurônios de responder a mensagens excitatórias de outras
células. O GABA age respondendo a um impulso elétrico na membrana de um neurônio
provoca sua liberação na sinapse, ligando-se aos receptores do neurônio pós-sináptico e
abrindo canais iônicos. Isso gera uma hiperpolarização da membrana celular, inibindo a
geração de impulso elétrico. O anestésico é responsável pelo prolongamento da abertura
desses canais, prolongando assim a inibição nervo-sensitória. Por desempenhar um papel
central nas ações dos anestésicos, os GABA é o foco de diversas pesquisas atuais que se
concentram no modo de interação dos fármacos com os receptores GABA celulares no
bloqueio da atividade neural (MANICA, 2004).
2.3 A MEDICINA ANTES E APÓS DA ANESTESIA
Procedimentos cirúrgicos eram raramente realizados antes do advento da anestesia
eficaz. De 1821 até 1846 o Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, registrou somente
333 cirurgias; menos de um caso por mês. Tais procedimentos invasivos eram somente
considerados em situações extremas, já que sem anestesia os pacientes sofriam de dores
excruciantes durante e depois da cirurgia. Um físico de Boston comparou os gritos dos
pacientes operados ao sofrimento dos perseguidos pela Inquisição Espanhola: berros
desesperados que não saíram da sua memória mesmo vários anos após suas participações nas
23
cirurgias. Sabe-se que na Antiguidade procedimentos cirúrgicos eram realizados devido a
instrumentos e outras evidências encontradas (COLLINS, 1979). Portanto, pode-se imaginar
que civilizações antigas já haviam desenvolvido técnicas para amenizar a dor.
Há relatos de que na Grécia Antiga Hipócrates fazia uso de substâncias sedativas e
analgésicas provenientes do tubérculo mandrágora embebidas em uma esponja soporífera para
poder realizar suas operações, técnica desenvolvida pelo médico Dioscórides. A compressão
da carótida para impedir que o sangue chegasse ao cérebro foi uma técnica utilizada pelos
Assírios, enquanto nas Américas, a mastigação da folha da coca era o principal anestésico
usado pelos Incas e Maias. Os chineses foram os que chegaram mais perto da tão esperada
insensibilidade total, utilizando a milenar e eficiente acupuntura. Estas foram todas técnicas
desenvolvidas para que procedimentos cirúrgicos pudessem ser realizados com pacientes mais
calmos e com menos dor, mas não visavam maior precisão e cuidado por parte dos médicos
de então.
As plantas medicinais mencionadas e outras como beladona e marijuana não foram tão
bem aceitas pelos povos que surgiram e evoluíram: estas não eram completamente confiáveis
por serem difíceis de serem administradas. Fallopius, um anatomista e cirurgião italiano dos
anos 1500, descreveu o uso das plantas como delicado, jáque quando eram fracas eram inúteis
e quando eram fortes acabavam matando o paciente. Além disso, o uso de ervas ou outros
compostos para amenizar a dor era interpretado pela Igreja como magia ou bruxaria,
resultando em punição de seus usuários e retardando a sua exploração na cultura ocidental.
Mesmo que estas fossem as principais ferramentas analgésicas dos povos antigos, seu
uso só levou a uma procura maior de outros modos de atingir a analgesia. Com maior
desenvoltura cognitiva, médicos, cientistas, pesquisadores e até pessoas comuns começaram a
desenvolver e testar novos métodos. Também arcaicos, os procedimentos também eram
perigosos, e iam de socos na mandíbula para deixar o paciente inconsciente até o uso do gelo
ou neve para congelar a região a ser operada. Esta podia causar necrose dos tecidos e aquele,
perda de dentes, sérios edemas, e até deslocamento da mandíbula. Algumas culturas também
fizeram o uso de hipnose para atingir um estado psicológico de anestesia ou distrações com
agulhas em uma parte do corpo que não estava sendo operada. A religião era muitas vezes
fonte de força para aguentar a dor. Aos olhos do cristianismo, por exemplo, o sofrimento era
visto como uma punição de Deus para os maus e como purificador da alma para os bons.
Como as plantas e substâncias naturais eram proibidas, os doentes tinham que ser
amarrados, segurados à força e amordaçados durante as grandes cirurgias da época, como
amputações, tamanha era a dor que a fé sozinha não conseguia driblar. Entretanto, aos poucos,
24
substâncias e fórmulas foram sendo descobertas e testadas secretamente, abrindo espaço para
o começo da procura pela anestesia perfeita. Dentre todas as técnicas usadas, de plantas
alucinógenas ao uso da violência, o álcool e ópio foram considerados os mais eficientes em
diminuir a dor durante os procedimentos. Usados com maior frequência a partir de 1846
devido a um maior conhecimento químico, o álcool e ópio tinham também consequências
negativas. A grande quantidade de álcool necessária para fazer com que os doentes atingissem
o estado de insensibilidade fazia com que o paciente tivesse enjoos, vomitasse e muitas vezes
o levava a morte em vez de ao sono. O ópio também tinha muitos efeitos negativos e não era
forte o suficiente para evitar por completo a dor causada pelos procedimentos ainda
rudimentares (COLLINS, 1979).
A curta duração dos anestésicos descritos dificultava o trabalho dos cirurgiões, que
tinham poucas ferramentas e técnicas para as cirurgias mais complexas, fazendo com que
muitas vezes o efeito da anestesia passasse e a reação do paciente fosse muito pior. Por conta
disso, os procedimentos médicos tinham que ser realizados em um curto tempo, e acabavam
sendo pouco invasivos e precisos. A falta da anestesia eficaz era um empecilho ao
desenvolvimento cirúrgico, que resultava em mais morte do que soluções de problemas.
2.4 IMPORTÂNCIA DA ANESTESIA PARA A MEDICINA
O advento da anestesia inaugurou uma nova era na Medicina, permitindo que as
cirurgias e outros procedimentos invasivos passassem a ser realizados sem dor e sem pressa o
que garantiu melhores prognósticos. Só desenvolvimento da anestesia mudou drasticamente o
rumo da medicina, mas em retrospecto não exatamente na velocidade em que se esperava.
Analisando sob o ponto de vista atual, esperava-se que logo após a demonstração de 1846 as
cirurgias se tornassem mais intrusivas, aprofundadas e elaboradas do que as até então
praticadas, como amputações e punções de tórax. Porém, apesar da evolução técnica,
necessitou-se ainda ultrapassar uma barreira ideológica: a concepção da época de que a
cirurgia servia para retirar a fonte do distúrbio, ao contrario da atual, que se baseia no reparo e
restituição das condições fisiológicas e anatômicas preexistentes.
A maior inovação do anestésico se deu após a Segunda Guerra Mundial, quando
médicos e anestesistas que retornaram desse ambiente em que traumatismos e dores eram uma
constante, se dedicaram a criar e aperfeiçoar métodos mais seguros e efetivos de se
25
administrar anestesia. À medida que a prática foi se alastrando, duas grandes mudanças
ocorreram na prática médica: a primeira foi a Instituição do Médico Anestesiologista. A
administração do éter é de tamanha facilidade que era feita, em sua maioria, por enfermeiras.
O avanço tecnológico e a busca por cirurgias mais seguras levaram médicos a se
especializarem em Anestesiologia, o que por sua vez beneficiou a prática, visto que seus
Conselhos promoviam a pesquisa e a educação. Dessa organização surgiram profissionais
cada vez mais competentes, resultando em índices crescentes de sucesso cirúrgico.
A segunda mudança, decorrente da primeira, está ligada a crescente popularidade das
cirurgias facultativas, em especial as estéticas. Ao escolher operar algo que não oferece
malefícios biológicos, o risco de vida é, para muitos, um fator decisivo. Dessa forma, o medo
da anestesia freou por anos muitos de realizar cirurgias de mama, rinoplastias, liftingsfaciais
entre outras. A anestesia geral, que provoca medo em muitos de ir dormir e não acordar, se
torna cada vez mais segura. Drogas mais precisas, com tempo de ação mais previsível e com
menos efeitos colaterais, beneficiaram mais ainda esta expansão. Para os que ainda a temem, a
anestesia local ou peridural é realizada em muitos dos procedimentos, sob escolha do médico
e do paciente (MORGAN, MURRAY, MIKHAIL, 2010).
As melhorias acarretadas pelo desenvolvimento de tais drogas tornou-as fundamentais
para a medicina, criando uma nova área: a anestesiologia. O dever do médico anestesiologista
vai além de aplicar a anestesia no paciente; consiste também em vigiar suas funções vitais
para garantir que estas sejam mantidas em níveis normalizados. Como esse equilíbrio é
fundamental para o sucesso do procedimento cirúrgico, cabe a esse profissional restabelecê-lo
caso essas funções sejam alteradas, sendo também responsável pela hidratação do paciente e,
pela indicação e realização de transfusões sanguíneas Com isso, a evolução da medicina após
o advento da anestesia torna-se perceptível, o que resultou não só numa maior segurança e
conforto para os pacientes, como também ampliou a possibilidade de intervenções cirúrgicas
mais complexas. Muitas cirurgias abdominais e faciais, por exemplo, eram antes inviáveis,
devido à morte por hemorragia ou dor. O médico anestesiologista ganhou papel vital em
cirurgias onde atua não só no período intra-operatório, bem como nos períodos pré e pósoperatórios, acompanhando o paciente nos serviços de recuperação pós-Anestésica na UTI
para a realização de cuidados paliativos ((MANICA, 2004).
26
2.5 A ANESTESIOLOGIA ATUALMENTE
Hoje em dia estão disponíveis uma série de fármacos com indicação principal para a
anestesia. Os barbitúricos foram introduzidos durante a primeira metade do século passado,
representado um passo importante na evolução da anestesia geral. Pela injeção intravenosa
desses agentes obtém-se uma indução rápida. Alguns anos mais tarde foi introduzido o
primeiro anestésico halogenado inalado “Halotano”. Este foi outro grande marco na história
da anestesia geral moderna. Um vapor, não explosivo, muito potente com um perfil clínico
bastante aceitável ficou disponível. Com concentrações aproximadas de 1 % v/v a maioria dos
doentes revelam um estado de anestesia bastante aceitável para um procedimento cirúrgico.
Depois do Halotano seguiu-se uma série de outros anestésicos halogenados inalados:
Enflurano; Isoflurano e mais recentemente o Desflurano e Sevoflurano. Todos estes vapores
são bastante eficazes e seguros. No entanto, a potência destes vapores varia. A potência
clínica foi criada em meados dos anos sessenta, pelo professor Ed Eger II, sob o conceito de
MAC. MAC é uma sigla inglesa que traduz a mínima concentração alveolar que corresponde
mais ou menos à ED50 para os fármacos intravenosos. A Mac representa a concentração de
gás necessária para criar um estado de anestesia, sem movimento ou qualquer outro sinal de
anestesia insuficiente em 50 % da população (RANG, DALE, 2007).
Durante a segunda metade do século XX também foram introduzidos vários
analgésicos potentes e seguros. Um dos primeiro foi o Fentanil, um opióide muito potente
para administração intravenosa durante a anestesia. Seguiram-se outros opióides sintéticos ou
semi-sintéticos para utilização na anestesia ou no pós-operatório.
Juntamente com a evolução ao nível da terapia farmacológica também o conhecimento
da fisiologia e fitopatologia associada ao trauma cresceu. Todos estes passos são marcos
importante para a evolução de uma anestesia moderna cada vez mais segura e eficaz, como se
pode ver a seguir.
2.5.1 Sedação
No que diz respeito aos sedativos antigos o midazolam e o propofol, que foram
introduzidos na prática clínica a partir de 1980, permanecem como os fármacos mais
conhecidos e estudados para a sedação de pacientes internados em estudos comparativos entre
27
o midazolam e o propofol mostraram que ambos causam sedação efetiva. O midazolam causa
maior estabilidade hemodinâmica enquanto o propofol proporciona uma extubação mais
rápida dos pacientes. Esse fármaco causa maior incidência de hipotensão e acarreta maior
custo financeiro ao tratamento. Não foi constatada diferença entre o tempo de internação na
UTI dos pacientes que recebem midazolam ou propofol. Têm sido relatadas desvantagens
com a utilização prolongada do propofol nesses pacientes. Ressaltam-se as complicações
inerentes ao uso prolongado de soluções lipídicas, como hipertrigliceridemia e o depósito de
lipídios nos pulmões, fígado e outros órgãos. Em pacientes com insuficiência renal não há
alteração importante na farmacocinética do propofol. A administração desse fármaco pode
estar associada a um maior risco de infecção. Entretanto, não são descritas evidências clínicas
relevantes de complicações infecciosas associadas à sua administração em UTI, desde que os
cuidados assépticos sejam seguidos. Existem relatos na literatura de que a adição do EDTA ao
propofol poderá levar a um menor risco de infecção associado a um menor índice de
mortalidade por inibição da formação de radicais livres, inibição do influxo de cálcio com
consequente diminuição da apoptose e morte celular (WHITE, 1997).
Na tentativa de diminuir os riscos de hipertrigliceridemia em decorrência da
administração de propofol a 1% foi disponibilizado no mercado o propofol a 2%. Estudos que
avaliaram a efetividade dessa nova formulação mostraram que pacientes que receberam
propofol a 2% embora tenham apresentado menos frequentemente hipertrigliceridemia,
necessitaram de maior dose desse fármaco, o que foi responsável por um maior custo
financeiro do tratamento. Nos últimos anos tem sido descrito que a administração de altas
doses de propofol (≥ 5mg/kg/h), por tempo maior que 48 horas pode estar associada à falência
cardíaca, rabdomiólise, acidose metabólica grave e insuficiência renal. Esse quadro é
conhecido como Síndrome da Infusão do Propofol e está associado ao impedimento da
utilização dos ácidos graxos e da atividade mitocondrial, com consequente necrose muscular.
Vender e col.(apud CHENG, 2006) publicaram uma revisão através da MedLine, de
janeiro de 1996 a junho de 2003 e concluíram que não existe um sedativo ou analgésico
preferencial para ser administrado em pacientes submetidos a ventilação mecânica (grau C) e
que o propofol promove rápido despertar quando comparado ao midazolam, principalmente
nos pacientes sedados por um período prolongado (> 3 dias). Esta metanálise cita outros dois
fármacos sedativos: a dexmedetomidina e o etomidato (CHENG, 2006).
O etomidato, agente anestésico não barbitúrico, derivado do imidazol, foi descrito
como agente ideal para sedação em pacientes sob ventilação mecânica, por não exercer efeitos
apreciáveis sobre a função circulatória. Estudos posteriores mostraram que o emprego
28
prolongado dessa droga condicionava aumento da mortalidade nos pacientes internados em
UTI, associada a baixos níveis plasmáticos de cortisol. Por esse motivo sua utilização em
UTI, em longo prazo, foi desaconselhada. O etomidato pode ser utilizado para procedimentos
de curta duração, principalmente em pacientes hipotensos (CHENG, 2006)..
Mais recentes são a clonidina e a dexmedetomidina são agentes α2-agonistas cuja
principal ação sedativa e analgésica é através da inibição da liberação da noradrenalina. As
principais vias noradrenérgicas originam-se no locus coeruleus e a ativação dos receptores α2
dessa área produz supressão de sua atividade, resultando em aumento da atividade do GABA.
Esses fármacos também apresentam papel importante na modulação da dor inibindo a
condução nervosa através das fibras A δ e C. A clonidina, utilizada na prática clínica há mais
de 20 anos, apresenta uma seletividade de 200/1 entre os receptores α2 e α1, enquanto a
dexmedetomidina tem cerca de oito vezes mais afinidade pelos α2-adrenoceptores do que a
clonidina (Figura 7).
Alpha-2 Agonistas
H
Cl
N
N
N
Cl
H
CH3
N
CH3
CH3
Clonidina
Dexmedetomidina
N
Figura 7 – Agentes α2-agonistas
Embora seja pouco estudado o uso da clonidina como coadjuvante da sedoanalgesia no
paciente crítico, a sua administração em concomitância com os benzodiazepínicos, com o
propofol ou com os opióides, pode prevenir tanto a tolerância a essas drogas, quanto os sinais
e sintomas de abstinência quando eles forem retirados.
29
A administração da dexmedetomidina em pacientes internados em UTI deve ser mais
bem estudada. A rápida administração desse fármaco pode levar a hipertensão, embora seja
mais comum que possa causar bradicardia e hipotensão, principalmente após a sua utilização
por um tempo prolongado, particularmente em pacientes hipovolêmicos. Existem evidências
de que a dexmedetomidina possa ser uma excelente droga para a sedoanalgesia em situações
específicas de pacientes internados em UTI tais como o desmame da ventilação mecânica.
Embora a cetamina não seja identificada como uma droga frequentemente utilizada
para a sedoanalgesia em UTI existem circunstâncias onde a sua administração seria
preferencial. Esse fármaco promove uma anestesia dissociativa e possui efeitos analgésicos
excelentes. Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio competitivo na ativação dos
receptores excitatórios N-metil-D-aspartato (NMDA), cujo ligante endógeno é o glutamato.
Por causar a inibição da recaptação da noradrenalina, sua utilização pode ser indicada para
pacientes com instabilidade hemodinâmica, com ou sem broncoespasmo, já que promove
relaxamento da musculatura lisa e antagonismo ao efeito espasmogênico da histamina. Pode
levar a alucinações e delírio devendo sua administração estar associada a um
benzodiazepínico ou ao propofol. O isômero da cetamina poderia ser de utilidade para a
sedoanalgesia de pacientes em estado crítico, hipotensos ou com broncoespasmo importante,
por ter maior potência analgésica e por causar menos efeitos psicodélicos. Estudos recentes
mostraram que a cetamina, associada ao midazolam, pode ser uma opção terapêutica para o
controle da pressão intracraniana e da pressão de perfusão encefálica em pacientes com
traumatismo cranioencefálico submetidos à ventilação mecânica (RANG, DALE, 2007).
2.5.2 Analgesia
Analgesia é definida como atenuação ou ausência de sensação dolorosa.
Paradoxalmente é frequente no âmbito hospitalar, a abordagem inadequada dos quadros
álgicos, ignorando-se muitas vezes que todo paciente tem o direito à analgesia e ao manuseio
adequado da dor (TERZI AMARAL, 1996).
Os principais fármacos utilizados para analgesia de pacientes graves:
- Opióides - Esses fármacos têm propriedades semelhantes às do ópio e agem em
receptores específicos (Mu, Kappa, Delta e Sigma) no cérebro e na medula. Dentre os
opióides a morfina é a mais utilizada para o controle da dor severa de pacientes vítimas de
30
doenças crônicas ou agudas. O fentanil é o mais utilizado para a analgesia contínua em UTI. E
dentre os opióides estão:
- Morfina: isolada em 1806 e é considerada como fármaco padrão dos opióides.
 Vantagens: promove analgesia adequada como agente único, com pico de ação entre
45 e 90 minutos. Age por cerca de 4 horas após dose in bolus. Tem baixo custo financeiro.
Indicação: analgesia de pacientes com dor moderada a intensa, sem instabilidade
hemodinâmica e sem broncopatias. Causa diminuição do retorno venoso no edema pulmonar
cardiogênico.
 Contra-indicações: pacientes com instabilidade hemodinâmica, hipovolemia, asma
brônquica e bronquite crônica.
 Dose de ataque 5 a 10 mg/kg IV ou SC
 Dose de manutenção: 5 a 10 mg IV ou SC cada 4 a 6 horas
 Efeitos colaterais e desvantagens: devido à indução de liberação de histamina, há o
risco de broncoespasmo, hipotensão severa, prurido, sedação prolongada em pacientes com
insuficiência renal, íleo adinâmico, vômitos, retenção urinária e depressão respiratória.
Pacientes com insuficiência hepática podem não ter problemas com hipersedação graças a
sítios extra-hepáticos de metabolização da morfina. O espasmo de esfíncter de Oddi é menos
frequente com o uso de morfina.
- Fentanil: um opióide sintético cerca de 100 vezes mais potente que a morfina.
 Vantagens: é muito lipo solúvel e, portanto cruza a barreira hemato-encefálica com
muita rapidez, proporcionando um rápido início de ação (30 seg). Não induz a liberação de
histamina podendo ser utilizado em pacientes com instabilidade hemodinâmica e
broncoespasmo. Indicação: analgesia potente dos pacientes gravemente enfermos, com
instabilidade hemodinâmica.
 Dose de ataque: 0,5 a 1,5 g/kg
 Dose de manutenção: 0,5 a 3 g/kg/hora. Estas doses devem ser tituladas conforme a
resposta clínica.
 Concentração comumente utilizada: 50 ml de fentanil+200ml de SG: iniciar 
0.1ml/kg/h
 Efeitos colaterais e desvantagens: Hipotensão, que pode ocorrer em pacientes
hipovolêmicos não por depressão miocárdica ou vasodilatação provocada pela droga, mas
pela interrupção da resposta adrenérgica provocada pela dor. Bradicardia, por depressão direta
do nó sinusal e da condução átrio-ventricular. Tolerância pelo uso prolongado. Outros efeitos
31
indesejáveis são: sedação prolongada em pacientes com insuficiência hepática, íleo
adinâmico, vômitos, espasmo do esfíncter de Oddi (3%), elevação da pressão das vias biliares
(99%), retenção urinária, depressão respiratória e rigidez da musculatura torácica quando
administrado, em altas doses e in bolus. Ressalta-se que a depressão respiratória pode ser um
efeito colateral desejável nos pacientes sob VM.
- Meperidina: por seus efeitos colaterais, não é indicada a sua utilização, exceto para o
controle de tremores, secundários ao ato anestésico. Indicação: controle dos tremores pós
anestésicos.
 Dose: 50 a 100 mg IV em bolus,
 Efeitos colaterais e desvantagens: em torno de 90% da droga é metabolizada no
fígado em normeperidina que é excretada pelo rim. Seu efeito analgésico corresponde a 50%
do efeito da meperidina. A normeperidina tem efeito tóxico sobre o sistema nervoso central
podendo causar delírio, agitação e convulsões quando utilizada por mais de 48 a 72 horas. A
administração da meperidina é associada a grande liberação de histamina, podendo resultar
em broncoespasmo e hipotensão. Há similaridade da sua estrutura com a da atropina, o que
resulta em taquicardia e aumento da demanda metabólica miocárdica, fato que contraindica a
sua administração para a analgesia do paciente com infarto do miocárdio (IAM), excetuando
nos casos de IAM de parede inferior. Observa-se também diminuição de contratilidade de
miofibrilas cardíacas em estudos, in vitro, com esse fármaco.
Outro tipo de analgésico é o Tramadol, apresentando baixa afinidade pelos receptores
opióides que tem a sua analgesia parcialmente revertida com o naloxone. Esse fármaco inibe a
captação de monoaminas e interfere na transmissão dos impulsos nociceptivos (noradrenalina
e serotonina).
 Vantagens: tão eficaz quanto a morfina (dose equipotente 50 mg de tramadol = 5 mg
de morfina) apresentando como vantagem o menor potencial de depressão respiratória.
Indicação: analgesia para dor moderada
 Dose: 50 a 100 mg em bolus. Até 400 mg ao dia, divididas em 3 a 4 aplicações.
 Efeitos colaterais e desvantagens: vômitos, íleo, sonolência, raramente convulsão.
Existem também os Anti-inflamatórios não hormonais (AINH) por seus efeitos
colaterais, são fármacos pouco utilizados para a analgesia de pacientes graves. A
administração de AINHs diminui o requerimento de opióides, e está indicada em casos
32
bastante específicos como a terapia adjuvante de pacientes pré-selecionados (analgesia no
pós-operatório). Esses fármacos devem ser utilizados por no máximo 5 dias.
 Vantagens: ausência de depressão dos sistemas nervoso, cardiovascular e
respiratório, permite reduzir as doses dos opióides
 Indicação: dor de intensidade moderada quando a prostaglandina está envolvida no
fenômeno doloroso. Os anti-inflamatórios não atuam sobre a prostaglandina já liberada mas
sim sobre a síntese da prostaglandina. Deste modo, sempre que possível deve-se administrar
ao AINH antes da agressão (cirurgia) para que se alcance melhor benefício.
 Contra-indicações: em pacientes vítimas de queimaduras, naqueles maiores de 65
anos, com história de doença péptica, com doença inflamatória intestinal, diabetes ou fazendo
uso de anticoagulantes ou corticoesteróides por aumentarem os riscos de hemorragia
gastrointestinal. Nos pacientes do sexo feminino, idosos, hipovolêmicos, em uso de inibidores
da enzimas de conversão da angiotensina ou diuréticos por terem maiores chances de
ocasionar lesão renal.
 Efeitos colaterais e desvantagens: hemorragia gastrointestinal, insuficiência renal,
distúrbio de coagulação, manifestações alérgicas. Menor potência analgésica que os opióides.
 Inibidores da COX-2: o benefício do uso destes novos AINHs em terapia intensiva
ainda não está bem estabelecido.
- Os Antidepressivos: pela permanência prolongada nas UTI, os pacientes tem
desenvolvido quadros depressivos e tem sido avaliada a utilização de fármacos
antidepressivos para o controle desses quadros. Esses fármacos, particularmente a
amitriptilina, tem mostrado efeitos benéficos em uma grande variedade de quadros dolorosos
e a sua utilização em pacientes de UTI tem tido um emprego crescente. O efeito dos
antidepressivos ocorre em torno de 2 a 4 semanas, o que constitui uma desvantagem da sua
utilização em UTI. Pode-se citar como principais efeitos colaterais dos antidepressivos
tricíclicos: constipação, retenção urinária e alterações visuais. Outro efeito colateral que pode
ser relatado é a sonolência que, em pacientes graves que necessitam de tratamento intensivo,
pode ser considerada um efeito benéfico.
Os benzodiazepínicos: efeito sedativo, anticonvulsivante, ansiolítico, amnésico,
relaxante muscular. Os principais são:
33
- Diazepam: é uma droga pouco hidrossolúvel, mal absorvida quando administrada por
via intramuscular, com um T½
farmacologicamente ativos. Nos dias de hoje, sua utilização para a sedação a curto prazo não
é aconselhada, por causar sedação excessiva e difícil de ser monitorada quando administrado
de forma intermitente e por ter necessidade de grande quantidade de diluente para ser
administrado em infusão contínua.
- Midazolam: sintetizado na década de 80, possui solubilidade em solução aquosa e
T½ curto. Seu pico de ação ocorre 2 a 3 minutos após sua administração endovenosa.
Enquanto o T½
aumentado principalmente em pacientes com sepse, insuficiência renal ou hepática, e
naqueles com peso acima do ideal. Quanto às interações desse fármaco com outros
medicamentos destaca-se que, quando associado ao fentanil, há potencialização da ação de
ambas as drogas com hipotensão severa e aumento da incidência de apnéia.
- Clonazepam:indicado para transtornos do pânico, fobia social e ansiedade
generalizada. Tem efeito sedativo o que é benéfico para pacientes internados em UTI. É bem
absorvido por via oral. O seu pico plasmático é atingido em 1 a 3 horas e a sua meia vida é de
20 a 40 horas. Difere dos demais benzodiazepínicos pela sua ação nos receptores
serotonínicos. A dose média utilizada é de 1.5mg/dia (0.25mg de clonazepam equivale a 5 mg
de diazepam), dada referencialmente à noite.
- Propofol - Introduzido, na prática clínica a partir de 1980. É apresentado sob a forma
de uma emulsão lipídica à base de óleo de soja, glicerol e lecitina, similar ao intralipid,
contendo 1 caloria por ml. É biotransformado principalmente no fígado e, em menor
proporção, no pulmão, no tubo digestivo e nos rins. Sua administração causa uma queda da
PA, principalmente quando é efetuada in bolus. Têm sido relatadas desvantagens com a
utilização prolongada de propofol em UTIs. Ressaltam-se as complicações inerentes ao uso
prolongado de soluções lipídicas como hipertrigliceridemia e depósito de lipídios nos
pulmões, fígado e outros órgãos. Em pacientes com insuficiência renal não há alteração
importante na farmacocinética do propofol.
Nos últimos anos tem sido descrito que a
administração de altas doses de propofol (5mg/kg/h), por um tempo maior que 48 horas pode
estar associada falência cardíaca, rabdiomiólise, acidose metabólica grave e insuficiência
renal. Esse quadro é conhecido como Síndrome da Infusão do Propofol e está associado ao
impedimento da utilização dos ácidos graxos e da atividade mitocondrial, com consequente
necrose muscular.
34
- 2-Agonistas - Esses agentes têm despertado o interesse dos intensivistas devido à
propriedade de promoverem ansiólise e hipnose e de serem dotados de propriedades
analgésicas. A clonidina e a dexmedetomidina são compostos imidazólicos que ativam os
receptores 2-adrenérgicos (Figura 8). A clonidina, utilizada na prática clínica há mais de 20
anos, apresenta uma seletividade de 200/1 entre os receptores 2 e 1, enquanto a
dexmedetomidina tem cerca de 8 vezes mais afinidade pelos 2-adrenoceptores do que a
clonidina. Trabalhos experimentais realizados com a clonidina e com a dexemedetomidina
comprovaram que os seus efeitos hipnóticos e antinoceptivos são mediados pela ativação dos
receptores 2, localizados no locus coeruleus. Existem evidências de que os 2 agonistas
exercem uma ação GABA-mimética. A clonidina na dose de 40 a 80 gr/kg é forte indutora
do sono não REM e interfere no sono REM, efeitos esses, somente parcialmente revertidos,
com a administração de antagonistas 2. A analgesia promovida pelos agonistas 2 deve-se à
ação dessas drogas ao nível da medula espinhal. Há dados experimentais que sugerem uma
interação entre 2-agonistas e agonistas de opióides. A clonidina administrada como prémedicação anestésica pode diminuir a necessidade de opióides, atenuar as respostas
adrenérgicas no transoperatório e a liberação de catecolaminas secundária ao trauma
cirúrgico, sem causar efeitos colaterais importantes, assim como pode controlar a disfunção
autonômica, os sintomas de abstinência ao álcool ou de abstinência e tolerância aos
benzodiazepínicos e opióides. Estudos comparativos da clonidina com os opióides
demonstram que a clonidina não interfere no trânsito gastrintestinal. Esse fármaco é
rapidamente absorvido após sua administração oral, atingindo um pico plasmático entre 60 e
90 minutos. Seu T½ é de 9 a 12 horas sendo a metade da droga metabolizada no fígado, em
metabólitos inativos, e a outra metade excretada in natura pelo rim. Após administração
prolongada da clonidina, sua suspensão abrupta pode causar um episódio hipertensivo grave.
A administração endovenosa de dexmedetomidina tem mostrado efeitos sedativos analgésicos
e ansiolíticos em pacientes de pós-operatório internados em UTI e em pacientes sob desmame
da ventilação mecânica. A dose que tem mostrado eficácia clínica é de 0.25 a 0.9g/kg/h.
Como efeitos colaterais destaca-se a diminuição da pressão arterial e da frequência cardíaca,
que devem ser monitoradas quando esses fármacos são administrados.
35
Agonistas Alfa-2 Adrenérgicos
Clonidina
2 :1
250 : 1
Dexmedetomidine
 2 :  1 1600 : 1
agonista parcial
agonista total
vida média = 10 horas
vida média = 2 horas
VO, Epidural, TD
IV
anti-hipertensivo
sedativo/analgésico
analgésico adjunto
sedativo primário
Figura 8 - Agentes α2-agonistas adrenérgicos
A prescrição da clonidina para a co-sedoanalgesia de pacientes crônicos poderá ser
vantajosa já que esse fármaco, além do seu poder sedoanalgésico, diminui os sintomas de
abstinência ou de tolerância aos opióides e benzodiazepínicos. Nesses casos a administração
poderá ser subcutânea ou oral, devendo a dose ser manuseada em dependência da FC e da PA
dos pacientes. Pode-se prescrever de 1 a 2 comprimidos de 250µg até de 6/6 horas.
- Quetamina - É um derivado da fenciclidina que promove um tipo de anestesia
designada anestesia dissociativa e causa excelente analgesia em doses subanestésicas. Essa
droga cruza a barreira hematoencefálica rapidamente, tem um T½  de cerca de 16 minutos e
um T½ de aproximadamente 3 horas. A quetamina promove relaxamento da musculatura
lisa das vias aéreas e antagonismo ao efeito espasmogênico da histamina. Causa aumento da
FC e da PA e um aumento transitório do índice cardíaco sem alteração do volume sistólico. O
principal mecanismo de ação da quetamina, no que concerne à sedação e analgesia, é o
bloqueio competitivo na ativação dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), cujo ligante
endógeno é o glutamato. Sendo os receptores NMDA responsáveis pelo processamento de
informações sensitivas, inclusive da sensação de dor, é provável que, pelo menos em parte, a
analgesia obtida com doses sub-hipnóticas de quetamina seja justificada pelo bloqueio desses
receptores. Todavia, uma interação com receptores de opióides não pode ser descartada. A
quetamina raramente é utilizada em UTI, por serem comuns seus efeitos colaterais como
36
alucinações, delírios, ou convulsões do tipo pequeno mal. Entretanto, esses efeitos podem ser
evitados com a utilização concomitante dos benzodiazepínicos ou do propofol. Seus efeitos
respiratórios e cardiovasculares podem justificar a sua indicação em pacientes com doença
pulmonar broncoespástica e/ou comprometimento hemodinâmico. Recentemente tem se
mostrado promissora, a utilização da quetamina para a sedação e o controle da hipertensão
endocraniama de paciente vítimas de traumatismo crânio encefálico. Pode também ser
promissora substituição da quetamina racêmica pelo seu isômero, que é mais potente e causa
menor efeito psiocodélico. Esse fármaco pode ser utilizado para a sedoanalgesia durante
procedimentos dolorosos fora do centro cirúrgico, tais como o curativo de grandes queimados.
Etomidato - Agente anestésico não barbitúrico foi descrito como um agente ideal para
sedação em pacientes sob ventilação mecânica por não exercer efeitos apreciáveis sobre a
função circulatória. Entretanto, o emprego prolongado dessa droga condiciona aumento da
mortalidade nos pacientes internados em UTI, associada a baixos níveis plasmáticos de
cortisol. Por esse motivo sua utilização em UTI, em longo prazo, é desaconselhada. Essa
droga pode ser utilizada para procedimentos de curta duração, como para a sedação de
pacientes hipotensos, submetidos à cardioversão elétrica.
Pode-se concluir que as principais vantagens do propofol são a possibilidade de
promover uma sedação mais superficial, o seu rápido início de ação e a ausência de acúmulo,
mesmo quando administrado em doses repetidas ou em infusão contínua, o que proporciona
um rápido despertar e facilita o desmame da ventilação mecânica. Em contrapartida, os pontos
positivos para o midazolam são a tendência de propiciar uma maior estabilidade
cardiovascular e do seu custo financeiro ser menor.
2.5.3 Bloqueadores neuromusculares
A necessidade da administração de bloqueadores neuromusculares (BMN) a nível
emergencial é pouco frequente e se restringe à facilitação da entubação orotraqueal. Em
pacientes submetidos à ventilação mecânica o uso desses fármacos é cada vez mais raro.
Sempre deve ser lembrado que é imprescindível a sedação profunda para que o BMN seja
administrado. Bloqueio neuromuscular é a designação para as intervenções que interrompem
total ou parcialmente a transmissão do impulso nervoso ao nível da placa motora. Esse
bloqueio pode ocorrer pela inibição da síntese da acetilcolina (ACh) por inibição da liberação
da ACh ou por interferência na atuação pós-sináptica da ACh, sendo esse último o mecanismo
37
de ação dos agentes BMN disponíveis na prática clínica. Os BMNs podem ser classificados
como adespolarizantes, quando bloqueiam a atuação da ACh e despolarizantes quando são
agonistas dos receptores de ACh. A succinilcolina é o único agente despolarizante de curta
duração, que ainda é utilizado na prática clínica. O seu rápido início de ação associado à curta
duração do seu efeito faz dessa droga o BMN de escolha para a intubação traqueal. Deve ser
ressaltado que esse fármaco pode causar bradicardia ou ritmos juncionais, aumento das
pressões intracraniana e intra-ocular, hipertermia maligna e dor muscular secundária às
fasciculações. O pancurônio é o BMN mais comumente utilizado em pacientes de UTI. Esse
fármaco tem efeito cumulativo e seu efeito é prolongado em pacientes com insuficiência
hepática ou renal. Pode levar a taquicardia, aumento da pressão arterial e da contratilidade
cardíaca (MORITZ, 2004).
2.6 A ANESTESIOLOGIA EM UTI
O conhecimento de que o ambiente das Unidades de Terapia Intensiva (Figura 9) e as
particularidades do paciente crítico associadas ao tratamento à que esse paciente é submetido
podem influir na evolução do seu quadro clínico, ainda existem falhas no que concerne ao
controle da dor e do estresse desses pacientes (BENSEÑOR, CICARELLI, 2003).






Pacientes instáveis
Pouco colaborativos
Sedados (EOT/curares)
Nível de consciência 
Restritos ao leito
Afetados emocionalmente
Cenário do paciente na UTI
Figura 9 – Unidade de Terapia Intensiva
38
Há cerca de 15 anos a literatura médica tenta responder as mesmas perguntas: o quanto
se deve sedar o paciente, qual o melhor método para a avaliação dessa sedação, se a sedação
contínua é preferível à intermitente, se a utilização de analgésicos deve ser empregada sem a
associação com sedativos e, qual o benefício dos efeitos hipnóticos e amnésicos dessas
drogas. Entretanto, mesmo em 2005 essas perguntas ainda não foram totalmente respondidas.
Surgiram novos fármacos, obteve-se maior experiência com a sedação e a analgesia de
pacientes internados em UTI, houve a consciência de que a analgesia adequada é uma peça
fundamental no tratamento desses pacientes, mas ainda não foi estabelecido um modelo de
sedoanalgesia ideal para os mesmos. A multiplicidade de cenários clínicos observados nas
UTI exige que a hipnoanalgesia seja planejada e que a estratégia e o objetivo terapêutico
sejam estabelecidos de modo personalizado (MORGAN, MURRAY, MIKHAIL, 2010).
Os consensos para a sedoanalgesia em UTI indicam como fármacos sedativos o
midazolam e o propofol e como analgésicos os opióides. Nos últimos anos novos fármacos
têm sido adicionados a esse arsenal terapêutico, tais como a cetamina e a dexmedetomidina.
O controle da dor é primordial. O propofol causa maior risco de hipotensão e que o
midazolam promove uma sedação mais prolongada (WHITE, 1997). Destaca-se que o
propofol não deve ser administrado em altas doses, por um longo período de tempo. A
associação dos fármacos sedativos e analgésicos (co-sedoanalgesia) pode diminuir seus
efeitos colaterais (Figura 10).
Drogas mais utilizadas
 Midazolam
 Propofol
 Morfina & Fentanil &
alfentanil & remifentanil
 Dexmedetomidina
Figura 10 – Drogas mais utilizadas na UTI
39
A administração concomitante da clonidina com o midazolam ou com o propofol pode
evitar a tolerância e abstinência a esses fármacos. O uso da dexmedetomidina para a
sedoanalgesia de pacientes graves mostra-se promissor. Os fármacos mais utilizados para o
controle da dor são os opíóides, sendo a morfina indicada para a analgesia de pacientes
crônicos e com estabilidade hemodinâmica. O fentanil é indicado para a analgesia em UTI,
principalmente de pacientes instáveis hemodinamicamente. A sedoanalgesia deve ser
monitorada e instituída de maneira individualizada. Os bloqueadores neuromusculares (BNM)
são pouco utilizados. A succinil colina é indicada para a facilitação da entubação orotraqueal
e o pancurônio para uso intermitente e eventual (MANICA, 2004).
As melhoras do processo anestésico atualmente têm suas raízes em diversos fatores:
qualificação dos médicos anestesistas; avanços tecnológicos aplicados na medicina, que
disponibiliza aparelhos cada vez mais precisos de monitoramento de funções vitais e
instrumentos de aplicação; drogas mais seguras; melhor preparo dos pacientes e,
principalmente, a instituição da consulta pré-anestésica.
Hoje em dia, a consulta é realizada sempre antes do ato anestésico e tem como
objetivo informar ao anestesista as condições físicas e psicológicas do paciente. É de vital
importância à obtenção de informações específicas como a preexistência de doenças, alergias,
uso de medicamentos, entre outros. Dessa forma, o anestesista pode escolher a droga mais
adequada para o procedimento e para o paciente em questão, evitando ao máximo possíveis
complicações relacionadas à anestesia. Dito isso, o procedimento não está, de forma alguma,
isento de riscos. Estes podem ocorrer em pessoas com doenças associadas e em casos de
emergência, nos quais não é possível, muitas vezes, ter acesso ao histórico clínico do
paciente. Pacientes com paralisia cerebral, por exemplo, que possuem juntamente refluxo
gastroesofágico, incoordenação orofaríngea e acúmulo de secreção, além de convulsões e
incoordenação motora, podem desenvolver complicações respiratórias durante anestesia geral
(MORITZ, 2004).
Outro fator de risco é a obesidade mórbida, visto que o acesso venoso e o
posicionamento do paciente são difíceis e a ventilação deve ser individualizada. No entanto,
muitos desses riscos podem ser evitados previamente ou controlados, e a maior parte dos
casos fatais decorrem de falhas humanas e de más condições hospitalares. Novas drogas ainda
estão sendo desenvolvidas na busca de um anestésico ideal. Este deve induzir a uma anestesia
rápida e suave, proporcionar uma recuperação rápida após o término da administração, ter
uma alta margem de segurança, ser destituído de efeitos colaterais, não ser inflamável, ter
baixo custo e ser prontamente controlável, para que a quantidade suficiente seja administrada
40
conforme o necessário para o procedimento cirúrgico. Quanto aos métodos de aplicação, uma
novidade é a utilização do ultrassom para identificar com precisão as estruturas em que o
anestésico será injetado. Dessa maneira, evitam-se lesões de veias e artérias, o que torna mais
segura a realização de bloqueios anestésicos tanto para procedimentos cirúrgicos quanto para
tratamento e controle da dor. Apesar desses esforços, as drogas antigas ainda são utilizadas,
não tendo sido criado nenhum substituto eficaz para estas, indicando que o campo da
analgesia ainda tem muito a progredir (BENSEÑOR, CICARELLI, 2003).
Para a analgesia de pacientes internados em UTI é preconizada a administração dos
opióides. A morfina, por apresentar efeito prolongado e por causar hipotensão, deve ser
preferencialmente administrada de maneira intermitente, devendo ser evitado o seu uso em
pacientes hipotensos. Nesses pacientes o fentanil é o fármaco de escolha, sendo a
administração contínua a preferencial. A meperidina, por apresentar metabólitos com
características neuroexcitatórias é contraindicada em UTI. O remifentanil, um opióide de ação
ultracurta, pode ser benéfico para a analgesia de pacientes que necessitem de avaliação neurológica frequente. Os antiinflamatórios não hormonais e o acetaminofen não são indicados para
a analgesia de pacientes críticos (BENSEÑOR, CICARELLI, 2003).
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A simples admissão hospitalar de um paciente é um fator que gera ansiedade (medo do
desconhecido) e algumas vezes depressão, estando estes dois sintomas diretamente
relacionados à intensidade da dor relatada pelo paciente, estando ou não correlacionada à
doença do paciente. Todo o quadro descrito torna-se muito mais intenso quando existe a
necessidade da internação em UTI, sendo neste caso a ansiedade do paciente potencializada
pela dos familiares. Os pacientes críticos internados em UTI sofrem muitas vezes de síndrome
dolorosa caracterizada por dor, privação de sono, delírio, além de alterações cardiovasculares,
respiratórias e hormonais.
Quando a UTI é responsável também pelo acompanhamento do paciente no período
pós-operatório, torna-se mais evidente a necessidade de terapia antálgica eficaz para que o
paciente apresente evolução satisfatória, isto porque muitos dos pacientes internados em UTI
referem como as piores recordações à dor, o medo e a ansiedade. A importância da dor é
muitas vezes minimizada e seu tratamento a base de analgésicos, sedativos e bloqueadores
neuromusculares.
Os consensos para a sedoanalgesia em UTI indicam como fármacos sedativos o
midazolam e o propofol e como analgésicos os opióides. Nos últimos anos novos fármacos
têm sido adicionados a esse arsenal terapêutico, tais como a cetamina e a dexmedetomidina.
Os fármacos mais utilizados para o controle da dor são os opíóides, sendo a morfina
indicada para a analgesia de pacientes crônicos e com estabilidade hemodinâmica. O fentanil
é
indicado
para
a
analgesia
em
UTI,
principalmente
de
pacientes
instáveis
hemodinamicamente. A sedoanalgesia deve ser monitorada e instituída de maneira
individualizada. Os bloqueadores neuromusculares (BNM) são pouco utilizados. A succinil
colina é indicada para a facilitação da entubação orotraqueal e o pancurônio para uso
intermitente e eventual.
As melhoras do processo anestésico atualmente têm suas raízes em diversos fatores:
qualificação dos médicos anestesistas; avanços tecnológicos aplicados na medicina, que
disponibiliza aparelhos cada vez mais precisos de monitoramento de funções vitais e
instrumentos de aplicação; drogas mais seguras; melhor preparo dos pacientes e,
principalmente, o empenho de toda a equipe multidisciplinar para dar ao paciente que se
encontra na UTI toda condição de recuperar o que ele mais anseia: a saúde.
42
REFERÊNCIAS
BENSEÑOR, Fábio Ely Martins, CICARELLI, Domingos Dias. Sedação e Analgesia em
Terapia Intensiva. Revista Brasileira de Anestesiologia, 2003.
CHENG, Victor Y. et. Al. A receptors mediate the amnestic but not sedative-hypnotic effects
of the general anesthetic etomidate. Journal of Neuroscience, vol.26, ed.14º, p. 3713-3720, 5
de abril de 2006.
COLLINS, Vicent. Historia da anestesiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979.
EBERT, T.J.; SCHIMID III, P.G. Anestesia inalatória. In BARASH, P.G.; CULLEN, B.F.;
STOELTING, R.K. Anestesia Clínica. 4 ed. São Paulo: Manole, 2004.
GUÉRIOS, Floriano et al. Anestesia. São Paulo: Saraiva, 2006.
LAKATOS, E.M, MARCONI, M. de Andrade. Metodologia de Trabalho Científico. 7 ed.
São Paulo: Atlas, 2001.
MANICA, J. Anestesiologia: princípios e técnicas. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MILLER, R.D. Clinical Anesthesis. 6 ed. São Paulo: Elsevier, 2005.
MORGAN Jr., G. E.; MURRAY, M. J.; MIKHAIL, M. S. Anestesiologia clínica. 4. ed. Rio
de Janeiro: Ravintar, 2010
MORITZ, R.D. Atualização dos fármacos analgésicos, sedativos e bloqueadores
neuromusculares utilizados em UTI. In: CLEOVALDO T. S. et al. (Org.). Programa de
atualização em Medicina Intensiva. 4 ed. Porto Alegre, 2004: 81-108.
RANG, H. P., DALE, M. M. Farmacologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
TEIXEIRA, M.J. et al. Dor: conceitos gerais. São Paulo: Limay, 1994.
TERZI, R., AMARAL, J.L.G. Consenso brasileiro sobre analgesia, sedação e bloqueio
neuromuscular em terapia intensiva. Clínica Brasileira de Medicina Intensiva, 2:241-254,
1996.
WHITE, P.F. Propofol. In: WHITE, P.F ed. Textbook of intravenous anesthesia.
Wiiliams & Wilkins, Baltimore, cap. 7, p. 111-152 1997.
Download