caracterização do comportamento do torque muscular dos

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CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO TORQUE MUSCULAR
DOS MÚSCULOS ADUTORES E ABDUTORES DO QUADRIL
Eduardo Marczwski da Silva, Eduardo Lusa Cadore, Jefferson Fagundes Loss
Escola de Educação Física – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS – Porto Alegre, Brasil.
Resumo: O objetivo do estudo foi verificar a relação torque muscular x ângulo dos adutores e abdutores do quadril. Seis
homens e quatro mulheres jovens realizaram um protocolo isocinético concêntrico-concêntrico para os músculos
adutores e abdutores do quadril. Após normalização pelo torque máximo produzido e pela amplitude total de
movimento, foram desenhadas curvas representativas do comportamento médio de ambos os grupos musculares. O
torque dos abdutores é crescente até 20% da amplitude total do movimento e decrescente no restante, enquanto o torque
dos adutores apresentou aumento até 20%, com posterior estabilização de 20 a 80% e subseqüente decréscimo de 80 a
100% da amplitude total do movimento. Estes resultados mostram diferentes características na relação torque x ângulo
para músculos abdutores e adutores do quadril. Recomenda-se a utilização de diferente sobrecarga externa para que o
esforço requerido seja de acordo com as características fisiológicas e mecânicas desses grupos musculares.
Palavras Chave: Curva torque x ângulo, Adutores do quadril, Abdutores do quadril.
Abstract: The main of this study was to investigate the behavior of muscle moment angle relationship of hip adductors
and abductors. Six young men and four women executed a concentric-concentric isokinetic protocol to muscles
adductors and abductors of hip. After values normalization for maximal moment produced and total range of
movement, mean curves representative of both muscles moment were plotted. The muscle moment of hip abductors
increases until 20% of total range of movement and decreases at the rest, while the moment of adductors have
increased until 20%, with stabilization from 20 to 80% and have decreased from 80 to 100% of total range of
movement. These results demonstrated different characteristics in the moment angle relationship of hip adductors and
abductors. It’s recommend the use of different external load to that the effort required during resistance exercise agree
with the physiological and biomechanical characteristics of these muscle groups.
Key words: hip adductors, hip abductors, torque x angle relationship
INTRODUÇÃO
A
prescrição
de
um
programa
de
treinamento de força [2]. Para determinação do
treinamento de força com objetivo de melhora de
torque externo, é necessário conhecer os objetivos
parâmetros relacionados à saúde devem objetivar
do treinamento, bem como a característica do
necessariamente o exercício de todos os grupos
músculo quanto à sua produção de torque nos
musculares, de forma a atingir o equilíbrio
diversos ângulos ao longo de sua amplitude de
muscular [1]. De fato, em academias de
movimento. Essas características dependem de
musculação, existe uma grande variedade de
aspectos fisiológicos do músculo, como a relação
equipamentos para os mais diversos grupamentos
força-comprimento do sarcômero [3], bem como
musculares.
aspectos mecânicos do músculo, como sua
distância perpendicular ao eixo de rotação
A variação do torque de resistência de
articular [4].
equipamentos de musculação é um fator de grande
influência
nas
adaptações
do
músculo
ao
31
A partir do conhecimento da relação
torque-ângulo
o
do movimento, para que os indivíduos tenham
desenvolvimento de exercícios contra-resistência
tempo de alcançar os valores máximos de
que respeitem a característica de produção de
produção de força, além da possibilidade de maior
torque de um determinado músculo. Contudo,
produção
embora alguns estudos tenham determinado a
velocidades maiores [7]. Cada indivíduo realizava
relação torque x ângulo de grupos musculares
o movimento de abdução na máxima amplitude
como os extensores do joelho [2], extensores do
possível que conseguisse gerar força, partindo do
ombro [5] e flexores do cotovelo [6], existe uma
ângulo 0º da abdução do quadril (pernas unidas)
carência
para posterior retorno à posição inicial.
na
muscular,
literatura
é
com
possível
musculação, bem como devido à curta amplitude
relação
ao
de
força
quando
comparado
a
comportamento dos adutores e abdutores do
O protocolo de testes foi caracterizado por
quadril. O conhecimento do comportamento de
um aquecimento prévio de 5 minutos em uma
produção de torque desses grupos musculares ao
bicicleta
longo de sua amplitude articular é muito
familiarização com o protocolo pré-determinado.
importante para a prescrição de um programa de
Para a coleta dos dados, foi executada 1 série com
exercícios que respeitem essa característica.
5 repetições onde os indivíduos eram instruídos e
Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi
ergométrica
e
uma
série
de
incentivados a produzir força máxima.
verificar o comportamento da relação torque x
ângulo muscular dos adutores e abdutores do
Análise dos Dados
quadril.
Das
5
repetições
realizadas
foram
excluídas a primeira e a última no intuito de evitar
MATERIAIS E MÉTODOS
efeitos relacionados a inércia do exercício e uma
possível fadiga. Posteriormente, foi realizada a
Amostra
média do torque das 3 repetições centrais de cada
indivíduo
Participaram como amostra voluntária
durante
a
Devido
amplitude
ao
total
do
desse estudo 10 homens e mulheres jovens
movimento.
comportamento
universitários com idades entre 18 e 28 anos sem
semelhante no torque dos indivíduos homens e
histórico de lesão da articulação do quadril.
mulheres, esses sujeitos foram classificados em
um grupo único. Os dados de torque x ângulo para
ambos os músculos foram normalizados a partir
Protocolo de teste
Para o registro do torque muscular dos
do torque muscular máximo e da amplitude total
músculos adutores e abdutores do quadril,
de movimento de cada indivíduo. A partir desses
utilizou-se um protocolo isocinético inicialmente
dados foi calculada uma curva média de torque
concêntrico para os abdutores do quadril, com
muscular ao longo da amplitude de movimento e
subseqüente contração concêntrica dos adutores
seu respectivo desvio padrão.
do
quadril a
uma
velocidade
angular
de
30º/segundo. Essa velocidade foi definida por se
aproximar da realidade do tempo de execução na
32
amplitude total), ao passo que a partir de 20%,
RESULTADOS
esse comportamento mostrou-se decrescente até o
Os resultados do comportamento de
final. Esses achados se mostram coerentes com as
torque dos adutores e abdutores do quadril estão
características fisiológicas de produção de força
representados nas Figuras 1 e 2.
segundo a Teoria das Pontes Cruzadas [8], uma
Torque (% máx)
vez que o torque apresentou um comportamento
100
decrescente com o respectivo encurtamento
80
muscular (20 a 100% da amplitude). Baseado na
60
influência de características fisiológicas [3] e
média
desvio
40
mecânicas [4] na produção de torque muscular,
20
pode-se sugerir que a curva decrescente de
0
produção de torque dos abdutores do quadril é
0
20
40
60
80
Amplitude articular (%)
100
influenciada predominantemente pelos fatores
fisiológicos. De fato, além da força muscular, o
Figura 1: Curva torque x ângulo do grupo
torque depende da distância perpendicular do
muscular dos abdutores do quadril.
músculo, e sendo assim, pode-se especular que
Torque (% máx)
esta distância estaria aumentada no início do
100
exercício, justificando os aumentos iniciais na
80
produção de torque. Contudo, após os 20%,
60
especula-se que exista qualquer comportamento
média
desvio
40
na
20
distância
(diminuição,
0
0
20
40
60
80
Posição articular (%)
perpendicular
aumento
ou
desse
grupo
manutenção).
No
entanto, se existe um aumento nessa distância, o
100
mesmo não é suficiente para se sobrepor à
diminuição
Figura 2: Curva torque x ângulo do grupo
da
força
muscular
que
ocorre
conforme o grupamento muscular é encurtado [8].
muscular dos adutores do quadril.
Com relação aos adutores do quadril, o
torque produzido ao longo da amplitude de
movimento (Figura 2) mostrou-se crescente num
DISCUSSÃO
primeiro momento (20% da amplitude total),
Os
resultados
do
presente
estudo
constante na porção intermediária do exercício
demonstraram que a produção de torque dos
(20 a 80%) e decrescente no final do mesmo (80 a
abdutores e adutores do quadril difere ao longo da
100%).
amplitude total do movimento.
comportamento controverso às características
Esses
resultados
apresentam
Para os abdutores do quadril, o torque ao
fisiológicas de produção de força segundo a
longo da amplitude máxima do movimento
Teoria das Pontes Cruzadas [8]. Baseado na
(Figura
comportamento
influência de características fisiológicas [3] e
crescente nos primeiros ângulos (até 20% da
mecânicas [4] na produção de torque muscular,
1)
apresentou
um
33
pode-se sugerir que a curva crescente de produção
CONCLUSÃO
de torque dos adutores do quadril é inicialmente
influenciada
predominantemente
por
A relação torque x ângulo apresentou
fatores
biomecânicos, ou seja, a distância perpendicular
diferentes
desse grupo muscular estaria aumentando no
musculares dos abdutores e adutores do quadril. O
início do exercício. Contudo, após os 20% com a
torque
manutenção da produção de torque muscular, os
crescente num primeiro momento, constante na
fatores
teriam
porção intermediária do exercício e em grande
semelhante influência, com possível aumento da
parte da amplitude de movimento, e decrescente
distância perpendicular desse grupo muscular,
no final do mesmo. Já o torque muscular dos
uma
abdutores
fisiológicos
vez
que
e
biomecânicos
segundo
as
características
características
muscular
dos
apresentou
para
adutores
um
os
grupos
mostrou-se
comportamento
fisiológicas a tendência de força seria diminuir.
crescente nos primeiros ângulos (até 20% da
Ainda, no final do movimento, especula-se
amplitude total) e decrescente até o final. Esses
novamente que independente do comportamento
resultados sugerem a utilização de diferente
na
grupo
sobrecarga externa para que o esforço requerido
(diminuição, aumento ou manutenção) o mesmo
seja de acordo com as características fisiológicas e
não é suficiente para se sobrepor à diminuição da
mecânicas desses grupos musculares.
força
distância
perpendicular
muscular
que
desse
ocorre
conforme
o
REFERÊNCIAS:
grupamento muscular é encurtado [8].
A partir dos resultados obtidos sugere-se
variação na característica do torque externo
[1] Fleck SJ, Kraemer WJ. Designing
imposto aos indivíduos durante a realização de
resistance
exercícios resistidos. Para que o esforço seja
Champaign, IL: Human Kinetics, 2004.
coerente com as características fisiológicas e
[2] Silva F, Rocha E, Soares D, Loss J.
mecânicas do indivíduo, o torque externo deve ser
Caracterização do torque de resistência a
semelhante às curvas apresentadas. Sendo assim,
partir
sugere-se que para o condicionamento dos
de
training
programs
características
(3ª
ed.)
musculares
do
quadríceps. XI Congresso Brasileiro de
músculos adutores a execução do exercício com
Biomecânica, João Pessoa, 2005.
peso livre numa posição inicial em decúbito
[3] Gordon AM, Huxley AF, Julian FJ. The
lateral declinada, já que nesse caso apresentaria
um torque externo crescente no início e depois
variation in isometric tension with sarcomere
decrescente
contrapartida,
ao
final
para
o
movimento.
Em
length in vertebrate muscle fibres. J. Physiol.
condicionamento
dos
1966, 184:170-92.
do
abdutores o exercício poderia ser executado com
[4] Hoy MG, Zajac FE, Gordon ME. A
peso livre também em decúbito lateral no plano
musculoskeletal model of the human lower
[9], o qual apresentaria um torque externo
extremity: the effect of muscle, tendon and
decrescente do início ao final do movimento.
moment
arm
on
the
moment
angle
relationship of musculotendon actuators at the
34
hip, knee and ankle. J. Biomech. 1990;
muscle length on neural activation during
23:157-69.
isometric and concentric contractions. J. Appl.
[5] Kulig K, Andrews JG, Hay JG. Human
Physiol. 2002; 94: 983-90.
Strength Curves. Exercise and Sports Science
[8] Huxley AF. Muscle structure and theories
Reviews 1984; 12: 417-66.
of contraction. Prog Bhiophys Biophys Chem.
[6] Nemoto K, Itoh Y, Horiuchi Y, Sasaki T.
1957; 7: 225-318.
Advancement of the insertion of the biceps
[9] Lima CS, Pinto RS. Cinesiologia e
brachii muscle: A technique for increasing
musculação (1ª ed.). Artmed, 2006.
elbow flexion force. J. Shoulder Elbow Surg.
1996; 5:433-6.
e-mail:
[7] Babault N. Pousson M, Michaut A, Van
[email protected]
[email protected]
Hoecke J. Effects of quadriceps femoris
[email protected]
35
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