344 Revista Eletrônica da Facimed, v.3,n.3, p.344 - 352, jan/jul.2011 ISSN 1982-5285 - ARTIGO ORIGINAL PREVALÊNCIA DE CARCINOMA IN SITU EM MULHERES COM NEOPLASIA CERVICAL INTRA-EPITELIAL ASSISTIDAS NO MUNICÍPIO DE CACOAL – RO Patricia Lopes de Freitas Siqueira [1] Suelen Araujo Leite [2] Talita Yasmin Toledo [3] Tânia Roberta Pereira Furtado [4] Resumo: O Câncer de colo do útero é uma das principais causas de morte no mundo, consolidandose como um grave problema de saúde pública, ao mesmo tempo, é o câncer que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente. É de grande importância a obtenção de informações epidemiológicas sobre a prevalência da doença na população, buscando assim uma melhor qualidade no programa saúde da mulher. O estudo tem caráter transversal descritivo, de cunho quantitativo, que teve por objetivo avaliar a prevalência de carcinoma In Situ em mulheres com diagnóstico prévio de neoplasia cervical intra-epitelial de grau II e III em um município do estado de Rondônia, no período de 2005 a 2009. A amostra estudada foi de 156 mulheres, onde foram analisados os dados que constavam no livro de atendimento do profissional ginecologista. Conclui-se que houve uma alta prevalência de Carcinoma In Situ e um o aumento de mais de 100% dos casos de Carcinoma In Situ entre os anos de 2005 e 2009, sendo que a faixa etária de maior predominância foi em mulheres jovens em idade reprodutiva. Um ponto positivo constatado no estudo foi a baixa taxa de abandono do tratamento. Palavras-chave: Prevalência, Neoplasia intra-epitelial cervical, Câncer cervical. _____________________________ 1 Enfermeira pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal - FACIMED, 2010. Enfermeira pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal - FACIMED, 2010. 3 Enfermeira pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal - FACIMED, 2010. 4 Professora Especialista do curso de graduação em enfermagem da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED. 2 PREVALENCE OF CARCINOMA IN SITU IN WOMEN WITH CERVICAL INTRAEPITHELIAL NEOPLASIA IN CACOAL CITY - RO 345 Abstract: Cancer of the cervix is a major cause of death worldwide, establishing itself as a serious public health problem at the same time, it is the cancer that has great potential for prevention and cure if diagnosed early. It is very important to obtain epidemiological information on disease prevalence in the population, seeking a better quality program in women's health. The study has a cross sectional focused on quantity, which aimed to assess the prevalence of carcinoma in situ in women with previous diagnosis of cervical intraepithelial neoplasia grade II and III in a municipality in the state of Rondonia, in the period 2005 2009. The sample was 156 women, analyzing the data contained in the book of professional care gynecologist. It is concluded that there was a high prevalence of carcinoma in situ and an increase of more than 100% of cases of carcinoma in situ between the years 2005 and 2009, being the most predominant age group was in young women of reproductive age. One positive found in the study was the low rate of treatment dropout. Key-words: Prevalence, Cervical Intraepithelial Neoplasia, Cervix neoplasms. 1. INTRODUÇÃO O câncer, hoje, é uma das principais causas de morte no mundo, consolidando-se cada vez mais, como um problema de saúde pública (NOGUEIRA & SILVA, 2008), (KLIGERMAN, 2001), (FERREIRA & OLIVEIRA, 2005). Ximenes Neto & Cunha (2006) ressaltam que a prevenção e detecção precoce, podem reduzir seus efeitos danosos. O Câncer de colo do útero é o segundo tipo de câncer mais frequente entre as mulheres. Estima-se que a incidência seja de aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo, sendo responsável pelo óbito de aproximadamente 230 mil mulheres por ano. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que para o ano de 2010 o número de casos novos de câncer do colo do útero esperado é de 18.430. Ao mesmo tempo, depois do câncer de pele, é o câncer que apresenta maior potencial de prevenção e cura quando diagnosticado precocemente (INCA, 2009). Segundo Porto et al. (2006) “O colo uterino é revestido por várias camadas de células epiteliais pavimentosas, arranjadas de forma bastante ordenada.” Um desarranjo dessas células epiteliais caracteriza as neoplasias intra-epiteliais cervicais. Cardoso & Lippaus (2008), afirmam que a Neoplasia Intra-epitelial Cervical (NIC) não é câncer e sim uma lesão precursora, que dependendo de sua gravidade, poderá ou não evoluir para câncer. Estudo fornecido pelo Instituto Nacional do Câncer (2000), afirma que em cerca de 90% dos casos, o câncer do colo uterino evolui a partir de lesões intra-epiteiais cervicais que são lesões precursoras e apresentam-se em graus evolutivos, do ponto de vista cito-histopatológico, podendo ser classificadas em três estágios: NIC de grau I (lesão de baixo grau), e NIC de grau II e III (lesões de alto grau). BRASIL (2002) define Neoplasia Intra-epitelial Cervical da seguinte forma: 346 Neoplasia Intra-epitelial Cervical de grau I (NIC I): Alteração celular que acomete as camadas mais basais do epitélio estratificado do colo do útero, sendo considerada uma displasia leve. Cerca de 80% das mulheres com esse tipo de lesão apresentarão regressão espontânea. Neoplasia Intra-epitelial Cervical de grau II (NIC II): Desarranjo celular em até três quartos da espessura do epitélio, preservando as camadas mais superficiais sendo considerada uma displasia moderada. Neoplasia Intra-epitelial Cervical de grau III (NIC III): Desarranjo em todas as camadas do epitélio sem invasão do tecido conjuntivo subjacente, sendo considerada uma displasia acentuada. O Instituto Nacional do Câncer (2002) ressalta que “quando as alterações celulares se tornam mais intensas e o grau de desarranjo é tal que as células invadem o tecido conjuntivo do colo do útero abaixo do epitélio, temos o carcinoma invasor” ou Carcinoma In Situ. Adverte também que para chegar a câncer invasor, a lesão não tem, obrigatoriamente, que passar por todas estas etapas. Existem vários fatores de risco para o câncer de colo de útero. O Instituto Nacional do Câncer (2010), afirma que os principais estão associados às baixas condições sócio-econômicas, ao início precoce da atividade sexual, à multiplicidade de parceiros sexuais, ao tabagismo, à higiene íntima inadequada e ao uso prolongado de contraceptivos orais. O papilomavírus humano (HPV) está ligado no desenvolvimento da neoplasia das células cervicais e na sua transformação em células cancerosas. De acordo com Brasil, (2006), o HPV possui mais de 100 tipos, sendo que 20 podem infectar o trato genital. Por se tratar de uma doença de evolução lenta, ou seja, no período médio de 5 a 6 anos podem se transformar em processo invasor, é possível a investigação e diagnóstico antes do estabelecimento do câncer; e o tratamento, quando implantado a tempo (ainda nas lesões precursoras) pode chegar à cura de praticamente 100% dos casos (INCA, 2000), e apresenta um baixo custo (BRENNA, 2001). Nesse contexto, Derchain et al. (2005) afirma que, embora o câncer do colo do útero seja doença passível de prevenção primária, a detecção e o tratamento adequado das lesões precursoras é atualmente a base para o controle da doença. Dada a alta taxa de prevalência do câncer de colo do útero no Brasil, principalmente na região Norte (onde ocupa a primeira posição de incidência) e devido à falta de levantamento de dados epidemiológicos em Cacoal, é de grande importância a obtenção de informações epidemiológicas sobre a prevalência da doença na população, a fim de subsidiar uma avaliação dos programas de prevenção do município buscando uma melhor qualidade no programa saúde da mulher. O estudo teve por objetivo avaliar a prevalência de carcinoma In Situ em mulheres com neoplasia cervical intra-epitelial de grau II e III assistidas no município de Cacoal, estado de Rondônia, no período de 2005 a 2009; assim como, identificar o percentual de mulheres que 347 desenvolveram Carcinoma In Situ e que apresentaram infecção prévia pelo HPV, apontar o número de pacientes que abandonaram o acompanhamento/tratamento após diagnóstico de NIC e detectar a faixa etária mais acometida pelo carcinoma In Situ. 2. METODOLOGIA Foi realizada uma pesquisa de campo de caráter descritivo, transversal, com abordagem documental, de cunho quantitativo, desenvolvida no Centro de Saúde da Mulher, no município de Cacoal-RO. A população estudada foi o número de mulheres encaminhadas e/ou diagnosticadas no centro de saúde da Mulher, com diagnóstico prévio de NIC II e/ou III que desenvolveram carcinoma In Situ que constavam no livro de atendimento do profissional ginecologista do ano de 2005 á 2009, no qual são registradas as alterações citopatológicas neoplásicas; esses dados foram analisados em um programa de computador (Excel). A amostra foi selecionada por conveniência, não aleatória. O estudo obteve uma amostra de 156 mulheres que atenderam a todos os critérios de inclusão e de exclusão. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da FACIMED sob no número 634/10 onde foi enviada uma copia deste termo para o gerente do Centro de Saúde da Mulher e para Secretaria de Saúde do município, os quais autorizaram a coleta de dados. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A avaliação da faixa etária de maior prevalência de Carcinoma In Situ em mulheres acometidas por NIC II e NIC III no período de 2005 a 2009, não foi possível devido à falta dos dados correspondentes aos anos 2008 e 2009. Sendo assim, foi feita uma análise da faixa etária mais acometida por NIC II e III e Carcinoma In Situ nas mulheres atendidas entre os anos de 2005 e 2007, com uma amostra de 101 e 38 mulheres, respectivamente, como ilustrado na Tabela 1. Tabela 1. Prevalência de NIC II, NIC III e Carcinoma In Situ, por faixa etária, em um conjunto de mulheres com NIC II e III em Centro de referência do município de Cacoal/RO, entre 2005 e 2007. IDADE 16 25 34 43 25 34 43 52 NIC II e NIC III Nº % 16 15,8 34 33,8 21 20,8 17 16,8 CARCINOMA IN SITU Nº % 3 7,9 12 31,6 10 26,3 10 26,3 348 52 61 61 70 70 79 TOTAL 4 3 6 101 3,9 2,9 5,9 100 1 0 2 38 2,6 0 5,3 100 Verifica-se na tabela 1 que a média de idade das mulheres com NIC II, NIC III que apresentam prevalência de Carcinoma In Situ foi de 38 anos. Valores muito próximos ao reportado por Veiga et al. (2006), onde a média de idade da população da cidade do Rio de Janeiro foi de 36 anos. Pedrosa (2003), em um estudo semelhante, obteve uma idade média equivalente a 35 anos. A faixa etária de maior predominância foi de 25 a 33 anos, corroborando com os dados fornecidos pelo INCA, (2009) que afirma que a incidência de câncer do colo do útero evidencia-se na faixa etária de 20 a 29 anos. Na Tabela 2, são apresentados o número total de casos de NIC II e NIC III e a prevalência de Carcinoma In Situ registrados na rede pública, no município de Cacoal/RO, no período de 2005 a 2009. Tabela 2. Número de casos de Carcinoma In Situ em mulheres com NIC II e NIC III atendidas no município de Cacoal/RO, entre 2005 e 2009. ANO 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL Número de NIC II e III 38 42 21 15 40 156 Número de Ca In Situ 7 23 9 7 14 60 % 18 55 43 47 35 38 Observa-se na tabela 2, que há uma elevada prevalência de Carcinoma In Situ nas mulheres acometidas por NIC II e NIC III no município de Cacoal, com um índice de 38% dos casos. Uma análise em separado mostra que houve uma maior prevalência de Carcinoma In Situ no ano de 2006, om acometimento de 55% dos casos, seguido dos anos de 2008, 2007 e 2009. O ano de 2005 apresentou a menor prevalência, com uma taxa de 18% dos casos. Uma análise total dos dados demonstra que, ao comparar o percentual de Carcinoma In Situ dos anos pesquisado, houve um acréscimo substancial na prevalência de Carcinoma In Situ entre os anos de 2005 e 2009, com aumento de mais de 100% dos casos. De acordo com as estimativas do INCA para os anos pesquisados, o índice estimado para os anos de 2005, 2006, 2008 e 2009 foi de 11% (2004), 19% (2005), 18 e 18% (2007), 349 respectivamente, sendo que para o ano de 2007 o INCA não realizou publicação. Ao comparar as estimativas do INCA com os dados encontrados, observa-se que houve um aumento expressivo em todos os anos. Na figura 1, encontra-se o percentual de mulheres que desenvolveram Carcinoma In Situ e que apresentaram infecção pelo HPV. Pode-se constatar que dos 60 casos de Carcinoma In Situ encontrados, 6,6% tinham registro de infecção pelo HPV, ou seja, 4 casos. Figura 1. Percentual de mulheres que desenvolveram Carcinoma In Situ e que apresentaram infecção pelo HPV no município de Cacoal/RO, entre 2005 e 2009. Pedrosa (2003), realizando um estudo com 223 mulheres na cidade do Rio de Janeiro, chegou a um resultado de índice de infecção por HPV de 21,79% dos casos. O autor afirma que a infecção pelo HPV é o principal fator associado ao desenvolvimento de lesões intra-epiteliais cervicais e carcinoma do colo uterino (PEDROSA et al., 2008). A diferença entre os resultados observados referente a infecção pelo HPV e os resultados relatados por Pedrosa (2003), possivelmente está relacionado a uma deficiência na detecção da infecção pelo vírus HPV por parte dos programas de prevenção do município, ou por um comportamento diferente da imunologia nas mulheres estudadas em relação a população citada na literatura, sendo a primeira hipótese mais provável. Na figura 2, está ilustrado o percentual de pacientes que abandonaram o acompanhamento e tratamento após diagnóstico de NIC II e III. Verifica-se que no decorrer dos cinco anos analisados, houve uma taxa de abandono de 10% de um total de 60 casos de câncer. Figura 2. Percentual de mulheres que abandonaram o acompanhamento e tratamento após diagnóstico de NIC II e III no município de Cacoal/RO, entre 2005 e 2009. 350 Um estudo realizado por Hernándes-Alemán et al. (2006), na cidade do México, no ano de 2006, com 525 mulheres acometidas pela Neoplasia Intra-epitelial Cervical, aponta um índice de abandono de 20,6% tendo este abandono ocorrido desde a fase diagnóstica até o controle após tratamento. O número de abandono relativamente baixo em relação ao encontrado por Hernándes-Alemán et al. (2006) pode ser justificado por um aumento na conscientização e na procura do serviço por parte da população; ou decorrente a uma melhora na assistência, com uma melhor organização do serviço, referenciando os casos de NIC, resultando em uma avaliação/tratamento mais ágil. No entanto, essa taxa de abandono mostra que, algumas mulheres ainda deixam de ser assistidas por especialistas da área, correndo um sério risco de vida. Vale salientar que os motivos que levam as mulheres a abandonarem o tratamento não foram avaliados. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A alta taxa de prevalência do câncer de colo do útero no Brasil, principalmente na região Norte, associada à falta de levantamento de dados epidemiológicos no município motivou a realização da pesquisa. Uma análise total dos dados demonstra que houve um acréscimo substancial na prevalência de Carcinoma In Situ entre os anos de 2005 e 2009. A pesquisa demonstrou ainda que, a média de idade das mulheres que apresentaram prevalência de NIC II, NIC III e Carcinoma In Situ foi de 38 anos, sendo que a faixa etária de maior predominância foi em mulheres jovens em idade reprodutiva; já o índice de infecção pelo HPV foi inferior aos relatos bibliográficos. Um ponto positivo constatado no estudo foi referente à baixa taxa de abandono do tratamento. Observa-se a importância do exame citopatológico na prevenção do câncer do colo do útero. Neste âmbito, o profissional da saúde tem responsabilidade na elaboração e execução de estratégias que aumentem a cobertura do exame na tentativa de diminuir a mortalidade por esse tipo de câncer. 351 Este estudo pode servir de análise para profissionais de saúde a fim de subsidiar um novo planejamento, buscando uma melhor qualidade no programa saúde da mulher, especificamente na prevenção do câncer de colo uterino. 5- REFERÊNCIAS BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. 4ª edição. Brasília, p. 87-142, 2006 ______. Prevenção do câncer do colo do útero. Manual Técnico. Brasília, 2002. Brenna S.M.F., Hardy E.E., Zeferino LC, Namura I. Conhecimento, atitude e prática do exame de papanicolaou em mulheres com câncer de colo uterino. Caderno de Saúde Pública, 2001. Cardoso, E.J.F., Lippaus, R. A enfermagem na prevenção do câncer do colo de útero. Revista de Enfermagem do Centro Universitário Campos de Andrade, 2008. Página Online. 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