5.2. DINÂMICA 5.1.1.3 CAPÍTULO 5. MECÂNICA Interpotente ou de classe 3 Uma alavanca é interpotente (ou de classe 3) quando força potente está entre o fulcro e a força resistente. Figura 5.6: O músculo bíceps Este tipo de alavanca é de longe o mais comum no corpo humano. A sua vantagem mecânica é sempre inferior à unidade (o braço da força potente é sempre menor que o braço da força resistente). Logo nestas alavancas os músculos são obrigados a exercer grandes forças. Então porque é que existem tantas alavancas de classe 3 no corpo humano? • Os músculos estão construídos de forma a suportar grandes cargas (cerca de 70 N cm 2 [3]). • O deslocamento que são capazes de produzir é pequeno em relação ao seu tamanho. Por exemplo, um músculo bíceps com 25 cm de comprimento consegue diminuir de tamanho (quando contrai) cerca de 7 cm (28%) [4]. Numa alavanca do tipo 3 perdemos na vantagem mecânica mas ganhamos na amplitude de movimento (aumenta por um factor igual ao inverso da vantagem mecânica). • O corpo humano está desenhado para o movimento em detrimento da força. Os membros são longos e por isso favorecem uma grande amplitude de movimentos. Na natureza, os animais que têm mais força têm membros relativamente curtos. 5.2 Dinâmica Parte da mecânica onde se estuda o movimento dos corpos assim como as forças que causaram esse movimento. Na mecânica clássica, a dinâmica rége-se pelas 3 leis de Newton. 5.2.1 Primeira lei de Newton (Lei da inércia) Um corpo permanece no estado de movimento uniforme ou parado desde que não actuem forças sobre ele. Alguns exemplos: • Quando um automóvel arranca (figura 5.7a) sentimos uma força que nos impele para trás. Na realidade o que estamos a sentir é a oposição do nosso corpo à mudança de velocidade a que está a ser sujeito. O nosso corpo está a tentar manter-se no estado original (parado). De igual modo quando circulamos num automóvel a velocidade constante, ao travarmos (figura 5.7b) sentimonos impelidos para a frente. O nosso corpo tenta manter o movimento uniforme inicial. Esta resistência à mudança chama-se inércia. 24 CAPÍTULO 5. MECÂNICA 5.2. DINÂMICA a b Figura 5.7: Lei da inércia num automóvel • Na figura 5.8 o corpo 2 não é actuado por forças logo (apesar do corpo 1 estar em contacto com ele e actuado por uma força) irá manter-se em repouso desde que não haja atrito. 1 2 Figura 5.8: Exemplo da lei da inércia (sem atrito) • Se um automóvel altera a direcção do seu movimento (por exemplo numa curva - ver figura 5.9), mesmo que o módulo da velocidade se tenha mantido, o vector velocidade altera-se. Neste caso, o nosso corpo tem tendência a manter a direcção original e sentimos uma força que nos impele para a trajectória rectilínea (linha tracejada cinzenta). Figura 5.9: Lei da inércia numa curva 5.2.2 Segunda lei de Newton (Princípio fundamental da dinâmica) Um corpo de massa m actuado por uma força F~ tem um movimento acelerado com aceleração ~a tal que: ~a = F~ m (5.5) Dois exemplos: • Dois corpos (1 e 2) têm igual massa mas estão sujeitos a forças diferentes (ver figura 5.10). Terá maior aceleração o que estiver sujeito a uma força maior. Ou seja, a aceleração é directamente proporcional à força aplicada. No caso da figura ||~a2 || > ||~a1 ||. 25 5.3. ENERGIA MECÂNICA CAPÍTULO 5. MECÂNICA 2 1 Figura 5.10: Forças diferentes aplicadas a corpos da mesma massa • Dois corpos (1 e 2) têm massas diferentes (m2 > m1 ) mas estão sujeitos a forças iguais (ver figura 5.11). Terá maior aceleração o que tiver menor massa. Ou seja, a aceleração é inversamente proporcional à massa. No caso da figura ||~a1 || > ||~a2 ||. 2 1 Figura 5.11: Forças iguais aplicadas a massas diferentes 5.2.3 Terceira lei de Newton (Princípio da acção e reacção) Quando se aplica uma força sobre um corpo este reage com uma força de igual intensidade e direcção mas em sentido contrário. Exemplo: • Numa colisão quanto maior for a força de impacto da cabeça de uma pessoa no volante maior será o dano provocado no crânio. A acção é a força aplicada pela cabeça no volante e a recção é a força de resposta do volante sobre a cabeça. Ambas as forças têm igual intensidade e direcção mas sentido oposto. 5.3 Energia mecânica Um sistema mecânico pode ter energia sob a forma de movimento (energia cinética - EC ) ou sob a forma de forças de interacção (energia potencial - EP ). A energia mecânica EM é a soma destas duas formas de energia: EM = EC + E P (5.6) A energia cinética deve-se ao movimento e é dada por: EC = 1 mv 2 2 (5.7) Sempre que há forças de interacção há energia potencial. Por exemplo, entre um corpo com massa m e o planeta Terra existe uma interacção (atracção gravítica) logo há uma energia potencial gravítica: EP = mgh (5.8) em que h é a altura do objecto em relação à origem do movimento. Esta expressão só é válida para alturas muito inferiores ao raio terrestre (assume que o módulo do campo gravítico g é constante). Vejamos um exemplo mais concreto: Um objecto é atirado na vertical com uma certa velocidade inicial v0 . A partir do instante de saída a sua velocidade vai diminuir até atingir um ponto de altura máxima. Quanto maior for o valor da velocidade inicial maior será o valor dessa altura. Se a velocidade for superior a 40320 km h 1 o objecto não volta para baixo logo vamos assumir que a velocidade é inferior a este valor. 26 Bibliografia [1] Almeida, G. d. Sistema Internacional de Unidades (SI), grandezas e unidades físicas (Plátano editora, S. A., 2002), 3 edn. [2] (2010). URL http://www.bipm.org/en/si/. [3] Davidovits, P. Physics in biology and medicine (Elsevier, 2008), 3 edn. [4] Herman, I. P. Physics of the human body (Springer-Verlag Berlin, 2007), 1 edn. 35