COLOSTRO - IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO PARA O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA IMUNE DO NEONATO Colostrum – The Importance of Breast Milk for the Immune System Development of the newborn. Su-Ellen de Oliveira Vianna 1, Cintia Maria Coutinho1, Rogério Saad Vaz2, Eni Picchioni Bompeixe 3, Tamara Borgonovo4. 1 Alunos do Curso de Especialização: Imunologia / Centro Universitário Positivo –UnicenP, Curitiba- PR; 2 Coordenador do Curso de Imunologia / Centro Universitário Positivo – UnicenP, Curitiba – PR; 3 Orientador: Professor / Centro Universitário Positivo – UnicenP, Curitiba – PR; 4 Co-orientador: Professor / Centro Universitário Positivo – UnicenP, Curitiba – PR. Resumo - O Colostro, líquido de grande importância para proteger imunologicamente o neonato, apresenta em sua composição um grande número de imunoglobulinas, principalmente a IgA (Imunoglobulina do tipo A), interleucinas, lisozimas, lipídeos, entre outras substâncias. A amamentação feita logo após o parto tem grande valor para os recém nascidos porque, além de ajudar a eliminar o mecônio, funciona como uma imunização natural, onde a mãe passa para a criança anticorpos relacionados aos antígenos das doenças ou partículas com as quais já entrou em contato, protegendo o recém-nato. O presente estudo apresenta uma revisão sobre a composição do colostro, as principais doenças transmitidas pelo aleitamento e a importância da amamentação devido a sua grande capacidade em imunizar o neonato. (Palavras-chave: Colostro, aleitamento e Imunoglobulinas) Abstract - The colostrum, a very important liquid to immunologically protect the newborn, has a great number of immunoglobulins, mainly IgA (type A immunoglobulin), interleukines, lysozymes, lipids, and other substances. The breast-feeding right after childbirth is very important for the newborn because, besides helping to eliminate the meconium, it works as a natural immunization since the mother transfers to the child antibodies related to the antigens of the diseases or particles which she has previously faced, protecting the newborn. This study presents a review about the colostrum composition, the main diseases transmitted through the breast-feeding and the significance of the breast milk due to its great capability to immunize the newbron. (Key words: Colostrum, breast-feeding and Immunoglobulins) Introdução Donné e Henle (BRIGHI, 1965) foram os primeiros cientistas a observar a presença de células no colostro. Como os estudiosos não sabiam da natureza destas células denominaram-nas de corpúsculos de Donné ou corpúsculo colostral. Mais tarde Beigel descobriu a natureza celular, após ter feito a coloração dos núcleos e evidenciou os diversos tipos de células conhecidas atualmente, monócitos, linfócitos, macrófagos, neutrófilos, histiócitos e células epiteliais (BEIGEL1, citado por BARROS, 1977, p. 05). Há muito tempo sabe-se que o leite humano confere imunidade aos recém nascidos. Contudo foi a partir de 1950 que os primeiros estudos foram realizados, demonstrando a baixa incidência de doenças infecciosas nos neonatos amamentados (VICTORA2, citada por REGO, 2004 p.83). Por apresentar o sistema imune imaturo, o neonato é mais suscetível a infecções por bactérias e vírus. Como forma de reverter este quadro, a natureza desenvolveu meios de defesa contra esta suscetibilidade, através da passagem de anticorpos pela placenta, na vida intra-uterina e após o nascimento pela ingestão do colostro e do leite materno24. 1 BEIGEL, H. Ueber die mikroskopiche Zusammentsetzung der Milch des Weibies. 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A IgA secretora (SIgA) é o principal anticorpo presente no colostro, não é absorvida pelo trato gastrointestinal do neonato, portanto não sofrem alterações em sua reatividade, permanecendo como foi ingerido, por isso é encontrada nas fezes intacta8, e é esta característica que possibilita sua atividade de proteção na superfícies das mucosas, inibindo a aderência de células bacterianas nas células epiteliais do recém-nato e impedindo a colonização de bactérias9. Assim como as imunoglobulinas existem outros fatores bioquímicos e células imunocompetentes igualmente importantes, que agem em conjunto, conferindo imunidade passiva e estimulando o desenvolvimento e a maturação do sistema imune do recém-nascido, que é imaturo. Estes fatores e estas células são adaptados para atuar nas mucosas e são resistentes, assim como as imunoglobulinas, aos processos digestivos12. Composição do Colostro O colostro apresenta vários componentes importantes na resposta imunológica, tais como: imunoglobulinas A, G, M, D e E (IgA, IgG, IgM, IgD, IgE), lactoferrina, lisozimas, mucina, lipídeos, fagócitos polimorfonucleares e mononucleares12, interleucinas dos tipos: 1, 2, 4, 6, 8, 10 (IL-1, IL-2, IL4, IL-6, IL-8, IL-10), TNF-α (fator necrosante tumoral-α)6, TGF-β (fator de transformação do crescimento-β), IFN-γ (interferon-γ), GM-CFS (fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos), G-CFS (fator estimulador de colônias de granulócitos) e M-CFS (fator estimulador de colônias de macrófagos) 13. Embora as funções destas e outras interleucinas no colostro humano não estarem totalmente esclarecidas é provável que auxiliem na maturação do sistema imune de mucosas dos recém-nascidos, diminuindo a probabilidade de causar danos, se eventualmente algum vírus ou bactéria se instalar no organismo imaturo6. IgA0 Ë a imunoglobulina mais encontrada nas secreções mucosserosas (leite, colostro, saliva, urina, etc.), apresenta em sua estrutura duas moléculas de IgA, ligadas por uma cadeia J onde se associa a uma proteína chamada componente secretor, que é sintetizado por células epiteliais. Esta associação é responsável pelo transporte da IgA para o colostro e ainda protege-as da ação proteolítica quando passam pelo sistema gastrointestinal. É a principal imunoglobulina presente no colostro e pode ser encontrada sob duas subclasses: a IgA1 (mais encontrada no soro) e a IgA2 (encontrada em grandes quantidades nas secreções)7. A SIgA está presente no colostro, tem a função de inibir a adesão de vírus e bactérias e a exclusão imune (processo não inflamatório para manter fora do organismos toxinas, microorganismos e outros materiais antigênicos perigosos) e pode atuar também como opsonina, ligando-se a superfície de bactérias, sinalizando para os fagócitos a presença de um antígeno, facilitando o englobamento15. Diáriamente o recém-nato recebe cerca de 0,2 a 0,3 g/kg de (Fig.1) Estrutura da SIgA. A seta SigA9. indica onde se localiza o componente secretor. 2 IgG A IgG confere imunidade passiva ao lactente atravessando a barreira transplacentária e através do leite materno25, apresentando-se em menor quantidade que a IgA, aproximadamente 0,1mg/ml 24. As quatro subclasses IgG1, IgG2, IgG3 e a IgG4, estão presentes no colostro. A IgG1 e a IgG3 são eficientes na ativação do sistema complemento3, apresenta atividade opsonizante24 e atua contra vírus, protozoários, antígenos de salmonela e toxinas bacterianas12. (Fig.2).Estrutura da molécula de IgG IgE A IgE está presente nas superfícies de mastócitos e basófilos; é capaz de sensibilizar a superfície de mucosas dos tratos digestório e respiratório, por ser produzida em grandes quantidades pelos linfócitos B presentes nestes locais25. Apresenta-se em pequenas quantidades no colostro, e pode ligar-se a microorganismos e outros antígenos na mucosa. Esta ligação desencadeia a liberação de mediadores químicos pelos mastócitos, aumentando a permeabilidade vascular e facilitando a passagem de anticorpos para a luz intestinal31. (Fig.3) Molécula de IgE. IgD A IgD é mais sensível ao calor e à ação das enzimas que as demais imunoglobulinas, além de possuir a capacidade de degradar-se espontaneamente3. Está presente em grandes quantidades nas membranas dos linfócitos B ativados, sendo responsável pela diferenciação dos linfócitos desafiados por antígenos25 . Esta imunoglobulina está presente em baixas concentrações no colostro e assim como a IgE pode ligar-se a microorganismos e outros antígenos presentes na mucosa24. (Fig.4) Molécula de IgD. IgM É a imunoglobulina mais eficiente em ativar o sistema complemento por isso é freqüentemente encontrada na resposta a organismos infecciosos antigenicamente complexos 25. A IgM é a segunda imunoglobulina mais abundante no colostro, aproximadamente 2,5mg/ml. A afinidade de IgM pelo receptor da imunoglobulina polimérica das células epiteliais, possibilita sua secreção na forma polimérica já ligada ao componente secretor. (Fig.5) Molécula de IgM. 3 A IgM, também é resistente a acidez do sistema digestório, chegando intactas às fezes do neonato. Os anticorpos IgM de alta avidez reativos com vírus e bactérias podem ter um importante papel na defesa das mucosas no lactente 24. IL-1 A IL-1 é um mediador de resposta inflamatória, não específica, que estimula a ação de células fagocitárias6. Pode ser produzida por vários tipos de células, tais como: macrófagos, neutrófilos, células endoteliais e epiteliais. É responsável pela maturação dos linfócitos T e Linfócitos B e pela proliferação dos linfócitos T. A IL-1 age induzindo o aumento da temperatura, a proliferação do timo e a diferenciação da célula mãe na medula óssea, mas agem principalmente sobre as células do tecido conjuntivo, resultando no crescimento celular2. No colostro a IL-1 apresenta-se em baixas quantidades funcionando como um mediador local, caso uma inflamação se apresente no neonato1. IL-2 A IL-2 é produzida em maiores quantidades pelas células T CD4+ e pode ser produzida pelas células T CD8+ 6. A IL-2 tem ação autócrina sobre a proliferação e diferenciação de células T. Seu receptor é produzido pelas células estimuladas com a IL-1 1. Além de atuar sobre linfócitos T, também é responsável pela proliferação dos linfócitos B após este ter se ligado ao antígeno, provocando desta maneira as células específicas para combater determinado agente1. IL-4 A IL-4 é sintetizada principalmente pelas células T CD4+ da subpopulação TH2 1. Age sobre os linfócitos B desencadeando a produção de imunoglobulinas, principalmente a IgE. Esta interleucina é responsável pelo desvio da diferenciação de linfócitos TH1 (resposta dependente de fagócitos) para TH2 (envolvimento de IgE)1. IL-6 Não é uma interleucina produzida continuamente, necessita de estímulos como, por exemplo, uma infecção viral, a presença da IL-1 ou do IFN-γ 2. Funciona tanto na imunidade inata, contribuindo para os efeitos sistêmicos da inflamação (febre), como na imunidade adquirida, anticorpos, recebidos da mãe pelo colostro 25, podendo ainda aumentar a produção de IgA8. IL-10 É produzida por macrófagos ativados, que por sua vez paralisam a atividade destes macrófagos, ou seja, tem efeitos inibitórios e moduladores 1. Esta interleucina é responsável também pela estimulação na produção de IgA 6. TNF-α α Assim como a IL-8 é um mediador de imunidade não específica, possui forte atividade antiviral e pode estimular células fagocíticas 6. 4 TGF-β β e IFN-γγ Funcionam como imunomoduladores, são encontrados em grandes quantidades no colostro, mais altas inclusive, que no sangue13. Lactoferrina A lactoferrina é uma glicoproteína que possui dois sítios de ligação livres, onde podem acoplarse duas moléculas de Fe+3, substância essencial para a proliferação de microorganismos patogênicos, ou seja, a lactoferrina é importante por retirar do organismo as moléculas de Fe+3 que as bactérias usariam para se multiplicar (bacteriostática). A lactoferrina está presente em grandes quantidades no colostro humano, cerca de 5 a 6mg/ml. Pode inibir a proliferação de alguns organismos agressores, como por exemplo, o citomegalovírus, o vírus do HIV 12, Escherichia coli, Candida, Vibrio cholerae e Streptococcus. mutans 21. Lisozima Esta enzima é capaz de degradar os peptídeoglicanos da parede das bactérias gram-positivas, e agindo em conjunto com a lactoferrina e a IgA, contra as bactérias gram-negativas. O colostro contém cerca de 70µg/ml desta enzima 12. Mucina É uma proteína que fica ligada aos glóbulos de gordura, com a função de impedir a adesão bacteriana das fímbrias da Escherichia coli a mucosas21. Através do ácido siálico, presente no rotavírus, a mucina vai ligar-se a esta substância, inativando-o, portanto tem um papel inibitório na replicação deste vírus 12. Oligossacarídeos O fator bífido é o responsável pela proliferação dos Lactobacillus bifidus, que produz, através da metabolização dos açucares, o ácido lático, o ácido fórmico e outros resultando na diminuição do pH fecal e conseqüentemente o bloqueio da reprodução da Escherichia coli, Shigella e fungos, que estejam presentes na mucosa intestinal 21. As qualidades antiadesivas reduzem com muita eficácia a aderência bacteriana e virótica à via aérea superior e ao tubo digestivo. A absorção de oligossacarídeos pela mucosa intestinal e sua excreção pela urina podem ser importantes mecanismos de proteção das infecções urinárias24. Lipídeos Os lipídeos são hidrolisados em ácidos graxos e monoglicerídeos, possuem ação antiviral, pois fragmentam o envólucro viral (envelope), e ação antiparasitária contra a Giardia lamblia e Entamoeba. histolytica 12. Fagócitos Polimorfonucleares (PMN) e mononucleares Os fagócitos são componentes celulares da imunidade inata ou natural, responsáveis pela primeira linha de defesa do organismo contra infecções, eliminando os microrganismos invasores (patógenos), através de um mecanismo efetor denominado fagocitose 1. Os fagócitos polimorfonucleares e mononucleares, presentes no sangue periférico, migram para as glândulas mamárias através das células de adesão, após um estímulo hormonal que ocorre no final da gravidez e no início da produção de leite 12,13 . 5 Tipos de Fagócitos: Neutrófilos ou PMN: são importantes células da imunidade inata que atuam nas fases mais iniciais das respostas inflamatórias, migrando do sangue para os tecidos com o objetivo de fagocitar e destruir microrganismos e evitar a infecção 1. Acredita-se que a presença dessas células no colostro promovam uma proteção antiinfecciosa no lactente 8. Monócitos: após sua produção na medula óssea, são liberados para o sangue, atingem os tecidos, onde se diferenciam em macrófagos teciduais ou histiócitos, que ficam dispostos em todos os sítios onde os microrganismos possam entrar no hospedeiro, como, por exemplo, no tecido conjuntivo sub-epitelial, nos interstícios dos órgãos parenquimatosos, no revestimento dos sinusóides vasculares do fígado e do baço e nos seios linfáticos dos linfonodos 22. Macrófagos: exercem papel central na imunidade inata e são células efetoras importantes para a eliminação de microrganismos. Realizando a fagocitose e funcionando como células acessórias para a ativação das respostas adquiridas, constituem um dos mais importantes tipos de células fagocíticas e células apresentadoras de antígenos do organismo, combatendo microrganismos, processando e exibindo antígenos em sua superfície para que estes possam ser reconhecidos por linfócitos T e conseqüentemente, secretando uma enorme variedade de substâncias biologicamente ativas nos tecidos circundantes, como as citocinas 16. Fatores estimuladores de colônias e Hormônios de crescimento Os fatores estimuladores de colônias são responsáveis por estimular a proliferação de populações de células 6. Estudos feitos em crianças mostrou que as que receberam o colostro e foram amamentadas corretamente, tiveram o crescimento mais acentuado, do que crianças que não receberam, devido à falta do hormônio de crescimento 32. Condições que alteram a composição do colostro 1) Influência do tipo de parto na concentração da IgA, IgM e IgG Segundo Striker et al (2003 e 2004), a concentração de IgA varia, levando-se em consideração o tipo de parto (cesárea eletiva, parto normal e cesárea precedida de trabalho de parto). Tanto em puérperas que passaram por parto normal, quanto as que foram submetidas a cesárea, não apresentaram alterações nas concentrações de IgA, IgM e IgG. Entretanto, o mesmo não ocorreu com as puérperas que foram submetidas à cesárea precedida do trabalho de parto, que apresentaram um aumento significativo na concentração de IgA. Striker et al (2003 e 2004) concluíram que esta alteração é devida a associação do estresse cirúrgico ao estresse do trabalho de parto 28,29. 2) Estado nutricional materno Diversos estudos sugerem que mulheres desnutridas conseguem lactar com relativo sucesso, com pouca alteração no seu estado nutricional, devido à depleção de seus próprios tecidos (JELLIFFE3, citado por LAURINDO, 1991, p25.). A composição lipídica e níveis protéicos do colostro e do leite maduro não mostraram significativa alteração em relação ao estado nutricional materno (COELHO3, citado por LAURINDO, 1991, p.26). 3 JELLIFFE DB, JELLIFFE EFP. The volume and composition of humam milk in poorly nourished communities. A review. Am J. Clin. Nutr. 31:43, 1985. 4 COELHO MRV & NOBREGA FJ. Estudo das gorduras totais, valor calórico total e proteínas totais no colostro de puérperas, segundo o nível sócio-econônico, o estado nutricional e a paridade. J. Pediatr. 65:7, 1989. 6 3) Condição sócio-econômica Levando-se em consideração a condição sócio-econômica, foi demonstrado que o colostro de nutrizes que vivem em más condições sócio-econômicas tiveram um aumento nas concentrações de IgA e IgG se comparado ao colostro de mães com condição sócio-econômica estável 19; enquanto as puérperas com elevado nível sócio-econômico apresentaram aumento na concentração, somente de IgA 28,29. 4) Prematuridade O colostro de mães de prematuros mostrou uma concentração mais elevada de IgA 20 e IgM, (BARROS4, citado por LAURINDO, 1991, p.26). este aumento pode ser justificado pelo nascimento antecipado do neonato Amamentação X Riscos Antiinfecciosos Apesar da composição imunológica do colostro, devemos levar em consideração que alguns agentes infecciosos podem ser transmitidos pelo colostro e leite10. Vírus Linfotrópico da célula T humana (HTLV-1) Este retrovírus está associado com o aparecimento de leucemia de células T. A transmissão deste vírus ocorre devido ao contato sexual, por transfusão sangüínea ou pela amamentação. Estudos mostram que crianças amamentadas por mães infectadas com este vírus, têm 20% a 25% de chances de serem infectadas. Por isso as mães que tem o HTLV-1 não devem amamentar (HINO6, citado por FERNANDES et al, 2000). Vírus da imunodeficiência humana (HIV-1) Estudo realizado com 100 crianças, filhos de mulheres soropositivas, demonstrou que, as crianças que foram amamentadas artificialmente progrediram para AIDS em menos tempo que as crianças que foram amamentadas com o leite das próprias mães. Contudo, as mulheres infectadas são orientadas a amamentar artificialmente seus bebês, pois os estudos a este respeito ainda são insuficientes 30. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que em países onde a desnutrição e doenças infecciosas sejam as principais causas de morte em crianças, as mães, mesmo sendo HIV positivas, sejam orientadas a amamentar seus filhos 10. Tuberculose A transmissão desta doença é feita através de inalação de gotículas provenientes de indivíduo infectados. O bacilo de Koch não é excretado pelo leite, porém mulheres não tratadas ou com tratamento menor que três semanas devem usar máscara para amamentar (ALMEIDA7, citado por FERNANDES et al, 2000). 5 BARROS MD, CARNEIRO-SAMPAIO MM. Milk composition of low birth weight infants’mothers. Acta Paediatr Scand. 73:693-4; 1984. 6 HINO S, SUGIYAMA H, DOI H et al. Breaking the cicle of HTLV-1 transmition via carrier mother milk. (Letter). Lancet 2:158:159, 1987. 7 ALMEIDA JAG. Qualidade do leite humano coletado e processado em bancos de leite. Viçosa (tese de mestrado), 1986. 7 Hanseníase Nos casos de hanseníase lepromatosa ou virchowiana não tratadas ou tratadas a menos de três meses, não devem amamentar, pois o bacilo pode ser excretado pelo leite materno 10. Sífilis Se a mãe estiver em tratamento, a amamentação poderá ser feita, desde que não existam lesões primárias ou secundárias, aonde possam conter o treponema 10. Considerações Finais Apesar de alguns riscos em casos específicos o colostro humano é o melhor alimento que pode ser ministrado ao bebê logo após o nascimento, por apresentar os nutrientes - que estão sob forma mais facilmente digerível e absorvível – e a composição imunológica que o recém-nascido necessita, logo após entrar em um meio com um grande número de microorganismos patogênicos, que podem penetrar no organismo através do trato gastrointestinal e respiratório. A ausência do colostro na alimentação do neonato pode dar oportunidade para que, agentes infecciosos se instalem em diversos órgãos, principalmente nas mucosas dos tratos gastrointestinais e respiratórios, podendo causar diversas doenças. Além disso, a falta das imunoglobulinas (Igs) – que sendo recebidas pelo leite ajudam a maturar o sistema imune – pode favorecer o aparecimento de alergias, diarréias agudas e persistentes e intolerância a diversos alimentos. Muitos estudos evidenciam que este líquido secretado pelas glândulas mamárias materna, é de grande importância, pois, poderia diminuir, em grande parte, o número de casos de mortalidade infantil no Brasil e baixar a porcentagem de pessoas alérgicas, que vem aumentando significativamente nos últimos anos. Devido a esta importância, pesquisadores (STRIKER, 2003 e LAURINDO, 1991) já estudam de qual maneira a composição imunológica do colostro pode ser afetada e como este “primeiro leite” pode ser utilizado em adultos, contra diversos patógenos. Considerando a importância do colostro para a saúde do neonato e as condições que podem alterar sua composição, concluímos que, no Brasil, com seus conhecidos problemas de desnutrição, fazem-se necessárias não só campanhas de aleitamento materno, mas também ações que melhorem as condições sócio-econômicas da população. Agradecimentos A Eni Pichioni Bom Peixe e a Tamara Borgonovo que aceitaram nos orientar e a Dra. Solange Barros Carbonare, que restaurou nossa fé nas pessoas, e nos auxiliou em nossas buscas por conhecimento. Referências 1) ABBAS, AK; LICHTMAN, AH; POBER, JS. Imunologia Celular e Molecular. 4ª edição. Rio de Janeiro: Revinter, 2003. 2) ANTUNES, L. J; MATOS, K.T.F.; Capítulo 5: Interleucinas. In: ANTUNES, L.J. Imunologia Médica. 1ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1992. 3) ANTUNES, L. J; MATOS, K.T.F.; Capítulo 5: Imunoglobulinas. In: MACHADO, J. A. N. Imunologia Médica. 1ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Atheneu, 1992. 4) BARROS, MD. 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