profilaxia em coelhos

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Hospital Veterinário
PROFILAXIA EM COELHOS
Dada a sua afetuosidade, facilidade de manutenção e excelente interação com o proprietário, o
coelho é cada vez mais um dos animais de estimação preferidos no nosso país. No entanto, à
semelhança do cão e do gato, também o coelho necessita de cuidados médicos regulares. Por este
motivo, a profilaxia, tanto a nível vacinal como a nível de cuidados antiparasitários, assume uma
grande importância.
VACINAÇÃO
Mixomatose
A Mixomatose é uma doença viral grave e geralmente fatal, causada por um Poxvirus. Este vírus foi
descoberto no ano de 1896, tendo sido posteriormente utilizado para controlo da população de
coelhos silvestres em países como a Austrália, Chile, Argentina e a França, a partir de onde se
espalhou para a Europa continental e Inglaterra.
O vírus transmite-se através de pulgas, mosquitos e objetos contaminados, e causa doença após
um período de incubação que varia entre os 8 e os 21 dias. Nos animais afetados, os sinais clínicos
incluem: corrimento nasal e ocular, inchaços a nível da pele (incluindo pálpebras e genitais), febre,
letargia, depressão e anorexia. Outros tipos de Poxvirus podem causar pneumonia hemorrágica
aguda.
A doença progride rapidamente e a morte ocorre em cerca de 14 dias, havendo raros relatos de
cura.
A vacina contra este vírus encontra-se disponível no nosso país e deve ser aplicada de 6 em 6
meses. Nos coelhos vacinados, a imunidade ocorre dentro de 14 dias.
Caso um coelho vacinado adoeça com mixomatose, a doença ocorrerá de forma mais ligeira. Neste
caso, é possível que surjam lesões na pele do nariz e nas pálpebras ou pequenos nódulos
espalhados pelo corpo. A cura será facilmente alcançável, apenas através de cuidados básicos.
Doença hemorrágica viral
A doença hemorrágica viral é outra doença viral que afeta os coelhos, desta vez causada por um
Calicivirus.
É uma doença de curso muito rápido, caraterizada por hemorragias, geralmente a nível pulmonar.
Os animais têm dificuldade em respirar e apresentam-se febris, deprimidos e anoréticos. A doença
progride rapidamente para a morte, que ocorre em cerca de 100% dos casos. Em cerca de 10% dos
animais afetados, a doença dá-se de forma mais lenta, surgindo sintomas como perda de peso,
letargia e icterícia, anteriormente à insuficiência hepática fatal. Apenas sobrevivem os coelhos
infetados com idade inferior a 4 semanas.
A transmissão pode ocorrer de modo direto, entre um coelho doente e um coelho são, mas a
principal forma de contágio ocorre via objetos contaminados, sendo os insetos e as aves os
principais responsáveis pela dispersão da doença.
A vacina para a calicivirose, ou doença hemorrágica viral é anual. Nos coelhos vacinados, a
imunidade ocorre 7 dias após a vacinação.
DESPARASITAÇÃO
Os coelhos podem-se apresentar parasitados a nível externo ou interno. A nível externo, os coelhos
podem ser afetados por ácaros, pulgas, piolhos, carraças e míases, causando grande desconforto.
Muitos destes parasitas são zoonóticos, podendo ser transmitidos às pessoas que contactem com o
animal. Existem no mercado pipetas spot-on que fazem tratamento e prevenção da infestação por
parasitas externos durante um mês. Em geral, dada a escassez de produtos destinados apenas para
coelhos, utilizam-se formulações comercializadas para gatos que não contenham fipronilo, dada a
sua toxicidade para esta espécie. O seu Médico Veterinário poderá indicar-lhe qual o produto mais
adequado ao seu animal.
No que diz respeito aos parasitas internos, também os coelhos podem ser parasitados por
lombrigas, ténias e outros parasitas gastrointestinais. A desparasitação regular destes animais é
muito importante, especialmente nos casos em que o animal tem contato íntimo com crianças.
Para o efeito, existem também pipetas e soluções orais. O seu Médico Veterinário indicar-lhe-á qual
o melhor produto, no seu caso, e a periodicidade ideal para o aplicar.
Os coelhos podem ainda ser portadores de um parasita microscópico (Encephalitozoon culiculi), que
pode ser transmitido ao Homem. Este parasita é eliminado de forma intermitente na urina, e pode
causar doença renal, oftalmológica ou neurológica, de elevada gravidade para os coelhos. Nos
humanos, este parasita causa apenas doença gastrointestinal a crianças e adultos
imunocomprometidos.
IDENTIFICAÇÃO ELETRÓNICA
A identificação dos coelhos pode ser feita através de tatuagem e anilha, métodos mais utilizados
em coelhos para consumo. Para os animais de companhia, está disponível a identificação eletrónica
utilizada no cão e no gato, que pode ser aplicada em qualquer altura da vida do animal. Ao
contrário do que acontece nestes animais, a identificação eletrónica do coelho não é obrigatória
por lei, mesmo se pretender viajar com ele para fora do país.
CASTRAÇÃO
A castração diz-se ovariohisterectomia (OVH) no caso das fêmeas e orquiectomia bilateral, no caso
dos machos. No primeiro caso, a OVH é em todo o benefício da coelha, uma vez que evita a
gravidez indesejada, a ocorrência de pseudogestação e, ainda com maior relevância, previne a
hiperplasia e a neoplasia (tumor) do útero, que ocorre com muita frequência nesta espécie (cerca
de 80%). Finalmente, diminui também o risco de neoplasia mamária.
No caso dos machos, a orquiectomia bilateral pode modificar o comportamento sexual, marcação
territorial e agressividade demonstrada entre animais da mesma espécie, outras espécies ou
mesmo para o proprietário. Contudo, é de referir que existem outras causas de agressividade como
o medo, a dor e os comportamentos aprendidos pelo coelho, casos nos quais a orquiectomia não
fará qualquer efeito.
A castração, nos coelhos, pode ser efetuada a partir dos 4-6 meses de idade. Contudo, os machos
continuam a ser férteis até cerca de 6 semanas após a castração, pelo que o contacto com fêmeas
deve ser evitado até esta altura. Nas fêmeas, a cirurgia é mais simples e menos arriscada se
efetuada em animais de idade inferior a um ano.
PROFILAXIA DENTÁRIA
Frequentemente, os coelhos apresentam problemas orais, como abcessos e sobrecrescimento
dentário. Em casa, a melhor forma de manter saudável a dentição do seu animal é através do
fornecimento de alimentos fibrosos. O feno é, por excelência, o alimento do coelho que mais
desgaste dentário causa, permitindo que os dentes se mantenham com um tamanho e formato
saudáveis. Podem ainda ser oferecidas outras plantas silvestres, como o dente de leão.
Existem também outras medidas de enriquecimento ambiental que podem ajudar no controlo do
sobrecrescimento dentário, como a utilização de pedaços de cartão e ramos de árvores de fruto
não tratados com pesticidas. Outras opções, como as “pedras” comercializadas nas lojas da
especialidade, não promovem um desgaste adequado dos dentes destes animais.
Nas consultas de rotina, para vacinação e desparasitação do seu coelho, o Médico Veterinário irá
observar os dentes do seu animal e poderá aconselhar-lhe outras medidas de profilaxia dentária,
explicando como o deve vigiar e quais os sinais a que se deve manter atento. Um dos fatores a que
deve dar sempre atenção é ao registo do peso do seu coelho. Consulte o Médico Veterinário se
registar uma perda de peso acentuada (superior a 100g) ou outros sinais de doença dentária (ex.
seleção de alimentos menos rijos, má higiene do pelo, corrimento a nível nasal ou ocular).©
Bibliografia:
Capello, Vittorio – Rabbit and Rodent Dentistry Handbook – Zoological Education Network, Lake Worth, EUA,
2005.
Meredith, Anna & Flecknel Paul – BSAVA Manual of Rabbit Medicine and Surgery – 2nd ed, BSAVA, UK, 2006.
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