O guia que faltava para conhecer as plantas da costa

Propaganda
ID: 57321557
04-01-2015
Tiragem: 34191
Pág: 15
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 25,70 x 31,00 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
O guia que faltava para conhecer as
plantas da costa alentejana e vicentina
Duas “entusiastas da Natureza” juntaram-se para criar o primeiro guia da flora do Parque Natural do
Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Objectivo é mostrar a riqueza da região e alertar para as ameaças
DR
Biodiversidade
Marisa Soares
Na Grécia Antiga, acreditava-se que
o gaimão (Asphodelus ramosus) povoava os campos no reino dos mortos. Hoje, esta planta alta de flores
brancas vistosas, também conhecida como asfódelo ou abrótea, cresce nos matos e nos caminhos que
serpenteiam as paisagens paradisíacas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
A espécie é uma das 200 descritas
no primeiro guia sobre a flora desta
zona litoral.
As autoras, Ana Clara Cabrita e
Ana Luísa Simões, têm muito mais
em comum do que o primeiro nome: a paixão pela vegetação mediterrânica. Foi isso, e a inexistência
de um guia dedicado à flora da costa
entre Sines e Burgau, que as levou
a passar os últimos dois anos a fotografar, pesquisar, ler e escrever
sobre o assunto.
“Tinha dificuldade em encontrar
informação sobre a vegetação desta
zona, e muitas vezes andava pelos
trilhos com um guia da flora de Cascais e Sintra”, diz Ana Clara Cabrita,
de 42 anos, que é guia de natureza
na costa vicentina e colabora com
projectos de cariz ambiental. Ana
Luísa Simões tem 39 anos, é natural
do Porto mas vive em Odemira, no
Alentejo. Trabalhou em animação e
educação ambiental em áreas protegidas de França, onde se dedicou ao
estudo da flora mediterrânica.
Não são biólogas mas sim “entusiastas da Natureza”. Ana Luísa tem
alguns conhecimentos de botânica e
foi quem deu impulso a uma vontade antiga de Ana Clara. “Ligou-me a
propor escrevermos o guia juntas”,
conta a guia de natureza. A ajuda
do coronel José Rosa Pinto, naturalista, professor e responsável pelo
herbário da Universidade do Algarve, foi preciosa para preencher as
lacunas e entender as contradições
da bibliografia existente sobre a flora portuguesa.
O livro 200 plantas do SW
Alentejano&Costa Vicentina resume
as características e curiosidades sobre 200 das cerca de 1000 plantas
existentes no parque natural, que
se estende numa faixa marítima
abrangendo os concelhos de Aljezur, Odemira, Sines e Vila do Bispo.
Muitas
espécies
retratadas
no guia são
endémicas ou
estão em vias
de extinção,
como a
Diplotaxis
siifolia (flor
amarela, na
foto), que se
encontra no
Cabo de São
Vicente
“Se a comunidade
não conhecer a
riqueza que aqui
está, isto fica a
saque”, diz Ana
Clara Cabrita
A relevância desta zona litoral foi
reconhecida a nível europeu, com
a sua inclusão na Lista de Sítios de
Importância Comunitária, como Zona Especial de Conservação.
O guia é composto de 250 páginas
com fichas que incluem a fotografia
de cada planta, o nome científico da
espécie e a respectiva família botânica, os nomes comuns e uma breve
descrição, incluindo o estatuto de
protecção. As fichas estão organizadas pela cor da flor, facilitando a
identificação no terreno, e no final
do livro existe um glossário, para
que qualquer pessoa possa compreender termos menos comuns.
Muitas das espécies retratadas no
guia são endémicas, como a alcachofra-do-Algarve (Cynara algarbiensis).
Algumas estão ameaçadas de extinção, como a diabelha-do-almograve (Plantago almogravensis) cuja
população está em regressão, ou
a Diplotaxis siifolia (nome comum
desconhecido), planta amarela rara
que tem no Cabo de São Vicente a
subpopulação com maior número
de indivíduos. “As restantes subpopulações apresentam menos de 25
indivíduos e encontram-se em núcleos bastante afastados entre si”,
explica Ana Clara.
As autoras quiseram incluir no
guia as ameaças que cada espécie
enfrenta, com destaque para o pisoteio, a expansão urbano-turística e
a extracção ilegal de areias. “Temos
consciência de que é preciso ter cuidado na forma como o turismo de
Natureza se está a desenvolver e se
a comunidade não conhecer a riqueza que aqui está, isto fica a saque”,
sublinha a guia de Natureza.
O guia foi pensado, antes de mais,
para “sensibilizar a população local”, mas piscando o olho a quem
vem de fora. O livro está escrito em
português e inglês, a pensar nos milhares de turistas que todos os anos
visitam esta zona do país e também
na comunidade estrangeira que ali
reside.
A selecção de 200 plantas não foi
ao acaso. “Quisemos escolher plantas mais fáceis de observar”, explica
Ana Clara. Outras foram “deliberadamente deixadas de fora”, como
as que existem em “núcleos muito
exclusivos”, para evitar que a procura acabe por prejudicar os indivíduos que restam. Mas a autora não
descarta a possibilidade de repetir
a dose com um novo volume sobre
outras espécies em falta.
O guia, que custa 15 euros, pode
ser comprado directamente às autoras ([email protected])
ou nas livrarias. Está à venda na Livraria “Ria Formosa” em Lagos, nas
livrarias “Leya” da Rua Santa Catarina, e “Publicações Europa-América”, na Rua 31 de Janeiro, ambas no
Porto. A obra está também na FNAC
da Guia e vai estar na de Faro, onde
as autoras farão a sua apresentação
pública, no último fim-de-semana
de Janeiro.
A publicação foi apoiada pela Direcção Regional de Cultura do Algarve e pelas quatro câmaras municipais abrangidas pelo parque
natural.
Download