Agricultura Familiar Biológica e a Conservação da Biodiversidade Dia 31 de Maio de 2014 Terra Sã 2014 - Agrobio Lisboa Associação Nacional de Conservação da Natureza Quercus – ANCN Quem somos? • Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) • Associação sem fins lucrativos, independente, apartidária e de âmbito nacional • Constituída por cidadãos que se juntaram em torno do interesse pela Conservação da Natureza e do Ambiente Porquê Quercus? Porquê Quercus? • Porque são estas as árvores características dos ecossistemas florestais mediterrânicos que cobriam o nosso país; • Pela preocupação inicial, e que se mantêm, na defesa das espécies autóctones. Quercus em números • A descentralização é uma das principais características da Associação, que conta com 18 Núcleos Regionais activos em todo o país, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira; • A Quercus tem hoje cerca de 4.000 associados activos, 150 dirigentes e 400 a 500 voluntários regulares; • 13 áreas de trabalho: conservação da natureza, energia, alterações climáticas, educação para a sustentabilidade, resíduos, água, florestas, etc. • Grupo de trabalho de Educação para a sustentabilidade. A Quercus na Internet Site Oficial | www.quercus.pt Quercus TV | www.quercus.org O contexto - intervenção na área da Agricultura AGRICULTURA: Grupo de trabalho de Agricultura Sustentável; Tomada de posição relativamente a temáticas agrícolas com implicações directas nas áreas de trabalho da Associação; Quercus/Agricultura Biológica – associada da Agrobio. Com contrato de assistência técnica em propriedade certificada em MPB. O contexto - intervenção na área da Agricultura NOVA REALIDADE: Ex - MAMAOT – Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território ICNF – dupla tutela (MAOTE + MAM) Agricultura – actividade modeladora do território e com grandes impactes (positivos e negativos) a nível ambiental Portugal, no enquadramento europeu, é considerado um país rico e diversificado em flora e fauna. Possui um elevado número de endemismos, assim como espécies consideradas como relíquias do ponto de vista genético / biogeográfico. Papel relevante desempenhado pela agricultura tradicional ao longo dos séculos na conservação da biodiversidade. • Agricultura tradicional e extensiva – variedades tradicionais, conciliando a pastorícia e cultivo de hortícolas/cereais. Manutenção de áreas não cultivadas - possível algum equilíbrio entre actividade humana e Natureza. • Alguma desta agricultura tradicional e familiar em AB – Protecção biodiversidade, solo e água / obtenção de um produto de alta qualidade. 10 11 • Zonas do interior – zonas com níveis elevados de biodiversidade. Áreas de montado são intercaladas com zonas de olival tradicional e pastagens, linhas de água bem conservadas. Formação de mosaico paisagístico, cultural e ambiental. Agricultura Familiar Biológica • Produtos agrícolas de elevada qualidade; • Preservação dos recursos naturais; • Sustentabilidade (ambiental, social, económica). O conceito da Biodiversidade Representa a variabilidade entre todos os organismos vivos, o que implica as diferenças entre uma espécie e outra, as variações genéticas entre indivíduos de uma mesma espécie e também entre ecossistemas. De acordo com o relatório Global Biodiversity Outlook, do secretariado da Convenção da Diversidade Biológica, foram já identificados cerca de 1,75 milhões de espécies, a maior parte – cerca de um milhão – de insectos. Mas neste domínio, a incerteza é enorme: as estimativas sobre o número total de organismos vivos diferentes variam entre 2 milhões e 100 milhões. Espécies ameaçadas Uma espécie ameaçada é um tipo de ser vivo que corre o risco de desaparecer para sempre do planeta. A União Internacional para a Conservação da Natureza reúne sob esta área espécies que estão em três tipos de situações: “criticamente em perigo”, “em perigo” e “vulneráveis” – conforme o risco de extinção seja imediato, no futuro próximo ou a médio prazo. Cerca de 12 mil tipos de animais e plantas foram já identificados como estando em risco de extinção, segundo a actualização de 2003 da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Ninguém sabe o que se passa com a maior parte das espécies que existem no mundo, em primeiro lugar porque milhões delas nem sequer estão identificadas, e, em segundo, porque, entre aquelas que se conhece, só uma pequena percentagem é estudada e monitorizada regularmente. Espécies extinta – quando o último indivíduo potencialmente capaz de se reproduzir morreu ou desapareceu da Terra. Em espécies com reprodução sexuada, a extinção de uma espécie é geralmente inevitável quando há apenas um indivíduo restando, ou apenas indivíduos de um mesmo sexo. Um exemplo de espécie extinta é o Dodo. Espécies Autóctones - Significa que uma espécie é natural de uma região, mas não vive necessariamente só nesse lugar. A lontra, por exemplo, é nativa de Portugal (autóctone) mas também de muitos outros países. Espécies Endémicas – Imagine um animal ou planta que só existe num lugar ou numa região, e em mais nenhum outro ponto do planeta. Diz-se, então, que esta espécie é endémica desta região. Portugal tem muitas espécies endémicas e a sua protecção é prioritária, pois caso desapareçam do país, isto significará a sua extinção a nível mundial. O lince ibérico e o lagarto-de-água são exemplos de endemismos Ibéricos. Espécies Exóticas – Refere-se qualquer ser vivo que foi deliberada ou acidentalmente introduzido numa região, onde antes jamais existira. As espécies exóticas representam um grande perigo para a biodiversidade, pois muitas acabam por se tornar pragas, alterando o ecossistema, competindo com as espécies nativas e até prejudicando actividades económicas. Há vários exemplos em Portugal: a perca-sol ou o jacinto d’água. Espécies Invasoras – São espécies introduzidas por acção humana numa determinada região onde antes não existia (ou seja, é exótica). Esta espécie estabelece uma população reprodutora sem acção humana, podendo tornar-se numa praga ameaçando a biodiversidade. São exemplos o chorão-das-praias, as acácias e o lagostim-vermelho. Proteger a biodiversidade Nos anos mais recentes, o desaparecimento de espécies e de áreas naturais, consequência da actividade humana, tem ocorrido a uma velocidade sem precedentes. A extinção adicional de várias espécies representam uma perda irreversível de códigos genéticos únicos, que estão muitas vezes ligados ao desenvolvimento de medicamentos, à produção de alimentos e a diversas actividades económicas. O Banco Português de Germoplasma Vegetal, localizado em Braga, reúne todas as variedades de milho, leguminosas e frutas de Portugal. O banco de germoplasma vegetal serve para conservar, estudar, analisar e, dentro do possível, ceder sementes ou partes vegetativas. Mais de 70% dos medicamentos prescritos têm a sua origem na natureza, já que são muitas as substâncias químicas puras extraídas de seres vivos que são usadas na indústria farmacêutica em todo o mundo. Mesmo grande parte das drogas sintéticas, incluindo o ácido acetilsalicílico da aspirina, foram inicialmente descobertas em plantas e animais selvagens. A medicina tradicional, que depende de espécies selvagens ou cultivadas, constitui a base dos cuidados médicos primários para mais de 80% das pessoas que vivem em países em desenvolvimento. Contudo, mesmo nos países mais desenvolvidos, a medicina tradicional está a conquistar partidários. Nos anos 60, a leucemia na idade infantil tinha apenas uma em cinco hipóteses de cura. Actualmente, graças a drogas anti-cancerígenas desenvolvidas a partir de um composto descoberto na planta selvagem de pervinca, a taxa de sobrevivência subiu para 80%. Para além de proteger as nossas fontes de alimentos, a saúde e o ambiente, a biodiversidade providencia uma imensa quantidade de oportunidades recreativas e de valor estético. Os parques naturais são outra fonte de receita e de postos de trabalho. Ameaças à biodiversidade Poluição Todos os anos os europeus deitam fora centenas de milhões de toneladas de resíduos, uma parte dos quais perigosos. Os resíduos ocupam espaço e libertam poluentes que danificam a qualidade dos solos, águas e ar, destruindo habitat naturais e matando centenas de animais. Alterações Climáticas Uma outra ameaça para a flora e fauna da Europa são as alterações climáticas. Há provas cada vez mais claras que as actividades humanas estão a produzir uma acumulação de gases com efeito de estufa na atmosfera que provoca o aquecimento do clima da Terra. Prevê-se que, ate 2100, as temperaturas médias na Europa subirão entre 1˚C e 6˚C. Caso não se actue, o ritmo das alterações climáticas será demasiado rápido para as espécies animais e vegetais em diferentes zonas climáticas se conseguirem adaptar ou migrar a tempo. As consequências para a vida selvagem poderão ser desastrosas. Fogos Florestais Os incêndios fazem parte do ciclo natural das florestas. Antes do Homem ter uma participação activa nestes fenómenos, os fogos florestais ocorriam espontaneamente num intervalo médio de 100-200 anos, estando assegurada a manutenção da reprodução dos insectos e plantas que dependiam da floresta. Hoje em dia estes acontecimentos, por vezes de forma incontrolável e com proporções alarmantes, são uma das principais causas da perda significativa de biodiversidade em povoamentos florestais, assim como da redução da produção florestal. Os incêndios queimam, em média, mais de 50.000 ha de floresta por ano em Portugal. Organismos geneticamente modificados (OGM’s) A libertação no ambiente de organismos geneticamente modificados (OGMs) poderá ter impactos na biodiversidade a nível da reprodução de espécies híbridas diminuindo a variabilidade de espécies silvestres. O aumento de área cultivada com OGMs favorece o aparecimento de plantas “daninhas” com tolerância múltipla a herbicidas, podendo resultar em novos OGMs mais competitivos nos agroecossistemas. Exploração excessiva dos recursos naturais Ao mesmo tempo, as nossas exigências em termos de recursos naturais, como a água e a madeira, estão em risco de exceder a oferta. O abate não planificado de árvores destrói florestas e o aumento da procura de água potável - associada a erosão dos solos - está a levar à desertificação de algumas zonas da parte Sul do Planeta. A alimentação da população crescente do planeta tem sido, sem dúvida, uma preocupação justificada. A interrogação sobre se os meios utilizados têm sido os mais adequados persiste. Sabemos que menos de 30 espécies vegetais fornecem 90 por cento dos géneros alimentares da população mundial. A agricultura em regime intensivo tem sido um dos métodos praticados para produzir alimentos, mas ela tem-se traduzido, em algumas regiões, em sistemas de monocultura que empobrecem a biodiversidade. Ao longo das costas, a pesca excessiva está a dizimar as populações de peixes. Todas estas actividades constituem uma ameaça para as espécies selvagens e os seus habitats. Obras de construção civil Devido ao grande desenvolvimento humano nestas últimas décadas, as obras de construção civil (estradas, barragens, urbanizações, parques eólicos entre outros) invadem zonas protegidas e parques naturais, onde se encontram habitas e espécies protegidas, destruindo ecossistemas de grande valor, levando à extinção ou redução substancial de várias espécies. O rio Sabor, é um dos últimos rios não represados e é provavelmente aquele que se encontra mais próximo do estado natural em Portugal, está agora prevista uma nova barragem que poderá levar à extinção de várias espécies. Fauna silvestre na agricultura gralha pica pau gaio pintassilgo poupa chapim real Fauna silvestre na agricultura rela salamandra cobra de escada raposa cobra de ferradura texugo Papel dos insectos na Agricultura • Classe Insecta – Grupo muito diversificado e com grande capacidade de adaptação; • Presentes na quase totalidade dos ecossistemas; • Presença natural nos sistemas agrícolas. Insectos na Agricultura • Prejuízos/Benefícios • Agricultura intensiva/Agricultura sustentável Os insectos como auxiliares • Impedem o desenvolvimento de populações de inimigos das culturas; • Acção discreta mas suficiente para impedir a ocorrência de prejuízos; • Estima-se que devido à sua acção, menos de 1 a 2% dos insectos potencialmente nocivos se converta em praga; • Recurso natural gratuito e renovável. Tipos de insectos auxiliares Modo de alimentação e actuação: • Parasitóides – insectos cujas larvas se desenvolvem à custa de um organismo de outra espécie, ao qual, depois de completado o seu desenvolvimento, causam a morte. • Predadores – insectos que necessitam de mais de um indivíduo para completarem o seu desenvolvimento. As presas são procuradas activamente, ou capturadas, e mortas de imediato. Tipos de insectos auxiliares Parasitóides: Ordem Himenópteros Superfamília Calcidóideos Superfamília Icneumonóideos Ordem Dípteros Família Taquinídeos Tipos de insectos auxiliares Predadores: Ordem Coleópteros (50% espécies): Famílias Coccinelídeos, Carabídeos e Estafilínideos Outras Ordens: Dermápteros, Dictiópteros, Dípteros, Hemípteros, Himenópteros, Neurópteros, Tisanópteros Exemplos e caracterização • Classificação taxonómica • Modo de alimentação e actuação • Culturas em que intervêm Exemplos e caracterização Classificação taxonómica • Ordem: Diptera • Família: Tachinidae Modo de alimentação e actuação • Parasitas de lagartas de Lepidópteros, Coleópteros e outros insectos prejudiciais às culturas Culturas em que intervêm • Pomares de macieiras, nogueiras, olivais. Outras árvores e arbustos como a Tília e o Lilás Exemplos e caracterização Classificação taxonómica • Ordem: Coleoptera • Família: Coccinellidae Modo de alimentação e actuação • Predadores muito activos de afídeos, cochonilhas, ácaros, psilas, thrips e outras pragas Culturas em que intervêm: • Quase todas as culturas de herbáceas, arbóreas ou arbustivas, de ar livre ou de estufa Exemplos e caracterização Classificação taxonómica • Ordem: Heteroptera • Família: Anthocoridae Modo de alimentação e actuação • Predadores de ácaros, psilas, pequenas larvas de borboletas, afídeos, thrips e cicadelídeos Culturas em que intervêm • Vinhas, pomares, milho e hortícolas. Muitas culturas de estufa Perspectivas futuras • Maior consciência dos impactos da Agricultura intensiva no Ambiente e procura de alternativas • Aumento da área cultivada em Agricultura Biológica e outros métodos de Agricultura Sustentável • Maior apoio à Agricultura Familiar Biológica (?) • Maior recurso voluntário à fauna auxiliar como forma de combater e/ou limitar algumas pragas das culturas Perspectivas futuras • Adopção de medidas de protecção/conservação da biodiversidade • Limitar ou impedir a utilização de herbicidas e pesticidas de síntese, moderar a mobilização do solo, conservar bordaduras dos campos agrícolas com vegetação espontânea, plantar sebes de vegetação autóctone e conservar áreas de bosque e floresta em redor, colocar abrigos artificiais, manter muros antigos, etc.. • Continuar a sensibilizar a população e os decisores para a importância da Agricultura Biológica