INSTITUTO HOMEOPÁTICO JACQUELINE PEKER CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINÁRIA USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE IMUNODEFICIÊNCIA FELINA REVISÃO DE LITERATURA LAURA FERNANDA CONDOTA BORBA DE SOUZA CAMPINAS 2012 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE IMUNODEFICIÊNCIA FELINA REVISÃO DE LITERATURA LAURA FERNANDA CONDOTA BORBA DE SOUZA Monografia apresentada ao Instituto Jacqueline Peker, como parte integrante do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária. Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Lobo. CAMPINAS 2012 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre me guiando e me dando oportunidades para evoluir. Agradeço aos meus avós queridos, pelo apoio e incentivo e, principalmente ao meu avô Renato, que com muito esforço conseguiu me proporcionar a realização deste curso. Agradeço aos meus pais, que também muito me incentivaram e assim como meus avós, foram meus pacientes, e ainda pelo carinho ao me receber todo mês e principalmente por terem me apoiado a me tornar Médica Veterinária. Agradeço ao meu namorado Henrique, que também sempre me incentivou, pelo amor e também por não me deixar desistir quando tudo se tornou muito cansativo. Agradeço à Barbara Pietro, que se tornou uma grande amiga, pelos desabafos e apoio e ainda pelas muitas caronas. Agradeço ao Dr. Prata e à Renata, pela hospitalidade e conselhos, pelas saborosas pipocas nos dias do curso. Agradeço a todos os professores, que me ensinaram um novo modo de ver o paciente e a vida. Agradeço à Dra. Cecília Tavares, pelos ensinamentos, pelo período de estágio do qual aprendi muito, pelos conselhos de vida e pela oportunidade de melhorar como pessoa e como veterinária. Agradeço ao meu orientador e professor, Eduardo Lobo, por tudo que me foi ensinado, pela paciência e pela oportunidade de me auxiliar neste trabalho. Agradeço enfim, aos meus cães e primeiros pacientes, Khadija, Fredd, Al Capone, Amarula e Catarina, foram eles a minha inspiração para querer estudar uma Medicina que forneça uma melhor condição de vida. SOUZA, L. F. C. B. Uso da Acupuntura no Tratamento de Imunodeficiência Felina. Revisão de Literatura. Campinas, 2012, no paginas. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Acupuntura Veterinária – Instituto Homeopático Jacqueline Peker, Campinas – SP. RESUMO A Imunodeficiência Felina é uma das patologias mais comuns entre gatos, principalmente dentre aqueles que têm acesso à rua. Esta enfermidade apresenta um prognóstico muitas vezes reservado, pelos sinais clínicos apresentados e por provocar uma debilidade geral do animal. A Acupuntura, técnica da Medicina Tradicional Chinesa, desenvolvida a milhares de anos, mostra-se como uma importante ferramenta a ser utilizada no tratamento dos animais acometidos por essa doença, melhorando a disposição do paciente e dos seus sinais clínicos, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Este trabalho apresenta-se uma revisão da doença e seus tratamentos, de acordo com a Medicina Ocidental e segundo a Medicina Tradicional Chinesa. Palavras Chave: Imunodeficiência Felina, vírus, gatos, acupuntura. ABSTRACT The Feline Immunodeficiency is one of the most common pathologies among cats, mainly among those with Access to the street. This disease many times presents a reserved prognosis, due to the clinical signs shown and because it causes a general weakness on the animal. The acupuncture, a technique of the Chinese Traditional Medicine, developed thousands of years ago, is a very important tool to be used in the treatment of those animals affected with this disease improving the patient disposal and its clinical signs, providing a better quality of life. This document presents a review of the disease and its treatments, according with the Western Medicine and due the Chinese Traditional Medicine. Key Words: Feline Immunodeficiency, virus, cats, acupuncture. LISTA DE ABREVIATURAS FIV – VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA FELINA MTC - MEDICINA TRADICIONAL CHINESA BP – BAÇO PÂNCREAS E – ESTÔMAGO P – PULMÃO IG – INTESTINO GROSSO F – FÍGADO VB – VESÍCULA BILIAR TA – TRIPLO AQUECEDOR B – BEXIGA VC – VASO CONCEPÇÃO VG – VASO GOVERNADOR LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Yin e Yang. ................................................................................................... 19 Figura 2 - Ciclo Sheng e Ciclo Ko. ............................................................................... 21 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7 2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................... 8 2.2 PATOGENIA, SINAIS CLÍNICOS, PATOLOGIA ........................................................... 11 2.3 DIAGNÓSTICO ........................................................................................................ 15 2.4 TRATAMENTO ........................................................................................................ 16 2.5 CONTROLE E PROFILAXIA ...................................................................................... 17 3 IMUNODEFICIÊNCIA FELINA E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) ............................................................................................................................ 18 4 SUGESTÃO DE PONTOS QUE PODEM SER UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE IMUNODEFICIÊNCIA FELINA .......................................... 28 5 CONCLUSÃO............................................................................................................ 34 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 35 INTRODUÇÃO O vírus da Imunodeficiência dos Felinos (FIV), isolado em 1986, é um lentivírus à semelhança do HIV, porém antigenicamente distinto. Estudos sobre a prevalência da infecção pelo FIV em gatos demonstram que os machos são mais acometidos do que as fêmeas e que a idade dos animais infectados varia segundo os pesquisadores, observando-se, entretanto, maior prevalência em animais com mais de 2 anos. Os gatos infectados naturalmente apresentam imunossupressão secundária similar aqueça observada na AIDS. Muitos dos quadros clínicos associados com a infecção pelo FIV desenvolvem-se secundariamente à infecções oportunistas que ocorrem durante a fase imunossupressiva da doença (LUCAS, 2008). O principal modo de transmissão natural de FIV é a mordedura, com a inoculação do vírus, onde praticamente todos os animais soropositivos que têm o vírus circulante, possuem grande carga viral na saliva. O vírus afeta principalmente as células do sistema mononuclear como linfócitos, monócitos e macrófagos, em órgãos como medula óssea, timo, pulmão, trato gastrointestinal, cérebro e rins, sendo os linfócitos TCD4+ os mais atingidos na fase inicial da infecção. Nas primeiras semanas de infecção existe uma linfopenia, que precede uma resposta imune ativa marcada pela produção de anticorpos anti-FIV, diminuição da carga viral e um aumento persistente de linfócitos T citotóxicos (CD8+) (RODRIGUES, 2012). Durante a fase aguda, a taxa de mortalidade é considerada baixa, porém os animais podem sofrer de leucopenia por neutropenia leve à moderada, depressão e febre, que pode durar de semanas à meses. A fase assintomática pode acontecer, com o gato aparentemente hígido, no entanto ocorre diminuição dos linfócitos. O animal é levado ao veterinário geralmente na fase onde apresenta linfadenomegalia generalizada persistente e sinais pouco específicos como anorexia, perda de peso, alterações de comportamento, anemia, dentre outros. Esse estágio pode evoluir para o considerado quarto estágio, onde os animais apresentam infecções oportunistas em trato respiratório superior, cavidade oral, pulmões, conjuntiva e trato urinário, etc. O quinto estágio, geralmente pouco descrita, é a fase mais avançada da 8 doença, com anemia e leucopenia persistentes, porém outros sinais são dependentes de cada indivíduo (AVILA,2009). 2 REVISÃO DE LITERATURA O vírus da imunodeficiência dos felinos (FIV) é um patógeno dos felinos domésticos, de distribuição mundial e associado com uma variedade de condições mórbidas. Estudos demonstram que o vírus da imunodeficiência felina apresenta prevalência variada de acordo com as diferentes regiões geográficas e o estilo de vida do felino. Existem poucos estudos sobre a variabilidade genética de amostras brasileiras do FIV (TEIXEIRA, 2010). As taxas mais altas de infecção têm sido encontradas em gatos machos adultos com livre acesso às ruas, os quais, frequentemente, apresentam comportamento agressivo (TEIXEIRA, 2007). A infecção provocada pelo vírus é de caráter vitalício e reduz progressiva e gradativamente a função imune do animal, causando uma síndrome da imunodeficiência adquirida (SHERDING, 2008). A sobrevida dos animais portadores infectados pelo FIV e assintomáticos é relativamente longa, o que expõe ao risco da infecção os animais que convivem no mesmo ambiente (TEIXEIRA, 2010). O FIV é particularmente importante para os estudos de patogenia pelo HIV devido à grande similaridade no desenvolvimento da infecção. Nos estágios iniciais da infecção por FIV, a cinética da viremia é semelhante a do HIV, tornando a infecção pelo FIV um modelo valioso para o estudo da patogenia do HIV (GROTTI, 2007). O primeiro isolamento de imunodeficiência felina (FIV) foi descrito em 1986, na cidade de Petaluma, Estados Unidos. A presença do vírus estava associada com um quadro de imunodeficiência, e as características ultraestruturais das partículas víricas, assim como a detecção da atividade de transcriptase reversa, permitiram a sua 9 classificação como um retrovírus pertencente ao gênero Lentivirus. Os isolados de campo do FIV são agrupados em cinco genótipos (A, B, C, D e E), com base de similaridade genética. Os genótipos A e C são mais frequentes na América do Norte, embora atualmente os genótipos A e B sejam os mais detectados em todo o mundo. Filogeneticamente o FIV é mais próximo dos lentivirus EAIV, CAEV e MVV do que dos lentivírus dos primatas, como o HIV. Apesar disso, esse vírus é considerado um modelo animal adequado para estudos de patogenia, pesquisa de drogas antirretrovirais e desenvolvimento de vacinas para o HIV. Isso se deve principalmente às características semelhantes dos quadros de imunossupressão observados em gatos (FIV) e humanos (HIV) (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). A ampla heterogeneidade molecular do FIV relatada nos subtipos do vírus identificados ao redor do mundo e a alta capacidade de promover mutações sob pressões imunológicas, farmacológicas ou ambientais são características inerentes aos Lentivirus. Em condições de alta densidade populacional e promiscuidade, há a possibilidade de ocorrer recombinação genética do vírus infectante, co-infecções ou super infecção dos felinos por variantes de um mesmo subtipo ou por subtipos diferentes dos vírus. A heterogeneidade nas sequências do ácido nucléico é o resultado da natureza errática da enzima transcriptase reversa (RT), bem como da alta taxa de produção de vírions. Essa heterogeneidade permite ao vírus uma rápida adaptação do sistema imune, às drogas antivirais ou a ambos, constituindo-se no mecanismo de escape viral frente à pressões farmacológicas, imunológicas ou pressões de seleção ambiental (TEIXEIRA, 2010). 2.1 EPIDEMIOLOGIA O FIV apresenta uma distribuição mundial e já foi isolado também de felinos selvagens, além de já terem sido descritos vários isolados de gatos domésticos. A soro prevalência na população geral pode variar de 1 a 30%, com índices mais elevados entre animais que apresentam sinais de doença. Em níveis mundiais, estima-se 10 uma prevalência de aproximadamente 12% nos felinos domésticos. O FIV tem sido descrito em felinos no Brasil. No Rio de Janeiro, 21% dos felinos testados eram positivos para o vírus. No Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, estudos epidemiológicos têm confirmado a presença da infecção em felinos com imunodeficiência ou sem sinais clínicos (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). Em estudos feitos no Japão, não foi observado correlação significativa entre os diferentes subtipos de FIV e os sinais clínicos. Entretanto, síndrome da imunodeficiência e doença fatal foram observadas em gatos com o subtipo A. Ausência de sinais clínicos ou sinais mais brandos, como gengivite e estomatite foram observados em gatos infectados com subtipo B. Relatos de infecções experimentais e naturais descrevem que a diarreia é frequentemente observada em gatos infectados pelo subtipo C (GROTTI, 2007). A contaminação do felino é dada por mordidas ou arranhões de gatos infectados por FIV, e não por contato sexual como é o caso do HIV. Geralmente, os gatos FIV positivos são machos de rua, onde a concentração é alta e a taxa de estresse é contínua, o que pode ocasionar o aparecimento do vírus (SANGEROTTI; MEDEIROS; PICCININ, 2008). A infecção ocorre com maior frequência em gatos com mais de um ano de idade (RAVAZOLLO, A. P.; COSTA, U., 2007) sendo a mais prevalente nos animais com seis anos ou mais (SHERDING, 2008). A principal forma de transmissão parece ser pelo contato direto, através da saliva, pelas mordidas durante as brigas entre os animais. Os machos se infectam com o dobro da frequência das fêmeas, pelo seu comportamento social e agressivo distinto (RAVAZOLLO; COSTA, 2007) podendo a proporção chegar a 3 ou 4 machos para cada fêmea (SHERDING, 2008). As fêmeas são infectadas principalmente por mordidas cervicais durante o acasalamento (GROTTI, 2007). O vírus também pode ser transmitido pelo sêmen durante a cópula e pelo leite de fêmeas infectadas (infecção por via oral) (RAVAZOLLO; COSTA, 2007), porém encontra-se em quantidades menores no sêmen e no leite (GROTTI, 2007). Os filhotes de gatas soropositivas saudáveis podem tornar-se persistentemente infectados, dependendo da carga viral da progenitora durante a 11 gravidez e no parto. Se a gata estiver na fase aguda da infecção, mais de 70% dos filhotes podem nascer infectados (TEIXEIRA, 2010). A transmissão venosa por transfusão sanguínea de sangue contaminado também pode ocorrer (SHERDING, 2008). Outras formas de transmissão, indiretas, menos frequentes incluem o compartilhamento de vasilhas de água e comida e lambeduras mútuas. A importância da transmissão venérea no meio natural não é conhecida, entretando o FIV pode ser transmitido por inseminação artificial com sêmen fresco (CANEY, 2000). De acordo com Sherding (2008), a prevalência de infecção em domicílio de gatos criados sem outros felinos juntos é inferior a 1% e a de gatis de raça pura bem cuidados, inferior a 2%. Em países como Itália e Japão onde há alta densidade populacional de gatos errantes a taxa de prevalência pode atingir de 25 a 30%. 2.2 PATOGENIA, SINAIS CLÍNICOS, PATOLOGIA O FIV apresenta tropismo primário aos linfócitos, mas também pode infectar macrófagos, sistema nervoso central e glândulas salivares (SHERDING, 2008). Mesmo com a produção de anticorpos neutralizantes e com a resposta imune celular, a infecção pode se estabelecer. A replicação viral ocorre inicialmente em células do tecido linfoide, principalmente timo e nas glândulas salivares, levando à uma diminuição nos linfócitos T. Posteriormente o vírus atinge macrófagos e linfócitos dos pulmões, trato intestinal e rins (GROTTI, 2007). A imunossupressão observada nos animais infectados pelo FIV é o resultado da depleção dos linfócitos T auxiliares (CD4+), que leva a uma inversão da relação CD4+/CD8+ (RAVAZOLLO; COSTA, 2007) e possível perda de linfócitos CD8+ na fase final da infecção (SHERDING, 2008). O comprometimento do sistema imunológico resulta no desenvolvimento de infecções oportunistas, que caracterizam os estágios finais da doença (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). 12 Na ocorrência de anormalidades em relação à saúde do felino, a detecção de um possível gato soropositivo, é feita a partir do surgimento de sintomas como diarréia persistente, problemas respiratórios, febre, emagrecimento, anemia, infecções e mais raramente a morte (SANGEROTTI; MEDEIROS; PICCININ, 2008). Mas o quadro clínico depende da idade e estado de saúde do gato, da cepa viral, da dose e via de exposição e da interação com patógenos oportunistas. Sendo que 50% dos animais apresentam estomatite-gengivite, rinite-conjuntivite, perda de peso progressiva, diarreia e febre (SHERDING, 2008). Os gatos portadores de FIV podem estar em diferentes estágios clínicos de infecção. Embora esta divisão possa ser útil do ponto de vista de avaliação de prognóstico, nem sempre é possível distinguir entre um estágio e outro e nem todos os gatos manifestam todos os estágios (GROTTI, 2007). Na fase aguda da doença, raramente identificada em condições de campo, observa-se uma síndrome similar à do HIV, incluindo episódios de febre e linfoadenopatia generalizada (TEIXEIRA, 2010). Essa fase tem duração de aproximadamente quatro a seis semanas (SHERDING, 2008). A disseminação do vírus no organismo do hospedeiro ocorre principalmente pelos linfócitos infectados e, em menor escala, pelos monócitos e macrófagos. Estes últimos estariam relacionados com a persistência do vírus nos estágios finais da doença (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). Na fase primária de infecção, apresenta um período de viremia de várias semanas, com linfoadenopatia generalizada, febre e neutropenia. A segunda fase caracteriza-se por um longo estágio assintomático, que pode durar vários anos durante o qual há redução dos linfócitos T CD4+ (CALDAS, et al, 2000). Nessa fase às vezes nota-se linfadenomegalia persistente (SHERDING, 2008). No estágio terminal, a imunossupressão é evidente, com manifestações clínicas decorrentes das infecções oportunistas. Infecções crônicas da cavidade oral e do trato respiratório são comumente observadas (CALDAS, et al, 2000). Segundo GROTTI, (2007), esse primeiro estágio de infecção pode ser caracterizado por febre, diarreia, conjuntivite, uveíte, icterícia, infecção bacteriana secundária, neutropenia (frequentemente associada leucopenia moderada) e 13 linfadenomegalia generalizada. Apenas a linfoadenopatia pode persistir por todo o período de infecção (TEIXEIRA, 2010) e apresenta relação com a idade, pois quanto mais jovem maior será sua duração, não ocorrendo geralmente em animais velhos (THOMAS; ROBINSON, 1995). O vírus pode ser detectado em órgãos linfóides, nos pulmões, fígado, rins e no plexo coróide. Os achados histopatológicos associados com a enfermidade consistem de hiperplasias no tecido linfóide associados às mucosas (MALT), nos linfonodos, tonsilas, timo e medula óssea (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). A mortalidade no primeiro estágio é baixa e a maioria dos animais evolui para um estágio de portador assintomático, o segundo estágio, que pode durar vários anos. Embora o gato não demonstre sinais clínicos, há diminuição de neutrófilos, linfócitos, linfócitos TCD4+, da razão CD4/CD8 e aumento de linfócitos B (GROTTI, 2007). Devido à variedade de manifestações clínicas, os gatos que apresentem infecções crônicas ou recidivantes, perda de peso, distúrbios digestivos, respiratórios, oftalmológicos ou neurológicos, alterações hematológicas e neoplasias devem ser submetidos aos testes para o diagnóstico da infecção. Entretanto, por causa da ausência de sinais clínicos, ou da existência de sinais clínicos discretos, a fase aguda da infecção viral pode passar despercebida, o que dificulta o estabelecimento precoce do diagnóstico. A ausência ou a variabilidade de sintomas na população felina infectada pode refletir os diferentes subtipos do vírus, como também a variação no subtipo com o vírus mais ou menos virulentos, a dose infectante e a resposta imune do hospedeiro (ZANUTTO, et al, 2011). No terceiro estágio há o desenvolvimento de linfadenomegalia generalizada e pode durar de seis meses a vários anos, podendo ou não estar acompanhado de anorexia, emagrecimento progressivo e febre de origem desconhecida. Pode ser observada anemia com ou sem leucopenia e diminuição da razão de CD4/CD8. Alguns clínicos reuniram os estágios três e quatro em um único estágio porque frequentemente é difícil a diferenciação clinicamente (GROTTI, 2007). O quarto estágio é chamado complexo relacionado à AIDS (CRA), onde os animais manifestam doenças de natureza crônica e há presença de infecções 14 bacterianas secundárias. As gengivites, periodontites e estomatites são os sinais clínicos mais comuns de gatos infectados pelo FIV. Em menor frequência são observados: perda de peso, abscessos, feridas que não cicatrizam, otite, diarreia, infecção respiratória superior, alterações hematológicas (anemia, leucocitose ou leucopenia, neutropenia, linfopenia, trombocitopenia, diminuição de TCD4 e aumento de linfócitos B), neoplasia, doenças renais e neurológicas (GROTTI, 2007). No quinto estágio, terminal, também conhecido como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), os gatos frequentemente desenvolvem infecções oportunistas em vários órgãos. A caquexia é evidente e é comum a observação de anemia e leucopenia. Os animais apresentam também desordens mieloproliferativas, tumores e sinais neurológicos. Há desenvolvimento de imunodeficiência grave e que aumenta a predisposição a outras infecções virais, fúngicas e bacterianas ( HARTMANN;1998). Segundo Sherding (2008), os sinais neurológicos que podem aparecer na fase crônica da doença, dependem da cepa viral e da idade do animal (filhotes). O FIV, por ser neurotrópico, infecta a micróglia e os astrócitos causando lesão neuronal. Os sintomas são variáveis podendo ocorrer alteração comportamental, demência, andar em círculos, espasmos faciais, sucção do lábio e convulsões. Gatos com FIV também apresentam maior probabilidade de desenvolverem neoplasias mais provavelmente secundárias do que devido à ação oncogênica do vírus. Os animais acometidos apresentam maior chance de terem neoplasias mieloproliferativas e linfoma de células B. Outras neoplasias como adenocarcinoma e carcinoma de células escamosas ocorrem esporadicamente (SHERDING, 2008). A presença de anticorpos contra o FIV pode ser evidenciada por testes sorológicos em duas a quatro semanas após a infecção. Os machos adultos têm sido apontados como a categoria animal de maior incidência da infecção. Provavelmente devido aos fatores de risco para a transmissão do agente (agressividade, brigas, contato com vários animais) (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). O curso e o prognóstico da doença são variáveis, dependendo das condições ambientais, infecções oportunistas, idade de hospedeiro, carga viral, cepa 15 envolvida e das condições clínicas do gato do momento em que se estabelece a infecção. O período assintomático pode evoluir para o estágio caracterizado por uma variedade de distúrbios associados à síndrome da imunodeficiência que pode resultar na morte dos animais (TEIXEIRA, 2010). 2.3 DIAGNÓSTICO A sintomatologia clínica observada em gatos infectados pelo FIV é inespecífica e reflete em um quadro geral de imunossupressão, semelhante ao observado na leucemia pelo FeLV. Quadros sugestivos de imunossupressão devem ser investigados para a presença de anticorpos, antígenos ou ácidos nucléicos virais (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). Para a detecção de anticorpos, os testes mais utilizados são o ELISA, IFA e o Western Blot. Animais com testes negativos devem ser testados novamente após 60 dias, para a confirmação do resultado. Existem kits baseados em cromatografia para o diagnóstico da infecção em nível ambulatorial, pela detecção de antígenos virais no sangue total (RAVAZOLLO; COSTA, 2007), mas a concentração de FIV no sangue é baixa, dificultando sua detecção (SHERDING, 2008). A detecção de provirus em células sanguíneas por PCR também pode ser realizada, utilizando-se o DNA extraído dos leucócitos. Porém, a utilização da técnica de PCR para o diagnóstico da infecção da infecção pelo FIV tem sido questionada, pela falha na detecção de vírus com variações genômicas (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). Podem ocorrer falsos não reagentes para FIV quando o animal está infectado, mas ainda não produziu anticorpos ou na fase terminal quando o sistema imune já está gravemente comprometido e os anticorpos podem ser reduzidos à níveis não detectáveis. Nestes casos é indicada a realização da técnica de reação em cadeia pela polimerase (PCR), pois identifica o provírus do FIV integrado no genoma da célula hospedeira. Podem ocorrer falsos reagentes em filhotes de gatas infectadas ou animais 16 submetidos à vacinas consecutivas, pois estes animais podem desenvolver anticorpos séricos contra antígenos de cultivo celular (GROTTI, 2007). 2.4 TRATAMENTO Segundo SHERDING (2008), após ter contraído a infecção não há tratamento eficaz disponível para eliminação do FIV. Mas apesar de incurável, os gatos sadios podem viver anos, antes da manifestação de sinais clínicos e os sintomáticos podem ser controlados por meses ou anos com tratamento suporte. O tratamento visa diminuir a carga viral com o uso de terapia antiviral ou aumentar a resposta imune do hospedeiro com imunomoduladores. Mas há pouca evidência de que isso traga benefício ou aumente a longevidade do paciente. O tratamento é inespecífico para as retroviroses, segundo GROTTI (2007), sendo designado a conter as infecções secundárias e oportunistas e melhorar a qualidade de vida do gato, controlando a desidratação, a anemia e a desnutrição. Nos casos de desenvolvimento de linfoma, protocolos quimioterápicos devem ser instituídos. A taxa de remissão em gatos com linfoma é de aproximadamente 65 a 75% em animais tratados com vários protocolos quimioterápicos e esses animais vivem em média 9 a 18 meses. Alguns estudos têm demonstrado resultados promissores com a utilização do interferon recombinante para o tratamento da infecção, aumentando a sobrevida dos animais tratados. O tratamento de felinos infectados com o FIV e FeLV por cinco dias, com rFelFNw (interferon ômega recombinante felino), pela via subcutânea, aumentou duas vezes a chance de sobrevivência. Clínicos têm utilizado interferon α humano para o tratamento de várias doenças virais felinas, relatando alguns sucessos na terapia. No entanto, ainda são necessários estudos para a comprovação da eficácia do interferon em espécie heteróloga. Drogas que estimulam o sistema imune, como a Immunoregulin®, também são utilizadas. Essa droga contém a Propionibacterium acnes, que ativa macrófagos e estimula a produção de linfocinas e a 17 resposta imune celular, aumentando a atividade das células NK (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). As drogas usadas no tratamento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) podem ou não ser usadas nos gatos devido à alta toxicidade, baixa eficácia, custo ou indisponibilidade. A Zidovudina (AZT) é o mais estudado para o tratamento da FIV, usada na dose de 5mg/kg, duas vezes ao dia, ela inibe a replicação viral e melhora os parâmetros imunológicos, aumentando o tempo de sobrevida. Mas é necessário acompanhamento de hemograma completo por ser mielossupressora. O uso de interferon-α humano por via parenteral em altas doses também tem mostrado efeito antiviral e imunomodulador (SHERDING, 2008). O tratamento suporte geral deve ser adequado às necessidades do animal fazendo uso de antibióticos, anti-inflamatórios, fluidoterapia e suporte nutricional. Os gatos positivos devem ser mantidos dentro de casa para evitar exposição a doenças infecciosas e disseminação do vírus. A vacina anual deve ser feita, de preferência com o vírus morto (SHERDING, 2008). 2.5 CONTROLE E PROFILAXIA Os gatos infectados por FIV devem ser mantidos no interior de suas residências, num ambiente limpo, tranquilo e principalmente longe do contato com outros gatos para prevenir a transmissão da doença e evitar a exposição a patógenos oportunistas. É aconselhável o tratamento contra pulga, a vermifugação e a utilização de ração de boa qualidade (TEIXEIRA; SOUZA, 2003). Após a identificação dos animais positivos, o controle pode ser realizado pela sua separação dos demais animais, reduzindo a possibilidade de transmissão. Animais que têm acesso às ruas, e que, portanto, entram em contato com outros animais, apresentam uma probabilidade maior de serem infectados. A limitação do acesso de gatos domésticos às ruas pode reduzir o risco de adquirirem a infecção, mas isto nem sempre é exequível (RAVAZOLLO; COSTA, 2007). 18 Os testes para FIV são indicados não só em caso de gatos doentes, mas também nos recentemente adotados, nos que serão vacinados contra a doença, em gatos com risco de exposição e também nos adotados recentemente e sadios que ainda não fizeram o teste. É importante o reteste anual nos animais de alto risco, por exemplo aqueles que convivem com portadores ou que saem na rua sozinhos (SHERDING, 2008). No caso de infecção por FIV, recomenda-se a separação dos infectados dos não infectados. Antes de introduzir um gato novo, este deve ser isolado por duas a quatro semanas e deve ser testado antes da introdução no criatório. Os filhotes devem ser separados das mães infectadas e fêmeas portadoras devem ser castradas. Os machos devem ser castrados com o intuito de diminuir as chances de envolvimento em brigas (TEIXEIRA; SOUZA, 2003). 3 IMUNODEFICIÊNCIA FELINA E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC) O nome Acupuntura foi atribuído à um jesuíta europeu, que no século XVII adaptou os termos chineses Zhen Jiu, juntando as palavras latinas Acus ( que significa agulha) com Punjere (picada ou punção). Porém, a tradução literal do termo chinês é diferente, sendo o termo correto Zhen (agulha) e Jiu (moxabustão), pois assim como a agulha pode interferir na energia do meridiano, a queima da moxa sobre a pele pode conduzir resultados perceptíveis sobre a energia dos meridianos (SILVEIRA, 2009). A acupuntura preconiza que a saúde é dependente das funções psiconeuroendócrinas, as quais estão sob influência do código genético e de fatores extrínsecos como nutrição, hábitos de vida, clima, qualidade do ambiente, entre outros. Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a doença ocorre quando há um desequilíbrio interno ou entre os meios interno e externo do animal, assim, a doença, tem origem em 19 diversas causas que ocorrem juntas e sobrecarregam os mecanismos de homeostase do corpo (SCHOEN, 2006). A MTC é baseada nos fenômenos da natureza, considerando que estes ocorrem da mesma forma no organismo animal. A teoria do Yin Yang é o princípio fundamental da MTC, pois é considerada a fonte da vida (TAO), que é a força motriz da movimentação e modificação de todas as coisas (SCHOEN, 2006). A mais antiga origem do fenômeno Yin-Yang deve ter se originado da observação dos camponeses sobre a alternância cíclica entre o dia e a noite. Desta maneira, o Dia corresponde ao Yang e a Noite ao Yin, e por conseguinte, a atividade refere-se ao Yang e o descanso ao Yin. Isto conduz à primeira observação da alternância contínua de todo fenômeno entre os dois polos cíclicos, um correspondente à Luz, Sol, Luminosidade e Atividade (Yang) e o outro à Escuridão, Lua, Sombra e Descanso (Yin). A partir deste ponto de vista, Yin e Yang são dois estágios de um movimento cíclico, sendo que um interfere constantemente no outro, tal como o dia cede lugar para a noite e vice-versa (MACIOCIA, 1996). A aplicação da analogia do Yin/Yang é dada na sua própria definição. O ideograma Yang composto pelo radical sol dá ideia de luz, calor, superfície, alto, céu, dia; por ele ser o primeiro em uma sequência geradora, tem-se o princípio de atividade, início, movimento, bem como a noção de tempo devido ao radical do sol. O sinal chinês para o Yin evoca a imagem de nuvens formada por vapores produzidos pelas energias da terra que sobem ao céu. Pela tradição, as nuvens representam o Yin e a chuva, o Yang. Ambos são considerados como estruturas operatórias, pois representam o movimento de conjunto das energias produtoras do Tao. Ainda, o ideograma do Yin apresenta-se formado pelo sinal da sombra e suscita a noção de escuro, frio, baixo, passivo, repouso, interno, profundidade. Ao Yin, associa-se a noção de matéria e forma (DULCETTI, 2001). Figura 1 - Yin e Yang. Fonte: SILVEIRA, 2009. 20 A saúde pode ser definida como um estado de harmonia entre o corpo e o seu ambiente interno e externo. Quando existe esse estado de harmonia, diz-se que o organismo se adaptou com êxito ao seu ambiente interno e externo, podendo assim manter suas funções. Os fatores que influenciam o ambiente externo incluem nutrição, clima e forças geofísicas e eletromagnéticas. Fatores internos incluem influências hereditárias, sistema neuroendócrino e estado emocional. Sob esse conceito, a saúde não é absoluta, mas um estado relativo de estar (SCHOEN, 2006). Segundo Maciocia (1996), cada fenômeno no universo se alterna por meio de um movimento cíclico de altos e baixos, e a alternância do Yin e Yang é a força motriz desta mudança e desenvolvimento. Yin e Yang também simbolizam dois estados opostos de agregação das coisas. A relação interdependente de Yin e Yang significa que cada um dos dois aspectos é a condição da existência do outro e nenhum deles pode existir isoladamente. Por exemplo, sem o dia não haveria a noite. Portanto, pode-se perceber que o Yin e Yang estão imediatamente em oposição e interdependência; eles dependem um do outro para a própria existência, coexistindo numa entidade única. O movimento e a mudança de algo são decorrentes não somente da oposição e conflito entre Yin e Yang, mas também da sua relação de interdependência e suporte mútuo (SCHOEN, 2006). Além do conceito Yin e Yang, a MTC baseia-se também na teoria dos cinco movimentos, onde os movimentos relacionam-se entre si e estabelecem um processo de transformação contínua dos fenômenos. Se o equilíbrio entre os elementos for respeitado, a saúde do organismo será mantida. Se houver ruptura ou descontinuidade nos mecanismos que mantêm o sistema em equilíbrio, ocorrerá a doença (NAKAGAVA, 2009). Segundo Maciocia (1996), os Cinco Elementos não são os constituintes básicos da Natureza, mas os cinco processos básicos, as qualidades, as fases de um ciclo ou a capacidade inerente de modificação de um fenômeno. O Shang Shu, escrito durante a Dinastia Ocidental Zhou (1000 – 771 a. C.) disse: “Os Cinco Elementos são Água, Fogo, Madeira, Metal e Terra”. “A Água umedece em descendência, o Fogo chameja em ascendência, a Madeira pode ser dobrada e 21 esticada, o Metal pode ser moldado e endurecido, a Terra permite a disseminação, o crescimento e a colheita”. A relação do ciclo de geração dos cinco elementos segue a produção onde o elemento antecessor é a “mãe” e o elemento sucessor é o “filho” (VILLAR, 2009). Na sequência de controle, cada Elemento controla o outro ao mesmo tempo em que é controlado, assim a Madeira controla a Terra, a Terra controla a Água, a Água controla o Fogo, o Fogo controla o Metal e o Metal controla a Madeira. Por exemplo, a Madeira controla a Terra, mas é controlada pelo Metal. Esta sequência de controle assegura que um equilíbrio seja mantido entre os Cinco Elementos (MACIOCIA, 1996). Figura 2 - Ciclo Sheng e Ciclo Ko Fonte: SILVEIRA, 2009. A Medicina Chinesa considera a função do corpo e da mente como o resultado da interação de determinadas substâncias vitais. Essas substâncias manifestam-se em vários níveis de “substancialidade”, de maneira que algumas delas são muito rarefeitas e outras totalmente imateriais. Todas elas constituem a visão chinesa antiga do corpo-mente. O corpo e a mente não são vistos como um mecanismo (portanto, complexo), mas como um círculo de energia e substâncias vitais interagindo uns com os outros para formar o organismo. A base de tudo é o Qi: todas as outras substâncias vitais são manifestações do Qi em vários graus de materialidade, variando do completamente material, tal como os Fluídos Corpóreos (Jin Ye), para o totalmente imaterial como a Mente (Shen) (MACIOCIA, 1996). As Substâncias Vitais são: Qi, Sangue (Xue), Essência (Jing), Fluídos Corpóreos (Jin Ye) e Mente (Shen) (MACIOCIA, 1996). 22 Segundo Shoen (2006), “Qi é a força ou energia que controla a harmonia em qualquer corpo vivo. É a “força vital” ou “energia da vida” que ativa e mantém o processo da vida. Essa energia é derivada do nosso ambiente por meio de processos, como nutrição e respiração: é convertida numa forma absorvível por certos órgãos, armazenada no corpo e distribuída aos sistemas pelos outros órgãos. Basicamente, tudo que existe é definido pelo seu Qi. É a matéria que está prestes a se tornar energia; é a energia que está prestes a se tornar matéria; é o tangível e o intangível. Qi denota função, processo ou mudança. Qi é necessário para digerir o alimento, mas o próprio alimento cria seu crescimento. Qi é o responsável pelo movimento e o movimento produz Qi, mas Qi não é movimento”. Dois aspectos do Qi são relevantes para a medicina: o Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente sobre os níveis físico e espiritual e é um estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação. Quando o Qi se condensa, a energia se transforma esse acumula em forma física (MACIOCIA, 1996). O sangue (Xue) é, segundo a MTC, uma forma de Qi, muito denso e material e é inseparável do Qi em si mesmo. O Xue deriva, na maior parte, do Qi dos Alimentos produzidos pelo Baço (Pi). O Baço envia o Qi dos alimentos em ascendência para o Pulmão (Fei) e através da energia propulsora do Qi do Pulmão, este é enviado para o Coração (Xin), onde é transformado em sangue (MACIOCIA, 1996). O termo Shen é frequentemente traduzido como “espírito”, compreendendo um dos termos mais complexos da MTC e quando aplicado ao corpo, descreve a vitalidade física, atividade mental e espiritual. São as principais funções atribuídas ao Shen: Atividade mental (consciência), manifestando atividade mental e física; Sete reações emocionais (alegria, raiva, tristeza, aflição, susto, apreensão e preocupação) e suas expressões involuntárias (expressão facial, movimento do corpo, gestos, suspiros e soluço) são manifestações do Shen (SILVEIRA, 2009). Jing é usualmente traduzido como “Essência” e é definido como a união dos Shen (espírito) do homem e da mulher, forma o embrião e este é chamado de Jing/ Essência ou Energia Ancestral. Os Rins regem o Jing (MACIOCIA, 2006). Jin Ye são os fluidos corpóreos, incluindo todos os fluídos fisiológicos normais do organismo, incluindo os fluidos internos que podem ser secretados pelos 23 sistemas Zang, tais como suor, lágrimas, saliva, muco nasal, fluidos do Intestino Grosso, Delgado, Estômago e também os fluidos que agem para umedecer os vários tecidos dentro do organismo, como cérebro, olhos, boca, pele, músculos, tendões, medula e ossos. É o reflexo da vitalidade e da quantidade de Qi presente e absorvida dos alimentos. O Baço rege o Jin Ye. (TAVARES, 2011). Pela concepção filosófica chinesa taoísta de origem da vida, o Tai Chi, ou “Círculo da Culminação Suprema”, traduz o início e o fim, o movimento e o repouso, o Yang e o Yin, o fogo e a água, a madeira e o metal e a terra; estes cinco primeiros sopros, que reúnem Yang e Yin, de uma maneira misteriosa se condensam, se excitam e dão origem aos dez mil seres. O embrião forma-se às custas da Energia Ancestral Essencial, que origina os esboços energéticos dos Órgãos e Vísceras. Com a integração do Qi Materno (energia materna) associada à Energia Ancestral Essencial forma-se a Energia Fetal, que forma Órgãos, Vísceras e demais estruturas do corpo. No período fetal, a parte mais Yang desta energia (dos Órgãos e Vísceras) tende a se exteriorizar, formando os verdadeiros Canais de Energia, ou Meridianos. Os Meridianos passam a ser um meio de ligação e manifestação de Interior com o Exterior e vice-versa (TORRO, 1997). Os meridianos formam a base da Acupuntura, pois representam as vias por onde o Qi e o Sangue circulam no corpo. O sistema de meridianos unifica todas as partes do organismo, conectando os órgãos internos com o corpo externo e mantendo a harmonia e o equilíbrio. Os órgãos do corpo são divididos em seis órgãos Yin e seis órgãos Yang, coletivamente referidos como órgãos Zang Fu. Os órgãos Yang são aqueles que contêm musculatura lisa e, portanto são sujeitos às condições espásticas e trabalham para absorver nutrientes e eliminar produtos residuais. Os órgãos Yin processam as substâncias nutritivas absorvidas e armazenam os produtos metabólicos (SCHOEN, 2006). O sistema de meridianos é composto por 12 meridianos regulares, cada um correspondendo a um dos doze órgãos Zang Fu. Além destes, existem oito meridianos extraordinários (ímpares), com trajetos diferentes dos meridianos regulares, que não fazem conexão direta com os Zang Fu (SCHOEN, 2006). Os meridianos formam uma verdadeira “rede energética” do organismo, que pela MTC é independente da circulação sanguínea, linfática ou venosa (TORRO, 1997). 24 O princípio da medicina ocidental de homeostase é semelhante ao conceito de MTC de equilíbrio Yin e Yang. Quando o equilíbrio é perturbado, podem se manifestar distúrbios do sistema imunológico. As doenças associadas à imunodeficiência surgem quando há deficiência nos mecanismos de defesa do corpo. Esses defeitos podem ser hereditários, em cujos casos são normalmente observados na idade jovem, ou podem ser adquiridos, por exemplo, quando se seguem à terapia medicamentosa ou com radiação. Os estados de imunodeficiência têm sido caracterizados como fatores de risco no desenvolvimento de reações de hipersensibilidade e doenças autoimunes (SCHOEN, 2006). As células do sistema imunológico, especialmente os linfócitos, estão disseminadas pelo corpo como células isoladas e agregações difusas ou ainda dentro de órgãos linfoides, como gânglios linfáticos, baço e timo. É bem documentado que a acupuntura possa ter um efeito regulador sobre o sistema imunológico. O início da resposta ao tratamento com acupuntura é amiúde protelado por 12ª 24h e pode durar de 5 a 7 dias. Se outro tratamento for realizado nesse período, os resultados são acentuados e a duração se estende (SCHOEN, 2006). Atualmente, é aceita a ideia de que o sistema imunológico seja afetado pelo comportamento interdependente dos sistemas nervoso central (SNC) endócrino. Os mecanismos para o efeito dos eventos estressantes incluem a liberação de peptídeos opióides da hipófise anterior e a estimulação do tecido linfoide pelo sistema nervoso simpático (SNS), cujas fibras foram encontradas no baço, timo e gânglios linfáticos (SCHOEN, 2006). A acupuntura é eficaz para restabelecer o equilíbrio de Yin e Yang, ou restaurar a homeostase, pela regulação de Qi e Sangue. De acordo com a MTC, todas as doenças imunomediadas herdadas ou adquiridas têm uma deficiência de Zheng Qi de base (SCHOEN., 2006). De acordo com Thompson; Bierman, (2006), existem evidências substanciais de que a acupuntura pode ser usada como meio adicional de prevenção por conta da sua habilidade em formar resistência no paciente e não no microorganismo. A imunodeficiência felina é um problema bastante comum em gatos, sendo uma virose endêmica nos gatis brasileiros. Os sinais clínicos variam bastante, 25 mas a principal característica é de uma deficiência total de energia com animais apresentando emagrecimento e com muitas vezes lesões articulares devido à reações imunomediadas contras as estruturas articulares ou a deposição de imunocomplexos nestas articulações (LOBO, 2012). Uma infecção viral está relacionada na MTC, a um fator patogênico externo, geralmente, no caso dos vírus, ao vento e calor, afetando principalmente a imunidade, permitindo o aparecimento dos sinais observados nestes casos. Os chineses acreditavam que, no curso da luta entre o Zheng Qi (Qi antipatogênico) e Xie Qi (Qi patogênico), a firmeza ou fraqueza do Zheng Qi decide diretamente a ocorrência, o desenvolvimento, os processos e os resultados da invasão desses fatores patogênicos externos. Essa é a teoria na qual ainda se baseia o tratamento dos distúrbios do sistema imunológico (BIERMAN & THOMPSON, 2001). Segundo Schoen (2006), ao ser diagnosticado e tratado distúrbio do sistema imunológico, a possibilidade de uma condição de Calor Latente deve ser explorada. O conceito de um período de incubação foi citado no capítulo 3 do Su Wen, no qual está escrito: “o frio é pernicioso no inverso e, quando o frio reside no corpo persistentemente, causará uma doença febril (de Calor) na primavera seguinte”. A interpretação de Maciocia para essa citação é que, sob certas circunstâncias, um Fator Patogênico Externo (FPE) (normalmente Vento Frio ou Vento Calor) penetra no corpo sem causar sintomas imediatos, fica incubado por um tempo no interior e depois se transforma em Calor, emergindo para o exterior sob a forma de sinais clínicos. Esse Calor latente pode emergir espontaneamente na superfície ou pode ser movido até ela por uma nova invasão de Vento externo. Como faz o Fígado ficar estagnado e se tornar quente, a tensão emocional também pode desencadear o Calor Latente e fazer com que ele se exteriorize (SCHOEN, 2006). Os antigos chineses percebiam que a deficiência do Rim era um fator predisponente no desenvolvimento de Calor Latente. Como dizem que o Wei Qi tem sua raiz nos Rins e o Yuan Qi se origina no “espaço entre os Rins”, uma deficiência do Rim vai causar uma deficiência no Zheng Qi, e o corpo ficará mais suscetível à invasão. As vacinas podem ser consideradas uma causa em potencial para o Calor Latente, já que um material antigênico estranho é injetado diretamente no interior do corpo, desviandose das defesas do exterior. Isso também seria verdade sobre as infecções que se seguem 26 ao uso de drogas intravenosas (vírus da imunodeficiência humana [HIV] e hepatite) e feridas por mordidas (FIV) (SCHOEN, 2006). Segundo a MTC, a imunodeficiência felina é classificada como: síndrome Wei, Deficiência de Qi e/ou sangue, calor tóxico ou excesso de umidade calor (LOBO, 2012). Segundo Maciocia (1996), as principais manifestações clínicas da deficiência de Qi são dispneia, voz débil, sudoreses espontânea, anorexia, perde de fezes, cansaço e pulso vazio. Já a deficiência de Sangue (Xue) tem como principais manifestações clínicas o aspecto pálido, lábios pálidos, tontura, memória debilitada, parestesia, visão turva, insônia, língua levemente seca e pálida e pulso fino ou agitado. A deficiência de Sangue (Xue) normalmente origina-se da Deficiência de Qi do Baço (Pi), uma vez que este dá os primeiros passos para a produção de Qi e do Sangue (Xue). Uma vez que o Sangue (Xue) de torna deficiente, isto afeta particularmente o Fígado (Gan) e o Coração (Xin). Os sintomas anteriormente descritos são uma combinação de sintomas da Deficiência do Fígado (Gan) (parestesia, visão turva e tontura) e da Deficiência de Sangue (Xue) do Coração (Xin) (aspecto pálido, falta de memória, insônia e língua pálida). A síndrome Wei refere-se a uma série de sinais que incluem musculatura flácida, tendões e ligamentos fracos, dormência e/ou atrofia dos membros com comprometimento motor (XIE; PREAST, 2011). Este síndrome é o estágio mais avançado da doença e as causas etiológicas mais comuns da imunodeficiência felina podem e geralmente levam a uma síndrome de atrofia (Wei). Esta se deve à falta de nutrição tanto de Qi como sangue dos órgãos, músculos e tendões, levando a uma atrofia generalizada e uma deficiência em realizar as funções normais, gera com isso uma debilidade geral e progressiva. A principal forma de se tratar a síndrome Wei é baseada em se resolver as estagnações, tonificar os órgãos afetados, bem como Qi e o sangue, além de retirar o calor tóxico que aparece com essa estagnação. Porém, quando a síndrome Wei já está bem evoluída, não se consegue bons resultados (LOBO, 2012). Deficiência de Qi e sangue é a causa que inicia a formação de síndrome Wei. Se conseguir intervir quando ainda não existe uma deficiência profunda pode-se reverter e manter o estado geral do animal em boas condições. Geralmente o 27 animal nestes casos ainda se alimenta, apesar de em menor quantidade, e tem déficits locomotores pela falta de energia e de nutrição dos músculos e articulações. A deficiência de Qi e sangue se dá pelo consumo das reservas para tentar combater a infecção aguda do vírus, que é menos comum, ou aparece nos casos crônicos em que por fatores de estresse o organismo entra em desequilíbrio e com a falta de “combustível” aparecem os sinais clínicos. Geralmente estes sinais se iniciam por claudicação, pois as articulações são os locais por onde o Qi e o sangue têm mais possibilidade de parar, por atuarem como gargalos na circulação (LOBO, 2012). O calor tóxico geralmente aparece quando ocorre uma estagnação de Qi e sangue em determinados órgãos alterando seu metabolismo e gerando sinais referentes a estes órgãos. Por exemplo, podemos ter problemas de dispneia e mesmo pneumonia em animais com FIV pela estagnação no nível de pulmão. Levando ainda a um agravamento do quadro pela consequente deficiência do Qi nutritivo e de defesa, aprofundando ainda mais o quadro. O acúmulo de calor tóxico no baço pode levar à diarréia, anorexia e vômitos, porém, geralmente os sinais de calor tóxico são mais exuberantes e graves e, normalmente podem estar relacionados com hemorragias (LOBO, 2012). O excesso de umidade e calor é representado pelo bloqueio das funções do aquecedor médio que serve de ligação entre os aquecedores inferior e superior, desta forma, além dos sinais clínicos relacionados às alterações do Baço e Estômago, existem sinais que podem ser de Pulmão e Coração, como dispneia e arritmias cardíacas, bem como sinais de aquecedor inferior como disfunções urinárias e diarreias, inicialmente sem presença de sangue, mas com muco (LOBO; 2012). O objetivo do tratamento é expelir o fator patogênico externo e preservar a função dos órgãos (LOBO, 2012). Tratar a raiz com esses pontos para tonificar os Rins, o Wei Qi e o Yuan Qi, e nutrir o sangue e o Jing: P9, IG4, E36, BP3, BP6, B13, B17, B20, B23, R3, VB39, VC4, VC6, VG4, moxa em R1 e Pc8 (BIERMAN; THOMPSON, 2006). Segundo Lobo (2012), a utilização de vitamina B12 nos pontos de acupuntura pode ser optada devido à característica dos gatos de não aceitarem o uso de 28 agulhas e os pontos B23, B52, VB25, VC12, BP6, E36, IG10 e VG14 são pontos bastante indicados para o tratamento. De acordo com Bierman, & Thompson (2006), pode-se tratar as manifestações tendo como base os sintomas presentes. Por exemplo, se o paciente estiver febril, P7, IG4,IG11,E36, E44, B12, B13, TA5, VB20, F2, VG14 podem ser indicados para eliminar o Vento e/ou Calor e libertar o exterior. Ou, se o paciente apresentar diarreia, os seguintes pontos podem ser usados para dispersar a umidade: E25, E37, BP9 e VC12. Embora os mesmos princípios gerais se apliquem a todos os casos, cada paciente precisa ser avaliado individualmente. Para a dietoterapia, nestes casos, o ômega 3 tanto de suplementos como do óleo de peixe pode ser utilizado. A terapia com interferon geralmente é recomendada, porém, devido ao seu custo e pela acupuntura oferecer bons resultados, nem sempre é viável. A castanha do pará e o inhame (que também estimula o aquecedor médio) e as nozes para imunoestimulação, os que tonificam o aquecedor médio como o gergelim, a abóbora (retira a umidade), as leguminosas como o pepino, alface, cenoura, espinafre e a batata doce também podem ser utilizados, apesar de em gatos tais alimentos serem de difícil inclusão na dieta. Alimentos tônicos gerais como o moyashi e as algas, bem como todos os tipos de peixe marinhos e frutos do mar, podem ser indicados pelo seu efeito no Rim, no Baço e na produção de sangue (LOBO, 2012). 4 SUGESTÃO DE PONTOS QUE PODEM SER UTILIZADOS NO TRATAMENTO DE IMUNODEFICIÊNCIA FELINA A seguir, os pontos de acupuntura, citados e relacionados para o alívio dos sinais clínicos que podem ser encontrados em pacientes com Imunodeficiência Felina (FIV), segundo Xie (2011). 29 Feng men (B12) Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, 1,5 cun lateral à borda caudal do processo espinhoso dorsal de T2. Indicações: Ponto de influência do vento e traquéia; ponto de intersecção (encontro) dos Canais da B e VG. Indicado para vento frio, vento calor, tosse, febre, prurido, dor cervical e torácica, congestão nasal. Fei Shu (B13) Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, 1,5 cun lateral à borda caudal do processo espinhoso dorsal de T3. Indicações: Ponto de associação shu dorsal do pulmão. Indicado para tosse, dispnéia, pneumonia, bronquite, congestão nasal, deficiência de Yin, febre baixa, vento calor e vento frio. Shen Shu (B23) e Zhi Shi (B52) Localização: Na superfície dorsolateral da coluna, 1,5 cun (B23) e 3 cun (B52) lateral à borda caudal do processo espinhoso dorsal de L2. Indicações: Ponto de associação shu-dorsal do Rim; deficiência de Yin e Qi do rim, doenças renais, incontinência urinária, importância, edema, disfunção auditiva, doença do disco intervertebral tora colombar, fraqueza dos membros pélvicos, osteoatrite da articulação coxofemoral. Xing Jian (F2) Localização: Na face medial do membro pélvico, distal à articulação metatarsofalangeana, na superfície lateral do segundo dígito. 30 Indicações: Ponto Manancial Ying (fogo) – ponto filho (sedação) para padrões de excesso. Ascenção do Yang do Fígado, desordens oftálmicas, ciclo estral irregular, calor no sangue, sangramento devido a doenças febris. Feng Chi (VB20) Localização: No dorso do pescoço, na grande depressão caudal e lateral à protuberância do occiptal, medial à borda cranial da asa do atlas. Indicações: Ponto de intersecção dos canais da VB e Yang Wei; vento externo e interno, dor cervical, doença do disco intervertebral, epistaxe, congestão ou secreção nasal, epilepsia. Jing – Men (VB25) Localização: No tórax ventor lateral, na extremidade livre da borda caudal da 13ª costela. Indicações: Ponto de Alarme do Rim. Deficiência de Qi, Yin e Yang do Rim, infertilidade, desordens ovarianas, dor lombar, dor abdominal, impactação, constipação, desordens do Fígado e da Vesícula Biliar. San Yin Jiao (BP6) Localização: Na superfície medial do membro pélvico, 3 cun proximal à ponta do maléolo medial, em uma pequena depressão na borda caudal da tíbia. Indicações: Ponto mestre de abdômen caudal e trato urogenital (cruzamento dos três Yin); ponto de intersecção (encontro) dos Canais do BP, F e R; contraindicado na gestação. 31 He-gu (IG4) Localização: Na superfície medial do membro torácico, entre o segundo e o terceiro ossos metacarpos, no ponto médio do terceiro metacarpo. Indicações: Ponto mestre da face e boca; Ponto fonte Yuan. Secreção e congestão nasal, epistaxe, paralisia facial, afecções dentárias, faringite, tendinite, febre, imunodeficiência, lúpus, doenças dermatológicas imunomediadas, síndromes gerais de dor. Qian San Li (IG10) Localização: Na superfície craniolateral do membro torácico, 2 cun distal ao IG11 (um sexto da distancia entre o cotovelo e o carpo), no sulco entre os músculos extensor carpi radialis e extensor digital comum. Indicações: “Ponto Três Léguas” do membro torácico (análogo ao E36 no membro pélvico). Deficiência de Qi, imunodeficiência, vento-calor, prurido, imunoregulação, diarreia, dor abdominal, claudicação e paresia ou paralisia de membros torácicos, dor no cotovelo, odontalgia, gengivite, estomatite, fraqueza dos membros pélvicos, fraqueza generalizada. Qu Chi (IG11) Localização: Na face lateral do membro torácico, na extremidade lateral da fosse cubital, à meia distância entre o epicôndilo lateral do úmero e o tendão do bíceps, com o cotovelo flexionado. Indicações: Ponto Mar He (terra) – ponto mãe (tonificação) para padrões de deficiência. Vento calor, doenças imunomediadas, faringite, odontalgia, uveíte, febre, hipertensão, epilepsia, dor abdominal, vômito, diarreia, constipação, dor no cotovelo, paresia ou paralisia de membros torácicos, prurido. 32 Lie Que (P7) Localização: Na face medial do membro torácico, proximal ao processo estiloide do rádio, 1,5 cun proximal à articulação carpi radialis. Indicações: Ponto mestre da cabeça e pescoço, ponto de conexão Luo do Canal do P; ponto confluente com o Canal do VC. Tosse, dispneia, insuficiência cardíaca congestiva, lúpus, dor cervical, doença do disco intervertebral, paralisia facial. Hou San Li (E36) Localização: Na face crânio lateral do membro pélvico, 3 cun distal ao E35, 0,5 cun lateral ao aspecto cranial da crista da tíbia, na saliência do músculo tibiais craniais; este é um ponto alongado e linear. Indicações: Ponto mestre do trato gastrointestinal e abdômen. Ponto mar He (terra), ponto horário. Náusea, vômito, dor estomacal, úlcera gástrica, estase alimentar, fraqueza generalizada, constipação, diarreia, tônico geral do Qi (ponto três distâncias do membro pélvico), dor no joelho, fraqueza dos membros pélvicos. Nei Ting (E44) Localização: Distal à articulação metatarso falangeana, proximal à pele entre o terceiro e quarto dígitos do membro pélvico. Indicações: Ponto Manancial – Ying (água). Faringite, estomatite e gengivite, calor no estômago, úlcera gástrica, febre, paralisia facial, epistaxe, diarreia sanguinolenta, dor no tarso. Wai guan (TA5) Localização: Na superfície lateral do membro torácico, 3 cun proximal ao carpo, no espaço interósseo entre o rádio e a ulna. 33 Indicações: Ponto de conexão Luo do Canal TA, ponto de confluência do Canal Yang wei. Deficiência de Wei Qi, claudicação dos membros torácicos, paresia ou paralisia dos membros torácicos, febre, conjuntivite, otite, dor cervical, doença do disco intervertebral, dor no carpo. Da Zhui (VG14) Localização: Na linha média dorsal, na depressão cranial ao processo espinhoso dorsal da vértebra T1 (primeiro processo espinhoso palpável, no sentido crânio caudal). Indicações: Ponto de intersecção do VG com os seis canais Yang; elimina calor, deficiência de Yin, febre, tosse, dispneia, dor cervical, doença do disco intervertebral, dermatite, epilepsia, imunodeficiência. Zhon – wan (VC12) Localização: Na linha média ventral, a meia distância entre o xifoide e o umbigo, ou 4 cun cranial ao umbigo. Indicações: Ponto de alarme do Estômago, ponto de influência dos órgãos Fu, ponto de intersecção dos Canais do VC, ID, TA e E. Úlcera gástrica, desordens do fígado, diarreia, icterícia, vômito, doença intestinal inflamatória, fraqueza generalizada, anorexia. 34 5 CONCLUSÃO A Imunodeficiência felina é uma patologia bastante comum em gatos, com sinais clínicos inespecíficos e que muitas vezes passam por um longo período despercebido pelos proprietários. O tratamento convencional normalmente não proporciona uma melhoria na qualidade de vida do paciente, apenas funciona como um suporte para os sinais clínicos apresentados. Levando-se em consideração os benefícios gerais que a acupuntura proporciona aos pacientes, principalmente os benefícios observados nos tratamentos em animais com a imunodeficiência, pode-se dizer que os resultados acabam sendo satisfatórios, tanto no controle dos sinais clínicos quanto para a resposta imunológica. Porém, são necessários mais estudos e pesquisa de casos clínicos tratados com a doença, para maior confiabilidade e divulgação dos resultados. 35 REFERÊNCIAS AVILA, A. Estudo da ocorrência da doença renal crônica em gatos naturalmente infectados pelo vírus da Imunodeficiência Felina. 87p. Tese (Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária) – Universidade de São Paulo, São Paulo. BIERMAN, N.; THOMPSON, C. Acupuncture for Immunologic Disorders in Veterinary acupuncture, Pacient Art do Modern Medicine. Sant Luis: Mosby, 2001. P. 269-280. CALDAS, A. P. F. et al. Detecção do provírus da Imunodeficiência Felina em gatos domésticos pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase. Pesquisa Veterinária Brasileira. 20(1). 20-25, jan/mar. 2000. CANEY, S. Feline immunodeficiency vírus: na update. In practice, v.22, n.5, p. 255260, 2000. DULCETTI, O. JR. Pequeno tratado de Acupuntura Tradicional Chinesa. Ed. Organização Andrei; 1ª. Edição. São Paulo, 2001. GROTTI, C. C. B./Frequência de leucemia e imunodeficiência viral felina em uma população hospitalar./ 2007. Monografia (Mestrado em Sanidade Animal) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR. HARTMANN, K. Feline immunodeficiency vírus infection: an overview. The Veterinary journal, v. 155, n.2, p. 123-137, 1998. LIMEHOUSE, J. B.; LIMEHOUSE, P. A. T. Conceitos orientais da Acupuntura. In: SCHOEN, A. M. Acupuntura Veterinária: da arte antiga à medicina moderna. São Paulo: Editora Roca. 2ª edição. 2006. p. 76-90. LOBO JR, J. E. S. L. Acupuntura na Prática Clínica Veterinária. São Caetano do Sul: Interbook. 1ª. Edição, 2012. 407 p. LUCAS, S. R. R.; et al. Ocorrência de anticorpos antitoxoplasma em gatos infectados naturalmente pelo vírus da imunodeficiência dos felinos. Braz. J. vet. Res. Anim. Sci, São Paulo, v.35, n.1, p.41-45, 1998. MACIOCIA, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. São Paulo: Editora Roca, 1996. RAVAZOLLO, A. P.; COSTA, U. In: FLORES, E. F. Virologia Veterinária. Santa Maria: Editora UFSM, 2007. p. 833 – 835. RODRIGUES, C. V. B. Prevalência de vírus da Imunodeficiência Felina, Vírus da Leucemia Felina, Calicivírus Felino, Herpesvírus Felino Tipo 1 e Candida ssp em felinos errantes e possível associação à Gengivo-Estomatite crônica felina e a 36 Doença Respiratória Felina. 2012. 159p. Tese ( Dissertação de Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, Lisboa, Portugal. SANGEROTTI, D.; MEDEIROS, F.; PICCININ, A. A AIDS felina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano VI, n.10. Janeiro de 2008. SHERDING, Robert G. Vírus da Imunodeficiência Felina. In: BIRCHARD, Stephen J.; SHERDING, Robert G. Manual Saunders: Clínica de Pequenos Animais. 3º Edição. São Paulo: ROCA, 2008. p. 128-134. SCHOEN, A. M. Acupuntura Veterinária: da arte antiga à medicina moderna. 2ª edição. São Paulo: Editora Roca. 2006. X p. TEIXEIRA, B. M. Identificação e caracterização do vírus da imunodeficiência felina de amostras obtidas de felinos mantidos em um abrigo na cidade de São Paulo. 2010. Monografia (Doutorado em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo. TEIXEIRA, B. M. et al. Ocorrência do vírus da imunodeficiência felina e do vírus da leucemia felina em gatos domésticos mantidos em abrigos no município do Belo Horizonte. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v59, n4, p 939-942, 2007. TEIXEIRA, C. H.; SOUZA, H. J. M. Manifestações Clínicas associadas à infecção pelo vírus da Imunodeficiência Felina. In: SOUZA, H. J. M. Medicina e Cirurgia Felina. Rio de Janeiro: L. F. Livros de Veterinária, 2003. p. 301-321. THOMAS, J.; ROBINSON, W. Infección por el virus de la immunodeficiencia feline. Waltham Focus, v.5, n.2, p.24-30,1995. TORRO, C. A. Atlas Prático de Acupuntura do Cão. São Paulo: Livraria Varela LTDA. 1997. XIE, H.; PREAST, V. Acupuntura Veterinária XIE. São Paulo: Editora MedVet. 2011.363p. ZANUTTO, M. S. et al. Características clínicas da fase aguda da infecção experimental de felinos pelo vírus da imunodeficiência felina. Pesquisa Veterinária Brasileira 31(3): 255-260, março 2011.