M3- Apostila de Arte - parte II

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M3 - APOS TILA DE ARTE – parte II
COLÉGIO INTEGRADO
Prof. Thiago Veronezzi.
A música na Idade Média – parte I.
Ligada à religião
Com a expansão da religião cristã pela Europa Ocidental, a música foi uma forma de elevar a alma
humana e aproximá-la de Deus. Por isso, o nascimento e desenvolvimento da música ocidental
medieval estão intimamente ligados à música religiosa.
Toda música era cantada por solistas e coro em latim: os cantores mais preparados cantavam as
passagens mais complicadas; o coro e a congregação alternavam as respostas. Durante a Idade Média,
foram vários os esforços na tentativa de indicar como seria a música mais apropriada ao culto religioso do
cristianismo. Isto é, qual seria a música mais adequada para “mover os ânimos à devoção”, como
preconizava São Tomás de Aquino.
Por meio da Reforma Gregoriana1 , se estabelece um repertório de cantos religiosos escritos para
serem entonados durante as missas. Comum, em muitos pontos, à teoria grega, a teoria que embasa essa
prática vocal é preservada e adaptada para os hinos litúrgicos por importantes teóricos, como Cassiodoro,
Boécio e Alcuíno. A essa prática vocal de hinos litúrgicos para fins cerimoniais dá-se o nome de
Cantochão, ou Canto Gregoriano (cantus planus).
Neste sentido, o Canto Gregoriano pode ser visto como a forma musical mais antiga e cantada ao
longo dos séculos no medievo. A sua origem tem influência nos cânticos judaicos e nos cânticos dos
primeiros cristãos de Jerusalém e Antioquia. O Canto Gregoriano é um canto monódico (a uma voz),
já que os instrumentos foram proibidos na igreja até finais da Idade Média (à exceção do órgão, que era
tolerado) e também voltado para as vozes masculinas. Da música grega, foram trazidos os modos cuja
melodia se baseava agora em sete sons. As escalas (sucessão de sons) passam a serem lidas da nota mais
grave para a mais aguda, existindo quatro modos principais (authenticus). A melodia do cantochão é
sempre um uníssomo, isto é, nela todas as vozes cantam exatamente as mesmas notas.
Somente por por volta do século IX que a música polifónica – duas notas de distinta altura que
soam ao mesmo tempo (Hucbald) – começa a dar os primeiros passos (apesar de já existir mais a oriente)
e associa-se à introdução do órgão (século X) nas igrejas. É o início da Ars Antiqua2 .
Podemos definir a polifonia como duas ou mais melodias ocorrendo simultaneamente. As
primeiras evidências de atividade polifônica apontam para o século IX. Nessa época, os compositores
começaram a fazer experiências “duplicando” as melodias em alturas diferentes. Assim, elas aconteciam
em paralelo, porém mantendo o mesmo perfil melódico. Essa prática é conhecida como movimento
paralelo, e esse estilo de composicão como Organum paralelo.
Mais ou menos duzentos anos depois, a voz “paralela” do Organum, chamada de voz organal,
adquire um pouco mais de independência: ela passa a ter liberdade para seguir ou não o mesmo perfil da
melodia original. Ou seja, quando a melodia original sobe, a voz organal pode ir para o sentido contrário,
sistema conhecido, portanto, como movimento contrário. O fato de se manter na mesma nota enquanto a
voz original traça seu perfil ficou conhecido como movimento oblíquo. Ao estilo de composição que faz
uso do movimento contrário e do movimento oblíquo, além do movimento paralelo entre as vozes, damos
o nome de Organum livre.
Em meados do século XII, o Organum livre deu lugar a um estilo de composição em que a voz
principal (agora chamada de tenor) tinha suas durações prolongadas, e sobre ela eram escritas notas de
duração menor que se moviam livremente. Esses grupos de notas foram chamados de melismas –
Organum melismático é o estilo de composição que faz uso dos melismas.
1
Como Édito de Constantino (313), a religião oficial do Império Romano passa a ser o cristianismo, e uma reforma
passa a ser necessária para sistematizar os ritos da Igreja. Gregório Magno é o responsável por essa sistematização,
conhecida como Reforma Gregoriana.
2
Ars antiga foi o nome dado à música produzida principalmente na França entre os séculos IX e XIII, pelos
compositores da chamada Escola de Notre-Dame de Paris. Tem como principal forma musical o organum, e como
maiores representantes os compositores Léonin e Pérotin. A ars antiga representa o início da polifonia na música
ocidental. Essa música foi basicamente destinada ao serviço religioso.
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No século XII estabelece-se uma importante escola na Catedral de Notre-Dame de Paris, onde
Léonin e Pérotin escrevem os Organum e Conductus a 2,3 ou 4 vozes. A uma voz mais simples, muitas
vezes produzindo a mesma nota, sobrepõe-se uma voz mais aguda e floreada.
No século XIV, Philippe de Vitry criou novas regras e dá início à Ars Nova. Introduziu novos
valores de tempo como a breve, semibreve e mínima, assim como o agrupamento rítmico mais
semelhante ao dos nossos dias – notas mais baixas no início do tempo forte. O estilo da música da Ars
Nova é mais refinado e possui mais capacidade expressiva. O ritmo é mais livre e a técnica de escrita
polifônica possui mais fluência. A esta técnica de escrita dá-se o nome de contraponto. O maior
compositor do período é Guillhaume de Machaut. Sua obra mais importante é a Missa de Notre-Dame,
que entra para a história por ser a primeira missa polifônica.
Surgimento do compositor
A parte final da Idade Média registra o surgimento de um tipo de artista até então inexistente: o
compositor. Foi no espaço das catedrais que esse personagem começou a surgir. Entre essas, destacam-se
como os primeiros e principais centros: a catedral de Notre-Dame de Chartres, a Catedral de Winchester e
a Catedral de Santiago de Compostela.
Música profana
A música europeia fora do âmbito religioso está ligada à ação dos trovadores - em sua maioria
eram poetas mais sofisticados, letrados, de origem nobre. Muitos deles deixaram obras escritas, como é
o caso do famoso romance de Robin e Marion, cujas canções foram inspiradas na peça de William
Shakespeare, Romeu e Julieta. Um dos mais famosos trovadores foi o inglês Ricardo Coração de Leão.
Apesar de ter sido um rei guerreiro, costumava cantas suas cantigas de amigo e de amor - troveiros e
“menestréis” (era um tipo de poeta que recitava poemas divertidos, contava históricas e anedotas sobre
eventos históricos reais ou imaginários. Geralmente, ia de cidade em cidade, com sua trupe circense,
levando alegria por onde passava. Embora esses menestréis criassem suas próprias históricas,
frequentemente memorizavam e floreavam obras de outros. Geralmente eram pessoas do povo, chamadas
de plebeus.) que, de instrumento às costas, levaram às urbes e às cortes as cantigas de amigo (é uma
cantiga breve e singela posta na boca de uma mulher apaixonada), de amor (são cantigas onde o
cavalheiro se dirige à sua amada impossível. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua
senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho), de escárnio (é um tipo de cantiga cuja
principal característica é a crítica ou sátira dirigida a uma pessoa real, que era alguém próximo ou do
mesmo círculo social do trovador) e maldizer. Seja em Monodia ou em Polifonia executava-se música
lírica ou de dança.
Considera-se Guilherme IX (conde de Poitiers e duque da Aquitânia) como o trovador (palavra
derivada do grego tropus – canção) mais antigo que se conhece.
A arte dos trovadores foi cultivada a princípio por príncipes, condes marqueses, só mais tarde
encontramos ao lado dos nomes ilustres, alguns de origem humildade, saído da burguesia.
O movimento musical dessa época (séculos IX ao XI), iniciou-se com os bardos da Alta Idade
Média. Foi o período em que floresceram as canções de gesta que exaltavam as proezas dos tempos
heroicos e vieram a constituir mais tarde os grandes poemas épicos, como a célebre canção de Rolando,
que tanta influência exerceu sobre a epopeia medieval. Pouco depois, apareceram no sul da França os
primeiros exemplos da poesia lírica inteiramente cantada em língua vulgar e desenvolveu-se a arte dos
trovadores. Foram estes que promoveram, especialmente na alta aristocracia, um movimento artístico a
princípio ainda ligado à igreja, mas que logo dela se separou. Os hinos sacros começaram a ser
substituídos pelo canto heroico e, o culto a Maria, pelo amor cortês.
A escrita musical
A falta de uma escrita adequada à música criou problemas à sua divulgação, já que transmitindose oralmente não possibilitaria uma uniformidade na sua reprodução e interpretação.
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No século IX, o monge Hucbaldo criou uma espécie de estenografia musical – a escrita Neumática
(termo já usado pelos gregos e que significa ar ou sinal) – onde 15 símbolos representavam não só a
acentuação musical como o movimento ascendente ou descendente dos sons. Esse sistema baseava-se no
sentido de movimento da melodia, porém não definia alturas precisas, e recebeu o nome de neumas.
Com a polifonia, e a consequente complexidade musical, foi necessário desenvolver uma forma de
escrita mais apropriada às novas necessidades. Segundo a tradição, foi atribuída a Guido de Arezzo
(século XI), monge beneditino, a pauta de 5 linhas (como atualmente) onde a posição da nota ou do texto,
colocada sobre a linha ou no espaço entre eles, indicava a sua altura exata. Também foi o responsável
pela nomenclatura atual. A escrita neumática evolui então para um grau de precisão maior, conhecido
como escrita diastemática.
A escrita Quadrata, característica dos escritos gregorianos, surgiria no século XII, onde a pauta
possuía 4 linhas e as notas eram geralmente quadradas. No início também se colocou uma clave, símbolo
que indica a altura do som naquela linha. Os livros com o cantochão era, reproduzidos pelos monges
copistas dos mosteiros e difundiram-se pela Europa e foram sendo profundamente ornamentados com
Iluminuras.
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