azadirachta indica a. juss

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INÁCIO PASCOAL DO MONTE JÚNIOR
UTILIZAÇÃO DE SUBPRODUTOS DO NIM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS)
NA ASSOCIAÇÃO MICORRÍZICA ARBUSCULAR EM MUDAS DE NIM
RECIFE
FEVEREIRO/2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE MICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE FUNGOS
UTILIZAÇÃO DE SUBPRODUTOS DO NIM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS)
NA ASSOCIAÇÃO MICORRÍZICA ARBUSCULAR EM MUDAS DE NIM
INÁCIO PASCOAL DO MONTE JÚNIOR
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Biologia de Fungos do
Departamento de Micologia do Centro de
Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Pernambuco, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Biologia de
Fungos.
Área de Concentração: Micologia
Aplicada
Orientadora: Dra. Uided Maaze
Tiburcio Cavalcante
Co-orientador: Dr. Fábio Sergio
Barbosa da Silva
RECIFE
FEVEREIRO/2011
Monte Júnior, Inácio Pascoal do
Utilização de subprodutos do NIM (Azadirachta indica A. Juss/ Inácio
Pascoal do Monte Junior. – Recife: O Autor, 2011.
56 folhas : il., fig., tab.
Orientadora: Uided Maaze Tiburcio Cavalcante
Co-Orientador: Fábio Sérgio Barbosa da Silva
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Pernambuco. Centro de Ciências Biológicas. Micologia Aplicada,
2011.
Inclui bibliografia
1. Fungos 2. Nim 3. Pernambuco I. Título.
579.5
CDD (22.ed.)
UFPE/CCB-2011-116
UTILIZAÇÃO DE SUBPRODUTOS DO NIM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS)
NA ASSOCIAÇÃO MICORRÍZICA ARBUSCULAR EM MUDAS DE NIM
INÁCIO PASCOAL DO MONTE JUNIOR
Data da defesa: 25/02/2011
COMISSÃO EXAMINADORA
MEMBROS TITULARES
“A simplicidade é o último degrau da sabedoria”
Gibran Khalil Gibran.
Aos meus pais, Elisabeth e Inácio
Monte e ao meu irmão João Neto.
Dedico
Agradecimentos
A Deus, por ter dado condições para enfrentar os desafios encontrados.
Aos meus pais Inácio e Elisabeth Monte e ao meu irmão João Neto pelo incentivo,
dedicação e carinho em todos os momentos da minha vida.
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), pela
concessão da bolsa de estudo.
À Dra. Uided Maaze Tiburcio Cavalcante, pela orientação e confiança.
À Dra. Leonor Costa Maia, pela grande competência, discernimento e atenção dispensada
a todos do Laboratório de Micorrizas.
Ao Dr. Fábio Sergio Barbosa da Silva pela colaboração e sugestões.
Ao Dr. Bruno Tomio Goto, pela colaboração na identificação dos FMA.
À empresa Cruangi Neem do Brasil pela hospitalidade e uso das instalações para condução
e avaliação do experimento em viveiro e por ter fornecido os subprodutos vegetais.
À Andréa Chaves (EECAC/UFRPE), pela contribuição com análises químicas e físicas do
solo.
À Dra. Cláudia Pereira Lins (CAV-UFPE), pelas discussões valiosas e disponibilidade em
ajudar.
À Dra. Cynthia Maria Carneiro Costa (UAST-UFRPE) e Thais Teixeira, pela grande ajuda
na realização da coleta.
À Danielle Karla, Indra Escobar, Renata Souza e Vilma Santos, pela amizade, incentivos,
conselhos e ajuda indispensável na realização deste trabalho.
A Frederico Marinho e Larissa Vieira, pela ajuda e apoio na avaliação do experimento.
Aos colegas de Laboratório de Micorrizas; Ângelo Souto, Camila Pereira, Catarina Mello,
Clarissa Silva, Daniele Magna, Edvaneide Leandro, Heloísa Silva, Ingrid Lino, Iolanda
Silva, Isabela Gonçalves, Joana Veras, Juliana Pontes, Kelly Lima, Laís Lima, Mayra
Oliveira, Moacir Alcantara, Natália Sousa, Reginaldo Neto, Rejane Silva, Roberta Feitosa,
Thaís Cavalcanti, Vera Pereira, pelo convívio.
A todos que contribuíram de alguma forma para realização deste trabalho.
RESUMO GERAL
Devido aos seus múltiplos usos na medicina, produção de fertilizantes, controle de
pragas etc., o cultivo comercial de nim (Azadirachta indica A. Juss.) vem crescendo em
vários países do mundo, incluindo o Brasil. Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e
subprodutos vegetais podem constituir alternativa eficiente para estimular o crescimento e
reduzir o tempo de formação das mudas, além de contribuírem para aumento da tolerância
das plantas a estresses bióticos e abióticos. Assim, objetivou-se conhecer o estado
micorrízico de plantas de nim cultivadas em quatro municípios de Pernambuco (Recife,
Timbaúba, Serra Talhada e Petrolina) e avaliar o efeito de três substratos (torta e folhas de
nim, torta de cana) e da inoculação com FMA (nativos ou introduzidos), na produção de
mudas de nim. O trabalho foi dividido em duas partes: i) caracterização da comunidade de
FMA presentes em áreas cultivadas com nim e ii) experimento em viveiro. Na primeira
etapa foram coletadas 10 amostras de solo/raízes da rizosfera de plantas de nim cultivadas
nos municípios. Determinou-se: número de glomerosporos, riqueza de espécies de FMA,
número mais provável (NMP) de propágulos infectivos de FMA, colonização micorrízica e
o teor de proteínas do solo relacionadas à glomalina (facilmente extraível PSRG-FE e total
PSRG-T). Na segunda etapa, foi conduzido experimento em viveiro, com delineamento
inteiramente casualizado em fatorial 4×4: quatro tratamentos de inoculação (Glomus
etunicatum, Acaulospora longula, mix com Gigaspora albida e Fuscutata heterogama e
FMA nativos) e quatro substratos (torta de nim, folhas de nim, torta de cana-de-açúcar e
solo sem adição de substrato). Após 90 dias avaliou-se: altura, diâmetro do caule, número
de folhas, área foliar, massa seca e fresca da parte aérea e radicular, incremento, número de
glomerosporos, colonização micorrízica e PSRG-FE. Foram identificados 49 táxons de
FMA na rizosfera de nim, distribuídos em 11 gêneros (Glomus, Acaulospora, Gigaspora,
Scutellospora, Racocetra, Cetraspora, Dentiscutata, Fuscutata, Pacispora, Ambispora e
Paraglomus). Maior riqueza de espécies foi observada na área em Recife (30), seguida por
Timbaúba (16), Serra Talhada (15) e Petrolina (8). As amostras provenientes de Recife
apresentaram mais propágulos infectivos de FMA (79 propágulos cm3 solo-1) que as
demais e maior produção de glomerosporos diferindo do observado nas áreas de Serra
Talhada e Petrolina. Apesar do teor de PSRG-T ter sido maior nas amostras de Timbaúba,
a PSRG-FE e o teor de matéria orgânica não diferiram das amostras de Recife (p<0,05),
enquanto Serra Talhada e Petrolina apresentaram os menores valores para essas variáveis
não diferindo entre si (p<0,05). Em geral, a inoculação com G. etunicatum aumentou o
crescimento das plantas nos substratos torta e folhas de nim constituindo alternativa para a
produção de mudas dessa cultura, em condições de viveiro, reduzindo o uso de fertilizantes
químicos que impactam o ambiente.
Palavras-chave: Fungos micorrízicos arbusculares, diversidade, produção de mudas,
subprodutos de nim
ABSTRACT
Due to its multiple uses in medicine, fertilizer production, control pests etc., the
commercial cultivation of neem (Azadirachta indica A. Juss.) has been increasing in in
various countries around the world, including Brazil. Arbuscular mycorrhizal fungi (AMF)
and by-products may be effective alternative to promote growth and reduce training time
for the seedlings, and contribute to increased tolerance of plants to biotic and abiotic
stresses. Thus, it was aimed to know the status of mycorrhizal plants grown in neem four
municipalities of Pernambuco (Recife, Timbaúba, Serra Talhada and Petrolina) and to
evaluate the effect of three substrates (composted leaves and residues of neem and
sugarcane) and inoculation AMF (native or introduced), in the production of seedlings of
neem. The work was divided into two parts: i) characterization of the AMF community
present in areas cultivated with neem and ii) experiment in the nursery. The first step was
collected 10 samples of soil / roots from the rhizosphere of plants grown in the counties of
neem. It was determined: number of glomerospores, AMF species richness, most probable
number (MPN) of infective propagules of AMF, AMF colonization and glomalin-related
soil protein (easily extractable GRSP-EE and total PSRG-T). In second experiment was
conducted in the nursery, with a randomized design in a factorial arrangement of 4 × 4:
four treatments of inoculation (Glomus etunicatum, Acaulospora longula, mix with
Fuscutata heterogama e Gigaspora albida and native AMFl) and four substrates (neem
cake, crushed neem leaves, sugarcane cake and soil). After 90 days it was evaluated:
height, stem diameter, leaf number, leaf area, fresh and dry biomass of shoot and root,
increment, number of glomerospores, mycorrhizal colonization and GRSP-EE. It was
identified 49 taxa of AMF in the rhizosphere of neem, distributed in 11 genera (Glomus,
Acaulospora, Gigaspora, Scutellospora, Racocetra, Cetraspora, Dentiscutata, Fuscutata,
Pacispora, Ambispora and Paraglomus). Greater species richness was observed in the area
in Recife (30), followed by Timbaúba (16), Serra Talhada (15) and Petrolina (8). Samples
from Recife were more infective propagules of AMF (79 cm3 soil propagule-1) that other
and greater production of glomerospores differ from that observed in the areas of Serra
Talhada and Petrolina. Although the content of PSRG-T was higher in samples Timbaúba
the PSRG-FE and organic matter content did not differ from samples of Recife (p<0.05),
while Serra Talhada and Petrolina had the lowest values for these variables not among
them (p <0.05). In general, inoculation with G. etunicatum increased plants growth in
composted leaves and residues of neem providing an alternative for the production of
seedlings of this crop under nursery conditions, reducing the use of chemical fertilizers that
impact the environment.
Keywords: Arbuscular mycorrhizal fungi, diversity, seedling production, by-products of
neem
Lista de Figuras
Pág.
Figura 1 - (A) Plantas adultas; (B) inflorescência e (C) frutos de nim (Azadirachta indica
A.Juss.)....................................................................................................................................
17
Figura 2 - Estruturas dos FMA: A – arbúsculo; B – células auxiliares; C – vesículas..........
22
Lista de Tabelas
Pág.
Tabela 1. Características químicas do solo rizosférico de áreas de cultivo de nim
(Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de Pernambuco,
2009..........................................................................................................................
28
Tabela 2. Características físicas do solo rizosférico de áreas de cultivo de nim
(Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de Pernambuco,
2009..........................................................................................................................
28
Tabela 3. Número mais provável (NMP) de propágulos infectivos e número de
glomerosporos na rizosfera de nim (Azadirachta indica) em quatro municípios do
estado de Pernambuco.................................................................................................
34
Tabela 4. Fungos micorrízicos arbusculares (Glomeromycota) da rizosfera de
plantas de nim (Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de
Pernambuco, 2009.......................................................................................................
36
Tabela 5. Proteínas do solo relacionadas à glomalina total e facilmente extraível
(PSRG-FE) e (PSRG-T) da rizosfera de plantas de nim (Azadirachta indica) em
quatro municípios do estado de Pernambuco, 2009...................................................
39
Tabela 6. Crescimento de mudas de nim (Azadirachta indica) em diferentes
substratos, 90 dias após a inoculação com FMA: controle não inoculado (NI),
Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al), Fuscutata heterogama (Fh) +
Gigaspora
albida
(Ga),
em
viveiro
no
município
de
Timbaúba-PE,
2010.............................................................................................................................
40
Tabela 7. Área foliar, biomassa fresca e seca da parte aérea e de mudas de nim
(Azadirachta indica) em diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com
FMA. Controle não inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora
longula (Al), Fuscutata heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em viveiro no
município de Timbaúba-PE, 2010...............................................................................
42
Tabela 8. Biomassa fresca e seca radicular e de mudas de nim (Azadirachta indica)
em diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com FMA. Controle não
inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al), Fuscutata
heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em viveiro no município de TimbaúbaPE, 2010......................................................................................................................
43
Tabela 9. Número de glomerosporos na rizosfera e colonização micorrízica em
mudas de nim (Azadirachta indica) em diferentes substratos, 90 dias após
inoculação com FMA. Controle não inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge),
Acaulospora longula (Al), Fuscutata heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga),
em viveiro no município de Timbaúba-PE, 2010.......................................................
44
Tabela 10. Produção de proteínas do solo relacionadas à glomalina facilmente
extraível (PSRG-FE) na rizosfera de mudas de nim (Azadirachta indica) em
diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com FMA. Controle não inoculado
(NI), Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al), Fuscutata heterogama
(Fh) + Gigaspora albida (Ga), em viveiro no município de Timbaúba-PE,
2010............................................................................................................................
44
SUMÁRIO
Pág.
1.INTRODUÇÃO.........................................................................................................
14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...........................................................................
16
2.1 Nim, Azadirachta indica A.Juss........................................................................
16
2.2 Principais utilizações do nim.............................................................................
18
2.3 Associações micorrízicas...................................................................................
21
2.4 Micorriza arbuscular..........................................................................................
22
2.5 Fungos micorrízicos arbusculares e Azadirachta indica...................................
24
3. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................
27
3.1 Atividade micorrízica na rizosfera de nim........................................................
27
3.1.1 Coletas..........................................................................................................
27
3.1.2 Extração, contagem de glomerosporos e identificação das espécies de
FMA......................................................................................................................
28
3.1.3 Número mais provável (NMP) de propágulos infectivos.............................
29
3.1.4 Teor de matéria orgânica..............................................................................
30
3.1.5 Proteínas do solo relacionadas à glomalina (PSRG)....................................
30
3.2 Instalação, condução e avaliação de experimentos de eficiência micorrízica...
30
3.3. Análise estatística.............................................................................................
32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................
33
4.1 Atividade micorrízica na rizosfera de nim........................................................
33
4.2 Experimentos de eficiência micorrízica...........................................................
40
5. CONCLUSÕES........................................................................................................
46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................
47
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
15
1. INTRODUÇÃO
O nim (Azadirachta indica A. Juss.) é uma planta nativa da Índia, pertencente à
família Meliaceae. Atualmente vem sendo cultivada em diversos países de clima tropical e
subtropical (Girish & Shankara, 2008), por se adaptar a diversos habitats e condições
climáticas (Shankarnarayanan et al., 1987), e pela aplicação de suas folhas, frutos,
sementes e madeira tanto na medicina veterinária como na produção de adubos e no
controle de pragas (Martinez, 2002).
Desde a antiguidade o nim era utilizado como medicamento, biopesticida, material
para construções e lenha em áreas rurais (Schultz Jr. et al., 1992; Biswas et al., 2002;
Girish & Shankara, 2008). Ultimamente tem sido estudado o efeito da aplicação de
produtos naturais obtidos de partes da planta, principalmente os elementos biologicamente
ativos de sua semente, no combate a diversas pragas e doenças que atacam vegetais e
animais (Mourão et al., 2004; Carneiro et al., 2007; Srivastava et al., 2008).
Além dessas aplicações, os subprodutos (torta e folhas de nim) contribuem para
gestão sustentável do solo, visto que podem maximizar a produção vegetal e manter a
qualidade ambiental (Rao & Siddaramappa, 2008). O ambiente edáfico é um dos fatores
que pode influenciar o início da produção de frutos, a produtividade e a síntese de
princípios ativos, como a azadiractina (Rengasamy & Parmar, 1995; Jitendra-Kumar et al.,
1997; Vivekanandan, 1998). Entretanto, práticas agrícolas tais como fertilização e
aplicação de produtos químicos influenciam as propriedades do solo, afetando por sua vez
a atividade microbiana nesse ambiente (Sándor, 2006).
Os microrganismos do solo participam de importantes processos relacionados à
fertilidade, como a ciclagem de nutrientes e a decomposição da matéria orgânica (Singh &
Singh, 2005). Dentre esses microrganismos, destacam-se os fungos micorrízicos
arbusculares (FMA) pela simbiose que formam com as raízes da maioria das espécies
vegetais, sendo considerados os principais componentes da microbiota do solo (Oehl et al.,
2003).
Os FMA são cosmopolitas e desempenham papel relevante na manutenção dos
ecossistemas (Maia et al., 2006; Costa et al., 2006), pois contribuem para o crescimento
das plantas, influenciam a composição da comunidade vegetal e atuam em diversos
processos do solo. A micorrização resulta na ação direta do fungo na absorção de água e
nutrientes, especialmente os de baixa mobilidade no solo como o fósforo (Smith & Read,
2008). Os FMA atuam também na proteção contra patógenos vegetais (Silveira, 1992;
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
16
Maia et al., 2006) e na melhoria da agregação das partículas do solo pela produção de uma
glicoproteína com propriedade cimentante, denominada glomalina (Wright & Upadhyaya,
1998a). Devido às dificuldades em separar a glomalina de outras substâncias presentes no
solo, foi proposto o termo “proteínas do solo relacionadas à glomalina” (PSRG), pois
pouco se conhece sobre a caracterização química da glomalina e não se conhece o gene
responsável pela sua síntese (Rillig, 2004).
O nim é altamente dependente da micorriza arbuscular (Habte et al., 1993) e embora
não exista especificidade entre os simbiontes, foi observada preferência por determinados
isolados de FMA (Sumana & Bagyaraj, 2006), sendo necessários mais estudos para seleção
de espécies de FMA eficientes em produzir mudas mais vigorosas em menor espaço de
tempo.
O emprego de FMA e de subprodutos vegetais pode constituir alternativa eficiente
na formação de plântulas de nim, melhorando suas condições nutricionais, antecipando o
tempo de transplantio e proporcionando maior índice de sobrevivência a campo. Para que
essa tecnologia seja implantada, estudos devem ser realizados no intuito de selecionar a
combinação hospedeiro/fungo/substrato que garanta o estabelecimento da micorriza e a
efetividade dos FMA na promoção do crescimento da cultura.
A empresa Cruangi Neem do Brasil comercializa subprodutos tais como torta de
nim, obtida da prensagem das sementes para extração de óleo, e folhas trituradas de nim,
ambos recomendados como adubo. Além disso, a empresa reaproveita a torta de cana-deaçúcar (resíduo obtido da produção sucroalcooleira) como substrato para a produção de
mudas de nim.
Assim, os objetivos deste trabalho foram: i) determinar a riqueza de espécies, o
número mais provável de propágulos infectivos de FMA, o teor de matéria orgânica e a
quantidade de proteínas do solo relacionadas à glomalina na rizosfera de nim e ii) avaliar o
efeito da inoculação com FMA associada a subprodutos vegetais (torta e folhas de nim e
torta de cana-de-açúcar) sobre o crescimento de mudas de nim, em condições de viveiro.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
17
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Nim, Azadirachta indica A. Juss.
O nome latinizado Azadirachta indica é derivado do persa (Azadhirakt = árvore
nobre, i - Hind = de origem indiana) que significa literalmente “árvore nobre da Índia”
(Ogbuewu et al., 2011). Apesar de ser espécie nativa do subcontinente indiano, atualmente
o nim pode ser visto crescendo com sucesso em cerca de 70 países em todo o mundo
(Girish & Shankara, 2008, Venkateswarlu et al., 2008). É uma planta da ordem Rutales,
família Meliaceae, tribo Melieae. com várias denominações, conhecida internacionalmente
por neem, sendo que no Brasil o nome foi aportuguesado para nim (Parkert & Finzer,
2009).
Devido ao seu múltiplo uso e elevado teor de azadiractina, um limonóide, extraído
principalmente das sementes, que vem demonstrando grande eficácia no combate a
diversas pragas e doenças que atacam vegetais e animais, o nim vem sendo estudado e
cultivado em diversos países (Venkateswarlu, 2008). No Brasil, o nim foi introduzido
oficialmente em 1986, pela Fundação Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), e
atualmente pode ser encontrado em todas as regiões do País (Martinez, 2002).
A planta apresenta crescimento rápido, com altura variando de 10 a 15 m e 30 a 80
cm de diâmetro quando adulta (Figura 1A). Sua madeira é marrom-avermelhada, dura e
resistente; seus galhos espalhados formam coroas de até 10 m de diâmetro podendo atingir
15 m em árvores isoladas; seu tronco, relativamente reto, apresenta-se áspero com fissuras
longitudinais (Neves & Carpanezzi, 2008; Soares et al., 2001).
O nim é muito resistente, com sistema radicular composto por uma raiz pivotante,
bem adaptada para retirar água e nutrientes do solo, no entanto muito sensível a inundações
(Soares et al., 2001). São árvores atrativas, com grande quantidade de folhas sempre
verdes, imparipinadas, alternadas, composta por até 15 folíolos dispostos em pares
alternados com folíolos terminais. As flores são brancas, hermafroditas e aromáticas,
brotam em feixes axiais, arranjando-se em inflorescências densas de 15 a 25 cm (Figura
1B) (Martinez, 2002).
O fruto é uma drupa (1 a 3 cm de diâmetro), com a forma variando de elipsoidal a
arredondado (Figura 1C) apresentando polpa amarelada quando maduro (Soares et al.,
2001). A produção de frutos ocorre do terceiro ao quinto ano após o transplantio, tornando-
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
18
se totalmente produtiva após 10 anos, podendo viver mais de 200 anos. Uma árvore
madura pode produzir até 50 kg de frutos por ano (Girish & Shankara, 2008), com cerca de
30 kg de sementes, gerando 6 kg de óleo e 21 kg de torta (Schmutterer, 1995).
A floração e a frutificação ocorrem entre três e quatro anos, dependendo das
condições climáticas da região em que o nim foi plantado. Em geral, a frutificação ocorre
uma vez por ano. Contudo, dependendo do clima, principalmente da temperatura (ideal: 30
ºC) e baixa precipitação, realizam-se duas colheitas por ano (Neves et al., 2003).
Fonte: Monte Jr
Fonte: Monte Jr
A
Fonte: Monte Jr
B
C
Figura 1. (A) Plantas adultas; (B) inflorescência e (C) frutos de nim (Azadirachta indica
A.Juss.).
A propagação do nim pode ser feita por sementes, estacas, mudas ou cultura de
tecidos. Normalmente, esta árvore é cultivada a partir de sementes plantadas diretamente
ou transplantadas como mudas de um viveiro. Para isso, as sementes devem ser retiradas
de frutos em fase de amadurecimento, passar por um processo de despolpamento, manual
ou mecânico, e depois devem ser secadas (Neves & Carpanezzi, 2008) e plantadas o mais
rápido possível, pois são mais viáveis por curto período de tempo (cerca de oito a dez dias
a contar da data da coleta) podendo-se conseguir boa germinação em até sete semanas após
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
19
a colheita, o que dependerá do processo de secagem e armazenamento das sementes
(Sacandé et al., 2001; Martinez, 2002; Neves et al., 2003).
A produção de mudas em viveiro seguido de transplantio ao campo é o sistema mais
utilizado, devido ao melhor controle da nutrição e à proteção das raízes contra danos
mecânicos e desidratação (Neves & Carpanezzi, 2008). A produção de mudas de espécies
arbóreas, com importância ecológica e/ou econômica, em viveiro, tem se tornado
alternativa viável para recuperação de áreas degradadas, além de compensar o uso
desordenado da extração de subprodutos (Muthukumar et al., 2001).
O nim se adapta a vários fatores: climáticos, topográficos e edáficos. Pode se
desenvolver bem em altitudes entre o nível do mar e 700 m e em temperaturas acima de
20°C, podendo tolerar altas temperaturas (até 50 ºC); contudo, é intolerante a geadas e
temperaturas abaixo de 4 ºC. A árvore cresce naturalmente em áreas onde a precipitação
anual está na faixa de 450 a 1200 mm, porém pode resistir à seca por sete a oito meses
(Neves & Carpanezzi, 2008), características consideradas importantes para o sucesso do
cultivo comercial no semiárido no nordestino.
Com referência a solos, o nim pode sobreviver em solos rasos, duros e pedregosos,
secos e pobres em nutrientes. Porém, as condições pedológicas ideais para o
desenvolvimento dessa meliácea são: solos arenosos bem drenados, profundo e pH em
torno de 7, não suportando solos permanentemente encharcados (Girish & Shankara,
2008).
2.2 Principais utilizações do nim
O potencial de aproveitamento do nim é amplo e variado, e o plantio dessa árvore
em grande escala pode ajudar a combater a desertificação, o desmatamento e a erosão do
solo (Allan et al., 1999). Além de ser conhecida pela sua madeira durável e resistente ao
cupim, os produtos não-madeireiros, como flores, frutas, sementes (óleo e torta), folhas e
cascas também podem ser destacados por suas várias utilidades.
Há séculos, a Índia utiliza derivados da planta na agricultura, medicina, pecuária e
na produção de cosméticos (Ogbuewu et al., 2011). Hoje, as sociedades modernas de
vários países cultivam o nim comercialmente como alternativa econômica promissora. O
recente interesse mundial é devido ao múltiplo uso de seus subprodutos e à procura por
compostos naturais sem efeitos tóxicos indesejáveis e que apresentem princípios bioativos
(Morgan, 2009). Esses derivados podem ser empregados principalmente na forma de
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
20
madeira, extratos, pós e óleos. Os óleos podem ser obtidos a partir da prensagem do
material vegetal. Para obtenção dos pós, o material vegetal (sementes, frutos, folhas, caules
e/ou raízes) é submetido à secagem e moído na granulometria desejada.
Devido aos inúmeros compostos bioativos (azadiractina, nimbidina, nimbina,
nimbidol, gedunim, nimbinato de sódio, quercentina, etc.) presentes em várias partes do
nim, especialmente na casca, folhas e sementes, essa planta tornou-se importante por sua
utilidade medicinal (Biswas et al., 2002; Subapryia & Nagini, 2005). Esses derivados têm
sido utilizados tradicionalmente para o tratamento de inflamações (van der Nat et al.,
1991), febre (Mahabub-Uz-Zaman et al., 2009), doenças de pele (Niharika et al., 2010;
Jain & Basal, 2003) e problemas dentários (Pai et al., 2004), atuando também como
antihelmintico (Githiori et al., 2004), antidiabético (Ebong et al., 2008), antiulceroso
(Bandyopadhayay et al., 2002), antimalárico (Khalid et al., 1989), antifúngico (Natarajan
et al., 2003; SaiRam et al., 2000), antibacteriano (Ahmad &. Beg, 2001), antiviral (SaiRam
et al., 2000), antioxidante (Jain & Basal, 2003). Apesar da existência de uma
regulamentação da Angência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa RDC 48/2004), não
há registros de fitomedicamentos à base de nim pela Anvisa, pois a maioria dos estudos
sobre esta espécie está voltada para as atividades inseticidas.
Uma das atividades dos subprodutos de nim é sua ação sobre os insetos, sendo
considerada inofensiva, ao contrário dos inseticidas sintéticos (Neves & Carpanezzi, 2008),
pois essa planta é uma das fontes mais ricas e diversas de metabólitos secundários. Dentre
os mais de 300 compostos presentes no nim e com propriedades semelhantes, a
azadiractina é o composto mais estudado (Allan et al., 2002), e apreciado como alternativa
ecológica na busca por métodos ambientalmente seguros e mais econômicos. A ação
conjunta ou isolada desses compostos pode afetar mais de 400 espécies de insetos
(Schmutterer & Singh, 1995), bloqueando os processos reprodutivos e de crescimento
(Girish & Shankara, 2008). Diversos outros efeitos, dependendo, entre outros fatores, da
espécie, também podem ser observados, tanto em nível fisiológico, hormonal e celular,
como em nível comportamental dos insetos (Schmutterer, 1990; Mordue & Blackwell,
1993; Martinez, 2002).
Grande parte dos metabólicos secundários do nim é solúvel em água (Gumero,
2008), o que torna as extrações rápidas, podendo ser feitas na própria propriedade agrícola,
diminuindo os custos e sem perder a eficácia. Estas características colocam os produtos
naturais à base de nim como excelente recurso para o controle de pragas de várias culturas
de importância agrícola, pois esses produtos podem também influenciar outros organismos
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
21
como os nematóides, caramujos, crustáceos, vírus e fungos (Kabeh & Jalingo, 2007;
Carneiro et al., 2007). Wan e Rahe (1998) comprovaram que o princípio ativo azadiractina,
nocivo para diversas pragas, não inibe a germinação nem a colonização de Glomus
intraradices, quando comparado com outros pesticidas de referência, ou seja, os derivados
do nim não têm impacto adverso sobre organismos terrestres não-alvo ou não constituem
um risco ecotoxicológico ao ambiente. Entretanto, insetos polinizadores, abelhas e outros
organismos úteis, como os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) não são afetados por
pesticidas à base de nim (Tanzubil, 1996).
Assim, os derivados de nim podem ser empregados na agricultura, tendo como
função manter a gestão sustentável do solo e maximizar a rentabilidade e manutenção da
qualidade ambiental, utilizando-se, principalmente, a torta de sementes e as folhas secas
trituradas (Rao & Siddaramappa, 2008). A torta de nim é o subproduto da prensagem das
sementes, e tem quantidade adequada de N (2% - 5%) P (0,5% - 1,0%) K (1% - 2%) na
forma orgânica e outros nutrientes essenciais para o desenvolvimento da planta como Ca
(0,5% - 3%), Mg (0,3% - 1%), S (0,2% - 3%), Zn (15 ppm - 60 ppm), Cu (4 - 20 ppm) Fe
(500 ppm - 1200 ppm), Mn (20 ppm - 60 ppm) (Agrogreen Canada). Valores semelhantes
também são encontrados nas folhas: N (3%), P (0,3%), K (2%), Ca (3%), Mg (0,5%)
(Neves & Carpanezzi, 2008).
As folhas e galhos verdes têm sido usados diretamente em solos de cultivos
intensivos e colocados em áreas encharcadas de arrozais; as folhas e a torta de nim também
têm sido utilizadas para enriquecer solos e são amplamente usadas como fertilizantes na
Índia (Neves et al., 2003).
Os subprodutos de nim têm mostrado importância considerável para a relação soloplanta, principalmente quando usado para aumentar a eficiência do uso de fertilizantes
nitrogenados. A torta de nim não só fornece nitrogênio orgânico, como inibe o processo de
nitrificação
quando
misturada
com
fertilizantes
nitrogenados,
podendo
reduzir
substancialmente as perdas por volatilização da amônia causadas por bactérias nitrificantes
no solo. A causa da lenta nitrificação, após aplicação da torta, pode ser atribuída à redução
da comunidade de bactérias nitrificadoras (Joseph & Prasad, 1993).
A torta e as folhas têm a vantagem de ter baixo custo, serem biodegradáveis e não
possuírem qualquer efeito tóxico sobre as plantas, mamíferos e aves. A incorporação de
folhas, frescas ou secas, ao solo tem reduzido a comunidade de nematóides, e a ação do
produto aumenta à medida que vai se decompondo (Mossini & Kemmelmeier, 2005).
Além disso, as folhas podem ser utilizadas como fonte para a preparação de
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
22
vermicomposto (Gajalakshmi & Abbasi, 2004). Sabe-se também que a torta pode aumentar
a fertilidade do solo e a capacidade de retenção de água, além de reduzir significativamente
a alcalinidade do solo através da produção de ácidos orgânicos quando misturado com o
solo, além do cálcio e magnésio presentes nesse subproduto também contribuírem para a
remoção da alcalinidade (Ogbuewu et al., 2011).
2.3 Associações Micorrízicas
O solo é um sistema complexo e dinâmico, onde interagem continuamente os
processos físicos, químicos e biológicos, modulados por sua vez, pela condição ambiental
prevalescente (Buscot & Varma, 2005). A rizosfera é uma zona bastante importante e bem
definida do solo, em que ocorrem as mudanças máximas na comunidade microbiana
(Cardon & Whitbeck, 2007). Dentre as numerosas inter-relações biológicas estabelecidas
nessa região do solo, as simbioses, como as micorrizas, destacam-se pelos efeitos
benéficos no crescimento da maioria dos vegetais.
O termo micorriza (do Grego mykes- fungo; e do Latim rhiza- raízes) foi primeiro
proposto pelo alemão Albert Frank, em 1885, para denominar as associações mutualistas
entre fungos do solo e raízes de plantas. Estudos em raízes fossilizadas evidenciam que
essa interação surgiu há cerca de 400 milhões de anos, momento que coincide com o
aparecimento das plantas terrestres (Smith & Read, 2008). Essa simbiose mutualista é
considerada a mais difundida e antiga na Terra (Simon et al., 1993; Redecker et al., 2000).
É possível que o surgimento dessa relação pode ter sido uma estratégia crucial de
sobrevivência desenvolvida pelas plantas para enfrentar estresses bióticos e abióticos
(Gianinazzi-Pearson, 1996). Essas
associações são
consideradas
ecologicamente
importantes para a maioria das plantas vasculares, em que o fotobionte é favorecido pelo
aumento na absorção de água e nutrientes do solo, principalmente para nutrientes que se
movimentam por difusão na solução do solo, como o fósforo, enquanto o micobionte
recebe fotossintatos produzidos pelo vegetal (Smith & Read, 2008).
Com base na morfoanatomia do sistema radicular colonizado por estes fungos, são
reconhecidos três grandes grupos: ectomicorrizas, endomicorrizas (ericóide, orquidóide e
arbuscular) e ectendomicorrizas (monotropóide e arbutóide) (Moreira & Siqueira, 2006).
A maioria dos estudos referentes à associação micorrízica estão concentrados em
dois grupos: os das ectomicorrizas e os das endomicorrizas arbusculares. Este último grupo
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
23
se destaca por constituir a simbiose predominante nos trópicos, ocorrendo na maioria dos
representantes das plantas vasculares e/ou de maior interesse econômico.
2.4 Micorriza Arbuscular
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA), pertencentes ao filo Glomeromycota
(Schüβler et al., 2001), são caracterizados pela formação de arbúsculos (Figura 2A) no
córtex radicular do hospedeiro, podendo ainda formar estruturas denominadas vesículas
(Figura 2C), na raiz, ou células auxiliares (Figura 2B), no solo, com função de
armazenamento de lipídios, além de produzirem esporos, denominados glomerosporos
(Goto & Maia, 2006), que são distintos dos demais esporos formados pelos fungos e são a
base para a identificação das espécies do grupo (Oehl et al., 2008).
O filo Glomeromycota possui apenas uma classe, Glomeromycetes, a qual é
constituída pelas ordens Glomerales (Glomus), Diversisporales (Acaulospora, Kuklospora,
Gigaspora, Scutellospora, Racocetra, Cetraspora, Dentiscutata, Fuscutata, Quatunica,
Pacispora, Diversispora, Entrophospora), Archaeosporales (Ambispora, Archaeospora,
Intraspora, Geosiphon) e Paraglomerales (Paraglomus) congregados em aproximadamente
205 espécies (de Souza et al., 2008; Oehl et al., 2008; Cavalcante et al., 2008-2009).
C
B
A
Fonte: Monte Jr
Fonte: Peterson et al
Fonte:mycorrhizas.info
Figura 2. Estruturas dos FMA: A – arbúsculo; B – células auxiliares; C – vesículas.
Os FMA formam associação com representantes de mais de 80% das famílias de
plantas terrestres (Schüβler et al., 2001; Wang et al., 2008), constituindo a mais ampla
simbiose entre fungos e plantas encontrada na natureza (Smith & Read, 2008). No entanto,
eles não estabelecem relações simbióticas com alguns membros das famílias
Amarantaceae, Brassicaceae, Chenopodiaceae Comellinaceae, Cyperaceae, Juncaceae,
Poligonaceae e Proteaceae (Moreira & Siqueira, 2006).
Nessa relação a planta fornece fotoassimilados ao fungo, e este, através da rede de
hifas externas, capta nutrientes e água presentes no solo, transferindo-os à planta
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
24
hospedeira por meio dos arbúsculos (Silveira, 1992). Os FMA são biotróficos obrigatórios,
dependendo de tecidos vivos de raízes para completar seu ciclo de vida assexuado. Vários
estágios estão envolvidos no processo de formação da simbiose micorrízica. O passo
inicial, fase pré-simbiótica, é a percepção de sinais químicos emitidos pela raiz do
hospedeiro (exsudatos), para que ocorra o crescimento da hifa em direção à raiz. Após a
ramificação da hifa próxima à raiz, há o contato com a epiderme, a formação de apressório
e a penetração do fungo no tecido radicular. Esse passo inicial na colonização das raízes é
então seguido pela ramificação das hifas no córtex com a formação de estruturas inter e
intracelulares (Giovannetti et al., 1994; Genre et al., 2005), o que os diferencia dos
patógenos de raízes, que comumente colonizam o sistema vascular das plantas, interferindo
negativamente na sua fisiologia. Após intensa dicotomização, as hifas originam os
arbúsculos, que são os principais sítios de troca metabólica entre os dois organismos
(Azcón-Aguilar & Barea, 1997). Com isso fica estabelecido um sítio de troca bidirecional
de nutrientes entre fungo e planta (Paszkowski, 2006). Ao mesmo tempo em que ocorre a
colonização intraradicular, o micélio extrarradicular se desenvolve e dele se originam
glomerosporos (Bago, 2000).
A capacidade do micélio externo dos FMA em atuar como uma ponte entre raízes e
microambientes do solo circundante, gera vários benefícios às plantas, principalmente com
melhoria no fornecimento de fósforo (Barea et al., 2005). Além dos efeitos nutricionais, a
associação confere tolerância às plantas contra estresses bióticos e abióticos (Genre et al.,
2005). Os efeitos nutricionais são os principais e os não-nutricionais são secundários,
decorrentes de melhor nutrição das plantas micorrizadas (Siqueira & Klauber-Filho, 2000).
Os FMA contribuem também para a estabilidade dos agregados, aumento da
aeração do solo e subsequente disponibilidade de água (Wright & Upadhyaya, 1998a;
Rillig, 2004; Borie et al., 2008), resultando em benefícios para o hospedeiro (Piotrowski et
al., 2004), pois, esses fungos produzem no micélio externo uma glicoproteína específica
que é acumulada no solo, a glomalina (Rillig et al. 2003). Essa glicoproteína constitui em
importante componente do carbono (C) do solo, pois é capaz de absorver naturalmente este
elemento (Rillig, 2004), podendo representar mais de 3% do C total do solo em florestas
tropicais apenas nos primeiros 10 cm do perfil de solo (Lovelock et al., 2004), podendo
essa quantidade variar, pois sua produção pode ser regulada por alguns fatores do solo que
afetam a simbiose micorrízica arbuscular (Rillig & Mummey, 2006), o tipo vegetal e a
espécie de FMA (Wright et al.1996; Rillig & Mummey, 2006).
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
25
Embora tipicamente o resultado da associação micorrízica arbuscular seja benéfica
para ambos os parceiros, a eficácia varia em combinações de fungo-planta (Smith et al.,
2003), o que indica que os FMA apresentam “preferência por hospedeiros” (Bever et al.,
1996; Costa et al., 2001). É também fundamental à sobrevivência e ao crescimento das
plantas, podendo ainda desempenhar importante papel no equilíbrio e manutenção das
comunidades vegetais (Harley, 1989), enquanto as plantas parecem controlar a diversidade
desses fungos nos ecossistemas (Johnson et al., 2005).
Os benefícios para as plantas resultam de vários efeitos e mecanismos. A simbiose
micorrízica arbuscular é conhecida por desempenhar um papel fundamental na ciclagem de
nutrientes e também proteger as plantas contra o estresse ambiental (Barea & Jeffries,
1995). Além desses, a simbiose vem sendo estudada devido à sua ação benéfica no
desenvolvimento e saúde de diversas espécies de plantas e na aplicação como
biofertilizantes, possibilitando reduzir o uso de insumos químicos, com potencial para a
aplicação na agricultura sustentável, gerando menos impacto ao ambiente (Azcón-Aguilar
& Barea, 1997). Entretanto, alguns fatores podem determinar a formação e ocorrência das
associações micorrízicas como pH, salinidade, luz, temperatura, precipitação, fertilização,
etc. (Moreira & Siqueira, 2006).
Os FMA apresentam grande potencial biotecnológico na agricultura, pois os
principais efeitos da simbiose se devem a incrementos na produção de biomassa, maior
produtividade das plantas hospedeiras, otimização do uso de fertilizantes fosfatados, maior
tolerância a patógenos e a estresses abióticos, além de acelerar o desenvolvimento,
reduzindo o tempo de formação de mudas, e a taxa de sobrevivência de plantas
micropropagadas ou não, quando levadas a campo (Azcón-Aguilar & Barea, 1997;
Machineski et al., 2010).
2.5 Fungos Micorrízicos Arbusculares e Azadirachta indica
O nim tem sido relatado como uma árvore altamente favorecida pela associação
micorrízica arbuscular, principalmente na fase de muda (Habte et al., 1993; Sumana &
Bagyaraj, 2006). Esta planta é normalmente propagada por sementes e cultivada em
viveiros por até cinco meses antes do transplantio para locais de produção (Benge,1989). A
inoculação de FMA eficientes na formação de mudas de nim vem sendo utilizada como
tecnologia de valiosa contribuição na produção, pois podem melhorar suas condições
nutricionais, reduzir seu tempo de formação e proporcionar mudas de alta qualidade,
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
26
aumentando o índice de sobrevivência a campo (Muthukumar et al., 2001; Machineski et
al., 2010).
Muitas espécies de FMA colonizam raízes de nim, em condições naturais
(Venkateswarlu et al., 2008) e na rizosfera dessa planta esses fungos podem interagir com
outros microrganismos influenciando seu desenvolvimento. Sumana e Bagyaraj (2003)
demonstraram que a inoculação com G. mosseae ou G. fasciculatum, ou a combinação
dessas espécies com outros organismos fixadores de nitrogênio e solubilizadores de fosfato
(Muthukumar et al., 2001) melhorou a qualidade e o crescimento de mudas de nim, devido
a maior absorção de nutrientes, sob condições de viveiro, em solos não desinfestados.
Pesquisas recentes mostraram que a simbiose micorrízica arbuscular aumenta a
biossíntese de vários metabólitos secundários economicamente úteis (Zhi-Lin et al., 2007).
Devido ao amplo uso e interesse comercial do nim, vários estudos tentam maximizar a
produção de seus derivados, principalmente os metabólitos biologicamente ativos (Sujanya
et al., 2008). Os estudos de Venkateswarlu et al. (2008) inoculando Glomus fasciculatum e
Glomus mosseae em mudas de nim mostraram que o conteúdo de azadiractina nas
sementes aumentou significativamente como resultado da inoculação.
Dentre os benefícios proporcionados à planta de nim pela associação micorrízica
arbuscular, está o aumento da absorção de nutrientes que resulta em maior
desenvolvimento do hospedeiro, por estender a área de exploração do solo, através da
produção de grande quantidade de hifas extra-radiculares, é um dos mais pronunciados. Foi
comprovado que a inoculação com FMA em mudas de nim pode proporcionar incremento
na matéria seca e nos teores de P, N, Ca, Mg e Cu, em doses baixas de P (Machineski et
al., 2010). Lima et al. (2009), ao inocular Acaulospora longula, espécie muitas vezes
encontrada na rizosfera plantas de nim cultivadas em Pernambuco, observaram benefícios
no crescimento de mudas em casa de vegetação.
A utilização de subprodutos do nim para produção de inseticidas, medicamentos,
fertilizantes está aumentando e pode exigir maiores plantações de nim e práticas culturais
mais eficientes. O benefício da associação micorrízica sobre o crescimento e absorção de
nutrientes é importante para esta cultura que frequentemente é transplantada para solos
agrícolas pobres e submetidos a condições de seca (Phavaphutanon et al., 1996). Cultivos
de nim podem ajudar a minimizar parcialmente vários problemas globais como o
desmatamento, desertificação, erosão do solo, e até mesmo aquecimento global, e a
associação com FMA pode ter importante papel na ecologia de comunidades vegetais e
efeitos benéficos sobre a planta, bem como na saúde do solo (Kabeh & Jalingo,
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
27
2007). Estudos realizados por Kumar et al. (2010), em mina de carvão, mostraram que
Azadirachta indica foi uma das espécies mais suscetíveis à associação micorrízica,
portanto beneficiada pelas vantagens dessa associação, podendo ser usada como
ferramenta eficaz na reabilitação de ecossistemas degradados.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
28
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Atividade micorrízica na rizosfera de nim
3.1.1 Coletas
As coletas foram feitas na rizosfera de plantas de nim cultivadas nos seguintes
municípios de Pernambuco: Recife, Serra Talhada, Petrolina e Timbaúba, que apresentam
as seguintes características:
Recife (8º03’12”S 34º57’18”W, 14 m de altitude) – localizado no litoral, o
município está situado sobre uma planície aluvial, com precipitação pluviométrica anual de
2.255,3 mm. O clima predominante é quente e úmido com temperaturas médias mínima e
máxima de 21 ºC e 32,7 ºC (Agritempo-LAMEPE/ITEP);
Timbaúba (7º33’16”S 35º16’51”W, 213 m de altitude) – está inserido na unidade
geoambiental do Planalto da Borborema; na mesorregião Mata e na Microrregião Mata
Setentrional do Estado, apresentando clima tropical úmido com precipitação pluviométrica
anual de 1.221,0 mm e temperaturas médias de 20 ºC a 32,3 ºC (AgritempoLAMEPE/ITEP);
Serra Talhada (7º58’33”S 38º17’18”W, 431 m de altitude) – localizado na parte
setentrional da microrregião do Pajeú, porção norte do Estado, apresenta clima tropical
semi-árido com precipitação anual de 650,9 mm e temperaturas médias variando de 19,1
ºC a 38,4 ºC (Agritempo-LAMEPE/ITEP);
Petrolina (9º22’41”S 40º30’16”W, 385 m de altitude) – localizado na mesorregião
do São Francisco e na microrregião de Petrolina. Apresenta clima tropical semi-árido seco
e quente, com precipitação anual de 635,2 mm e temperaturas médias de 17,5 ºC a 38,8 ºC
(Agritempo-LAMEPE/ITEP).
As coletas foram realizadas em 2009, nos meses de fevereiro (Recife), março (Serra
Talhada e Petrolina) e julho (Timbaúba). Os solos das áreas estudadas foram classificados
em arenoso a franco-arenoso (Tabela 2). Amostras da rizosfera foram coletadas na
profundidade de 0-20 cm na projeção da copa de dez plantas de nim em fase de produção
com idades entre 3-5 anos em árvores não adubadas e sem tratos culturais. As amostras
foram retiradas em quatro pontos equidistantes entre si que formaram uma amostra
composta, totalizando dez amostras de cada local; estas foram acondicionadas em sacos
plásticos, identificadas e levadas ao Laboratório de Micorrizas do Departamento de
29
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Parte do solo coletado foi
encaminhado para caracterização química (Estação Experimental de Cana-de-açúcar do
Carpina da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Carpina-PE) e física (Laboratório
de Física do Solo do Instituto Agronômico de Pernambuco-IPA, Recife-PE) (Tabelas 1 e
2).
Tabela 1. Características químicas do solo rizosférico de áreas de cultivo de nim
(Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de Pernambuco, 2009
Local de
coleta
P
(mg dm3)
pH
(H2O)
Recife
48
6,25
Timbaúba
300
7,00
99
7,10
19
7,60
Serra
Talhada
Petrolina
cmolc dm3
Ca
3.75
11,5
0
Mg
0.82
Na
0,09
K
0,12
Al
0,15
H
2,22
2,45
0,14
0,78
0,00
2,30
4,00
2,50
0,04
0,45
0,00
1,55
0,85
0,03
0,57
0,00
v
(%)
m
(%)
3.1
S
4,9
14,8
8
CTC
7,2
17,1
8
67
86,6
1
0,65
7,00
7,60
91
0,00
0,16
3,00
3,20
95
0,00
0,00
Tabela 2. Características físicas do solo rizosférico de áreas de cultivo de nim
(Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de Pernambuco, 2009
Local de coleta
Recife
Composição Granulométrica
(%)
Areia Total
Silte
64
20
Classe Textural
Argila
15
Areia Franca
Timbaúba
62
22
16
Areia Franca
Serra Talhada
73
17
10
Areia Franca
Petrolina
88
8
4
Areia
3.1.2. Extração, contagem do número de glomerosporos e identificação das espécies
de FMA
Glomerosporos foram extraídos de alíquotas de 50 g de solo de cada amostra,
utilizando a técnica de peneiramento úmido (Gerdemann & Nicolson, 1963) seguida de
centrifugação em água e solução de sacarose (Jenkins, 1964) a 50% (p/v). Após a extração
foram contados em placa canaletada, agrupados por tamanho, cor e forma e transferidos
para lâminas com álcool polivinílico em lactoglicerol (PVLG) e com PVLG + reagente de
Melzer (1:1). Para a identificação das espécies foram consultados Schenck & Pérez (1990)
e descrições morfológicas disponíveis no banco de dados da International Culture
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
Collection
of
Arbuscular
and
Vesicular-Arbuscular
Mycorrhizal
30
Fungi
(http://invam.caf.wvu.edu), bem como artigos com descrições de novas espécies.
Para obter maior número de esporos, permitir a esporulação de espécies que não
foram detectadas no exame das amostras do campo e facilitar a identificação dos FMA
também foram montadas culturas armadilhas. Amostras de solo de cada local foram
misturadas duas a duas, totalizando cinco amostras para cada área. As amostras foram
diluídas (1:1) em areia lavada e esterilizada em autoclave, e transferidas para potes
plásticos com capacidade para 1.000 mL. Como plantas hospedeiras foram utilizadas, para
cada pote, a mistura de amendoim (Arachis hypogaea L.), milho (Zea mays L.), girassol
(Helianthus annus L.), painço (Panicum miliaceum L.) e sorgo granífero (Sorghum bicolor
(L.) Moench). Os potes de cultura foram mantidos em casa de vegetação por 180 dias,
correspondendo a dois ciclos de multiplicação, e as regas aconteceram em dias alternados.
Após o segundo ciclo de cultivo foi feita a avaliação dos glomerosporos para identificação.
3.1.3. Número mais provável (NMP) de propágulos infectivos
O número mais provável (NMP) de propágulos infectivos de FMA foi estimado de
acordo com Feldmann & Idzack (1994). Para preparação desse experimento, foi usada,
para cada área, uma amostra composta, formada por 10 subamostras de solo seco,
misturado, peneirado (malha 0,5 cm de abertura), sendo esta a amostra base para as
diluições (solo-inóculo). Foi utilizado como diluente areia lavada, autoclavada por 1h a
120 ºC e seca em estufa a 105 ºC por 24h.
Amostras de solo-inóculo diluído nas proporções de 0 (solo não diluído), 1:10,
1:100 e 1:1000, foram transferidas para recipientes com capacidade para 150 mL. Para
cada diluição foram usadas cinco repetições, totalizando 20 potes por área amostrada. A
primeira diluição foi preparada com uma parte do solo estudado misturada a nove partes do
diluente e as demais diluições seguiram o mesmo princípio. Como planta isca foi usada
milho (Zea mays L.). As plantas permaneceram em casa de vegetação por 30 dias; depois
foram colhidas e as raízes coradas (Phillips & Hayman, 1970) e observadas ao microscópio
para verificação da presença ou não de associação micorrízica. Foram consideradas
colonizadas as raízes das plantas que apresentaram uma das seguintes estruturas próprias
de FMA: arbúsculos, vesículas ou glomerosporos. O NMP de propágulos infectivos de
FMA cm3 solo-1 foi obtido utilizando os dados da tabela de Cochran (1950).
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
31
3.1.4. Teor de matéria orgânica
A quantidade de matéria orgânica no solo foi avaliada segundo Cantarella et al.
(2001), com base na sua oxidação a CO2 por íons dicromato, em meio fortemente ácido.
Pesou-se 0,5g de solo em frascos de Erlenmeyer e adicionou-se 10 mL da solução de
dicromato de potássio (0,167 mol L-1) e 20 mL de ácido sulfúrico concentrado. Após
agitação manual por 1 minuto, deixou-se resfriar 30 minutos. Posteriormente foram
adicionados 200 mL de água destilada e em seguida a solução foi filtrada. Foi adicionado
10 mL de ácido fosfórico concentrado e 6 gotas do indicador difenilamina. Titulou-se com
solução de sulfato ferroso amoniacal (0,4 mol L-1) até a viragem de azul para verde. A
realização do teste em branco foi feita da mesma forma que as amostras, sem a utilização
do solo. Os valores obtidos foram expressos em g kg solo-1.
3.1.5. Proteínas do solo relacionadas à glomalina (PSRG)
As proteínas do solo relacionadas à glomalina foram determinadas em todas as
amostras, sendo quantificadas as porções facilmente extraível (PSRG-FE) e total (PSRGT), pelo método de Wright & Upadhyaya (1998b) com o seguinte procedimento: para a
fração PSRG-FE amostras de 0,25 g de solo foram autoclavadas (121 ºC/30 min) com 2
mL de citrato de sódio (20 mM; pH 7,0) seguida de centrifugação (10.000 g 5 min-1) e o
sobrenadante armazenado em geladeira (4 ºC); para a fração PSRG-T foram necessários
mais dois ciclos de extração em autoclave (121ºC/1h) utilizando citrato de sódio (50 mM;
pH 8,0). As frações de PSRG foram quantificadas pelo método de Bradford (1976) em
espectrofotômetro (595 nm). Os dados foram expressos em mg glomalina g-1 solo.
3.2. Instalação, condução e avaliação de experimento de eficiência micorrízica
O experimento foi conduzido em condição de viveiro em uma área da empresa
“Cruangi Neem do Brasil”, situada em Timbaúba-PE.
O experimento foi conduzido em delineamento experimental inteiramente
casualizado em esquema fatorial de 4 × 4 sendo: quatro tratamentos de inoculação com os
FMA exóticos Acaulospora longula Spain & N.C. Schenck (URM FMA 07), Glomus
etunicatum W.N. Becker & Gerd. (URM FMA 03), Gigaspora albida N.C. Schenck & Sm.
(URM FMA 01) + Fuscutata heterogama (T.H. Nicolson & Gerd.) (C. Walker & F.E.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
32
Sanders) Oehl, F.A. Souza, L.C. Maia & Sieverd (URM FMA 06) e FMA nativos
presentes no solo) × quatro substratos (solo + torta de sementes de nim, solo + folhas
trituradas de nim, solo + torta de cana-de-açúcar e solo não fertilizado), com quinze
repetições, totalizando 240 potes.
Os isolados exóticos de FMA foram obtidos da coleção do Laboratório de
Micorrizas da UFPE e são espécies conhecidas em beneficiar diversas culturas (Cavalcante
et al., 2002; Brandão et al., 2004; Silva et al., 2004; Anjos et al., 2005; Lins et al., 2007).
Estes foram multiplicados, separadamente, em casa de vegetação durante três meses em
potes com 500 g de solo tendo como planta hospedeira o sorgo. O solo, coletado em
Aldeia, Camaragibe-PE foi desinfestado em autoclave (121 ºC em ciclos de 1h) e
apresentou, após o procedimento, as seguintes características: classe textural arenosa, P= 4
mg dm3; pH= 4,77; Ca= 0,75; Mg= 0,50; Na= 0,02; K= 0,02; Al= 1,45; H= 1,27; S= 1,3 e
CTC= 4,0 cmolc dm3; v= 32% e m= 53%.
O experimento foi conduzido em solo não desinfestado coletado na empresa
Cruangi Neem do Brasil (Timbaúba) com as seguintes características: P= 15 mg dm3; pH=
5,60; Ca= 5,25; Mg= 2,85; Na= 0,06; K= 0,75; Al= 0,15; H= 8,84; S= 8,9 e CTC= 17,9
cmolc dm3; v= 50% e m= 2%. Neste solo foram recuperados 11 glomerosporos 50 g solo-1
de FMA nativos tendo sido identificadas as seguintes espécies: Acaulospora rehmii
Sieverd. & S. Toro, A. cavernata Błaszk. 1989, A. scrobiculata Błaszk., A. tuberculata
Janos & Trappe, Ambispora callosa (Sieverd.) C. Walker, Vestberg & A. Schüßler,
Glomus sp. e Paraglomus occultum (C. Walker) J.B. Morton & D. Redecker,
representantes de quatro famílias de Glomeromycota.
Os substratos foram utilizados seguindo as proporções: (a) torta de sementes (1%);
(b) folhas trituradas (3%); (c) torta de cana-de-açucar (30%), utilizada na empresa Cruangi
Neem do Brasil no substrato para a produção de mudas da cultura. A torta de nim
(NeemTorta®) e as folhas de nim (NeemFolha®) são produzidas e comercializadas pela
referida empresa e recomendadas nas proporções indicadas.
Os substratos apresentaram as seguintes características:
Solo + torta de sementes de nim (P= 100 mg dm3; pH= 5,3; Ca= 10,50; Mg= 1,00; Na=
0,22; K= 1,28; Al= 0,4; H= 5,50; S= 13,0 e CTC= 18,90 cmolc dm3; v= 68,78% c= 2,34%
e m= 2,99%; M.O= 4,03);
Solo + folhas de nim trituradas (P= 60 mg dm3; pH= 5,6; Ca= 11,50; Mg= 2,00; Na= 0,14;
K= 2,05; Al= 0,0; H= 5,40; S= 15,69 e CTC= 21,09 cmolc dm3; v= 74,40% c= 2,34% e m=
0,0%; M.O= 4,07);
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
33
Solo + torta de cana-de-açúcar (P= 160 mg dm3; pH= 6,8; Ca= 9,80; Mg= 1,80; Na= 0,13;
K= 1,15; Al= 0,0; H= 3,90; S= 12,88 e CTC= 16,78 cmolc dm3; v= 76,76% c= 2,40% e m=
0,0%; M.O= 4,14).
As mudas foram obtidas a partir de frutos de nim maduros coletados também na
referida empresa. Os frutos foram despolpados e as sementes lavadas em água corrente,
postas para secar em papel toalha e semeadas no mesmo dia em bandejas com areia lavada
autoclavada (121 ºC/1h). Quando as plântulas apresentaram um par de folhas não
cotiledonares, foram transplantadas para sacos pretos de polietileno (2 kg) e inoculadas na
região das raízes com solo-inóculo contendo aproximadamente 300 glomerosporos/pote,
regadas diariamente.
Após 90 dias foram avaliadas; altura, diâmetro do caule e número de folhas, área
foliar, biomassa fresca e seca da parte aérea e raiz, número de glomerosporos, colonização
micorrízica e proteínas do solo relacionadas à glomalina facilmente extraível PSRG-FE.
Para determinar a área foliar, as folhas frescas foram digitalizadas com auxílio de um
scanner e o cálculo realizado utilizando o programa ImageJ (National Institute of Health,
USA). Para a biomassa seca vegetal, as amostras foram acondicionadas em sacos de papel,
separadamente, e secas em estufa com circulação forçada de ar, a 60 ºC até peso constante.
Os glomerosporos foram extraídos de alíquotas de 50 g de solo de cada amostra, utilizando
a técnica de peneiramento úmido (Gerdemann & Nicolson, 1963) seguida de centrifugação
em água e solução de sacarose (Jenkins, 1964) a 50% (p/v). A colonização micorrízica foi
estimada em 100 fragmentos de 1 cm (Giovannetti & Mosse, 1980), após diafanização das
raízes em KOH 10% e H2O2 10% e coloração com azul de Trypan 0,05% (Phillips &
Hayman, 1970). Para quantificação da PSRG-FE, foi utilizado o método de Wright &
Upadhyaya (1998b), como descrito. O incremento foi calculado utilizando a formula de
Edigiton et al. (1971) adaptada: I (%) = [(Tr-T)T-1]100, onde I (%) = incremento da
variável, Tr = valor médio para o tratamento micorrizado e T = valor médio do controle
não inoculado no solo sem substrato.
3.3 Análise Estatística
Para análise, os dados do número de folhas foram transformados em (x + 0,5)0,5,
número de glomerosporos em log (x + 1) e colonização de raízes em arc sen (x/100). Os
dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo
teste de Tukey (P ≤ 0.05) utilizando o programa Assistat 7.5.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Atividade micorrízica na rizosfera de nim
O número de propágulos infectivos de FMA variou de 22 a 79 propágulos cm3 solo1
nas áreas estudadas, sendo a maior quantidade de propágulos observada na área de Recife
e os menores valores nos solos coletados em Petrolina e Serra Talhada (Tabela 3). Outros
estudos também quantificaram poucos propágulos infectivos de FMA em regiões áridas e
semiáridas (Souza et al., 2002; Silva et al., 2001). Sieverding (1991) menciona que os
menores valores de propágulos de FMA observados em savanas naturais podem ser
explicados pelas diferenças na textura de solo, com os mais arenosos apresentando
menores densidades desses propágulos. Os solos das quatro áreas estudadas foram
predominantemente arenosos (Tabela 2), com o de Petrolina apresentando 88% de areia e
apenas 4% de argila, indicando que fatores edáficos podem ser importantes no potencial
infectivo de FMA.
A presença de propágulos infectivos de FMA é importante na regeneração da
vegetação uma vez que permite que a associação micorrízica arbuscular seja estabelecida,
mas o sucesso da associação depende da viabilidade e da densidade dos propágulos
(McGee et al., 1997). Variáveis como planta hospedeira, solo, fósforo e pH podem ser
responsáveis por diferenças na presença de FMA (Wang et al., 2008). No presente estudo,
os solos eram provenientes da rizosfera da mesma espécie vegetal (A. indica) com idades
semelhantes, o que sugere que outros fatores como o tipo e características do solo e clima
tenham influenciado o funcionamento da associação e a ocorrência dos FMA, contribuindo
para as diferenças nos valores de propágulos infectivos (Moreira & Siqueira, 2006). Com
relação ao fósforo, os propágulos infectivos, em geral, diminuem com o aumento dos
níveis desse nutriente no solo (Silva et al., 2001; Covacevichi et al., 2006). Entretanto, o
fósforo não deve ter influenciado o número de propágulos, considerando que nas áreas
avaliadas, os maiores valores de NMP foram encontrados nos locais com maiores níveis
desse macronutriente (Tabelas 1 e 3).
Apesar do pH do solo ser fator que normalmente afeta qualitativa e
quantitativamente as micorrizas, principalmente em solos ácidos, quando altos teores de
Al+ e H+ se tornam tóxicos para os FMA (Moreira & Siqueira, 2006), no presente estudo,
os solos mais alcalinos apresentaram menor número de propágulos e glomerosporos. É
possível que, com a diminuição das concentrações H+, mais espécies de FMA tenham sido
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
35
capazes de estabelecer a simbiose e completar seu ciclo. Silva et al. (2001) também
observaram menor número de glomerosporos em solo mais alcalino.
Tabela 3. Número mais provável (NMP) de propágulos infectivos e número de
glomerosporos na rizosfera de nim (Azadirachta indica) em quatro municípios
do estado de Pernambuco, 2009
Áreas
NMP
(cm3 solo-1)
Nº de glomerosporo
(50 g solo-1)
Recife
Timbaúba
Serra Talhada
79
49
22
61 a
35 a
17 b
34
15 b
Petrolina
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste
de Tukey (p<0,05).
Maior número de glomerosporos foi recuperado nos solos coletados em Recife (61
glomerosporos 50g-1 solo) e os significativamente menores foram observados em Petrolina
e Serra Talhada (p<0,05) (Tabela 3). Provavelmente, os solos de Serra Talhada e Petrolina
exibem condições que restringem a esporulação dos FMA associados ao nim.
Embora o nim seja altamente micotrófica (Sumana & Bagyaraj, 2006), o número de
glomerosporos varia em diferentes ecossistemas. Pande e Tarafdar (2004) chegaram a
recuperar em zonas áridas e semiáridas mais de 150 glomerosporos 50 g solo-1 em sistema
agroflorestal, tendo o nim como principal componente arbóreo, enquanto Nandi et al.
(2009) em Bangladesh, registraram valores entre 80 a 185 glomerosporos g solo-1. Estas
variações ocorreram na rizosfera da mesma espécie vegetal, o que pode ser atribuído a
outros fatores que poderiam ter efeito sobre a distribuição de FMA como variações
edáficas (Oehl et al., 2010) e fatores climáticos (Stahl & Christensen, 1991). Isto
demonstra que as condições edafoclimáticas são mais determinantes para a atividade
micorrízica do que a especificidade do fungo × espécie vegetal (Sieverding, 1991).
Diversos estudos (Requena et al., 1996; Silva et al., 2001; Souza et al., 2003;
Gomes et al., 2008; Mohammad et al., 2003) relatam que a baixa densidade de
glomerosporos em regiões semiáridas e áridas, independentemente da planta hospedeira,
pode ser devida à presença de espécies de FMA não esporulantes (Bashan et al., 2000) ou
também aos solos dessas áreas, que podem apresentar características limitantes para a
esporulação e para alta diversidade de FMA.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
36
O total de 49 táxons de FMA, pertencentes a 11 gêneros (Glomus, Acaulospora,
Gigaspora, Scutellospora, Racocetra, Cetraspora, Dentiscutata, Fuscutata, Pacispora,
Ambispora, e Paraglomus) foram recuperados da rizosfera de plantas de nim (Tabela 4).
Apenas uma espécie ocorreu em todos os locais amostrados (Acaulospora scrobiculata) e
duas (Gigaspora sp. e Glomus etunicatum) foram comuns a três áreas (Recife, Petrolina e
Serra Talhada). As outras espécies, aparentemente, eram mais restritas a situações
específicas de clima e solo. Acaulospora scrobiculata e Glomus etunicatum são largamente
distribuídas no Brasil, sendo referidas em vários trabalhos sobre ocorrência de FMA
(Carrenho et al., 2001, Souza et al., 2002; Souza et al., 2003; Weber & Oliveira, 1994).
Segundo Stürmer e Siqueira (2008) Acaulospora scrobiculata é a espécie com distribuição
mais ampla, sendo encontrada em floresta de Araucaria no Sul, em várias culturas no
Nordeste e em floresta nativa no estado do Amazonas, tendo distribuição similar à de
Glomus etunicatum. Tchabi et al. (2008; 2009) também verificaram predominância de A.
scrobiculada e G. etunicatum nos solos de Savanas na África Ocidental. Avaliando
diversos tipos de solo da Europa Central, Oehl et al. (2010) constataram que algumas
espécies de FMA podem ser consideradas “generalistas”, estando presente em quase todos
os tipos de solo, enquanto outras se caracterizam como "especialistas", pois só estão
presentes em um nicho específico.
A identificação de glomerosporos, principalmente para o gênero Glomus, foi de
certa forma comprometida em função da pequena quantidade de glomerosporos
recuperadas nas áreas e/ou pela deterioração dessa estrutura que não foram adequadas para
fins de identificação ao nível de espécie.
O município de Recife apresentou maior riqueza de espécies (30), seguido de
Timbaúba (16), Serra Talhada (15) e Petrolina (8), corroborando dados obtidos por Maia e
Trufem (1990), que constataram decréscimo na diversidade de FMA do litoral mais úmido
(15 espécies) em direção ao interior, com clima semiárido (oito espécies), atribuindo essa
diferença às condições ecológicas de cada região. O maior número de espécies
identificadas em todas as áreas amostradas pertenceu aos gêneros Glomus e Acaulospora,
15 e 12, respectivamente. Outros trabalhos também mostraram a predominância de
espécies desses gêneros em diversas condições edafoclimáticas (Maia & Trufem, 1990;
Carrenho et al., 2001; Souza et al., 2003; Silva et al., 2006; Violi et al., 2008;
Albuquerque, 2008; Mello, 2010). Isto pode ser devido ao fato desses gêneros serem muito
adaptáveis a uma variedade de solos e condições de temperatura, podendo suportar grandes
variações de pH do solo, sendo dominantes sobre as espécies dos outros gêneros, as quais
37
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
tendem a ocorrer em faixas mais restritas de pH (Ho, 1987; Maia & Trufem, 1990, SagginJúnior & Siqueira, 1996; Carrenho, 1998), além de serem os gêneros com maior número de
espécies (Oehl et al., 2008). Pande & Tarafdar (2004) também encontraram grande número
de representantes do gênero Glomus em rizosfera de nim em zonas áridas e semi-áridas na
Índia.
Tabela 4. Fungos micorrízicos arbusculares (Glomeromycota) da rizosfera de plantas de
nim (Azadirachta indica) em quatro municípios do estado de Pernambuco, 2009
Família/espécies de FMA
Acaulosporaceae
Acaulospora sp.1
Acaulospora sp.2
Acaulospora sp.3
Acaulospora sp.4
A. cavernata Błaszk.
A. elegans Trappe & Gerd.
A. excavata Ingleby & C. Walker
A. longula Spain & N.C. Schenck
A. morrowiae Spain & N.C. Schenck
A. scrobiculata Trappe
A. spinosa C. Walker & Trappe
A. tuberculata Janos & Trappe
Ambisporaceae
Ambispora sp.1
A. gerdemannii (S.L. Rose, B.A. Daniels &
Trappe) C.Walker, Vestberg & A. Schüessler
Dentiscutataceae
Dentiscutata sp. Oehl, F.A Souza & Sieverd.
D. scutata (C. Walker & Dieder.) Oehl, F.A.
Souza & Sieverd.
Fuscutata sp.1
F. savannicola (R.A Herrera & Ferrer) Oehl,
F.A. Souza & Sieverd.
Gigasporaceae
Gigaspora sp.
Gigaspora sp.1
G. decipiens I.R. Hall & L.K. Abbott
Scutellosporaceae
Scutellospora sp. F.A. Souza & Sieverd.
Scutelospora sp.1
S. aurigloba (I.R. Hall) C. Walker & F.E.
Sanders
S. calospora (T.H. Nicolson & Gerd.) C.
Walker & F.E. Sanders
Glomeraceae
Glomus sp.1
Glomus sp.2
Glomus sp.3
Glomus sp.4
Glomus aff .albidum
Glomus aff. caesaris
Glomus aff. constrictum
Glomus. aff. heterosporum
Recife
Local de coleta
Timbaúba Serra Talhada
Petrolina
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
-
+
+
+
+
+
-
+
+
-
+
-
-
-
-
-
-
+
+
-
-
-
+
-
-
-
+
-
-
-
-
-
+
-
+
+
-
+
+
-
+
-
+
+
-
-
+
-
-
+
-
-
+
-
-
-
+
+
+
+
-
+
+
+
+
+
+
+
+
-
Continua
38
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
Tabela 4. Continuação.
Família/espécies de FMA
Glomus aff. intraradices
Glomus aff. macrocarpum
Glomus aff. microcarpum
G. etunicatum W. N. Becker & Gerd.
G. glomerulatum Sieverd.
G. mosseae (T. H. Nicolson & Gerd.) Gerd. &
Trappe
G. sinuosum (Gerd. & B.K. Bakshi) R.T.
Almeida & N.C. Schenck
Racocetraceae
Cetraspora pellucida (T.H. Nicolson & N.C.
Schenck) Oehl, F.A. Souza & Sieverd.
Racocetra sp. Oehl, F.A Souza & Sieverd.
R. fulgida (Koske & C. Walker) Oehl, F.A.
Souza & Sieverd.
R. gregaria (N.C. Schenck & T.H. Nicolson)
Oehl, F.A. Souza & Sieverd.
R. weresubiae (Koske & C. Walker) Oehl, F.A.
Souza & Sieverd.
Pacisporaceae
Pacispora sp.1
P. boliviana Sieverd. & Oehl
Paraglomaceae
Paraglomus brasilianum (Spain & J. Miranda)
J.B. Morton & D. Redecker
P. occultum (C. Walker) J.B. Morton & D.
Redecker
Riqueza de espécies
- = ausência; + = presença
Recife
+
+
+
Local de coleta
Timbaúba Serra Talhada
+
+
+
-
Petrolina
+
-
+
+
-
-
-
+
-
-
+
+
-
-
-
-
+
-
-
-
+
+
-
-
+
+
-
+
-
-
+
+
-
+
-
+
-
-
-
+
-
-
-
30
16
15
8
Grandes variações podem ocorrer na composição e riqueza de espécies de
comunidades de FMA, as quais diferenças podem ser atribuídas a fatores edáficos e
climáticos (Oehl et al., 2010). É possível que a riqueza de FMA seja maior do que a
encontrada, considerando-se que a identificação das espécies foi de certa forma
comprometida em função da pequena quantidade de glomerosporos, de algumas espécies,
recuperados dos solos. A cultura armadilha não contribuiu para a recuperação de outros
táxons além dos observados nas amostras de campo, porém a multiplicação daqueles
identificados foi útil para confirmar a identidade de alguns FMA especialmente a cultura
dos solos de Recife e Timbaúba.
Vários fatores edáficos como o nível de fósforo e pH do solo influenciam os
padrões de distribuição dos FMA (Souza et al., 2003; Uhlmann et al., 2004; Oehl et al.,
2010). Alguns trabalhos mostraram que altas concentrações de fósforo (>40 mg dm-3) no
solo afetam negativamente a esporulação e a diversidade de FMA (Souza et al., 2003; Gai
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
39
et al., 2009; Gomes et al., 2010). Neste estudo, o fósforo do solo não foi o principal fator
na distribuição dos FMA, pois os solos com maiores níveis desse nutriente apresentaram
maior riqueza de espécies de FMA que os demais solos, como observado também em
relação ao NMP de propágulos.
O pH do solo variou de levemente ácido (Recife) a neutro (Serra Talhada e
Timbaúba) e até relativamente alcalino (Petrolina) (Tabela 1). A maior representatividade
do gênero Glomus pode indicar uma possível relação com o pH, pois espécies pertencentes
a esse gênero apresentam maior taxa de germinação, colonização radicular e ocorrência
natural em condições de pH de neutro a alcalino (Siqueira & Franco, 1988). Espécies de
Acaulospora são favorecidas em solos com pH < 6,5 (Siqueira et al., 1989), o que poderia
explicar o grande número de espécies desse gênero na rizosfera de nim coletadas em
Recife (8). Resultados semelhantes foram obtidos por Silva et al. (2007) e Oehl et al.
(2010) os quais registraram Acaulospora como o gênero mais recuperado em solos
levemente ácidos a ácidos. Em estudos realizados em citros (Weber e Oliveira, 1994),
também atribuíram a predominância do gênero Acaulospora em solos ácidos dos pomares
e viveiros (<5,6). Portanto, as espécies de FMA que habitam a rizosfera de plantas da
mesma espécie podem variar dependendo das condições sob as quais a planta está
crescendo (Haas & Menge, 1990; Moreira & Siqueira, 2006).
Maiores valores de matéria orgânica foram verificados em Timbaúba (54,67 g dm3)
e Recife (45,30 g dm3) quando comparados com as demais áreas (p<0,05) (Tabela 5).
Condições climáticas, tais como temperatura e precipitação, são importantes na
determinação dos teores de matéria orgânica do solo; em regiões mais frias e úmidas há
maior acúmulo de matéria orgânica no solo, enquanto, em regiões de clima quente e seco
há maior velocidade de degradação da matéria orgânica, consequentemente menor teor
desse componente no solo (Stevenson, 1994; Moreira & Siqueira, 2006). Portanto, apesar
da decomposição e humificação do material orgânico depender da ação de
microrganismos, os fatores climáticos são importantes nesse processo, com importância
diferenciada.
È possível que o baixo teor de matéria orgânica observado nas amostras de solo
provenientes de Petrolina, seja devido ao baixo teor de argila, pois a matéria orgânica é
menos protegida pela fração mineral, o que acarreta mineralização mais intensa. Por outro
lado, o alto teor de argila pode proteger o solo contra a degradação da matéria orgânica
através de pontes entre a matéria orgânica e minerais de argila, formando complexos
organominerais (Parfitt et al., 1997).
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
40
As maiores concentrações de PSRG-FE foram registradas nos solos de Timbaúba
quando comparadas aos de Petrolina e Serra Talhada (p<0,05). Os maiores valores de
PSRG-T também foram observados em Timbaúba (2,24 mg glomalina g solo-1) e foram
significativamente superiores àqueles encontrados nas demais áreas (p<0,05) (Tabela 5). É
possível também que os valores de PSRG em Timbaúba estejam relacionados aos teores de
matéria orgânica dessa área, que foram elevados, pois a matéria orgânica estimula a
produção de hifas (Gryndler et al., 2002) influenciando indiretamente os valores de PSRG
do solo (Rosier et al., 2006). Ambientes úmidos e com maior aporte de matéria orgânica,
tendem a apresentar maiores concentrações de PSRG (Teixeira et al., 2010). Fatores do
solo, como concentração de ferro, clima, tipo de vegetação e espécies de FMA podem
contribuir para diferenças nas concentrações de proteínas do solo relacionadas à glomalina
(Wright & Upadhyaya, 1998a; Rillig et al., 2001). Os fatores que afetam o
desenvolvimento do FMA influenciam indiretamente o estoque de glomalina no solo, visto
que a presença e o tipo de vegetal afetam a produção de proteína (Treseder & Turner,
2007).
Tabela 5. Proteínas do solo relacionadas à glomalina total e facilmente extraível (PSRGFE) e (PSRG-T) da rizosfera de plantas de nim (Azadirachta indica) em quatro municípios
do estado de Pernambuco, 2009
PSRG-FE
PSRG-T
Matéria Orgânica
(mg glomalina g solo-1)
(mg glomalina g solo-1)
(g dm3 solo-1)
0,53 ab
1,09 b
45,30 a
Recife
0,82 a
2,24 a
54,67 a
Timbaúba
0,43 b
0,93 b
22,95 b
Serra Talhada
0,40 b
0,29 c
13,45 b
Petrolina
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05)
Local de Coleta
Além dos fatores do solo, há evidências de que diferentes espécies de FMA são
capazes de produzir quantidades diferentes de PSRG (Wright et al., 1996). As áreas com
maiores
teores
destas
proteínas
apresentaram
também
elevadas
densidade de
glomerosporos e riqueza de espécies indicando que nessas áreas há espécies de FMA com
maior potencial para produção desta proteína no solo, além disso, a glomalina presente nos
glomerosporos, pode ter contribuído para as maiores estimativas de PSRG-FE nessas áreas.
Porém, as taxas de produção de glomalina nem sempre são correlacionadas com a
abundância de FMA no solo (Treseder & Turner, 2007). Estudos indicam que as espécies
do gênero Glomus parecem alocar menos recursos para a produção de glomalina do que as
de Acaulospora e Gigaspora (Lovelock et al., 2004); entretanto, isso não é uma regra, pois
41
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
pode haver variação interespecífica na deposição de glomalina (Wright & Upadhyaya,
1999), o sugere que a composição da comunidade de FMA é um importante regulador da
produção de GRSP nos solos.
4.2. Experimentos de eficiência micorrízica
Houve efeito isolado da inoculação para diâmetro de caule, número de folhas, área
foliar, biomassas seca e fresca da parte aérea, biomassas seca e fresca radicular, número de
glomerosporos e colonização micorrízica (p<0,05) (Tabelas 6, 7, 8, 9).
Diferenças quanto à altura das mudas de nim só foram evidenciadas com relação ao
substrato, sendo os maiores valores observados nos tratamentos torta de nim e folhas de
nim. Apenas nestes as mudas atingiram altura ideal para transplantio ao campo (Tabela 6).
Efeito isolado do substrato influenciando o desenvolvimento vegetal foram referidos por
Silva et al. (2006) em mudas de alpinia (Alpinia purpurata (Vieill.) K. Schum.) e sorvetão
(Zingiber spectabile Griff.), e Lovato et al. (1994) em cereja selvagem (Prunus avium L.).
Tabela 6. Crescimento de mudas de nim (Azadirachta indica) em diferentes substratos, 90
dias após a inoculação com FMA: Controle não inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge),
Acaulospora longula (Al) e Fuscutata heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em
viveiro no muncípio de Timbaúba-PE, 2010
Tratamento de
inoculação
Não Fertilizado
NI
Ge
Al
Fh+Ga
18,5 aB
18,6 aB
18,5 aB
18,2 aB
NI
Ge
Al
Fh+Ga
3,3 aB
3,5 aB
3,4 aA
3,1 aB
Substrato
F o lha s de
To rt a d e
ni m
Ni m
Altura (cm)
24,1 aA
25,2 aA
26,6 aA
25,5 aA
23,9 aA
23,9 aA
23,5 aA
23,1 aAB
Diâmetro (mm)
4,0 abA
4,0 aA
4,5 aA
3,9 aAB
3,7 bA
3,6 aA
4,0 abA
3,7 aA
Número de folhas*
13 aB
NI
14 aB
Ge
12 aB
Al
13 aB
Fh+Ga
Interação: *(p<0,05); Médias seguidas da mesma
diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
17 aA
20 aA
17 aA
16 aA
letra, maiúscula nas
To rt a d e Ca na de- a ç úca r
11,0 aC
12,1 aC
12,8 aC
11,8 aC
2,3 aC
2,4 aC
2,4 aB
2,5 aB
19 aA
6 bC
16 abB
8 abC
15 bAB
9 aC
15 bAB
7 abC
linhas, e minúsculas nas colunas, não
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
42
De modo geral o diâmetro do caule e o número de folhas das mudas também não
foram beneficiados pela inoculação com FMA. Mas houve diferença nos tratamentos
inoculados, com as plantas do tratamento inoculado com G. etunicatum apresentando
maior diâmetro do caule do que as inoculadas com A. longula, isso apenas quando
cultivadas em substrato com folhas de nim (p<0,05) (Tabela 6). Os resultados obtidos os
90 dias neste estudo, foram similares aos observados por Sumana e Bagyaraj (2003) em
mudas de nim avaliadas após 180 dias. Neste sentido, as mudas testadas alcançaram na
metade do tempo o mesmo crescimento de outras mantidas por 180 dias.
Em relação ao número de folhas, as mudas foram favorecidas nos tratamentos com
folhas de nim em relação aos demais, e no tratamento com torta de nim apenas a
inoculação com G. etunicatum promoveu resposta similar ao obtido no controle, o que
demonstra que a micorrização foi pouco efetiva em beneficiar as mudas testadas. Porém,
no tratamento com torta de cana as mudas inoculadas com A. longula apresentaram mais
folhas que as do controle, e neste caso a micorrização beneficiou o crescimento em número
de folhas, das mudas (p<0,05).
Diferença significativa da micorrização foi observada na área foliar apenas no
tratamento com folhas de nim e inoculado com G. etunicatum. Neste tratamento as mudas
apresentaram as melhores respostas, diferindo daquelas do tratamento com os FMA nativos
(Tabela 7). Esse resultado indica possível alternativa para a produção de mudas dessa
cultura em condições de viveiro. Este fato corrobora com Cavalcante et al. (2002) que
estudaram o efeito de FMA em maracujazeiro-amarelo e com Nunes et al. (2008) no
desenvolvimento de porta-enxerto de pessegueiro, e observaram que essa espécie de FMA
é uma alternativa para incrementar a área foliar. A área foliar é uma variável importante,
pois a taxa de fotossíntese realizada pela planta determina a produção de fotoassimilados
que serão, em parte, translocados para os FMA. O aumento da taxa fotossintética de
plantas inoculadas com FMA pode estar relacionado ao aumento da área foliar (Silveira et
al., 2002), o que proporciona aumento do crescimento vegetativo e acúmulo de biomassa
fresca e seca (Nunes et al., 2008).
Em relação à biomassa fresca e seca da parte aérea (Tabela 7), os substratos à base
de subprodutos do nim são claramente benéficos para a cultura. E com respeito à
inoculação com FMA, G. etunicatum se destaca quando o substrato utilizado são folhas de
nim (p<0,05). Outras espécies de Glomus são conhecidas em favorecer mudas de nim e
outras culturas (Phavaphutanon et al., 1996; Sumana & Bagyaraj, 2003; Brandão et al.,
2004; Machineski et al., 2009; Silva, 2009). Phavaphutanon et al. (1996) verificaram
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
43
aumento na área foliar de plântulas de nim inoculadas com G. intraradices em relação ao
controle não micorrizado.
Tabela 7. Área foliar, biomassa fresca e seca da parte aérea de mudas de nim (Azadirachta
indica) em diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com FMA: Controle não
inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al) e Fuscutata
heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em viveiro no muncípio de Timbaúba-PE, 2010
Substrato
F o lha s de
To rt a d e
To rt a d e
Não Fertilizado
ni m
Ni m
Ca na - de- a çú ca r
Área Foliar (cm2)
225,85 aB
426,08 bA
435,03 aA
39,67 aC
NI
259,50 aC
548,15 aA
419,55 aB
84,47 aD
Ge
224,03 aB
440,50 abA
381,75 aA
83,84 aC
Al
185,68 aB
439,20 abA
381,30 aA
62,46 aC
Fh+Ga
Biomassa Fresca da Parte Aérea (g)
3,77 aB
7,18 bA
7,42 aA
0,69 aC
NI
4,26 aC
9,89 aA
7,46 aB
1,32 aD
Ge
3,71 aB
7,42 bA
5,90 aA
1,37 aC
Al
3,14 aB
7,28 bA
6,48 aA
1,00 aB
Fh+Ga
Biomassa Seca da Parte Aérea (g)
1,37 aB
2,29 bA
2,41 aA
0,20 aC
NI
1,33 aC
3,31 aA
2,51 aB
0,38 aD
Ge
1,19 aB
2,26 bA
2,08 aA
0,38 aC
Al
1,02 aB
2,31 bA
2,17 aA
0,30 aC
Fh+Ga
Médias seguidas da mesma letra, maiúscula nas linhas, e minúsculas nas colunas, não diferem entre si pelo
teste de Tukey (p<0,05).
Tratamento de
inoculação
Não houve interações significativas entre os tratamentos inoculados e os substratos
avaliados, com exceção do número de folhas, biomassa seca e fresca da raiz (p<0,05). Os
tratamentos inoculados com G. etunicatum nos substratos torta e folhas de nim
apresentaram maior biomassa de raiz (p<0,05) (Tabela 8). Esse aumento na biomassa
radicular foi traduzido em incrementos de 124% e 188% para biomassa fresca e seca,
respectivamente, em relação ao controle não inoculado, mostrando que a produção de
biomassa radicular foi maximizada pela combinação G. etunicatum e o substrato folhas de
nim. Outras espécies do gênero Glomus têm promovido incremento da biomassa da raiz em
mudas de nim e em experimento conduzido por Sumana e Bagyaraj (2003) um isolado de
G. mosseae foi considerado o mais eficiente entre os demais. Aumento na biomassa
radicular estimulado pela inoculação com FMA também foi relatado em outras culturas
como peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron) (Machineski et al., 2009) e graviola
(Annona muricata) (Brandão et al., 2004).
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
44
Tabela 8. Biomassa fresca e seca radicular de mudas de nim (Azadirachta indica) em
diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com FMA. Controle não inoculado (NI),
Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al) e Fuscutata heterogama (Fh) +
Gigaspora albida (Ga), em viveiro no muncípio de Timbaúba-PE, 2010
Substrato
F o lha s de
To rt a d e
To rt a d e
Não Fertilizado
ni m
Ni m
Ca na - de- a çú ca r
Biomassa Fresca Radicular**
1,42 aA
1,24 bA
1,00 bAB
0,31 aB
NI
1,27
aB
3,18
aA
2,07
aB
0,31
aC
Ge
1,05 aAB
1,65 bA
1,45 abA
0,28 aB
Al
0,82 aAB
1,18 bAB
1,46 abA
0,29 aB
Ga+ Fh
Biomassa Seca Radicular **
0,45 aAB
0,52 bA
0,55 bA
0,12 aB
NI
0,61 aC
1,30 aA
0,96 aB
0,14 aD
Ge
0,50 aA
0,68 bA
0,62 bA
0,12 aB
Al
0,38 aBC
0,60 bAB
0,75 abA
0,13 aC
Ga +Fh
Interação:**(p < 0,01); Médias seguidas da mesma letra, maiúscula nas linhas, e minúsculas nas colunas, não
diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Tratamento de
inoculação
Em relação aos parâmetros micorrízicos, de modo geral o substrato e a inoculação
com FMA exóticos não influenciaram a produção de glomerosporos, a colonização
radicular e a produção de proteínas do solo relacionadas à glomalina (Tabelas 9 e 10).
Entretanto o número de glomerosporos foi maior no tratamento inoculado com G.
etunicatum quando comparado ao mix com G. albida + F. heterogama e o controle não
inoculado, no substrato torta de cana. É possível que a duração do experimento (90 dias)
não tenha possibilitado maior produção de glomerosporos. Baixa esporulação de FMA
também foi observada na rizosfera de mudas de alpinia e sorvetão inoculadas com G.
albida, G. etunicatum e F. heterogama (Silva et al., 2006).
Mesmo com reduzida densidade de glomerosporos no solo, a colonização
micorrízica variou entre 30 e 59%, em todos os tratamentos. Diferenças significativas entre
os tratamentos de inoculação foram observadas apenas nas mudas em substratos com torta
de nim e torta de cana-de-açúcar, onde a colonização micorrízica foi maior no tratamento
não inoculado (mas com FMA nativos) quando comparado ao tratamento com G.
etunicatum. O tratamento com torta de cana não beneficiou o desenvolvimento das mudas
de nim, mas a colonização das raízes por FMA foi semelhante à registrada nos outros
tratamentos. Resultados semelhantes foram obtidos por outros autores, que também não
observaram correspondência entre a taxa de colonização micorrízica e o aumento no
crescimento das mudas (Silva et al., 2006; Lovato et al., 1992).
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
45
Tabela 9. Número de glomerosporos na rizosfera e colonização micorrízica em mudas de
nim (Azadirachta indica) em diferentes substratos, 90 dias após a inoculação com FMA.
Controle não inoculado (NI), Glomus etunicatum (Ge), Acaulospora longula (Al) e
Fuscutata heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em viveiro no município de
Timbaúba-PE, 2010
Substrato
F o lha s de
To rt a d e
To rt a d e
Não Fertilizado
ni m
Ni m
Ca na - de- a çú ca r
Número de glomerosporos (50g de solo-1)**
33 aAB
47 aA
40 aAB
17 bB
NI
33 aA
40 aA
33 aA
63 aA
Ge
30 aA
60 aA
33 aA
30 abA
Al
43 aA
30 aAB
37 aAB
20 bB
Fh+Ga
Colonização micorrízica (%)
52 aA
54 aA
48 aA
54 aA
NI
51 aA
46 aAB
30 bC
33 bBC
Ge
59 aA
55 aA
43 abA
46 abA
Al
55 aA
57 aA
42 abA
46 abA
Fh+Ga
Interação: **(p< 0,01); Médias seguidas da mesma letra, maiúscula nas linhas, e minúsculas nas colunas,
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).
Tratamento de
inoculação
De modo geral, a produção de PSRG não diferiu entre os FMA e não foi afetada
pela presença dos subprodutos de nim e de cana-de-açúcar (Tabela 10). A deposição dessas
proteínas no solo é um processo lento; possivelmente por isso não se observou diferença
entre os tratamentos considerando o período de tempo do experimento, como indicado por
Silva (2006). Resultado similar foi referido após cultivo de jenipapo-bravo (Tocoyena
sellowiana (Cham. & Schltdl.), quando não se observou diferença na quantidade de PSRG
entre os tratamentos (Oliveira et al., 2009).
Tabela 10. Produção de proteínas do solo relacionadas à glomalina facilmente extraível
(PSRG-FE) na rizosfera de mudas de nim (Azadirachta indica) em diferentes substratos,
90 dias após a inoculação com FMA. Controle não inoculado (NI), Glomus etunicatum
(Ge), Acaulospora longula (Al), Fuscutata heterogama (Fh) + Gigaspora albida (Ga), em
viveiro no município de Timbaúba-PE, 2010
Substrato
F o lha s de
To rt a d e
To rt a d e
Não Fertilizado
ni m
Ni m
Ca na - de- a çú ca r
PSRG-FE (mg g-1)
1,87 aA
1,25 aB
1,32 aAB
1,68 aAB
NI
1,31 aA
1,56 aA
1,44 aA
1,80 aA
Ge
1,32 aB
1,50 aAB
1,70 aAB
1,95 aA
Al
1,46
aA
1,45
aA
1,67
aA
1,82 aA
Fh+Ga
Médias seguidas da mesma letra, maiúscula nas linhas,e minúsculas nas colunas, não diferem entre si pelo
teste de Tukey (p<0,05).
Tratamento de
inoculação
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
46
No presente estudo o solo e o substrato não foram desinfestados, mantendo a
comunidade nativa de FMA e outros microrganismos do solo em todos os tratamentos, o
que pode ter colaborado para minimizar as diferenças entre os tratamentos de inoculação.
A eficiência de FMA nativos no desenvolvimento vegetal tem sido evidenciada em alguns
estudos (Anjos et al., 2005; Oliveira et al., 2009). Esses resultados parecem indicar que os
fungos nativos estavam mais adaptados ao hospedeiro e, portanto, podem ter colonizado
mais rapidamente as mudas, proporcionando resultados semelhantes aos tratamentos com
inoculação de FMA exóticos. De modo geral, o tipo de substrato influenciou a maioria das
variáveis analisadas, sendo constatado que as mudas de nim, em todos os tratamentos de
inoculação, foram prejudicadas pela adição de torta de cana-de-açúcar. Esse resultado
contrasta com dados obtidos por Carneiro et al. (2008), nos quais houve incremento da
produção de biomassa seca da parte aérea, em plantas de estilosantes, em substrato com
subprodutos de cana-de-açúcar.
Os substratos derivados de nim promoveram melhor desenvolvimento da planta,
com diferenças significativas em relação ao controle e ao tratamento com torta de cana-deaçúcar em todas as variáveis analisadas. Apesar de ser usada habitualmente como substrato
eficiente para produção de mudas estilosantes (Carneiro et al., 2008), goiabeira (Schiavo e
Martins, 2002) e algodão (Pereira et al., 2005) a torta de cana não apresentou o resultado
esperado para produção de mudas de nim em condições de viveiro. Possivelmente as
condições de viveiro não tenham sido ideais para o desenvolvimento das mudas com
substrato torta de cana-de-açúcar, devido as condições não controladas e a alta retenção de
umidade deste substrato (Santos et al., 2010), visto que o nim não tolera ambientes
encharcados.
A especificidade ao hospedeiro é um fator a ser considerado na escolha do inóculo
micorrízico (Koomen et al., 1987), embora isso seja raro em termos de capacidade em
colonizar as raízes, porém pode existir em termos de benefícios para a planta hospedeira,
além de condições edafoclimáticas bem específicas (Moreira & Siqueira, 2006). Portanto,
novos estudos com outros isolados ou diferentes concentrações de substrato devem ser
estimulados, visto que a compatibilidade entre substrato, simbionte e hospedeiro são
fatores importantes para o sucesso da simbiose, e consequentemente para a melhoria no
desenvolvimento vegetal.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
47
5. CONCLUSÕES
• Fungos micorrízicos arbusculares (FMA) são comumente encontrados na rizosfera
de nim nos locais estudados, sendo representados por 49 espécies, porém com baixa
produção de glomerosporos (média ≤ 65 glomerosporos 50g solo-1).
• A rizosfera de cultivos de nim mantidos na área de Recife apresenta maior riqueza
de espécies de FMA que as demais áreas, com predominância dos gêneros Glomus
e Acaulospora.
• A produção de propágulos infectivos de FMA, os teores de matéria orgânica e as
proteínas do solo relacionadas à glomalina variam espacialmente em cultivos de
nim em Pernambuco, com teores mais elevados nas zonas úmidas.
• O cultivo de mudas de nim é favorecido quando o substrato é adubado com
subprodutos de nim (1% torta de nim e 3% folhas de nim trituradas) sob condições
de viveiro.
•
A inoculação com G. etunicatum proporciona melhor desenvolvimento das plantas
mantidas nos substratos torta de nim e folha de nim, constituindo alternativa para a
produção de mudas dessa cultura, em condições de viveiro.
• Os FMA nativos de rizosfera de nim proporcionam benefícios semelhantes aos
FMA introduzidos para as mudas de nim, nas condições estudadas.
Monte Júnior, Inácio P. Utilização de subprodutos do nim (Azadirachta indica A. Juss) ...
48
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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