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História do Mundo Bíblico Antigo
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História do Mundo
Bíblico Antigo
IBETEL
Site: www.ibetel.com.br
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Telefax: (11) 4743.1964 - Fone: (11) 4743.1826
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História do Mundo Bíblico Antigo
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(Org.) Profº. Pr. VICENTE PAULA LEITE
História do Mundo Bíblico Antigo
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Apresentação
Estávamos em um culto de doutrina, numa sexta-feira destas quentes do
verão daqui de São Paulo e a congregação lotada até pelos corredores
externos. Ouvíamos atentamente o ensino doutrinário ministrado pelo Pastor
Vicente Paula Leite, quando do céu me veio uma mensagem profética e o
Espírito me disse “fale com o pastor Vicente no final do culto”. Falei: - Jesus
te chama para uma grande obra de ensino teológico para revolucionar a
apresentação e metodologia empregada no desenvolvimento da Educação
Cristã.
Hoje com imensurável alegria, vejo esta profecia cumprida e o IBETEL
transbordando como uma fonte que aciona apressuradamente com eficácia o
processo da educação teológico-cristã.
A experiência acumulada do IBETEL nessa década de ensino teológico
transforma hoje suas apostilas, produtos de intensas pesquisas e eloqüente
redação, em noites não dormidas, em livros didáticos da literatura cristã com
uma preciosíssima contribuição ao pensamento cristão hodierno e aplicação
didática produtiva. Esta correção didática usando uma metodologia eficaz que
aponta as veredas que leva ao único caminho, a saber, o SENHOR e
Salvador Jesus Cristo, chega as nossas mãos com os aromas do nardo, da
mirra, dos aloés, da qual você pode fazer uso de irrefutável valor pedagógicoprático para a revolução proposta na gênese de todo trabalho.
E com certeza debaixo das mãos poderosas do SENHOR ser um motor
propulsor permanentemente do mandamento bíblico: “Conheçamos e
prossigamos em conhecer ao Senhor...”. Por certo esta semente frutificará na
terra boa do seu coração para alcançar preciosas almas compradas pelo
Senhor Jesus.
Dr. Messias José da Silva
In memorian
História do Mundo Bíblico Antigo
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Prefácio
Este Livro da História do Mundo Bíblico Antigo, parte de uma série que
compõe a grade curricular do curso em Teologia do IBETEL, se propõe a ser
um instrumento de pesquisa e estudo. Embora de forma concisa, objetiva
fornecer informações introdutórias acerca dos seguintes pontos: Evolução ou
criação: Criação, A Idade do Homem, Pré-história, História, Classificação,
Antigas Civilizações; Povos e Nações do Mundo Bíblico Antigo: Noé,
Semitas, Acádios, Cananeus, Suméria e Mesopotâmia.
Esta obra teológica destina-se a pastores, evangelistas, pregadores,
professores da escola bíblica dominical, obreiros, cristãos em geral e aos
alunos do Curso em Teologia do IBETEL, podendo, outrossim, ser utilizado
com grande préstimo por pessoas interessadas numa introdução a História
do Mundo Bíblico Antigo
Finalmente, exprimo meu reconhecimento e gratidão aos professores que
participaram de minha formação, que me expuseram a teologia bíblica
enquanto discípulo e aos meus alunos que contribuíram estimulando debates
e pesquisas. Não posso deixar de agradecer também àqueles que
executaram serviços de digitação e tarefas congêneres, colaborando, assim,
para a concretização desta obra.
Profº. Pr. Vicente Leite
Diretor Presidente IBETEL
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Declaração de fé
O que é doutrina? À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo,
terminante, final, derivado das Sagradas Escrituras, como regra de fé e
prática de vida, para a igreja, para seus membros. Ela é vista na Bíblia como
expressão prática na vida do crente. As doutrinas da Palavra de Deus são
santas, divinas, universais e imutáveis.
A palavra "doutrina" vem do latim doctrina, que significa "ensino" ou
"instrução”, e se refere às crenças de um grupo particular de crentes ou
mesmo de partidários. O Velho Testamento usa a palavra leqach, que vem do
verbo laqach, "receber". O sentido primário é "o recebido". Aparece com o
sentido de "doutrina" ou "ensinamento", como lemos "Goteje a minha doutrina
como a chuva" (Dt 32.2); "A minha doutrina épura" (Jó 11.4); "Pois vos dou
boa doutrina; não deixeis a minha lei" (Pv 4.2). Com o passar do tempo a
palavra veio significar o ensino de Moisés que se encontra no Pentateuco.
As palavras gregas para "doutrina", no Novo Testamento, são didaque e
didaskalia, que significam "ensino". Essas palavras transmitem a idéia tanto
do ato de ensinar como da substância do ensino. A primeira aparece para
indicar os ensinos gerais de Jesus: "E aconteceu que, concluindo Jesus este
discurso, a multidão se admirou da sua doutrina" (Mt 7.28). "Jesus respondeu
e disse-lhes: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se
alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é
de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.16,17).
A mesma palavra aparece para "doutrina dos apóstolos" (At 2.42), que
parece ser uma indicação das crenças dos apóstolos. A segunda tem o
mesmo sentido e aparece em Mateus 15.9 e Marcos 7.7. É, portanto, nas
epístolas pastorais que elas aparecem com o sentido mais rígido de crenças
ou corpo doutrinal da igreja - a Teologia propriamente dita.
O que é Credo? Credo vem do latim e significa "creio", e desde muito cedo na
história do Cristianismo é mais que um conjunto de crenças. É uma confissão
de fé. Ele tem como objetivo sintetizar as doutrinas essenciais do cristianismo
para facilitar as confissões públicas, conservar a doutrina contra as heresias
e manter a unidade doutrinária. Encontramos no Novo Testamento algumas
declarações rudimentares de confissões fé: A confissão de Natanael (Jo
1.50); a confissão de Pedro (Mt 16.16; Jo 6.68); a confissão de Tomé (Jo
20.28); a confissão do Eunuco (At 8.37); e artigos elementares de fé (Hb 6.12).
História do Mundo Bíblico Antigo
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O IBETEL crê:
O IBETEL professa fé pentecostal alicerçada fundamentalmente no que se
segue:
Cremos em um só Deus eternamente subsistente em três pessoas: o Pai, o
Filho e o Espírito Santo (Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29).
Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa
para a vida e o caráter cristão (2Tm 3.14-17).
No nascimento virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua
ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is
7.14; Rm 8.34; At 1.9).
Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que
somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus
Cristo é que o pode restaurar a Deus (Rm 3.23; At 3.19).
Na necessidade absoluta no novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder
atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno
do reino dos céus (Jo 3.3-8).
No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna
justificação da alma recebidos gratuitamente na fé no sacrifício efetuado por
Jesus Cristo em nosso favor (At 10.43; Rm 10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9).
No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em
águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o
Senhor Jesus Cristo (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12).
Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a
obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder
regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a
viver como fiéis testemunhas do poder de Jesus Cristo (Hb 9.14; 1Pe 1.15).
No batismo bíblico com o Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a
intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas,
conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7).
Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja
para sua edificação conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12).
Na segunda vinda premilenar de Cristo em duas fases distintas. Primeira invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja fiel da terra, antes da grande
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tribulação; Segunda - visível e corporal, com sua Igreja glorificada, para reinar
sobre o mundo durante mil anos (1Ts 4.16.17; 1Co 15.51-54; Ap 20.4; Zc
14.5; Jd 14).
Que todos os cristãos comparecerão ante ao tribunal de Cristo para receber a
recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo, na terra (2Co 5.10).
No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis, (Ap
20.11-15).
E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento
eterno para os infiéis (Mt 25.46).
História do Mundo Bíblico Antigo
Sumário
Apresentação
Prefácio
Declaração de fé
CAPÍTULO 1
Evolução ou criação
1.1. Criação
1.2. A Idade do Homem
1.3. Pré-história
1.4. História
1.5. Classificação
1.6. Antigas Civilizações
CAPÍTULO 2
Povos e Nações do Mundo Bíblico Antigo
2.1. Noé
2.2. Semitas
2.2.1. Características dos povos semitas
2.2.2. Evolução das culturas semitas
2.2.3. Povos semitas na antiguidade
2.2.4. Povos semitas atuais
2.3. Acádios
2.3.1. História
2.3.2. Organização política e econômica
2.4. Cananeus
2.5. Suméria
2.5.1. História
2.5.2. Civilização Suméria
2.6. Mesopotâmia
2.6.1. Resenha histórica
2.7. Ur
2.8. Babilônia
2.9. Dinastia amorrita
2.10. Dinastia cassita
2.11. O novo império babilônico
2.12. Decadência
2.13. Cultura e sociedade
2.14. Síria
2.14.1. Geografia física
2.14.2. Clima e hidrografia
2.14.3. População
2.14.4. História
2.14.5. Assíria
2.14.6. A cultura assíria
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10
2.15. Egito
2.15.1. Geografia física
2.15.2. Hidrografia
2.15.3. Língua
2.15.4. Economia
2.15.5. História
2.15.6. Arqueologia
2.15.7. Inícios da moderna egiptologia
2.15.8. Escavações no século XX
2.15.9. Dinastias
2.16. Fenícia
2.16.1. História
2.16.2. Economia
2.16.3. Sociedade e política
2.16.4. Religião
2.16.5. História
2.17. Grécia antiga
2.17.1. Civilização micênica
2.17.2. Idade do bronze
2.17.3. Civilização micênica
2.17.4. Período arcaico
2.17.5. Período clássico
2.17.6. Guerra do Peloponeso
2.17.7. Pérsia
2.17.8. Dinastia aquemênida
2.17.9. Reino selêucida
2.17.10. Império arsácida
2.18. Macedônia
2.18.1. Hegemonia macedônica e decadência
2.19. Domínio romano
2.19.1. Civilização Helenísticas
2.19.2. Roma antiga
2.19.3. Origens da cidade
2.19.3. Monarquia
2.19.4. República
2.19.5. Expansão territorial
2.19.6. Invasão dos gauleses
2.19.7. Conquista da Itália
2.19.8. Expansão mediterrânea
2.19.9. Evolução da sociedade romana
2.19.10. Ditaduras e guerras civis
2.20. Império
2.20.1. Otávio Augusto
2.20.2. Decadência do império
2.20.3. Legado de Roma
2.21. Israel
2.21.1. Geografia física
História do Mundo Bíblico Antigo
2.21.2. Geologia e relevo
2.21.3. Clima e hidrografia
2.21.4. Flora e fauna
2.21.5. População
2.21.7. Economia
2.21.8. Agricultura
2.21.9. Energia e mineração
2.21.10. Indústria
2.21.11. Transportes
2.21.12. Sionismo
2.21.13. Colonização da Palestina
2.21.14. Independência
2.21.15. Instituições políticas
2.21.16. Sociedade e cultura
Referências
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Capítulo 1
Evolução ou criação
A evolução é o ponto de vista predominante, proposto pela comunidade
científica e educacional do mundo atual, em se tratando da origem da vida e
do universo. Quem crê, de fato, na Bíblia deve atentar para estas quatro
observações a respeito da evolução.
1. A evolução é uma tentativa naturalista para explicar a origem e o
desenvolvimento do universo. Tal intento começa com a
pressuposição de que não existe nenhum Criador pessoal e divino
que criou e formou o mundo; pelo contrário, tudo veio a existir
mediante uma série de acontecimentos que decorreram por acaso, ao
longo de bilhões de anos. Os postulantes da evolução alegam possuir
dados científicos que apóiam a sua hipótese;
2. O ensino evolucionista não é realmente científico. Segundo o método
científico, toda conclusão deve basear-se em evidências
incontestáveis, oriundas de experiências que podem ser reproduzidas
em qualquer laboratório. No entanto, nenhuma experiência foi
idealizada, nem poderá sê-lo, para testar e comprovar teorias em
torno da origem da matéria a partir de um hipotético “grande
estrondo”, ou do desenvolvimento gradual dos seres vivos, a partir
das formas mais simples às mais complexas. Por conseguinte, a
evolução é uma hipótese sem “evidência” científica, e somente quem
crê em teorias humanas é que pode aceitá-la. A fé do povo de Deus,
pelo contrário, firma-se no Senhor e na sua revelação inspirada, a
qual declara que Ele é quem criou do nada todas as coisas (Hb 11.3);
3. É inegável que alterações e melhoramentos ocorrem em várias
espécies de seres viventes. Por exemplo: algumas variedades dentro
de várias espécies estão se extinguindo; por outro lado,
ocasionalmente vemos novas raças surgindo dentre algumas das
espécies. Não há, porém, nenhuma evidência, nem sequer no registro
geológico, a apoiar a teoria de que um tipo de ser vivente já evoluiu
doutro tipo. Pelo contrário, as evidências existentes apóiam a
declaração da Bíblia, que Deus criou cada criatura vivente “conforme
a sua espécie” (Gn 1.21,24,25);
4. Os crentes na Bíblia devem, também, rejeitar a teoria da chamada
evolução teísta. Essa teoria aceita a maioria das conclusões da
evolução naturalista; apenas acrescenta que Deus deu início ao
História do Mundo Bíblico Antigo
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processo evolutivo. Essa teoria nega a revelação bíblica que atribui a
Deus um papel ativo em todos os aspectos da criação. Por exemplo,
todos os verbos principais em Gênesis 1 têm Deus como seu sujeito,
a não ser em Gn 1.12 (que cumpre o mandamento de Deus no v. 11)
e a frase repetida “E foi a tarde e a manhã”. Deus não é um supervisor
indiferente, de um processo evolutivo; pelo contrário, é o Criador ativo
de todas as coisas (Cl 1.16).
1.1. Criação
“Cremos que a criação tem sua origem na pessoa de Deus. Ele se revela na
Bíblia como um ser infinito, eterno, auto-existente e como a Causa Primária
de tudo o que existe. Nunca houve um momento em que Deus não existisse.
Conforme afirma Moisés: “Antes que os montes nascessem, ou que tu
formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl
90.2). Noutras palavras, Deus existiu eterna e infinitamente antes de criar o
universo finito. Ele é anterior a toda criação, no céu e na terra, está acima e
independe dela (1Tm 6.16; Cl 1.16).
Deus se revela como um ser pessoal que criou Adão e Eva “à sua imagem”
(Gn 1.27). Porque Adão e Eva foram criados à imagem de Deus, podiam
comunicar-se com Ele, e também com Ele ter comunhão de modo amoroso e
pessoal.
Deus também se revela como um ser moral que criou tudo bom e, portanto,
sem pecado. Ao terminar Deus a obra da criação, contemplou tudo o que
fizera e observou que era “muito bom” (Gn 1.31). Posto que Adão e Eva
foram criados à imagem e semelhança de Deus, eles também não tinham
pecado. O pecado entrou na existência humana quando Eva foi tentada por
Satanás em forma de serpente (Gn 3; Rm 5.12; Ap 12.9).
Deus criou todas as coisas em “os céus e a terra” (Gn 1.1; Is 40.28; 42.5;
45.18; Mc 13.19; Ef 3.9; Cl 1.16; Hb 1.2; Ap 10.6). O verbo “criar” (hb.”bara”)
é usado exclusivamente em referência a uma atividade que somente Deus
pode realizar. Significa que, num momento específico, Deus criou a matéria e
a substância, que antes nunca existiram.
Com relação ao homem, Deus o criou com o seguinte propósito:
(1) A criação da terra deu-se para prover um lugar onde o seu propósito e
alvos para a humanidade fossem cumpridos.
a) Criou Adão e Eva à sua própria imagem, para comunhão amorável e
pessoal com o ser humano por toda a eternidade. Deus projetou o ser
humano como um ser trino e uno (corpo, alma e espírito), que possui
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mente, emoção e vontade, para que possa comunicar-se
espontaneamente com Ele como Senhor, adorá-lo e servi-lo com fé,
lealdade e gratidão;
b) Desejou de tal maneira esse relacionamento com a raça humana que,
quando Satanás conseguiu tentar Adão e Eva a ponto de se
rebelarem contra Deus e desobedecerem ao seu mandamento, Ele
prometeu enviar um Salvador para redimir a humanidade das
conseqüências do pecado (Gn 3.15). Daí Deus teria um povo para sua
própria possessão, cujo prazer estaria nEle, que o glorificaria, e que
viveria em retidão e santidade diante dEle (Is 60.21; 61.1-3; Ef
1.11,12; 1Pe 2.9);
c) A culminação do propósito de Deus na criação está no livro do
Apocalipse, onde João descreve o fim da história com estas palavras:
“...com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus
estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21.3). (Bíblia de Estudo
Pentecostal, estudo sobre a Criação pág.31).
1.2. A Idade do Homem
“Ao certo, nada se sabe quanto à idade do homem. A única narrativa que
temos, para exame, é o capítulo 5 do livro de Gênesis. Por este relato,
sabemos que Adão com 130 anos teve o terceiro filho. Partindo desta
declaração, contando as idades de cada personagem, segundo verificamos, o
dilúvio teve lugar 1.650 anos depois de Adão. Entretanto discute-se muito os
dados oferecidos neste capítulo. Por outro lado, crê-se que a declaração de
que Adão tinha 130 anos quando nasceu Sete deve referir-se à idade depois
de cair no pecado. Pensa-se que teriam decorrido muitos anos, centenas
mesmo, antes da queda, e talvez Moisés se louvasse na vida de Adão,
como um de nós, e não antes, quando ele era como os anjos em sua
inocência. Qual será a verdade? A nossa curiosidade e o nosso desejo de
saber nos impelem para o desconhecido, e ficamos impacientes porque não
podemos resolver os nossos problemas. Os que aceitam como razoável a
cronologia de Gênesis louvam-se no fato de os 1.650 anos, de Adão ao
dilúvio, eram o suficiente para que a terra se povoasse numa boa extensão e
para que o gênero humano atingisse o desenvolvimento creditado no livro de
Gênesis. Comparando algumas épocas entre si, chegamos à conclusão de
que a idade antediluviana do mundo, nos tempos de Cristo, não oferecia
qualquer semelhança com o nosso mundo. Da civilização européia nada
existia; dos atuais conhecimentos científicos também nada existia; Entretanto,
são apenas 1.950 anos. O mundo se transformou completamente durante
estes séculos. Portanto, a mesma idade para o mundo antediluviano não
parece de todo fora de propósito. Os evolucionistas necessitam de muitos
milhões de séculos para a espécie humana se desenvolver ou evoluir, até
atingir a humanidade que nós conhecemos; mas o evolucionismo é uma
especulação sem qualquer base científica, e os seus cálculos devem ficar
História do Mundo Bíblico Antigo
15
fora de cogitações. Os que entendem que a humanidade se desenvolvia mais
lentamente nos tempos antigos admitem 10.000 anos para a idade do
homem, e alguns documentos caldaicos, sem qualquer valor científico,
favorecem esta crença. A história do Egito deve estender-se quanto muito, a
5.000 anos a.C., incluindo o período pré-histórico. Os egípcios vieram da
Caldéia, devendo, portanto, esta região ser bem mais velha. A primeira onda
humana, que teria atingido ali em 4500 a.C. ou 5000, o que faz coincidir
com o estabelecimento desta gente no Egito, visto que os primeiros
seres humanos que chegaram à Europa eram do mesmo estoque
hamítico. Talvez a mesma onda se dividisse, seguindo uma parte para o sul,
estabelecendo-se no Egito, e a outra dirigindo-se para o norte, atingindo a
Germânia. Se estes cálculos puderam ser positivados, o homem deve agora
ter chegado a 6.900 anos depois do dilúvio. Então 1650 anos seriam
suficientes para o estabelecimento e desenvolvimento da espécie antes do
dilúvio. A ciência tem feito grandes progressos, mas há ainda muito a
investigar. Talvez a nossa raça não seja tão velha como se julga. Mil anos
bastam para que o gênero humano produza grandes civilizações. As
investigações continuam e ninguém deve desanimar de poder obter maiores
conhecimentos através destas investigações. Os últimos dois séculos
trouxeram mais conhecimentos da história antiga do que todos os milênios
que os precederam. Se um historiador do princípio do século 18
ressuscitasse agora, ficaria envergonhado de tanta ignorância reinante nos
seus dias. Os últimos 50 anos deram ao mundo um desenvolvimento maior
do que 2.000 anos anteriores. Portanto, 1600 anos seriam suficientes para
desenvolver uma população que não iria muito além dos limites que
nós hoje conhecemos como Oriente Médio”. (Mesquita, Antônio Neves.
Povos e Nações do Mundo Antigo. Pág. 30).
1.3. Pré-história
Entende-se por pré-história, nos esquemas cronológicos tradicionais, todo o
período que abrange a atividade humana desde suas origens até o
aparecimento da escrita. Primeiramente, a atividade humana insere-se numa
conformação social e tecnológica orientada pela economia predatória, e em
seguida pela economia de subsistência agrícola não-urbana (isto é, sem
distinção cidade-campo). Chama-se em geral de proto-história a época de
transição que se segue, quando as sociedades agrárias começam a reunir os
primeiros elementos para a posterior aplicação da escrita. Caracteriza-se pelo
começo da substituição da tecnologia da pedra pela do metal, em decorrência
de maior necessidade produtiva e do aumento do consumo no interior das
vilas. Nessa perspectiva, o advento da escrita constitui o marco convencional
do princípio dos tempos históricos.
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1.4. História
Disciplina que se ocupa do estudo dos fatos relativos ao homem ao longo do
tempo, a história se baseia na análise crítica de testemunhos concretos e
verídicos.
O vocábulo grego historía, que significa “conhecimento por meio de uma
indagação”, deriva de hístor: “sábio” ou “conhecedor”. O termo latino história
foi adotado por quase todos os idiomas ocidentais, com exceções como o
alemão (Geschichte).
São muitas as definições que se fizeram dessa disciplina. Para Johann
Gottfried von Herder, é “o estudo do passado”, conceito que os gregos não
haviam especificado. Marc Bloch definiu a história como a ciência dos
homens no transcurso do tempo. Lucien Febvre destacou o processo de
mudança contínua da sociedade humana como a base da história. Para
Benedetto Croce, a história pode adotar elementos filosóficos em seu
processo de conhecimento.
1.5. Classificação
Devido à amplitude do objeto da história, foi preciso dividir seu campo de
estudo em vários segmentos. Considerando-se o meio geográfico a ser
estudado, a história é universal quando se refere a todas as sociedades
humanas no mundo; é nacional no caso de se limitar à de um único país;
é regional ou local para áreas geográficas definidas mas não nacionais.
Assim, a história propriamente dita parte dos testemunhos escritos e foi, por
sua vez, dividida em períodos que, embora de certo modo arbitrários,
refletem grandes blocos bem definidos entre si: idade antiga, medieval,
moderna e contemporânea. Pode-se falar também de história recente, no
caso do estudo das últimas décadas, e de história geral para os panoramas
históricos que abarcam todos os períodos. A história da arte ou da cultura
ocupa espaço próprio. Cada uma dessas grandes seções em que se divide a
história como disciplina acadêmica pode, por sua vez, ramificar-se em
diversos temas específicos, centrados em áreas geográficas ou períodos
delimitados.
1.6. Antigas Civilizações
As mais antigas civilizações da História surgem entre 4.000 a.C. e 2.000 a.C.,
às margens dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia), Jordão (Palestina), Nilo
(Egito), Amarelo (China), Indo e Ganges (atuais Paquistão e Índia). A maioria
desenvolve-se na região do chamado Crescente Fértil. Têm características
História do Mundo Bíblico Antigo
17
comuns, como a escrita, a arquitetura monumental, a agricultura extensiva, a
domesticação de animais, a metalurgia, a escultura, a pintura em cerâmica, a
divisão da sociedade em classes e a religião organizada. As principais
civilizações são a suméria, a acadiana, a babilônica, a assíria, a egípcia, a
hebraica, a fenícia, a hitita, a cretense, a persa, a chinesa e a hindu. Apesar
de estarem no Ocidente, os cretenses têm características comuns aos outros
povos da Antiguidade oriental.
18
Capítulo 2
Povos e Nações do Mundo
Bíblico Antigo
Introdução
Não é possível determinar os anos que escoaram entre a criação e o dilúvio.
Toda a cronologia bíblica é insuficiente para nos aproximar da verdade. Nem
isso importa ao historiador. De qualquer modo, parece que entre a criação e o
dilúvio mediaram alguns séculos, vividos à margem do Éden pelos
antediluvianos, dos quais Moisés dá uma boa lista. Não se tem idéia de
grande povos e muito menos de impérios. Talvez pequenos grupos esparso
pelos vales da Armênia e planícies da Mesopotâmia, atingindo o Golfo
Pérsico, as planuras da pérsia e os altos do Líbano. Tudo pura conjectura,
visto que nada de positivo se pode oferecer ao estudante. O mundo de nosso
estudo é o pós-diluviano, visto que a arqueologia não tem podido ajudar a
resolver o mistério do mundo primitivo, e a geologia ou paleontologia, não
dispõe de dados seguros. Depois do dilúvio, segundo a narrativa bíblica, a
família de Noé estabeleceu-se na Armênia, pois que a viagem descrita em
Gênesis 11.2 indica o rumo do Ocidente, para a terra Sinear, ou seja, a terra
de Sumer, das antigas narrativas. Estabelecidos aqui, fundaram diversas
cidades mencionadas em Gênesis, muitas das quais estão atualmente
identificadas como Acade, Babel, Ereque, Ur, e outras (Gn 10.10).
2.1. Noé
Escolhido por Deus para perpetuar a humanidade após o dilúvio, Noé
aparece na Bíblia como fundador da genealogia semítica e origem das raças
do mundo.
De acordo com o Gênesis, Noé era filho de Lamec e pertencia à nona
geração depois de Adão. Era um patriarca nobre e piedoso e, por isso,
quando Deus decidiu eliminar a corrupção dos homens com o dilúvio,
escolheu-o para preservar a raça humana. Advertiu-o do que iria ocorrer e
ordenou que construísse uma grande arca capaz de flutuar e nela
guardasse um par de cada espécie animal. Tudo pronto, Noé, sua mulher,
seus três filhos Sem, Cam e Jafé e as esposas destes embarcaram e
sobreveio o dilúvio, que durou quarenta dias. Quando parou de chover, Deus
História do Mundo Bíblico Antigo
19
estabeleceu com Noé e seus filhos uma aliança, pela qual não haveria mais
dilúvio para devastar a terra, e renovou os preceitos firmados por ocasião da
criação, com duas variações: os homens poderiam matar e comer animais; e
o homem que matasse outro seria castigado por seus semelhantes.
Mais tarde, Noé dedicou-se à agricultura e descobriu o vinho. Ao prová-lo,
embriagou-se e ficou nu em sua tenda. Cam viu a nudez do pai e zombou
dele. Sem e Jafé, porém, tomaram um manto e o cobriram respeitosamente.
Ao saber do comportamento de Cam, Noé condenou o filho dele, Canaã, a
ser escravo da estirpe de Sem, os semitas, tronco do qual surgiu o povo de
Israel.
2.2. Semitas
O critério lingüístico é o único que permite definir inequivocamente uma
família de povos semitas e postular para eles uma unidade pré-histórica.
Provêm da cultura desses povos a escrita alfabética e as três grandes
religiões monoteístas do mundo -- judaísmo, cristianismo e islamismo.
Semitas é o termo utilizado para designar um grupo de povos, entre os quais
se destacam os árabes e os hebreus, que falam ou falaram línguas semíticas.
A designação provém do livro bíblico do Gênesis, que menciona povos
descendentes dos filhos de Sem. O texto bíblico arrola entre os semitas, no
entanto, os elamitas e os lídios, cujas línguas têm outra raiz lingüística, e
separa desse grupo os cananeus, “filhos de Cam”, povo de língua semítica.
Modernamente, as línguas semíticas estão incluídas na família camitosemítica.
O território ocupado originalmente pelos povos semitas era uma extensão
contínua que compreendia boa parte do Oriente Médio, limitada ao norte
pelas cordilheiras Taurus e Antitauro, a leste pelo planalto iraniano, e a oeste
e ao sul pela costa árabe do mar Vermelho e do oceano Índico.
2.2.1. Características dos povos semitas
Na família camito-semítica, ou afro-asiática, incluem-se as seguintes línguas:
acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, egípcio antigo,
copta, líbico, berbere, guanche, somali, gala, afar-saho e haúça.
Em conseqüência das migrações, não se pode falar de um grupo étnico
semita homogêneo, pois a diversidade de tipos raciais é muito grande. Ainda
que todos sejam de raça branca, predominam as variedades armenóide,
braquicéfala (crânios redondos), e mediterrânea-oriental, dolicocéfala (crânio
alongado), além de inúmeros tipos mistos. Outros traços físicos são estatura
20
mediana, olhos e cabelos escuros e nariz adunco. A miscigenação com
outros povos modificou em muitos casos esses traços.
Originalmente, os semitas habitaram regiões áridas ou desérticas, de clima
extremamente seco, salvo nos cursos de rios como o Eufrates e o Tigre, no
litoral mediterrâneo e nos oásis. Em conseqüência, predominou entre eles o
nomadismo, associado ao pastoreio e à agricultura irrigada e intensiva. O
cristianismo, uma das três grandes religiões de origem semita, tornou-se
universal. O judaísmo, pelo contrário, permaneceu restrito aos descendentes
do povo de Israel.
2.2.2. Evolução das culturas semitas
A revolução neolítica, registrada a partir do ano 9000 a.C., período em que o
homem conquistou as primeiras vitórias sobre a natureza mediante a
domesticação de animais e a agricultura, ocorreu supostamente na antiga
Mesopotâmia -- região povoada pelos semitas -- e no Egito. Na mesma área,
por volta do ano 5500 a.C., surgiram sociedades organizadas, com estrutura
estatal e diversificação das atividades econômicas, no que se conhece como
a primeira revolução urbana, à qual se seguiu o surgimento dos grandes
impérios da Assíria e da Babilônia.
2.2.3. Povos semitas na antiguidade
Na parte baixa da Mesopotâmia, entre o rio Tigre, o golfo Pérsico, o deserto
da Arábia e as colinas que marcam o limite com a alta Mesopotâmia, os
assírios e os caldeus, em luta pelo domínio territorial, criaram grande número
de cidades e se distinguiram pela capacidade guerreira e espírito
expansionista, desenvolvendo uma das primeiras civilizações da antiguidade.
Enquanto no interior se estendiam os grandes impérios, na região de Canaã,
estreita faixa do litoral ocupada posteriormente pelos estados da Jordânia e
Israel, desenvolveu-se a primeira civilização marítima e comercial, a dos
fenícios. Estabelecidos antes da
chegada dos filisteus e dos hebreus,
que terminaram por expulsá-los, dominaram as margens do Mediterrâneo
mais pelo intercâmbio comercial do que pelas armas. Por terem se fixado ao
longo da seção média da costa, pouco atraente para os invasores,
sobreviveram ao extermínio total. As cidades fenícias (Tiro, Sidon, Biblos etc.)
não tinham boa comunicação por terra e várias expedições lançaram-se à
conquista do mar, alcançaram o Atlântico e fundaram, em centros como
Cartago (África) e Nova Cartago (Cartagena, Espanha), uma nova civilização
semítica. Os gregos, em seus lugares de origem, e os romanos, na África e
na Espanha, mais tarde dominariam esses povos.
Outros povos semitas foram os amonitas, os moabitas e os edomitas,
habitantes da antiga Palestina que sofreram os ataques dos filisteus (“povos
História do Mundo Bíblico Antigo
21
do mar” procedentes da Grécia, não-semíticos) e dos hebreus, que
finalmente os subjugaram. Nas colinas interiores próximas à costa do
Mediterrâneo, os hebreus, em luta com cananeus e moabitas, criaram o
judaísmo, primeira religião monoteísta. A grande expansão dos semitas
ocorreu logo depois da fundação da religião islâmica pelos árabes, no século
VII da era cristã. Os árabes pré-islâmicos foram os semitas de menor
vocação religiosa. A assimilação progressiva da religiosidade se efetuou
entre eles graças à convivência com os judeus, sobretudo depois da primeira
diáspora babilônica, no século VI a.C., embora os cristãos (ortodoxos,
jacobitas, monofisistas etc.) também os tenham influenciado. O islamismo se
propagou rapidamente por meio da guerra santa prescrita pelo Alcorão e em
pouco tempo foi levado da Espanha ao oceano Pacífico.
2.2.4. Povos semitas atuais
Os dois grandes grupos semitas remanescentes são o árabe e o hebreu. Os
judeus, israelitas ou hebreus eram integrantes de tribos semitas nômades
que percorriam a área de terras férteis da Mesopotâmia até o Egito, através
da Síria e da Palestina. Seu primeiro assentamento na Palestina, depois da
longa permanência no Egito, deve ter ocorrido por volta do século XIII a.C.
Os hebreus não formam uma raça homogênea, pois passaram por diferentes
transformações étnicas nos muitos países a que foram levados pela
dispersão ordenada pelos romanos. Depois da diáspora, no século I da era
cristã, os grupos hebreus que ficaram na Ásia conservaram melhor suas
características do que os que migraram para a África e a Europa. Os
europeus formaram dois grandes subgrupos: sefarditas e asquenazitas. Estes
últimos se estabeleceram na Europa central e nos países eslavos e, além da
língua do país que os acolheu, mantiveram o iídiche (judeu-alemão). Os
sefarditas migraram para a Espanha (Sefarad é o nome da Espanha em
língua hebraica) e, ao serem expulsos em 1492, passaram à Itália, Europa
central, império turco e Marrocos. Falam também a língua dos países em que
residem, mas muito deles conservam ainda o castelhano tal como era falado
no século XV.
A habilidade dos judeus para o comércio e as finanças os levou a adquirir
grande poder econômico nos países em que se fixaram, o que, somado à
fidelidade à religião e à intolerância dos povos nativos, conduziu com
freqüência a cruentas perseguições. No entanto, o genocídio mais brutal foi
cometido pelo regime nazista na Alemanha, cuja perseguição sistemática
levou ao extermínio de mais de seis milhões de judeus.
O século XX assistiu ainda a dois acontecimentos que afetaram os semitas e
alcançaram grande repercussão mundial, um de natureza política e outro,
econômica. Por um lado, as nações semitas do Oriente Médio, submetidas
22
aos europeus no século XIX, conquistaram a independência no processo de
descolonização iniciado após a segunda guerra mundial; por outro, o
aumento do preço internacional do petróleo, produto do qual se encontram
grandes reservas nos países árabes, forneceu os meios econômicos para
que o Oriente Médio começasse a se desenvolver.
A partir da criação do Estado de Israel, em 1948, em território palestino,
intensificou-se a cisão entre árabes e judeus, o que levou a guerras e a uma
situação de permanente conflito. As colônias judaicas mais importantes
encontram-se nos Estados Unidos, na Rússia e nos demais países da
Comunidade de Estados Independentes (CEI), no Reino Unido e na França.
Os grupos judeus nos países árabes, numerosos antes das guerras entre
eles, diminuíram sensivelmente.
Os árabes constituem na atualidade um grupo muito mais numeroso que o
dos judeus. Originários da península arábica formaram o grande núcleo
semita que, a partir do quarto milênio anterior à era cristã, emigrou para o
Oriente Médio. Em seu êxodo, seguiram duas direções principais:
contornaram o golfo Pérsico e se estabeleceram na antiga Caldéia e, através
da península do Sinai, chegaram ao litoral do Mediterrâneo.
Os que permaneceram nos imensos desertos foram convertidos ao islamismo
por Maomé e se lançaram à conquista do mundo a partir do século VII da era
cristã. Posteriormente, o vasto império que formaram dividiu-se em
numerosos estados. Em conseqüência dos ataques dos cristãos europeus,
pelo Ocidente, e dos turcos, pelo leste, foram submetidos a diferentes
poderes até o século XX, mas conseguiram converter ao islamismo outros
povos, como os turcos e os persas.
Os árabes têm a integração política dificultada pela diversidade de regimes
políticos e pelas grandes diferenças econômicas, pois a riqueza dos países
produtores de petróleo contrasta com a pobreza dos que carecem desse
recurso. O território habitado pelos árabes, que não constitui um contínuo
geográfico bem definido, compreende regiões da Ásia e da África e se
estende do planalto do Irã até o oceano Atlântico, tendo como limite
meridional o oceano Índico e as regiões orientais e ocidentais do deserto do
Saara. Convivem com eles alguns povos de língua não árabe, como os
berberes que, no entanto, costumam ser bilíngües. Alguns poucos grupos de
língua árabe encontram-se fora desses limites, no Irã e no Sudão.
2.3. Acádios
O primeiro império da Mesopotâmia foi estabelecido por um povo semita
conhecido pelo nome de sua capital, Acad, situada em algum ponto da região
entre os rios Tigre e Eufrates, próxima à Babilônia. A língua acádia é o
História do Mundo Bíblico Antigo
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elemento mais conhecido desse povo, que foi assimilado pela população
suméria, dominante na região.
2.3.1. História
Por volta do ano 2300 a.C., o chefe semita Sargão I, cujo nome significa “rei
justo” ou “rei verdadeiro”, fundou a cidade de Acad e empreendeu bemsucedidas campanhas bélicas, que estenderam seu domínio a toda a região
mesopotâmica limitada ao sul pelo golfo Pérsico e ao norte pelo litoral
mediterrâneo da Síria.
Após a morte do fundador da dinastia acádia, nenhum dos herdeiros -Rimush e Manishtusu -- mostrou-se capaz de controlar o vasto império. O
poder militar acádio foi temporariamente restabelecido por Naram-Sin, que
combateu os bárbaros das zonas montanhosas do norte (montes Zagros, alto
Tigre e alto Eufrates), dominou o país de Mogan e sufocou uma revolta das
cidades mesopotâmicas. Seu sucessor, Sharkali-sharri, continuou a luta
contra os guti e os amorritas, povos montanheses dos Zagros e do Curdistão.
Entre os anos de 2217 e 2139 a.C., aproximadamente, o poder da cidade e
sua dinastia entrou em decadência até a completa desaparição. As cidades
mesopotâmicas, dominadas pelos povos invasores, uniram-se novamente
sob o domínio da dinastia de Ur.
2.3.2. Organização política e econômica
A dinastia acádia uniu numa organização estatal comum as diversas cidades
independentes que existiam na Mesopotâmia. O império sediado em Acad,
onde residia o monarca, compunha-se de diversas províncias. As diferentes
comunidades conservaram suas principais instituições sob a supervisão dos
funcionários reais que constituíam uma poderosa máquina administrativa. A
época foi de grande prosperidade econômica, baseada na agricultura, no
artesanato e no comércio. As relações comerciais com a Síria, o golfo Pérsico
e com o vale do Indo, que forneciam à Mesopotâmia matérias-primas como
madeira, couro e pedras, estão descritas em diversos documentos.
2.4. Cananeus
Na região de Canaã, situada no cruzamento de importantes civilizações
antigas, mesclaram-se elementos culturais de diversas origens: egípcios,
micênicos, cretenses, hurrianos e mesopotâmicos.
O nome Canaã aparece em inscrições cuneiformes, egípcias e fenícias. No
Antigo Testamento, a região é identificada com a Terra Prometida dos
israelitas. A variação entre as diversas fontes históricas não permite
24
estabelecer precisamente os limites da região. Arqueólogos e historiadores
costumam chamar de Canaã a área correspondente, nos tempos préhistóricos e pré-bíblicos, à Cisjordânia, com eventual inclusão da Fenícia e,
por vezes, da Síria. A palavra viria de um vocábulo semítico referente à
“púrpura avermelhada” de uma lã produzida na região.
Os vestígios da ocupação humana em Canaã remontam aos períodos
paleolíticos e mesolíticos, mas as primeiras cidades e aldeias fixas datam do
neolítico. Na idade do bronze, durante a primeira metade do segundo milênio
a.C., povos semitas começaram a aparecer na região; os amorritas, vindos
do nordeste, tornaram-se então predominantes, e egípcios, hicsos e
hurrianos também ali se estabeleceram. São dessa época os primeiros
registros históricos.
Entre os séculos XVI e XIII a.C., o domínio sobre Canaã era principalmente
egípcio, ameaçado pelas investidas hititas. Ocorreram então incursões
guerreiras de grupos nômades multiétnicos semitas, conhecidos como
habirus, que os historiadores geralmente identificam como os primeiros
hebreus. O declínio da dominação egípcia e hitita, ao final do século XII a.C.,
coincidiu com o estabelecimento dos israelitas, que ocuparam inicialmente as
colinas e a área meridional, lutando contra clãs e povos locais. No século
seguinte, os filisteus, aparentemente vindos de Creta, ocuparam a faixa
litorânea meridional e fundaram uma aliança de cinco cidades-estados. No
século X a.C., os israelitas, sob a liderança do rei Davi, derrotaram os filisteus
e consolidaram sua vitória sobre o povo local, os cananeus, que terminaram
por se extinguir. A partir de então, a região de Canaã tornou-se, na prática, a
terra de Israel.
As informações a respeito da religião seguida em Canaã antes da presença
israelita provêm de achados arqueológicos ugaríticos, no litoral norte da Síria.
O deus principal era El; as chuvas e a fertilidade constituíam o domínio de
Baal. Outros deuses eram Reshef (da peste e do mundo inferior), Ashera
(esposa de El) e Astartéia (deusa da fertilidade).
A língua cananéia pertencia ao grupo semita e era próxima do hebreu
arcaico. Foram os cananeus, ao que tudo indica, o primeiro povo a empregar
o alfabeto: inscrições do fim da idade do bronze, encontradas na região, são
tidas como a origem do alfabeto fenício. Além de tal alfabeto arcaico,
empregava-se corretamente a escrita cuneiforme silábica da Mesopotâmia.
Outro tipo, muito peculiar, de escrita cuneiforme foi descoberto no norte da
Síria.
História do Mundo Bíblico Antigo
25
2.5. Suméria
Com as escavações iniciadas em 1877 nas ruínas de Lagash, na
Mesopotâmia, ao sul da Babilônia, Ernest de Sarzec descobriu os vestígios
da mais antiga civilização humana, a da Suméria. Os sumérios inventaram a
escrita cuneiforme -- mais antiga forma grafada para representar sons da
língua, ao invés dos próprios objetos --, os primeiros veículos sobre rodas e
os primeiros tornos de cerâmica.
O território da Suméria localizava-se no extremo sul da Mesopotâmia, entre
os rios Tigre e Eufrates, na área onde posteriormente se desenvolveu a
Babilônia e que modernamente corresponde ao sul do Iraque, entre Bagdá e
o golfo Pérsico. Nessa região desenvolveu-se a civilização dos sumérios,
povo de origem desconhecida que, já no quarto milênio antes da era cristã,
agrupava-se em cidades-estados.
2.5.1. História
Antes da chegada dos sumérios, a baixa Mesopotâmia fora ocupada por um
povo não pertencente ao grupo semita, modernamente conhecido como
ubaida, termo derivado da cidade e al-Ubaid, onde foram encontrados seus
primeiros vestígios. Primeira força civilizatória presente na área, os ubaidas
estabeleceram-se no território entre 4500 e 4000 a.C. Drenaram os pântanos
para a agricultura, desenvolveram o comércio e estabeleceram indústrias,
entre as quais manufaturas de couro, metal, cerâmica, alvenaria e tecelagem.
Mais tarde, vários povos semitas infiltraram-se no território dos ubaidas e
formaram uma grande civilização pré-suméria.
O povo conhecido como sumério, cuja língua predominou no território, veio
provavelmente da Anatólia e chegou à Mesopotâmia por volta de 3300 a.C.
No terceiro milênio, haviam criado pelo menos 12 cidades-estados: Ur, Eridu,
Lagash, Uma, Adab, Kish, Sipar, Larak, Akshak, Nipur, Larsa e Bad-tibira.
Cada uma compreendia uma cidade murada, além das terras e povoados que
a circundavam, e tinha divindade própria, cujo templo era a estrutura central
da urbe. Com a crescente rivalidade entre as cidades, cada uma instituiu
também um rei.
O primeiro rei a unir as diferentes cidades, por volta de 2800 a.C., foi o rei de
Kish, Etana. Por muitos séculos, a liderança foi disputada por Lagash, Ur,
Eridu e a própria Kish, o que enfraqueceu os sumérios e os tornou
extremamente vulneráveis a invasores. Entre 2530 e 2450 a.C., a região foi
dominada pelos elamitas procedentes do leste. Teve maiores conseqüências
a invasão, pelo norte, dos acadianos, cujo rei Sargão de Acad integrou a
Suméria a seu império. Sargão conseguiu ainda submeter os elamitas, antes
de lançar-se à conquista das terras ocidentais, até a costa síria do
26
Mediterrâneo. Criou assim um modelo unificado de governo que influenciou
todas as civilizações posteriores do Oriente Médio. Sua dinastia governou
aproximadamente entre 2350 e 2250 a.C.
Após o declínio da dinastia acadiana, por volta do ano 2150 a.C. o território
foi invadido e devastado pelos gútios, povo semibárbaro originário dos
montes Zagros, a leste da Mesopotâmia. Graças à reação do rei de Uruk, que
expulsou os invasores, as cidades ficaram novamente independentes. O
ponto alto dessa era final da civilização suméria foi o reinado da terceira
dinastia de Ur, cujo primeiro rei, Ur-Nammu, publicou o mais antigo código
legal encontrado na Mesopotâmia. Depois de 1900 a.C., quando os amorritas
conquistaram todo o território mesopotâmico, os sumérios perderam sua
identidade como povo, mas a cultura suméria foi assimilada pelos sucessores
semitas.
2.5.2. Civilização Suméria
A escrita cuneiforme surgiu na Mesopotâmia, no terceiro milênio anterior à
era cristã. Escrevia-se sobre tábulas de argila, com estiletes de bambu.
Depois, a tábula era endurecida ao sol ou em fornos. Graças a essa escrita,
decifrada por lingüistas e arqueólogos, foi possível conhecer inúmeros
aspectos da vida, religião e instituições da Suméria. Os sumérios possuíam
uma rica literatura, que incluía poemas, epopéias, hinos, lamentações,
provérbios etc. A criação poética mais notável foi o Gilgamesh, ao qual se
somam os mitos de Tamuz e da deusa Nanai Ishtar de Uruk, do pastor Etana,
do herói Adapa etc.
Os templos e edifícios, em geral feitos de tijolos crus e cozidos, não se
conservaram, pois os materiais empregados não resistiram ao passar dos
séculos. Em compensação, além das tábulas, conservaram-se estelas e
cilindros gravados, que eram utilizados como selos, além de esculturas em
pedra. Os sumérios trabalhavam o bronze, o cobre, o ouro e a prata.
2.6. Mesopotâmia
Berço de algumas das mais ricas civilizações humanas, a Mesopotâmia viu
surgir os primeiros impérios, as primeiras cidades da antigüidade e algumas
importantes invenções do homem, como a escrita e a legislação.
A Mesopotâmia (em grego, região entre rios) está situada na região
delimitada pelos rios Tigre e Eufrates, no sudoeste da Ásia. Embora seus
limites variassem em diferentes períodos de sua história, de modo geral a
Mesopotâmia abrangia, na antigüidade, o território do atual Iraque, ficando ao
norte a cordilheira dos Taurus, que a separa da Armênia, ao sul o golfo
Pérsico, a oeste a Assíria e a leste a Síria. O limite entre as regiões norte,
História do Mundo Bíblico Antigo
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montanhosa, e a sul, plana, era a zona de Bagdá, onde mais se aproximam
os rios Tigre e Eufrates. Os romanos as denominaram, respectivamente,
Mesopotâmia e Babilônia.
Muitos grupos étnicos tentaram fixar-se na região, e esses movimentos
migratórios acabaram por fazer surgir importantes civilizações, como a dos
assírios, que ocuparam a área montanhosa, e a dos sumérios e babilônios,
instalados nas planícies do sul. A essência da cultura suméria se manteve
mesmo após a desintegração do estado sumério e por isso pode-se, apesar
da grande diversidade dos grupos étnicos, falar de uma civilização
mesopotâmica.
A Bíblia, o relato de Heródoto e os textos do sacerdote babilônio Berossos,
estes datados de aproximadamente 300 a.C. eram, até o fim do século XIX,
as únicas fontes de informação sobre a história da Mesopotâmia. As
escavações iniciadas em meados do mesmo século, no território do Iraque, e
a decifração dos caracteres cuneiformes permitiram avaliar o papel
desempenhado pela Mesopotâmia na criação de sociedades urbanas mais
evoluídas.
A escrita cuneiforme foi empregada na Babilônia até o século I a.C. e o
idioma, como língua erudita, até o primeiro século da era cristã. Com a
decifração dessa escrita, foi possível descobrir a literatura da região, cujos
épicos tiveram como um dos principais temas a sensação de instabilidade
provocada pelo difícil controle dos rios Tigre e Eufrates. A escrita cuneiforme
sobreviveu também ao domínio helenístico. A influência do grego era
significativa, mas tudo indica que o aramaico se tornou a língua popular, em
especial nos centros urbanos da época.
2.6.1. Resenha histórica
Os primeiros imigrantes chegaram à Mesopotâmia no quarto milênio a.C.
Fixaram-se no sul e ali criaram o que teria sido, segundo a tradição suméria,
seu primeiro núcleo urbano, Eridu. O povoamento tornou-se mais intenso no
milênio seguinte, com um novo movimento migratório, procedente do leste.
Ao mesmo tempo, no norte, grupos de origem semítica formavam uma nova
cultura, que assumiria gradativamente papel preponderante na região. As
escavações comprovaram não haver nesse período uma separação estrita
entre as duas regiões, na medida em que nomes semitas são encontrados
entre os sumérios. A Mesopotâmia era, de todo modo, povoada por dois
povos de origens distintas, o que explica as denominações de terra de Sumer
(sul) e Acad (norte).
As primeiras tentativas de organização de aldeias agrícolas na área de Acad
foram registradas em sítios arqueológicos como Hassuna, Jarmo e Samarra.
28
Do ponto de vista cultural, os grupos que habitavam a área no chamado
período Obeid I eram atrasados em relação aos povos do sul, mas alguns
centros, como Nínive, já se assemelhavam mais a cidades do que a aldeias.
Os habitantes do norte expandiram-se para o sul, no século XXIV a.C., e
fundaram um reino unificado sob o governo de Sargão, criador de uma
dinastia semítica, cuja capital era a cidade de Acad. Os invasores não
possuíam cultura própria, motivo pelo qual absorveram a cultura e as técnicas
de guerra do sul. Assim, a transferência do centro do poder político, de
início instalado na cidade de Acad, para Nínive ou Babilônia, não teve
influência na evolução cultural da região.
Com a terceira dinastia de Ur, cujos domínios incluíam a Assíria,
praticamente completou-se a unificação da Mesopotâmia. O norte preservava
apenas seu idioma semita, escrito, porém, em caracteres cuneiformes
sumérios. Por volta de 2000 a.C., invasores elamitas e amorritas derrubaram
essa terceira dinastia de Ur. Após um período de destruições, o sul voltou a
prosperar, enquanto, no norte, Assur tornou-se independente e na Babilônia
surgiu uma dinastia local, amorrita, apoiada pelos semitas acadianos.
Após o período da dinastia cassita, a Babilônia perdeu sua influência política,
ao mesmo tempo em que o poderio dos assírios cresceu consideravelmente.
Nesse período, invasores indo-europeus criaram diversos estados na região,
entre os quais o reino de Mitani. No século XII a.C., o poderio assírio chegou
ao apogeu sob o reinado de Tukulti-Ninurta I. A Assíria dominava então toda
a região localizada a leste do Eufrates. Os sucessores do soberano não
conseguiram manter o território, cuja desintegração política foi motivada
também pela chegada à região de diversas tribos de arameus, que aí
fundaram vários reinos independentes.
Nos séculos seguintes, os reinos arameus começaram a ser incorporados ao
império da Assíria, a que a Mesopotâmia voltou a ficar subordinada. Nesse
período, a ascensão de uma das tribos dos arameus, os caldeus, contribuiu
de maneira significativa para a queda do poderio da Assíria e para o
estabelecimento, no sul da região, do reino neobabilônico de Nabopolassar.
Esse soberano firmou com Ciaxares, da Média, uma aliança que dividiu a
Mesopotâmia entre medos e babilônicos, situação que se manteve até 539
a.C., quando a região foi transformada numa satrapia do império persa
durante o reinado de Ciro. No período, registrou-se um florescimento cultural,
em que a literatura, a religião e as tradições sumérias e babilônicas eram
preservadas nas escolas dos templos.
Em 331 a.C., a vitória de Alexandre o Grande sobre Dario III marcou o início
da colonização macedônica. A Babilônia tornou-se então importante centro
cultural, verdadeiro ponto de encontro entre as culturas grega e oriental. Com
História do Mundo Bíblico Antigo
29
a morte de Alexandre, instalou-se uma dinastia selêucida que governou por
pouco mais de um século. Por volta de 140 a.C., a Mesopotâmia foi
incorporada ao império parta.
2.7. Ur
Ao longo dos diversos períodos dinásticos do império sumério, Ur acumulou
templos e riquezas e se tornou um núcleo de civilização da antiguidade. Ali
teria vivido Abraão, por volta do século XVIII a.C.
Ur foi uma importante cidade-estado situada a cerca de 225km da Babilônia,
na Suméria. Erguia-se junto à antiga foz do rio Eufrates, que distava cerca de
16km da atual, e era circundada por terrenos férteis e irrigados. A fundação
de Ur ocorreu por volta do quarto milênio antes da era cristã, quando
chegaram à região camponeses procedentes do norte da Mesopotâmia. Há
registros de que essa ocupação terminou durante uma série de inundações.
Entre os séculos XXIX e XXIV a.C., Ur tornou-se capital do reino. Túmulos de
reis da primeira dinastia de Ur, no século XXV a.C., com armas e tesouros
em jóias de ouro, prata, bronze e pedras semipreciosas, atestam seu elevado
nível artístico e de civilização, além da prática do sacrifício de servidores e
mulheres do rei, que deveriam segui-lo no outro mundo. Há indícios de uma
segunda dinastia, cujos quatro reis reinaram por pouco mais de um século. A
chamada terceira dinastia, entre os séculos XXII ao XXI a.C., foi iniciada por
Ur-Nammu. Em seu reinado foi erigido o grande zigurate de Sin.
O império de Ur estendeu-se por um território quase tão vasto quanto o do
império de Acad. Essa potência, no entanto, foi minada pelos amorreus e
pelas revoltas dos elamitas. Embora habitada até o século I a.C., as
mudanças verificadas no curso do Eufrates causaram o desaparecimento da
cidade. As ruínas de Ur foram recuperadas graças às escavações realizadas
por H. R. Hall, antes da primeira guerra mundial, e por Charles Leonard
Woolley, nas décadas de 1920 e 1930.
2.8. Babilônia
A capital da Mesopotâmia foi famosa por seu poderio e esplendor cultural e
por seus belos edifícios e construções monumentais, entre elas os jardins
suspensos, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Fundada pelos acadianos (ou acádios) fora da zona de poderio sumério, a
Babilônia ficava às margens do Eufrates, ao sul da futura Bagdá. Na origem,
foi uma colônia comercial dentro do âmbito econômico sumério; mas, graças
ao intenso tráfico mercantil e a sua estratégica posição geográfica,
30
transformou-se, depois da queda da Suméria, em cidade independente e
próspera, capaz de impor seu poder sobre o resto da Mesopotâmia, antes da
era cristã.
No começo do segundo milênio a.C., vários povos de origem semita,
procedentes do oeste, estabeleceram-se na Babilônia. Um desses povos foi o
amorreu (ou amorrita, amorreano), que levou a Babilônia a seu máximo poder
imperial, comparável apenas ao que conseguiu posteriormente com os
caldeus.
O nome Babilônia parece proceder do acádico Bab-ilu, que significa “porta de
Deus”. A cidade sagrada, descrita pelo historiador grego Heródoto no século
V a.C., foi descoberta por arqueólogos alemães no fim do século XIX da era
cristã. Espalhava-se em torno do Eufrates e era protegida por altas muralhas,
nas quais se abriam diversas portas de acesso. Dessas portas só se
conservaram sete, entre as quais se destaca a de Ishtar.
A cidade possuía numerosos palácios e templos, construídos sobre terraços
de terra batida ou de adobe. Os palácios eram grandes edifícios com muitos
aposentos, dispostos em torno de um pátio central e adornados com jardins,
entre os quais se destacavam os chamados jardins suspensos, construídos
em terraços sobre salas com tetos de pedra.
Em meio aos edifícios dessa monumental cidade, os de caráter religioso
sobressaíam pela imponência e elevado número. O principal era o grande
templo dedicado a Marduk, Esagila (“casa de teto alto”), decorado com ouro e
pedras preciosas. Ao norte desse ficava o Etemenanki (“templo dos alicerces
do céu e da terra”), templo escalonado que possivelmente seria a torre de
Babel citada na Bíblia.
2.9. Dinastia amorrita
O fundador da dinastia real amorrita foi Sumu-abum, que governou de 1894 a
1881 a.C. Seus sucessores ampliaram os domínios da Babilônia mediante
uma política de pactos e alianças com as cidades mais poderosas e ricas do
território.
Na primeira metade do século XVIII a.C., Hamurabi empreendeu a conquista
da Mesopotâmia e criou o primeiro império babilônico. O caráter desse rei,
conforme documentos que chegaram até nós, mostra traços de um homem
astuto, prudente, diplomático, alheio a impulsos passionais e,
fundamentalmente, grande conhecedor de sua época. Político hábil,
Hamurabi conseguiu consolidar seu estado, alternando conquistas militares
com reformas legislativas internas.
História do Mundo Bíblico Antigo
31
Quando Hamurabi subiu ao trono, o reino babilônico limitava-se a noroeste
com a Assíria, ao norte com a região de Eshnuna e a leste e sudeste com os
domínios de Larsa. O monarca tornou a Babilônia potência hegemônica da
Mesopotâmia. Aproveitando a morte de seu inimigo assírio Shamsi Adad I,
enfrentou e venceu o rei de Larsa, Rim-Sin, arrebatando seus domínios.
Depois combateu encarniçadamente e derrotou uma coalizão de povos e
cidades (elamitas, assírios, gutis).
Dessa forma a Mesopotâmia tornou-se submissa ao poder babilônico e
Hamurabi reuniu sob sua autoridade toda a região compreendida entre o
golfo Pérsico e o rio Habur. Estadista inteligente e civilizado, não se impôs de
modo arbitrário ou violento, conservando os monarcas derrotados, na
qualidade de vassalos, em seus respectivos tronos.
Hamurabi foi o primeiro legislador conhecido da história. Deu impulso à
organização judicial e ao trabalho legislativo. O famoso Código de Hamurabi,
baseado na lei de talião, indica a preocupação do monarca em estender o
direito sumério a todos os povos que habitavam os territórios do império.
Com a morte de Hamurabi, a unidade mesopotâmica desapareceu. Seu filho
Samsu-iluna combateu as sublevações de Elam, Suméria e Assur e enfrentou
as invasões de povos como os hurrianos e os cassitas. Estes últimos,
repelidos depois de uma primeira tentativa de colonização, penetraram
depois lentamente em território babilônico.
Apesar dos denodados esforços de Samsu-iluna para manter o império do
pai, a unidade política se desintegrou. Alguns de seus descendentes, como
Ammiditana e Amisaduqa, conseguiram esporádicas vitórias sobre as cidades
rivais, mas com Samsuditana o poderio babilônico decaiu por completo.
Apesar disso, a cidade continuou sendo um centro cultural, artístico e
comercial de primeira ordem, para onde acorriam viajantes e peregrinos de
todo o Oriente Médio.
Em 1595, o rei hitita Mursilis I atacou a Babilônia. A cidade foi arrasada e
incendiada e seu rei, o último da dinastia amorrita, morreu na luta.
2.10. Dinastia cassita
No início do século XVI a.C., os cassitas, procedentes dos montes Zagros,
ocuparam a Babilônia e introduziram o cavalo e o carro como armas de
guerra. Não conheciam a escrita, mas aceitaram e assimilaram a superior
cultura babilônica. Agum II soergueu o estado. Conquistou Eshnuna, dominou
Assur, submeteu os gutis e estendeu seu poder do Eufrates à cordilheira dos
Zagros. Seus descendentes consolidaram o reino no terreno econômico,
32
graças ao comércio, embora no aspecto político a Babilônia se tenha
conservado apenas como mais um estado dentro do universo mesopotâmico.
A partir da segunda metade do século XIV a.C., os assírios começaram a
intervir na política interna da Babilônia, atraídos por sua prosperidade. Depois
do reinado de Burnaburiash II, que conseguiu manter a estabilidade política
na cidade, as relações com a Assíria começaram a deteriorar-se. O rei assírio
Salmanasar I iniciou uma política expansionista e, ao norte da Babilônia, os
hititas também pretenderam imiscuir-se nos assuntos internos do império.
Sob o reinado de Kashtiliash, a paz, que já durava três séculos, foi
interrompida pela invasão de Tukulti Ninurta I, em 1234 a.C., que arrasou a
próspera cidade, destruiu seus templos e palácios e prendeu seu rei.
Crises no império assírio -- assassinato de Tukulti Ninurta I --, e no reino hitita
-- agressões externas -- deram ao rei babilônico Adad-shun-natsir a
oportunidade para reconstruir seu maltratado império e submeter o estado
assírio. Depois de um período de paz, em que Meli-Shipak devolveu a
prosperidade à Babilônia, os elamitas invadiram e saquearam a cidade, em
1153 a.C, levando para Susa a famosa pedra do Código de Hamurabi.
2.11. O novo império babilônico
O fim do período cassita anunciou uma época obscura para a Babilônia,
dominada sucessivamente por elamitas e assírios até o século VII a.C.,
quando os caldeus ascenderam ao poder. O fundador da dinastia caldéia foi
Nabopolassar (reinou de 626 a 605), que, inspirado pelos deuses locais,
Marduk e Nabu, empreendeu uma política expansionista orientada para a
recuperação do antigo poderio da Babilônia. Nabopolassar, auxiliado pelo rei
meda Ciaxares, moveu uma campanha contra Assur, que pretendia dominar
o território mesopotâmico. Depois da vitória, os dois monarcas partilharam as
terras conquistadas, e a Babilônia pôde reconstruir seu antigo império. Em
seguida, Nabopolassar ordenou a conquista da Síria a seu filho
Nabucodonosor, que, depois de cruzar rapidamente o Eufrates, destruiu
Carchemish, conseguindo para a Babilônia a maior parte da Síria e da
Palestina, anteriormente em poder dos egípcios.
Após a morte do pai (605 a.C.), Nabucodonosor II assumiu o trono. Durante
seu reinado (604-562), empreendeu várias campanhas militares que lhe
renderam avultados butins e glória pessoal. Uma sublevação do reino de
Judá obrigou-o a manter uma guerra cruenta que durou de 598 a 587 a.C.,
ano em que destruiu Jerusalém e deportou milhares de judeus (o “cativeiro da
Babilônia” mencionado no Antigo Testamento).
Nos anos seguintes, Nabucodonosor promoveu um intenso trabalho de
reconstrução, reparando as cidades devastadas pela guerra. Com sua morte
História do Mundo Bíblico Antigo
33
(562), sucederam-se as lutas internas pelo trono. Nabonido conseguiu o
poder em 555 e governou até 539, mas, como não era de estirpe real,
encontrou férrea oposição entre os sacerdotes de Marduk e alguns
comerciantes ricos, que lideraram uma sublevação, com o apoio do rei persa
Ciro II. Derrotado e prisioneiro dos persas, Nabonido foi, no entanto, tratado
com moderação por Ciro, que lhe concedeu o cargo de governador de uma
região da Pérsia.
2.12. Decadência
A queda da Babilônia em 539 a.C. e sua incorporação ao império persa
acarretou o fim da Mesopotâmia como região histórica independente.
Sob o domínio dos persas aquemênidas, a cidade manteve seu esplendor.
Em 522 a.C., Dario I sufocou uma revolta popular; mais tarde, Xerxes
reprimiu outra insurreição e ordenou a destruição da estátua de Marduk,
símbolo religioso da Babilônia. Alexandre o Grande a conquistou em 331 a.C.
e, depois de reconstruir alguns de seus monumentos, morreu no palácio de
Nabucodonosor, quando voltava da Índia. Durante a época selêucida, a
cidade decaiu rapidamente, até desaparecer.
2.13. Cultura e sociedade
Os babilônios estenderam seus conhecimentos a todos os ramos do saber,
mas se destacaram principalmente pelas grandes descobertas matemáticas e
astronômicas. Também cultivaram as artes e as letras com singular mestria.
A epopéia de Gilgamesh, obra-prima da literatura babilônica, é um poema
cujas primeiras compilações remontam a 2500 a.C.; misto de epopéia e
alegoria, seus personagens principais são Enkidu e Gilgamesh. O primeiro
representa a passagem do estado natural ao civilizado, enquanto Gilgamesh
simboliza o herói que busca a imortalidade. O dilúvio universal também
aparece mencionado nesse poema, quando Gilgamesh encontra Utnapishtim,
o Noé babilônico, que lhe descreve a técnica de fabricação da nave que, a
conselho de Ea, construiu para salvar-se do cataclismo. Outro poema épico
conhecido é o Enuma elish (Quando no alto...), que trata da origem do
mundo.
A religião babilônica compreendia um grande número de deuses que,
venerados nos templos, em muitos casos se assemelhavam aos homens.
Para os babilônios, o homem foi criado por Marduk, a sua imagem, com barro
e seu próprio sangue. O templo era a morada da divindade, enquanto o
zigurate (torre) era o lugar destinado ao culto. Cada templo era administrado
pelo sumo sacerdote, que, ajudado por sacerdotes menores, magos,
34
adivinhos e cantores, devia prestar contas ao rei, representante do deus
Marduk.
A sociedade babilônica tinha estrutura piramidal, com o rei, vicário (substituto)
da divindade, no topo. O poder e as riquezas do soberano tornavam-no um
homem respeitado e temido. Os funcionários reais, os sacerdotes e os
grandes proprietários constituíam o suporte do monarca e formavam a
categoria superior dos homens livres. Os escravos eram adquiridos por
compra ou como resultado de butim de guerra. Numa terceira categoria social
estavam os cidadãos humildes, cuja falta de recursos lhes impedia o acesso
às categorias superiores, embora fossem livres.
O homem livre podia possuir bens, terras ou dedicar-se à indústria ou ao
comércio. Sua condição lhe permitia pertencer ao conselho da cidade,
embora pudesse cair na escravidão se não pagasse no prazo devido as
dívidas contraídas.
A família era monogâmica e a instituição matrimonial se regia por um
contrato, realizado pelo marido diante de testemunhas, no qual se
estabeleciam os direitos e obrigações da esposa. O chefe de família exercia a
autoridade e dispunha de total independência no manejo dos bens. Todas
essas normas, contidas no código legislativo de Hamurabi, consolidaram a
sociedade de forma estável e duradoura.
Com o fim da próspera civilização babilônica, a Mesopotâmia deixou de ser
terra de grandes impérios e converteu-se em objeto de conquistas das novas
potências do mundo antigo. Sua cultura exemplar e sua organização legal
são comparáveis ao brilho mais tarde alcançado por Atenas e Roma.
2.14. Síria
A atual Síria -- que não coincide com a antiga região do mesmo nome, berço
de antiqüíssimas civilizações -- esbarra na instabilidade política do Oriente
Médio em sua tentativa de fugir ao subdesenvolvimento e enfrenta um
aumento populacional difícil de assimilar num país na maior parte desértico.
A Síria situa-se no Oriente Médio, na costa leste do mar Mediterrâneo, no
extremo sudoeste do continente asiático. Ocupa uma superfície de 185.180
km2, com forma aproximadamente triangular. Limita-se ao norte com a
Turquia; a leste e a sudeste com o Iraque; ao sul com a Jordânia; a sudoeste
com Israel e Líbano; e a oeste com o mar Mediterrâneo. As colinas de Golan,
no sudoeste de seu território, foram ocupadas em 1967 por Israel, que
anexou a área unilateralmente em 1981.
História do Mundo Bíblico Antigo
35
2.14.1. Geografia física
A Síria apresenta três zonas fisiográficas de oeste para leste: a planície
litorânea, as montanhas e o deserto. De norte a sul, a faixa litorânea se
estende por 180km entre a Turquia e o Líbano, com uma largura que varia
entre 3 e 12km. Nessa região, a mais povoada do país, as inúmeras
nascentes e lençóis de água subterrâneos permitem a prática da agricultura
durante todo o ano.
Na zona montanhosa, duas cordilheiras correm paralelas à costa: as cadeias
do Líbano e do Antilíbano. A leste das montanhas estende-se a depressão de
Gab, atravessada pelo rio Orontes. O ponto culminante do país é o monte
Hermon (2.814m), na fronteira com o Líbano. Para o leste, estende-se o
planalto ondulado do deserto da Síria, que desce suavemente em direção ao
vale do rio Eufrates, procedente da Turquia. A altitude dessa região varia
entre 300 e 500m. No deserto, situa-se um dos maiores afloramentos
basálticos do mundo, com 33.700 km2, e no qual se acha o monte al-Duruz.
2.14.2. Clima e hidrografia
O clima sírio é mediterrâneo na estreita orla costeira e na região montanhosa
ocidental, com precipitações relativamente abundantes e temperaturas
médias moderadas, mas com uma longa estação seca de maio a outubro. No
resto do país, o clima é desértico ou semidesértico, com chuvas escassas,
além de verões e invernos mais rigorosos do que no litoral. Na costa, a
temperatura média varia de 13°C em janeiro (inverno ) a 27°C em agosto
(verão). No leste, esses números são de, respectivamente, 5°C e 40°C.
O sistema de drenagem do país é, em sua maior parte, subterrâneo. Rochas
porosas cobrem quase metade do território sírio e absorvem rapidamente as
escassas chuvas. Sob a superfície, a água forma nascentes, rios e lençóis de
água subterrâneos. O Eufrates é a principal fonte de água e o único rio
navegável da Síria. A construção do dique do Eufrates, no norte,
possibilitou o cultivo de algodão, cereais e frutas ao longo das margens do
rio. O principal rio da região montanhosa é o Orontes, que nasce no Líbano,
atravessa a depressão de Gab em direção ao norte, até penetrar na Turquia
e desembocar no Mediterrâneo.
2.14.3. População
Os árabes são o principal grupo étnico da Síria. Gregos, romanos e turcos
dominaram sucessivamente o país, mas sua contribuição étnica foi
desprezível se comparada à dos povos semitas da Arábia e da Mesopotâmia,
como os arameus, assírios, caldeus e cananeus. As minorias étnicas mais
36
importantes são formadas por curdos, armênios, turcos, circassianos e
assírios.
O árabe é a língua oficial do país. Junto à fronteira com a Turquia, fala-se o
curdo e o turco. Os armênios autóctones já haviam perdido seu idioma
quando uma nova onda de refugiados, procedente da Turquia, estabeleceuse em Damasco e Alepo depois da primeira guerra mundial, fugindo à
perseguição empreendida pelo país vizinho. Os muçulmanos, distribuídos em
diversas seitas, representam aproximadamente noventa por cento da
população, e os cristãos menos de dez por cento.
A população síria teve crescimento explosivo nas últimas décadas do século
XX. A taxa de natalidade se manteve muito elevada, enquanto a de
mortalidade diminuiu progressivamente, devido a melhorias sanitárias. O
crescimento vegetativo da população aumentou, portanto, de forma
acentuada na segunda metade do século XX: mais do que a produção de
alimentos e o produto interno bruto. Além disso, após a implantação do
estado israelense na Palestina em 1948, a Síria recebeu cerca de cem mil
refugiados palestinos, e a população das colinas de Golan, ocupadas por
Israel em 1967, refugiou-se sobretudo em Damasco.
2.14.4. História
Inicialmente habitado por povos de origem semítica, o território hoje
pertencente à Síria sofreu a invasão de elementos de outros grupos étnicos
e, ao longo da história, dividiu-se em principados autônomos ou integrou
impérios mais vastos. A civilização acadiana surgiu sob o governo de Sargão
de Acad, conquistador semita do século XXIII a.C., mas foi destruída por um
povo nômade do deserto, os amoritas, entre 2000 e 1800 a.C.
Durante os séculos XVI e XV a.C., os povos egípcios e hurritas do reino de
Mitani lutaram pelo controle da área. No século seguinte, a Síria passou às
mãos dos hititas e sob seu domínio permaneceu até o século VIII a.C.,
quando os assírios dela se apossaram. Em 612 a.C., porém, as medas
conquistaram Nínive, capital da Assíria, e ali imperaram até serem derrotados
pelos persas, sob a liderança de Ciro. Dois séculos mais tarde, em 333 a.C.,
o território foi incorporado ao império de Alexandre o Grande. Depois da
morte de Alexandre em 323 a.C., a Síria foi dividida entre Seleuco Nicator e
Ptolomeu, em 301 a.C., e assim permaneceu durante quase cem anos, até
que os selêucidas se assenhorearam de toda a região.
A anarquia levou à desintegração do império. Em 64 a.C., a Síria caiu em
poder de Roma e foi uma de suas províncias mais ricas até o século IV da
era cristã, quando integrou-se ao império bizantino.
História do Mundo Bíblico Antigo
37
2.14.5. Assíria
Famosos desde os tempos antigos pela crueldade e pelo talento guerreiro, os
assírios também se destacaram pela habilidade na construção de grandes
cidades e edifícios monumentais, como atestam as ruínas encontradas em
Nínive, Assur e Nimrud.
Estabelecido no norte da Mesopotâmia, o império assírio foi uma das
civilizações mais importantes do Oriente Médio. Os primeiros povoadores
conhecidos da região eram nômades semitas que começaram a levar vida
sedentária ao longo do IV milênio a.C. Alguns dados atestam a formação, a
partir do século XIX a.C., de um pequeno estado assírio, que mantinha
relações comerciais com o império hitita. No século XV a.C., depois de longo
período de submissão ao império da Suméria, o estado assírio, com capital
em Assur, começou a tornar-se independente e a se estender. Puzur-Assur III
foi o primeiro monarca que, livre da opressão suméria, empreendeu a
expansão do reino.
Graças ao apogeu comercial, os assírios puderam lançar-se, sob o reinado
de Shamshi-Adad I (1813-1781 a.C., aproximadamente), às conquistas que
tanta glória lhes trouxeram. O soberano concentrou esforços na construção
de um estado centralizado, segundo o modelo da poderosa Babilônia. Suas
conquistas se estenderam aos vales médios do Tigre e do Eufrates e ao norte
da Mesopotâmia, mas foram barradas em Alepo, na Síria. Morto o rei, seus
filhos não puderam manter o império em virtude dos constantes ataques de
outros povos e dos desejos de independência dos súditos. A Assíria caiu sob
o domínio do reino de Mitani, do qual se libertou em meados do século XIV
a.C.
O rei Assur-Ubalit I (1365-1330) foi considerado pelos sucessores o fundador
do império assírio, também conhecido como império médio. Para consolidar
seu poder, estabeleceu relações com o Egito e interveio nos assuntos
internos da Babilônia, casando sua filha com o rei desse estado. Depois de
seu reinado, a Assíria atravessou uma fase de conflitos bélicos com hititas e
babilônios, que se prolongou até o fim do século XIII a.C.
Quem afinal conseguiu impor-se foi Salmanasar I (1274-1245), que devolveu
ao estado assírio o poder perdido. Esse monarca estendeu sua influência até
Urartu (Armênia), apoiado num exército eficaz que conseguiu arrebatar da
Babilônia suas rotas e pontos comerciais.
Sob o reinado de Tukulti-Ninurta I (1245-1208), o império médio alcançou seu
máximo poderio. A mais importante façanha do período foi a incorporação da
Babilônia, que ficou sob a administração de governadores dependentes do rei
38
assírio. Com as conquistas, o império se estendeu da Síria ao golfo Pérsico.
Depois da morte desse rei, o poder assírio decaiu em benefício da Babilônia.
Passado um período de lutas contra os invasores hurritas e mitânios, a
Assíria ressurgiu, no fim do século XII a.C., com Tiglate-Pileser I (1115-1077),
que venceu a Babilônia numa campanha terrivelmente dura. Após sua morte,
a Assíria sofreu o domínio dos arameus, do qual não conseguiu libertar-se
até que Adad-Ninari II (911-891) subiu ao trono.
Tukulti-Ninurta II (890-884) devolveu
à Assíria a antiga grandeza e
submeteu a zona de influência dos arameus, no Eufrates médio. Sucedeulhe Assur-Nasirpal II (883-859), o mais desumano dos reis assírios, que
pretendeu reconstruir o império de Tiglate-Pileser I e impôs sua autoridade
com inusitada violência. Foi o primeiro rei assírio a utilizar carros de guerra e
unidades de cavalaria combinadas com a infantaria. Seu filho Salmanasar III
(858-824), conquistador da Síria e do Urartu, foi igualmente cruel.
O último grande império assírio iniciou-se com Tiglate-Pileser III (746-727),
que dominou definitivamente a Mesopotâmia. Sua ambição sem limites o
levou a estender o império até o reino da Judéia, a Síria e o Urartu.
Salmanasar IV e Salmanasar V mantiveram o poderio da Assíria, que anexou
a região da Palestina durante o reinado de Sargão II (721-705). O filho deste,
Senaqueribe (704-681), teve que enfrentar revoltas internas, principalmente
na Babilônia, centro religioso do império que foi arrasado por suas tropas.
Asaradão (680-669) reconstruiu a Babilônia e atacou o Egito, afinal
conquistado por seu filho Assurbanipal (668-627). No ano 656, porém, o
faraó Psamético I expulsou os assírios do Egito e Assurbanipal não quis
reconquistar o país. Com esse soberano, a Assíria tornou-se o centro militar e
cultural do mundo. Depois de sua morte, o império decaiu e nunca mais
recuperou o esplendor.
2.14.6. A cultura assíria
Fruto das múltiplas relações com outros povos, a civilização assíria alcançou
elevado grau de desenvolvimento. Entre as preocupações científicas dos
assírios destacou-se a astronomia: estabeleceram a posição dos planetas e
das estrelas e estudaram a Lua e seus movimentos. Na matemática
alcançaram alto nível de conhecimentos, comparável ao que posteriormente
se verificaria na Grécia clássica.
O espírito militar e guerreiro dos assírios se reflete em suas manifestações
artísticas, principalmente nos relevos que decoram as monumentais
construções arquitetônicas. Representam sobretudo cenas bélicas e de caça,
em que as figuras de animais ocupam lugar de destaque, como no relevo “A
História do Mundo Bíblico Antigo
39
leoa ferida”. Também cultivaram a escultura em marfim, na qual foram
grandes mestres, como se constata nos painéis de Nimrud, que sobreviveram
à madeira dos móveis em que eram originariamente incrustados.
A religião assíria manteve as ancestrais tradições mesopotâmicas, embora
tenha sofrido a introdução de novos deuses e mitos. A eterna rivalidade entre
assírios e babilônios chegou à religião com a disputa pela preponderância de
seus grandes deuses, o assírio Assur e o babilônio Marduk.
O império assírio sucumbiu ao ataque combinado de medas e babilônios. Sob
as ruínas de uma esplêndida civilização, ficou a trágica lembrança de suas
impiedosas conquistas e da ilimitada ambição de seus reis.
2.15. Egito
Berço de uma das civilizações mais antigas do mundo, o Egito representa
papel estratégico para a paz mundial no cenário contemporâneo do Oriente
Médio.
2.15.1. Geografia física
O Egito é um extenso deserto atravessado por um longo e fértil oásis: o vale
do Nilo e seu delta. O país desenvolveu sua vida e sua história ao longo do
estreito vale do Nilo, cujas inundações anuais fertilizaram durante
milênios as terras próximas e permitiram a prática de uma próspera
agricultura. Na segunda metade do século XX, a construção da represa de
Assuã renovou o papel econômico do Nilo, como base do desenvolvimento e
modernização do país. Sem esse rio, a totalidade do país seria um árido
deserto.
O vale do Nilo e seu delta se encontram em terras aluviais dedicadas ao
cultivo, cujos sedimentos foram trazidos das regiões montanhosas onde se
situam as nascentes do rio. A composição do solo varia nessa região, e é
mais arenosa nos extremos das áreas de cultivo. Ao norte do delta, a
salinidade favoreceu a formação de solos estéreis, onde dominam as regiões
denominadas barari.
2.15.2. Hidrografia
O Nilo é praticamente o único rio do Egito. Com uma extensão de 6.705 km, é
considerado o mais longo do mundo. Para ele afluem pequenos riachos nas
regiões montanhosas da península do Sinai. As chuvas torrenciais criam os
chamados uedes, cursos intermitentes nas montanhas do deserto Oriental.
40
O Nilo nasce nas proximidades do lago Tanganica e, depois de percorrer todo
o Sudão, penetra no Egito, ao norte de sua segunda catarata. Antes da
primeira catarata, a represa de Assuã forma o enorme lago Nasser. O rio
continua por um estreito vale de três quilômetros de largura até chegar à
região de Assiut, quando desvia para a esquerda o braço lateral do Bahr alYussef, que o acompanha por cerca de 300 km até desviar-se para a
depressão de Faiyum. Após passar a pirâmide de Gizé, à esquerda, o Nilo
banha o Cairo e se ramifica para formar um amplo delta, que chega a
alcançar 200 km de largura. Damietta, a leste, e Rosetta, a oeste, são os
braços principais do delta. Nessa região se encontram os lagos de Maryut,
Burullus, Idku e Manzala, entre outros.
2.15.3. Língua
O idioma oficial é o árabe. Também se falam inúmeros dialetos regionais,
como o beduíno do deserto Oriental e do Sinai, e os dialetos das populações
rurais do Delta e dos oásis. O inglês e o francês são utilizados nas relações
comerciais.
2.15.4. Economia
Agricultura, pecuária e pesca. O regime de águas do Nilo constituiu, desde a
antiguidade, o fator básico da economia egípcia. As inundações anuais,
entre agosto e setembro, permitiam, antes da construção das diversas
represas, o aproveitamento dos ricos nutrientes depositados nas áreas
cobertas durante o período das cheias. Na segunda metade do século XX, a
utilização de fertilizantes químicos e a construção das represas, canais e
outras obras, impulsionaram a produtividade agrícola do vale.
O clima favorável e a disponibilidade de água permitem duas colheitas por
ano, no inverno e no verão. Entre os produtos agrícolas de verão, o principal
é o algodão. Também são importantes o milho, o arroz, a cana-de-açúcar e
sementes oleaginosas. Entre os produtos de inverno destacam-se cereais
(trigo e cevada), o linho, legumes e hortaliças, principalmente cebola.
Também se cultivam muitas frutas: tâmara, laranja, limão, figo.
2.15.5. História
Como assinalou o historiador grego Heródoto, no século V a.C., “O Egito é
uma dádiva do Nilo”. Desde os primeiros momentos de sua história, os
egípcios criaram uma sociedade baseada no aproveitamento das águas do
Nilo para a agricultura, mediante a construção de obras hidráulicas capazes
de regular sua vazão anual. No plano institucional, configuraram um rígido e
hierárquico sistema político que se manteve, com pequenas mudanças,
durante cerca de três mil anos.
História do Mundo Bíblico Antigo
41
2.15.6. Arqueologia
Foram os romanos que começaram a colecionar antiguidades egípcias.
Estátuas de faraós e esfinges enfeitavam palácios dos imperadores romanos
e diversos obeliscos foram transportados de Karnak (Tebas) e Heliópolis e
posteriormente reerguidos em Roma e Constantinopla. Entre as obras dos
últimos escritores clássicos destaca-se a descrição do Egito feita por
Estrabão no Livro 17 de sua Geografia, que contém detalhes da topografia do
delta. Plínio o Velho, em sua História natural, e Ptolomeu, em seu tratado
geográfico descreveram o Egito. Plutarco estudou a mitologia e Horapolon
tentou decifrar os hieróglifos.
A religião egípcia desapareceu com a difusão do cristianismo e o copta
substituiu a escrita antiga. Mas a tradição da “sabedoria do Egito” atravessou
a Idade Média e despertou interesse durante o Renascimento.
2.15.7. Inícios da moderna egiptologia
A visita de Napoleão ao Egito, em 1798, a descoberta da pedra de Rosetta e
a decifração dos hieróglifos, pelo inglês Thomas Young e pelo francês JeanFrançois Champollion, proporcionaram material para estudos mais profundos
sobre o passado do país.
Em 1858, o governo egípcio implantou uma nova política de conservação de
suas antiguidades, e nomeou Auguste-Edouard Mariette para esse trabalho.
O governo fundou um museu em Bulaq, no Cairo, que mais tarde se tornaria
o Museu Egípcio. As escavações empreendidas por Mariette, nas décadas de
1860 e 1870, principalmente em Gizé e Saqqara, forneceram material
suficiente para suprir o museu com esculturas e antiguidades.
2.15.8. Escavações no século XX
Métodos revolucionários desenvolvidos por William Matthew Flinders Petrie
permitiram uma mudança de atitude em relação às novas descobertas: o
antigo sistema de somente descobrir monumentos e preservá-los foi
substituído por escavações sistemáticas, com o objetivo de examinar e
registrar cada objeto, ainda que insignificante ou fragmentado, e analisar as
camadas de terra em que se encontravam. Esse método possibilitou levantar
dados sobre a história dos lugares e de seus habitantes e também sobre a
arte que desenvolviam, seus conhecimentos e sua vida cotidiana.
A descoberta do túmulo de Tutankhamen, em 1922, aumentou o interesse
pela egiptologia. O esvaziamento desse túmulo exigiu um trabalho de dez
anos. Seus descobridores, Lord Carvarnon e Howard Carter, solicitaram a
ajuda de diversos especialistas para a extração e preservação dos diversos
42
tesouros que continha. O resultado foi que uma grande quantidade de jóias,
armas, móveis e relicários transformaram o acervo do Museu Egípcio do
Cairo em um dos mais valiosos do mundo.
O período histórico da civilização egípcia começou por volta de 4000 a.C. Os
primitivos clãs haviam sido transformados em províncias ou nomos, e seus
chefes elevados à dignidade real. Mais tarde foram agrupados em dois
grandes reinos: um ao norte, cujo primeiro rei-deus foi Horus, e outro ao sul,
que teve Set como primeiro rei-deus. Por volta do ano 3300 a.C., segundo a
tradição, o reino do sul venceu o do norte. Quando as dinastias humanas
sucederam às dinastias divinas, Menés, personagem lendário e apontado
como unificador do Egito, se tornou o primeiro faraó. A capital era, segundo
alguns autores, Mênfis, e segundo outros, Tinis, nas proximidades de Abidos.
Menés é identificado como Narmeza (Narmer), representado, num relevo de
Hieracômpolis, com as duas coroas dos reinos unificados.
2.15.9. Dinastias
As escavações realizadas em Abidos, Saqqara e localidades próximas
trouxeram informações sobre as primeiras dinastias, denominadas tinitas por
terem a capital em Tinis. Neste período houve um aumento da prosperidade
econômica do país, incrementado pelas expedições à costa do mar Vermelho
e às minas de cobre e turquesa do Sinai.
Com a III dinastia, iniciada em 2650 a.C., a capital foi trasladada para Mênfis
e os faraós iniciaram a construção das pirâmides, grandes túmulos reais.
Inicia-se então o chamado Antigo Império, que vai até a VIII dinastia. Erguemse as pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, faraós da IV dinastia, e a
esfinge de Gizé. A arte egípcia já se apresentava com todas as suas
características, nessa época de maior esplendor da civilização egípcia. O
território se estendeu até a segunda catarata do Nilo, e realizaram-se
expedições à Núbia e à Líbia. Aumentou o comércio marítimo no
Mediterrâneo oriental e se iniciou a exploração das minas de cobre do Sinai,
das pedreiras de Assuã e do deserto núbio.
A VI dinastia realizou expedições à península do Sinai e sob Pepi II
multiplicaram-se as imunidades concedidas aos nobres. Os chefes dos
nomos se tornaram mais independentes e desapareceu o poder centralizador
do faraó. Após longa fase de lutas internas, que marcaram o fim do Antigo
Império, o Egito entrou em decadência. No século XXII a.C., os príncipes de
Tebas afirmaram sua independência e fundaram a XI dinastia, dos
Mentuhoep, dando início ao Médio Império, que durou de 1938 a c. 1600
a.C., com capital em Tebas.
História do Mundo Bíblico Antigo
43
Restaurou-se e consolidou-se o poder real. Sobressaíram na XII dinastia,
também tebana, Amenemés I, Sesóstris I e Amenemés III, que colonizaram a
Núbia e o Sudão, intensificaram o comércio e as relações diplomáticas e
fizeram respeitar as fronteiras egípcias. O segundo período intermediário, que
abrange da XIII à XVII dinastia, entre c. 1630 e 1540 a.C., é de história
obscura. Por falta de fontes é impossível analisar o conjunto de causas
determinantes da decadência do estado tebano. Sob a XIV dinastia ocorreu
a invasão dos hicsos. Os monarcas da XVII dinastia abriram luta contra eles e
ferimentos encontrados na múmia de Seqenenre parecem indicar sua morte
em combate.
Ahmés ou Ahmose I assumiu o comando, expulsou definitivamente os hicsos
e fundou a XVIII dinastia. Iniciou-se então o mais brilhante período da história
egípcia, o chamado Novo Império, entre 1539 e 1075 a.C., que abrange
também a XIX, a XX e a XXI dinastias. Como grandes conquistadores,
sobressaíram Tutmés I e III, da XVIII dinastia, Ramsés II (XIX dinastia),
Ramsés III (XX dinastia) e Iknaton, Akenaton ou Amenhotep IV (XVIII
dinastia), por sua reforma religiosa.
Após cerca de trinta anos de paz interna, o Egito, rico e forte, pôde entregarse às novas tendências imperialistas. Tornou-se um estado essencialmente
militar e por 200 anos dominou o mundo então conhecido. Alargaram-se as
fronteiras do país, da Núbia até o Eufrates. Os príncipes da Síria, Palestina,
Fenícia, Arábia e Etiópia pagaram-lhe tributos. O tratado firmado em 1278
a.C. com Hattusilis III terminou com a secular guerra com os hititas. O luxo e
o poder econômico refletiram-se nas grandes construções desse período.
Com Ramsés XI findou o Novo Império. Rebentaram guerras civis e o Egito
entrou em decadência, perdeu territórios e sofreu invasões.
Por volta de 722-715 a.C., uma dinastia etiópica, com capital em Napata,
restaurou parcialmente a unidade nacional. Em 667 a.C., Assaradão invadiu o
Egito e ocupou Mênfis. Em 664 a.C., Assurbanipal tomou e saqueou Tebas.
Os egípcios, comandados pelos chefes do delta, reagiram e em 660 a.C.,
Psamético I, fundador da XXVI dinastia, expulsou os assírios. O Egito voltou
a conhecer nova fase de esplendor, chamada de renascimento saítico, devido
ao nome de sua capital, Saís. Em 605 a.C., Necau II tentou conquistar a
Síria, mas foi derrotado por Nabucodonosor. Em seu governo concluiu-se o
canal de ligação entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho e, sob seus
auspícios, marinheiros fenícios contornaram a África.
Em 525 a.C., o último soberano nacional egípcio, Psamético III, foi derrotado
e morto por Cambises, rei dos persas, em Pelusa. O Egito foi incorporado ao
império persa como uma de suas províncias (satrapia). A partir de então, até
Artaxerxes II, reinou a XXVII dinastia persa. A organização social e religiosa
foi mantida e registrou-se certo desenvolvimento econômico. A libertação do
44
Egito se deu em 404 a.C. Com Armiteu, único faraó da XXVIII dinastia, a
aristocracia militar do delta subiu ao poder. As instituições e a cultura
revigoraram-se sob as XXIX e XXX dinastias. Depois de saquear o país,
Artaxerxes III restaurou a soberania persa, em 343 a.C. O segundo período
da dominação persa terminou em 332 a.C., quando Alexandre o Grande da
Macedônia, vitorioso, entrou no Egito, após derrotar Dario III.
Período macedônio ou ptolomaico. Nesse período, que vai até o ano 30 a.C.,
Alexandre foi recebido como libertador e fez-se reconhecer como “filho de
Amon”, sucessor dos faraós, prometendo respeitar as instituições e restaurar
a paz, a ordem e a economia. Lançou as fundações da cidade de Alexandria.
Com sua morte em 323 a.C., o controle do Egito passou a um de seus
generais, Ptolomeu, que a partir de 305 a.C. iniciou a dinastia dos lágidas.
Dentre seus herdeiros destacaram-se, inicialmente, Ptolomeu Filadelfo, cujo
reinado durou de 285 a 246 a.C. e se notabilizou pela expansão comercial, a
construção de cidades, e a criação de um museu e da biblioteca de
Alexandria; sucedeu-lhe Ptolomeu Evérgetes, que reinou de 246 a 222 a.C. E
impulsionou as letras e a arquitetura; e finalmente Ptolomeu Epífano, coroado
em 196 a.C., que foi homenageado com a redação do decreto da pedra de
Rosetta, em 204 a.C.
Atacado por reinos helenísticos, o Egito colocou-se sob proteção romana,
com submissão cada vez maior. Seguiram-se vários e cruéis reinados dos
lágidas, até Ptolomeu Auletes que, com apoio romano, permaneceu no poder
até 51 a.C., quando foi expulso pelos egípcios. Sua filha Cleópatra VII desfezse, sucessivamente, de dois irmãos e apoiou-se no imperador romano Júlio
César. Com a morte deste, em 44 a.C., ligou-se a Marco Antônio, mas diante
da derrota frente às esquadras romanas, e do assassinato, ordenado por
Otávio, do jovem Ptolomeu César, filho que tivera com César, suicidou-se em
30 a.C. O Egito foi então transformado em província romana. Soberanos de
direito divino e culto imperial, os lágidas restauraram os templos, honraram a
classe sacerdotal e entregaram a administração aos gregos. Alexandria,
cidade grega por suas origens, comércio e cultura, foi o centro intelectual e
comercial do mundo helenístico.
Período romano-bizantino. Em 30 a.C., iniciou-se o período romano-bizantino.
A minoria romana conservou a organização da época helenística, com base
nos nomos (províncias). O camponês era esmagado por altos impostos e
requisições. A indústria e o comércio, que deixaram de ser monopólio estatal,
ganharam impulso e atingiram as mais distantes regiões. A passagem dos
romanos foi marcada ainda pela construção de estradas, templos, teatros,
cisternas, obras de irrigação e cidades. Uma destas foi Antinópolis,
construída por Adriano.
História do Mundo Bíblico Antigo
45
No final do século II da era cristã generalizaram-se os ataques nômades às
fronteiras (Líbia, Etiópia, Palmira) e as perseguições ligadas à expansão do
cristianismo. Após Constantino, começam as disputas religiosas. Em 451 a
adesão da igreja alexandrina ao monofisismo levou à formação de uma igreja
copta, distinta da grega, e dessa forma o que era tido como heresia, por força
das perseguições imperiais, transformou-se na religião nacional egípcia.
Com a divisão do Império Romano verificou-se uma progressiva substituição
de Alexandria por Constantinopla em importância cultural e econômica. No
século VI o declínio econômico era generalizado em todos os setores. E no
início do século VII os árabes foram recebidos como autênticos libertadores.
2.16. Fenícia
Os fenícios assimilaram as culturas do Egito e da Mesopotâmia e as
estenderam por todo o Mediterrâneo, do Oriente Médio até as costas
orientais da península ibérica. O maior legado que deixaram foi um alfabeto
do qual derivam os caracteres gregos e latinos.
Chamou-se Fenícia à antiga região que se estendia pelo território do que
mais tarde seria o Líbano e por parte da Síria e da Palestina, habitada por um
povo de artesãos, navegadores e comerciantes. Biblo (futura Jubayl), Sídon
(Saída), Tiro (Sur), Bérito (Beirute) e Árado foram as suas cidades principais.
O nome Fenícia deriva do grego Phoiníke (“país da púrpura” ou, segundo
alguns, “terra das palmeiras”). Na Bíblia, parte da região recebe o nome de
Canaã, derivado da palavra semita kena'ani, “mercador”.
2.16.1. História
Os fenícios chegaram às costas libanesas por volta de 3000 a.C. Sua origem
é obscura, mas sabe-se que eram semitas, procedentes provavelmente do
golfo Pérsico. No começo, estiveram divididos em pequenos estados locais,
dominados às vezes pelos impérios da Mesopotâmia e do Egito. Apesar de
submetidos, os fenícios conseguiram desenvolver uma florescente atividade
econômica que lhes permitiu, com o passar do tempo, transformar-se numa
das potências comerciais hegemônicas do mundo banhado pelo
Mediterrâneo.
A dependência dos primeiros fenícios em relação ao poderio egípcio iniciouse com a IV dinastia (2613-2494, aproximadamente), e é notada pela grande
quantidade de objetos de influência egípcia encontrados nas escavações
arqueológicas. No século XIV a.C., a civilização grega de Micenas fez seu
aparecimento na Fenícia, com o estabelecimento de comerciantes em Tiro,
Sídon, Biblo e Árado. As invasões dos chamados povos do mar significaram
uma grande mudança para o mundo mediterrâneo: os filisteus se
46
instalaram na Fenícia, enquanto Egito e Creta começavam a decair como
potências. Dessa forma, a Fenícia estava preparada no século XIII a.C. para
iniciar a sua expansão marítima.
A cidade de Tiro assumiu o papel hegemônico na região. Em pouco tempo,
seus habitantes controlaram todas as rotas comerciais do interior,
comercializando principalmente madeira de cedro, azeite e perfumes.
Quando dominaram o comércio na área, iniciaram a expansão pelo
Mediterrâneo, onde fundaram muitas colônias e feitorias.
Os fenícios escalaram primeiro em Chipre, ilha com a qual há muito
mantinham contato, e no século X a.C. se estabeleceram em Cício ou Kítion
(Larnaca). A faixa costeira da Anatólia também conheceu a presença fenícia,
embora lá não se tenham estabelecido colônias permanentes. No sul da
Palestina, sob domínio judeu desde o fim do século XI a.C., assentaram-se
colônias comerciais estáveis, assim como no Egito, sobretudo no delta do
Nilo.
O Mediterrâneo ocidental foi, no entanto, a região de maior atração para os
fenícios, que mantiveram relações econômicas com Creta, mas a presença
dos gregos os induziu a dirigirem-se mais a oeste, chegando à Sicília, onde
fundaram Mócia (Mótya), Panormo (Panormum) e Solos (Sóloi). No norte da
África, os fenícios tinham-se estabelecido em Útica no século XII a.C. e
fundaram outros núcleos no século IX a.C., entre os quais Cartago. Na
península ibérica, Gades (Cádiz), fundada no século XII a.C., foi o porto
principal dos fenícios, que ali adquiriam minerais e outros produtos do interior.
Na ilha de Malta, a Fenícia impôs seu controle no século VIII a.C., e a partir
de Cartago fez o mesmo em relação a Ibiza no século VI a.C.
O esplendor econômico e cultural da Fenícia viu-se ameaçado a partir do
século IX a.C., quando a Assíria, que precisava de uma saída para o mar a
fim de fortalecer sua posição política no Oriente Médio, começou a introduzirse na região. O rei assírio Assurbanipal estendeu sua influência a Tiro, Sídon
e Biblo, cidades às quais impôs pesados tributos. A dominação assíria
obrigou as cidades fenícias a firmarem uma aliança: em meados do século
VIII a.C., Tiro e Sídon se uniram para enfrentar os assírios, aos quais
opuseram tenaz resistência; mas, apesar desses esforços de independência,
a Assíria manteve sua hegemonia. Os egípcios, também submetidos à
influência assíria, estabeleceram um pacto defensivo com Tiro no início do
século VII a.C., mas foram vencidos.
No fim desse século, Nabucodonosor II impôs a hegemonia da Babilônia no
Oriente Médio. O rei babilônico conquistou a região da Palestina e, depois de
longo assédio, submeteu Tiro em 573 a.C. A Pérsia substituiu a Babilônia
em 539 a.C. como poder hegemônico. A partir de então, Sídon passou a ter
História do Mundo Bíblico Antigo
47
supremacia sobre as outras cidades fenícias e colaborou com o império persa
contra os gregos, seus principais inimigos na disputa do controle comercial do
Mediterrâneo. Os persas incluíram a Fenícia em sua quinta satrapia
(província), junto com a Palestina e Chipre. Sídon procurou então uma
aproximação com os gregos, cuja influência cultural se acentuou na Fenícia.
No século IV, o macedônio Alexandre o Grande irrompeu na Fenícia; mais
uma vez, Tiro foi a cidade que apresentou a resistência mais forte, mas,
esgotada por anos de lutas contínuas, caiu em poder de Alexandre em 322
a.C. Depois da derrota, toda a Fenícia foi tomada pelos gregos. Finalmente,
Roma incorporou a região a seus domínios, como parte da província da Síria,
em 64 a.C.
2.16.2. Economia
A Fenícia foi um dos países mais prósperos da antiguidade. Suas cidades
desenvolveram uma florescente indústria, que abastecia os mais distantes
mercados. Objetos de madeira talhada (cedro e pinho) e tecidos de lã,
algodão e linho tingidos com a famosa púrpura de Tiro, extraída de um
molusco, foram as manufaturas fenícias de maior prestígio e difusão.
Também eram muito procurados os objetos de metal; o cobre, obtido em
Chipre, o ouro, a prata e o bronze foram os mais utilizados, em objetos
suntuários e em jóias de alto valor. Os trabalhos em marfim alcançaram
grande perfeição técnica na forma de pentes, estojos e estatuetas. Os
fenícios descobriram ainda a técnica de fabricação do vidro e aperfeiçoaramna para confeccionar belos objetos.
O comércio se fez principalmente pelo mar, já que o transporte terrestre de
grandes carregamentos era dificílimo. Essa exigência contribuiu para
desenvolver a habilidade dos fenícios como construtores navais e os
transformou em hábeis navegadores.
2.16.3. Sociedade e política
Para a construção de suas cidades e feitorias, os fenícios escolhiam zonas
estratégicas do ponto de vista comercial e da navegação. Erguiam-nas
sempre em portos protegidos, amplas baías que permitiam aos barcos
atracar com facilidade e penínsulas abrigadas. As cidades eram geralmente
protegidas com muralhas, e os edifícios chegavam a uma altura considerável.
A classe dos comerciantes ricos exercia o domínio político em cada cidade,
governada por um rei. A diversidade arquitetônica das casas fenícias que foi
possível conhecer revela a existência de uma marcada diferenciação social
entre a oligarquia de mercadores e o conjunto dos trabalhadores artesanais e
agrícolas.
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2.16.4. Religião
A religião dos fenícios era semelhante à de outros povos do Oriente Médio,
embora também apresentasse características e influências de religiões e
crenças de outras áreas como o mar Egeu, o Egito e mais tarde a Grécia, em
conseqüência dos contatos comerciais.
A religiosidade se baseava no culto às forças naturais divinizadas. A
divindade principal era El, adorado junto com sua companheira e mãe,
Asherat ou Elat, deusa do mar. Desses dois descendiam outros, como Baal,
deus das montanhas e da chuva, e Astarte ou Astar, deusa da fertilidade,
chamada Tanit nas colônias do Mediterrâneo ocidental, como Cartago. As
cidades fenícias tinham ainda divindades particulares; Melqart foi o deus de
Tiro, de onde seu culto, com a expansão marítima, passou ao Ocidente,
concretamente a Cartago e Gades.
Entre os rituais fenícios mais praticados tiveram papel essencial os sacrifícios
de animais, mas também os humanos, principalmente crianças. Em geral os
templos, normalmente divididos em três espaços, eram edificados em áreas
abertas dentro das cidades. Havia ainda pequenas capelas, altares ao ar livre
e santuários com estrelas decoradas em relevo. Os sacerdotes e
sacerdotisas freqüentemente herdavam da família o ofício sagrado. Os
próprios monarcas fenícios, homens ou mulheres exerciam o sacerdócio,
para o que se requeria um estudo profundo da tradição.
Pouco depois do ano 1200 a.C., o império hitita desfez-se, provavelmente
devido a incursões dos chamados “povos do mar” e dos frígios no interior.
Algumas zonas da Cilícia e Síria mantiveram a identidade hitita e
organizaram-se em pequenos principados independentes que, pouco a
pouco, foram incorporados pelos assírios.
Sociedade e cultura. A história dos hititas foi reconstituída pelos arqueólogos
a partir do século XIX, quando Archibald Henry Sayce começou a investigar a
existência dos hittiim, a que o Antigo Testamento se refere como habitantes
da zona palestina antes dos israelitas. A documentação escrita revelou a
história desse povo, mas os períodos mais antigos, anteriores à escrita,
permaneceram desconhecidos até achados arqueológicos mais completos.
Os documentos hititas, gravados em tábulas e esculturas, demonstraram que
a região da Anatólia teve uma notável organização política e social. A
principal forma de escrita, de origem mesopotâmica, era a cuneiforme,
embora no norte da Síria também se empregasse um tipo de hieróglifo. A
língua hitita era indo-européia, ainda que com raízes de outros ramos
lingüísticos.
História do Mundo Bíblico Antigo
49
Desde os tempos mais remotos, os chefes de estado adotavam o título de
reis com caráter hereditário. O monarca era legislador, chefe do exército e
juiz supremo. A assembléia de nobres, pankus, a cuja jurisdição estava
submetido o subordinação de comunidades isoladas, e uma notável
civilização.
2.16.5. História
A integração dos pequenos povos da região em um poderoso estado ocorreu
ao tempo do rei Labarna. Seu filho Hattusilis I reconstruiu a antiga cidade de
Hattusa (posteriormente Bogazköy, na Turquia) e dali organizou incursões
para o sudeste, chegando até o Eufrates, com intenção de apoderar-se do
norte da Síria. Seu herdeiro e continuador, Mursilis I, chegou até a Babilônia,
onde derrotou a dinastia amorrita em 1590 a.C. Com a morte de Mursilis I,
ocorreram lutas dinásticas, das quais saiu vencedor Telipinus I, que mobilizou
o exército hitita para defender suas possessões na Anatólia dos ataques de
povos vizinhos.
No princípio, os hititas não participaram das lutas entre egípcios e hurritas na
Síria; mais tarde intervieram contra os egípcios, de quem arrebataram Alepo.
No entanto, os hurritas logo depois ocuparam a cidade e uniram-se aos
egípcios. O império hitita perdeu o controle da Síria e entrou em processo de
decadência, agravado por invasões dos hurritas e de outros povos, como os
kaska, do norte. A capital, Hattusa, foi incendiada durante um ataque.
Entre 1380 e 1346 a.C., Suppiluliumas conseguiu reconquistar e repovoar a
Anatólia e empreendeu a conquista da Síria. Esse foi o reinado em que a
civilização hitita alcançou o ponto culminante. O novo império demonstrou a
superioridade de seu exército frente aos egípcios e hurritas. Durante o
reinado de Muwatallis, entre 1320 e 1294 a. C., ressurgiu a luta pela
conquista da Síria e houve um grande choque entre hititas e egípcios na
batalha de Kadesh. Mesmo da qual existem restos nas tumbas de Alaca
Hüyük, bem como nas muralhas e na acrópole de Hattusa, a arte é
especialmente abundante em esculturas. Nela manifesta-se a influência de
egípcios e babilônios, povos mais avançados. No período do novo império, a
escultura destacou-se por apresentar maior originalidade, ainda que
conservando a rusticidade do estilo; maior volume e naturalismo aparecem
em relevos de um deus da Porta do Rei, em Hattusa. Da Síria os hititas
copiaram as esculturas monumentais de animais, como leões e esfinges,
protetores das portas das cidades. Alcançaram alto nível artesanal na
cerâmica e no trabalho de metais preciosos, assim como na carpintaria.
50
2.17. Grécia antiga
Os povos que na antiguidade habitaram o território da Grécia construíram a
primeira civilização duradoura da Europa, berço de toda a cultura ocidental
moderna.
Os gregos criaram obras artísticas, literárias, filosóficas e científicas de
importância jamais superada, embora nunca tenham sido capazes de
alcançar a unificação política.
A Grécia antiga abrange o conjunto das civilizações que se desenvolveram
nas regiões situadas na bacia do mar Egeu, sobretudo nas partes central e
sul da Grécia continental e no litoral oeste da Anatólia. Compreende desde a
civilização minóica (ou minoana), que floresceu em Creta na idade do bronze
e foi depois absorvida pela cultura micênica do continente, até a da Grécia
transformada em província romana, no ano 146 a.C.
A administração das aldeias estava a cargo dos anciãos ou notáveis. O
exército era numeroso e constava de unidades de infantaria e de carros
ligeiros. Hábeis na arte da cavalaria -- sobre a qual escreveram um tratado -os hititas alcançaram grande perfeição no manejo de carros dotados de
arqueiros, com que atacavam de surpresa seus inimigos e deslocavam-se
silenciosamente à noite. Consideravam a guerra como uma decisão divina, se
bem que não deixassem de mostrar grande interesse pela justiça e acordos
internacionais, como testemunham os numerosos textos legais encontrados.
Os hititas respeitaram e toleraram as formas religiosas dos povos autóctones
e chegaram a integrar em seu panteão inúmeros deuses de outras
procedências. Os mais importantes eram a deusa solar e o deus da
tempestade. O rei era também sumo sacerdote, considerado intermediário
entre as divindades e os homens. Diversos documentos descrevem as preces
e os rituais nos grandes festivais religiosos.
A arte hitita que sobreviveu está ligada geralmente ao culto religioso. Não
foram encontrados restos anteriores a 1.400 a.C. Exceção feita para a
arquitetura, de tipo ciclópica, à busca da fama e beneficiavam-se tanto do
comércio quanto das terras de agricultura e pecuária, trabalhadas pelos
servos.
Essa transformação transcorreu lentamente. No ano 2600 a.C. houve uma
invasão de povos oriundos da Anatólia que sabiam trabalhar o ferro e
aperfeiçoaram as técnicas de agricultura e navegação. Cerca de seis séculos
depois, tribos indo-européias invadiram a península pelo norte e destruíram a
sociedade existente. Falavam uma língua indo-européia, pertenciam a uma
outra raça e distinguiam-se pela forma dos túmulos de seus reis. Absorveram
História do Mundo Bíblico Antigo
51
as práticas dos habitantes anteriores, mas passaram a viver em complexos
fortificados.
Um sistema de rampas e escadas levava da porta da cidade ao salão onde
ardia o fogo sagrado. Esse projeto tornou-se mais tarde a planta do templo
grego.
Por volta do ano 1600 a.C., a fusão entre grupos do continente e a civilização
minóica de Creta levou ao surgimento da cultura micênica, nome derivado da
cidade de Micenas, no continente. A civilização minóica, a mais característica
de toda a região do Egeu, notabilizara-se por suas cidades populosas, com
grandes edifícios e residências luxuosas; pelo agudo senso comercial; pelas
conquistas artísticas, que incluíam a escrita; e pela forma de governo, que
concentrava o poder político nas mãos de um rei, encarregado de administrar
as riquezas do país.
2.17.1. Civilização micênica
A monarquia minóica acabou por submeter-se ao poder militar micênico, mas
a cidade de Micenas valorizou a arte minóica de tal forma que acabou por
importar seus artistas, cujas influências se manifestam nos temas
ornamentais que o nome Grécia e o etnônimo grego, aplicados ao país e ao
povo, foram empregados inicialmente apenas pelos romanos, que
estenderam a toda a região o nome da primeira tribo que encontraram no
continente. Os gregos do período clássico chamavam a si mesmos helenos e,
a seu país, Hélade. Referiam-se assim aos habitantes da península grega,
para distingui-los dos bárbaros, nome que davam aos povos que não tinham
o grego como língua materna. Originalmente, Hélade era um topônimo de
significado restrito, aplicado a um pequeno território ao sul da Tessália.
A extensão do termo a toda a Grécia continental, e o emprego do nome
heleno para designar o cidadão de qualquer pólis (cidade-estado grega),
mesmo das mais distantes, data do final do século VII a.C., quando os
santuários de Deméter, em Antela, e de Apolo, em Delfos, se transformaram
em centros religiosos procurados por todos os gregos. Formou-se a partir daí
uma liga de cidades gregas para administrar os templos e organizar os
festivais, que reuniam cidadãos de todas as partes da Hélade e muito
contribuíram para a unidade política e cultural desses territórios.
2.17.2. Idade do bronze
Os séculos decorridos entre o início da idade do bronze, por volta do terceiro
milênio a.C., até o fim do período micênico, por volta do ano 1100 a.C., são
denominados período heládico. Durante essa fase, a população local,
constituída inicialmente de pacíficos criadores e agricultores, transformou-se
52
em povo guerreiro. A economia baseava-se no comércio marítimo com as
ilhas e com os povos da costa leste do Mediterrâneo. Os chefes guerreiros
dedicavam-se à guerra e à busca da fama e beneficiavam-se tanto do
comércio quanto das terras de agricultura e pecuária, trabalhadas pelos
servos.
Essa transformação transcorreu lentamente. No ano 2600 a.C. houve uma
invasão de povos oriundos da Anatólia que sabiam trabalhar o ferro e
aperfeiçoaram as técnicas de agricultura e navegação. Cerca de seis séculos
depois, tribos indo-européias invadiram a península pelo norte e destruíram a
sociedade existente. Falavam uma língua indo-européia, pertenciam a uma
outra raça e distinguiam-se pela forma dos túmulos de seus reis. Absorveram
as práticas dos habitantes anteriores, mas passaram a viver em complexos
fortificados.
Um sistema de rampas e escadas levava da porta da cidade ao salão onde
ardia o fogo sagrado. Esse projeto tornou-se mais tarde a planta do templo
grego.
Por volta do ano 1600 a.C., a fusão entre grupos do continente e a civilização
minóica de Creta levou ao surgimento da cultura micênica, nome derivado da
cidade de Micenas, no continente. A civilização minóica, a mais característica
de toda a região do Egeu, notabilizara-se por suas cidades populosas, com
grandes edifícios e residências luxuosas; pelo agudo senso comercial; pelas
conquistas artísticas, que incluíam a escrita; e pela forma de governo, que
concentrava o poder político nas mãos de um rei, encarregado de administrar
as riquezas do país.
2.17.3. Civilização micênica
A monarquia minóica acabou por submeter-se ao poder militar micênico, mas
a cidade de Micenas valorizou a arte minóica de tal forma que acabou por
importar seus artistas, cujas influências se manifestam nos temas
ornamentais que adornam sua cerâmica, nas representações pictóricas e na
ourivesaria. A sociedade micênica era guerreira, como demonstram seu
conhecimento dos carros puxados por cavalos, suas extraordinárias
fortificações, os palácios construídos em torno de um mégaro (salão central)
e as armas e armaduras encontradas nas tumbas escavadas.
Diante da pressão dos dórios, povo procedente do norte que migrou para a
Grécia no início do século XII a.C., a civilização micênica sucumbiu. Os
dórios eram um povo guerreiro, que usava armas de ferro e cultuava deuses
masculinos, mais freqüentemente do que femininos. Destruíram os palácios
micênicos e escravizaram todos que não conseguiram fugir a tempo para
Atenas, para as ilhas ou para a Anatólia. Sua forma de vida era tão rude que
História do Mundo Bíblico Antigo
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os 300 anos de seu domínio ficaram conhecidos como idade das trevas -- ou
como período geométrico, em alusão à simplicidade de sua cerâmica.
À medida que a Grécia se recuperava dos efeitos da invasão, o povo grego
foi desenvolvendo uma língua e uma religião em comum com os dórios, e as
populações tornaram-se semelhantes. Todos cultuavam uma família de
deuses chamados olímpicos, que habitariam palácios no monte Olimpo. O
culto compreendia a realização de festivais, disputas atléticas entre as
cidades e cerimônias dedicadas ao deus protetor de cada cidade. A mais
conhecida dessas celebrações eram os Jogos Olímpicos, realizados a cada
quatro anos em Olímpia, em honra a Zeus e Hera. Os jogos começaram a ser
disputados em 776 a.C., primeira data registrada da história da Grécia antiga.
A partir de então, os gregos passaram a datar os acontecimentos fazendo
referência ao ano olímpico.
2.17.4. Período arcaico
O terror das invasões dórias resultou na formação de cidades-estados, as
pequenas nações gregas, surgidas à medida que os habitantes dos vilarejos
dispersos buscavam proteção nas proximidades das fortificações micenianas.
Em 800 a.C. aproximadamente, as cidades passaram a seguir um mesmo
padrão urbanístico: uma fortaleza (acrópole) cercada de muros altos abrigava
os templos e podia acomodar a população e os moradores dos povoados
próximos quando a cidade fosse sitiada. Abaixo dela ficavam o mercado
(ágora) e os quarteirões residenciais. As cidades-estados tinham governo
próprio, limites definidos e mantinham entre si relações diplomáticas. A
história política da Grécia antiga é, em grande medida, a história das cinco
maiores cidades-estados -- Atenas, Esparta, Tebas, Corinto e Argos.
O período arcaico se estende de meados do século VIII até o início do século
V a.C. Pressionada pelo crescimento demográfico na Grécia continental, a
população fundou várias colônias, da Anatólia e do mar Negro à França,
Espanha e norte da África. Os oriundos de Atenas fundaram as primeiras
colônias na Anatólia, ajudados pela Lídia. As cidades jônicas originaram-se
do comércio no mar Negro. Os habitantes das novas cidades da Ásia ou das
margens do Mediterrâneo consideravam-se gregos e mantinham laços com
suas cidades de origem. No final do século VII a.C., a cunhagem de moedas,
que os gregos jônicos aprenderam com os lídios, revolucionou o comércio.
O que hoje se entende como literatura e filosofia gregas nasceu nas cidades
jônicas, onde também surgiu o alfabeto grego. Um importante elemento de
aglutinação cultural dessas cidades foram os poemas homéricos Ilíada e
Odisséia, baseados na guerra de Tróia e nas viagens do herói Ulisses. Os
gregos consideravam a poetisa Safo, da ilha de Lesbos, o maior nome da
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poesia lírica e Tales de Mileto o primeiro grande filósofo grego. Foi também
nesse período, na Beócia, no continente, que floresceu Hesíodo.
2.17.5. Período clássico
O século V a.C., início do período clássico, foi a um só tempo infausto e
glorioso para a Grécia continental. Os persas invadiram por duas vezes o
território grego, de forma devastadora. Mas foi também um século de triunfos,
que correspondeu ao ápice da cultura grega. As guerras greco-pérsicas,
iniciadas em 499 a.C., fizeram com que Atenas e Esparta, as duas cidades
hegemônicas, superassem divergências e se aliassem contra o inimigo
comum. Os persas esmagaram a revolta, e Dario I o Grande resolveu punir
Atenas.
Em 490 a.C. Dario lançou uma força invasora, mas o exército ateniense
rechaçou o ataque, na batalha de Maratona. A vitória foi importante por duas
razões: mostrou as perdas que os hoplitas (soldados de infantaria com
armadura pesada ou fortemente armados) gregos foram capazes de impor
aos persas e pôde ser usada para fins de propaganda.
A segunda guerra greco-pérsica, dirigida por Xerxes, filho e sucessor de
Dario I, teve início com a expedição punitiva realizada dez anos depois,
quando os persas derrotaram os gregos no desfiladeiro das Termópilas e
incendiaram a Acrópole. Mesmo assim, Temístocles, com andante da frota
ateniense, destruiu com as trirremes gregas -- naus dotadas de três
pavimentos de remos e vela redonda -- a frota persa, em Salamina. Sem o
apoio naval, o exército persa foi finalmente dizimado na batalha de Platéia,
em 479 a.C., por uma confederação de cidades gregas. A vitória deveu-se
principalmente ao amor à liberdade dos gregos, que defenderam
desesperadamente sua independência, ameaçada por um inimigo mais
poderoso.
A essa altura, Atenas e Esparta, as principais cidades-estados, exibiam
acentuados contrastes, tanto na forma de governo quanto em cultura. De
acordo com a tradição instituída por seu legislador, Licurgo, Esparta adotara
um regime autoritário e militarista, em que os homens eram preparados para
a guerra e as mulheres para gerar bravos guerreiros. Atenas vivia em regime
democrático, graças à constituição legada por Sólon, que permitiu uma
participação cada vez maior dos cidadãos, ricos ou pobres, na elaboração
das leis. Atenas prosperou principalmente durante o governo de Péricles, de
460 a 429 a.C., e se transformou na capital política, econômica e cultural do
mundo grego. A democracia de Péricles despojou a aristocracia da maioria
dos poderes e privilégios; o conselho dos 500 resolvia todos os assuntos do
estado e controlava o executivo, e a vontade popular se expressava na
História do Mundo Bíblico Antigo
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assembléia. Péricles se dedicou à consolidação do poder ateniense, mas não
conseguiu a unificação pan-helênica, que tanto almejara.
Em 477 a.C. Atenas firmara com as cidades jônicas uma aliança, a liga de
Delos, para protegê-las dos persas. No início, as cidades que faziam parte da
liga mantiveram sua autonomia, mas Atenas desde o primeiro momento
assumiu a direção militar e a administração dos recursos que os aliados
haviam depositado no templo de Apolo, em Delos. Ao afastar-se o perigo
persa, a hegemonia ateniense começou a ser discutida por algumas cidades,
como Naxos e Tasos, que tentaram sem êxito abandonar a liga; pelas
cidades independentes, como Corinto, que se sentiam ameaçadas; e pelas
que faziam parte da liga do Peloponeso, à frente das quais estava Esparta.
2.17.6. Guerra do Peloponeso
Os choques entre Atenas e outras cidades se tornaram cada vez mais
freqüentes. A intervenção ateniense no conflito entre Corinto e Corcira (atual
Corfu) provocou, a pedido de Corinto, a reunião da liga do Peloponeso, cujos
membros decidiram declarar guerra a Atenas. Os atenienses nada fizeram
para evitá-la, confiantes nas vultosas reservas de ouro, suficientes para
financiar um longo conflito, e na frota de navios, imensamente superior à dos
peloponesos. Mas o exército espartano era mais numeroso e estava melhor
preparado que o ateniense. Começou assim uma guerra que se prolongaria
por quase trinta anos, com resultados desfavoráveis para ambos os lados.
Durante os primeiros anos de guerra, as forças atenienses e espartanas se
mantiveram equilibradas, mas a intervenção da Pérsia acabou por favorecer
Esparta. A destruição completa do exército e da frota atenienses na Sicília
paralisou Atenas. Com o apoio da Pérsia, o excelente estrategista espartano
Lisandro conseguiu triunfar na batalha decisiva de Egospótamos, em 405
a.C. Atenas resistiu ao assédio lacedemônio, mas foi obrigada a render-se.
Após perder o império mediterrâneo, voltou a contar apenas com seus
próprios recursos. Apesar da paz assinada em 404 a.C., O mundo grego,
inteiramente dividido, jamais recuperou o esplendor do passado. A Pérsia,
verdadeira vencedora do conflito, passou a participar ativamente da política
grega, ora em apoio a Esparta, ora a Atenas, ora finalmente atuando como
potência mediadora entre as duas cidades-estados.
Depois da guerra do Peloponeso instalou-se a hegemonia lacedemônia e
Esparta tentou impor o regime oligárquico em toda a Grécia. Descontente
com o acordo de paz e com o predomínio de Esparta, Tebas fez uma aliança
com sua antiga inimiga Atenas. Em 379 a.C., dois tebanos, Pelópidas e
Epaminondas, organizaram uma conspiração contra a guarnição espartana
da Cadméia (cidadela de Tebas), que marcou o começo da decadência de
Esparta. Ameaçados pelo avanço tebano, os espartanos assinaram, em 374
56
a.C., um novo tratado de paz com Atenas: esta reconhecia a supremacia
espartana no Peloponeso, e Esparta, em troca, reconhecia a segunda liga
marítima ateniense. Esparta, no entanto, quebrou o acordo e interveio contra
Atenas mais uma vez no oeste.
Começou nessa época o apogeu da Tessália e de Tebas, que reorganizaram
seus exércitos e restauraram a Liga Beócia, o que motivou a reaproximação
entre Esparta e Atenas. Na batalha de Leuctras, em 371 a.C., Epaminondas,
renovador da tática militar, infligiu à infantaria espartana uma derrota de que
ela nunca mais se recuperou. Depois da batalha de Mantinéia (362 a.C.), em
que os tebanos, apesar de terem vencido os atenienses e espartanos,
perderam Epaminondas, assinou-se uma paz pela qual nenhum estado
conseguiu impor seu domínio. O equilíbrio alcançado após Mantinéia se
apoiava unicamente na exaustão a que tinham chegado igualmente todos os
estados gregos.
2.17.7. Pérsia
Segundo Heródoto e outros historiadores gregos da antiguidade, o nome
Pérsia deriva de Perseu, antepassado mitológico dos soberanos daquela
região. A civilização persa conheceu grande esplendor com a dinastia
aquemênida, que manteve longa disputa com as cidades gregas pela
hegemonia na Anatólia e no Mediterrâneo oriental.
O território central da civilização persa foi o planalto do Irã, entre o mar
Cáspio e o golfo Pérsico, um dos grandes focos de civilização do rio Indo e
da Mesopotâmia. Desde tempos ancestrais, sucessivos grupos étnicos
estabeleceram-se na região. Ao longo do terceiro e do segundo milênios
anteriores à era cristã foram formados os reinos dos guti, dos cassitas e dos
elamitas, entre outros. No segundo milênio surgiram também as primeiras
tribos indo-européias, provavelmente originárias das planícies do sul da
Rússia, e no início do primeiro milênio ocorreu a segunda chegada de povos
indo-europeus procedentes da Transoxiana e do Cáucaso, entre os quais
estavam os medos e os persas. Os dois grupos são mencionados pela
primeira vez em inscrições da época do rei assírio Salmanasar III, por volta
do ano 835 a.C.
Entre os séculos IX e VII a.C. ocorreu o estabelecimento, em solo iraniano,
de povos citas chegados através do Cáucaso. Acredita-se que os citas já
tivessem se diluído entre os povos árias quando surgiu a figura de Ciaxares,
que levou os medos ao auge de seu poderio. Rei dos medos entre 625 e 585
a.C., Ciaxares reorganizou o exército -- com a adoção de unidades de
arqueiros montados -- e, depois de unir suas forças às da Babilônia,
enfrentou o poder hegemônico da região, o da Assíria, cuja capital, Nínive,
foi
destruída em 612. Medos e babilônios dividiram entre si o império
História do Mundo Bíblico Antigo
57
assírio. Astíages, que reinou de 585 a 550 a.C., herdou do pai um extenso
domínio, que compreendia a planície do Irã e grande parte da Anatólia.
2.17.8. Dinastia aquemênida
O rei persa Ciro o Grande, da dinastia aquemênida, rebelou-se contra a
hegemonia do império medo e em 550 a.C. derrotou Astíages, apoderou-se
de todo o país e em seguida empreendeu a expansão de seus domínios. A
parte ocidental da Anatólia era ocupada pelo reino da Lídia, ao qual estavam
submetidas as colônias gregas da costa da Anatólia. Uma hábil campanha do
soberano persa, que enganou o rei lídio Creso com uma falsa operação de
retirada, teve como resultado sua captura, em 546 a.C. A ocupação da Lídia
se completou mais tarde com a tomada das cidades gregas, as quais, à
exceção de Mileto, resistiram durante vários anos.
A ambição de Ciro voltou-se então para a conquista da Babilônia, a poderosa
cidade que dominava a Mesopotâmia. Ciro tirou proveito da impopularidade
do rei babilônio Nabonido e apresentou-se como eleito pelos deuses da
cidade para reger seu destino, e, apoiado pela casta sacerdotal, dominou-a
facilmente em 539 a.C.
Sucedeu a Ciro o Grande seu filho Cambises II, que em seu reinado, de 529
a 522 a.C., empreendeu a conquista do Egito, então governado pelo faraó
Ahmés II, da XXVI dinastia. Ahmés tentou defender suas fronteiras com a
ajuda de mercenários gregos, mas, traído por estes, abriu as portas do Egito
a Cambises, que cruzou o Sinai e destroçou o exército de Psamético III,
sucessor de Ahmés, na batalha de Pelusa. A capital egípcia, Mênfis, caiu em
poder dos persas e o faraó foi aprisionado e deportado. Do Egito, Cambises
tentou levar a cabo a conquista de Cartago, o poderoso império comercial do
Mediterrâneo ocidental, mas a frota fenícia negou-se a colaborar com a
campanha, o que a inviabilizou. Ao retornar de uma vitoriosa expedição à
Núbia, o exército persa foi dizimado pela fome. Enquanto isso, um impostor,
fazendo-se passar por irmão de Cambises, apoderou-se da parte oriental do
império. Cambises morreu quando descia o Nilo com o resto de suas tropas.
Dario I o Grande. Dario I reinou entre 522 e 486 a.C. Um conselho de nobres
persas decidiu reconhecer como herdeiro de Cambises um príncipe da casa
real, Dario, que se distinguira como general dos exércitos imperiais por mais
de um ano. Os esforços para consolidar-se no trono ocuparam o novo “rei
dos reis”, que soube manejar habilmente o castigo e o perdão, até que as
forças inimigas foram dizimadas em todo o império. Tão logo se livrou de
seus adversários, Dario prosseguiu com a política de expansão e incorporou
a seus domínios grandes territórios do noroeste do subcontinente indiano
(mais tarde o Paquistão). Depois, as tropas persas tentaram, com pouco
êxito, estabelecer o controle das terras litorâneas do mar Negro, para opor
58
obstáculo ao comércio grego. Em 500 a.C., as colônias helênicas da Anatólia
se rebelaram contra a autoridade imperial, apoiadas por Atenas. A reação
tardou vários anos, mas depois da derrota da frota grega em Mileto, o
exército persa recuperou todas as cidades rebeldes. Quando, no entanto, o
imperador persa tentou tomar as cidades da Grécia européia, sofreu a derrota
de Maratona, em setembro de 490 a.C. Dario começou a recrutar um enorme
exército para dominar a Grécia, mas morreu em 486, ao tempo em que a
rebelião do Egito proporcionava um repouso aos helênicos.
As principais atividades de Dario o Grande à frente do império persa foram as
de organização e legislação. Dividiu o império em satrapias (províncias), a
cada uma das quais fixou um tributo anual. Para desenvolver o comércio,
unificou a moeda e os sistemas de medidas, construiu estradas e explorou
novas rotas marítimas. Respeitou as religiões locais e parece ter, ele mesmo,
introduzido o zoroastrismo como religião estatal. Deslocou a capital para
Susa e construiu um palácio em Persépolis.
O exército persa, antes formado mediante recrutamento em tempo de guerra,
foi reorganizado por Ciro e depois por Dario, que criaram um exército
profissional e permanente, só reforçado por recrutamento geral em caso de
guerra. A elite do exército profissional era constituída pelos “dez mil imortais”,
guerreiros persas ou medos, dos quais mil integravam a guarda pessoal do
imperador.
Xerxes I. Imperador entre 485 e 465 a.C., Xerxes, filho de Dario, reprimiu
duramente a revolta que abalou o Egito no momento em que subiu ao trono,
e abandonou a atitude respeitosa de seu pai frente aos costumes das
províncias. Nova revolta, na Babilônia, foi dominada em 482 a.C. Conseguida
a pacificação do império, o exército de Xerxes invadiu a Grécia dois anos
mais tarde. Depois de vencerem a resistência grega nas Termópilas, os
persas tomaram e incendiaram Atenas, mas foram derrotados na batalha
naval de Salamina. A derrota de Platéias, em 479 a.C., conduziu ao
abandono da Grécia pelas tropas persas. O próprio imperador perdeu o
interesse por novas conquistas e dedicou-se à vida palaciana nas capitais do
império até 465 a.C., quando foi assassinado.
Sucessores de Xerxes I. Artaxerxes I, imperador de 465 a 425 a.C., teve que
enfrentar uma nova rebelião no Egito, que levou cinco anos para ser
dominada. Depois do breve reinado de Xerxes II, que governou de 425 a 424
a.C., subiu ao poder Dario II, ocasião em que os governadores da Anatólia
souberam aproveitar habilmente a rivalidade entre Esparta e Atenas. Nas
guerras do Peloponeso, inicialmente a Pérsia ajudou Atenas, mas depois da
desastrosa campanha ateniense contra a Sicília, o império aquemênida
contribuiu para o triunfo final de Esparta.
História do Mundo Bíblico Antigo
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Artaxerxes II reinou de 404 a 359 a.C. e manteve a política de dividir as
cidades gregas. Uma revolta levou à independência do Egito, e o império
começou a se debilitar. No ano 401 a.C., pela primeira vez uma força militar
grega internou-se até o centro do império persa. Dez mil mercenários, sob o
comando de Xenofonte, deram apoio a Ciro o Jovem, que se rebelara contra
Artaxerxes II. Depois da derrota de Cunaxa, tiveram que empreender uma
longa retirada, narrada por Xenofonte em Anábasis, até voltarem a sua pátria.
Durante seu reinado, de 359 a 338 a.C., Artaxerxes III conseguiu reconquistar
o Egito, o que levou o faraó a fugir para a Núbia. Enquanto isso, uma nova
potência, a Macedônia, surgia nas fronteiras ocidentais do império. Seu rei,
Filipe II, depois de derrotar os gregos em Queronéia, em 339 a.C., conseguiu
manter toda a Grécia sob sua hegemonia.
Concluído o curto reinado de Arses (de 338 a 336), subiu ao poder o último
rei aquemênida, Dario III (336 a 330). A batalha de Granico, em maio de 334,
pôs o império persa em mãos do filho de Filipe, Alexandre o Grande. Dario III
foi assassinado pouco depois de fugir de Persépolis.
Significado histórico do império aquemênida. A formação e o
desenvolvimento do império aquemênida significaram a criação de um vasto
espaço político no mundo, no qual reinou uma tolerância até então
desconhecida. Os impérios anteriores -- o egípcio, o babilônio, o assírio -tinham uma visão política muito mais localista. O império aquemênida foi
precursor, em certa medida, dos sonhos universalistas de Alexandre e de
Roma. Graças a sua tolerância teve lugar nele, e a partir dele, uma
fermentação filosófica, científica, econômica e religiosa de vastas
conseqüências no mundo antigo.
O império aquemênida esteve na origem das nações mais antigas do mundo.
A lembrança do esplendor de Ciro e de Dario manteve-se presente ao longo
da história dos governantes do Irã. Isso ficou demonstrado durante a
comemoração solene, nas ruínas de Persépolis, antiga capital persa, dos
2.500 anos da monarquia persa, celebrada em 1971 pelo xá Mohamed Reza
Pahlevi.
2.17.9. Reino selêucida
Depois da morte de Alexandre, ocorrida na Babilônia em 323 a.C., o enorme
império por ele conquistado foi dividido entre seus generais. Seleuco I subiu
ao poder na Síria, na Pérsia, na Mesopotâmia e no noroeste do
subcontinente indiano, mas a dinastia selêucida, por ele fundada, não
conseguiu manter um controle eficaz sobre tão vasta área, que ficou
reduzida com a separação da região do Indo. Em 247 a.C., a província de
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Pártia tornou-se independente, e o soberano Ársaces fundou uma dinastia
que com o tempo haveria de reinar sobre a Pérsia.
O mais destacado dos imperadores selêucidas foi Antíoco III o Grande, que
reinou de 223 a 187 a.C. e estendeu os limites do império a leste e a oeste.
Em sua expansão para a Anatólia, ele entrou em conflito com Roma. Depois
da derrota sofrida em Magnésia frente aos romanos, em 190 a.C., o império
selêucida, pressionado em sua parte ocidental por Roma e na oriental pelo
reino dos partas, foi progressivamente se decompondo.
2.17.10. Império arsácida
O estado parto, fundado por Ársaces I, procurou, desde seu início,
restabelecer a tradição aquemênida. Mitrídates I, que governou entre 171 e
138 a.C., engrandeceu o reino parta à custa dos selêucidas, aos quais
arrebatou os territórios do Irã e da Babilônia. A partir de 140, os soberanos
arsácidas adotaram o título de rei dos reis, que tinha sido empregado pelos
imperadores aquemênidas. O domínio parta estendeu-se das margens do
Eufrates às do Indo.
Roma, que pretendia reconstruir o mítico império de Alexandre o Grande
tentou várias vezes subjugar o império arsácida. Finalmente, o imperador
romano Augusto concluiu, no ano 20 a.C., um tratado de paz com o arsácida
Fraates IV, que fixava o rio Eufrates como fronteira entre os dois impérios. A
paz durou pouco mais de um século, durante o qual o comércio de
caravanas, que unia China e Índia a Roma, através da Pérsia, registrou
extraordinário desenvolvimento.
Império sassânida. Ardashir I, que se dizia descendente dos grandes
imperadores aquemênidas, esteve à frente de um pequeno reino iraniano
entre os anos 224 e 241 da era cristã e ampliou seus domínios até apoderarse do império parta. Foi com Ardashir que teve início a dinastia sassânida,
que dominou um novo império persa até o ano 636, quando os árabes o
derrubaram em campanha tão violenta quanto a empreendida pelas tropas de
Alexandre contra o império aquemênida.
Interessados em restaurar o esplendor aquemênida, os sassânidas tinham
adotado o zoroastrismo como religião de estado, mas ao contrário do que
ocorrera durante o primeiro império persa, a intolerância religiosa foi muito
grande. Shapur I, que reinou entre 241 e 272, estendeu seu império do
Cáucaso até o Indo. Khosrau II, rei entre 591 e 628, chegou a apoderar-se,
por algum tempo, da Síria, da Palestina e do Egito.
Um novo império e uma nova religião surgiram na Arábia na terceira década
do século VII: o Islã. Senhores da Síria, os exércitos islâmicos invadiram a
História do Mundo Bíblico Antigo
61
Mesopotâmia, derrotaram os persas no ano 637 e se apoderaram da capital
imperial, Ctesifonte. O último soberano sassânida, Yezdegerd III, foi
derrotado definitivamente no ano 641 e morreu assassinado no exílio dez
anos mais tarde, ao tempo em que os invasores se apoderavam do planalto
iraniano.
2.18. Macedônia
2.18.1. Hegemonia macedônica e decadência
A dissolução da liga ateniense ocorreu ao mesmo tempo em que a
Macedônia começava a ascender, liderada por Filipe II. Depois de unificar o
reino, Filipe II iniciou uma política de expansão cujo primeiro objetivo foi
proporcionar ao país uma saída para o mar. As cidades que resistiram foram
destruídas. A conquista das minas de ouro do monte Pangeu forneceu os
recursos necessários para fazer da Macedônia uma potência.
O exército macedônico foi reorganizado por Filipe, que o dotou da famosa
falange e de equipamentos de guerra. Atenas não se opôs ao avanço
macedônico. Só mais tarde o orador Demóstenes concitou os cidadãos
atenienses a resistirem a Filipe, mas, juntamente com os tebanos, os
atenienses foram derrotados na decisiva batalha de Queronéia, em 338 a.C.
Filipe uniu todas as cidades gregas, com exceção de Esparta, e assumiu
pessoalmente o comando da confederação, o que na prática significou
submeter a Grécia à Macedônia.
Filipe foi assassinado em 336 a.C., quando se preparava para realizar a
conquista da Pérsia. Seu filho e herdeiro, Alexandre o Grande, que tinha
então vinte anos, transformou em realidade esse ambicioso projeto. Toda a
sociedade grega sofria então as conseqüências de suas próprias guerras
civis e dos confrontos com a Macedônia. O campo ficou devastado e os
pequenos proprietários rurais tenderam a desaparecer. Os mercenários se
converteram num mal inevitável que assolou o campo e as cidades. As
contínuas guerras provocaram a estagnação econômica, enquanto as classes
menos favorecidas esperavam a assistência do estado. Entre os intelectuais
do período, como Platão, Isócrates e Xenofonte, começou a ganhar forma a
idéia da unificação grega sob a liderança de um dirigente carismático.
Alexandre o Grande se propôs unificar sob seu poder todo o mundo
civilizado. Entretanto, antes de iniciar suas campanhas contra a Pérsia
precisava assegurar o domínio sobre as cidades gregas. Primeiramente,
conseguiu que a Liga de Corinto o nomeasse comandante supremo dos
gregos. Depois de submeter, em 335 a.C., os trácios e ilírios, que se haviam
sublevado, voltou-se contra Tebas, que também se rebelara e destruiu a
cidade, matando ou escravizando todos os seus habitantes. A Grécia
62
comprovou a impossibilidade de opor-se a Alexandre, que pôde então
empreender suas conquistas na Ásia. Depois de confiar a Antípatro a
regência da Macedônia e o governo da Grécia, cruzou o Helesponto.
Em 334 a.C., Alexandre atravessou a Ásia, desafiou Dario III e chegou à
Índia. Suas conquistas e seu projeto de construir uma ponte entre o oriente
bárbaro e a civilização grega constituíram a origem da chamada civilização
helenística, que se desenvolveu em grande parte da Ásia (Pérsia, Síria e
Índia) e no Egito. Assim, depois que a Grécia perdeu o poder e a
independência política, sua língua e sua cultura se tornaram universais.
Alexandre concebeu o plano de um império que resultaria da união de gregos
e persas, mas morreu de febre na Babilônia, em 323 a.C. Liderados por
Atenas, os gregos se revoltaram nesse ano contra a Macedônia na chamada
guerra lamiana, mas tiveram de capitular depois da derrota de Amorgos e a
Liga de Corinto foi dissolvida. O problema da sucessão de Alexandre arrastou
o país a novas guerras. Por fim, impuseram-se os antigônidas na Macedônia,
a monarquia selêucida no Oriente e a ptolomaica no Egito. Com isso, o
império dividiu-se definitivamente, embora os anseios de liberdade dos
gregos os levassem ainda a novas guerras e coligações, de êxito esporádico,
até a intervenção final e a ocupação do território pelos romanos.
2.19. Domínio romano
As primeiras relações dos romanos com as cidades gregas haviam sido
amistosas. Todavia, quando em 215 a.C. Filipe V da Macedônia aliou-se ao
cartaginês Aníbal, Roma resolveu intervir militarmente e obteve a vitória
contra os macedônios em Cinoscéfalas, no ano 197 a.C. Seguindo uma
política de prudência, Roma respeitou o reino macedônio e devolveu a
autonomia às cidades gregas. A partir de 146 a.C., porém, a Grécia ficou
submetida definitivamente ao domínio da república romana, embora tenha
continuado a manter a primazia espiritual sobre o mundo antigo.
2.19.1. Civilização Helenísticas
A era helenística marcou a transição da civilização grega para a romana, em
que inoculou sua força cultural. Não se encontra nela o esplendor literário e
filosófico do período áureo da Grécia, mas divisa-se um grande surto da
ciência e da erudição.
Chama-se civilização helenística a que se desenvolveu fora da Grécia, sob
influxo do espírito grego. Esse período histórico medeia entre 323 a.C., data
da morte de Alexandre o Grande, cujas conquistas militares levaram a
civilização grega até a Anatólia e o Egito, e 30 a.C., quando se deu a
conquista do Egito pelos romanos. Grande parte do Oriente antigo foi então
História do Mundo Bíblico Antigo
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helenizado e assistiu-se a uma fusão da cultura grega, revitalizada nas áreas
conquistadas, com as tradições políticas e artísticas do Egito, Mesopotâmia e
Pérsia.
Depois da morte de Alexandre, a transmissão da cultura grega persistiu nos
grandes centros urbanos, embora sofresse influência dos costumes orientais.
A tentativa de Antígono, um dos mais antigos generais de Alexandre, de
manter intacto o império conquistado pelo guerreiro macedônio, fracassou
após a batalha de Ipso, na Frígia (302 a.C.). A partilha do império foi feita
entre três generais: Seleuco Nicator, Ptolomeu Lagos e Lisímaco. As lutas,
entretanto, continuaram, e vinte anos depois o império foi dividido em três
estados independentes: o reino do Egito ficou com os lágidas, descendentes
de Ptolomeu; o da Síria, com os selêucidas, descendentes de Seleuco; e o da
Macedônia coube aos antigônidas, descendentes de Antígono.
Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole da
civilização helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a
própria literatura grega tem uma fase chamada “alexandrina”. Lá existiram as
mais importantes instituições culturais da civilização helenística: o Museu,
espécie de universidade de sábios, dotado de jardim botânico, zoológico e
observatório astronômico; e a biblioteca, com 200.000 volumes, salas de
copistas e oficinas para preparo do papiro.
O reino egípcio só terminou com a conquista de Otávio, no reinado de
Cleópatra. O reino da Síria abrangia quase todo o antigo império persa até o
rio Indo. A capital era Antioquia, outro grande centro da cultura helenística,
perto da foz do Orontes, no Mediterrâneo. Os selêucidas, entretanto, não
puderam manter a unidade de seu vasto império, que acabou conquistado
pelos romanos no século I a.C. Já o reino da Macedônia teve de enfrentar a
luta das cidades gregas, ciosas da defesa de sua autonomia, e acabou
incorporado ao Império Romano.
Do ponto de vista cultural, o período compreendido entre 280 e 160 a.C. foi
excepcional. Tiveram grande desenvolvimento a história, com Políbio; a
matemática e a física, com Euclides, Eratóstenes e Arquimedes; a
astronomia, com Aristarco, Hiparco, Seleuco e Heráclides; a geografia, com
Posidônio; a medicina, com Herófilo e Erasístrato; e a gramática, com
Dionísio Trácio. Na literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teócrito, cujas
poesias idílicas e bucólicas exerceram grande influência. O pensamento
filosófico evoluiu para o individualismo moralista de epicuristas e estóicos, e
as artes legaram à posteridade algumas das obras-primas da antiguidade,
como a Vênus de Milo, a Vitória de Samotrácia e o grupo do Laocoonte.
À medida que o cristianismo avançava, a civilização helenística passou a
representar o espírito pagão que resistia à nova religião. O espírito grego não
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desapareceu com a vitória dos valores cristãos; seria, doze séculos depois,
uma das linhas de força do Renascimento.
2.19.2. Roma antiga
Grande parte da organização do mundo moderno se deve ao império que
Roma foi capaz de construir há dois mil anos em torno do mar Mediterrâneo.
Os idiomas falados no sul da Europa, América Latina e outras partes do
mundo constituem uma das heranças diretas da civilização romana.
Sob o título Roma antiga estuda-se todo o dilatado período que compreende
as origens de Roma, no século VIII a.C., a fase monárquica, a república
romana e o império, até o ano 476 da era cristã, quando ocorre o fim do
Império Romano do Ocidente.
2.19.3. Origens da cidade
No século VIII a.C., duas grandes civilizações haviam lançado suas bases na
península itálica: nas terras onde posteriormente se localizaria a Toscana, as
avançadas cidades etruscas se aproximavam do auge de seu esplendor; no
sul da península e na Sicília, a chamada Magna Grécia implantava uma
cultura semelhante à da Hélade, em cidades como Tarento e Siracusa.
Os demais povos que habitavam a Itália, como os latinos e os samnitas,
dispersos entre aqueles dois grupos, encontravam-se num estágio pouco
desenvolvido de civilização. As aldeias que iriam formar a Roma dos reis e as
outras aglomerações rústicas do Lácio nos séculos IX e VIII a.C. partilhavam
língua e costumes religiosos e se unificaram mediante essa identidade
cultural.
Na parte central da península itálica, o rio Tibre, já próximo de sua
desembocadura, atravessava uma região de terras pantanosas, entre as
quais se destacavam algumas colinas cobertas de bosques. O local era
estratégico para os povos vizinhos: os latinos ali pastoreavam seus rebanhos;
os sabinos comerciavam o sal da costa e o transportavam rio acima; e os
etruscos afluíam do norte para vender seus produtos manufaturados às
populações ribeirinhas, menos desenvolvidas. Na colina do Palatino, às
margens do Tibre, estabeleceu-se em meados do século VIII um núcleo
populacional composto de agricultores e criadores de gado, entre os quais
devia haver também comerciantes.
Em épocas posteriores, diversos autores recolheram e deram forma literária a
antigas lendas sobre a fundação da cidade, que teve sua data fixada
convencionalmente em 753 a.C. Segundo essas lendas, o fundador, Rômulo,
História do Mundo Bíblico Antigo
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descendia do herói troiano Enéias e foi amamentado, junto com seu irmão
Remo, por uma loba, que se converteu no símbolo da cidade.
2.19.3. Monarquia
De acordo com as fontes tradicionais, sete reis governaram Roma ao longo
de dois séculos e meio, período durante o qual o território dominado pelos
romanos passou por uma paulatina expansão. Os quatro primeiros monarcas,
Rômulo, Numa Pompílio, Tulo Hostílio e Anco Márcio, parecem ser
totalmente lendários, e acredita-se que tanto seus nomes quanto seus feitos
foram imaginados e narrados muitos séculos após a fundação da cidade. Os
três últimos soberanos foram os etruscos Tarqüínio o Velho, Sérvio Túlio e
Tarqüínio o Soberbo, de existência mais documentada, cujos governos se
estenderam pela maior parte do século VI.
A monarquia etrusca coincidiu com uma época de notável progresso
econômico e cultural: os romanos, povo de mentalidade prática, adotaram o
alfabeto grego e o modificaram até criar o alfabeto latino, que seria
posteriormente utilizado por quase todos os idiomas do mundo. Tanto os
etruscos do norte quanto os gregos do sul tiveram influência significativa na
formação da cultura especificamente latina. Roma, que não passava de um
aglomerado de aldeias, converteu-se numa verdadeira cidade, na qual os reis
etruscos executaram grandes obras públicas: saneamento, construções de
templos e de locais públicos de reunião.
É provável que a expulsão dos etruscos tenha, na verdade, ocorrido vários
decênios depois de 509 a.C., a data convencionalmente fixada para sua
ocorrência. O último rei, Tarqüínio o Soberbo, foi deposto pelos cidadãos de
Roma, que instauraram então o regime republicano.
2.19.4. República
2.19.4.1. Patrícios e plebeus
Nos primeiros tempos da república, só os membros das famílias mais
poderosas habilitavam-se a participar do governo da cidade. Seu poder era
exercido pelo Senado, uma assembléia integrada pelos chefes das principais
famílias, que exerciam o cargo a título vitalício. As tensões entre patrícios e
plebeus fizeram com que estes últimos recorressem, por duas vezes, a
movimentos de secessão, mediante a retirada para fora dos muros de Roma
e a recusa de cumprir obrigações militares. Obrigado a aceitar suas
condições, o Senado acabou por autorizar a criação de assembléias de
plebeus. Essas assembléias nomeavam os tribunos da plebe, os quais
gozavam de imunidade e eram dotados de poderes para proteger o povo das
ações arbitrárias dos magistrados.
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Por volta de 450 a.C., o direito consuetudinário romano foi codificado pelos
decênviros (magistrados especialmente designados para essa missão) e
promulgada a Lei das Doze Tábuas, embrião do vasto corpo jurídico que
Roma legou ao mundo e que haveria de constituir a base dos sistemas
jurídicos modernos. A pressão dos plebeus levou a novas concessões, até
que, ao obterem acesso à dignidade sacerdotal, no ano 300 a.C., tornou-se
completa a igualdade jurídica entre todos os cidadãos da república.
2.19.5. Expansão territorial
A Roma monárquica havia integrado uma federação de cidades latinas.
Quando caíram os reis etruscos, as populações vizinhas deram início a um
movimento para exigir maior autonomia, o que obrigou Roma a intensificar
suas ações militares até reconstruir a antiga Liga Latina, dessa vez sob seu
predomínio. Ao longo do século V, Roma dominou diversos povos. A vizinha
cidade etrusca de Veios, principal rival de Roma, foi destruída em 396 a.C.,
ao fim de dez anos de guerra.
2.19.6. Invasão dos gauleses
No início do século IV, povos celtas procedentes da planície da Europa
central invadiram o norte da Itália e venceram os etruscos. Prosseguindo seu
avanço pela península, chocaram-se com as forças romanas junto ao rio Ália
e as derrotaram em 390 a.C. Os celtas apoderaram-se então de Roma e a
incendiaram ao abandoná-la, depois de reunir um grande saque. Roma se
recuperou rapidamente e em poucos anos se transformou na maior potência
da Itália central, ao mesmo tempo que as cidades etruscas entravam em
decadência, vítimas dos constantes ataques gauleses, que contribuíram para
arruinar sua civilização. Data dessa época a muralha Serviana, que protegia
uma Roma de dimensões já bastante consideráveis.
2.19.7. Conquista da Itália
A cidade de Cápua, situada na Campânia, a sudeste de Roma, solicitou sem
êxito a ajuda dos romanos para enfrentar os samnitas, seus inimigos. A
poderosa comunidade samnita infiltrada em Roma -- que se transformava
numa metrópole para a qual acorriam imigrantes das mais diversas etnias -conseguiu que a cidade de Roma se voltasse contra Cápua. Depois que esta
foi derrotada, os samnitas deram início a uma série de guerras contra seus
vizinhos, o que acabou por lhe valer o domínio da Itália. A segunda guerra
samnita, em que as forças romanas foram vencidas, terminou em 321 a.C.
com a chamada Paz Caudina, uma alusão ao humilhante desfile a que foram
obrigados os romanos derrotados pelo desfiladeiro samnita de Caudinae
Forculae. Entretanto, na terceira guerra samnita, de 298 a 290 a.C., as forças
História do Mundo Bíblico Antigo
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romanas conseguiram a esmagadora vitória de Sentino, contra uma coligação
formada por seus principais inimigos.
Todo o centro da Itália caiu então sob o poderio de Roma. O expansionismo
de Roma, já convertida em grande potência, voltou-se para as ricas cidades
gregas do sul da península. A poderosa Tarento caiu em suas mãos em 271
a.C. e logo toda a península itálica tornou-se romana.
Roma submetia as cidades dominadas a regimes jurídicos diversos.
Basicamente, respeitou as instituições governamentais de cada uma delas e
executou uma hábil política, concedendo, em alguns casos, a cidadania
romana a seus habitantes, embora sem direitos políticos na metrópole. O
resultado foi a conquista de um vasto território em que a ordem jurídica se
encontrava uniformizada e garantida, o que permitiu o incremento das
relações comerciais e a manutenção de um poderoso exército. Logo foram
construídas as primeiras grandes vias de comunicação terrestre e
estabelecido o domínio marítimo da costa da península. Cidadãos romanos
estabeleceram colônias, primeiro no Lácio e depois no resto da península
itálica, o que contribuiu para a integração do território.
2.19.8. Expansão mediterrânea
Em meados do século III, Roma -- senhora da península itálica -empreendeu a expansão que a tornaria dona do Mediterrâneo. Para isso, era
inevitável o confronto com um poderoso inimigo: Cartago. A cidade norteafricana dominava um extenso império comercial que incluía, além das costas
africanas, o sul da península ibérica, a Córsega, a Sardenha e a maior parte
da Sicília. Todas as três ilhas caíram em poder dos romanos após a primeira
guerra púnica, de 264 a 241 a.C. Mais tarde, Roma deu início à colonização
do vale do Pó e se impôs aos gauleses, os quais ali se estabeleceram no
século IV.
Também as costas orientais do mar Adriático caíram sob a influência romana
em conseqüência das campanhas empreendidas contra os piratas que
tinham suas bases no litoral de Ilíria. Uma nova guerra com Cartago -- a
segunda guerra púnica -- começou em 218 a.C. Quando chegou ao fim, em
201 a.C., a cidade africana havia deixado de ser uma potência rival, e grande
parte da península ibérica caiu, com suas riquezas minerais, em poder de
Roma. A terceira guerra púnica, de 149 a 146 a.C., terminou com a
destruição definitiva de Cartago e com a incorporação a Roma dos restos de
seu império.
Ao mesmo tempo em que estabelecia seu domínio sobre o Mediterrâneo
ocidental, Roma empreendeu a expansão pela zona oriental. A intervenção
na Macedônia e Grécia teve início na época da segunda guerra púnica, mas
68
a Macedônia só se tornou província romana em 148 a.C. Dois anos mais
tarde, a destruição de Corinto punha fim às aspirações de independência dos
gregos. Em 133 a.C., Átalo III, rei de Pérgamo, legou seu reino a Roma, com
o que os domínios da cidade chegaram pela primeira vez à Ásia. Somente no
início do século I a.C. Roma reiniciou sua expansão pela Anatólia, Síria e
Judéia.
A partir do ano de 125 a.C., com os ataques de címbrios e teutões à recémorganizada província Gália Narbonense, atual sul da França, teve início a
ocupação romana com o objetivo de estabelecer uma via de comunicação
terrestre entre a Itália e os domínios ibéricos. Esses povos, procedentes da
Jutlândia, desceram pela Europa central até chocar-se com as legiões
romanas, que foram por elas derrotadas em Orange, no ano 105 a.C. Ante a
lembrança da antiga invasão gaulesa, Roma reuniu todas as suas forças e o
cônsul Caio Mário conseguiu obrigar os invasores nórdicos a retroceder,
rechaçando os címbrios e teutões da Gália no período entre 105 a 101 a.C.
2.19.9. Evolução da sociedade romana
Depois que Roma se tornou centro de um grande território, os habitantes da
cidade, que nos primeiros tempos da república constituíam um povo sóbrio,
guerreiro e trabalhador, começaram a desfrutar as imensas riquezas
acumuladas. Desapareceu o serviço militar como direito e dever do cidadão.
As legiões começaram então a ser formadas com mercenários procedentes
de toda a Itália e, mais tarde, de todas as regiões dominadas, o que provocou
uma grande mistura de etnias e costumes. A Grécia foi saqueada e seus
tesouros artísticos enviados a Roma. As classes altas, a começar por
algumas famílias como a dos Cipiões, assimilaram a cultura helênica, que foi
protegida e imitada. Os prisioneiros de guerra constituíram um imenso
exército de escravos, cujo trabalho barato nas grandes propriedades e nas
manufaturas arruinou os camponeses e os artesãos livres da península
itálica.
O sistema econômico, muito monetarizado, permitiu notável acúmulo de
capital. Os grandes comerciantes e banqueiros romanos pertenciam em geral
à classe dos cavaleiros (equites), intermediária entre as grandes famílias que
dividiam as cadeiras do Senado e as classes baixas. O proletariado romano
transformou-se numa classe ociosa que vivia miseravelmente das
subvenções e distribuições de alimentos, freqüentava as termas e era
entretida com jogos públicos e circo. A própria Roma tornou-se uma grande
cidade parasita, que importava grande quantidade de mercadorias de luxo e
especiarias orientais, trigo da Sicília e do norte da África, azeite da Espanha e
escravos de todo o imenso território colonial. O velho sistema político
republicano, edificado por e para uma cidadania identificada com sua cidade,
era cada vez menos capaz de funcionar numa sociedade enriquecida que
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perdera seus ideais. Teve início assim um longo período de instabilidade
interna que só cessou quando a velha república romana se transformou em
império.
2.19.10. Ditaduras e guerras civis
As últimas décadas do século II registraram lutas sociais que tiveram como
protagonistas os irmãos Tibério e Caio Graco, eleitos tribunos da plebe.
Já não se tratava, como no início da república, da reivindicação de igualdade
de direitos por parte dos plebeus, mas do protesto do povo, reduzido à
miséria, contra os ricos e, muito especialmente, contra a nobreza senatorial,
proprietária da maior parte das terras da Itália.
Mais tarde, generais vitoriosos como Mário, vencedor dos címbrios e teutões,
e Sila, pacificador da Itália, aproveitaram o poderio de seus exércitos e sua
popularidade entre o povo para tentar apoderar-se do estado romano. O
Senado, temeroso de sua influência, interveio mais ou menos abertamente
contra eles. As classes altas tentavam consolidar as instituições republicanas,
enquanto o povo desejava, com determinação cada vez maior, um
governante único. Por outro lado, as possessões orientais, cuja influência no
mundo romano era considerável, careciam de tradição republicana e seus
habitantes consideravam natural o fato de serem governados por autocratas
divinizados.
A guerra social eclodiu na Itália quando os habitantes da península exigiram a
cidadania romana para terem acesso à distribuição das terras públicas. Em
91 a.C., estendeu-se pela península uma verdadeira guerra civil que só
terminou quando, ao fim de três anos, foi concedida a cidadania romana a
todos os italianos.
No ano 88 a.C. rebentou na Anatólia uma rebelião contra o poder de Roma.
O Senado confiou o comando do exército, encarregado de reprimi-la, a Lúcio
Cornélio Sila, mas a plebe romana o destituiu e colocou Mário em seu lugar,
o vencedor dos invasores bárbaros, que simpatizava com o partido popular.
À frente das tropas expedicionárias, Sila tomou Roma, desterrou Mário e
restabeleceu o poder senatorial. Quando Sila retomou o caminho da Ásia, os
partidários de Mário aproveitaram-se de seu afastamento para se apoderar
mais uma vez da capital. Após restabelecer a autoridade de Roma no
Oriente, Sila voltou à metrópole. Os partidários de Mário foram derrotados em
82 a.C. e se estabeleceu em Roma um regime ditatorial. No poder, Sila
fortaleceu a posição das classes altas e limitou as atribuições dos tribunos da
plebe, que foram privados do direito de veto, de convocação do Senado e de
apresentação de projetos de lei à assembléia sem autorização senatorial. Sila
deixou voluntariamente o poder em 79 a.C., pouco antes de sua morte.
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Em 73 a.C. eclodiu uma rebelião de escravos liderados pelo gladiador
Espártaco. Durante dois anos, um grande contingente de escravos rebeldes
colocou em perigo as próprias bases da república romana, até que foram
exterminados pelo exército, sob o comando de Pompeu. O mesmo cônsul
conseguiu a vitória na luta contra os piratas e nas guerras do Oriente, o que
lhe permitiu voltar triunfalmente a Roma. O Senado, temeroso de seu
prestígio, desautorizou seu trabalho legislativo no Oriente e sua promessa de
distribuir terras aos veteranos da guerra. Em represália, Pompeu se aliou a
dois outros líderes poderosos, Júlio César e Marco Licínio Crasso, para
enfrentar a nobreza senatorial.
O primeiro triunvirato, estabelecido em 60 a.C., manteve o equilíbrio de poder
durante vários anos, ao longo dos quais César promoveu a conquista das
Gálias e expedições além do Reno e do canal da Mancha. O Senado
procurou o apoio de Pompeu, em 52 a.C., para destruir o crescente poder de
César. Eclodiu então uma guerra civil e os partidários de Pompeu foram
derrotados em todas as regiões do mundo romano. César fez-se nomear
ditador perpétuo e assumiu plenos poderes. Em pouco tempo, modificou a
legislação romana, o censo de cidadãos e o calendário. A 15 de março de 44
a.C., foi assassinado por um grupo de senadores.
O Senado tentou recuperar seu antigo poder, mas a revolta do povo romano
após os funerais do ditador desencadeou novo período de lutas civis e
repressão. Em 43 a.C., constituiu-se um segundo triunvirato, integrado por
Marco Antônio, Marco Emílio Lépido e Caio Otávio (chamado depois
Augusto), que o Senado foi obrigado a reconhecer. Os triúnviros dividiram os
domínios de Roma, mas nem por isso cessaram as lutas internas. Lépido foi
neutralizado, Otávio ocupou habilmente o poder no Ocidente e Marco
Antônio, impopular em Roma devido a seu comportamento de déspota
oriental, foi derrotado em Actium (Áccio) em 31 a.C. Com sua morte, Otávio
tornou-se o único senhor de Roma. A queda de Alexandria e o suicídio da
rainha Cleópatra -- aliada de Marco Antônio -- deixaram o Egito em mãos de
Otávio, que o incorporou a Roma como patrimônio pessoal.
2.20. Império
2.20.1. Otávio Augusto
Depois de um século de lutas civis, o mundo romano estava desejoso de paz.
Otávio se encontrou na situação daquele que detém o poder absoluto num
imenso império com suas províncias pacificadas e em cuja capital a
aristocracia se encontrava exausta e debilitada. O Senado não estava em
condições de opor-se aos desejos do general, detentor do poder militar. A
habilidade de Augusto -- nome adotado por Otávio em 27 a.C. -- consistiu em
conciliar a tradição republicana de Roma com a de monarquia divinizada
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dos povos orientais do império. Conhecedor do ódio ancestral dos romanos à
instituição monárquica, assumiu o título de imperador, por meio do qual
adquiriu o imperium, poder moral que em Roma se atribuía não ao rei, mas
ao general vitorioso.
Sob a aparência de um retorno ao passado, Augusto orientou as instituições
do estado romano em sentido oposto ao republicano. A burocracia se
multiplicou, de forma que os senadores se tornaram insuficientes para
garantir o desempenho de todos os cargos de responsabilidade. Isso facilitou
o ingresso da classe dos cavaleiros na alta administração do império. Os
novos administradores deviam tudo ao imperador e contribuíam para
fortalecer seu poder. Pouco a pouco, o Senado -- até então domínio exclusivo
das antigas grandes famílias romanas -- passou a admitir italianos e, mais
tarde, representantes de todas as províncias. A cidadania romana ampliou-se
lentamente e somente em 212 da era cristã o imperador Marco Aurélio
Antonino, dito Caracala, reconheceu todos os súditos do império.
O longo período durante o qual Augusto foi senhor dos destinos de Roma,
entre 27 a.C. e 14 da era cristã, caracterizou-se pela paz interna (pax
romana), pela consolidação das instituições imperiais e pelo desenvolvimento
econômico. As fronteiras européias foram fixadas no Reno e no Danúbio,
completou-se a dominação das regiões montanhosas dos Alpes e da
península ibérica e empreendeu-se a conquista da Mauritânia.
O maior problema, porém, que permaneceu sem solução definitiva, foi o da
sucessão no poder. Nunca existiu uma ordem sucessória bem definida, nem
dinástica nem eletiva.
Depois de Augusto, revezaram-se no poder diversos membros de sua família.
A história salientou as misérias pessoais e a instabilidade da maior parte dos
imperadores da dinastia Júlio-Cláudia, como Caio Júlio César Germânico,
dito Calígula, imperador de 37 a 41, e Nero Cláudio César, de 54 a 68. É
provável que tenha havido exagero, pois as fontes históricas que chegaram
aos tempos modernos são de autores que se opuseram frontalmente a tais
imperadores.
Mas se a corrupção e a desordem reinavam nos palácios romanos, o império,
solidamente organizado, parecia em nada ressentir-se. O sistema econômico
funcionava com eficácia, registrava-se uma paz relativa em quase todas as
províncias e além das fronteiras não existiam inimigos capazes de enfrentar o
poderio de Roma. Na Europa, Ásia e África, as cidades, bases
administrativas do império, cresciam e se tornavam cada vez mais cultas e
prósperas. As diferenças culturais e sociais entre as cidades e as zonas
rurais que as cercavam eram enormes, mas nunca houve uma tentativa de
diminuí-las.
72
Ao primitivo panteão romano juntaram-se centenas de deuses e, na religião
como no vestuário e em outras manifestações culturais, difundiram-se
modismos egípcios e sírios. A partir de suas origens obscuras na Judéia, o
cristianismo foi-se aos poucos propagando por todo o império, principalmente
entre as classes baixas dos núcleos urbanos. Em alguns momentos, o rígido
monoteísmo de judeus e cristãos se chocou com as conveniências políticas,
ao opor-se à divinização, mais ritual que efetiva, do imperador. Registraramse então perseguições, apesar da ampla tolerância religiosa de uma
sociedade que não acreditava verdadeiramente em nada. O Império Romano
só começou a ser rígido e intolerante em matéria religiosa depois que adotou
o cristianismo como religião oficial, já no século IV.
O século II, conhecido como o século dos Antoninos, foi considerado pela
historiografia tradicional como aquele em que o Império Romano chegou a
seu apogeu. De fato, a população, o comércio e o poder do império se
encontravam em seu ponto máximo, mas começavam a perceber-se sinais
de que o sistema estava à beira do esgotamento. A última grande conquista
territorial foi a Dácia e na época de Trajano (98-117) teve início um breve
domínio sobre a Mesopotâmia e a Armênia. Depois dessa época, o império
não teve mais forças para anexar novos territórios.
2.20.2. Decadência do império
Uma questão que os historiadores nunca conseguiram esclarecer de todo foi
a da causa da decadência de Roma. Apesar da paz interna e da criação de
um grande mercado comercial, a partir do século II não se registrou nenhum
desenvolvimento econômico e provavelmente também nenhum crescimento
populacional. A Itália continuava a registrar uma queda em sua densidade
demográfica, com a emigração de seus habitantes para Roma ou para as
longínquas províncias do Oriente e do Ocidente. A agricultura e a indústria se
tornavam mais prósperas quanto mais se afastavam da capital.
No fim do século II, começou a registrar-se a decadência. Havia um número
cada vez menor de homens para integrar os exércitos, a ausência de guerras
de conquista deixou desprovido o mercado de escravos e o sistema
econômico, baseado no trabalho da mão-de-obra escrava, começou a
experimentar crises em conseqüência de sua falta, já que os agricultores e
artesãos livres haviam quase desaparecido da região ocidental do império.
Nas fronteiras, os povos bárbaros exerciam uma pressão crescente, na
tentativa de penetrar nos territórios do império. Mas se terminaram por
consegui-lo, isso não se deveu a sua força e sim à extrema debilidade de
Roma.
As cidades também começaram a entrar em decadência e os ricos burgueses
que habitavam os centros urbanos se viram às voltas com obrigações e
História do Mundo Bíblico Antigo
73
impostos cada vez mais altos. Em conseqüência, os proprietários rurais
voltaram para suas propriedades, onde se encontravam mais protegidos do
assédio do fisco imperial. O esvaziamento dos centros urbanos, muito intenso
na região ocidental, deixou o império sem sua base social. Voltou-se à
autarquia de cada território e o comércio decaiu. A navegação tornou-se mais
difícil. O poder do estado enfraqueceu e, em compensação, os grandes
proprietários rurais começaram a organizar pequenos exércitos privados e a
administrar a justiça em seus domínios.
O século III viu acentuar-se o aspecto militar dos imperadores, que acabou
por eclipsar todos os demais. Registraram-se diversos períodos de anarquia
militar, no transcurso dos quais vários imperadores lutaram entre si devido à
divisão do poder e dos territórios. As fronteiras orientais, com a Pérsia, e as
do norte, com os povos germânicos, tinham sua segurança ameaçada.
Bretanha, Dácia e parte da Germânia foram abandonadas ante a
impossibilidade das autoridades romanas de garantir sua defesa. Cresceu o
banditismo no interior, enquanto as cidades, empobrecidas, começavam a
fortificar-se, devido à necessidade de defender-se de uma zona rural que já
não lhes pertencia. O intercâmbio de mercadorias decaiu e as rotas terrestres
e marítimas ficaram abandonadas. Um acelerado declínio da população
ocorreu a partir do ano 252, em conseqüência da peste que grassou em
Roma.
Os imperadores Aureliano, regente de 270 a 275, e Diocleciano, de 284 a
305, conseguiram apenas conter a crise. Com grande energia, o último tentou
reorganizar o império, dividindo-o em duas partes, cada uma das quais foi
governada por um augusto, que associou seu governo a um césar, destinado
a ser o seu sucessor. Mas o sistema da tetrarquia não deu resultados. Com a
abdicação de Diocleciano, teve início uma nova guerra civil.
Constantino I favoreceu o cristianismo, que gradativamente passou a ser
adotado como religião oficial. A esclerose do mundo romano era tal que a
antiga divisão administrativa se transformou em divisão política a partir de
Teodósio I, imperador de 379 a 395, o último a exercer sua autoridade sobre
todo o império. Este adotou a ortodoxia católica como religião oficial,
obrigatória para todos os súditos, pelo edito de 380.
Teodósio I conseguiu preservar a integridade imperial tanto ante a ameaça
dos bárbaros quanto contra as usurpações. No entanto, sancionou a futura
separação entre o Oriente e o Ocidente do império ao entregar o governo de
Roma a seu filho Honório, e o de Constantinopla, no Oriente, ao primogênito,
Arcádio. A parte oriental conservou uma maior vitalidade demográfica e
econômica, enquanto que o império ocidental, no qual diversos povos
bárbaros efetuavam incursões, umas vezes como atacantes outras como
aliados, se decompôs com rapidez.
74
O rei godo Alarico saqueou Roma no ano 410. As forças imperiais, somadas
às dos aliados bárbaros, conseguiram entretanto uma última vitória ao
derrotar Átila nos Campos Catalaúnicos, em 451. O último imperador do
Ocidente foi Rômulo Augústulo, deposto por Odoacro no ano 476, data que
mais tarde viria a ser vista como a do fim da antiguidade. O império oriental
prolongou sua existência, com diversas vicissitudes, durante um milênio, até
a conquista de Constantinopla pelos turcos, em 1453.
2.20.3. Legado de Roma
A civilização romana foi original e criadora em vários campos: o direito
romano, codificado no século VI, ao tempo do imperador Justiniano,
constituiu um corpo jurídico sem igual nos tempos antigos e forneceu as
bases do direito da Europa medieval, além de ter conservado sua vigência,
em muitas legislações, até os tempos modernos. As estradas romanas,
perfeitamente pavimentadas, uniam todas as províncias do império e
continuaram a facilitar os deslocamentos por terra dos povos que se
radicaram nas antigas terras imperiais ao longo dos séculos, apesar de seu
estado de abandono. Conservaram-se delas grandes trechos e seu traçado
foi seguido, em linhas gerais, por muitas das grandes vias modernas de
comunicação. As obras públicas, tais como pontes, represas e aquedutos
ainda causam impressão pelo domínio da técnica e o poderio que revelam.
Muitas cidades européias mostram ainda em seu conjunto urbano os
vestígios das colônias romanas que foram no passado.
Se, em linhas gerais, a arte romana não foi original, Roma teve o mérito de
haver sabido transmitir à posteridade os feitos dos artistas gregos.
Os
poucos vestígios que sobreviveram da pintura romana mostram que as
tradições gregas continuavam vivas. Os temas indicam a crescente
preocupação religiosa, a serviço dos imperadores divinizados; referem-se,
principalmente, à imortalidade da alma e à vida de além-túmulo. O
cristianismo se valeu do Império Romano para sua expansão e organização e
depois de vinte séculos de existência são evidentes as marcas por ele
deixadas no mundo romano.
O latim, idioma que a expansão romana tornou universal, está na origem das
atuais línguas românicas, tais como o espanhol, o italiano, o português, o
francês, o catalão e o romeno. Depois de quase dois mil anos, pode-se ainda
falar de um mundo latino de características bem diferenciadas.
2.21. Israel
Após quase dois mil anos de dispersão por todo o mundo, em 1948 o povo
hebreu fundou um estado próprio na Palestina, região que tinha ocupado na
História do Mundo Bíblico Antigo
75
antiguidade e chamada durante a diáspora Erets Israel, a Terra de Israel. O
conflito com os árabes palestinos e com os países árabes vizinhos marcou as
primeiras décadas de existência do país.
Israel ocupa uma estreita faixa de terra no Oriente Médio. Seu nome oficial,
em hebraico, é Medinat Israel (Estado de Israel). O país faz fronteira com o
Líbano, ao norte; a Síria, a nordeste; a Jordânia, a leste e sudeste; e o Egito,
a sudoeste. É banhado a oeste pelo mar Mediterrâneo. Na fronteira com a
Jordânia, fica o mar Morto. Sua superfície é de 20.700 km2, excluídos os
territórios anexados após a guerra de 1967. Desde essa data, Israel ocupou
vários territórios que estavam sob a soberania de países vizinhos, como a
parte oriental da cidade de Jerusalém; a Judéia e a Samaria, ou Cisjordânia;
as colinas de Golan, antes dominadas pela Síria; e a península do Sinai e a
faixa de Gaza, sob controle egípcio. A península do Sinai foi devolvida ao
Egito em 1982 como parte do acordo de paz firmado entre os dois países. Em
1993, um acordo árabe-israelense devolveu aos palestinos a autonomia
sobre Jericó e a faixa de Gaza.
2.21.1. Geografia física
2.21.2. Geologia e relevo
O território israelense se divide em quatro grandes regiões naturais. A
primeira, no oeste, é a zona litorânea banhada pelo Mediterrâneo, com cerca
de 185km de comprimento e largura máxima de cerca de 35km. A segunda é
a região montanhosa, no norte e no centro do país. No norte estão as
montanhas da Galiléia, região mais alta do país, onde se eleva o monte
Meron (1.208m); mais ao centro, separadas das montanhas setentrionais
pela planície de Esdraelon, ficam as colinas da Judéia e Samaria. A terceira
região de características próprias é a fossa tectônica do mar Morto, que se
estende de norte a sul, a leste das montanhas da Galiléia, como continuação
da linha de falhas do leste da África conhecida como Grande Fossa Africana
(ou Rift Valley). A quarta região é constituída pelo Neguev, território triangular
que penetra no deserto, cujos vértices são, a leste, o mar Morto; a oeste,
Gaza; e ao sul, o golfo de Aqaba.
2.21.3. Clima e hidrografia
Israel apresenta grandes contrastes climáticos, pois se situa entre duas
zonas de influência distintas: no sul o clima é quente e desértico, no norte é
mediterrâneo. No litoral registra-se uma temperatura média anual de 20 a 21o
C, enquanto no sul ocorrem grandes oscilações térmicas entre o verão e o
inverno: 49o C em agosto e 15o C em janeiro. A pluviosidade na região seca
é de aproximadamente 25mm por ano, em contraste com 1.100mm
registrados no norte.
76
O rio mais importante de Israel é o Jordão, que entra no país pelo nordeste,
junto à fronteira com a Síria, verte suas águas no mar da Galiléia, prossegue
na direção sul, separando a Cisjordânia da Jordânia, e desemboca no mar
Morto. Outros cursos fluviais são o Iarkon, que deságua no Mediterrâneo,
próximo a Tel Aviv, e o Kishon, que corre através da planície de Esdraelon e
desemboca junto à cidade de Haifa.
2.21.4. Flora e fauna
Devido ao clima, a vegetação de Israel é escassa, e as florestas originais
desapareceram em quase todo o país em conseqüência da expansão
agrícola. Há vegetação de mata arbustiva (maquis), estepe arbustiva
(garrigues) e desértica, salvo no norte, onde crescem eucaliptos, coníferas de
reflorestamento e cítricos.
Na fauna, predominam animais de pequeno porte. Os maiores são a gazela,
o javali e a hiena. Além de pequenos mamíferos, como gatos selvagens,
texugos e lebres, há muitos répteis, como serpentes e lagartos. Entre as aves
destacam-se perdizes, garças, cotovias e cucos. Há reservas naturais na
Aravá e nos montes Carmelo e Har Meron.
2.21.5. População
Em Israel convivem diversos grupos étnicos formados pelos imigrantes que
primeiro habitaram o país e por seus descendentes. Quanto à religião
professada por esses grupos, os judeus são os mais numerosos, com mais
de oitenta por cento do total, seguidos dos muçulmanos. Há também cristãos,
drusos e outros grupos minoritários.
A maior parte dos judeus chegou em meados do século XX, procedentes de
todas as partes do mundo. Entre 1948 e 1970, o novo estado recebeu 1,3
milhão de judeus, dos quais 200.000 mais tarde o deixaram. No início,
agrupavam-se segundo a procedência, mas progressivamente, sobretudo
entre os jovens, criou-se uma consciência nacional judaico-israelense. Os
dois grupos mais numerosos são os praticantes do rito asquenazita, vindos
principalmente da Europa central, e os do rito sefaradita, ou oriental, que
vieram dos países mediterrâneos e asiáticos, descendentes dos judeus
expulsos da península ibérica no século XVI. A partir da década de 1970 o
fluxo de imigrantes decresceu, mas tomou novo impulso com a imigração em
massa, no início da década de 1990, de judeus provenientes da extinta União
Soviética. Quase toda a comunidade de judeus negros da Etiópia imigrou
para Israel nas décadas de 1980 e 1990.
Os muçulmanos concentram-se principalmente em algumas zonas do
Neguev e da Galiléia. Vivem nas cidades e, como os demais grupos
História do Mundo Bíblico Antigo
77
religiosos, gozam de autonomia em assuntos religiosos e civis, embora o
governo controle suas instituições. A maioria dos cristãos pertence a grupos
ortodoxos e católicos maronitas, que moram principalmente em Jerusalém.
Os drusos, que vivem na Galiléia, embora preservem sua identidade árabe,
colaboraram por muito tempo com a maioria judaico-israelense e com ela
mantêm excelentes relações. Outras minorias consideráveis são os adeptos
da fé Bahai, concentrados em Haifa, a seita muçulmana dos circassianos e
alguns samaritanos, que se agrupam na cidade de Holon.
As línguas oficiais são o hebraico, que no início do século XX já quase não se
falava nas comunidades judaicas, a não ser nos ofícios religiosos, e o árabe.
A chegada de imigrantes de todas as partes do mundo tornou comum o uso
das línguas por eles adotadas durante séculos: inglês, francês, alemão,
iídiche, russo, romeno, ladino (dialeto do espanhol falado pelos sefaraditas) e
outras.
A maior parte da população reside em núcleos urbanos pequenos. As
principais cidades são Jerusalém (Yerushalayim), não reconhecida por muitos
países como capital de Israel, Tel Aviv e Haifa.
Os territórios ocupados possuem baixas densidades demográficas e têm
população majoritariamente árabe. Em todo o país, os árabes têm
crescimento vegetativo maior que os judeus.
2.21.7. Economia
Nos anos que se seguiram à criação do Estado de Israel, diversos fatores
deram impulso a um grande desenvolvimento econômico. O alto grau de
qualificação profissional de muitos imigrantes e o investimento de capitais -procedentes dos Estados Unidos, de reparações por danos de guerra pagas
pela Alemanha, de remessas de divisas por parte dos imigrantes e de
créditos - somaram-se à adoção, pelo governo, de uma bem-sucedida política
econômica. A economia, porém, esbarrou em diversas dificuldades: o boicote
dos países árabes, o rápido crescimento da população, os elevados gastos
militares, a escassez de recursos naturais, a inflação e o mercado interno
restrito. Os impostos em Israel estão entre os mais altos do mundo, e isso,
junto com os fatores mencionados, permitiu uma vultosa arrecadação que
contribuiu para fortalecer o setor das empresas públicas. Além disso, o
governo apoiou a criação de cooperativas e, por meio de uma política
liberalizante, deu impulso ao setor privado, orientando essas atividades para
os objetivos econômicos fixados pelo estado.
78
2.21.8. Agricultura
A agricultura israelense está vinculada a dois fatores essenciais: a reforma
agrária e a irrigação. Num país em que predominavam latifúndios, foram
implantadas propriedades de três tipos: o kibutz, o moshav e o moshav
shitufi. O kibutz é uma propriedade coletiva, dirigida pela assembléia geral de
seus membros, que recebem moradia, alimentos, roupa e serviços sociais em
remuneração pelo trabalho. Esse esquema coletivista inicial foi, porém,
modificado com o tempo e hoje muitos kibutzim possuem indústrias anexas e
admitem trabalho assalariado. Os moshavim são aldeias formadas de
pequenas chácaras de cinco hectares em média, baseadas no trabalho
familiar com ajuda mútua, cujos produtos são comercializados por uma
cooperativa. O moshav shitufi é uma forma mista de propriedade e regime de
produção, que reúne características do kibutz e do moshav.
A agricultura é muito limitada pela escassez de água, embora uma vasta rede
de aqueduto s permita a irrigação das zonas áridas do sul. A totalidade do
potencial de água doce é aproveitada, e por isso qualquer aumento da
demanda requer medidas altamente onerosas, como a dessalinização da
água do mar ou a captação da água que se evapora nas zonas de cultivo. Os
produtos agrícolas mais importantes são cítricos, tomate, batata, trigo e
frutas.
2.21.9. Energia e mineração
A escassez de recursos naturais e de fontes de energia é um obstáculo ao
progresso da indústria israelense, o que levou à necessidade de orientá-la
para a alta tecnologia e soluções originais. Os recursos minerais mais
importantes são potassa, bromo, ácido fosfórico e fosfatos. Desde a década
de 1950 exploram-se alguns poços de petróleo. No Néguev existem
depósitos de gás natural. A energia elétrica provém de centrais térmicas, mas
também funcionam usinas nucleares.
2.21.10. Indústria
Vários setores industriais desenvolveram-se com grande rapidez: o eletrônico
e o de armamentos, motivados pelas necessidades militares; os transportes,
as indústrias de máquinas e a metalurgia. O setor industrial mais importante é
o de alimentos, a que se seguem os segmentos têxtil e químico. A quase
totalidade da indústria é privada.
Finanças e comércio. O sistema bancário israelense está altamente
especializado no financiamento dos diferentes setores da economia e
apresenta grande volume de negócios. Há bancos comerciais dedicados a
História do Mundo Bíblico Antigo
79
operações de pequeno vulto e instituições financeiras supervisionadas pelo
Banco Central de Israel para negócios de grande envergadura.
Israel exporta produtos químicos, tecidos, diamantes lapidados, fertilizantes.
Importa equipamentos e máquinas, além de combustíveis. A balança
comercial apresenta um persistente déficit, em parte devido ao isolamento
que impõem ao país os vizinhos árabes. Os principais parceiros comerciais
são os Estados Unidos e os países da Comunidade Européia.
2.21.11. Transportes
A rede rodoviária é mais importante que a ferroviária no sistema interno de
comunicações. O sistema de transportes marítimos tem rotas comerciais
para o exterior a partir dos portos de Haifa e Ashdod, no Mediterrâneo, e de
Eilat, no mar Vermelho. O principal aeroporto é o internacional de Lod.
2.21.12. Sionismo
Os hebreus ocuparam Canaã no segundo milênio antes da era cristã. Por
volta do ano 930 a.C., após a morte do rei Salomão, o estado hebreu, que
alcançara seu esplendor máximo sob o reinado de Davi, dividiu-se em dois,
Israel e Judá. O primeiro foi conquistado pelos assírios no ano 722 a.C., e o
segundo pelos babilônios, em 587 a.C. Persas, gregos e romanos ocuparam
posteriormente o território até que, no ano 70 da era cristã, os judeus foram
expulsos da Palestina e se dispersaram pelo Império Romano, dando início à
diáspora (dispersão). Nos séculos seguintes, a Palestina (para os judeus
Terra de Israel, ou Tsion, Sião) foi sucessivamente ocupada por bizantinos,
persas, árabes, cruzados, mamelucos, otomanos e britânicos. O desejo de
voltar à terra perdida foi constante na história do povo judeu desde a
diáspora.
Na época do Iluminismo, o filósofo judaico-alemão Moses Mendelssohn
liderou uma
corrente
de integração à cultura ocidental que foi bem
recebida pelos jovens judeus. Ao longo do século XIX, realizaram-se diversas
tentativas de criar um estado judeu. Mordecai Manuel Noah atuou nos
Estados Unidos e outros, como Laurence Oliphant, na Palestina. Nessa
época, os judeus da Europa ocidental se haviam integrado à sociedade maior
e eram por ela aceitos, mas no leste, sobretudo na Rússia, formavam
comunidades separadas, falavam sua própria língua, o iídiche, e sofriam
encarniçadas perseguições. Essa situação alimentou a tendência à
emigração em massa. As idéias de Leo Pinsker animaram judeus russos do
grupo Chovevei Tsion (Amantes do Sião) a imigrar para a Palestina e fundar
ali os primeiros estabelecimentos judaicos modernos.
80
No fim do século XIX, Theodor Herzl, jornalista judeu austríaco, reagiu ao
progressivo anti-semitismo europeu e deu novo impulso ao sionismo,
estruturando política e ideologicamente o movimento de retorno ao Sião. Sua
iniciativa rendeu os primeiros frutos no Primeiro Congresso Sionista,
realizado na Suíça em 1897, que fixou como objetivo primordial do
movimento a criação de um estado judeu na Palestina. Vários congressos
sionistas foram realizados nos anos seguintes, mas nem todos os judeus se
alinhavam no sionismo, pois alguns eram partidários da integração em seus
respectivos países e outros esperavam o retorno à Palestina, mas sob a
direção de Deus.
2.21.13. Colonização da Palestina
A repressão desencadeada na Rússia após o fracasso da revolução de 1905
estimulou a migração de novos grupos de judeus para a Palestina. O
movimento sionista considerava fundamental o estabelecimento de bases
legais para a colonização judaica do país. Aproveitando o confronto entre a
Turquia e o Reino Unido após a primeira guerra mundial, o centro do
movimento deslocou-se para Londres, com o objetivo de pressionar o
governo britânico a conseguir a cessão da Palestina, então sob domínio
turco. Em 1917, o secretário de assuntos exteriores do Reino Unido, Arthur
James Balfour, atendendo às solicitações de Chaim Weizmann e Nahum
Sokolov, enviou uma carta a Lord Rothschild, que contribuía financeiramente
com os Chovevei Tsion na Palestina. Conhecida como Declaração Balfour, a
carta expunha a disposição britânica de apoiar a criação de um estado
nacional judaico na Palestina. Em 1920, na Conferência de San Remo, a
declaração foi aceita pelos países aliados e, em 1922, a Liga das Nações
outorgou ao Reino Unido o mandato sobre a Palestina. Os britânicos
facilitaram então a imigração dos judeus, protegendo ao mesmo tempo os
direitos dos habitantes árabes.
Nos anos seguintes fortaleceu-se a colonização judaica e cresceu o número
de colônias fundadas pelos imigrantes na região. Os britânicos propuseram a
constituição de um governo misto árabe-judaico. Os árabes, porém, não
estavam dispostos a fazer concessões. Consideravam-se lesados em seus
interesses pelo aumento contínuo da população judaica, em parte provocado
pela perseguição de que eram vítimas os judeus na Alemanha nazista. Em
1936, após vários anos de conflitos, árabes e judeus enfrentaram-se na
primeira guerra aberta. No mesmo ano, uma comissão britânica chefiada por
Lord Robert Peel estudou a situação da Palestina e recomendou a partilha da
região em dois estados. Os árabes rejeitaram a proposta e renovaram seu
protesto armado, que foi combatido pelos britânicos. Em 1939 publicou-se
novo documento oficial (Livro Branco), pelo qual se faziam concessões aos
árabes e se limitavam a imigração e a expansão dos judeus.
História do Mundo Bíblico Antigo
81
Com o início da segunda guerra mundial, os nazistas se apoderaram da
Europa e recrudesceu a perseguição aos judeus, provocando sua fuga em
massa. Em 1942, os imigrantes judeus excediam todos os limites
estabelecidos pelos britânicos na Palestina. O movimento sionista ramificouse e surgiram novos grupos paramilitares extremistas que, nos últimos anos
da guerra, realizaram atos de sabotagem contra a administração britânica, a
que acusavam de traição.
2.21.14. Independência
Em maio de 1942, um congresso sionista realizado em Nova York pediu que
se levantassem as restrições à imigração judaica para a Palestina. Os
americanos propuseram a partilha da região, mas os britânicos se opuseram.
Em novembro de 1947, terminada a segunda guerra mundial, a Organização
das Nações Unidas (ONU) aprovou a partilha. A Liga Árabe se opôs à
decisão e se preparou para a guerra.
Em 14 de maio de 1948 foi proclamado o Estado de Israel, com David BenGurion como primeiro-ministro. Os britânicos declararam findo seu mandato e
se retiraram do país, que foi imediatamente invadido pelos árabes pelo leste
e pelo sul, o que deu início à guerra da Palestina. O conde Folke Bernadotte
of Wisborg, enviado pelas Nações Unidas como mediador, conseguiu uma
breve trégua nos combates, mas foi assassinado por terroristas judeus. Em
1949, o diplomata americano Ralph Johnson Bunche conseguiu que fossem
assinados separadamente armistícios entre Israel e cada um dos países
árabes, mas os israelenses conservaram os territórios que haviam ocupado,
exceto a faixa de Gaza e a Cisjordânia, que permaneceram em mãos dos
árabes. Nenhum estado palestino foi criado nos territórios: a Transjordânia
anexou a Cisjordânia, formando o reino da Jordânia, e o Egito ocupou a faixa
de Gaza.
Seguiram-se conflitos bélicos, incursões terroristas palestinas nas fronteiras e
boicote dos países árabes. O bloqueio egípcio do estreito de Tiran à
navegação israelense no golfo de Aqaba levou à guerra de Suez, em 1956,
quando Israel, numa operação coordenada com uma ação franco-britânica,
invadiu o Sinai e chegou ao canal. O Sinai foi devolvido ao Egito, mas abriuse o Tiran e forças da ONU foram dispostas no Sinai para garantir a trégua.
No início da década de 1960, cresceu a tensão em função dos ataques
árabes na fronteira da Síria, que contava com o apoio dos países árabes. Em
maio de 1967 esses países, especialmente Egito, Síria e Jordânia,
organizaram uma aliança antiisraelense. O presidente egípcio, Gamal Abdel
Nasser, pediu e obteve a retirada das forças da ONU do Sinai e de novo
bloqueou o estreito de Tiran aos navios de Israel. Em 5 de junho foi
desencadeada a guerra dos seis dias, com ataque da aviação israelense às
posições árabes. Com a vitória israelense, o Sinai, a faixa de Gaza, a Judéia,
82
Samaria, o Golan e a parte oriental de Jerusalém ficaram sob controle de
Israel.
Os palestinos, sobretudo por meio da Organização para a Libertação da
Palestina (OLP), continuaram as ações contra os interesses israelenses e em
favor do estabelecimento de um estado próprio. Utilizavam a Jordânia como
base de muitas operações, o que provocou a represália israelense contra
objetivos jordanianos. Finalmente, em setembro de 1970, denominado pelos
palestinos “setembro negro”, o rei Hussein da Jordânia expulsou os líderes da
OLP, que instalaram sua base no Líbano.
Em 1973, o Egito e a Síria, que haviam reforçado seus exércitos, planejaram
uma estratégia conjunta e atacaram simultaneamente Israel, no Iom Kipur
(dia do perdão). Após derrotas iniciais, que causaram violento trauma na
sociedade israelense, as forças armadas de Israel passaram à ofensiva.
Em 1977, uma surpreendente visita a Israel do presidente do Egito, Anuar alSadat, deu início ao processo que levou, após trinta anos de guerra, à paz
entre os dois países. Esse processo de paz conduziu a uma reunião em
Camp David, nos Estados Unidos, entre o primeiro-ministro de Israel,
Menahem Begin, e Sadat. O acordo final de paz, em 1979, foi rejeitado pelos
demais países árabes, que romperam relações com o Egito.
Em 1982, após uma intensificação dos atos de terrorismo e dos conflitos na
fronteira, Israel invadiu e ocupou por algum tempo o sul do Líbano, a fim de
acabar com as bases palestinas na região. No ano seguinte, Begin renunciou
e foi substituído por Iitzhak Shamir. Em 1984, um governo de união nacional
chefiado por Shimon Peres empreendeu uma política moderada destinada a
recuperar a economia e a buscar a paz no Oriente Médio. Conforme o acordo
feito, Shamir reassumiu o cargo em 1986. Em 1992, a vitória trabalhista fez
de Yitzhak Rabin o primeiro-ministro. Em 13 de setembro de 1993, Rabin e
Yasser Arafat, líder da OLP, selaram um histórico acordo de paz que deu
início a um processo de normalização de relações diplomáticas entre Israel e
a maior parte dos países árabes. No entanto, nem todos apoiaram o acordo;
sucederam-se atentados terroristas, e Rabin foi assassinado por um
israelense em 1995. Nas eleições de maio de 1966, o bloco conservador
Likud venceu por pequena margem, e seu líder, Benjamim Netayahu, tornouse primeiro-ministro.
2.21.15. Instituições políticas
Israel é uma república parlamentarista democrática. O órgão legislativo é o
Knesset (Parlamento) com 120 membros eleitos a cada quatro anos. Os
membros do executivo formam o gabinete, liderado pelo primeiro-ministro,
indicado pelo presidente do estado após consulta a todas as forças políticas
História do Mundo Bíblico Antigo
83
representadas no Parlamento. Em geral, o primeiro-ministro pertence à
agrupação política que ocupa maior número de cadeiras parlamentares. O
presidente é eleito a cada cinco anos pelo Knesset e só pode ser reeleito
uma vez.
Os partidos políticos israelenses costumam formar coalizões, ou frentes, para
participar de eleições ou formar maioria parlamentar que permita governar.
Desde a criação do estado, o Partido Trabalhista (Mapai e, mais tarde,
Avodá) venceu todas as eleições até ser derrotado pelo bloco de direita
chamado Likud, em 1977. Na década de 1980, o Avodá e o Likud
colaboraram num governo de união nacional. Em 1992, o Avodá venceu as
eleições e passou a comandar a coalizão.
2.21.16. Sociedade e cultura
A estabilização sociocultural da comunidade israelense foi prejudicada
historicamente pelo contínuo conflito com os árabes. O governo mantém
serviços públicos de saúde e supervisiona os serviços particulares. O ensino
é obrigatório e gratuito de cinco a 15 anos de idade, e há escolas especiais
encarregadas da integração dos imigrantes adultos. Pode-se escolher entre
educação leiga ou religiosa. Entre as várias instituições de ensino superior
destacam-se a Universidade Hebraica de Jerusalém, inaugurada em 1925, a
de Tel Aviv e o Instituto Hebraico de Tecnologia (Technion), em Haifa, de
1924. O estado se identifica com a cultura e a religião judaicas, mas garante
liberdade de culto a todas as religiões.
A sociedade israelense tem na organização militar uma característica
singular. O serviço militar é obrigatório para homens e mulheres judeus, mas
não para os árabes. As unidades militares são controladas pelo Exército de
Defesa de Israel (Tsahal).
Por terem sido os judeus um povo disperso pelo mundo durante séculos, sua
cultura foi enriquecida pelas contribuições das comunidades em que viviam.
Sobre essa base formou-se a vida cultural em Israel. Parte do antigo folclore
hebraico perdeu-se, mas o que ainda se conserva é protegido pelo estado. A
Orquestra Filarmônica de Israel tem prestígio internacional. As artes plásticas
são muito influenciadas pela arte européia, embora tenham surgido
movimentos especificamente judaicos. Na literatura, que busca um caminho
entre a expressão judaica e os problemas contemporâneos de Israel,
destacam-se entre os muitos nomes importantes os do poeta Abraham
Shlonsky e Shmuel Yosef Agnon, Prêmio Nobel de 1966. Entre as instituições
culturais estão a Academia da Língua Hebraica, fundada em 1954, e a
Academia de Ciências e Humanidades de Israel, criada em 1960.
84
A maior parte dos numerosos jornais e programas de rádio são veiculados
em hebraico e em árabe, mas também há exemplares e seções em muitas
outras línguas faladas pelos imigrantes. A televisão só transmite em hebraico
e árabe.
Referências
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AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 5ª ed., São Paulo:
Melhoramentos, 1971.
BANCROFT, Emery H. Teologia Elementar. São Paulo: Imprensa Batista
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CUVILLIER, A. Manual de Filosofia. 1ª ed., Educação Nacional de Adolfo
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