Volume 3 Número 24 31 de julho de 2005 GBETH Newsletter de Tumores Hereditários de Estudos o r i e l i s Uma o Bra publicação semanal do Grup Publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 Site http://www.gbeth.org.br E-mail [email protected] Editor Erika Maria M Santos Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico André Vettote Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Conselho Científico Beatriz de Camargo José Cláudio C Rocha Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Samuel Aguiar Jr Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos Câncer de Pâncreas Familiar em Judeus Benedito Mauro Rossi Departamento de Cirurgia Pélvica - Hospital do Câncer A.C. Camargo LYNCH HT, DETERS CA, LYNCH JF, BRAND RE. FAMILIAL PANCREATIC CARCINOMA IN JEWS. FAM CANCER 2004;3:233-240. São diagnosticados 170.000 novos casos/ano de câncer de pâncreas (PC) no mundo. Representam 2,1% dos casos de câncer. Nos Estados Unidos da América, a incidência de câncer de pâncreas em 2003 foi de 30.700 casos, com mortalidade de 30.000. Em Israel, em 2003, a incidência de câncer de pâncreas foi de 554 casos, com 514 óbitos pela doença. Entre 80% e 90% dos casos são irressecáveis, e como resultado o case-fatality ratio é 0,9. O risco de câncer de pâncreas em países desenvolvidos é 1%. É estimado que entre 5% e 10% dos tumores de pâncreas apresentem padrão familiar. A taxa padronizada por idade da incidência de câncer de pâncreas entre os judeus de Israel é 7,2 para o sexo masculino e 5,7 para o sexo feminino; já a incidência do câncer de pâncreas entre os não-judeus de Israel é 4 para o sexo masculino e 2,9 para o sexo feminino, demonstrando que o câncer de pâncreas é um pouco mais freqüente entre os judeus. Esta revisão apresenta os resultados de estudos sobre o câncer de pâncreas familiar e as implicações para indivíduos judeus. Ghadirian et al. em estudo caso-controle populacional verificaram que 7,8% dos pacientes com PC tinham antecedentes familiares de PC, enquanto que 0,6% dos controles tinham antecedentes familiares de PC, representando uma diferença 13 vezes superior. Falk et al. em 1988 em estudo epidemiológico nos Estados Unidos verificaram risco aumentado de PC em pessoas com um familiar de primeiro grau com qualquer câncer (OR=1,86 95% CI=1,41-2,44) e alto risco de PC em pessoas com um familiar de primeiro grau PC (OR=5,25 95% CI=2,08- Câncer de Pânceas Familiar em Judeus 2 13,21). taxa mais elevada de PC em judeus Ashkenazi. Em estudo italiano em 1994, Fernandez et al. verificaram que o antecedente familiar de PC é associado ao aumento do risco de PC, após ajuste por por tabagismo, álcool, dieta e antecedentes pessoais (OR=2,8 95% CI=1,3-6,3). Além da maior freqüência de PC, estudos observaram aumento na freqüência de mutação no BRCA2. Goggins et al., em 1996, avaliaram 41 casos de PC aleatoriamente e identificaram mutações de BRCA2 em quatro pacientes (~10%), destas três eram germinativas e dois indivíduos eram judeus Ashkenazi. A freqüência de mutações germinativas em casos aparentemente esporádicos é semelhante à observada nos tumores de mama e ovário. Bartsch et al. em uma revisão em 2003, verificaram que o primeiro estudo sobre câncer de pâncreas familiar foi publicado por Lynch et al. em 1989, e atualizado em 1990 e 1996. O estudo avaliou 18 probandos com câncer de pâncreas e foram observadas características semelhantes à população, sem padrão de associações com outros carcinomas. Hruban et al., em 1999, investigou as características patológicas do PC. Verificaram que algumas lesões ductais são precursoras de PC, que apresentam as mesmas alterações moleculares, tais como ativação de K-ras, inativação de p16, p53, e raramente BRCA2. Este estudo levou ao desenvolvimento de um modelo no qual “pancreatic intraepithelial neoplasms” (PanIN) progridem para adenocarcinoma invasivo. O PC pode estar associado com diversas síndromes hereditárias de predisposição ao câncer: 1) câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC), associado a mutações em genes de reparo, especialmente o hMLH1 e o hMSH2; 2) síndrome mama-ovário hereditário, com mutações no BRCA2; 3) pancreatite hereditária, associada a mutações no gene do tripsinogênio catiônico; 4) síndrome de PeutzJeghers, relacionada a mutações no gene STK11; 5) síndrome do melanoma atípico familiar (FAMMM), relacionada a mutações no CDKN2A; e 6) câncer de pâncreas hereditário, com locus de susceptibilidade identificado no cromossomo 4q32-34. Feldman, realizou busca no MEDLINE e identificou estudos que demonstravam uma Em 2003, Hahn et al. avaliaram 26 famílias européias com pelo menos dois familiares de primeiro grau com PC e realizaram seqüenciamento de DNA genômico (linfócito). Identificaram cinco mutações germinativas em BRCA2 (19% 95% CI=7%-39%). Estes autores propuseram que mutações germinativas no BRCA2 podem desempenhar um papel importante no câncer de pâncreas familiar. No entanto, dois estudos não identificaram mutações no BRCA2 em famílias com PC mas sem história de câncer de mama. Naderi e Coach em revisão sobre BRCA2 e PC, indicaram que grande parte dos pacientes com PC e mutações em BRCA2 são judeus Ashkenazi, e que apresentam PC em idade mais precoce, e geralmente, não tem antecedentes familiares de câncer de mama ou ovário. Mutações específicas também foram avaliadas. Figer et al. em 2001 avaliaram a presença da mutação 6174delT no BRCA2 e predisposição à câncer do trato gastrintestinal (exceto cólon) em 70 famílias de judeus Ashekenazi. Verificaram aumento no risco de câncer de pâncreas (OR 28,4 95% CI=3,7-44,2), vias biliares (OR 28,4 95% CI=2,9-277,2) e estômago (OR 5,2 95% CI=1,2-22). Kiffmayer et al. em 2004 avaliaram a presença da mutação 6174delT no BRCA2 em 39 pacientes judeus Ashkenazi com câncer, sem antecedentes familiares de câncer de mama ou pâncreas em familiares de primeiro grau. Observaram quatro GBETH Newsletter 2005; v 03 n 24 Câncer de Pânceas Familiar em Judeus mutações germinativas (15% 95%CI 3%-24%). Murphy et al., em 2002, estudaram 29 famílias com três ou mais casos de PC, e em 5 encontraram mutações germinativas em BRCA2, das cinco mutações identificadas, três eram famílias de judeus Ashkenazi com variante 6174delT. Lal et al. avaliaram 102 casos de PC não selecionados com questionário prospectivo de antecedentes familiares (heredograma com 3 gerações) e pesquisaram mutação nos genes BRCA1, BRCA2, MSH2, MLH1 e p16 nos pacientes com antecedentes pessoais ou familiares de PC. Nos 38 casos de risco alto/intermediário segundo a história familiar foram identificadas mutações em 5: um caso de mutação no p16 (I49S); um caso de mutação no BRCA1 (5382insC) – família Ashkenazi e três casos de mutação no BRCA2 (6174delT) também em famílias Ashkenazi. O PC é uma doença com alta mortalidade, assim a detecção precoce é um dos mecanismos para a redução na mortalidade. A procura de biomarcadores para identificação de indivíduos sob risco, em conjunto com estudos de heredograma pode levar ao diagnóstico precoce. Os autores referem que o acompanhamento de pacientes sob risco apresenta muitas limitações, pois não há método adequado e os achados 3 de exames de imagem podem ser de doenças benignas. Sugerem a ultrassonografia endoscópica de pâncreas anualmente, com inicio 10 anos antes do caso mais jovem da família. Referem que o exame deva ser realizado em conjunto com a coleta de suco pancreático como parte de um protocolo de pesquisa para o desenvolvimento de potenciais marcadores tumorais. Em razão da baixa freqüência do PC familiar é mandatório o estabelecimento de registros. Nos Estados Unidos o National Familial Pancreatic Tumor Registry (NFPTR) e o Pancreatic Cancer Genetic Epidemiology Consortium (PACGENE) são exemplos de colaborações para o estudo do PC. Há também registros na Europa: Europa German National Case Collection for Familial Pancreatic Cancer of the German Cancer Foundation (FaPaCa) e European Registry of Hereditary Pancreatitis and Familial Pancreatic Cancer (EUROPAC). O critério para inclusão no FaPaCa é a existência de dois casos de PC em familiares de primeiro grau confirmados histologicamente. Os autores concluem que são necessárias pesquisas adicionais para confirmar o excesso de casos de PC em judeus e sua base molecular. . GBETH Newsletter 2005; v 03 n 24