BIOMASSA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS NO RESERVATÓRIO

Propaganda
BIOMASSA DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS NO
RESERVATÓRIO DE XINGÓ, SE/AL
Cassio Rafael Campos de França1, Valeria Veronica dos Santos2, David de Oliveira Freire1 e Alfredo Matos Moura
Junior3, Wiliam Severi4, Karine Matos Magalhães5

Introdução
Macrófitas aquáticas são plantas visíveis a olho nu,
possuindo suas partes fotossinteticamente ativas
durante alguns meses ou todo o ano [1]. Esta vegetação
esta caracterizada por plantas que vão desde algas até
angiospermas [2], as quais possuem diversas formas de
vida, tais como flutuantes fixas ou livres, submersas
fixas ou livres, epífitas, semi-aquáticas ou emergentes
[3].
As macrófitas aquáticas são consideradas a principal
fonte produtora de matéria orgânica em ambientes
aquáticos [4], as mesmas tem um papel importante na
ciclagem de nutrientes [5], servem de abrigo para
diversos tipos de organismos [3], são bioindicadoras de
poluição e também usadas na alimentação animal,
despoluição de ambientes e controle da erosão hídrica
[6]. No entanto a rápida proliferação destas plantas
acarreta sérios problemas ao ambiente, afetando a
atividade pesqueira, a navegação, a captação de água,
assim como em reservatórios hidroelétricos com
potencial gerador de energia estas plantas causam o
entupimento de canais, das grades de retenção e
danificam as tubulações [7].
Diante da sua importância e risco inerentes aos seres
humanos, o presente trabalho teve por objetivo
verificar o status da comunidade de macrófitas
aquáticas do reservatório de Xingó, SE/AL, através de
levantamento taxonômico e determinação de sua
biomassa.
Material e métodos
O reservatório de Xingó está localizado entre a
latitude 9º37’S e longitude 37º47’O, cerca de 179 km
da foz do rio São Francisco [8], situando-se entre os
estados de Sergipe e Alagoas. Este reservatório possui
uma reduzida área de borda e pode atingir até 60 m de
profundidade. As coletas foram realizadas em três
estações de coleta, sendo estas estações definidas
através de GPS (Global Program System) modelo
Garmim nos meses de dezembro de 2008 (período
seco) e abril de 2009 (período chuvoso).
Foram utilizadas transeções de quinze metros a partir
da margem com três repetições nas estações XIMF04 e
XIMF05, já na estação XIMF03 foram lançados três
quadrados devido a configuração da área. As amostras
foram coletadas utilizando-se quadrados metálicos de
50x50cm lançados de forma aleatória, nos quais toda a
amostra da planta foi recolhida, ensacada, etiquetada e
refrigerada, de forma a conservá-las para serem
transportadas ao Laboratório de Ecologia de
Ecossistemas Aquáticos (LEAQUA) da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Em laboratório as espécies em cada amostra foram
identificadas e separadas por espécies, lavadas e
levadas à estufa para secagem a uma temperatura
constante de 60ºC até atingirem uma massa constante
para obtenção da biomassa. Os dados de biomassa seca
média obtidos serão apresentados em g.ps.m-2, com
média e desvio-padrão.
Resultados
Apenas duas espécies de macrófitas foram
encontradas nas estações de coleta ao longo do
Reservatório de Xingó, Egeria densa Planch. e
Cladophora sp. Kützing, as quais pertencem às famílias
Hydrocharitaceae e Cladophoraceae, respectivamente.
E. densa é uma erva aquática que pode ser submersa
fixa ou flutuante livre, podendo atingir até 12m de
comprimento de acordo com a região eufótica, é perene
ou anual, apresenta raiz fasciculada, folhas simples e
inflorescência unissexuada. A Cladophora sp. é uma
alga filamentosa ramificada com hábito prostrado e
pode se desenvolver dentro ou sobre o talo de outras
plantas, como pode ser observado em Xingó, onde esta
espécie epífita Egeria densa.
E. densa foi encontrada em todas as estações nos
dois períodos de coleta. Os valores de biomassa da
Egeria densa variaram entre 10±10 e 760±70 g.ps.m-2
(Tab. 1; Fig. 1 e 2) nos períodos chuvoso e seco,
respectivamente na estação XIMF03, havendo
________________
1. Aluno do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Departamento de Biologia, Área de Ecologia, Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife/PE. CEP: 52171-900. E-mail: [email protected]
2. Alunos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Departamento de Biologia, Área de Ecologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua
Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife/PE. CEP: 52171-900.
3. Professor Adjunto do Departamento de Pesca e Apicultura, Área de Limnologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de
Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife/PE. CEP: 52171-900.
4. Professor Adjunto do Departamento de Pesca, Área de Pesca, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n –
Dois Irmãos, Recife/PE. CEP: 52171-900.
5. Professora Adjunto do Departamento de Biologia, Área de Ecologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros,
s/n – Dois Irmãos, Recife/PE. CEP: 52171-900.
Apoio financeiro: CHESF e FADURPE
diferença significativa para (p=0,001; T=2,91) entre os
períodos. Nas demais estações não houve diferença
significativa para os valores de biomassa nos períodos
seco e chuvoso para XIMF04 e XIMF05, (p>0,5; t =
1,83 e t = 2,91 respectivamente). Entre estações
também
não
foram
observadas
diferenças
significativas.
Na estação XIMF05 não houve registro de
Cladophora sp., tanto para o período seco quanto para
o chuvoso. Para Cladophora sp. os valores médios de
biomassa variaram entre 150±60 e 480±350 g.ps.m-2
(Tab. 1; Fig. 1 e 2) nas estações XIMF04 e XIMF03,
respectivamente durante o período seco. Não houve
diferença significativa entre os períodos seco e chuvoso
(p=0,15, t=2,91 estação XIMF03; p=0,45, t=1,76
estação XIMF04), Comparando as duas estações fio
possível observar diferença significativa, onde
(p=0,035; t=1,94).
Discussão
O baixo número de especies nas estações de
biomassa se deve, provavelmente, ao fato do
reservatório apresentar uma área de borda reduzida e
em determinados locais uma profundidade que pode
atingir até 60m, o que dificultaria a colonização por
outras espécies. Carrillo et al. [10] estudando a
distribuição da biomassa de E. densa no reservatório de
Neusa na Colômbia observaram uma ocupação dessa
espécie em até 7m de profundidade. Conforme a
configuração da área do reservatório de Xingo, que em
determinados locais chega a ter cerca de 60m de
profundidade, somando a reduzida área de borda, a
dominância de E. densa seria esperada..
Os valores obtidos nas estações de coleta para E.
densa foram maiores nos locais onde ela se encontrava
epifitada pela Cladophora sp., o que vem a ser
diferente do constatado por Nascimento et al. [9] em
seu estudo com E. densa no Complexo Hidroelétrico de
Paulo Afonso [9], quando os mesmos afirmam que esta
espécie não teve uma boa produtividade quando
associada a microalgas perifíticas. No presente estudo,
o que pode ter acontecido é um rápido crescimento da
planta para alcançar luz, o que resulta numa maior
biomassa.
Carrillo et al. tiveram uma biomassa média estimada
em suas áreas de coleta entre 522 e 543 g.m-2 [10],
valores estes semelhantes aos observados nas estações
de coleta no período seco, enquanto que para o período
chuvoso, estes valores se encontram acima do
encontrado. Os valores médios mais altos encontrados
para o presente estudo se assemelham aos encontrados
por Chagas et al [11] num experimento realizado na
Lagoa do Campelo, RJ, onde os autores obtiveram
biomassa média de 792,16 g.m-2 para E. densa.
Os dados obtidos no presente trabalho demonstram
que houve tendência de diminuição na biomassa seca
de E. densa, do período seco para o chuvoso, assim
como ocorreu no experimento realizado por Gentelini
et al. [12], o qual verificou perda de biomassa durante
seu experimento em piscicultura orgânica, no entanto
neste experimento havia a presença de outra macrófita
aquática Eichornia crassipes (Mart.) Solms e as
condições não são as mesmas de um ambiente natural.
Com os dados obtidos no presente estudo foi
possível verificar que o reservatório de Xingo é
principalmente dominado pela Egeria densa e que a
mesma em alguns locais pode ser encontrada epifitada
pela Cladophora sp. Suas biomassas médias, contudo,
não parecem representar um problema para a geração
de energia no local. Estudos de monitoramento no
longo prazo estão sendo realizados para a confirmação
das tendências encontradas neste trabalho.
Agradecimentos
A Fundação Apolônio Sales de Desenvolvimento
Educacional (FADURPE) pelo apoio financeiro e a
Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF)
por possibilitar o acesso aos reservatórios.
Referências
[1]
COOK, P. R. 1990. Identification of Control Parameters in an
Articulatory Vocal Tract Model, with Applications to the
Synthesis of Singing. Ph.D. thesis, Elec. Engineering Dept.,
Stanford University (CCRMA).
[2] ESTEVES, F. A. 1988. Fundamentos de limnologia. Rio de
Janeiro: Interciência:FINEP. 601p.
[3] POTT, V. J. & POTT, A. 2000. Plantas aquáticas do pantanal.
EMBRAPA. Corumbá: Centro de Pesquisa Agropecuária do
Pantanal.
[4] PIEDADE, M. T. F.; JUNK, W. J.; LONG, S. P. 1991. The
production of the C4 grass Echinochloa Polystachya on the
Amazon floodplain. Ecology, 72 (4): 1456-1463.
[5] POMPÊO, M.L.M.; HENRY, R. 1996. Variação sazonal dos
teores de N e P no sedimento do rio Paranapanema (zona de
desembocadura na represa de Jurumirim, SP). Anais do I
Simpósio de Ciências da engenharia Ambiental, III Simpósio
do Curso de Ciências da Engenharia Ambiental, São Carlos,
CRHEA/EESC/USP. p. 135-137.
[6] PEDRALLI, G. 1990. Macrófitos aquáticos: técnicas e
métodos de estudos. Estudos de Biologia 26. 5-24.
[7] THOMAZ, S.M.; BINI, L.M. 1999. A expansão das macrófitas
aquáticas e implicações para o manejo de Reservatórios: Um
estudo na represa de Itaipu. In: HENRY P. (Ed.). Ecologia de
reservatórios: estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu:
Fapesp/Fundibio. Cap. 20. p. 597-626.
[8] CHESF, 2009 [Online]. Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco.
Homepage:
http://www.chesf.gov.br/energia_usinas_xingo.shtml
[9] NASCIMENTO, P.R.F.; PEREIRA, S.M.B.; SAMPAIO,
E.V.S.B. 2008. Biomassa de Egeria densa nos reservatórios
da hidroelétrica de Paulo Afonso-Bahia. Planta Daninha,
Viçosa-MG, v. 26, n. 3, p. 481-486.
[10] CARRILLO, Y.; GUARÍN, A; GUILLOT, G. 2006. Biomass
distribution, growth and decay of Egeria densa in a tropical
high-mountain reservoir (NEUSA, Colombia). Aquatic Botany,
Amsterdam, v. 85, n. 1, p. 7-15.
[11] CHAGAS, G.G.; FONSECA, M.N.; SUZUKI, M.S. 2003.
Produção primária da macrófita aquatica Egeria densa
Planch. na Lagoa do Campelo. In: VI Congresso de Ecologia
do Brasil.
[12] GENTELINI, A.L. ET AL. 2008. Produção de biomassa das
macrófitas aquáticas Eicchornia crassipes (aguapé) e Egeria
densa (egeria) em sistema de tratamento de efluente de
piscicultura orgânica. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v.
29, n. 2, p. 441-448. ABR/JUN.
Tabela 1. Biomassa seca média (g.m-2) das macrófitas aquáticas encontradas no reservatório de Xingó nos períodos seco
(dezembro/2008) e chuvoso (abril/2009).
XIMF03
Período seco
Período chuvoso
(dez/08)
(abr/09)
XIMF04
Período seco
Período chuvoso
(dez/08)
(abr/09)
XIMF05
Período seco
Período chuvoso
(dez/08)
(abr/09)
Cladophora sp.
480±350
200±90
150±60
160±160
-
-
Egeria densa
760±70
10±10
592±320
360±210
350±140
180±160
Figura 1. Biomassa seca média (g.m-2) das macrófitas aquáticas encontradas no reservatório de Xingó no período seco
(dezembro/2008). DP: Desvio-padrão.
Figura 2. Biomassa seca média (g.m-2) das macrófitas aquáticas encontradas no reservatório de Xingó no período chuvoso (abril de
2009). DP: Desvio-padrão.
Download