É a sentença Gödel auto-referente? Ou do equívoco de Wittgenstein Pedro Bravo de Souza, Ricardo Pereira Tassinari. Marília, Faculdade de Filosofia e Ciências, Filosofia, [email protected], Bolsista PIBIC-Reitoria. Palavras Chave: Filosofia das ciências formais; teorema da incompletude de Gödel; Ludwig Wittgenstein. Introdução É comum trabalhos que afirmam que os teoremas da incompletude de Gödel geram consequências longínquas de seu campo original de estudo. Nesse contexto, muitas vezes são mal entendidos os passos lógico-matemáticos de suas demonstrações. Por exemplo, alega-se que o primeiro teorema - o qual afirma a existência num sistema axiomático P, com características específicas, de uma sentença φ verdadeira tal que ela nem sua negação são demonstráveis em P - implica, em particular, que a bíblia é incompleta (FRANZÉN, 2005). É comum ainda, mesmo entre os especialistas, se afirmar que a sentença que prova o primeiro teorema é autoreferente. Com efeito, uma das maneiras correntes de se referir à sentença indecidível φ, é a formulação seguinte: nomeia-se a sentença indecidível por Gt, de forma que φ codifique o seguinte enunciado: “A sentença Gt é ela mesma não demonstrável”. Ora, a partir dessa formulação, poder-se-ia pensar que a sentença Gt é simplesmente auto-referente e, assim, criar-se-ia um paradoxo semelhante àquele do mentiroso. Autores como Ludwig Wittgenstein (1978, p. 119 - 120) a enxergaram de semelhante modo. Seria essa análise correta? Objetivos Busca-se evidenciar a forma como a sentença indecidível φ, graças à qual é possível o primeiro teorema da incompletude de Gödel (1979), é autoreferente, assim como avaliar se ela é um paradoxo, como proposto na interpretação de Wittgenstein. Material e Métodos Dado o cunho teórico-conceitual da presente pesquisa, o material utilizado constitui-se de livros e artigos que versam sobre os teoremas da incompletude de Gödel. Por sua vez, para atingir o objetivo específico acima proposto, faz-se necessário comentar tanto a demonstração de Gödel, quanto o fragmento de Wittgenstein exclusivamente referente ao teorema. Entende-se por comentário de um texto, amparando-se na XXVII Congresso de Iniciação Científica definição de Folscheid (2006), não somente a atividade de explicá-lo - mostrar o que o autor realmente disse -, mas sobretudo a atividade segundo a qual procura-se elucidar o que determinado autor disse de verdadeiro, daí ser possível dizer que a leitura de Wittgenstein, por exemplo, é uma leitura equivocada. Resultados e Discussão Através da análise da demonstração do primeiro teorema de Gödel, e de distinções a respeito dos níveis das sentenças utilizadas no teorema (LACEY & JOSEPH, 1968), mostra-se que a sentença indecidível φ é uma sentença que fala sobre si, não diretamente na linguagem do próprio sistema formal em que φ está, mas, indiretamente, na metalinguagem, através de regras de susbstituição e pelo argumento da diagonalização. Portanto, um paradoxo não é criado, como sugere a leitura de Wittgenstein. Conclusões Além dos resultados descritos logo anteriormente, no presente trabalho mostrar-se-á que as passagens nas quais Wittgenstein aborda o primeiro teorema da incompletude de Gödel não são totalmente equivocadas. Há outros elementos e questões consistentes propostos pelo autor. Porém, em relação à sentença indecidível φ precisamente, há um equívoco como se intenta evidenciar. Agradecimentos Ao Prof. Dr. Ricardo Pereira Tassinari pela orientação paciente e atenta. Ao CNPq pela concessão da bolsa. ____________________ GODEL, Kurt. Acerca de proposições formalmente indecidíveis nos Principia Mathematica e sistemas relacionados. In: LOURENÇO, Manuel. O teorema de Gödel e a hipótese do contínuo. Lisboa: Fundação Kalouste Gulbenkian, 1979. p. 245-290. FOLSCHEID, Dominique. Metodologia filosófica. Tradução de Paulo Neves. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. FRANZÉN, Torkel. Gödel’s Theorem: An Incomplete Guide to Its Use and Abuse. Natick: A. K. Peters, 2005. WITTGENSTEIN, Ludwig. Remarks on the Foundations of Mathematics. Translated by G.E.M. Anscombe. 3ª ed. Oxford: Basil Blackwell, 1978. LACEY, Hugh & GEOFFREY, Joseph. What the Gödel Formula says. Mind, Oxford, v. 77, p.77 - 83, 1968.