[01] 01.04 atividades físicas, associados a forças externas naturais – calor, frio, humidade, vento e fogo – eram considerados fatores que condicionavam o funcionamento do corpo humano. Internamente, a hiperfunção ou hipofunção de certos órgãos era associada a alterações de estados de espírito. O disfuncionamento pulmonar, por exemplo, era relacionado com a tristeza ou a dor, as doenças do fígado com a raiva ou com o ressentimento, as do rim com o medo ou insegurança, as do baço com a excessiva preocupação. A lógica é idêntica à da medicina grega, que ligava os humores aos temperamentos. A associação da natureza à doença por parte da medicina chinesa levou ao desenvolvimento de técnicas de aplicação em certos pontos ou zonas do corpo (meridianos) como a moxabustão (aplicação de calor) e a acupunctura (aplicação de agulhas), destinadas a combater a dor, a tuina, destinada à fixação de ossos e massagem terapêutica, ou o gigong, uma prática destinada a prolongar o tempo de vida. Também a utilização de práticas divinatórias, que se estendiam da leitura do rosto à avaliação do qi envolvido na colocação das coisas e na sua relação umas com as outras, o feng shui, era corrente na medicina chinesa. Relativamente às Américas, antes da chegada de Cristóvão Colombo existiam três grandes civilizações: a inca, a maia e a asteca. Em comum tinham o facto de que em todas elas predominava o componente mágico-religioso. Distinguiam-se entre si através de traços característicos. O Império Inca surgiu nas terras altas do Peru no início do século xiii, estendendo-se, entre os séculos xv e xvi, à parte ocidental da América do Sul, abrangendo um território que corresponde hoje a algumas partes do Equador, da Bolívia, da Argentina, do Chile e da Colômbia. A medicina era muito rudimentar. As doenças eram identificadas com os nomes de sintomas e as terapêuticas usadas eram empírico-mágicas. Já faziam trepanação craniana e, provavelmente, foram os primeiros a utilizar a quina. Recentemente, o estudo das múmias peruanas revelou lesões sifilíticas, o que faz pensar que a doença teve aí a sua origem, sendo transmitida aos ocidentais através das viagens intercontinentais. A civilização maia estabeleceu-se entre o século iii a. C. e o século iii no território que hoje corresponde ao sul do México e América Central. A medicina era exercida por famílias de sacerdotes-médicos, que usavam fármacos e feitiços para tratar os doentes. Nos séculos ix e x, provavelmente devido a alterações climatéricas (períodos prolongados de seca que provocaram guerras e fome), a civilização maia entrou em declínio. A civilização asteca, cuja população ocupava o território que corresponde atualmente ao México, floresceu entre os séculos xiv e xvi. A medicina asteca era a mais desenvolvida. Os médicos constituíam uma casta, pelo que a profissão era transmitda por via familiar. Aprendiam botânica, astrologia e interpretação dos sonhos. No início, a doença era considerada como um castigo divino, pelo que os sacrifícios humanos e os banquetes rituais constituíam práticas correntes. Contudo, essas práticas com o tempo foram sendo progressivamente abandonadas, dando lugar a outras mais racionais, baseadas no conhecimento anatómico. O diagnóstico passou então a basear-se na observação do doente e a terapêutica no uso de plantas medicinais, substâncias alucinatórias e banhos de vapor. [01] 01.05 01.04 O rei Ram Sing I de Kota à Caça de Rinocerontes (c. 1700). O corno de rinoceronte era utilizado na medicina tradicional chinesa como afrodisíaco, tranquilizante e anti-inflamatório. Aguarela atribuída a Mestre de Kota. New York, Metropolitan Museum 01.05 Ilustração do Manuscrito Badanius (1552). Herbário asteca de autor não identificado. Vaticano, Bibliotheca Apostolica Vaticana 01.06 Mulher asteca vertendo pasta de cacau, uma bebida muito apreciada pelos astecas devido às suas propriedades psicoestimulantes (s. d.). Gravura de autor não identificado 01.06 24 HISTÓRIA DA MEDICINA EM PORTUGAL ORIGENS 25