A Q A uestão da utoridade Jesus é Senhor sobre Moisés e a Lei Embora o Novo Testamento reivindique autoridade final, nem todos o tratam dessa maneira. Alguns duvidam das declarações nele contidas sobre Jesus ou das reivindicações de que ele constitui o ensino inspirado de Jesus para todas as pessoas. Outros aceitam essas declarações, mas rejeitam a autoridade do Novo Testamento num nível prático, recusando-se a se submeter aos seus ensinos. Alguns alegam que outras revelações foram dadas após o período do Novo Testamento, as quais têm autoridade nos dias de hoje. Analisaremos essa idéia na próxima lição. Outros seguem a fé do Antigo Testamento, considerando-o detentor da mesma autoridade que o Novo Testamento. Nesta lição, veremos por que essa prática é errada — por que Jesus é Senhor sobre Moisés e a Lei. Jesus disse em Mateus 5:17: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir”. A palavra “cumprir” é uma tradução do grego pleroo, que significa “tornar cheio, completo”. A palavra pode se referir à completitude de um período, à completitude de algo que foi iniciado, levar algo a um fim designado (como numa profecia), ou completar uma atividade em que se esteve envolvido desde o começo1. Todos esses sentidos são adequados quando se pensa em como Jesus “cumpriu” o Antigo Testamento. Paulo disse em Romanos 10:4: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”. A palavra grega traduzida por “fim” é telos, que, assim como “cumprir”, tem uma variedade de sentidos relativos à idéia de completar algo. Nesse caso, o conceito é de algo que cumpre o propósito para o qual foi designado2. Em Cristo, Deus cumpriu Suas promessas e concluiu Seu plano de resgatar os seres humanos do pecado e suas conseqüências. O Antigo Testamento mostra que Deus sempre Se preocupou com todas as pessoas. Nele se estabelecem princípios permanentes como o respeito por Deus e o devido tratamento com o próximo. O Antigo Testamento serve de apoio para os ensinos da nova aliança. Estipulações específicas da velha aliança já não estão em vigor hoje, tendo sido substituídas pelo “testamento” de Jesus (veja Hebreus 9). Os princípios, porém, foram endossados pelos homens a quem Jesus delegou Sua autoridade para ligar e desligar o que os céus já haviam ligado e desligado. (Veja Romanos 13:8–10.) Além disso, o Antigo Testamento revela fatos importantes sobre a natureza de Deus e Sua interação com as pessoas. Não devemos dizer que o Antigo Testamento não tem valor para os cristãos, mas seu valor está na área da instrução, e não na autoridade para o ensino e a prática da fé cristã. Este é um resumo das principais definições em Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, 3ª. ed. rev. e ed. Frederick William Danker. Chicago: University of Chicago Press, 2000, pp. 827–29. Ibid., p. 998. William Barclay comentou teleios (traduzido por “perfeito”), o adjetivo de telos, citada em Mateus 5:48. (William Barclay, The Gospel of Matthew, vol. 1, ed. rev., The Daily Study Bible Series. Filadélfia: Westminster Press, 1975, pp. 177–78.) 1 O PAPEL DO ANTIGO TESTAMENTO A autoridade de Jesus conforme apresentada 2 1 no Novo Testamento substitui as leis do Antigo Testamento. O não-reconhecimento dessa verdade reflete uma falta de compreensão do propósito do Antigo Testamento. Vejamos, então, qual é o papel do Antigo Testamento. Embora o Antigo Testamento obviamente se concentre na nação de Israel, essa nação foi escolhida para trazer o Salvador à humanidade. Deus fez três grandes promessas a Abrão em Gênesis 12:1–3, 7. Deus prometeu a Abrão que seus descendentes seriam uma grande nação e viveriam na terra de Canaã, onde Abrão vivia quando Deus lhe fez essas promessas. Ele declarou que por meio da descendência de Abrão todas as nações seriam, um dia, abençoadas. Os onze capítulos que precedem Gênesis 12 explicam de onde vieram o mundo e a humanidade e por que precisamos que Deus nos resgate do pecado. O restante do Antigo Testamento mostra como Deus cumpriu as três promessas feitas a Abrão. À medida que o Antigo Testamento dá lugar ao Novo Testamento, ocorre o cumprimento dessas promessas. A nação prometida era Israel. A terra dessa nação era a terra em que Abrão, ou Abraão, se estabeleceu em Gênesis 12. Dessa nação veio Jesus de Nazaré, Aquele através de quem Deus abençoou todas as nações. Jesus era Filho de Deus (veja Hebreus 1:1, 2), mas Ele também era filho de uma jovem israelita chamada Maria (Mateus 1:18–25; Lucas 1:26–38; 2:1–7; Gálatas 4:4) e, conseqüentemente, era descendente de Abraão. O foco do Antigo Testamento, portanto, é o planejamento e a preparação da parte de Deus para a vinda do Cristo. Deus cumpriu Seu plano estabelecendo “[um] reino de sacerdotes e [uma] nação santa” (Êxodo 19:6b). Essa expressão enfatiza dois princípios. Como nação santa, Israel deveria ser diferenciada, exemplificando o que significa ser povo de Deus. Como reino de sacerdotes, Israel deveria ser uma ponte entre Deus e o resto do mundo — as pessoas não escolhidas para a importante missão de trazer Seu Filho ao mundo. Na metade do Livro de Êxodo, após a lei (ou aliança) de Moisés entrar em vigor, vemos a nação formalmente organizada e seu propósito declarado. A Lei, dada por meio de Moisés, destinava-se somente ao povo de Israel e foi elaborada para pôr em andamento o plano de Deus. A lei de Moisés jamais foi elaborada para ser permanente. As passagens seguintes ilustram esses fatos: 2 Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o SENHOR fez convosco a respeito de todas estas palavras (Êxodo 24:8; grifo meu). Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento (Êxodo 31:16, 17; grifo meu). Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei (Jeremias 31:31–34; grifo meu). Essas passagens confirmam que o Antigo Testamento se limitava a um propósito, um período e pessoas específicas. As evidências disso encontram-se na prática do próprio povo judeu. A história dos judeus, especialmente durante o primeiro século d.C., mostra que eles viam na Lei as limitações observadas aqui. À medida que o judaísmo se propagou, muitos não-judeus, ou gentios, desejaram adorar o único Deus verdadeiro. Os judeus permitiram isso, mas com algumas restrições importantes. Essas restrições eram impostas apenas aos gentios que passavam pelo processo de proselitismo, em que se convertiam ao judaísmo. Os judeus insistiam nesse processo porque sabiam que a Lei visava somente ao povo de Israel. O NOVO TESTAMENTO: UMA MUDANÇA DE ALIANÇAS O Novo Testamento ensina que a vinda de Jesus como Senhor, o Único detentor de toda a autoridade, significou a revogação da velha aliança, ou seja, ela já não estava mais em vigor. Em Efésios 2, Paulo baseou sua exortação aos leitores gentios nessa mesma verdade. Ele fez os efésios se lembrarem do seu estado antes da vinda de Jesus: Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo (vv. 12, 13). A razão para essa mudança foi que Cristo “aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (v. 15). A Lei separava os gentios do “povo de Israel” debaixo do Antigo Testamento, mas Paulo disse que a Lei foi substituída como guia da prática de fé. A Carta aos Hebreus, escrita para animar os cristãos judeus que estavam em vias de abandonar a fé em Cristo, se concentra na transição da velha aliança para a nova. Em Hebreus 8:8–12, o escritor inspirado citou Jeremias 31:31–34 para provar que a primeira aliança não era perfeita e tinha de ser substituída. Ele resumiu isso no versículo 13: “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer”. A velha aliança havia sido substituída pela nova aliança contraída por meio de Jesus, o Cristo (veja Hebreus 9:15–17; 10:8–10). A ligação entre a mudança de alianças e a vinda de Jesus deve ser esperada tendo-se em vista o ensino anterior do escritor a respeito de Cristo ser superior a Moisés. Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus, o qual é fiel àquele que o constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de Deus. Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu. Pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus. E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas; Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança (Hebreus 3:1–6). A mensagem é clara: o Antigo Testamento, enquanto aliança vigente para determinar como as pessoas devem viver perante Deus, não tem mais efeito. Jesus é Senhor sobre Moisés. CONCLUSÃO Isto significa que o Antigo Testamento não tem mais nenhum valor para nós? Não. Quando estudamos suas páginas, entendemos muito sobre o caráter de Deus e o que Ele espera quando pessoas entram num acordo de aliança com Ele. O Antigo Testamento nos mostra a preparação que foi necessária para a vinda de Cristo e porque ela foi necessária. Sentimo-nos animados ao ver como Deus tratou os fiéis e ao saber que Ele cumpre Suas promessas. Inversamente, somos advertidos a respeito do que acontece quando a Palavra de Deus não é levada a sério. Apesar dessas verdades, as regras e os regulamentos específicos do Antigo Testamento para a vida e a adoração não estão em vigor hoje. A primeira aliança cumpriu seus propósitos: preparar o mundo para Cristo, mostrar o que significa viver em comunhão com Deus e demonstrar como necessitamos da graça de Deus. Agora, porém, toda a autoridade foi dada a Jesus (Mateus 28:18). Deus nomeou Jesus como o Único através do qual o mundo será julgado (Atos 17:30, 31). Jesus entendeu isso quando disse que seremos julgados por Suas palavras (João 12:48). Não há necessidade de se enxertar nenhuma outra aliança na nova aliança de Cristo, e isso inclui a lei de Moisés. O que quer que façamos no serviço para Deus deve ser feito em nome de Jesus (Colossenses 3:17). Ele é “o caminho, e a verdade, e a vida” (João 14:6b), o único nome pelo qual invocamos a salvação (Atos 4:10–12). Prostremo-nos perante Ele e sirvamos a Ele como Senhor, Senhor até sobre Moisés. VERSÕES DA BÍBLIA USADAS NESTA SÉRIE AS21 – Almeida Século 21 BJ – A Bíblia de Jerusalém BV – A Bíblia Viva ERAB – Edição Revista e Atualizada no Brasil de João Ferreira de Almeida ERC – Edição Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida KJA – King James Atualizada NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje NVI – Nova Versão Internacional Autor: David Anguish © Copyright 2004, 2010 by A Verdade para Hoje TODOS OS DIREITOS RESERVADOS 3