Custos No presente capítulo analisaremos o comportamento das empresas. Começaremos com a definição de alguns custos Custos fixos são os encargos em que a empresa suporta independentemente do nível de produção: ou seja, são custos que existem mesmo quando a empresa não produz nada. Normalmente estes custos estão associados aos investimentos da empresa em capital, como por exemplo: edifícios fabris, escritórios, máquinas, etc. Podemos por isso considerar os custos fixos como resultantes do compromisso que a empresa faz a longo prazo, custos que serão cobertos à medida que o capital é utilizado (e gasto) na produção de bens e serviços para venda. Esta natureza de longo prazo leva, normalmente, a que a aquisição dos bens de capital seja feita com recurso a crédito. O pagamento dos correspondentes empréstimos, ao longo do tempo, representa igualmente um custo fixo (mesmo que a empresa nada produza, eles têm de ser pagos). Custos variáveis são aqueles que variam com a quantidade de bens ou serviços que a empresa produz.Exemplos de custos variáveis são as despesas com energia, matérias-primas, comunicações, etc., que podemser acrescidos ou diminuídos com facilidade num curto prazo de tempo. Normalmente a mão de obra está associada aos custos variáveis. Por exemplo, uma empresa de construçãocivil contrata uma quantidade maior ou menor de empregados conforme o seu nível de produção. No entanto a mão de obra especializada não apresenta, normalmente, esta flexibilidade, o que aliás reflete a natureza de "capital humano" do fator produtivo "conhecimento", que tem vindo a a s s u m i r u m a importância crescente na Nova Economia. Custo total representa a soma dos custos fixos com os custos variáveis. Se representarmos cada um destes tipos de custos pelas suas iniciais, teremos: CT = CF + CV Na figura seguinte podemos ver representados os gráficos destes custos: O eixo horizontal representa o nível de produção (quantidade de bens ou serviços produzidos); o eixo vertical representa os custos; A linha horizontal representa os custos fixos (CF): eles são constantes, independentemente da quantidade produzida A curva mais abaixo representa os custos variáveis (CV) : quando não existe produção o seu valor é zero, e vão crescendo à medida que a produção aumenta. A curva mais acima representa os custos totais (CT) : quando não existe produção o seu valor é igual ao dos custos fixos; em cada nível de produção esta linha representa a soma dos custos fixos com os custos variáveis. É f á c i l d e v e r c o m o a a n á l i s e d e s t e s c u s t o s é i m p o r t a n t e p a r a a c o m p r e e n s ã o d o f u n c i o n a m e n t o d a s empresas. No entanto, para além destes custos, devemos igualmente considerar os custos unitários: os custos médios e os custos marginais. Custo fixo médio é calculado dividindo o Custo Fixo pela correspondente produção: CFMe = CF / QO Custo variável médio é calculado dividindo o Custo Variável pela correspondente produção: CVMe = CV / QO Custo total médio, ou simplesmenteCusto médio, é c a l c u l a d o d i v i d i n d o o C u s t o t o t a l p e l a correspondente produção: CMe = CT / Q Na figura seguinte encontramos representados estes custos: A curva do Custo fixo médio é sempre decrescente, pois matematicamente representa o quociente dumac o n s t a n t e a d i v i d i r p o r u m a v a r i á v e l ( a q u a n t i d a d e ) c a d a v e z m a i o r . T e n d e n c i a l m e n t e e l a v a i - s e aproximando do eixo horizontal A curva do Custo fixo médio , tal como a curva do Custo médio apresentam a forma de U : são decrescentes numa primeira fase, e crescentes nas zonas de produção mais elevada. Outro custo importante é o custo marginal: CMa : trata-se do custo de produzir mais uma unidade ou seja, o custo de produzir uma unidade adicional .Quando se passa do nível de produção de zero para um, o custo marginal é o custo adicional da produção dessa primeira unidade. Para um nível de produção de 2 unidades, o custo marginal é o custo adicional em que a empresa incorre pela produção dessa segunda unidade, e assim sucessivamente. Quando uma empresa já produz 5 mil unidades, o custo adicional de se produzir a unidade 5.001 representam custo marginal nesse ponto. Ou seja, de uma forma geral, o custo marginal da unidade n é:CMa(n) = CT(n) - CT(n-1)Podemos ver, na figura seguinte, a curva do Custo Marginal (CMa) juntamente com as curvas CMe e CVMe A curva de CMa corta as curvas de custo médio no seu ponto mínimo, ou ponto de inflexão (ou ponto de declive nulo).Podemos compreender este facto através de um exemplo. Imaginemos que temos um certo número de alunos numa sala e que calculamos a sua nota média (a soma das notas de cada um a dividir pelo número de alunos). Depois deste cálculo entra na sala um aluno cuja nota é inferior à média; se voltarmos a calcular a média, ela é agora mais baixa. Se entrasse um aluno com nota superior à média, novo cálculo resultaria numa média mais elevada. Vejamos então, através do gráfico, o que acontece na zona à esquerda do ponto onde as curvas de CMa e CMe se cruzam; nesta zona o CMa é inferior ao CMe. Portanto, se a empresa produzir mais uma unidade, o custo médio desce (tal como acontece na sala do exemplo referido).Vejamos agora o que acontece na zona à direita do ponto de cruzamento das curvas de CMa e CMe ; nesta zona o CMa é superior ao CMe. Portanto, se a empresa produzir mais uma unidade, o custo médio sobe. Concluindo: se à esquerda do ponto de cruzamento o CMe desce, e se à direita desse ponto o CMe sobe, então o ponto de cruzamento tem necessariamente que ser o ponto de inflexão da curva de CMe Oferta em concorrência perfeita Numa situação de concorrência perfeita nenhuma empresa pode, por si só, influenciar as condições do mercado. Ou seja: o conjunto das empresas determina a oferta de mercado, a qual, interagindo com a procura, determina o preço de equilíbrio. Este preço pode variar em função do comportamento da oferta de mercado. No entanto, nenhuma empresa individual pode influenciar, por si só, essa oferta. Isto significa que, independentemente da quantidade que uma empresa produz, essa empresa terá de vender a sua produção ao preço determinado pelo mercado. Veja-se a figura seguinte - o preço de equilíbrio (Pe) é determinado pela interação entre oferta e procura, sendo a oferta o resultado da produção de todas as empresas existentes nesse mercado concorrencial: Na figura seguinte apresenta-se o gráfico que representa o mercado (figura da esquerda) juntamente com o gráfico que representa a situação da empresa concorrencial (figura da direita). Independentemente do nível da sua produção, a empresa terá de vender essa produção ao preço de mercado. A linha horizontal significa que a empresa concorrencial enfrenta uma curva da procura horizontal ( o u s e j a , q u e é independente do nível de produção). Na análise que se segue vamos admitir que o objetivo da empresa é a maximização dos lucros P a r a determinar este objetivo a empresa terá de comparar o custo de produzir mais uma u n i d a d e ( custo marginal) com a receita dessa unidade - neste caso o valor é sempre o mesmo, Pe, onde se situa a linha horizontal da oferta D. Veja-se a figura seguinte. No nível de produção q1 o custo marginal é inferior ao preço de venda. No ponto q2 a situação é idêntica, apesar da diferença entre custo marginal e preço ser menor. No ponto q3 ainda se mantém um diferencial positivo entre preço e custo marginal. Só no ponto Qmax é que o custo marginal deixa de ser inferior ao preço. É neste ponto M que a empresa deve fixar a produção para maximizar o seu lucro. Ou seja: a empresa em concorrência perfeita maximiza o lucro no nível de produção em que o custo marginal igual ao preço, ou seja, onde: CMa = P Na figura seguinte apresentamos a mesma situação da figura anterior, mas juntando também a curva de custo médio (CMe). O ponto M, onde se cruzam as curvas da oferta D e do custo marginal CMa, traduz uma situação em que o preço é também superior ao custo médio CMe. No entanto, suponhamos que o preço de mercado descia para o nível D1. Agora a produção que maximiza o lucro situa-se no ponto M1, onde se verifica a condição CMa = P. No entanto, neste caso, o preço é inferior ao custo médio CMe. Globalmente existe uma situação de prejuízo - cada unidade é vendida a um preço inferior ao seu custo médio. Neste caso o ponto que preenche a condição CMa = P é também o ponto onde se minimiza o prejuízo. A figura seguinte representa uma situação em que o ponto de igualdade entre CMa e P coincide também com o custo médio. Neste caso não existe nem lucro nem prejuízo. O ponto M, nesta situação, designa-se como ponto crítico: Uma empresa em situação de concorrência perfeita e que se situe no ponto crítico ou abaixo dele poderá fazer uma de duas coisas: aguardar que o mercado volte a fazer subir o preço até uma situação de lucro (oque poderá ou não ocorrer) ou tomar medidas para fazer baixar os seus custos de produção, colocando a empresa de novo numa situação de lucro. Monopólio e Oligopólio O monopólio é uma situação de concorrência imperfeita, onde a oferta é dominada por uma única empresa.Existem vários motivos que provocam situações de monopólio, como por exemplo decisões estatais (alegadamente por motivos de interesse nacional ou de segurança) ou devido à proteção de direitos de propriedade intelectual - como é o caso das patentes. No entanto uma situação de monopólio pode ser gerada pelas próprias leis da economia. Particularmente em setores que exigem investimentos muito grandes e períodos de amortização muito longos, juntamente coma ocorrência de mercados muito pequenos, pode acontecer que a curva da procura de mercado se cruze com as curvas de custos marginais e médios numa zona em que essas curvas ainda se encontrem com inclinação descendente - veja-se a figura seguinte: Nesta situação ocorrem fortes economias de escala: quanto mais se produz mais barata fica a produção de cada unidade. Por este motivo, mesmo que haja vários concorrentes à partida, um deles acabará por eliminar os outros, produzindo mais e a mais baixos custos. Por este motivo designam-se estas situações como de monopólios naturais. As situações de concorrência perfeita podem ser representadas pela figura seguinte, onde a procura de mercado D se situa bastante à direita do ponto onde a curvas de custos infletem. Realidades como a constituição do Mercado Único Europeu são frequentemente defendidas com base neste objetivo: deslocar a curva da oferta de mercado para a direita. Por exemplo, um mercado como o português dificilmente poderia justificar mais do que uma siderurgia - tratar-se-ia de um monopólio natural. Mas integrandose o mercado português no mercado mais alargado da União Europeia, obtém-se uma situação mais próxima da representada da figura que se segue: Ao contrário do que acontece com a empresa concorrencial, a empresa monopolista enfrenta uma curva da procura com inclinação negativa. A procura que se dirige para a empresa monopolista coincide com a procura de mercado. Assim, se a empresa monopolista quiser aumentar a sua produção, terá que baixar o preço de venda de cada unidade. A empresa monopolista tem portanto uma receita marginal (variação da receita proporcionada pela venda de cada unidade adicional) que pode ser positiva ou negativa. Na figura seguinte apresenta-se a curva da receita média - RMe, que corresponde à curva da procura D, e a curva da receita marginal RMa que, a partir de certo ponto é negativa. Para encontrar o ponto onde maximiza o lucro a empresa monopolista deve comparar a curva da Receita marginal com a curva do custo marginal. A empresa monopolista maximiza o lucro no ponto M, onde a receita marginal é igual ao custo marginal: Ou seja, o ponto de maximização do lucro ocorre onde: RMa = CMa E qual é o preço a que a empresa monopolista pode vender a sua produção? Uma vez encontrado o ponto que preenche a condição R M a = C M a , o preço é determinado pela interseção com a curva da procura(Pmon), como se pode ver na figura seguinte. Esta análise contraria a ideia que vulgarmente se divulga de que "a empresa monopolista pratica o preço que quiser". Na realidade a empresa monopolista tem de se sujeitar à curva da procura. Para produzir (e vender) mais, terá que reduzir o preço. No entanto o preço de monopólio, encontrado pela lógica da maximização do lucro, é muito elevado – muito mais do que se existisse concorrência perfeita com o mesmo padrão de custos de produção. P o r e s t e f a t o até mesmo as empresas monopolistas procuram influenciar a procura ( n o m e a d a m e n t e a t r a v é s d a p u b l i c i d a d e ) por forma a deslocar a curva da procura para a direita e elevar os seus lucros. Em geral as situações de monopólio são consideradas prejudiciais para o bom funcionamento das economias e, como regra, existem leis a proibir a concentração de empresas e a formação de monopólios - leis por vezes difíceis de fazer cumprir, já que muitas empresas monopolistas possuem poder económico igual ou superior ao de muitos países. O oligopólio é uma situação em que um pequeno número de empresas domina um mercado. Tambémset r a t a d e u m a s i t u a ç ã o d e c o n c o r r ê n c i a i m p e r f e i t a , j á q u e e s t a s e m p r e s a s p o s s u e m , i n d i v i d u a l m e n t e , capacidade para influenciar o mercado. Também é possível, para as empresas oligopolistas, fazerem acordos entre si para o estabelecimento de preços equivalentes aos do monopólio. A vaga de mega-fusões de empresas a que assistimos atualmente em todo o mundo agrava esta situação de concorrência imperfeita. Por vezes é a natureza de monopólio natural que suporta esta situação - mas também são criadas condições artificiais pelas próprias empresas. No passado assistia- se a práticas ilegais e agressivas que levavam ao desaparecimento das pequenas e m p r e s a s e à concentração do poder das grandes empresas. Atualmente é através do enorme p o d e r financeiro que as grandes empresas vão adquirindo - de forma legal - as pequenas empresas ecriandoc o n d i ç õ e s p a r a o d o m í n i o d o s o l i g o p ó l i o s . T e o r i c a m e n t e a l e g i s l a ç ã o p r o í b e e s t a s p r á t i c a s a n t i concorrenciais, mas nem sempre as autoridades governativas manifestam capacidade ou disponibilidade para combater o forte poder económico das grandes empresas multinacionais Concorrência monopolística Uma outra situação de concorrência imperfeita é a concorrência monopolística, que se caracteriza pelo facto de existirem muitas empresas no mercado, mas que provocam a diferenciação de produtos por forma a criar situações artificiais equivalentes ao monopólio. Um exemplo paradigmático de concorrência monopolística é o das calças de ganga ("jeans" ). Embora sejam fundamentalmente semelhantes, fortes campanhas de publicidade criam a diferenciação artificial através da "marca". Assim, para um consumidor influenciado por esta publicidade, "aqueles jeans daquela marca "t o r n a m - s e u m p r o d u t o " d i f e r e n t e " , q u e a p e n a s é f a b r i c a d o p o r u m a e m p r e s a - a q u a l p a s s a a p o d e r comportar-se como uma empresa monopolista, pois tem o "monopólio" daquela "marca". Desta forma passa a ser possível para estas empresas praticar preços de monopólio. Esta absurda situação leva a que surja um forte mercado de falsificações, que muitas vezes apresentam qualidade idêntica à do produto "original". Neste caso a falsificação não está tanto no produto, como no uso abusivo da "marca". Os preços de monopólio praticados pelos fabricantes que recorrem a esta forma artificial de diferenciação dos seus produtos permitem-lhes financiar as campanhas publicitárias com que forjam a "diferenciação". Grande parte da estratégia de vendas das empresas modernas baseia-se em estratagemas de diferenciação do p r o d u t o a t r a v é s d e p o r m e n o r e s s e c u n d á r i o s c o m o a s m a r c a s , a s e m b a l a g e n s , e t c . O u t r o e x e m p l o característico é o do setor de bebidas como as cervejas e as "colas", promovidas através de poderosas campanhas publicitárias que insinuam qualidades duvidosamente atribuíveis a tais produtos ("juventude", "alegria", "felicidade", etc). Graficamente a situação da concorrência monopolística pode ser representada num gráfico como o da figura s e g u i n t e . A p r o c u r a d e m e r c a d o é r e p r e s e n t a d o p e l a l i n h a D. A e m p r e s a q u e p r a t i c a a c o n c o r r ê n c i a monopolística consegue ter uma procura que, embora menor que a procura de mercado, tem uma inclinação negativa, e uma receita marginal igualmente negativa (curva RMa): Na figura ao lado juntou-se a curva do custo marginal CMa. À semelhança do monopólio, esta empresa maximiza o lucro onde a receita marginal iguala o custo marginal (RMa = CMa): O preço (P), à semelhança do monopólio, é determinado pela inteseção com a curva da procura: