UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS VITOR MIRANDA TRAVASSOS PARVOVIROSE CANINA - REVISÃO DE LITERATURA RECIFE -PE 2009 VITOR MIRANDA TRAVASSOS PARVOVIROSE CANINA - REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), como requisito final para obtenção do título de especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientador: D.Sc. Leonildo Bento Galiza da Silva – UFRPE. RECIFE – PE 2009 Ficha catalográfica preparada pelo setor de classificação e catalogação da Biblioteca “Orlando Teixeira” da UFERSA T779p Travassos, Vitor Miranda. Parvovirose canina – revisão de literatura / Vitor Miranda Travassos. -- Mossoró: 2009. 27f. Monografia (Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais) – Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Orientador: Prof. Dr. Leonildo Bento Galiza da Silva. 1.CPV. 2.Gastroenterite 3.Imunodiagnóstico. I.Título. hemorrágica. CDD: 636.7 Bibliotecária: Keina Cristina Santos Sousa e Silva CRB/15 120 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Patogenia e distribuição do CPV-2. Adaptação de Hoskins (1998), in: Greene, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Nutrição parenteral total em cães e gatos com infecção pelo parvovírus, a ser aplicada em vaso central ou periférico. 20 RESUMO A parvovirose canina é uma enfermidade infecto-contagiosa, caracterizada por gastroenterite moderada a grave, miocardite e/ou infecção generalizada, causada pelo Parvovírus canino tipo 2 (CPV-2). É uma enterite aguda e altamente contagiosa de cães, prevalente em todo o mundo desde o final da década de 70. No Brasil, os primeiros surtos de parvovirose ocorreram por volta de 1980, atingindo cães de todas as idades. A partir daquele ano, a parvovirose canina tornou-se uma doença endêmica no país, acometendo principalmente animais jovens e organicamente debilitados. Clinicamente, é caracterizada por vômito, diarréia, anorexia, febre, panleucopenia e desidratação. O diagnóstico clínico da doença é sugestivo, mas deve sempre ser diferenciado de gastroenterites bacterianas e virais. O diagnóstico laboratorial pode ser realizado pela detecção do vírus nas fezes, vômitos ou em tecidos post-mortem. Diversas técnicas, como a microscopia eletrônica (ME), o isolamento viral em culturas celulares, a reação de hemaglutinação (HA) seguida ou não da reação de inibição da hemaglutinação (HI) com anticorpos específicos, são usualmente utilizadas, bem como os ensaios imunoenzimáticos (ELISA) ou de imunocromatografia, reações de imunofluorescência (IF) e mais recentemente, a reação em cadeia de polimerase (PCR). Sabe-se que nem todos os casos de diarréia hemorrágica, acompanhada ou não de vômito, são causados pelo parvovírus canino, por isso, objetivou-se com este trabalho realizar uma revisão de literatura sobre a parvovirose canina e sua importância na clínica médica de pequenos animais, relatando os principais sinais clínicos ocasionados pela doença, novidades no diagnóstico e tratamento, controle e profilaxia, para que se obtenha êxito no combate à doença. Palavras - chave: CPV, gastroenterite hemorrágica, Imunodiagnóstico. ABSTRACT The canine parvoviruses is an infect-contagious disease, characterized by moderate to severe gastroenteritis, myocarditis, and/ or general infection and it is caused by canine parvovirus type 2 (CPV-2). It is the acute enteritis and extremely contagious to dog which prevails in the entire world since the end the 70’s. In Brazil, the first parvoviruses outbreaks happened around 1980, hitting dogs of all age. From that year on, the canine parvovirus became an endemic disease in the country, striking specially young and weak animals. Clinically, it is traced by vomit, diarrhea, anorexia, fever, panleucopenia and dehydration. The disease clinic diagnosis is suggestive, but is must be always differentiated from bacterial and viral gastroenteritis. The lab diagnosis can be done through virus detection in feces, vomit or in post-mortem tissue. Several techniques like electron microscopy (EM); the viral isolation in cell cultures; the haemagglutination reaction (HA), followed or not by haemagglutination inhibition (HI), with specific antibodies are generally used, as well are the enzymelinked immunoassays (ELISA) or the immunochromatografy, immunofluorescent reaction and more recently, the polymerase chain reaction (PCR). This paper purpose was to make a review of the bibliography about canine parvoviruses and the relevance to the medical clinic of small animals, describing the signs and symptoms of the disease, the most adequate treatment, it’s available diagnosis methods, it’s control and prevention, once that not all hemorrhagic diarrhea cases followed or not by vomit, are caused by the canine parvovirus. What makes important to know the main signs and alterations that the disease can cause and the news on diagnosis and treatment in order to obtain success in fighting the disease. Key Words: CPV; hemorrhagic diarrhea; immune diagnosis. SUMÁRIO Página LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS RESUMO ABSTRACT 1. INTRODUÇÃO 09 2. REVISÃO DE LITERATURA 12 2.1. ETIOLOGIA 12 2.2. PATOGÊNESE E SINAIS CLÍNICOS 13 2.3. DIAGNÓSTICO 16 2.4. TRATAMENTO 18 2.5. PROFILAXIA 22 3. METODOLOGIA 24 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 25 REFERÊNCIAS 26 9 1. INTRODUÇÃO A parvovirose canina é uma enfermidade infecto-contagiosa, caracterizada por gastroenterite moderada a grave, miocardite e/ou infecção generalizada, causada pelo Parvovírus canino tipo 2 (CPV-2). Trata-se de uma enterite aguda e altamente contagiosa de cães, prevalente em todo o mundo desde o final da década de 70 (ETTINGER; FELDMAN, 1997). No Brasil, os primeiros surtos de parvovirose ocorreram por volta de 1980, atingindo cães de todas as idades. A partir daquele ano, a parvovirose canina tornou-se uma doença endêmica no país, acometendo principalmente animais jovens e organicamente debilitados (LARA, 2000). O CPV-2 encontra-se entre os vírus mais resistentes conhecidos. Ele sobrevive no ambiente e em fômites durante meses a anos, e não é afetado pela maioria dos detergentes e desinfetantes comercialmente disponíveis. O hipoclorito de sódio (a água sanitária comum) é um dos poucos desinfetantes efetivos contra o vírus (ETTINGER; FELDMAN, 1997; MCCANDLISH, 2001). Os cães mais afetados são os de pet shops, canis ou hospitais veterinários; Todas as raças e idades são consideradas susceptíveis, mas a doença primeiramente acomete cães mais novos, sendo mais gravemente afetados cães na faixa etária que varia de seis semanas a seis meses de idade e das raças alemãs como rottweilers e dobermans. Infecções subclínicas são comuns, especialmente em cães adultos (ETTINGER; FELDMAN, 1997; SHERDING, 2003). O vírus é transmitido pela eliminação fecal e a porta de entrada é a via oronasal. Após a penetração do vírus pela via oronasal, a replicação viral é observada no tecido linfóide da orofaringe e nas amídalas. A viremia inicia-se aproximadamente no quarto dia pós-infecção e mantêm-se por mais dois a três dias, sendo distribuído para todo a organismo, tendo tropismo por células em divisão rápida, como a medula óssea, tecidos linfopoiéticos, e dos epitélios das glândulas de Liberkhün nos intestinos, podendo levar a necrose das criptas intestinais, que leva ao colapso da mucosa intestinal e a diarréia grave acompanhada por leucopenia e depleção linfóide (TRUYEN, 1999; SHERDING, 2003; CARTER; WISE, 2005). Clinicamente, a parvovirose canina é caracterizada por vômito, diarréia, anorexia, febre, panleucopenia e desidratação. Cães com a forma hemorrágica da 10 doença apresentam diarréia sanguinolenta e podem vir a óbito por choque endotóxico em poucos dias. Pode ocorrer terminalmente em pacientes em choque, hipotermia, icterícia ou diátese hemorrágica (coagulação intravascular disseminada) (KRUININGEN, 1998; LOBETTI, 2003; SHERDING, 2003). A gravidade da enfermidade clínica pode ser aumentada por fatores como: tensão, condições de aglomeração ou pouco sanitárias, infecção bacteriana secundária e afecções concomitantes como a cinomose, salmonelose, campilobacteriose, ou parasitismo intestinal. Em geral, quanto mais jovem o animal, maior a morbidade e o risco de mortalidade. Outras complicações da infecção são: hipoglicemia (provavelmente secundária à infecção), hipoproteinemia, anemia, intussuscepção, hepatopatia, sinais do sistema nervoso central (infecção concomitante com cinomose) (ETTINGER; FELDMAN, 1997; TRUYEN, 2000; MCCANDLISH, 2001). A morte pode ocorrer em casos graves, particularmente em cães muito jovens, sendo geralmente atribuível à desidratação, desequilíbrios eletrolíticos, choque endotóxico ou a infecções secundárias associadas à leucopenia. Existe variação considerável na resposta clínica de cães à infecção com parvovírus canino, variando desde infecções inaparentes, até a moléstia fatal aguda. Infecções inaparentes ocorrem na maioria dos cães (LARA, 2000; CARTER; WISE, 2005). Muitos dos pacientes com enterite parvoviral recuperam-se, caso sejam tratados apropriadamente para a desidratação. Contudo são comuns as complicações durante o curso da infecção (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Devemos suspeitar de parvovirose em cães que apresentem surgimento agudo de episódios de vômito e diarréia, e que estejam com aproximadamente seis semanas de vida, histórico de exposição prévia, gravidade dos sinais clínicos (especialmente depressão extrema, vômito intratável, hematoquezia, febre) e anormalidades hematológicas. A vacinação prévia não exclui necessariamente a possibilidade de infecção parvoviral, mas o diagnóstico diferencial pode incluir outras causas possíveis. O achado de leucopenia pode apoiar o diagnóstico da parvovirose canina, porém deve-se levar em consideração que o vírus da cinomose e adenovírus canino tipo um, podem levar a achados semelhantes. É firmado o diagnóstico definitivo com base na detecção de antígenos virais em fezes, ou pela demonstração de título elevado de anticorpos anti-CPV (ETTINGER; FELDMAN, 1997). 11 Objetivou-se com este trabalho realizar uma revisão de literatura sobre a parvovirose canina e sua importância na clínica médica de pequenos animais, relatando os principais sinais clínicos ocasionados pela doença, novidades no diagnóstico e tratamento, controle e profilaxia, para que se obtenha êxito no combate à doença, pois nem todos os casos de diarréia hemorrágica acompanhada ou não de vômito, são causados pelo parvovírus canino. 12 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 ETIOLOGIA A parvovirose é o termo utilizado para designar a enfermidade infectocontagiosa, cujo agente etiológico é um vírus pertencente à família Parvoviridae. O parvovírus canino (CPV) é um DNA – vírus, pequeno (20 a 25 nm), sem envelope lipoprotéico e capsídeo de simetria icosaédrica, composto por 60 capsômeros (LARA, 2000). O CPV é extremamente resistente e capaz de sobreviver nas fezes, em temperatura ambiente, por mais de um ano e, em solo contaminado por vários meses. O vírus não é afetado por detergentes e pela maior parte dos desinfetantes comercialmente disponíveis, sendo o hipoclorito de sódio e o formaldeído uns dos poucos desinfetantes disponíveis efetivos contra o CPV (ETTINGER; FELDMAN, 1997; MCCANDLISH, 2001). A parvovirose canina corresponde à doença mais comum e fatal, prevalente em todo o mundo desde o final da década de 1970 (ETTINGER; FELDMAN, 1997; MCCANDLISH, 2001; SHERDING, 2003). Inicialmente, a infecção era mais comum nos canis, e observavam-se duas formas da doença: a miocardite e a enterite. Em 1980, ocorreram pandemias na maior parte do mundo, e a miocardite, uma conseqüência da infecção neonatal, tornou-se bastante rara, pois as cadelas reprodutoras desenvolveram anticorpos tanto por meio de uma infecção natural, quanto em resposta à vacinação. Desde 1981, a enterite se tornou a forma principal desta doença, agora epidêmica (MCCANDLISH, 2001). Acredita-se que a disseminação da doença se dá muito mais pela persistência do vírus no meio ambiente do que pelos portadores assintomáticos, a ocorrência de surtos de enterites por CPV em alguns cães de canis sugerem que o transporte por pessoas ou fômites contribua para a disseminação da infecção (LARA, 2000; SHERDING, 2003). Há uma notável variação na resposta clínica dos cães à infecção por parvovírus canino, oscilando entre infecções inaparentes à moléstia aguda fatal menos freqüente. Fatores predisponentes à moléstia grave são idade, os fatores 13 genéticos (como diferenças raciais em susceptibilidade), estresse e infecções simultâneas com parasitas ou bactérias intestinais (LARA, 2000). Cães de qualquer idade podem ser infectados, mas a incidência da afecção clínica é mais elevada em cães com menos de um ano de idade. Cães com mais de seis semanas estão protegidos pela imunidade materna passiva, enquanto que, em sua maioria, os animais maturos foram imunizados, ou não exibem sinais clínicos ao se tornarem infectados. Nas populações susceptíveis, em sua maioria os animais adultos fazem soroconversão sem manifestar sinais, indicando que é comum a infecção branda ou inaparente, enquanto que a enterite pode se disseminar rapidamente pelos animais jovens (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Segundo Kruininger (1998) e Truyen (1999, 2000), o CPV está relacionado de forma bastante estreita com o vírus da panleucopenia felina (FPV). Conforme demonstrado em análises de seqüências dos aminoácidos que compõe a superfície do capsídeo viral, existem apenas pequenas diferenças entre essas seqüências, determinando a capacidade de replicação do vírus em diferentes hospedeiros (TRUYEN, 1999; 2000). Embora o CPV e o FPV isolados sejam 98% idênticos em suas seqüências de DNA, os vírus podem ser facilmente distinguidos pela demonstração de perfis de anticorpos monoclonais (TRUYEN, 2000). 2.2 PATOGÊNESE E SINAIS CLÍNICOS A infecção por parvovírus ocorre pela via fecal – oral; visto que o vírus pode sobreviver por longos períodos no ambiente, fômites e a contaminação ambiental desempenham papel importante na transmissão (ETTINGER; FELDMAN, 1997; SHERDING, 2003). Após a penetração do vírus pela via oronasal, a replicação viral é observada no tecido linfóide da orofaringe e nas amídalas. A viremia inicia-se aproximadamente em 24 a 48 horas pós-infecção (atingindo seu pico no quarto dia) e mantêm-se por mais dois a três dias. Depois desta, o vírus é distribuído para todo o organismo, tendo tropismo por células em divisão rápida, como a medula óssea, tecidos linfopoiéticos, e dos epitélios das glândulas de Liberkhün nos intestinos, podendo 14 levar a necrose das criptas intestinais, que leva ao colapso da mucosa intestinal e a diarréia grave (TRUYEN, 2000; CARTER; WISE, 2005). Figura 1 – Patogenia e distribuição do CPV-2. Adaptação de Hoskins (1998). In: Greene, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. A gravidade das lesões intestinais determina a gravidade da doença clínica, e é, por sua vez, dependente da dose viral que atinge o intestino a partir do sangue (LOBETTI, 2003). A miocardite é bastante rara, ocorrendo somente em cãezinhos de cadelas não imunizadas, ou privados de colostro oriundo de cadelas com títulos baixos de anticorpos, que entram em contato com o vírus nos primeiros dias de vida. A morte súbita de cães jovens em boas condições físicas e aparentemente saudáveis com três a quatro semanas de idade é primeira indicação de miocardite parvoviral (MCCANDLISH, 2001). A replicação do vírus nos tecidos linfopoiéticos e medula óssea causam leucopenia com neutropenia e linfopenia, imunodeficiência, atrofia tímica e depleção linfóide dos linfonodos e do baço (LARA, 2000; CARTER; WISE, 2005). A maioria das infecções com o CPV são clinicamente inaparentes (ETTINGER; FELDMAN, 1997; MCCANDLISH, 2001). 15 Em cães que apresentam a moléstia clínica, o vômito e a diarréia são os primeiros sinais observados (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Outros sinais clínicos comuns com a evolução da doença são: desidratação, depressão rápida, anorexia e febre, vômitos graves e incontroláveis e diarréia sanguinolenta, líquida e fétida (LARA, 2000; LOBETTI, 2003; CARTER; WISE, 2005). Segundo McCandlish (2001), um caso típico de enterite parvoviral evolui de forma rápida, podendo o animal apresentar melhora ou colapso e morte no 4º dia de enfermidade. A gravidade e duração da doença variam muito. Muitos cães sofrem somente uns poucos dias de depressão, outros não vomitam e muitos apresentam diarréia pastosa ou fluída leve, sem nenhuma evidência de sangue; Febre é comum somente em casos graves. A desidratação e a perda de peso podem ser bastante rápidas (MCCANDLISH, 2001). Cães com a forma hemorrágica da doença apresentam diarréia sanguinolenta e podem vir a óbito por choque endotóxico em poucos dias. Pode ocorrer terminalmente em pacientes em choque, hipotermia, icterícia ou diátese hemorrágica (coagulação intravascular disseminada) (KRUININGEN, 1998; LOBETTI, 2003; SHERDING, 2003). A gravidade da enfermidade clínica pode ser aumentada por fatores como: tensão, condições de aglomeração ou pouco sanitárias, infecção bacteriana secundária e afecções concomitantes como a cinomose, salmonelose, campilobacteriose, ou parasitismo intestinal. Em geral, quanto mais jovem o animal, maior a morbidade e o risco de mortalidade. Outras complicações da infecção são: hipoglicemia (provavelmente secundária à infecção), hipoproteinemia, anemia, intussuscepção, hepatopatia, sinais do sistema nervoso central (infecção concomitante com cinomose) (ETTINGER; FELDMAN, 1997; TRUYEN, 2000; MCCANDLISH, 2001; SHERDING, 2003). 16 2.3 DIAGNÓSTICO O diagnóstico clínico da parvovirose é sugestivo, mas deve sempre ser diferenciado de gastroenterites bacterianas como a salmonelose e de outras doenças virais como a cinomose (LARA, 2000). Devemos suspeitar de parvovírus em cães com o surgimento agudo de episódios de vômito e diarréia, com base na idade do animal (pico de incidência entre seis e 20 semanas de idade), história de exposição, gravidade dos sinais clínicos (especialmente depressão extrema, vômito intratável, hematoquezia e febre), e anormalidades hematológicas (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Segundo Lobetti (2003), sinais clínicos, em especial em cães sem histórico de vacinação ou com esquema deficiente de vacinação são indicativos de doença. A vacinação prévia não exclui necessariamente a possibilidade de infecção parvoviral (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Casos leves da doença são indistinguíveis dos desarranjos dietéticos e de outras infecções (MCCANDLISH, 2001). O hemograma é particularmente útil e deve ser medida de rotina em qualquer cão com gastroenterite aguda, especialmente quando acompanhado por febre ou hematoquezia (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Os achados de hemograma mais freqüentes são leucopenia com neutropenia (LARA, 2000). A gravidade da leucopenia pode ser proporcional à gravidade da enfermidade clínica, e a resposta nos leucócitos sanguíneos é indicador útil de iminente recuperação. Linfócitos reativos atípicos também podem ser observados na circulação periférica de cães com infecção pelo parvovírus. Geralmente o hematócrito é normal ou está ligeiramente diminuído, o que ajuda na diferenciação clínica entre esta afecção e a gastroenterite hemorrágica (GEH), em que hemoconcentração profunda comumente provoca o surgimento de hematócrito notavelmente elevado. Além da GEH, a enterite parvoviral deve ser diferenciada de outras enterites virais, salmonelose, e obstrução do intestino delgado (corpo estranho gastrointestinal, e intussuscepção). A distensão do intestino por gases e líquidos é achado radiográfico freqüente em casos de enterite parvoviral, podendo mimetizar a obstrução intestinal (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Vários testes laboratoriais têm sido desenvolvidos e estão disponíveis para diagnóstico viral específico. O diagnóstico rápido pode ser feito por microscopia 17 eletrônica (ME) de material fecal de casos com sinais típicos da doença (TRUYEN, 2000). O vírus também pode ser isolado em diversas linhagens de células caninas e felinas (como células renais), mas raramente esse isolamento viral é usado na rotina, uma vez que são necessários pelo menos uma semana para resultados com culturas de células. Testes de hemaglutinação e inibição da hemaglutinação (HA e HI) têm proporcionado um método simples e rápido para detecção de vírus em amostras fecais e de tecidos, sendo empregados em vários laboratórios de diagnósticos. No entanto o teste de HA é menos sensível que a microscopia eletrônica e o teste de ELISA (TRUYEN, 2000). O teste de hemaglutinação fecal, baseado nas propriedades de hemaglutinação diferenciada do parvovírus, determina a diluição mais elevada (título) das fezes do paciente capaz de aglutinar eritrócitos de macaco ou suíno, como medida do nível de presença do vírus no espécime fecal. Um título superior a 1: 64 é geralmente considerado diagnóstico positivo, embora inespecífico; ou a falsa aglutinação pode por vezes gerar baixos títulos falso-positivos. Ocasionalmente, também ocorrem resultados falso-negativos (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Ensaios baseados no teste de ELISA estão comercialmente disponíveis e são baseados em reações antígeno-anticorpo com anticorpos monoclonais específicos fixados em plástico, membranas de nitrocelulose, látex ou partículas de ouro. O teste é rápido e relativamente barato, e pode Ser efetuado em qualquer clínica veterinária (TRUYEN, 2000). Conforme Ettinger e Feldman (1997) e Truyen (2000), os testes diagnósticos sorológicos de títulos de anticorpos anti-CPV têm pouco valor para diagnóstico uma vez que altos títulos estão habitualmente presentes no início da doença clínica e estima-se que 70% a 95% dos cães na população foram soroconvertidos, em decorrência de prévia vacinação ou exposição. No entanto, o teste de Elisa pode detectar anticorpos IgM específicos, que indicam infecção recente, pois são encontrados no início da infecção, mas desaparecem após duas a três semanas pós-infecção (ETTINGER; FELDMAN, 1997; TRUYEN, 2000). Um teste semi-quantitativo – Immunocomb-test (BioLabs, Israel), foi desenvolvido e tem sido disponibilizado comercialmente. Esse teste pode ser realizado tanto por clínicas como por laboratórios de diagnóstico, e detecta anticorpos contra o CPV, onde os títulos relatados no teste se correlacionam bem 18 com os resultados de testes de hemaglutinação indireta. Uma sensibilidade, maior cerca de dez vezes, pode ser obtida utilizando a reação em cadeia de polimerase (PCR), mas este teste está disponível apenas para alguns laboratórios e tem sido utilizado principalmente para pesquisas (TRUYEN, 2000). O diagnóstico pela necropsia baseia-se na detecção da lesão histopatológica característica de necrose das células criptais de rápida proliferação, acompanhada de colapso secundário das vilosidades e dilatação das criptas com restos teciduais necrosados. Também se pode observar a degeneração mielóide e ampla depleção linfóide (ETTINGER; FELDMAN, 1997). 2.4 TRATAMENTO O tratamento recomendado para a gastroenterite causada pelo parvovírus é sintomático e auxiliar (ETTINGER; FELDMAN, 1997; LARA, 2000). Visto que o tratamento é similar ao que seria administrado na maioria dos animais com gastroenterite grave, o paciente deverá ser tratado, tenham ou não sido efetuados exames definitivos; ou no caso de sua realização, o tratamento terá início enquanto o clínico aguarda o retorno dos resultados (ETTINGER; FELDMAN, 1997; SHERDING, 2003). A restauração e manutenção do equilíbrio de fluídos e eletrólitos, minimizando a perda de líquidos, é o objetivo mais importante da terapia (LARA, 2000; TRUYEN, 2000). Os casos leves respondem bem à suspensão do alimento sólido, com acesso a pequenas quantidades de fluído, seguida por uma dieta mais branda, mudada gradualmente para o normal (MCCANDLISH, 2001). Pode-se utilizar solução de ringer lactato complementado com potássio. Dextrose também poderá ser acrescentada aos líquidos intravenosos numa solução a 2,5%, quando necessário, para o tratamento da hipoglicemia complicadora da infecção (ETTINGER; FELDMAN, 1997; WINGFIELD; MACY, 2004). Segundo Wingfield; Macy (2004) e Hartmann (2007), embora a supressão total dos alimentos e da água sejam as recomendações gerais no tratamento tradicional de doenças gastrointestinais, incluindo a enterite parvoviral, informações recentes sugerem que esse tipo de tratamento não é o mais adequado. 19 Os cães que não se alimentam por três a cinco dias estão provavelmente em balanço nitrogenado negativo e, sem dúvida, os vilos intestinais sofreram atrofia, se já não foram destruídos pelo PVC. Quanto mais cedo os pacientes começarem a receber nutrição enteral, mais rapidamente eles se recuperarão. Além disso, é imprescindível a terapia com micronutrientes para manter a barreira da mucosa intestinal. Sem ela, a sepse e a bacteremia são mais prováveis (WINGFIELD; MACY, 2004). Assim, a ingestão oral de água e alimentos sólidos só deve ser restringida se o vômito persistir, e deve ser reiniciada o mais cedo possível (HARTMANN, 2007). Uma técnica muito utilizada é a fluidoterapia microenteral, que baseia- se nos princípios de que a manutenção da barreira física e estrutural do trato gastrointestinal é fundamental na prevenção da translocação bacteriana. Seu principal objetivo é proteger a barreira mucosa estomacal e manter funcional o trato digestivo, aumentando seu fluxo sangüíneo, prevenindo sua atrofia e disfunções mecânicas, enquanto a ingestão de alimentos não é permitida (AMARAL; RABELO, 2001). Esta terapia consiste no fornecimento de pequenas quantidades de água, eletrólitos e nutrientes rapidamente absorvíveis, como glicose, aminoácidos e pequenos peptídeos diretamente no trato digestivo, sendo uma boa opção para pacientes que apresentem vômitos, estando também indicada nos estados de consciência alterada, na fase de transição da nutrição parenteral para a nutrição enteral, na recuperação de distúrbios gastrointestinais, em pacientes com risco de úlcera gástrica ou translocação bacteriana (AMARAL; RABELO, 2001; RABELO; XAVIER; et al., 2001). É importante salientar que a fluidoterapia microenteral sozinha não nutre o animal, sendo indicada sua associação com a nutrição parenteral quando é necessário um repouso prolongado do trato gastrointestinal, permitindo a instituição de terapia enteral completa o mais rapidamente possível (AMARAL; RABELO, 2001). Conforme McConnell (2001) e Hartmann (2007), quando o trato gastrointestinal não apresentar condições de digerir e absorver os nutrientes, ou quando os animais estão anoréxicos e apresentam episódios graves de vômito e/ ou diarréia, é necessária a administração de nutrição parenteral total (NPT) ou parcial (NPP), de preferência através de um cateter venoso central (veia jugular). 20 A nutrição parenteral consiste na administração de nutrientes através de uma via que não seja o trato gastrintestinal, usualmente intravenosa. Ela fica indicada nos casos em que o trato digestivo não está funcional ou nos casos em que é necessária a não estimulação do órgão (devido à ocorrência de vômito ou regurgitação, pancreatite, obstrução intestinal, pacientes com risco de aspiração pulmonar e em alguns pós-operatórios), além de complementar a nutrição enteral quando o paciente não é capaz de receber todo o seu requerimento nutricional por esta via. Pode ser administrada através de um acesso central (osmolaridade total até 1400 mOsm/L), como a veia jugular, ou um acesso periférico (osmolaridade < 750 mOsm/L). Soluções hiperosmolares (usualmente aquelas cuja glicose é a fonte predominante de energia) não são indicadas para a administração periférica, pois podem resultar em flebite e necrose local (WEITZBERG, 2000; AMARAL; RABELO, 2001). Normalmente a nutrição parenteral é composta de aminoácidos, glicose e lipídeos. Na sua utilização deve-se estar muito atento à assepsia no preparo e conservação das soluções, bem como na introdução e manutenção do cateter, que deve ser de uso exclusivo da nutrição parenteral, reduzindo os riscos de complicações, como a septicemia (WEITZBERG, 2000; AMARAL; RABELO, 2001). Tabela 1 – Nutrição parenteral total em cães e gatos com infecção pelo parvovírus, a ser aplicada em vaso central ou periférico. Requisito (Kg x 100) x 1,2 = Kcal / dia Acesso Periférico Acesso Central (< 600 mOsm) (>600 mOsm) Lipídeos 100 mL 20% 250 mL 20% Aminoácidos 200 mL 8,5% 500 mL 8,5% Glicose 400 mL 10% 500 mL 10% 300 mL ------- Potássio 20 mEq/ L 20 mEq/L Energia 0,337 Kcal/mL 1,2 Kcal/mL Solução eletrolítica Fonte: HARTMANN, K. Canine and Feline Parvovirus Infection – Current Treatment Options. 2007: in: Small animal – Infectious Disease, NAVC. 21 Antieméticos estão indicados em cães apresentando vômito persistente para evitar exaustão, bem como controlar a perda hídrica. Devem ser utilizados cuidadosamente os medicamentos antidiarréicos, visto que a redução da velocidade do movimento do material ingerido pode aumentar a absorção de endotoxinas (ETTINGER; FELDMAN, 1997; MCCANDLISH, 2001; WINGFIELD; MACY, 2004). Pode haver indicação de transfusão de plasma ou sangue total em cães com hipovolemia, decorrente da perda intestinal grave de proteínas séricas (ETTINGER; FELDMAN, 1997; LARA, 2000; HARTMANN, 2007). Idealmente, a albumina sérica deve ser mantida em uma concentração de 20g/L ou mais; Se ocorrer edema como resultado da diminuição de albumina e não for corrigido por uma transfusão de plasma, a reposição com soluções colóides sintéticas deve ser considerada. Soluções colóides não devem ser administradas até que a desidratação seja corrigida, e deverá ser sempre aplicada com fluidoterapia adicional (HARTMANN, 2007). Antibióticos parenterais estão indicados, no caso de estar ocorrendo uma infecção bacteriana secundária, ou considera-se iminente sua ocorrência, devido à febre alta, leucopenia significativa, hipoglicemia, choque, coagulação intravascular disseminada (CID), ou destruição grave da barreira mucosa, indicada por disenteria ou hematoquezia. Deverá ser instaurado o regime antibiótico de amplo espectro por via parenteral, como por exemplo, Cefalosporinas, trimetoprim-sulfonamida, amicacina, ou combinação de ampicilina e gentamicina (ETTINGER; FELDMAN, 1997; WINGFIELD; MACY, 2004; HARTMANN, 2007). A incorporação de corticosteróides e/ou flunixin meglumine está indicada no regime terapêutico, para o combate do choque endotóxico, nos casos de moléstia pelo CPV (ETTINGER; FELDMAN, 1997). O tratamento da miocardite parvoviral é inespecífico, geralmente ineficaz e não é recomendado (MCCANDLISH, 2001). 22 2.5 PROFILAXIA Conforme Lara (2000) e Waner (2002), a vacinação de filhotes é o tratamento profilático mais recomendado na clínica de pequenos animais, tendo atualmente vários tipos de vacinas comerciais disponíveis. Encontram-se disponíveis vacinas homólogas e eficazes de vírus inativos e vivos modificados (TRUYEN, 2000; MCCANDLISH, 2001). Segundo Truyen (2000), foi demonstrado experimentalmente que vacinas com vírus vivo modificado protegem o animal por até três anos ou mais; vacinas inativadas, no entanto, promovem apenas um período limitado de imunidade à infecção, embora cães possam ser protegidos contra a doença por vários meses. A maior taxa de infecção é relatada em filhotes com mais de seis semanas de idade. Tal como acontece com outras doenças infecciosas, filhotes de cadelas imunes estão protegidos para as primeiras semanas de vida, com anticorpos maternos que são adquiridos através do colostro. Os anticorpos maternos são adquiridos durante os primeiros dois a três dias de vida, acontecendo em seguida o declínio dos mesmos, com uma meia-vida média de cerca de dez dias (TRUYEN, 2000). A causa principal do fracasso de vacinas consiste nos níveis interferentes de anticorpos maternalmente derivados anti-CPV (ETTINGER; FELDMAN 1997; TRUYEN, 2000; WANER, 2002). Existe um período crítico (janela de vulnerabilidade), quando os anticorpos maternos não estão mais presentes em quantidade suficiente para conferir proteção; no entanto, podem neutralizar o vírus vacinal, impedindo assim a imunização, sendo problema conseguir êxito em imunização de filhotes antes das 12 semanas de idade (TRUYEN, 2000). Não há vacinas que eliminem completamente essa janela de vulnerabilidade antes que os animais se tornem imunizáveis. As vacinas mais imunogênicas não imunizarão em presença de níveis interferentes de anticorpos maternos, que podem persistir em alguns cãezinhos além das 16-18 semanas de idade. As vacinas de vírus vivo modificado são preferíveis ao invés de vacinas CPV inativadas (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Quando o risco de uma infecção é baixo, a vacinação com cepa vacinal menos atenuada com oito semanas de idade (ou quando se apresenta o filhote pela 23 primeira vez ao veterinário) e novamente com 12 semanas protegerá a maioria deles. Quando há um alto risco de infecção, doses de vacina mais freqüentes, por exemplo, com seis, nove e doze semanas de idade, podem ser apropriadas. Recomendam-se reforços anuais; Não se deve utilizar produtos vírus vivo modificado em cadelas prenhes (MCCANDLISH, 2001). Independentemente do esquema de vacinação escolhido, há sempre o risco de exposição e de ocorrência da moléstia durante a “janela de vulnerabilidade”, quando os cãezinhos ainda não estão imunizáveis. A imunidade induzida pelas vacinas de vírus vivo modificado para CPV atualmente existentes perdura por um a três anos. Não há necessidade de vacinação de reforço com freqüência maior que a anual (ETTINGER; FELDMAN, 1997). Cães com parvovirose eliminam quantidades maciças do vírus em suas fezes durante a enfermidade, e são altamente infecciosos para outros cães. Assim, os animais enfermos deverão ser mantidos em isolamento de outros cães, até pelo menos uma semana após a recuperação completa (ETTINGER; FELDMAN, 1997). A lavagem e desinfecção completas do ambiente constituem medidas óbvias, embora, talvez, somente o formaldeído e o hipoclorito de sódio (água sanitária) talvez sejam eficazes. O rompimento do ciclo infeccioso pelo qual cada geração de cãezinhos pega uma pequena quantidade de vírus e elimina uma vasta quantidade nas fezes é igualmente importante. Pode-se conseguir isso através da interrupção temporária na reprodução canina ou a remoção dos cãezinhos do canil em idade precoce, antes destes ficarem susceptíveis. O fato de ter um período de tempo quando não se encontra nenhum cão susceptível também proporciona uma oportunidade de limpeza completa das acomodações. Se a despopulação completa das acomodações de cãezinhos não for possível, então uma leva de ninhada estrita, com uma limpeza e desinfecção do ambiente entre levas, ajudarão a reduzir o acúmulo de vírus. Deve-se ter cuidado para evitar infecção cruzada entre levas de portadores humanos, animais ou objetos inanimados (fômites) (MCCANDLISH, 2001). 24 3. METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho foi realizada através de pesquisas na biblioteca da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em livros, revistas e artigos de periódicos, e também através da Internet, em sites de pesquisa como o Google acadêmico, Ivis (International Veterinary Information Service), portal de periódicos CAPES, Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science e Scielo. 25 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A parvovirose é umas das doenças contagiosas mais comuns e fatais, endêmicas no Brasil e de relevante importância na clínica médica de pequenos animais. Por acometer tanto canídeos domésticos e selvagens, e por ser um vírus de grande resistência aos meios de desinfecção e longa permanência no meio ambiente, encontra-se certa dificuldade em seu controle e erradicação. O seu controle pode ser feito pela adoção de esquema eficiente de vacinação em filhotes, sendo importante considerar a educação do proprietário, para que haja o rompimento do ciclo infeccioso da doença, principalmente em canis e lugares onde se tenha aglomeração de cães. É importante ressaltar que os programas padronizados de imunização reduziram, em grande parte, a incidência dessa doença; no entanto, os cães não vacinados, especialmente em áreas urbanas e semi-urbanas mantêm um reservatório de infecção dificultando o seu controle e eliminação. Atualmente embora tenhamos um enorme volume de informações acerca da enfermidade, concluímos que ainda existem equívocos acerca de certos aspectos da patogenia e profilaxia do parvovírus canino na maioria das clínicas veterinárias particulares. Também se observa que nem todos os casos de diarréia hemorrágica são causados pelo parvovírus canino. Existem atualmente kits de testes para diagnóstico de fácil manipulação e leitura de resultados que podem ser realizados no próprio consultório, baseados em imunoabsorção por ligação enzimática (ELISA) e imunocromatografia; resultados positivos são confirmatórios, resultados negativos podem ou não descartar a infecção por CPV. Muitos dos pacientes com enterite parvoviral recuperam-se caso sejam tratados apropriadamente para desidratação; contudo, são comuns as complicações durante o curso da infecção parvoviral, com alguns animais vindo a óbito. 26 REFERÊNCIAS Amaral, D.C.G.; Rabelo, R.C. Nutrição do paciente crítico pós-trauma através das terapias enteral, microenteral e parenteral. Prêmio de Pesquisa Waltham, 2001. CARTER, G.R.; WISE, D.J. Parvoviridae. In: CARTER G.R.; WISE D.J.; FLORES E.F. A Concise Review of Veterinary Virology, New York, 2005. Disponível em: < http://www.ivis.org/advances/Carter/Part2chap9_es/chapter.asp?LA=2> Acessado em 10 de dezembro de 2007. ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Sistema Gastrointestinal – Seção X. In: Tratado de Medicina Interna Veterinária; Editora Manole, 4 ed., v. 2, São Paulo, p. 16631666, 1997. HARTMANN, K. Canine and Feline Parvovirus Infection – Current Treatment Options. 2007: in: Small animal – Infectious Disease, North American Veterinary Conference (NAVC), Orlando, Florida; jan, 2007. KRUININGEN, H.J.V. Sistema Gastrointestinal. In: CARLTON, W.W.; MCGAVIN, M.D.; Patologia Veterinária Especial de Thomson; 2 ed. Porto Alegre; ArtMed, p. 65-67, 1998. LARA, V. Parvovirose Canina. Revista Cães e Gatos. Porto Feliz, ano 14, nº. 86, nov/dez, 2000. LOBETTI, R. Canine Parvovírus and Distemper. 28. 2003: In: WORLD CONGRESS OF THE WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY ASSOCIATION, Bangkok, Thailand, 2003. MCCANDLISH, I.A.P. Infecções Específicas Caninas In: DUNN, J.K.; Tratado de Medicina Veterinária de Pequenos Animais; São Paulo, Editora Roca, p. 915-920, 2001. MACCONNELL, E.A. Administering total parenteral nutrition. Nursing, v.31, p.677708, 1998. 27 Rabelo, R.C.; Xavier, S.C., et al. A utilização da nutrição microenteral em pacientes críticos com vômito freqüente. Ciência Animal, Revista da faculdade de veterinária da universidade estadual do Ceará, suplemento. Fortaleza, CE: v.10, n.3, p.220, 2001 SHERDING, R.G. Vírus Intestinais in: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Manual Saunders: Clínica de pequenos animais; 2 ed., São Paulo; Roca, p.121-124, 2003. TRUYEN, U. Canine Parvovirus In: CARMICHAEL, L.E. Recent Advances in Canine Infectious Diseases; International Veterinary Information Service, 2000; disponível em: < http://www.ivis.org/advances/infect_Dis_Carmichael/truyen/chapter_frm.asp?LA=1> Acesso em: 10 de dezembro de 2007. TRUYEN, U. Emergence and evolution of canine parvovirus in: CARMICHAEL, L.E. Canine Infectious Diseases: From Clinics to Molecular Pathogenesis; International Veterinary Information Service, 1999; disponível em: < http://www.ivis.org/proceedings/baker_Can_Inf_Dis/vd23/d23_frm.asp> Acesso em dezembro de 2007. WANER, T. Response of Puppies to Vaccination with Canine Distemper and Canine Parvovirus.27. 2002. in: Annual Congress of the World Small Animal Veterinary Association, Granada, Espanha, 2002. Weitzberg, D. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. 3 ed., p.1857, 2000. WINGFIELD, W.E.; MACY, D.W. Parvovírus Canino in: WINGFIELD, W.E.; Segredos em medicina veterinária de emergência; 2 ed., Porto Alegre; Artmed, p.450-455, 2004.