Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Influência da Vegetação Nativa sobre a Abundância de Hymenoptera em Cultivo de Cana-de-açúcar Monique Barbara Rosa de Oliveira1 PBIC, Jésica Vieira2 PBIC, Layara Alexandre Bessa3, André Luis Ribeiro4, Carlos Henrique Marchiori5, Marcos Antônio Pesquero6 Universidade Estadual de Goiás – Unidade de Morrinhos. CEP 75650-000, Brasil. 1 [email protected], [email protected], 3 [email protected], [email protected], 5 [email protected], [email protected] Palavras-chave: Agroecologia, controle biológico, comunidade 1 INTRODUÇÃO Em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, o uso excessivo de agrotóxico tem sido padrão no controle de pragas de diferentes cultivos. O setor de defensivos agrícolas movimenta anualmente bilhões de reais no mercado nacional, divididos entre herbicidas (52%), inseticidas (28%) e outros (20%), despejando anualmente 3,2kg de produtos por hectare de área cultivada (FAIRBANKS, 2008). A plena expansão da atividade sucroalcooleira no estado de Goiás, que tem como perfil a ocupação extensiva do solo (6.713.210 ha no Brasil), exige investimentos em conhecimentos e técnicas de produção mitigadoras do impacto ambiental em nível local e regional no combate de pragas. Várias espécies de pragas pertencentes aos grupos de nematóides, isópteros, coleópteros e lepidópteros são conhecidas para o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil, sendo que a broca-da-cana Diatraea saccharalis (Fabricius) apresenta maior prejuízo pelo potencial de disseminação e associação com fungos e bactérias prejudiciais ao cultivo (ALMEIDA & STINGEL, 2005). A vespa Cotesia flavipes (Hymenoptera, Braconidae), introduzida no Brasil em 1974, tem reduzido significativamente os efeitos negativos provocados pela broca-da-cana. Entretanto, o sistema de produção agrícola em larga escala associado ao 1 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 desmatamento ilegal reduzem as chances de sobrevivência dos parasitóides e predadores durante os períodos de entressafra. Grande parte dos 1.783.200 km 2 do bioma Cerrado, um dos 34 “hotspots” de biodiversidade do planeta (MYERS et al., 2000), já foi desmatada e convertida em áreas de agricultura e pastagem (SANO et al., 2006). A expansão das fronteiras agrícolas e o uso indiscriminado de agrotóxicos leva a degradação da biodiversidade em larga escala e à quebra dos processos ecológicos (ALTIERI et al., 2003). Dessa forma, esse estudo tem como principal objetivo investigar a influência da vegetação nativa no entorno de cultivo de cana-de-açúcar sobre a comunidade de insetos benéficos e potencialmente pragas. 2 MATERIAL E MÉTODOS Esse estudo foi realizado em ambiente de canavial (Saccharum sp.) associado com um fragmento de Cerradão de 225ha (18º20'S, 49º20'W) em Itumbiara (GO). As coletas de insetos foram realizadas mensalmente durante quatro meses que precederam a colheita. Em cada coleta, bandejas plásticas amarelas (25x25x10cm) contendo formalina e detergente, conhecidas como armadilhas de Moerick, permaneceram sobre o solo nos ambientes de estudo durante sete dias para a captura de insetos voadores. Foram demarcadas duas linhas paralelas distantes 300m uma da outra contendo 10 armadilhas cada. As armadilhas foram dispostas em intervalos de 50m, sendo uma armadilha no interior do Cerradão, uma na borda Cerradão/canavial e oito em direção ao interior do canavial. Os insetos coletados foram classificados em ordem e quantificados por ponto de coleta (armadilhas). Para testar o efeito do fragmento de Cerradão sobre a abundância dos insetos benéficos e potencialmente pragas foram realizadas análise de correlação e teste de qui-quadrado (Statistica, 4.3, StatSoft, 1993). 2 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados 3.376 insetos pertencentes às ordens Diptera, Coleoptera, Hemiptera e Hymenoptera. Outros 39 insetos pertencem às ordens Blattaria, Lepidoptera, Dermaptera e Orthoptera. As proporções de cada uma das principais ordens dentro do Cerradão e do Canavial estão representadas na Figura 1A, B. Foram identificadas 98 morfo-espécies pertencentes a 22 famílias de Hymenoptera (Tabela 1). As análises de correlação não identificaram um padrão gradual de ocorrência significativo para todas as ordens de insetos, ou seja, as abundâncias de insetos potencialmente pragas (herbívoros) não aumentaram gradativamente no canavial à medida que se distanciava do fragmento de Cerradão e nem os insetos benéficos (Hymenoptera) diminuiram gradativamente como esperado em relação à distância do Cerradão. Entretanto, de modo geral, foram observados três padrões de ocorrência dos insetos: a) O cultivo de cana não foi atrativo às ordens Diptera e Coleoptera, sendo mais observadas no Cerradão (qui-quadrado=25,74 e 38,90 P’s < 0,0001, respectivamente) (Figura 2, 3), b) Os insetos da ordem Hemiptera, representada aqui principalmente pela cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar Mahanarva fimbriolata (Stal), foram mais abundantes no canavial do que no Cerradão (qui-quadrado=4,5 P < 0,05) (Figura 4) e, c) A ordem Hymenoptera foi mais abundante na cana do que no Cerradão (qui-quadrado=52,41 P < 0,0001) (Figura 5), sendo que a maior abundância média relativa foi observada entre borda-200m (66,22%) comparada com 200400m distante do cerradão (42,77%) (qui-quadrado=26,81 P < 0,0001) (Figura 6). Esses resultados demonstram a importância do planejamento da paisagem em ambientes rurais, intercalando sistemas de cultivo com áreas de vegetação nativa que fornecem abrigo, alimento e hospedeiros alternativos aos insetos parasitóides (ALTIERI et al., 2003). 3 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Tabela 1. Composição de famílias e morfo-espécies de Hymenoptera identificadas no Cerradão e canavial em Itumbiara (GO). Família Número de espécies Número de indivíduos Ichneumonidae 13 73 Braconidae 10 40 Mymaridae 8 15 Diapriidae 9 294 Pompilidae 2 3 Signiphoridae 4 258 Figitidae 1 3 Bethylidae 4 10 Chrysididae 2 6 Scelionidae 7 786 Drynidae 1 2 Evaniidae 3 436 Chalcididae 2 8 Proctotrupidae 1 1 Aphelinidae 4 9 Vespidae 2 2 Stephanidae 1 2 Ceraphronidae 5 174 Mutillidae 3 5 Tiphiidae 3 3 Cynipidae 2 4 Pelecinidae 1 2 Total 98 1.862 4 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Figura 1. Abundância relativa das ordens de insetos segundo o tipo de ambiente: A) Cerradão e B) Canavial em Itumbiara (GO) 5 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Figura 2. Abundância de Diptera em relação à comunidade de insetos segundo o tipo de ambiente em Itumbiara (GO). Figura 3. Abundância de Coleoptera em relação à comunidade de insetos segundo o tipo de ambiente em Itumbiara (GO). 6 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Figura 4. Abundância de Hemiptera em relação à comunidade de insetos segundo o tipo de ambiente em Itumbiara (GO). Figura 5. Abundância de Hymenoptera em relação à comunidade de insetos segundo o tipo de ambiente em Itumbiara (GO). 7 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Figura 6. Abundância de Hymenoptera em relação à distância do fragmento de Cerradão em Itumbiara (GO). 4 CONCLUSÕES A análise de regressão não foi suficientemente sensível para detectar um gradiente de abundância das ordens de insetos no canavial em função da distância do fragmento de Cerradão. Por outro lado, a análise mais ampla das proporções de abundâncias das ordens dentro da comunidade de insetos demonstrou que fragmentos de vegetação nativa influenciam beneficamente os cultivos de cana enviando insetos da ordem Hymenoptera, representados por insetos polinizadores, predadores e parasitóides de pragas potenciais. Entretanto, análise de comunidades de insetos em canaviais distantes de fragmentos de vegetação nativa é necessária para corroborar esses resultados. 8 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. C. & E. STINGEL. Curso de monitoramento e controle de pragas da canade-açúcar. Piracicaba. Centro de Tecnologia Canavieira, 2005. ALTIERI, M.A.; E.N. SILVA & C.I. NICHOLLS. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holus, 2003. FAIRBANKS, M. 2008. Defensivos agrícolas ampliam mercado. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd396/defensivos_agricolas.htm>. Acesso em: 15 nov. 2008. MYERS, N., R.A. MITTERMEIER, C.G. MITTERMEIER, G.A.B. FONSECA & J. KENT. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. v.403, p.853-858, 2000. SANO, E.E., R. ROSA, J.L.S. BRITO & L.G. FERREIRA. Mapeamento semidetalhado do uso da terra do Bioma Cerrado. Pesq. Agropec. Bras. v.43, n.1, p.153-156, 2006. 9