Médicos criticam orientação do Inca para câncer de próstata

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Médicos criticam orientação do Inca para câncer de próstata
Ter, 18 de Novembro de 2008 13:48 - Última atualização Seg, 24 de Novembro de 2008 15:40
A decisão do Inca (Instituto Nacional de Câncer) de desaconselhar os exames de toque retal
e de dosagem de PSA para homens que não tenham sintomas de câncer de próstata foi
criticada por urologistas. Em nota, a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) disse que "esperar
a ocorrência de sintomas para procurar cuidados médicos pode fazer com que o câncer de
próstata esteja em estágio avançado, com impossibilidade de cura".
Segundo Ana Ramalho, gerente da Divisão de Gestão de Rede Oncológica do Inca, não há
evidências científicas de que o rastreamento do câncer de próstata reduza a mortalidade
causada pela doença, por isso o órgão está desaconselhando os homens a fazerem o exame.
No rastreamento, a população é convocada para fazer o exame e buscar detectar a doença em
fase inicial. "Essa técnica é útil quando provamos que reduz a mortalidade. É útil no câncer de
colo de útero, mas não se mostrou eficiente no câncer de próstata", diz.
De acordo com Ramalho, pesquisas mostram que há um excesso de diagnóstico de câncer de
próstata, o que aumenta a chance de identificar tumores de lenta progressão, que não
afetariam a saúde do paciente. "Esses pacientes seriam expostos aos riscos do tratamento de
maneira desnecessária. Eles podem ficar impotentes ou com incontinência urinária, sem saber
se vão reduzir o risco de morte", diz. "A idéia é desestimular mesmo."
Para o urologista Miguel Srougi, professor da USP (Universidade de São Paulo), O Inca
cometeu um "equívoco". Ele diz que há dois grandes estudos avaliando o efeito do
rastreamento, cujos resultados estão previstos para 2012.
"Se não se provou que os exames melhoram a sobrevida, tampouco se provou que têm um
efeito ruim. O que há é um desconhecimento. Se provarem que o rastreamento aumenta a
chance de cura, um sem-número de homens que não fizeram o exame terão um câncer sem
saída."
Segundo ele, embora muitos países não adotem uma campanha de rastreamento, nenhum
contra-indica o exame.
Inca e SBU divergem quanto ao impacto do tratamento na qualidade de vida. Para o Inca (que
usou como fonte um estudo populacional norte-americano), dos homens que tiram a próstata,
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até 70% têm disfunção erétil e até 25%, incontinência. Para a SBU, o risco é de 50% e 2%,
respectivamente.
Segundo Ubirajara Ferreira, presidente da SBU - seção São Paulo, o risco varia conforme a
idade do paciente e a técnica usada. "Estudos mostram que o índice de disfunção erétil varia
de 20% a 70% --50% é a média. O Inca pegou o pior cenário."
Para o urologista Luciano Nesrallah, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o risco de
incontinência grave é inferior a 5%. "Falar em 25% é um exagero. Não podemos negar ao
homem o direito de querer se prevenir." Para ele, cabe ao médico avaliar com o paciente os
riscos e benefícios do tratamento.
"O tratamento produz impotência e incontinência. Mas o que o Inca tem a dizer sobre a
qualidade de vida nos casos de câncer que deixarão de ser descobertos?", questiona Srougi.
Um problema central da doença é que ainda não é possível distinguir com precisão os tumores
de progressão lenta daqueles mais agressivos.
Alexandre Cripa, urologista do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, cita um estudo no
qual pacientes com bons prognósticos não foram tratados. Após quatro anos, 75% deles
precisaram tratar o câncer. "Nossa imprecisão não nos dá o direito de não seguir o tratamento",
diz.
Segundo o urologista Fernando Almeida, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
quanto mais jovem for o paciente, mais agressivo tende a ser o tumor. "Talvez seja preciso
decidir em que idade os homens devem fazer o rastreamento, e não se eles devem ou não
fazer. Os jovens provavelmente vão se beneficiar."
Ramalho, do Inca, diz que o órgão não está proibindo nenhum homem de fazer os exames.
"Quem estiver disposto pode fazer, mas é bom que esteja ciente dos riscos."
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Segundo ela, o Inca pretende rever a orientação caso os resultados dos estudos previstos para
2012 mostrem que o rastreamento é eficaz.
Fonte Original
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u468855.shtml
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